Progênie Maldita escrita por MarcosFLuder


Capítulo 16
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

E finalmente chegamos ao fim. Deu bastante trabalho, mas foi um tempo muito bem gasto para escrever mais essa fanfic do fandon Harry Potter. Espero que todos que leram tenham apreciado a história, bem como o seu encerramento. Vamos a ele então.



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Era final de tarde e Adam já estava recolhido à sua cela. Num lugar onde tudo tinha seu horário, a idade avançada lhe permitia o privilégio de se recolher na hora que quisesse. Além disso, ele estava particularmente indisposto naquele dia. A visita de Tom o deixara assim, mais do que nas outras vezes. Saber que aquele que conhecera ainda criança estava jogando sua sorte naquele momento o deixava numa grande expectativa. Recolher-se em sua cela também lhe permitia perder-se em suas recordações, na única razão que tornava sua vida suportável. Ele permanecia em sua cama, o mundo fora de sua cela como se tivesse deixado de existir. Apenas suas lembranças ganhavam existência para ele agora.

Décadas se passaram, mas a memória dela permanecia. Deitado em sua cama ele segurava o pequeno retrato dos dois juntos. A foto fora tirada num momento especial, ambos sorrindo em sintonia, seus rostos virados um para o outro, como que ignorando o fotógrafo. Tudo o que existia para eles naquele momento era a esperança de uma vida inteira juntos. O retrato já estava esmaecido pelo tempo e uso, o rosto dela desfocado, tal como em sua memória, mas o sorriso ainda permanecia presente, como se o tivesse vendo pela primeira vez. Ele cumpria essa pena pela morte dela, sua culpa, o motivo, algo perdido nas brumas de suas lembranças, certamente um momento de loucura qualquer. Ele apenas esperava a morte para libertá-lo de sua condenação, nem por um segundo passando pela sua cabeça acabar com sua vida, pois se julgava merecedor da pena que cumpria.

            Adam ainda estava perdido em suas lembranças quando um pequeno flash de memória faz com que se levante abruptamente de sua cama. Sua respiração acelera e seu coração começa a bater rápido. Uma sensação de angústia toma conta dele. Novos flashs de memória surgem, como recordações a muito esquecidas, mas estas são diferentes. Não eram lembranças esquecidas, agora relembradas, mas algo que acreditava nunca ter acontecido. Suas memórias do dia da morte de Ivy sempre foram difusas, incoerentes. Ele se acostumou com a idéia de que sua mente apenas queria reter o mínimo possível do que acontecera. Mas as recordações que começam a surgir em nada se pareciam com o que vinha à sua mente desde daquela época. Eram como partes bloqueadas de suas lembranças que se libertavam. Por alguns momentos Adam ficou confuso, até finalmente entender o que estava acontecendo.

            Um feitiço de memória, tal como os que Tom lhe lançara em suas primeiras visitas, acometendo-o sempre que tentava falar com alguém sobre ele. Adam sente no seu corpo os efeitos. Todas as lembranças começam a vir, agora aos borbotões, como se um repentina liberação a fizesse ressurgir das profundezas esquecidas de sua mente. A culpa que carregou por décadas desaparece quando tudo fica muito claro a ele. Em vez dela, o que surge agora é uma mistura de ódio e tristeza. Sua memória recua ainda mais e ele se lembra dos primeiros momentos, após escaparem do prédio que desabara. Do medo que tomou conta dele ao ver a morte eminente caindo sobre sua cabeça, da mistura de alívio e preocupação ao ver-se cercado por todos aqueles bruxos, após escaparem.

            Os primeiros meses após tudo aquilo foram difíceis, pois fora separado de Ivy, além de Albert e Sam. Todos foram mandados para orfanatos diferentes e ele fora alertado para não tentar encontrá-los. Apenas quando fez 18 anos é que teve liberdade de fazer isso. Não se empenhou em encontrar Sam e Albert, em verdade, nunca mais ouvira falar dos dois. Ivy foi um caso diferente. Levou meses, mas a reencontrou, agora trabalhando no mesmo orfanato para qual fora mandada. O sorriso dela ao vê-lo outra vez, a forma como correu em sua direção, o beijo cheio de saudade que trocaram, tudo fez com que a angústia da separação se dissipasse em pura felicidade.

            Lágrimas abundantes deslizavam pelo rosto envelhecido de Adam. Todas as lembranças estavam tão vívidas agora, quase como se pudesse tocá-las, senti-las. Quase podia sentir o gosto da boca de Ivy outra vez, o odor perfumado que ela exalava, o calor de sua pele. Ele sorriu por um breve momento. Fora apenas por um breve momento, entretanto, pois uma nova lembrança se impõe. O sorriso desaparece do rosto banhado em lágrimas, o olhar torna-se furioso. O momento da morte de Ivy surge diante dele com total clareza. Adam Campbell coloca a mão no peito, sente uma dor aguda nele, solta um grito lancinante e cai no chão de sua cela.

RESIDÊNCIA DOS RIDLLE – LITTLE HANGLETON – 1944

            Tom olhou para as três figuras à mesa sem qualquer emoção. Ele não perdera muito tempo conversando, matando a todos com três Avadas Kedravas, lançados sem qualquer momento de hesitação. Seu ato nada teve de uma vingança longamente acalentada. Ele nada sentia por aquelas pessoas, nem mesmo ódio, desprezo ou qualquer tipo de emoção reprimida. Olhando-os sem vida diante de si, eram menos do que insetos sob o seu sapato. A mulher de meia-idade ainda estava de olhos abertos, a expressão de pavor mantendo-se no rosto repleto de rugas, pois sua morte fora deixada para o final. O homem sentando à cabeceira da mesa, igualmente idoso, tinha seu rosto diretamente projetado sobre o prato em que comia. O jovem bruxo pouco dedicou de atenção aos dois velhos, nada significando para ele o fato de que eram seus avós paternos.

Foi na terceira figura que Tom se concentrou. A cabeça pendendo para frente, os braços largados. Não havia exatamente pavor no seu rosto, era algo mais surpresa, ou talvez incredulidade. O jovem aluno da Sonserina não sabia direito o que sentia olhando aquele rosto. Era como se estivesse diante de um espelho distorcido. Ele podia notar a semelhança entre os dois. Finalmente conhecera aquele a quem tanto procurara em Hogwarts. Mais de um minuto se passara e ainda continuava a olhá-lo, tentando entender o que sua mãe vira nessa figura patética, a ponto de abandonar toda a sua herança bruxa por ele. Por causa dessa escolha Tom cresceu num orfanato. Embora a casa materna estivesse longe de ser um local agradável, o fato de ter sido privado da herança familiar, algo que considerava o seu direito, tudo isso pelo que considerava um capricho juvenil, o irritava profundamente.

Era a isso que o amor levava. O pensamento de Tom vagava. Tentou imaginar sua mãe, as tolas esperanças dela. Tudo o que sonhara viver com o Trouxa que jazia morto diante do jovem bruxo. Era o que acontecia quando nos deixamos levar por tolas emoções. Esse pensamento dominava a mente do agora ex-aluno da Sonserina. Um arrepio que passava uma sensação de ódio, desespero e quase morte toma conta do jovem bruxo nesse momento. A idéia de depositar em outrem o seu destino nunca lhe pareceu mais absurda, e assustadora, do que nesse momento.

Tom imaginou os sentimentos de sua mãe diante do abandono, de saber que suas esperanças eram vazias. Tentava imaginar o que ela passou, sofreu, o que a fez desistir, logo após dar-lhe a luz. Ela ainda amava a criatura morta diante dele. Tudo o que a senhora Cole lhe contou sobre seus últimos momentos lhe indicava isso. E o que ela ganhou com esse amor? Encontrou-o aqui, jantando tranquilamente, sem a menor preocupação com quem deixara para trás, como se esta, e o fruto do relacionamento deles, não tivessem existido de fato em sua vida.

O pensamento de queimar a casa até as cinzas passou pela cabeça de Tom, mas ele logo o descartou. Seria um esforço demasiado por algo que, ele via agora, significava tão pouco. O jovem bruxo viera a essa casa com o objetivo de deixar para trás a sua herança Trouxa. Ele imaginava que o ato que acabara de cometer seria o rompimento definitivo com tudo de humano que tinha dentro de si. Livrar-se de seus últimos parentes de sangue Trouxas não representou o que ele esperava. Ele queira deixar tudo o que lembrasse o órfão que ele fora para trás, deixar de ser, definitivamente, a criatura ainda frágil chamada Tom Ridlle Jr. Agora ele sabia que precisa fazer algo muito mais drástico do que isso.

BAIRRO NA LONDRES TROUXA – 1944

            Ivy O’neal se olhava no espelho, tentando ajustar uma aparência que qualquer um que a conhecesse diria ser o mais próxima possível da perfeição. Aos 21 anos era ainda mais linda do que aos 16. A maturidade que surgia aos poucos, acrescentando novas camadas de beleza onde esta já era abundante. Ela esperava a chegada de Adam, um passeio agradável. As próximas horas deles seriam preenchidas com beijos intensos num local discreto, terminando com um romântico jantar. Era a rotina dos dois desde o reencontro meses atrás. Ela sabia que era apenas questão de tempo para ele lhe propor casamento. A vida deles seguia por uma caminho claro e bem definido, tudo o que viveram em suas épocas como órfãos parecendo uma distante lembrança.    Uma batida na porta indica a chegada de alguém e Ivy nem cogita ser outra pessoa que não aquele a quem ama. Ela abre a porta com um sorriso que morre no mesmo instante que vislumbra outra pessoa em vez de Adam.

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            Adam Campbell caminha com a típica leveza dos apaixonados e felizes. Ele sorri para tudo o que vê, para todas as pessoas que passam na sua frente. Cumprimenta as senhoras e senhoritas. O seu andar é tranqüilo e seguro. É como se a vida se abrisse para ele como um tapete de boas-vindas. Até mesmo o tempo parece favorecê-lo, com uma temperatura agradável, sem chuva ou vento. Ele abre o portão da casa de Ivy com a intimidade de alguém acostumado a fazê-lo com muita freqüência. Era uma residência modesta, mas que ainda assim, reflete toda a exuberância de sua locatária. Antes mesmo de bater na porta, ouve vozes no interior da residência. Um sentimento angustiante toma conta dele, como sempre seus instintos o alertam de que algo ruim está para acontecer. Sem qualquer hesitação ele abre a porta, nada preparado para o que ia encontrar.

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            A visão dela presa junto a parede, o pavor refletido em seus olhos. São muitos sentimentos que se misturam em seu interior. Mas ele não está disposto a recuar, tudo o que faz é esperar, como já o fazia a mais de meia-hora. Ela a mantinha paralisada, sem condições de falar. Gostaria de dizer que o fez para torturá-la, mas para sua vergonha, ouvir as súplicas dela o estava afetando mais do que gostaria de admitir. O tempo de espera o incomodava, queria resolver tudo logo, mas sabia que precisava se manter forte e aguardar. Os passos junto a porta o fizeram ficar alerta, não sendo surpreendido quando a porta abriu-se abruptamente. O reconhecimento foi instantâneo. Um Adam Campbell com feições mais adultas do que esperava ver entrara pela porta, nos olhos dele era possível vislumbrar que ele estava bem consciente do que estava para acontecer.

— O que você quer aqui Tom? – era possível ver o medo na voz dele, o jovem aluno da Sonserina podia quase saborear isso.

— Eu creio que você sabe, Adam – havia um sorriso maligno no rosto de Tom ao responder.

— Por favor Tom, não faça isso, por favor – Adam via seu maior medo se concretizar e se desesperou – eu a amo, e sei que você a ama também, por favor.

— Eu não sou mais Tom Ridlle Jr. – ele respondeu – o nome pelo qual serei conhecido a partir de agora é Lorde Voldemort – Adam avança sobre ele, mas Tom não tem dificuldade em detê-lo – Imperium.

            O feitiço tem efeito imediato. Adam se mantém inerte diante de Tom, incapaz de seguir com seu intento. Ele vê quando Ivy é libertada do feitiço que a mantinha presa e implora com o olhar para que ela fuja, mas ela se mantém parada, seu olhar negando qualquer possibilidade de deixá-lo. Adam ouve a voz de Tom, como se este estivesse em sua mente. Um sentimento de horror toma conta dele quando seus pés se movem contra a sua vontade. Por mais que tente é incapaz de negar a ordem daquele que conheceu ainda criança. Seu olhar se fixa no de Ivy, o medo refletido nele quando suas mãos envolvem o fino e delicado pescoço. Tudo o que ele quer é se impedir de fazer isso, mas as ordens de Tom em sua cabeça o impelem a apertar cada vez mais a frágil carne; indiferente as tentativas dela de detê-lo. Ele a vê morrendo aos poucos, até que nada mais reste de vida naquele corpo.

            Os minutos se passaram, mas Adam permanece ajoelhado diante do corpo sem vida de Ivy. Ele ainda está sob a maldição Imperium, mas nem mesmo esse feitiço consegue impedi-lo de compreender o que de fato ocorreu. Ele vê quando Tom se ajoelha de frente para si, igualmente contemplando o corpo sem vida. Adam o vê olhando para ela, percebe o olhar distante, os pensamentos conflitantes. Não há lágrimas derramadas, nem mesmo uma que seja. Ainda assim, é possível perceber que o jovem bruxo em nada estava indiferente ao que acontecera. Mesmo sob o feitiço, Adam ainda foi capaz de olhar para ele e fazer a pergunta.

— Por que? – o olhar que Adam vê diante de si é um misto de determinação e frieza.

— Eu tenho um caminho a seguir Adam e ele nunca seria seguro enquanto Ivy vivesse. Tom Ridlle Jr. tem que morrer para que surja Lorde Voldemort. Ivy era a única que podia impedir isso.

— O que você fará comigo?

— Você tem um longo caminho a seguir Adam – o jovem que não se considerava mais Tom Ridlle Jr. se levanta, apontando sua varinha para Adam Campbell – tudo o que você lembrará quando os policiais Trouxas chegarem é que matou Ivy num acesso de ciúmes. Você dirá a eles que fez isso quando ela disse que queria romper contigo. É o que dirá no seu julgamento, é o que dirá isso a todos que lhe perguntarem daqui por diante.

Uma luz forte atinge Adam e tudo o que ele lembra quando volta a si é da discussão com Ivy, de suas mãos em volta do pescoço dela. Vê-la morta diante dele é uma visão horripilante. Ele a abraça e chora, suplicando pelo seu perdão, dizendo que a ama, que não podia perdê-la. Policiais chegam sem demora e tem muito trabalho para separá-lo dela. São necessários vários deles para fazê-lo. Ele chora e se debate, é atingido por socos, pontapés e cassetetes, mas é uma dor que para ele nada significa, nada diante do que sua mente lhe diz o que fez, do que acabara de perder, da lembrança com a qual teria de conviver pelo resto de sua vida.

PENITENCIARIA DE LEICESTERSHIRE – MENOS DE UMA HORA DEPOIS DA MORTE DE VOLDEMORT

            Adam Campbell se mantinha indiferente às tentativas dos paramédicos. Foram várias medidas tomadas para salvá-lo, mas nada parecia fazer efeito. Eles viam a vida abandonando o corpo envelhecido, mas o que impressionava mesmo era a expressão serena do homem que tinham diante de si. Em seus últimos momentos de vida, Adam percebia a confusão dos dois homens e da mulher que tentavam salvá-los. Não havia muito o que fazer e eles teriam que vê-lo morrer sem saber que ele chegava ao fim de sua vida com uma leveza e felicidade que não sentia a décadas. O homem que destruíra sua vida estava morto, agora ele tinha consciência disso. A culpa que carregou por tanto tempo, por causa dele, se fora, tudo o que restara agora eram as boas lembranças, a esperança de poder reencontrá-la em algum lugar. No final, todo o sacrifício dele fora em vão. Ele abriu mão de sua humanidade para nada enquanto Adam pôde viver uma vida plena, ainda que por pouco tempo. Os três paramédicos viram o velho prisioneiro morrer diante deles com um sorriso no rosto.

FIM


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Notas finais do capítulo

É isso ai pessoal. Espero que o final, ainda que não propriamente feliz, tenho sido o que todos esperavam. Até uma próxima.



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