Ladrão de Corações escrita por Lilissantana1


Capítulo 12
Capítulo 12 - Mudar de Vida


Notas iniciais do capítulo

Nem tudo pode continuar igual. Sebastian vai descobrir isso aos poucos.



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O noivado oficial ficou acertado para dentro de um mês. Sebastian considerava que esse tempo seria mais do que suficiente para que todos compreendessem que nada acontecera que o obrigasse a realizar o tal pedido. Nada além de um possível casamento forçado com quem Hannah não desejava. Porém, como a própria baronesa dissera, a discrição fazia parte daquele negócio. E ele poderia ficar tranqüilo quanto a isso. Ninguém ficaria sabendo que ele se dispuser a casar com Hannah para salva-la de outro homem.

Mas, antes que isso acontecesse. Sebastian precisava começar a pensar em coisas práticas como por exemplo. Escrever para Wood, informando o que estava acontecendo. Que desistira de Betina e que o casamento agora seria com Hannah. O outro ponto dizia respeito a casa onde ele morava e que não se mostrava suficientemente boa para um casal. Como sua mãe bem vira e comentara em sua estada rápida, a residência do segundo filho poderia ser considerada apenas como boa para uma pessoa solteira. Sem falar nos móveis e utensílios velhos. Tudo precisava ser modificado para receber sua esposa.Hannah estava habituada a viver em um ambiente amplo, com comodidade, com espaço para caminhar. Ele sequer tinha um jardim. Sebastian estava certo de que nada que conseguisse seria próximo da casa que ela vivia, porém, faria o melhor, dentro do que estava ao seu alcance.

O segundo ponto era voltar a trabalhar. Mesmo que seus pais não soubessem, nem concordassem, ele costumava exercer sua profissão quando passava temporadas longas longe de casa. E no caso atual, viver com as rendas que recebia da família não lhe concederia um bom orçamento para manter um casal. Ele não queria mexer no dote de Hannah, sobre o qual, o barão fizera questão de falar tão logo soube do pedido de casamento. Esse dinheiro era de sua esposa, e ele esperava que ela o usasse como considerasse adequado.

Por causa dessas atividades, ele e Hannah não se viram por alguns dias, em seu lugar, Sebastian continuou a enviar os livros, agora com mais liberdade já que Hannah não era apenas sua futura cunhada e sim futura esposa. E quando ele finalmente reapareceu na casa do barão, a noiva o recebeu com certo receio e alguma desconfiança. Será que Evans estava voltando atrás na proposta? Será que ele já não tinha certeza se deveria ou não casar-se com ela? Será que desistira?

Desde que o noivado caiu na boca da sociedade local, as pessoas lhe importunavam com perguntas indiscretas que insinuavam haver algo escuso sob o pedido de casamento. As últimas vieram da costureira que estava preparando seu vestido para o baile a fantasia. A mulher não se preocupou em parecer enxerida e mesmo diante da baronesa, lhe fez inúmeros questionamentos e comentários sobre o acontecimento inesperado.

Com essas perguntas e situações a gritarem na mente, ela desceu lentamente em direção a sala principal onde Sebastian a esperava sozinho. Sempre sozinho desde que a pedira em casamento. Ninguém mais vinha lhe fazer companhia se por acaso o barão não estava na residência na ocasião de sua visita. O rapaz estava parado junto à janela, mãos nas costas, ereto. Os cabelos castanhos claros, levemente dourados, curtos estavam arrumados com cuidado como sempre. As costas de Sebastian eram amplas, os ombros largos. Seu corpo bem estruturado e elegante. Ela imaginou como seria abraçá-lo. Como seria beijá-lo. Ser tocada por ele. Imediatamente uma emoção estranha se apoderou dela, as bochechas coraram. Era a primeira vez que pensava algo assim sobre um homem. Tentando se controlar respirou mais fundo e esse som, mesmo que baixo, atraiu a atenção de Sebastian, que se voltou e fixou nela os olhos azuis.

— Boa tarde... – ele disse rapidamente sem se aproximar, apenas a observá-la detida e firmemente.

— Boa tarde sir... – a voz saiu estranha aos próprios ouvidos, levemente rouca e ansiosa.

Sebastian a mediu lenta e cuidadosamente. Hannah era realmente uma garota simples. Ela  não usava roupas para salientar sua beleza, mas para deixá-la transparecer em todo o esplendor, dos fios ruivos às sardas que tomavam conta das bochechas coradas. 

Os cabelos longos não estavam totalmente presos como a maioria das mulheres usava, ela os prendera em uma longa trança lateral que pendia sobre o peito. Os dedos mexiam na ponta da fita que se prendia no final do longo trançado e os olhos o encaravam detidamente.

— Como tem passado? – ele perguntou finalmente se aproximando, mas não a tocou.

— Estou bem... – Hannah respondeu séria e por algum motivo ele não acreditou no que ela lhe dizia. Algo no modo da garota se comportar. Algo em seus olhos. Mas nada perguntou. Foi direto ao ponto que o trouxera até ali.

— Vim buscá-la para que veja nossa futura residência.

Hannah sorriu suavemente, não esperava por aquele comentário. Sebastian continuou a falar:

— Sua mãe se importará se sair comigo por uma hora, mais ou menos? Sua criada pessoal poderá ou deverá nos acompanhar.

Hannah deu um passo em direção a ele.

— Minha mãe já não se incomoda com nada que diga respeito a mim... – ela explicou timidamente.

— Por que a senhoria aceitou se casar comigo? – a pergunta direta mostrou o descontentamento dele.

Não era intenção colocar a culpa do comportamento da baronesa nas costas de seu futuro marido. Charlote não poderia ser considerada como uma mãe carinhosa e amiga, e em nenhum momento Sebastian tivera alguma influência sobre isso.

— Concordar com seu pedido de casamento realmente causou certo alvoroço. Ela considera que nada mais há que possam falar a meu respeito, então, não se incomodará se sairmos sozinhos ou com minha criada.

Ele não gostou do que ouviu.

— Alguém insinuou algo desagradável sobre a senhorita? – perguntou se aproximando um pouco mais. Talvez as mesmas insinuações que ele ouviu.

Hannah não se mostrava preocupada com falatórios e sua explicação deixou isso muito claro:

— Vivo aqui há tempo suficiente para saber que nada há que se faça para impedir as pessoas de falarem. Elas falam o que querem sir Evans. Talvez seja por isso que mamãe não se importará se o acompanhar em um passeio de uma hora. – ela se voltou para a porta – De qualquer forma vou chamar minha criada.

Enquanto ela saia, ele voltou às palavras de seu irmão, de sua mãe. Se eles falavam, talvez Hannah tivesse razão, nada havia que fazer para afastar as más línguas.

Hannah voltou minutos depois, trazia o mesmo olhar no rosto redondo. Parecia distraída e até um pouco desconfortável. Ele queria saber a razão daquilo.

— Estou atrapalhando algo? A senhorita tinha planos para esta tarde?

Ela sorriu antes de responder:

— Não senhor. Estava apenas lendo.

Ele lembrou dos livros que enviara.

— Já leu os últimos livro?

O rosto de Hannah se iluminou brevemente.

— Oh sim! Quase todos. – principalmente porque o noivo não aparecera nos últimos dias, ela preenchera as horas de suspense pela ausência dele com a leitura.

— Assim que concluir me avise, enviarei novos.

Ela só teve tempo para gesticular afirmativamente, a criada ingressou no ambiente trazendo a toca e a bolsa de Hannah. Bem como sua sombrinha. Rapidamente a garota se acomodou e perguntou:

— Podemos ir? Ou o senhor deseja falar com minha mãe?

— A senhorita já informou à sua mãe que sairá comigo?

Hannah enfiou a bolsa no pulso antes de explicar:

— Ela e Betina saíram, foram a modista buscar os vestidos para o baile de sua cunhada. Deixei um recado com a criada dela.

Sebastian concordou. Havia esquecido do tal baile. Não que ele fosse usar alguma fantasia especial. Apenas uma máscara preta e uma capa. Mas, pelo jeito, Hannah estaria fantasiada. Teve vontade de perguntar o que ela vestiria, mas se absteve. Ela não se mostrava tão interessada assim na festa. Deveria ser algo simples.

— Então vamos. – convidou estendendo o braço para a noiva.

Hannah o aceitou prontamente. Era a primeira saída deles juntos, como noivos. Estava ansiosa e um pouco agitada diante da possibilidade de virar o centro das atenções.

A rua, naquele horário, estava lotada de pessoas indo e vindo. Carruagens, cavalos e outros. Sebastian a conduziu para sua charrete aberta, eles sentaram-se lado a lado enquanto a criada ia de frente para o casal. O condutor imediatamente colocou os cavalos em movimento. O trajeto não seria longo, mas, ele queria evitar falatórios. As pessoas pareciam não olhar tão detidamente para quem seguia nas carruagens ou charretes quanto prestava nas que transitavam a pé.

Hannah abriu a sombrinha sobre a cabeça e desejou retirar a toca, mas não seria possível, já que estava na rua. Seria demais. Mais um motivo para falarem dela. Suspirou rapidamente olhando em volta, queria esquecer os comentários, tudo, e apenas aproveitar aqueles momentos sentada ao lado de Sebastian, em sua charrete aberta. A vista de todos.

— Demorei a me decidir. – ele falou de repente e percebendo que ela não compreendera sobre o que falava explicou melhor: - Sobre a casa. Demorei a me decidir, queria alguma coisa que não fosse grande demais ou muito modesta. Mas há poucas que atendam a essas prerrogativas.

— Não me incomodo com casas modestas.

Ele já sabia disso.

— Mas, tenho certeza de que gostará da que escolhi. Para mim tem o tamanho exato para um casal recém casado.

Casal recém casado. Ela repetiu mentalmente. E ela fazia parte desse casal. E Sebastian era a outra metade. Seu coração acelerou. Em pouco mais de dois meses eles seriam marido e mulher. Sua vida seria totalmente diferente. Ele sorriu brevemente como se tivesse percebido no que ela pensava.

A carruagem dobrou uma esquina e logo reduziu a velocidade. Hannah olhou em volta, era uma fileira de casas iguais, com jardim frontal e uma escadaria que levava a porta principal. Grandes janelas podiam ser vistas nos três andares que compunham o prédio. Aquele era um lugar destinado a pessoas sozinhas ou famílias pequenas. Ela já conhecia e gostava muito daquele lugar. Do clima ali, e da visão em frente. Havia uma praça onde as pessoas costumavam se sentar no final da tarde para conversar ou ler.

Quando Hannah o observou Sebastian soube que sua escolha fora aprovada. Nenhuma palavra precisou ser dita. O sorriso e os olhos expressivos da futura esposa diziam tudo.

— Então, - começou satisfeito – quando concluir o negócio, poderemos vir para que escolha os móveis, as cortinas e outros acessórios que uma casa precisa. – ele mostrou aquele sorriso torto que provocava o acelerar do coração de Hannah antes de concluir – Preciso confessar que não entendo nada dessas coisas. Deixarei tudo para a senhorita e possivelmente minha mãe... você se incomoda

Ele usara você? Ela se perguntou rapidamente. Mas logo tratou de responder a pergunta:

— Não! Será bom ter alguém tão experiente para me auxiliar. – muito melhor do que sua mãe. Ela até agradeceu por Sebastian não ter mencionado a baronesa. Pois Charlote certamente não faria o que deveria fazer. Ou se fizesse estaria de má vontade.

— Gostaria de passear um pouco senhorita Larkin? – ele perguntou de repente, como se a ideia tivesse lhe ocorrido naquele momento.

— Gostaria. – ela respondeu serenamente e em poucos minutos eles estavam caminhando de braços dados na praça em frente a casa onde, em breve, estariam morando.

*******************

O baile finalmente chegara. Sebastian estava pronto. Só faltava a bendita máscara, ele pensou encarando a própria imagem no espelho. Por que sua cunhada inventava essas coisas? Ele acabava sempre confuso nessas ocasiões. Antes não era realmente um problema. Geralmente ia à caça. Desta vez, pelo contrário, estaria acompanhado da noiva. Nada de caça. Nada de ficar agarrando mulheres mascaradas pelos cantos escuros da casa. Nada de beijos, afagos ou encontros furtivos.

E, pensou bufando, ainda havia a chance de topar com alguém que considerasse interessante, de quem gostaria de erguer as saias. Definitivamente aquele seria o primeiro evento social como noivo de Hannah Larkin. Seria sua prova de fogo. Seria o momento em que descobriria se estaria disposto a ser fiel a ela ou não.

Algumas batidas na porta o distraíram. Era o criado.

— Com licença senhor...mas há visita.

Sebastian apertou os olhos irritado. Estava praticamente em cima do horário, quem viera para visitá-lo naquele momento? Algumas pessoas simplesmente não tinham senso de ocasião.

— Quem é? – perguntou ajeitando o lenço no pescoço pela enésima vez.

— Sir Wood, milorde. – a voz tediosa do criado informou.

Os olhos de Sebastian desfocaram da imagem no espelho. Ele viu claramente Paul diante de si.

Wood? Wood estava em sua casa? O que ele viera fazer ali agora que tudo já estava acertado?

****************

Hannah estava pronta, sentada na sala principal a espera da mãe e da Irmã. Seu vestido branco, ao contrário da moda da época, tinha cintura baixa e marcava o corpo esbelto e os seios bonitos. Havia penas saindo do peito que contornavam e alongavam seu pescoço. No rosto a máscara recobria todas as sardas e também estava revestida por penas, penas brancas que pareciam emoldurar um par de olhos grandes e especialmente azuis naquela noite.  O cabelo preso quase sumira sob os enfeites que emanavam do coque. A intenção da mãe fora escondê-la atrás de um vestido branco e sem cor. Mas, só conseguira salientar mais as qualidades da filha. Como Sebastian bem percebera, para Hannah, menos significava mais.

Quando Betina surgiu, com seu vestido vermelho, seus cabelos ornados em um coque expansivo, e máscara brilhante, Hannah acreditou que era assim que elas eram, completamente diferentes. Como a água e o vinho, como o sol e a lua, como o dia e a noite. E teve medo. Medo que Sebastian a considerasse muito pouco atraente perto de sua irmã tão vistosa.

O pai lhe fez elogios sinceros, depois agradou a filha caçula com o mesmo carinho e finalmente eles saíram. A baronesa não parecia totalmente satisfeita com o efeito geral do que programara para a mais velha. Entretanto, naquele momento nada havia que pudesse fazer para alterar o resultado de seus próprios planos.

A carruagem as levou imediatamente para a festa, na casa principal do marquês o salão estava lindamente decorado para a ocasião. E já havia muitas pessoas lá. Hannah ingressou guiada pelo pai. Foram recepcionadas pela própria marquesa e pela nora dela.

Assim que viu Hannah, Celine se mostrou encantada. A garota estava linda, como se isso fosse possível. Aquela tonalidade de branco perolado, as penas, os parcos brilhos que destacavam apenas alguns detalhes. E foi sincera no cumprimento à futura nora:

— Minha querida! Você está linda!

Hannah corou diante do modo de falar da futura sogra e agradeceu timidamente. E a mulher continuou a fala, desta vez se dirigindo a baronesa.

— Estou muito feliz em poder reunir finalmente nossas famílias.

A baronesa mostrou seu sorriso mais gentil antes de concordar e a marquesa continuou:

— Precisamos marcar um jantar antes do noivado oficial. Avisei Sebastian que gostaria de recebê-los para um jantar íntimo tão logo esta festa tivesse sido realizada... que tal na próxima sexta- feira?

— Certamente. – a baronesa afirmou sem muito entusiasmo. Não era o noivado de Hannah com Sebastian que ela gostaria de estar comemorando.

Para a marquesa parecia não fazer qualquer diferença qual a irmã escolhida, desde que o filho tivesse escolhido uma.

— Esplendido. Mandarei um convite formal para sua residência.

E logo depois se voltou para a futura nora. Afagou as mãos geladas da garota e se aproximando falou gentilmente:

— Sebastian ficará encantado.

Hannah não foi capaz de segurar o sorriso. Era tudo que ela queria. Que ele a visse como via todas as outras mulheres. Que a quisesse como quisera sua irmã. Ele não amava Betina, mas estava encantado por ela. Seria demais querer para si o mesmo encantamento?


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, novas emoções para Sebastian, Hannah, Betina, e... quem chegou mesmo? o que será q ele quer? Veremos no próximo capítulo. BJ e obrigada meninas. amo ler e responder aos reviews d vcs. sem vcs não tem fic. já falei e repito.



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