Marina e Simão escrita por Mary


Capítulo 11
11


Notas iniciais do capítulo

Marina x Falsiane, o barraco movimentou os anos 1980... quem levará a melhor?



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Lilly estava corretíssima em suas projeções. Simão realmente passou algum tempo solitário, pensando algumas vezes em engolir o orgulho e procurar Marina, no entanto toda vez que pegava no telefone de disco e instintivamente almejava ouvir a voz macia da amada, lembrava-se da tal carta, dos conselhos “de amiga” daquela que assim não era digna de ser chamada e recuava, maldizendo-se pelos anos “desperdiçados”.

Simão começou a beber, mas parou quando quase se acidentou com o carro. Não poderia passar a vida toda como se estivesse de luto. Todas as noites, quando a escuridão falava tão alto quanto às lágrimas, pelo estigma de rejeitado que carregava nos ombros pesava junto aos outros fardos da alma. Precisava reagir, então decidiu prestar um pouco mais de atenção naquela garota que tentava de todo jeito imitar a cantora Madonna.

Ela não era nem de longe parecida com Marina nem na personalidade nem na aparência, não tinha aquela conversa envolvente que o fazia passar horas e horas na mesma mesa da lanchonete sem sentir um pingo de tédio. O beijo não tinha aquela química que o fazia voar com os pés no chão, o toque não denotava aquele mesmo desejo puro que às vezes o obrigava a se conter.

Tudo era diferente.

O envolvimento carregava na essência aquele gosto indigesto de mágoa, vingança, orgulho ferido. Aquele amor jurado era apenas uma das diversas mentiras que Simão Novaes contava a si mesmo, dia após dia. Era deveras injusto culpar Lilly por não ser Marina, obrigar que ela ocupasse aquele imenso espaço vazio em seu coração, considerando desleal enchê-la de esperanças para depois tirar.

Para o namoro foi um salto.

A família de Simão não concordou com o relacionamento no início, mas o rapaz estava determinado a se casar com Lilly e não queria nem ouvir o nome de Marina. Odiava a antiga namorada com todas as forças e se não teve coragem de queimar as cartas e fotografias, também não fez questão de tirá-las daquela caixa de sapatos num canto secreto do guarda-roupa.

Marina definhava a olhos vistos, Regina se preocupava. Não havia nada que estivesse ao alcance da mãe para animar a filha. Nem suas visitas, nem seus quitutes, nem seu colo tão quente e protetor.

Regina estava namorando depois de tantos anos sozinha, todavia ainda costumava pensar por onde andaria o pai de Marina.

As visitas de Lilly que antes eram frequentes foram se tornando esporádicas até serem raridades.

Havia chegado a hora da verdade.

Lilly, entretanto, estava bélica e peçonhenta, faria Marina sofrer o dobro.

Só não entendo por que não terminar comigo de viva-voz. Por carta é pior. — refletiu Marina lendo a carta que tanto lhe fazia sofrer.

— Eu preciso te contar uma coisa, mas você tem que me prometer que vai ser forte.

Tudo que Marina menos conseguia ser era “forte”. Não quando tantas dúvidas atormentavam sua mente, quando a indecisão lhe tirava o sono e a solidão tornava-se uma amiga indesejável, tanto quanto Lilly seria quando a verdade fosse enfim escancarada.

— Eu tive um amor de infância.

— Você nunca tinha me falado de um amor de infância.

— Mas eu tive... — insistiu Lilly.

Marina não se pronunciou.

— Ele se chamava Simão.

— Simão.

— Sim, ele se chamava Simão.

Marina podia ser ingênua às vezes, mas não tanto.

Simão e eu nos conhecemos desde bem pequenos, brincamos juntos, fazíamos tudo juntos, mas infelizmente eu precisei me mudar para cá e nós perdemos o contato.

— Isso não é possível. Simão e eu nunca tivemos segredos e eu sei tudo sobre a vida dele. Simão nunca me falou de conhecer nenhuma Eliane.

— Lilly, por favor — corrigiu a moça, irritada.

— Simão não conhecia nenhuma Eliane.

— Eliane... Eliane... Olha a falta de respeito, tiririca dentuça.

Por que nunca me disse que o amava? Por que fingiu ser minha amiga?

— Não começa com drama para cima de mim porque eu não estou bem humorada hoje!

Marina olhou profundamente para os olhos de Lilly. O retrato mais fiel da mais dolorosa das traições.

Eu sabia que o Simão tinha sofrido muito com a minha ausência, só não imaginei que se envolveria com uma tiririca dentuça.

— Cara Eliane, seria muito interessante trazer o Simão para participar desta conversa, uma vez que o assunto compete a ele. Você não concorda que seria muito mais justo?

Justo?

Lilly, de pé, fitou Marina sentada na cama. Em nenhum instante demonstrava remorso por ter destruído a vida da “amiga”.

— Não me restam dúvidas de que Simão foi influenciado e o conteúdo da carta salienta minhas desconfianças. Simão terminaria o noivado comigo olhando dentro de meus olhos, pois nós temos um compromisso...

— Nós quem, tiririca dentuça? — estrilou Lilly.

— Você sabe.

— Não vou dividir o meu Simão com você. Esperei a vida toda por este momento e não será você a estraga-lo. O carma de quem consente com a traição não é dos melhores, Marina querida.

Reflita a respeito, Lilly. Você precisará das suas próprias palavras quando a verdade aparecer.

Lilly arremedou os trejeitos de Marina.

O verdadeiro amor incomoda a quem não acredita nele — desafiou Marina. — O que você afirma sentir por Simão é tudo, menos amor.

E o que te faz pensar que sabe alguma coisa sobre o amor? Só porque lê poesia pensa que sabe muita coisa da vida.

Você pode até possuir o corpo do Simão, mas atingir o coração dele, não.

Você é que pensa!

— O tempo dirá.

— Pobre formiga iludida! Simão te oferecia migalhas e por elas você rastejava. Pode ser que ele gostasse muito de se divertir com você lá no acampamento às escondidas dos adultos, mas quando voltava para a cidade era a mim que ele procurava. A mim.

Lilly batia a mão contra o peito, soberba:

— Era a mim, não a você. Não lhe custava nada escrever uma carta mequetrefe toda semana copiando versinhos bestas de um livro qualquer. Assim qualquer um namora, até o tolo do meu irmão. Então não caia nessa ilusão de que era a única na vida de Simão porque você nunca foi. Ele nunca foi de uma só, queridinha. Nunca...

— Você é demoníaca, Lilly.

Não, eu não sou. Você é que é uma idiota passional acreditando em Love Story da vida, fofa. Isso não faz parte da realidade.

Gente como você é que não deveria fazer parte da realidade.

Acostume-se com a sua nova realidade: Simão e eu não fazemos mais parte dela, boca de lata. — satirizou Lilly, batendo a porta do quarto de Marina ao dele sair. Para sempre.

Marina passou por dias intermináveis de tristeza nos quais optou pelo completo exílio. Em função do bom senso abandonou as histórias de amor por não mais acreditar nelas, afinal, a sua fora interrompida covardemente e lembrar-se daquilo todas as manhãs não tornava as coisas mais fáceis. O final feliz era uma utopia covarde, sem mais delongas.

Perder um amor assemelhava-se com o vazio ocasionado pelo luto. Era de grosso modo um fim de ciclo e as lágrimas, inevitáveis. A confiança esmigalhada nunca mais retornaria ao que um dia foi. Seria mais cautelosa e criteriosa com as novas amizades, pensaria duas vezes antes de abrir o coração e a vida a alguém. Estava ferida demais para mudar de ideia. A universidade, portanto, era a melhor maneira de dar a volta por cima priorizando o departamento que menos importava para Lilly: o conhecimento. Estava aí algo que ninguém poderia roubar-lhe.


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Notas finais do capítulo

Bem... Pessoalmente digo que a Marina faz bem em priorizar o conhecimento porque anos depois todo o sacrifício valerá a pena.
O amor é muito bom, recomendo, só que às vezes aquilo que pensamos ser amor é, na verdade, um sentimento tóxico que nos prejudica, nos afasta das pessoas que amamos, de nós mesmos. As pessoas que realmente se importam conosco sabem identificar quando não estamos bem, então se várias pessoas falarem a mesma coisa sobre o seu "amor", pare e reflita um pouco se não haverá razão no que elas dizem...
O verdadeiro amor é aquele que nos aproxima de Deus e mostra o nosso melhor lado, faz com que um brilho puro e verdadeiro irradie nas profundezas da alma, refletidas num olhar doce e terno.
O amor de Marina e Simão agora está enfrentando uma grande prova de fogo. Apenas o tempo mostrará quem tem a razão, se Simão descobrirá a tempo as mentiras de Lilly ou se arrependerá tarde demais...



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