A Baby Among Us escrita por nywphadora, nywphadora, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 4
Sobre memórias ruins e bons momentos


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a Bruba e Gatocornio pelos comentários ♥
Assim como Lua Farias e The Girl Impossible por favoritarem :)



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Baby, we both know that things

Have really changed between us

It's all over, baby

— Eva Cassidy

Se ele estivesse em sã consciência, jamais teria enviado aquele patrono.

Na verdade, Sirius não tinha ideia do que faria em qualquer outra situação hipotética. Estar em sã consciência? Aquilo era simplesmente impossível! Era como se ele não pudesse confiar nas próprias memórias e ações.

O fato de o bilhete não ter sido assinado só forçava-o a pensar que não passava de alguma mulher rancorosa querendo vingar-se, entregando uma filha que não fosse dele, mas ele sabia que isso não era verdade.

Se não tivesse lido aquele bilhete, acreditaria que era filho de Regulus. Os dois irmãos sempre foram muito iguais na aparência, e talvez apenas nisso.

Era simplesmente irônico em como ele sempre acabava recorrendo a ele. Horas antes não queria nem escutar o seu nome, só ignorando-o, e agora ali estava. Não ia àquela praça desde que ele e Regulus eram crianças, que fugiam para lá, mesmo sem a permissão de dona Walburga, que não aprovava que seus filhos interagissem com trouxas.

Bem, que não morasse em um vilarejo trouxa, então.

Escutou o som de aparatação, mas não moveu-se um centímetro, nem piscou os olhos, permaneceu olhando para o gramado, sentado no meio fio da calçada. Não tinha perigo, as ruas estavam vazias, nem os carros passavam por ali.

— Sirius Black não afogando as mágoas na bebida, que novidade.

Era por esse tipo de frase cortante que ele já se arrependia de seu momento de fraqueza.

Nos tempos de escola, Remus sempre foi aquele que o escutava, que ele podia desabafar e sentir-se melhor após isso, mas desde que ele começou a namorar com Dorcas Meadowes, eles se afastaram.

Sirius passou muito tempo agindo que nem um babaca, e isso fez com que Dorcas tivesse um pé atrás com ele (não que o sentimento não fosse recíproco). Quando ele percebeu que a garota já não permitia que Remus ficasse muito tempo com os amigos, decidiu que era hora de provar para todos que ele tinha mudado. E por outra razão também.

Apesar disso, ele não recebia créditos por isso. Todos do quartel general apostavam quanto tempo isso duraria, apesar de não verem-no com uma garota há mais um de ano, e não bebia a ponto de não saber o próprio nome desde muito tempo. Pelo menos, era o que ele acreditava.

O que o fez esquecer todo o seu esforço de anos? Porque Vega não podia ter mais de dois anos de idade... Por que a mulher decidiu entregá-la somente agora, e não mais cedo?

O seu silêncio bastou para que Remus sentasse ao seu lado, no meio fio, um pouco preocupado, já que o amigo sempre tinha uma resposta ácida na ponta da língua.

— O que que aconteceu com a gente? — Sirius não planejava perguntar isso em voz alta.

Para a sua sorte, Remus viu outro significado por trás daquela pergunta.

— Bem... Amadurecemos — ele resumiu tudo em uma palavra — Terminamos o colégio, começamos a trabalhar, vieram as responsabilidades...

“Você conheceu a Dorcas” pensou Sirius, amargamente.

— Regulus me chamou pela lareira — disse Remus, repentinamente.

— Ah! É? — o outro evitou olhá-lo, sentindo como o sangue fugia de seu rosto.

— Sim, ele parecia bem preocupado, procurando por você — ele comentou, virando-se para ele — Estava na casa de James? O que houve?

Então, o moreno lembrou-se que Regulus esteve procurando-o antes de... Bem, antes dele fugir feito um covarde. Olhou para trás, na rua onde a sua casa ficava, e notou que ninguém foi atrás dele, mas sabia que, assim que voltasse, Marlene o estrangularia por seu momento de fraqueza. Ele não se sentia muito animado para isso.

— Ele é um... Exagerado — Sirius resmungou — Eu vou pedir para que ele me envie um patrono, da próxima vez. Aí ele não vai atrapalhar vocês...

— Vocês? — repetiu Remus, dando uma risada debochada — Quando você vai aprender que tudo o que acontecer contigo nos envolve? Pensei que onze anos de amizade dissessem mais.

— Estava falando de Dorcas, não de James.

O lobisomem soltou um “Oh!” compreensivo e, ao mesmo tempo, incomodado.

— É, eu sei que o quanto mais longe de mim, melhor para ambos — Sirius revirou os olhos.

— De onde você tirou isso, Padfoot? — Remus franziu o cenho — Dorcas gosta muito de você e de James, mas ela tem a sensação de que você não gosta dela.

— Não tenho nada contra ela, mas você se afastou de mim e de James por causa dela — o moreno disse, tentando não parecer muito ciumento.

— Na verdade, você se afastou.

Aquela frase estava bem implícita, pois ele afastou-se somente dele, jamais seria capaz de fazer isso com James, e o melhor amigo não permitia, ao contrário do outro.

Sirius já não tinha vontade alguma de desabafar depois da breve conversa, apenas dirigiu os seus olhos para o céu, identificando as estrelas de alguns de seus parentes. Quando mais novo, ele acreditava que, ao morrer, estaria lá em cima.

— Vega é uma estrela — sussurrou para si mesmo.

— O que disse? — Remus virou-se para ele, confuso.

Sirius levantou-se, ignorando completamente a terra que prendeu-se em sua calça.

— Será que duas horas da manhã é muito tarde para uma reunião marota? — ele forçou um sorriso.

— Depende do ponto de vista...

Quando Sirius abriu a porta da casa dos Potter, procurando não fazer barulho, foi surpreendido pela luz acesa da cozinha.

— Você não pode esperar sair do jeito que saiu, e que eles não percebam — Remus sussurrou atrás dele, fechando a porta.

Como se para confirmar o que disse, um barulho de cadeira arrastando antecedeu a vinda de Lily, que apressou-se em abraçar a Sirius. Sem que ele percebesse, ela agradeceu a Remus, sem emitir sons, apenas movendo os seus lábios.

— Onde você se meteu? — ela perguntou, afastando-se para observá-lo melhor.

— Eu acordei vocês? — o animago perguntou, sentindo-se culpado.

— Não! Foi Harry, ele acordou e começou a chorar — explicou a ruiva.

— Parece que só a presença do padrinho em casa para fazê-lo dormir à noite — comentou James, descendo as escadas.

O plano inicial era que apenas os três amigos conversassem, mas Sirius viu-se incapaz de não incluir Lily, que tornou-se uma grande amiga. Afinal de contas, só uma louca para concordar em colocá-lo como padrinho de seu filho.

— Eu estava acordado, resolvendo alguns problemas, quando Regulus apareceu na lareira, procurando por Sirius — Remus iniciou o assunto — Não disse o que aconteceu, só se despediu quando eu disse que você não estava por lá.

— Aqui está! — Lily interrompeu qualquer resposta que pudesse ter, entregando xícaras de café para eles.

— Você precisa vender isso aqui, Lils! — disse James, antes mesmo de tomar um gole — E você ainda coloca umas gotas de poção. É quase uma receita própria!

Ela apenas revirou os olhos, embora sorrisse, sentando-se ao lado do marido para acompanhar também a conversa. Contudo, Sirius tomou apenas um gole. No começo daquele dia, estava louco por beber aquilo, mas agora tudo parecia perder o gosto.

— Ei! O que houve? Foi sério? — Lily inclinou-se em sua direção, preocupada.

Se ele resolvesse não contar, ou inventasse alguma mentira, quanto tempo duraria?

— Sirius! Você está nos assustando! — reclamou James, encostando as costas no encosto da cadeira, os braços cruzados.

Ele respirou fundo, mas acabou bebendo outro gole da bebida quente, tentando adiar ao máximo.

— Eu sinto como se... — hesitou — Tivessem lançado um Obliviate em mim.

— Por quê? — perguntou Lily, suavemente, segurando a sua mão por cima da mesa.

— Tocaram a campainha lá — Sirius já não sabia como chamar o lugar, mas deu o braço a torcer — em casa. A velha começou a gritar, e quando Marlene foi abrir a porta, só tinha um... Um cesto com uma criança dentro.

— Abandonaram? — a ruiva estava horrorizada — Como foram capazes disso?

James lançou um olhar sério para Sirius, e isso bastou para que uma compreensão fosse estabelecida, ele ainda negava-se a olhar para Remus. Talvez pudesse parar por ali, não mencionar a paternidade...

— Eu quero vê-lo — Lily disse, repentinamente, e isso fez com que a ideia de mentir caísse por terra.

— Vê-la — Sirius corrigiu, quase que por reflexo — É uma menina.

— E por que isso te incomoda tanto? — Remus pronunciou-se pela primeira vez desde que ele contou, e isso só fez com que ficasse mais nervoso.

— Veio — ele voltou a hesitar, procurando as palavras, que fugiam de sua mente — um bilhete junto com ela.

Não precisou dizer qualquer outra coisa, já que Lily mudou a sua expressão no mesmo instante.

— Sirius, isso é impossível! — ela disse, com fervor — Você nunca mais saiu com alguém.

— Eu sei — ele fechou os olhos, tentando encontrar uma resposta para tantas dúvidas — Mas, caramba! Ela é a minha cara! E não é do Regulus, isso é impossível! Ela deve ter... O quê? A idade do Harry?

James novamente lançou um olhar fixo para o rosto do melhor amigo, mais do que nunca desejando poder falar a sós com ele.

— Six... — disse Lily, cautelosamente — Isso não foi...

James pousou a mão no ombro dela, negando fortemente com a cabeça, e Sirius parecia completamente alheio a tudo isso, coçando os olhos com força.

— O que você quer, Narcisa? — perguntou Sirius, secamente, ao ter como visita uma das primas que menos gostava.

— Vim falar sobre Andrômeda... — a loira não pareceu incomodada com a sua represália.

Essa simples frase foi o suficiente para alertá-lo. Apesar de tudo, Narcisa não deixava de preocupar-se por sua irmã, e ela não iria lá se não fosse algo sério. Além do mais, ele não deixou de notar que Marlene ainda estava trajada com o seu uniforme do St. Mungos, mesmo que fosse seu dia de folga.

— Aconteceu alguma coisa? — ele deixou de lado a sua pose arisca no mesmo instante.

— Ela estava com Achaque de Opala¹, Sirius — foi Marlene quem disse — Foi diagnosticada ontem à noite, e eles iam remover o seu tumor hoje, para evitar que o estado se agravasse...

— Ela não resistiu, Sirius — aquela foi a primeira vez em que ele viu Narcisa perder a compostura.

— Que merda... — ele sussurrou, mas foi escutado por todos.

Foi na época em que ele não conseguia encontrar um chão sob os seus pés e, olhando agora, ele ainda não tinha. Sem casa fixa, alternando-se em dormir na casa dos amigos e do irmão... A única coisa que ele considerava dele era o emprego. E agora tinha Vega também.

— Não sei que mulher foi essa que eu transei, mas ela é louca — disse Sirius, exaltando-se — Colocar uma criança para eu cuidar? Eu não consigo cuidar nem de mim!

— Ei! Calma! — disse Lily, tranquila.

— Cara, eu trabalho, Marlene trabalha, Regulus nem deve saber cuidar de um bebê... — ele continuou citando.

— Você tem a mim — ela retrucou, calando-o no ato — A menina já passou da fase de amamentação, não vou ter problema algum com ela.

— E ninguém aqui está te julgando — disse James, antes de lançar um olhar indeciso para Remus — Você passou por uma má fase...

— Claro que não julgam! Na visão de vocês, eu nunca mudei, não é mesmo? — Sirius retrucou.

— Só um cego não notaria o quanto você mudou nestes últimos anos — Lily comentou.

— Então temos muitas pessoas míopes...

James tirou os óculos, fingindo-se de ofendido, o que arrancou um sorriso de todos ali. Terminaram de beber os cafés, já mornos, em silêncio.

— Eu ainda quero conhecê-la — disse Lily, depois de um tempo, com um sorriso mais relaxado no rosto — Qual é o nome dela?

— Vega — respondeu Sirius.

— Bem, seja lá quem for, parece que gosta de seguir a tradição Black de nomes — comentou James, mais curioso que qualquer um em descobrir quem era a tal mulher, e isso não passou despercebido por Lily, que não gostou nada.

— Então, Rem, a Alice me disse que você faltou ao trabalho hoje — ela disse, frisando o nome da melhor amiga, o que fez com que James a olhasse estranhado, já que foi ele quem lhe contou — Aconteceu alguma coisa?

— Digamos que... Eu fiquei em cárcere privado — respondeu Remus, em voz baixa, aparentando estar irritado.

James não conseguiu segurar a risada, o que só fez com que o amigo ficasse vermelho de vergonha. Lily manteve-se impassível, olhando desgostosa para o marido, o que fez com que Sirius se lembrasse vagamente de Narcisa.

— O que houve? — a ruiva perguntou.

— Dorcas pirou... Foi isso o que aconteceu — disse Remus.

— Se você tivesse nos avisado, teríamos levado o nosso esquadrão de aurores até lá — disse James, não conseguindo manter-se sério.

— É, acho que foi por isso que eu não avisei — retrucou Remus, sarcástico.

O amigo desculpou-se, tentando recuperar-se do acesso de risos.

— Isso é muito estranho! Dorcas não é desse tipo — comentou Lily, franzindo o cenho.

— Depois de um tempo, eu consegui dopá-la, sair do apartamento e levá-la para o St. Mungos — Remus continuou a narrar — Eles disseram que é “Transtorno Bipolar”.

— Resumo da ópera: ela é maluca — Sirius não conseguiu conter-se.

— Eu não consigo acreditar nisso — Lily desabafou, negando com a cabeça.

— Nem eu — respondeu Remus.

— Acho que não é só a Dorcas quem está pirando — James disse, olhando para Lily, tentando identificar o que tinha feito de errado.

— Você não estava tão interessado em saber quem era a mãe da filha do Sirius? — ela virou-se para ele, irritando-se — O que é? Quer voltar para o tempo das paqueras?

— Eu só fiquei curioso! — o seu marido disse, ofendido — Você também ficou!

— E precisa ficar perguntando a todo o momento? Se Sirius soubesse, já teria dito!

Vendo como o casal resolveu discutir a relação ali mesmo, o dito cujo levantou-se, recolhendo as xícaras vazias.

— Sirius está saindo da discussão em três, dois, um... — ele murmurou, indo deixar a louça na pia.

A última coisa que ele estava entendendo daquele dia era o porquê de Dorcas ter tido um surto psicótico, e o porquê de Remus não parecer nada incomodado com isso.

Na verdade, ele agia como se essa fosse a sua última preocupação.

— Como está se sentindo em relação a isso? — perguntou Remus, aproximando-se de onde ele estava.

— Você não vai querer responder, se eu perguntar, então vamos deixar esse assunto como está — respondeu Sirius.

— Não tem mais assunto com a Dorcas.

Para quem a defendia até mais cedo... Porém, Sirius conseguia entender. Remus não era capaz de ver o pior das pessoas, fosse quem fosse. Bem, só via o seu pior, não que ele não tivesse dado motivos para isso.

Constrangido pela situação em que se encontrava, Sirius decidiu facilitar o trabalho de Lily, dando uma lavada rápida nas xícaras, talvez para evitar que a conversa se prolongasse.

Por que ele disse aquilo? Foi pelo que James e Lily falaram mais cedo?

Por falar no casal, eles não pararam com a discussão, e não pareciam sequer ter notado que os dois levantaram-se de seus lugares.

— Eles não mudam — comentou Remus.

— É, acho que são a única coisa que podemos chamar de constante — murmurou Sirius, sem ter muita certeza do que queria dizer com isso.

Girando a torneira, para que a água parasse de cair, ele voltou a observar os seus melhores amigos. Era incrível como eles discutiam por motivos bobos e, mesmo assim, permaneciam juntos por tanto tempo.

Sirius morou em uma casa onde o casamento nada mais era do que um negócio, ou algo para preservar a pureza do sangue da família, a linhagem. Até que ele conheceu James e, com ele, conheceu uma família como nunca pensou existir.

Ele queria isso para si.

Era um pensamento completamente não dele, mas ele queria.

Não sabia quem era a mãe de Vega, e talvez isso fosse melhor. Ela abandonou uma criança, não valia nada. Só podia agradecer por ela ter esperado. Se dois anos depois ele já estava enlouquecendo, imaginava como seria se fosse antes.

Todos eles queriam saber quem ela era, mas ele não. A única coisa que importava agora era aquela bebê, que devia estar dormindo em algum canto que Marlene arrumou para ela. Ou mesmo com a mulher.

Era surreal que ele tivesse que cuidar de um ser completamente dependente dele, mas ele não abandonaria Vega como a mãe dela fez. Ele aprenderia a cuidar dela.

Aquela vida existia por sua causa, e Sirius Black não fugiria daquela responsabilidade.


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Notas finais do capítulo

¹ - Retirei essa doença deste site: medibruxos.weebly.com/doenccedilas-maacutegicas.html