Born To Die escrita por Sabsyoda


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comentários! Eu super amei e isso me motiva muito ♥
Espero que apreciem esse capítulo ♥ Ainda tem muito personagem pra aparecer por aqui.
E desculpem qualquer errinho haha.



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Para irmos almoçar temos que passar mais uma vez nossa pulseira na catraca, indicando nossa saída do campus.

O almoço foi melhor do que o esperado, já que dessa vez, por algum milagre, nos deixaram repetir o prato que consistia numa porção de arroz, um pequeno pedaço de frango e salada. Geralmente, nós só almoçamos um vez sem poder repetir, porque de acordo com os nutricionistas que nunca vemos comer muito é ruim para o nosso peso. Depois de almoçarmos no campus onde é o nosso dormitório, fomos para o espaço reservado para o estudo. Em dias normais, o lugar não é muito usado pois algumas garotas preferem estudar em seu próprio quarto, entretanto, em dias de provas quase não sobre espaço para ficar por lá.

Algumas garotas estavam aqui além de mim. Com o passar do tempo, Joy, Gain e Tiffany se juntaram a mim. Para a minha sorte, elas são as melhores companheiras de quarto que eu poderia ter.

Há uns três meses atrás nós éramos em cinco. Miryo dividia o quarto com a gente e, entre nós, ela era a mais séria e preocupada com o futuro. Depois de um acidente no caminho do dormitório até o campus, ela foi levada para um hospital para fora das propriedades da escola e nunca mais a vimos. A última notícia que tivemos foi pela professora Jeon. De acordo com ela, Miryo ainda precisa passar mais tempo no hospital para se recuperar por completo, mas estaria de volta a tempo para o baile.

— Yerim, você já está terminando?

A lição de casa da professora Lee está mais difícil do que eu achei que estaria. A professora Lee Soonkyu é uma professora baixinha e fofa, sempre animada com tudo e com bastante paciência para explicar as coisas. Ela dá aula de Primeiros Socorros e geralmente as lições são feitas na aula, já que temos muita prática. Infelizmente, às vezes não conseguimos terminar a teoria antes da próxima aula começar e ela nos deixa algumas lições para serem entregues na aula seguinte.

Olhei de meu caderno para o rosto de Joy. Seu rosto parece cansado e temo que ela esteja ali somente me esperando.

— Hmmm, na verdade, ainda falta algumas coisas para eu terminar...– fito Tiffany que já está de cabeça baixa na mesa, provavelmente em seu quinto sono, e Gain que apoia o cotovelo na mesa e o seu rosto na mão, tentando não fechar os olhos – Você pode ir com as meninas, parecem tão cansadas. Eu termino aqui e vou para o quarto depois.

— Mas você não tem que tirar o lixo de todo o campus mais tarde? – as sobrancelhas de Joy se franzem e sua expressão se torna preocupada.

— Tenho. Mas não é nada com que você precise se preocupar – respondo – Eu sempre dou um jeito de fazer as coisas e não vai ser agora que algo vai me impedir. Vá logo com as meninas ou você terá que carregá-las daqui.

— O que? – Tiffany levantou sua cabeça rapidamente da mesa e nos encarou assustada – O que aconteceu?

Fitei Joy e a mesma já me encarava. Ambas começamos a rir da cara assustada de Tiffany e ela nos olhou confusa.

— O que aconteceu? – insistiu.

— Nada – sorri para ela, que pareceu se acalmar – Você provavelmente só teve um pesadelo e acordou assustada.

— Ah... – Tiffany abaixou seu olhar e pareceu se perder no vazio por um momento antes de olhar para mim e concordar, com um sorriso. Seus olhos parecendo duas fendas, sorrindo junto com seus lábios – Deve ser isso mesmo.

— Isso significa que a gente já vai? – Gain diz, depois de um bocejo.

— Vocês, sim. Eu vou depois. Agora vão logo, desse jeito eu só vou demorar mais para responder as questões.

— Sabe que pode copiar o que não sabe de alguma de nós, não é? – Gain questionou.

— Sei, mas assim não tem graça – pisquei para ela que revirou os olhos.

— Bem, se é assim...– Joy dá de ombros e se levanta da cadeira – Só vê se não demora muito, tá? As meninas da vigilância são um saco com quem está fora do quarto.

— Pode deixar – fiz uma continência e todas riram.

Após alguns segundos, elas já tinham saído da sala. Continuei respondendo as questões que faltavam, ignorando as vozes das meninas presentes. Quando terminei, só restava eu ali.

— Falta cinco minutos para fecharmos essa sala, Yeri.

Sulli apareceu na porta com um sorriso animado demais no rosto.

— Eu me chamo Yerim.

Sei disso— diz, jogando a chave da sala pra cima e pegando com a mão, sem parar – Gosto de te irritar. Enfim, acabe logo e vá para o seu quarto.

Ignoro seu jeito estranho e arrumo minhas coisas. Antes de sair pela porta, paro e pego a chave antes que ela a agarre.

— Tenho que tirar todo o lixo desse campus e levar para fora. Sabe como consigo passar pelas seguranças? – Sulli me observa como se dissesse "Como ela tem coragem de fazer isso?" e estala a língua na boca.

— Por que acha que eu sei algo sobre isso?

— Você já fez muito trabalho comunitário aqui, deve saber como que funciona as coisas.

Ficamos em silêncio por algum segundos até que ela balança a cabeça, como se concordasse com o que eu disse.

— Tem razão no que disse, mas em nenhum momento eu tirei o lixo do campus. Graças a Deus. Imagina que nojo.

Mas...?

— Mas você pode tirar suas duvidas disso com a Seulgi, ela fez isso mais tempo do que qualquer uma aqui – eu ia interrompê-la, todavia, Sulli pareceu sentir isso – Ou com a professora Bae. Ela que normalmente designa quem vai cuidar dessa parte.

Sulli estendeu sua mão esperando a chave. Joguei no ar e sai dali, sem esperar para ver se ela pegaria ou não. Acho que pelo som que eu não escutei, ela conseguiu pegar.

A sala da professora Bae fica no outro campus, contudo, seu quarto é no mesmo campo que o nosso. Assim como de todas as professoras. Os quartos são maiores que o nosso e ficam no último andar do prédio. As professoras são as únicas pessoas autorizadas a andarem no elevador, de modo que se quisermos falar com alguma delas é preciso subir os seis lances de escada. Infelizmente, é o que preciso fazer agora.

Subir as escadas não é tão horrível quanto eu imaginava – talvez seja porque nós temos um bom condicionamento físico aqui –, apesar de ter que me apoiar nos joelhos um pouco para respirar antes de me inclinar para bater na porta.

— Você estragou tudo, Joohyun! Tem noção disso?! – paralisei ao reconhecer a voz completamente alterada de Seulgi – Era a minha chance, droga! E você simplesmente...Arruinou tudo!

— Se controle, menina! Pensa que eu não sei o que fiz? Pois eu sei muito bem, mas parece que você não sabe!

— Do que raios você tá falando? – Seulgi parecia que ia entrar em colapso a qualquer segundo e então chorar.

— Eu salvei a sua vida, então veja bem como fala comigo! – demorei para perceber que a pessoa com quem ela conversa é a professora Bae, já que sua voz está firme e alta de um modo que nunca presenciei antes. Ela nunca levantou a voz para ninguém, não desse jeito – Não sei como, mas eles descobriram! Se você saísse hoje, provavelmente morreria baleada e seria mais uma entre muitas das garotas que somem daqui e ninguém dá uma desculpa aceitável!

Meus olhos se arregalaram e tenho certeza de que arfei. O que ela quis dizer com isso?

Miryo. Ela não sumiu, não é? Quero dizer, ela foi para o hospital. Não é como se ele tivesse sumido. Não pude evitar me lembrar da última vez que a vi.

Estava chovendo mais que o normal aquele dia. Eu sei porque ela reclamou disso toda hora, já que a chuva estragava seu cabelo. E ela demorava tanto para arrumá-lo. De todas nós, Miryo era a que mais se arrumava, mesmo sabendo que nada daquilo serviria para algo no momento, pois não conheceríamos nenhum pretendente. Sabe, não era possível algum garoto ir parar ali por acaso. Eles são proibidos até o Grande Dia.

— Você tem que se manter bonita sempre, Yerim – ela disse mais uma vez, após amarrar um lencinho em seu cabelo para a chuva não molhá-lo – Não faça essa cara. Não gosto disto tanto quanto você.

Não me recordo que cara eu fiz, todavia, deve ter sido uma expressão que a fez revirar os olhos.

— Precisa mesmo levar isso até lá? Não tem como você passar, só vai ficar lá parada igual uma tonta – tentei argumentar com ela. Nossa pulseira só serve para entrarmos no campus e sairmos dele, não tem como entrarmos mais de uma vez. Se você esqueceu algo na sala de aula, só no dia seguinte pode pegar. Ou na segunda feira, se for o final de semana.

Porém, ela não meu escutou. Miryo raramente escutava alguém, tinha certeza de  que sempre era a sua opinião que estava correta. E na maioria das vezes, era mesmo.

— Não se preocupe com isso, tenho certeza de que a professora Jeon vai estar lá. Preciso entregar isso para ela urgentemente, e mais tarde não vou conseguir por causa das tarefas – Miryo ajeitou o seu lencinho e me fitou, sorrindo de orelha a orelha – Como estou?

Suspirei. Tinha como ela ficar feia?

— Linda – respondi e ela riu – Como sempre.

— Obrigada.

— Tome cuidado pelo menos, tá? O chão deve estar muito escorregadio e não queremos que você caia e quebre a cabeça nessa chuva, não é?

— Não queremos – ela respondeu. Suas mãos vieram até minhas bochechas e as apertaram –  Você fica tão fofa preocupada.

Afastei suas mãos e resmunguei algo que não lembro. Miryo quase nunca errava em suas opiniões ou certezas, menos naquele dia. Como ela poderia saber que a professora Jeon não estava no outro campus, como ela supôs, e sim no nosso? Se ela ao menos esperasse um pouco.

Sei que ela não foi muito longe quando escorregou e bateu a cabeça com tudo no chão.

Naquele dia, nunca vi tanto sangue antes. E nunca quis tanto que ela estivesse mais uma vez certa.

Não bati na porta em nenhum momento. Minha mão paralisou quando Seulgi começou a gritar e eu não soube o que fazer. O que faria? Dar a meia volta e tentar ir embora sem elas perceberem?

A porta se abriu num rompante e Seulgi apareceu na minha frente, o rosto molhado e vermelho.

O que você quer?

Bem, acho que dar meia volta e ir embora está fora das minhas opções agora.

— Seulgi, não seja má educada com a garota – Bae respondeu, aparecendo ao lado dela e abrindo mais a porta. Seu rosto parecia cansado quando ela me fitou – O que você precisa, Yerim?

— Eu não sei... – respondi, perdida. Minha mente parecia em branco. O que eu vim fazer aqui mesmo? Seulgi deu uma risada debochada – Não sei como é que eu passo pela segurança para sair daqui.

Ah... — a compreensão chegou aos olhos de Bae e ela bateu a mão de leve na testa – Eu não cheguei a te explicar as coisas direito, não é? Me desculpe por isso.

— Não precisa se desculpar – antes de terminar a frase, a professora já tinha me dado as costas.

Alguns segundos depois ela voltou com um papelzinho e me estendeu.

— Quando for sair é só mostrar esse passe para a segurança que ela vai te liberar – aceitei o papelzinho e agradeci – Mais alguma coisa?

— Não, é...É só isso mesmo. Obrigada, de novo – digo e começo a me virar.

— Yerim, só mais uma coisa.

— Sim? – me viro novamente, tensa. Seulgi agora está encostada de forma desleixada perto da porta me encarando friamente, com a professora ao seu lado.

Você...— ela molhou os lábios e limpou a garganta – Você escutou alguma coisa aqui?

Parei e analisei a cena. Se eu dissesse algo, ficaria com problemas, não é? Seulgi parecia que a qualquer momento iria voar em mim e arrancar minha cabeça. Já Bae parecia estar querendo ter a certeza de que não escutei nada. Sua expressão me diz que eu ter escutado não é uma opção.

— Não.

Se Joy soubesse que para sair do campus apenas precisava de um papelzinho assinado pela diretora e professora, ela com certeza iria infartar. Uma pena não conseguir contar para ela por estar atrasada demais para levar os lixos para fora. Só tive tempo de deixar minhas coisas no dormitório e sair correndo atrás dos lixos de cada lugar do prédio – com exceção dos lixos do andar das professoras, contudo, não é como se eu quisesse ir lá de qualquer forma. 

Dentre todos os trabalhos comunitários de nossa escola, esse era um que intrigava Joy demais. Um dia ficamos a tarde toda conversando sobre como é que as garotas que foram designadas a isso conseguiam sair, mesmo com toda a segurança. Nesse dia, Miryo apareceu depois de ajudar a professora Jeon como assistente – esse era o trabalho dela na época – e nos disse para pararmos de falar de coisas que não nos levariam a lugar nenhum.

Antes do portão do campus há um enorme jardim que podemos ficar para pegar sol em finais de semana ensolarados por duas horas. Depois desse jardim, há duas cabines – uma em cada ponta do portão – com uma segurança armada em cada. Em cima dele há redes elétricas, mas corre o boato de que elas já não funcionam faz cinco anos.

Muito mais pesado do que eu pensava, eu praticamente arrastava cinco sacos de lixo cheios e carregava mais um vazio na mão. Nem por um segundo imaginei que garotas produzissem tanto lixo assim. Quando me aproximei de uma das cabines, uma mulher bem mais alta que eu saiu de lá e me observou de cima a baixo.

— Boa noite, garota. Você é a nova responsável pelos lixos? – a voz dela era mais grave que a maioria das vozes que já escutei, porém, ainda assim parecia feminina.

— Sim – devia dizer algo mais? Largo os sacos no chão por completo, pego o papelzinho que a professora Bae me deu e entrego para a mulher.

Ela entrou na cabine e ficou lá por alguns segundos. Depois saiu e me entregou de volta o papelzinho.

— Não precisa mais vir com esse papel. Seu nome já está cadastrado como a responsável pelo lixo. Yerim, correto? Pode sair.

Fiquei um pouco chocada ao ver um carimbo no papelzinho e por aquela mulher enorme que nunca vi antes já saber o meu nome seu eu ao menos me apresentar.

— O...Obrigada – gaguejei um pouco e voltei a pegar os sacos após guardar o papelzinho.

— Ah, mais uma coisa. Se for para ficar muitos sacos lá no poste, não coloque todos. Traga alguns de volta e pode guardar na dispensa até amanhã. Recebemos reclamações do acumulo de lixo por lá.

— Hmmm, certo. Obrigada pela informação.

O portão se abre após um minuto e eu saio arrastando os sacos. O primeiro poste que vejo não está muito longe e fico grata por ver uma plaquinha com os dizeres "Deixe aqui seu lixo" no mesmo.

Largo tudo lá – observando por algum tempo para ter a certeza de que não tem muitos sacos ali – e me viro para ir embora. Todavia, antes que eu dê o primeiro passo um barulho preenche o silêncio da noite.

É um barulho alto e único, provavelmente rápido. Não é algo que eu devia ter consciência, porém, uma das aulas da professora Lee foi sobre como podemos acabar por nos machucar e o que temos que realizar para ficarmos bem. Nesse dia, em específico, ela nos passou um vídeo de pessoas levando tiros e os procedimentos que realizaram nelas. Não me recordo muito bem sobre os procedimentos de ajuda, pois a única coisa que eu prestei atenção foi o fato de que aquele era um vídeo sobre o Dia da Glória. Um vídeo mostrando com exatidão um pouco do caos que foi esse momento que só vemos em livros e escutamos falar pelos professores.

O engraçado é que mesmo só vendo o vídeo por uma vez, nunca vou me esquecer do som de um tiro.

Isso me veio a mente quando paralisei no local sem saber o que fazer. E se eu fosse morta agora? Como vão achar meu corpo? Certamente aquela mulher enorme que eu acabei de conhecer virá aqui para ver o que aconteceu, mas o que aconteceria depois? Para onde meu corpo sem vida iria? Eu não tenho um marido, como posso ser enterrada em algum cemitério digno?

Ah, droga...— minhas mãos começaram a tremer e eu inspirei fundo para então exalar com a pouca calma que eu possuía pelo meu nervosismo – Calma, Yerim. Vai dar tudo certo, é só andar até o portão, só andar até o...

Um corpo caiu na minha frente. Sufoquei meu grito com as mãos ao vê-lo em minha frente. Tremendo como nunca antes tremi, dei dois passos para trás, pronta para sair gritando por ajuda.

Não me deixe... — um frio subiu pela minha espinha ao constatar que o corpo pertencia a uma garota. Sua voz melodiosa soou chorosa e meu coração se apertou.

A observei mais atentamente e fiquei incrédula. Seus cabelos – em um tom vermelho vivo – estão jogados por seu rosto contorcido de dor, suas mãos cheias de sangue seguram sua coxa direita de onde vem mais sangue. Sua roupa – a calça preta e a blusa azul – está com folhas e suja.

Ah, merda, merda, merda, merda... — me agachei ao seu lado e tirei sua mão da coxa direita. Um ferimento de bala está com uma aparência tão feia que o meu almoço quase volta a minha boca – Eu preciso de ajuda. Não posso fazer isso sozinha, me desculpe. Tenho que chamar alguém para me ajudar.

— Não faça isso, por favor. – a garota soltou um gemido fraco após falar e começou a respirar entre tragadas de ar – Se você chamar alguém, nós duas morremos.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?
Bjsbjs



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