No último ano do antigo colegial, grande parte dos jovens tinha plena consciência do que faria a partir dali. Marina não. Apesar de tirar notas boas e ser aprovada sem pegar recuperação, tinha muitos interesses e os avós discordavam, o que deixava a adolescente cada vez mais desorientada e indecisa, então, para fugir dos problemas decidiu se mudar para Balneário dos Anjos, onde Simão estava morando, a fim de encarar a grande ruptura com o cordão umbilical: o casamento.

Na Universidade Estadual de Balneário dos Anjos, o curso de História era ofertado e a grade revelou-se bastante atraente para a futura universitária. A arqueologia era um daqueles sonhos que povoavam a mente dela. Regina, porém, idealizava a filha sendo professora como ela seria se não tivesse engravidado no último ano da escola e parado de estudar para ser mãe.

Marina Luísa de Queiroz nutria um respeito incondicional por todos os professores que teve ao decorrer da vida letiva, mas não se imaginava numa sala de aula lecionando, mesmo tendo habilitação em magistério e sabendo que se optasse por ensinar, sempre seria solicitada.

Passada a fase de querer ser cantora e fazer as malas para morar na Califórnia, a vida real cobrava dela a maturidade que apesar de achar que tinha, não era suficiente. Não quando o destino reserva surpresas não tão agradáveis debaixo da manga.

Observando o lindo anel oferecido por Simão, Marina não deixava de se sentir a garota mais importante e amada do mundo. Apesar de muitos suspeitarem que o noivado tivesse intrínseca relação com uma precoce gravidez, estavam todos enganados, pois Marina Luísa de Queiroz prometia guardar a virgindade até a noite de núpcias, não se importando nem um pouco com os comentários jocosos. Teria o resto da vida para fazer amor com o amado, não precisava antecipar o que aconteceria de qualquer forma, mas queria cumprir os rituais de maneira honrada, além de terminar os estudos para mostrar que o relacionamento a fazia crescer e não era, portanto, seu único objetivo como mulher.

As cartas do noivo a ajudavam a superar as frequentes insônias e discussões por conta da tensa escolha vocacional que vinha dando muito mais trabalho a Marina do que ela poderia pensar quando era mais nova, mas parece que dessa vez o envelope estava um pouco mais cheio e as notícias não eram tão boas quanto a jovem acreditava.

Simão desmanchou o noivado.

De uma hora para outra.

Um verdadeiro choque para Marina. Lágrimas, inquietude, ausência. Dor de amor se reflete no corpo físico, adoecendo a alma, debilitando a sensibilidade, oscilando intensamente em curtos períodos, porém longos para quem sente na carne e na navalha o amargo preço da entrega total.

— Simão não pode ter feito isso comigo, não pode.

Marina rememorava o dia em que conheceu o Anjo. O primeiro beijo. A primeira vez que dançaram juntos. A primeira carta recebida. De quando ele se ajoelhou para pedi-la em casamento e colocar fim naquela fase chata de brigas e picuinhas. Não podia uma história tão linda quando a deles terminar daquele jeito. O anel devolvido.

Um sonho rasgado como se fosse uma fotografia indesejável.