Marina e Simão escrita por Mary
Para Marina não era novidade nenhuma que Lilly inventasse ideias mirabolantes para ganhar dinheiro sem trabalhar, trapaceando na escola e tentando sempre sair por cima. Embora a namorada de Simão não concordasse, estava ciente também que os pais da amiga não davam a mínima para o que faziam os filhos, uma vez que por serem bem relacionados com membros da alta sociedade, encontravam-se atolados de eventos para ir, nunca chegavam a estar em casa.
A bola da vez era a tal da “prova de fidelidade” na qual Lilly insistia com ardor, como se tivesse provas reais da falta de caráter de Simão Novaes.
— Eu se fosse você não dava muita demonstração de afeto a Simão ou então ele vai ficar muito convencido que te tem na mão e pode fazer o que quiser que você vá perdoar.
— Você acha? — suspeitou Marina com o coração em pedaços só de pensar em não ser a única na vida de Simão.
— Você tem que fingir que não sente a falta dele. — aconselhou Lilly que estava loucamente apaixonada pelo namorado da amiga e destinada a destruir o relacionamento sem necessariamente perder a estima de Marina. De que modo faria isso não sabia direito, mas queria Simão para si.
— Não é tão fácil assim! — redarguiu Marina.
— Não quer parecer um cachorrinho correndo atrás dele, quer?
— Em todos esses anos Simão nunca me despertou qualquer tipo de desconfiança. Quando se ama de verdade, a confiança só fortifica os laços dos apaixonados. Quem confia se entrega e não é pela metade.
Simão se aborrecia com as cobranças de Marina. Sabia em seu interior que sua conduta em nada desabonava o bem querer. Não entendia por que depois de tantas provas a namorada vinha se comportando de maneira estranha, supondo sandices e acreditando na tal Lilly que na concepção dele era o pivô da confusão.
— Ela é que fica colocando essas ideias de jerico na sua cabeça, Marina. — concluiu Simão diante das calúnias escabrosas que Lilly fazia Marina acatar como verdades absolutas, embora não fosse nada fã das redundâncias.
— Ela é minha amiga e quer o meu bem. — defendeu-se Marina.
— Ela está te deixando maluca.
— Você me acha maluca?
— Mas é claro que não, Marina! Longe de mim pensar uma coisa dessas, mas admito que não gosto dessa Lilly.
— Eu não reclamo dos seus amigos.
— Eu acreditava que você tinha mais discernimento, não sairia acreditando em qualquer bobagem que te dizem.
— E eu pensava que você me entendia.
— Sou eu que não entendo você e talvez nem queira mais. Sinceramente, Marina, deveríamos dar um tempo.
— Dar um tempo? — estrilou Marina, atônita.
— Não digo romper tudo pra sempre, mas considero que seja melhor que não nos vejamos por algum tempo.
— Você está terminando comigo sim, por que não?
Simão não queria brigar com Marina. Por ser de natureza pacata preferia sempre negociar, ceder, chegar a um acordo que contemplasse as necessidades de ambos e essa calmaria tranquilizava a moça quando o medo a dominava. No entanto, aquelas insinuações fantasiosas deixavam-no possesso. Com toda razão de estar.
— Bem que a Lilly tinha razão! Você tem outra garota, é por isso que pouco faz diferença que eu esteja aqui ou não. — acusou Marina, colérica.
— Você perdeu o juízo?
— Eu acho que foi você que perdeu.
Simão se retirou da mesa da lanchonete para não discutir e Marina, chorando, foi procurar Lilly que se satisfez com a tristeza da amiga, mas dissimulou com destreza.
— Indício de traição. Não tenho dúvida. — Lilly balançou a cabeça.
— Não acredito que ele está fazendo isso comigo.
Lilly abraçou Marina:
— Não fica nessa tristeza não, Marina. Menino tem aos montes nesse mundo. Simão não é o único.
— Pra mim é. — protestou Marina, inconformada.
— Porque você só saiu com ele.
— Não é assim, Lilly.
— Na escola muitos meninos têm vontade de se aproximar, mas não o fazem porque você vive endeusando esse Simão aí...
— Porque ele é o meu amor... Eu não vou desistir dele. Para mim não importa mais nenhum garoto, só o Simão. É dele que eu gosto, é com ele que eu quero ficar e por ele eu vou lutar enquanto sentir forças.
— Eu ainda acho que você age movida pela emoção. Isso nunca termina bem!
Debaixo de chuva, Marina voltava para casa naquela turbulenta noite. O percurso era cumprido sem pressa nem animação. Cada esquina uma reta infinita de neblina e desgosto. A alma confusa se embriagava daquelas lágrimas com gosto de chuva.
O carro de Simão encontrava-se estacionado em frente a casa dos avós dela. A discussão terminara com dois corações partidos e a provável certeza de uma longa espera.
— Simão! — murmurou Marina, confusa.
Simão, ensopado, chamou a amada com as mãos e ela sem demora correu para os braços dele.
— Pensei que nunca mais voltaria a vê-lo! — confessou Marina.
— Como se eu conseguisse ficar longe de você por tanto tempo... — admitiu ele chateado com as insinuações dela, mas habilitado a contornar com maturidade as diferenças entre eles.
— Não acredito! — exclamou a D. Regina. — Vocês estão ensopados!
Marina e Simão, abraçados, riram de si mesmos, das loucuras que faziam por amor, acatando de imediato a determinação de Regina para entrarem em casa e tomarem banho. Ambos contraíram resfriado, mas antes um nariz trancado do que um coração em pedaços.
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