Guardiões escrita por Godsnotdead


Capítulo 38
Espelho quebrado.




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Estava frustrada e mentalmente cansada. Os truques mentais daquela bruxa estavam tirando minha paciência e isso estava fazendo com quê pela primeira vez desde que me vi como uma guardiã agisse guiada pela irritação. E isso me fez descobrir que agir pelo instinto era algo viciante. A sensação de libertação e de está em sintonia com minha parte não humana era extasiante fazendo-me querer mais e mais não importando as conseqüências nem mesmo minha visão limitada incomodava.

O teto estalava ameaçando desabar sob meu peso. Esse detalhe não me perturbou, minha mente só tinha um foco. Acabar com aquela luta que já durava tempo demais. Concentrei-me no imortal que ziguezagueava a minha frente enquanto corria trazendo toda a atenção de nossa adversária para si.

Meu guardião girou a espada visando golpear a garganta da criatura. Infelizmente nessa luta era matar ou morrer. Não era uma idéia agradável, no entanto iria aproveitar que estava sendo guiada pelos meus mais primitivos instintos para concluir essa tarefa sem titubear.

Com a atenção da bruxa toda em Sky transportei-me para atrás da criatura. Tarde demais ela se deu conta do quê estava prestes a acontecer. Um rosnado que não sabia que poderia emitir reverberou em minha garganta junto com uma estranha satisfação quando a lâmina de minha espada transpassou as costas da mulher acertando em cheio o coração. O grito horrendo e gorgolejante dela foi de gelar o sangue e arrepiar todos os pelos do corpo.

O corpo seco e sem vida caiu com um baque surdo sobre as telhas enegrecidas quase aos meus pés. Meu peito subia e descia ainda tomada pela adrenalina, segurava a espada com força, meu corpo desacelerava aos poucos e mesmo assim sentia que era capaz de correr cem milhas sem descanso.

— Bom golpe. - Sky ergueu a mão para um cumprimento que demorei alguns segundos para retribuir. - Mady... Está tudo bem?

— Ham ram... - Engoli em seco. - Acho que vai demorar um pouco para eu voltar ao normal. – Confessei envergonhada.

— Sei como está se sentindo... É complicado lidar com nosso gênio em certas situações. - O imortal afagou minha bochecha esquerda com o polegar. Acalmando um pouco meu estado de espírito. – Você vai se adaptando com o tempo. – Sky piscou para mim. E Isso só serviu para meu coração disparar novamente. Se eu enfartar a culpa vai ser dele. - Vamos procurar Edward e Elizabeth.

— Estou preocupada com eles. Os perdi de vista a algum tempo. - Guardei a arma de volta na bainha.

Com o fim da luta meu cérebro agora focava-se no casal. E não estava gostando da sensação que surgia em meu peito. Descemos do telhado e começamos procurar por nossos amigos.

— Ed! Lizie! - Chamei preocupada por ainda não tê-los encontrado. - Onde vocês... - Não cheguei a completar a frase, porque a voz fugiu ao ver Edward sentado no chão, as costas recostadas a uma árvore e Lizie aos prantos pressionando o abdômen dele de onde saia uma quantidade assustadora de sangue.

— Céus! - Sky corre até os dois não demorei a segui-lo.

— Ajudem-no... Por favor... - Elizabeth soluçou alto.

— Vamos cuidar dele. Ele vai ficar bem. - Repousei a mão sobre o ombro dela.

— Eu... Eu não sabia o que estava fazendo...

— Sei disso. - Falei com convicção. - Agora temos que manter a calma para ajudá-lo.

— Tudo bem... - Lizie assentiu se postando ao lado de Edward meio inconsciente segurando a mão dele.

— Muito bem. Vamos ver a extensão do ferimento. - Sky rasgou a camisa encharcada de sangue revelando o ferimento de aparência profunda. - Hum...

— Que "Hum" foi esse? - Elizabeth questionou.

— Vai precisar de cuidados especiais. A faca elfica o deixou fraco... - Sky levou dois dedos aos lábios e assobiou. O som agudo machucou minha audição sensível.

— Aiiii! Estou ferido não surdo. - Edward abriu os olhos.

— Como podem ver. O caso não é tão grave. - Deixei um pequeno sorriso escapar.

— Engraçadinha.

— Silêncio Edward. Conserve suas forças.

— Desculpe meu senhor. - Ed suspirou tombando a cabeça para trás e olhou para Elizabeth ao seu lado. - Não chore fada.

Não demorou para barulhos de cascos chegarem até nós. Nossas montarias apareceram galopando e relinchando por entre as árvores. Aprecei-me é peguei a bolsa com os medicamentos e o quite de primeiros socorros.

— Bem na hora. – Sky retirou a mão de cima do ferimento. Voltei para o lado dele entregando um par de luvas de látex. Rapidamente o guardião as colocou. - Preciso de algodão, álcool e pomada anestésica. Sabe preparar a sutura? – Ele me olhou de canto enquanto lhe entregava o quê havia pedido. Assenti confirmando.

            Abri a embalagem contendo uma agulha de sutura de dois milímetros de outra embalagem tirei a linha de náilon.

— Céus! Isso aí não era para ser anestésico? – Edward grunhiu.

— Shhhhhh Edward. Tente ficar quieto sim? Já, já a pomada começa a fazer efeito. Mady. A agulha. – Ed arregalou os olhos a ver o objeto afiado. Revirei os olhos, garotos perdem a valentia na presença de uma misera agulha.

            O procedimento não demorou mais do que alguns minutos. Por fim Sky passou uma pomada antibiótica sobre os pontos depois fez um curativo.

— Ok. Agora é repouso. Podemos ficar por aqui até manhã.

— Não meu senhor... Posso montar e não acho que seja seguro ficarmos aqui... E a hipótese de passar a noite tão perto da finada me causa arrepios.

— Sendo assim.

— Sky você não pode concordar com isso... – Elizabeth lançou um olhar reprovador para o namorado.

— Ham... - Sky alternou o olhar entre uma Elizabeth decidida e um Edward com cara de filhote pidão. O moreno estava literalmente entre a cruz e a espada. - Céus! Vocês me deixaram em uma situação difícil. Mady... – Ele me olhou de esguelha.

— Nem vem. Deixe-me fora dessa. – Ergui as mãos em rendição.

— Tudo bem. – Sky coçou a nuca visivelmente tentando ganhar tempo enquanto pensava em uma resposta. - Podemos viajar devagar assim...

— Homens... - Elizabeth bufou exasperada. - Você podia ter dado uma forcinha. – A morena me lançou um olhar contrariado.

— Sorry Lizie, mas também não me agrada nada passar a noite tão próxima ao cadáver daquela bruxa.

Ajudamos Ed a subir em tempestade. Ele se reclinou para frente ficando meio deitado sobre o pescoço do cavalo negro e fechando os olhos contente em finalmente poder sair desse lugar. Não podia tirar a razão dele, também estava doida para sair daqui.

Não demorou para que todos estivéssemos de volta a estrada. Eu e Sky íamos atrás protegendo a retaguarda por precaução e Edward e Lizie mais a frente. Ed cochilava sobre a sela enquanto a namorada parecia uma ave de rapina protegendo a cria atenta a qualquer possível ameaça. Deixei um pequeno sorriso escapar. Talvez as coisas não mudem tanto assim no final das contas.

— Ed. Vai se recuperar? – Quebrei o silencio.

— Oh. Claro que sim. Só vai precisar de um pouco mais de repouso visto que o ferimento foi feito por uma arma elfica. - Sky me lançou um olhar tranqüilizador. - Estava pensando com meus botões... – Esperei que ele concluísse o raciocínio. -... Talvez os lordes elfos sabiam da existência da bruxa. Por isso nos deram as armas. Eles poderiam ter nos avisado. - O guardião revirou os olhos.

— Não era só da bruxa que eles sabiam. - Murmurei segurando as rédeas com força e forcei uma lembrança que estava tentando reprimir de vir à tona.

— Disse algo sininho? - Apenas neguei com a cabeça. 
Não iria dar a ele mais um motivo para preocupação. Respirei fundo afastando o pensamento indesejado e voltei a atenção para o caminho a nossa frente que pouco a pouco se alargava. O que a antes era um trilha estreita agora era uma estrada de terra batida.

Olhei para trás para analisar a florestas de onde havíamos acabado de sair. Assustei-me ao perceber que não se tratava de uma floresta e sim um pequeno bosque. De onde estávamos mesmo com a visão limitada pude ver a fumaça que saia da chaminé de onde era a casa da bruxa. O feitiço cujo fomos pegos era mais poderoso do que imaginei. Tivemos sorte por termos saídos inteiros de lá... Quase inteiros. Edward acabou pagando um preço alto.

O sol brilhava no meio do céu anunciando que o dia havia chegado a sua metade quando pequenas construções surgiram no Horizonte. Não demorou para que entrássemos em uma pequena cidade. Que a vista era de longe a mais desenvolvida que já havíamos passado desde começamos nossa peregrinação. As casas de alvenaria pintadas em diferentes cores eram erguidas simetricamente ao lada de uma rua pavimentada.

Conforme entrávamos na rua principal pessoas se aglomeravam em suas janelas para verem a nossa passagem trocando cochichos entre si e apontando algumas vezes nada discretamente.

— Parece que somos a nova atração da cidade. - Cochichei para Sky.

— Provavelmente eles não têm muita novidade por aqui. - O guardião deu de ombros. -Olhe uma estalagem. – Ele mostrou um prédio de três andares construído com pedra maciça erguendo-se no final da rua principal. Uma placa identificando o local era abalançada pelo vento.

Lizie foi a primeira a desmontar. Ela correu para ajudar Edward a fazer o mesmo. O guardião balbuciou algumas palavras incompreensíveis e descuidadamente quase caindo desceu de sua sela. Ele se apoiou na lateral de tempestade parecendo fraco demais para ficar de pé sozinho. Eu e Sky desmontamos para assim auxiliar o imortal ferido.

Meu guardião passou o braço pelo quadril do outro para ajudá-lo a ficar de pé e entrou no prédio sendo seguido por Elizabeth. Antes de entrar atrás deles chamei um menino que olhava curioso para os cavalos.

— Dê comida, água e tire as selas e arreios. – Dei uma moeda de ouro a ele. Os olhos púrpuras do garoto se arregalaram ao ver o objeto redondo. - Se fizer tudo direitinho ganhará mais uma. Combinando?

— Sim senhorita. - Contente ele assistiu várias vezes positivamente.

— Ótimo.  - Sorri bagunçando os fartos cabelos castanhos do menino.

Entrei na estalagem levando a bagagem. O primeiro andar como em todas as outras em que estivemos funcionava uma taberna só que essa era com toda a certeza a mais limpa e organizada.  Olhei em volta e não vi nenhum de meus companheiros naquele andar.

— A senhorita está com os dois rapazes e a moça que acabaram de entrar? - Um homem de pele acobreada, silhueta que se assemelhava a um barril; cabelos fartos e pretos vinha dos andares superiores.

— Sim. - Assenti.

— Venha estão no terceiro andar acomodando o ferido. – Sem pestanejar o segui escada a cima. O homem parecia satisfeito com algo. Aqui e ali o ouvia assobiando e rindo baixinho. Será que todos nessa cidade são assim tão alegres? - Ainda não acredito que vocês derrotaram aquela maldita bruxa! - Ele gargalhou extasiado. – Ah agora entendi. Não era para menos a alegria dele.

Subimos mais um lance de escada indo para o ultimo andar. Parando na frente de uma porta entreaberta no inicio do corredor. - Como gratidão, não cobrarei pela estadia de vocês. – O homem sorriu largamente cerrando os olhos. Aquela expressão era contagiante e reconfortante.

— Ham...

Ele não deixou que eu agradecesse e continuou a tagarelar alegremente. - Estarei a disposição para o que precisarem. Creio que precisarão de outro quarto, podem ficar com o terceiro antes do final do corredor. O banheiro fica ao lado. - Ainda sem deixar que eu dissesse uma única palavra ele se retirou cantarolando e quase dançando.

Sacudi a cabeça meio confusa e entrei no quarto. Edward se encontrava deitado confortavelmente enquanto Lizie colocava compressas molhadas em sua testa.

— Como ele está?  - Perguntei não disfarçando a preocupação.

— Está um pouco febril, mas já esperava por algo do tipo. – Sky suspirou cruzando os braços. - Troquei os curativos e vamos manter a febre baixa. A recuperação vai acontecer gradativamente só o que podemos fazer é esperar. - Mordi o lábio inferior frustrada. - Também não me agrada ficar apenas olhando. Gostaria de fazer mais por ele. Mas... - Levantei a cabeça encontrando o olhar marejado dele.

— Ed vai sair dessa! - Tem que sair fechei os punhos com força. - Vamos confiar na teimosia dele.

— Obrigada pela parte que me toca. - Virei-me. Para olhá-lo. Edward ainda estava com os olhos fechados, mas um pequeno sorriso brincava em seus lábios. Elizabeth segurou a mão dele e entendi que era hora de deixá-los sozinhos. 

— Estamos saindo. Qualquer coisa nos chamem. - Sky havia chegado a mesma conclusão que eu. Deixei as mochilas dos dois em um canto do cômodo e saímos fechando a porta do quarto ao passarmos. Guiei Sky até o quarto onde ficaríamos. Coloquei as mochilas no chão e sentei na cama suspirando cansada. Massageei as têmporas a dor de cabeça ameaçava retornar.

— Mady?

— Sim? – Ergui os olhos encontrando os dele.

— Está tudo bem? – Demorei alguns segundos para responder escolhendo as palavras para não denunciar minha perturbação.

— Sim... Só estou um pouco cansada. – Engoli em seco. Não era de todo mentira. Estava realmente cansada. – Vou tomar um banho e depois descansar. – Levantei e caminhei até a minha mochila procurando por uma toalha e roupas limpas. Arrepiei-me quando os braços dele circundaram minha cintura abraçando-me por trás.

— Estarei esperando quando quiser conversar. – Fechei os olhos aproveitando a sensação de ter seu corpo contra o meu. Não foi dessa vez que consegui ocultar meus sentimentos dele, mas pelo menos ganhei algum tempo. Poderia me preparar para contar minhas recentes descobertas. Talvez ele conseguisse de alguma forma me confortar e trazer alguma luz para minha confusão.

            Virei-me ficando de frente para ele. As mãos dele continuaram em minha cintura mantendo-me perto. Fiquei nas pontas dos dedos e o selei.

— Obrigada.

— Não há de quê. – Sky sorriu mostrando suas covinhas. E como sempre o efeito foi devastador. Acho que nunca superarei esse sorriso.

            A contra gosto saí dos braços dele e rumei para o banheiro. Para minha surpresa havia uma banheira impecavelmente limpa e uma pia com um espelho embutido na parede. Quase me senti em casa.

            Tomei banho sem pressa a água fria ajudou a relaxar um pouco a tenção de meu corpo. Já satisfeita e devidamente limpa enxuguei-me e vesti roupas limpas e me postei na frente do espelho para pentear os cabelos ainda molhados. Encarei meu próprio reflexo. Sem aviso as palavras de Annael voltaram com força total. “você se parece tanto com seu pai.” Agarrei a lateral da pia com força. Entreabri os lábios já não conseguindo conter minhas emoções. “Ele é um grande amigo meu sabe? E realmente estou feliz em poder conhecer a filha dele.” Engoli em seco. “Alterf é guardião mais honrado que já conheci sabe? E realmente estou feliz que nossos caminhos tenham se cruzado assim como o de seu pai...

— Honrado... – O ar saia de meus pulmões sem controle. Trinquei os dentes procurando por controle. – Não me parece honrado deixar uma mulher grávida de um filho para trás! – Assisti minhas pupilas dilatando através do reflexo do espelho. Era doloroso pensar que talvez meu nunca tenha me querido. Se era tão extraordinário como o lorde elfo disse por que não veio ver a mim e minha mãe nem que fosse uma única vez? Porque nos deixou só? – Tinha a consciência de que estava falando sozinha dentro daquele pequeno espaço, mas isso não era importante só queria fazer aquela duvida ir embora.

            Meus braços tremeram tamanha era a força que estava fazendo para não perder o controle. Porem a opressão em meu peito parecia que iria romper minha caixa torácica, sem mais forças deixei o choro vir com for total. O espelho a minha frente rachou a cada soluço. Naquele instante não conseguia buscar pela razão só havia um reboliço de emoções contrarias brigando pelo controle.    


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