À Meia-Noite escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

ILARI LARIÊ O-O-O! *jogando milhares de papéis laminados para o alto* Espero que gostem! As coisas bem rápidas, mas espero ter conseguido passar algo através dos personagens! Boa leitura!



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Então, me queime com fogo, me afogue com chuva
Vou acordar gritando seu nome
Sim, sou uma pecadora, sim, sou uma santa
O que quer que aconteça aqui
O que quer que aconteça aqui
Nós continuamos

Agora falamos sobre nosso futuro perdido
Mas damos uma boa olhada em volta
Sim, damos uma boa olhada em volta
Sim, sabemos que não foi por nada
Porque nunca deixamos isso nos desacelerar
Não, nunca deixamos isso nos desacelerar

Sim
A cada momento que o vento sopra
A cada momento que o vento sopra
Vejo em seu rosto
Numa noite fria, não haverá nenhuma luta justa
Não haverá nenhuma boa noite para se virar e ir embora

— We Remain, Christina Aguilera

— Não quero estar lá com ninguém além de você, Peeta — falei, suspirando, abraçada ao loiro, achando um grande absurdo nós precisarmos nos separar.

— É mesmo? — perguntou, fazendo carinho nas minhas costas nuas, por causa do que fizemos na noite passada até instantes atrás. Mas eu não me incomodei com essa nudez, tampouco com a dele. Continuei fazendo carinho em suas costelas com a ponta dos meus dedos.

— Sim... queria que só nós ficássemos lá — sussurrei, e senti ele prender a respiração, escorregando a mão para minha barriga, que indicava, embora pouco, a existência de uma outra pessoa. Uma pessoa que pagará, mesmo sem ter dívida alguma.

Poucos sabiam do nosso bebê, mesmo com o treinamento, e eu pedi para Peeta não contar. Nem mesmo Gale sabe. Bem, Gale deve saber, por me conhecer melhor do que eu mesma, e estar bem claro o quão diferente eu estou, mas no que depende de eu ter contado, não. Tampouco Peeta.

— Sei que você não gosta que eu fale isso, mas eu darei o meu melhor para que você e o nosso filho fiquem são e salvos — disse, tocando em meu queixo, para que eu olhasse para ele. Peeta havia amadurecido demais nos últimos meses, desde que voltamos dos últimos Jogos. Todos podiam ver o quanto amadureceu, de todas as formas, de dentro para fora, e eu também, mas nunca senti medo.

É o meu garoto do pão.

— O problema é que o seu melhor é a sua morte, sem me dar nenhuma garantia de que eu e o bebê sairemos vivos, Peeta — falei, com o coração disparado no peito. — Vamos ficar juntos, em qualquer hipótese, está me ouvindo?

Parecia relutante, porém ele assentiu, e selou nossa promessa com um beijo, que logo passou para algo mais intenso, então logo minhas mãos estavam em seus cabelos, e as dele como suporte sobre mim, nos deixando como uma única pessoa.

Em breve entrariam em nosso quarto, para os preparativos para a grande entrevista, tínhamos mais ou menos mais quatro horas absolutamente juntos, em paz, e poderíamos estar dormindo, mas já que estamos sem sono, resolvemos aproveitar de outra forma.

Quando se jogou novamente ao meu lado, sem fôlego, assim como eu estava, deixei que ele me pegasse no colo e levasse-me para o banheiro, para tomarmos um banho sozinhos, debaixo do chuveiro, apenas permito a mim mesma sentir, sentir, e não dizer absolutamente nada, assim como ele, que me tocava com carinho, sem ultrapassar a barreira do respeito entre nós dois.

Coloquei uma camisola de seda, que apertava bem de leve na área da minha barriga, mas Peeta parece ter achado divertido, começando a dizer como seria quando eu chegasse aos sete meses.

— Acho que vai ficar sem roupas — disse, sorrindo, mas eu sabia o quão triste estava.

— E aí terei que usar as suas, Mellark — rebati, tentando sorrir, mas só saiu um sorriso torto, porém sincero. Há vezes que nos faz mal pensar em um futuro que não existirá, mas há outras que nos faz bem também.

Deitei-me novamente ao seu lado, mas antes de dormir, ele acabou mudando nossas posições, me deixando de costas para ele, que me envolvia em seus braços fortes e fazia carinho em minha barriga de quatro meses e três semanas. Não sei como, talvez pela paz que nós tínhamos, assim como o frio acolhedor da minha aliança de casamento em meu anelar, mas eu dormi, e senti que ele também.

*

Cinna estava aborrecido, assim como Effie, pois eu não falei uma palavra sequer enquanto me arrumavam, e eu tentava ao máximo também, disfarçar a minha barriga, e de mesmo modo eu também disfarçava as dores nas costas, e o quanto todas as trocas de roupas incomodavam meus seios doloridos.

— Como você engordou! — Flavius exclamou, sem a menor delicadeza, mas eu não conseguia me irritar muito com eles, tampouco me emocionar. Nem mesmo em minha gravidez dadas circunstâncias eu consigo ser menos indelicada, mas não me torno mais sensível ou delicada, apenas deixei que fizessem o que tinham que fazer, e o meu silêncio era um claro protesto.

— Um gato comeu sua língua, docinho? — Haymitch alfinetou, sabendo de toda a verdade, logo que saí com um vestido de noiva do quarto, sobre sapatilhas, já que meus pés estão um pouco inchados também.

Eu poderia, mais uma vez, falar, discutir, até mesmo cuspir em sua cara que deixava claro que estava sóbrio, mas não o fiz. Simplesmente bufei, indo até a mesa que tinha no andar, e me servi de um pedaço de torta de chocolate.

— Acho que ela deve estar na TPM, engordou uns dois quilos, e só come! — Vênia falou para Cinna, que somente foi me ver para as considerações finais na minha aparência. E ficou irritado só de me ver calada, sem trocar absolutamente uma palavra e não cooperar para completamente nada.

— Katniss — meu estilista chamou, porém fingi que não escutei, mesmo que seja uma das pessoas mais próximas que tenho como amigo.

Continuei comendo, como se fosse surda, mas na verdade tentava controlar o choro por saber que poderia ser a última vez que eu o ouvia.

— Katniss, fale com o Cinna — ouvir a voz de Peeta foi como gelo em uma ferida que havia acabado de abrir. — Conte.

Não foi uma ordem, tampouco uma coisa indiretamente obrigatória, somente um conselho amigo.

Meu agora marido, depois de uma cerimônia bem discreta na sala de sua casa a frente de uma fogueira e duas alianças, sentou-se ao meu lado na mesa, e tomou minha mão, fazendo carinho, com um sorriso torto extremamente gentil.

Sinalizei com a cabeça para a minha equipe de preparação, então Peeta se despediu deles, deixando somente eu, Cinna, ele, dois Avoxes e Haymitch.

— Não estou entendendo a razão para todo esse mistério — Cinna disse, sentando-se ao meu lado na farta mesa diante de nós. Meu mentor optou por ficar de pé entre eu e Peeta, mas ainda continuamos de mãos dadas.

Olhei para Peeta, que olhou para mim, então disse as palavras que me doíam, e ainda não conseguem ser ditas pela minha própria boca, precisando terem sido lidas por ele, e mais ninguém além de Haymitch sabe, até agora. Nem mesmo Prim ou minha mãe.

— Katniss está grávida, Cinna — ele disse. — Mas somente nós três sabemos, e essa é razão para todos estarmos dessa forma.

Não faço a menor ideia de como fiz isso, mas falei, depois de um dia inteiro em silêncio.

— Cinna, me desculpa.

O estilista, meu amigo, estava estupefato com a notícia, e seus lábios entreabertos e os olhos um pouco arregalados denunciavam isso, mas logo recebi um abraço caloroso, que não fui retardada em corresponder. O abracei na mesma intensidade, sentindo algumas lágrimas se formarem em meus olhos, mas não chorei, sequer derrubei alguma.

— Você vai brilhar ainda mais intensamente essa noite — garantiu para mim em um sussurro, para somente eu escutar, então pediu para que Peeta e Haymitch nos deixasse a sós para que ele pudesse fazer algumas pequenas alterações. Não senti medo do que poderia acontecer no palco, porque eu sei com tudo o que tenho que Cinna nunca faria algo que pudesse me machucar, e agora, nada faria que afetasse a criança que se formava dentro de mim.

*

— E há gente que acredita nesse show? — Peeta perguntou baixo para mim, comendo algumas uvas ao meu lado, enquanto eu esperava de pé em uma espécie de pedestal, arrumando os brincos, quando Effie chegou, completamente emocionada quando me viu em um vestido de noiva, que o Presidente Snow escolheu a dedo. Ela não me viu depois que colocaram o vestido em mim.

— Você seria a noiva mais linda, Katniss — disse, com carinho de mãe, ajudando-me a sair dali, e me sentou no sofá, ao seu lado. — Como você está se sentindo?

— Enjoada. Acho que vou vomitar — falei, com uma mão na barriga que dava sinais, mas lembrei-me que ela não sabe de nada, então desviei o olhar para a televisão, e ela seguiu meus olhos para uma carreirista do Distrito Dois, que estava falsamente emocionada. — Isso me dá ânsia.

Assentiu, dando de ombros em um suspiro.

— Todos farão e falarão de tudo para não serem escolhidos — ela disse, voltando o olhar para mim. — E é isso o que eu gostaria de te dizer, na verdade, para você... e Peeta — com um gesto, chamou meu marido para perto, e logo ele estava aqui, com sua roupa de casamento também. Seria o noivo mais deslumbrante à espera da noiva no altar com seus trajes em tonalidades de branco e cinza, com um penteado bem arrumado.

— O quê? — perguntou ele, sentando-se no braço do sofá.

— Vocês dois precisam usar o amor de vocês de alguma forma — Effie pediu, quase suplicante, e hoje ela usava uma roupa que a fazia parecer ser o céu de noite, destacando seus olhos diamantes. Ela é um produto criado na Capital, mas seus sentimentos para conosco são claramente sinceros, basta olhar para seus olhos.

— Acho que as roupas já entregam a estratégia, não acha? — Haymitch alfinetou, parecendo irritado por Effie também estar aconselhando-nos. — Katniss sabe o que precisa fazer para fazer toda a audiência pegar fogo, e Peeta também, não é?

O loiro ao meu lado corou um pouco, mas assentiu.

Minha preocupação com essa entrevista é tão grande que sequer tentei pensar no que ele falaria, para ser completamente sincera.

— Precisam entrar na fila, o distrito Quatro já será chamado — Cinna interrompeu, depois de pedir desculpas, então precisei me separar de Haymitch, que trocou algo confidencial com Peeta, que assentiu, sério, pondo-se, então, ao meu lado na fila.

Entrelacei meus dedos nervosos nos de Peeta, que fez carinho, e assim continuamos, em silêncio, seguindo a fila, que parecia nos guiar para a morte, um abatedouro. Senti-me como as presas que eu caço, e por um momento senti ânsia de colocar absolutamente tudo o que comi para fora, mas fui forte o bastante para conseguir me manter de pé, ereta, ao lado de Peeta.

Não sei se haverá algum outro Tributo que chamará mais atenção com sua dupla do que nós, que parece que vamos sair daqui e entrar na maior e melhor igreja da Capital para deixar melhor sinalizado os sentimentos que sentimos um pelo outro.

— Um vestido de casamento? — Johanna Mason, tributo feminina do Distrito Sete, debochou claramente.

— Snow me fez vestir isso — respondi, sem abaixar a cabeça, muito pelo contrário, mantive seus olhos dentro dos meus. Peeta não se envolveu; sabe que eu posso lidar com isso, e se houver intromissão, ele quem pagará o pato.

Ela se aproximou de nós dois, olhando primeiro para Peeta, dentro dos olhos, então para mim.

— Faça-o pagar por isso — sussurrou, com uma expressão séria, mas quase gritando por uma vingança por minha parte.

— Por qual outra razão acha que eu estaria usando isso? — rebato.

Pude pensar em milhares de alternativas nos três segundos que se passaram, com ela ainda com os olhos castanhos escuros fixos em mim, mas não falei absolutamente nada, mas não podia esperar que ela fosse gargalhar, uma risada seca, mas ainda sim, uma gargalhada.

— Boa sorte em tentar parar os jogos, amantes desafortunados — disse, olhando-nos de cima em baixo, com deboche, então se afastou.

— Ela é louca — murmurei, e dessa vez, foi a vez de Peeta rir baixinho.

— Completamente.

Daí voltamos a esperar em completo silêncio a nossa vez, prestando atenção no showzinho que todo mundo fazia para tentar parar os jogos, com declarações de amor, despedida dos filhos etc. Enquanto eu não fazia a menor ideia do que falaria, tampouco quais poderiam ser as perguntas que Caesar me faria. Não estudei nenhuma fala, e se puder, ficarei sem.

Mas em um piscar de olhos, todos os outros vinte e quatro tributos tinham feitos seus apelos, agora é a minha vez.

— Só seja sincera — Peeta aconselhou, com a voz baixa, selando nossos lábios com um beijo casto. — Pense no nosso bebê.

Suspirei, fechando os olhos, de frente para ele, mas assenti.

Segui uma moça com roupas extravagantes da Capital, que me guiou para o palco, que abriu as portas grandes para me receber, e ao me verem em meu vestido de casamento espalhafatoso, digno para algo nesse lugar repugnante, ficaram de pé, gritando, maravilhados. Eu posso facilmente compará-los com animais enjaulados a vida inteira.

— Uau, uau, uau! — Caesar exclamou, com um sorriso enorme no rosto. — Como você está lindíssima, Katniss!

Forcei um sorriso, que saiu bem convincente.

— Não é por minha causa, mas Cinna e minha equipe quem faz milagres — a platéia e Caesar riram, de forma espontânea.

— Ah, mas e esse vestido? Meu palpite foi que esse era o vestido que usaria no seu casamento verdadeiro ou falso!

— Sim, era ele que eu usaria, e o presidente Snow achou que seria ótimo se todos vocês vissem como ficaria — respondi rápido, assim como ele, sabendo que três minutos voam extremamente rápido.

— Presidente Snow mais uma vez muito sábio, não é verdade? — Pense no nosso bebê, Peeta me disse, e foi nisso que eu pensei, abrindo um sorriso.

— Com absoluta certeza — respondi, e as pessoas vibraram mais uma vez, aplaudindo ansiosas por mais uma demonstração do meu vestido.

— Poderia dar uma voltinha para nós vermos melhor seu vestido? — Caesar pediu, gentil, segurando minha mão, e eu apenas assenti em concordância, sabendo que Cinna tinha preparado algo chamativo para hoje à noite.

Dei uma volta, sentindo meu vestido branco lentamente desaparecer, mas eu não conseguia ver no que dava espaço, por causa da fumaça, que me assustou, por um momento pensei que estivesse ficando nua, mas quando as falsas chamas chegaram em meus ombros, soube que era hora de parar de girar. Pus-me de frente para o público, e levantei os braços, como reflexo, e olhando minha imagem em uma televisão que estava ali, para sabermos como estava acontecendo tudo, não pude ficar mais impressionada.

O vestido é azul escuro, com detalhes incríveis, desde a borda, em meus calcanhares, até as finas alças, assim como as asas que apareceram.

— Isso é um... um... — Caesar ficou sem palavras, gaguejando, admirado.

— É um Tordo — falei, em voz alta, entendendo o protesto que Cinna fez, e o encontrei na platéia que gritava e aplaudia de pura surpresa e admiração. Agradeci meu amigo com o olhar, e sei que ele recebeu com sinceridade.

Quando olhei para minha barriga, podia ver o leve sobressalto que tinha, aparente que era mais do que alguns quilos a mais, mas não houve nada para dizer sobre isso. Caesar apenas pediu para eu me juntar aos outros, e assim o fiz.

Fiquei ao lado do tributo masculino do 11, amigo de Haymitch. Ele sorriu gentil para mim.

Peeta entrou, também sendo altamente aplaudido, por sua roupa de casamento também, com sua simpatia de sempre, ele e Caesar pareciam velhos amigos, arrancando muitas risadas das pessoas.

— Mas Peeta... como está se sentindo pelo fato que o casamento não vai acontecer? — Fiquei tensa, engolindo em seco, sem conseguir pensar no que Peeta iria dizer.

— Não me sinto mal, porque... nós nos casamos em uma pequena cerimônia entre nós dois em nosso Distrito — Peeta contou, ficando sério, mas melancólico, mais do que normalmente fica.

— O que? Como assim? — O entrevistador questionou, sem entender, boquiaberto.

— Sim. Eu e Katniss nos casamos — mostrou sua aliança, como a minha, rapidamente. — Mas não haveria nenhum arrependimento se... não haveria nenhum arrependimento se...

Ele parecia que ia chorar, mas eu sabia a pura encenação que fazia, compreendendo o que tudo significava.

— Não haveria nenhum arrependimento se...? — Caesar incentivou, tão curioso como a platéia.

— Se não fosse pelo bebê.

E a gritaria foi instantânea.

Todos começaram a berrar para interromperem os Jogos, o quanto isso era loucura, maluquice, e as câmeras estavam em mim agora, que não consegui esconder meu espanto por Peeta ter nos exposto na frente de todo mundo, e como consequência, minhas mãos foram para meu ventre, deixando o quebra-cabeça completo.

Logo o loiro estava ao meu lado, tentando disfarçar o sorriso satisfeito no canto do rosto pela reação das pessoas. Era isso o que ele e Haymitch estavam planejando, então?

Seus braços me envolveram em um abraço carinhoso, que eu correspondi, com força desnecessária, escondendo o rosto na curva de seu pescoço, sem dizer nada, ele sabia que eu não estou conseguindo acreditar no que ele fez.

Separamo-nos logo, então, Caesar estava com uma cara de poucos amigos, ainda com a gritaria desesperada para pararem os Jogos, ordenou com gestos claros para cortarem a luz, e mais rápido que eu esperava, sem que ninguém ensaiasse, todos os Tributos demos as mãos, erguendo-as, e cortaram as luzes, mas não do painel bem aceso atrás de nós, destacando ainda mais o nosso protesto, com a platéia gritando ainda mais alto, então, apagão total no estúdio.

Mas todos viram.

*

— Dessa vez vocês dois se superaram, hein — Haymitch disse, com um sorriso amigável, encontrando eu e Peeta já com roupas de dormir na sala, preocupados, em silêncio, somente em busca de alguma notícia boa.

— Eles vão cancelar os Jogos? — Peeta perguntou por mim, que fazia um carinho protetor em meu ventre, para acalmar a mim mesma.

— Não, infelizmente não. Não há muito o que se possa fazer dadas circunstâncias. Mas vocês terão muitos patrocinadores, podem ter absoluta certeza. Sua fala e a reação de Katniss estamparão todas as revistas e jornais pela manhã, e sentirão culpa, mas não muita. Só que os ajudarão.

Não consegui nem pensar. O bebê em meu ventre tomava todos meus pensamentos, essa vida dentro de mim, que crescia, e logo pediria para conhecer o mundo, as pessoas, mas se depararia com esse mundo horrível.

Senti ânsia de vômito, tamanho nervosismo.

— Meu Deus! Meu Deus! — Effie exclamou, entrando correndo em seus saltos altos, em meio ao choro. — Como puderam fazer isso comigo?! — perguntou, me abraçando com força, depois Peeta. — São como meus filhos! E não me contam algo assim?!

— Não queríamos deixá-la triste — eu disse, com um sorriso torto, sentindo-me indisposta. — Desculpe-nos, Effie. Não queríamos mesmo deixar você saber porque a consideramos.

Peeta concordou.

— Farei maior questão de auxiliar Haymitch com tudo isso — falou, olhando para o outro louro, mas de olhos cinzas como os meus. — Nada faltará para vocês, tudo o que precisarem lá, faremos o possível para ser suprido, não é mesmo, Haymitch?

O mentor assentiu, com um certo pesar nos olhos, mas não pensei nada acerca disso, pois amanhã eu e Peeta estaremos a nossa própria sorte em uma arena completamente imprevisível, e completamente perigosa, principalmente para nós dois.

— Obrigada, Effie — agradeci, com um sorriso torto, e recebi mais uma abraço apertado dela, que ainda chorava.

— Não há nada pelo que deve me agradecer! Estava cheia de raiva por não ter conversado comigo, quando agora tudo faz sentido. E como faz! Você está de quantas semanas? E agora! Como eu vou poder fazer um enxoval decente? E como vou saber com qual dos dois se parece mais?

Agora eu quem queria chorar, e muito, mas mais uma vez me segurei, mantendo-me instável.

— Dezenove semanas — respondi, sem qualquer animação.

— Effie, no que depender de mim, vocês todos verão essa criança crescer — Peeta tentou tranquiliza-la, tocando em sua mão que não estava sobre a minha barriga, aumentando sua melancolia de forma assustadora, mas não pudemos fazer nada.

Vi o quanto ela queria gritar o quão errado era ele não poder ver o próprio filho, mas se conteve, para não fazê-lo recordar-se disso. Mas eu me lembro, e em todos os segundos da minha vida, todos.

— Effie, o que acha de ir para o seu quarto, hein? — Haymitch sugeriu, um pouco desconsertado, também entendendo o sentido de Peeta morrer em meu lugar.

A loira espalhafatosa nos deu mais um abraço bem apertado, principalmente em Peeta.

— Não me decepcionem! Quero ir ao chá de bebê e ter um neto, hein?! Não me decepcionem!

E foi para seu quarto, ainda chorando, me deixando a um passo de fazer isso também.

— Bem, Haymitch, acho que é agora a última despedida — Peeta disse, levantando-se, e eu o acompanhei.

— É... — e abraçou Peeta primeiro, que disse algo que eu não fiz ideia, então me abraçou.

— Mantenha Peeta vivo que eu cuido do resto — sussurrei também. — Lembre da sua promessa.

Não tive resposta, mas não restava nada além de esperar que ele fosse cumprir com isso.

— Algum último conselho? — Peeta perguntou.

— Fiquem vivos — respondeu, sorrindo, então, se virou, e foi para o seu quarto.

Peeta e eu ficamos no meio da sala por um tempo, de pé, bem abraçados, incapazes de falarmos alguma coisa, somente com  o bebê em meu ventre, mas não nos incomodava. Quando fomos para o seu quarto, logo nos deitamos, e quando isso aconteceu, não precisamos abrir a boca para falar absolutamente nada. Sabíamos o quanto cada um significava, um para o outro.

*

Cinna mais uma vez foi quem me acompanhou até a sala que me guiaria de volta para o lugar do meu maior pesadelo, que é a arena, ajudando-me também em me recuperar do chip que enfiaram em meu braço por causa da localização e como estou fisicamente, como por exemplo, se meu coração está batendo ainda. Mas a pior dor é a do coração, que late no meu peito, clamando por uma outra chance de viver em paz, mas sem quaisquer resposta.

— Vai ficar tudo bem — ele disse, oferecendo-me um copo com água para mim. — Vai por mim. Eu, Effie, Haymitch, conseguiremos o máximo de patrocinadores possível, para que você saia com vida junto com o seu filho.

— Eu sei que vocês vão, mas eu não consigo parar de pensar do que vai ser a minha vida sem Peeta — falei, suspirando, com lágrimas nos olhos. — Não vou conseguir.

Minha voz saiu em um fio, trêmula, chorosa, fraca. Odeio passar essa imagem, mas é como me sinto agora, e não há muito o que eu possa fazer.

— Já sobreviveu a uma arena, Katniss, por que morreria nessa, e não conseguiria se reerguer? Pelo seu filho, por Peeta, por um futuro mais digno — incentivou, com um sorriso torto, mas deixava bem claro sua própria emoção.

Limitei-me apenas a suspirar, muito triste, sentindo uma tontura muito forte, mais intensa pela gravidez, quando uma voz cética anunciou que faltava somente trinta segundos.

— Coma algo a mais, está pálida — Meu amigo aconselhou, passando para mim um pedaço de chocolate, que aceitei, mas tomando mais água, aliviando, mas bem pouco, todo o medo que eu estou sentindo.

Fui para o tubo, fechando o macacão justo, adequado para água, marcando minha pouca barriga, deixando-a redonda, mas discreta. Meu sangue corria congelado em minhas veias.

— Dez segundos — anunciou mais uma vez, mas eu já estava dentro do tubo, que se fechou feito uma cúpula ao meu redor, mas Cinna deixou sua mão sobre o vidro, e eu fiz o mesmo, como se estivessem se tocando. Seus olhos me olhavam cheios de lágrimas, mas não derramou nenhuma por minha causa, eu sabia, para não me deixar mais triste que eu estava, mais deprimida do que eu me encontraria se tudo isso terminasse e eu saísse viva e vencedora.

Um sorriso jazia no rosto dele, para me animar, mas a sua presença é a melhor para me acalmar, só que mesmo que eu não estivesse contando meus últimos segundos em paz, sabia que estava demorando um pouco mais para me mandarem para a arena, então, dois pacificadores entraram armados, efetuando três disparos em Cinna, depois bateram seu corpo desacordado – ou morto – no tubo, arrastando-o.

NÃO! — berrei, dando chutes, socos e pontapés. — DEIXEM ELE EM PAZ! NÃO! CINNA! CINNA!

Meu corpo se debateu feito uma convulsão para quebrar o tubo, mas não consegui nada além de embaçar o vidro e manchar com o sangue do nó dos meus dedos.

— Não! Não! Não... — perdi as forças, em meio aos soluços, caí de joelhos, como se uma mão de ferro apertasse meu coração, com muita força.

E um movimento se fez no meu ventre, algo inexplicável que eu nunca em toda minha vida pensei que fosse sentir: um chute.

Minhas mãos passaram apressadas pelo meu pé da minha barriga, meus olhos acompanhavam a trilha de sangue de Cinna até a porta fechada, intercalando para o leve aumento que a criança fazia, mesmo que bem pequeno.

A plataforma começou a levantar, mas minhas pernas não tinham forças, e eu só chorava, sentindo todo tipo de mágoa, tristeza, amor, medo, luto. Vomitei o pouco que eu tinha comido ainda na plataforma, sem me sujar, no entanto, isso me deixou ainda mais sem forças.

Quando cheguei na superfície, nocauteada pelo sol fortíssimo, trêmula, sem fôlego, me coloquei de pé, abraçando meu próprio corpo, completamente desolada, arrasada por completo. Eles sabiam o quanto isso ia me afetar, o quanto isso ia me impossibilitar de preparar em um piscar de olhos.

Senhoras e senhores, sejam muito bem-vindos a septuagésima sexta edição dos Jogos Vorazes! — O novo programador dos Jogos disse, com uma voz animada, enquanto minha vista ainda tentava se situar. Então, somente um pensamento se formou em meio ao conflito que dominava todo o meu ser, com minha plataforma recebendo nocautes da água salgada da praia.

Esse não é o lugar para uma Garota em Chamas.


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Notas finais do capítulo

E é isso, gente! Como eu disse, não é dando tantos detalhes como eu costumo dar, quero fazer algo bem compacto, mas ainda sim manter algo bem legal. Estou pisando em terras desconhecidas, mantendo o máximo que posso o limite de até 5.000 palavras ou menos.
Será definitivamente uma short-fic, e com mais quatro capítulos, ou seja, com este são cinco. O último será um epílogo.
O que acharam, galera? Vou gostar muito de saber a opinião de vocês, é importantíssimo para mim! Me incentiva pacas a escrever mais, assim como sugestões, elogios e críticas construtivas! Um forte abraço, e até sábado que vem, se Deus quiser!
Obs.: Será que você podia preencher esse formulário, se tiver tempo? https://docs.google.com/forms/d/1wxwYJXtcfpmu9nIv2FR7N2592EMFVU6hyzc3tR-r-Ac/edit é muito importante pra mim, mas só se der, não quero atrapalhar!



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