Marina e Simão escrita por Mary


Capítulo 12
12




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Marina foi aprovada no curso de História, mas não se identificou com a grade, transferindose para Psicologia, onde ficou por um ano até se desencantar novamente, decidindo aventurar-se no Jornalismo, uma vez que a menininha tímida e ensimesmada deu espaço para a mulher decidida, curiosa, animada, que ainda amava os livros, saía para dançar e gostava de viajar, de conhecer pessoas, culturas, estar sempre aprendendo, disposta, o que contribuiu muito para uma plena e surpreendente adaptação, além de encontrar uma grande amiga, a doce Christiane dos Anjos, uma caloura que tinha a mesma idade que ela, com a diferença de que tentou três vestibulares até ser aprovada.

A boca de lata era a bela jovem que costumava encantar os rapazes pela inteligência, porém não conseguia amar ninguém, muito menos se esquecer da dor que Lilly e Simão lhe causaram no passado, agonia que voltou à tona quando abriu num belo dia a caixa de correspondências da república em que morava com seis amigos universitários e encontrou o convite de casamento de Simão.

Uma punhalada no peito.

Lilly sorria largamente na fotografia dos noivos. A expressão salientava uma felicidade plena, invejável, digna de ser compartilhada com todos aqueles que soubessem apreciar a bonança alheia. Simão também demonstrava contentamento, confiança, certo de que não fizera escolha mais sábia.

Simão escolheu Lilly, não havia nada o que fazer com relação a isso, senão aceitar a realidade. Ele era um homem feito e em consequência disso tinha de agir com maturidade. Ainda assim, era muito difícil desejar que o casal fosse feliz. Não tinha nada a ver com orgulho ferido, era simplesmente uma sensação estranha olhar os dois e sentir apenas indiferença, ou pelo menos convencer o mundo de que mesmo com o coração partido, seguiu em frente.

Christiane dos Anjos e Eduardo Meirelles também tinham uma história que merecia ser adaptada para uma telenovela ou em último caso, um livro, mas Marina apesar de gostar muito de ler não era uma escritora nata, deixando por cargo da Renata Emanuela Siqueira, aquela poetisa universitária que publicou um livro de contos e promoveu a sessão de autógrafos em um restaurante próximo da universidade.

Marina sofria por ver Christiane arrasada. Outro lindo casal se separava para sempre por conta de desentendimentos. No caso deles era ainda pior porque Eduardo Meirelles se contaminou com um mal entendido e desprezou a amada grávida. A amiga perdeu o bebê após cair da escada.

Christiane era feita de outro material, Marina pensava. Era difícil se colocar no lugar da amiga e não pensar que não teria estrutura emocional para aguentar tantas tragédias e seguir de pé, com determinação, acreditando que tudo tinha um motivo justo.

Desde os sete anos, Marina nunca mais teve notícias do pai. Às vezes sonhava que era criança e dentro de labirintos se perdia em busca daquele homem de quem tão pouco se lembrava, mas havia imprimido em seu coração a cicatriz do abandono.

Christiane perdeu o pai e a irmã mais nova aos dez anos de idade, Eduardo Meirelles foi seu único amigo de infância até os quinze quando os dois foram cruelmente separados pela mãe do rapaz, uma mulherzinha fútil, arrogante, egoísta e extremamente castradora.

Christiane e Renata eram as melhores amigas de Marina na universidade, ainda que Renatinha estivesse ingressando em Jornalismo quando as duas primeiras já estavam na metade do curso.

Renata, das três amigas, também não teve uma vida fácil. Nunca conheceu o pai, teve uma dezena de “padrastos” e justamente por ver a mãe banalizando o amor, evitava se envolver.

Aquele era um dia muito especial para Renata que estava publicando o seu primeiro livro de contos e promovendo uma sessão de autógrafos num salão adjacente ao principal, onde as grandes personalidades das redondezas promoviam jantares, coquetéis, recepções dignas da realeza. Apesar de ainda não ser uma escritora reconhecida nacionalmente, a jovem Renata Emanuel Siqueira estava sendo elogiada pela crítica pela maturidade de seu trabalho, apesar dos apenas vinte e dois anos de idade.

Marina lembrou com tristeza da inscrição do convite de casamento de Simão. Seria ali naquele restaurante. Naquela noite. Eis o motivo pelo qual tinha relutado de participar da sessão de autógrafos do tão esperado livro de Renata.

Marina, na porta do restaurante, esperava Christiane chegar, quando reconheceu, descendo de um belo carro, ninguém menos do que Simão Novaes, o Anjo, o seu primeiro amor, o primeiro também a partir o seu coração. Trajado formalmente, ficava ainda mais belo e sóbrio. Ainda carregava nos olhos verdes o menino que um dia foi, mas ali quem tinha espaço era o homem duro e determinado que muito em breve seria o esposo de Lilly, embora naquela ocasião estivesse desacompanhado e sem anéis nas mãos.

Simão já estava formado na universidade e mostrava que vinha tendo, de fato, um futuro promissor em sua área de atuação. Lilly nunca poderia reclamar nesse sentido, nada lhe faltaria.

Convidou algum bonitão? — inquiriu Christiane, brincalhona.

Christiane não deixou de prestar atenção no belo rapagão:

— Você convidou algum rapagão?

Marina desatou em lágrimas, sem estrutura emocional para responder à amiga.

Mas agora deu pra chorar, Marina? — insistiu Christiane.

Só então Christiane olhou para a figura imponente de Simão Novaes, associando a choradeira da amiga ao passado mal resolvido e concordou que se Eduardo Meirelles aparecesse ali pedindo perdão, reagiria da mesma forma.

É ele o Simão?

— Hoje é o casamento dele com Lilly. — contou Marina.

Simão chamou Marina com as mãos e ela, incerta se deveria responder ao chamado, permaneceu onde estava, mas ele não parava de observá-la como se realmente estivesse no salão de festas daquele restaurante para vê-la porque a festa de casamento seria do outro lado do quarteirão, não ali.

Os olhos de Simão estavam cheios de lágrimas. Ele não se importava em pedir perdão para Marina de joelhos no chão, não dava à mínima se a calça ficasse suja de poeira ou com manchas de molho de tomate, tudo o que queria era dizer que nunca poderia se casar com Lilly porque a amava e tinha de fazer isso antes que sua amada se comprometesse com outro.


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