Marina e Simão escrita por Mary


Capítulo 7
7




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Lilly, Luís Carlos e Marina passaram de ano. Estava tudo certo para que os jovens fossem acampar novamente, no entanto Lilly desfalcou o grupo porque contraiu catapora às vésperas, indo apenas Luís Carlos que sentiu o coração acelerar pela primeira vez com a menina Érica, irmã caçula de Simão.

Marina e Érica tornaram-se companheiras de pavilhão, encontrando muitas afinidades, uma vez que dormiam em leitos próximos. Antes de dormir falavam sobre seus amores e prometiam que se casariam juntas, com Simão e Luís Carlos, respectivamente. 

Érica Novaes usava o cabelo na altura do queixo e não podia tirar os óculos nem durante as atividades recreativas por conta dos três graus de miopia, enquanto Marina ainda usava o aparelho, mas por não demonstrar incômodo com ele, as pessoas também não mais a zombavam.

Marina e Simão queriam passar todo o tempo do mundo juntos, pois apesar de muito de vez em quando se telefonarem e de trocarem uma centena de cartas ao longo do ano, nada substituía a presença física, o toque, a energia transcendente de um sentimento puro que apenas cresceu com a distância, ao contrário das expectativas que sempre indicam que “amor de verão não sobe a serra”.

Érica e Luís Carlos eram o mais novo casal da colônia de férias e o irmão de Lilly, apesar de ingênuo e meio bobalhão, era um grande cavalheiro e defendia a namorada das armadilhas dos valentões mesmo sem ter fôlego para enfrenta-los.

Aquele, porém, era o último ano de Simão no acampamento porque ele não poderia mais continuar ali, a menos que aceitasse trabalhar no cargo de monitor, o que não era nem de longe a sua vontade. Chegava também o momento em que Marina queria contar à sua mãe que estava namorando porque se eles se entendiam bem e faziam planos para o futuro, não havia motivo algum para esconder dos adultos, ainda que ambas as famílias desconfiassem do envolvimento por conta do brilho no olhar dos jovens, as tantas cartas trocadas e o incentivo que um fornecia ao outro ao longo do ano corrido.

Marina foi a primeira pessoa a ser informada de que Simão passou no vestibular para engenharia mecânica.

Luís Carlos e Érica passaram a namorar por cartas também. Ele colocou a foto dela num porta-retrato do lado da cama. Não foi agraciado com um biótipo físico invejável, tampouco com uma inteligência acima da média, mas possuía um coração puro e a irmã de Simão gostava da sinceridade dele que era uma das poucas pessoas no mundo que conseguia fazê-la rir.

Lilly descobriu que Marina era namorada de Simão quando ele veio passar uns tempos em Chinchila do Sul e os jovens saíram juntos para tomar um lanche. Embora não tenha demonstrado nada de excepcional ao conhecer o namorado da amiga, nunca mais o tirou da cabeça.

Como é que pode uma sonsa dessas conseguir um namorado tão legal?

Lilly não desistiria de ter Simão. O fato de seu alvo ser compromissado não a desencorajava. Ele era porque não a conhecia.

Para fazer o plano prosperar, as intenções deveriam se manter ocultas, logo Luís Carlos não era o melhor confidente porque tinha o costume de dar com a língua entre os dentes cometendo o que a mãe adotiva deles chamava carinhosamente de “sincericídio”.

Se fosse esperta, Lilly não despertaria qualquer indício de desconfiança em Marina, saberia ser a amiga companheira de sempre, esconder aquela inveja que a assustava por ser quase incontrolável e cumprir com êxito ao que se propunha.

Era questão de tempo.

Conforme Simão trabalhava, os presentes que Marina ganhava subiam de valor. Um disco de vinil com as músicas que gostava. Um par de sapatos. Uma gargantilha com a inicial do nome dela. Um livro recém-lançado.

Lilly continuava sozinha, vidrada pela inveja. E adiando, adiando...

As estratégias habituais para destruir um relacionamento não cabiam àquele casal, Lilly necessitava de uma esperteza sobre-humana e estudar mais o alvo, muito, muito mais...

Para o pesar de Lilly, Simão era fiel à Marina. Eles não tinham segredos. Namoravam havia três anos e desde então viviam felizes na medida do possível, lamentavam a distância, mas procuravam trabalhar em conjunto mesmo separados para que um dia pudessem dormir juntos para o resto da vida. Nem sempre podia se amar fisicamente como outros casais, amavam-se com as palavras, em pensamento, e nem por isso amavam menos.

Só havia um jeito de separar Marina de Simão: uma traição.

Pois sim, para Marina Luísa de Queiroz, infidelidade era uma falta gravíssima que se não chegava plenamente a ser imperdoável, era no mínimo digna de rompimento.

Lilly, como a serpente que persuadiu Eva a fartar-se do fruto proibido, sabia exatamente como implantar no pensamento da amiga a venenosa semente da desconfiança:

— Você colocaria as mãos no fogo por Simão?

— Eu não precisaria colocar as mãos no fogo por Simão.

— Você parece tão confiante ao falar dele...

— Eu conheço o namorado que tenho!

— E não sente ciúmes de ele estar na faculdade?

— Não! Alegra-me muito que ele esteja estudando, afinal de contas, ele está fazendo o que queria, pensando no nosso futuro.

Na faculdade tem moça bem bonita e bem inteligente, da idade dele...

— Aonde você quer chegar com isso, Lilly?

Lilly engoliu em seco.

Por que não posso acreditar que o Simão me ama de verdade?

Porque eles dizem uma coisa e fazem outra. — atiçou Lilly desejando secretamente que a amiga tivesse o coração partido só para poderem se igualar.

Nem todos são assim, Lilly — atalhou Marina que já estava muito longe de ser a boca de lata. Cresceu muito em três anos, tirou o aparelho que lhe rendia aquele apelido escabroso, passou a usar os cabelos soltos e agora chamava atenção dos garotos, mas para ela só havia um. Apenas ele. — Eu acredito que o Simão me ama de verdade e quando se formar vai se casar comigo.

Bom mesmo que seja assim. — Lilly, lixando as unhas roídas, deu de ombros.

Eu sei que essa fase ruim de separações e brigas passará e tudo ficará bem. Eu acredito nisso. Eu amo o Simão e confio nele.

Confia totalmente, de olhos fechados e tudo o mais?

Sim, claro. Se você não é capaz de confiar na pessoa com quem está namorando, como pode acreditar que a ama?

Tem um jeitinho de saber se o Simão é tão fiel porque na carta ele pode até dizer que te ama, mandar poesia, mas já pensou se lá na faculdade ele tem outra mulher?

— Você está muito obcecada com essa ideia, Lilly! Por Deus!

— Eu sou a sua melhor amiga, não sou? Pois então! Uma boa amiga sempre diz a verdade para a outra!

A retórica impecável de Lilly vinha sendo o motivo dos desentendimentos frequentes entre Marina e Simão, o que era péssimo para um relacionamento à distância tal como o deles. Os dois já se viam muito pouco e com as brigas se afastavam mais ainda, fato que fazia ambos sofrerem.

Tem como saber se ele é fiel?

Tem sim e eu sei como.

Sabe?                      

Confia em mim, amiga. Eu posso te dizer se você está levando um príncipe ou um sapo. Eu tenho um fato infalível pra saber se o homem presta ou não.

A proposta de Lilly, apesar de soar insensata, instigou Marina a descobrir se Simão era, de fato, fiel a ela.


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Notas finais do capítulo

Aff... tramoia da falsiane...



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