A Baby Among Us escrita por nywphadora, nywphadora, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 3
Tem um bebê na minha porta




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/717104/chapter/3

We had ideas scribbled on walls

Six years later our destiny calls

Living our lives some of us in bands

Touring the world but we know where we stand

— H2O

Quando se tratava de Lily Potter, ela gostava quando as coisas eram feitas do modo trouxa. Por exemplo, aparatar fora da casa, e bater na porta, em vez de surgir pela lareira.

Sirius não estava em condições de contrariar a querida “cunhada” considerada.

— Six! Que visita boa! — a ruiva parecia de um ótimo humor, o que fez com que o homem soltasse a respiração, aliviado — Entre! Entre!

Assim que a porta foi fechada, Lily abraçou-o, parecendo esquecer-se completamente da última vez em que esteve lá.

— Harry está tão crescido, você precisa ver! E está com saudades desse padrinho... — ela disse, o seu sorriso estava tão radiante quanto o próprio sol, o que não era difícil considerando a cor dos seus cabelos.

— Notícias boas, senhora Potter? — Sirius perguntou, curioso, assim que ela afastou-se.

— Veremos!

Se aquele sorriso tivesse relação com Dorcas e Remus, ele já odiava profundamente a notícia, fosse qual fosse. Lily e Marlene seriam excelentes amigas, mas a mulher preferia ser amiga da Meadowes. Impressionante como a vida o fazia pagar por todos os pecados que ele já cometeu...

Em nenhum momento do jantar eles comentaram sobre a ausência de Remus, o que Sirius agradeceu, já que a preocupação com o que poderia ter lhe ocorrido sumiu no instante em que escutou o nome “Dorcas”.

Por que ele odiava tanto a namorada do melhor amigo?

Justamente por isso. Ela era a namorada dele.

Uma mulher grudenta, chata, com uma voz enjoada, de assuntos nada interessantes... E fala sério! O nome dela era Dorcas! Dorcas tipo Dorcas Twelvetrees, uma estúpida que ferrou com a comunidade bruxa americana. Pessoas com aquele nome não mereciam a sua confiança...

Além do mais, grande parte dos namoros que começavam no colégio, como o de Dorcas e Remus, não sobreviviam por muito tempo. Exceções, é claro, para pessoas como Lily e James, ou Marlene e Regulus, que era o casal mais estranho que ele já conheceu.

Além da parte da personalidade, Dorcas era completamente sem sal. Não por ter cabelos e olhos castanhos, pois Marlene os tinha e era linda, mas ela conseguia ter a pior expressão facial sempre, o pior corpo, o pior tom de pele (parecia cinza)... E sem atributos decentes.

Sirius não conseguia entender, de forma alguma, como aquele namoro durava tantos anos. Admitir que o amigo sentia algo verdadeiro por ela era impossível demais para ele. Era a prova de que tudo o que acreditou conhecer sobre uma pessoa não era realidade, e isso era muito doloroso para que ele pudesse aceitar.

— É maravilhoso, Sirius! — disse Lily, à mesa do jantar — Você não tem noção...

Enquanto que ela dizia isso, o seu marido fazia uma cara de espanto, que disfarçou a tempo, pois a ruiva virou-se para ele logo depois, comentando sobre algo que Sirius não prestou a atenção.

— Está tudo bem? Você mal tocou na comida! — comentou Lily, um tempo depois, um pouco constrangida.

— Não é nada! — Sirius forçou-se a comer, a última coisa que queria era magoar a ruiva temperamental.

— Six... Por que sempre que te pergunto algo você desvia o assunto? — ela enrolou umas mechas de cabelo em seu dedo, o prato já vazio.

— Lils... — James sussurrou, mas ela ignorou-o.

— Você nunca mais saiu para beber com os garotos, nunca mais falou sobre sair com alguma garota, — Lily continuou com o seu discurso — dorme em uma casa diferente por dia... Eu te juro, juro solenemente, que tento te entender, mas... Não consigo! E não me olhe assim, Jay, você também não entende, só não o questiona.

Todos ficaram em silêncio, James negando-se a confirmar ou negar o que a esposa disse, Lily com os olhos fixos em Sirius, e ele evitando o olhar dos dois.

— Eu sinto que você não confia mais em nós — ela disse, por fim — E, sinceramente, Sirius, você tem um quarto aqui. Sei que não gosta da mansão Black, que te traz más lembranças, mas... Aqui? Você nunca vai nos atrapalhar!

— Eu sou bi.

Aquelas simples três palavras.

Tão simples, mas tão difíceis de sair, tão difíceis de aceitar.

— Bipolar? — perguntou James, sem entender.

— Não, James — Sirius suspirou.

— Bem, a não ser que você tenha uma tara pelo meu marido, eu não consigo ver um problema real nisso — respondeu Lily, cruzando os braços.

Era claro que ela diria isso.

Ele tinha sido tão estúpido! Ela aceitou a licantropia de Remus. O que seria comparado a isso?

James pareceu, por fim, compreender sobre o que eles falavam.

— Ah! Pelo amor de Merlin! — ele balançou a cabeça, impaciente — Só percebeu isso agora? Está em crise existencial?

Sirius olhou para o melhor amigo, incrédulo.

— Como assim “só percebi isso”...? — ele não conseguiu finalizar a frase, sentindo o rosto queimar de vergonha.

— Eu não preciso te ver transando com um cara para saber disso — disse James — E é por isso que eu não insisto em te perguntar sobre você ficar mudando de cama toda noite, não sair mais com mulheres...

Tanto Lily quanto ele ficaram mudos pela surpresa.

Apesar de estar com um peso a menos por ter dito aquela simples frase, não era o bastante. Ele queria compartilhar tudo com eles, mas nem Lily Potter confessou tão cedo estar apaixonada. Só não conseguia tirar da cabeça o número “seis”, não por ser o seu favorito, mas porque se passaram seis anos, e esse foi o tempo que ela demorou para perceber.

— O meu esposo amadureceu muito, não é mesmo, senhor Black? — Lily virou-se para ele, alheia ao debate interno do bruxo.

— Nem eu consegui isso, senhora Potter — Sirius entrou na brincadeira, com uma voz afeminada — Uma pena que já tenha dona...

— Você sabe que sempre será o meu primeiro amor, não é? — James replicou.

Um choro de bebê interrompeu o clima agradável que se instaurou.

— Venha, padrinho! — chamou Lily, levantando-se de seu lugar.

Harry acalmou-se assim que Lily pegou-o no colo.

— Esse menino... — ela sorriu docemente, aninhando-o.

— O filhinho da mamãe — brincou Sirius, recém percebendo que James não veio com eles.

— Sirius... Eu não vou te pressionar para me contar as coisas — disse Lily, e ele levantou uma sobrancelha — Bem, eu quero dizer que não vou colocar Veritaserum no seu chá, apenas vou tentar convencê-lo, lembrar-te que pode sempre confiar em mim.

— Eu sei disso, ruivinha — ele apoiou-se no cercado do berço de Harry — É que tem coisas que precisamos admitir a nós mesmos primeiro.

Ela deu um sorriso misterioso.

— Bem, talvez você devesse ter em mente que as pessoas enxergam melhor as coisas, já que estamos muito preocupados em nosso problemas e negações — Lily respondeu.

Antes que ele pudesse ter qualquer reação, ela estendeu-lhe Harry, e ele concentrou-se no pequeno bebê.

— Esse garoto será um verdadeiro... — Sirius começou a dizer.

— Olhe o que vai falar de meu filho! — a ruiva lançou-lhe um olhar fuzilante.

— Ele nunca vai querer fugir de casa — ele deu uma piscadela.

Como em todas as vezes em que levava uma situação como a de sua família na brincadeira, Lily mudou a sua expressão para uma de pena. Por esse motivo que o bruxo fazia questão de transformar tudo em uma piada, odiava aqueles olhares. E admitir que estava apaixonado por um de seus melhores amigos seria a garantia certa de um olhar daqueles.

— Você pode negar o quanto quiser, mas a mim você não engana — Lily disse, despretensiosamente.

— Eu cago para o que a minha família pensava e pensa até hoje — sussurrou Sirius, sabendo que a mãe super protetora era capaz de batê-lo por sua escolha de palavras.

Ao observar bem o seu rosto, ele parou para pensar que, talvez, não estivessem falando sobre o mesmo assunto.

— Já está na hora de dormir — Lily aproximou-se para pegar Harry, que aceitou prontamente o colo da mãe — Sirius...

— Eu sei onde fica — ele respondeu, bem humorado.

Na casa, tinha um quarto que era reservado às visitas, ou seja, Remus e ele, ou qualquer outro amigo que viesse, mas eles eram os mais frequentes. A cama era confortável, mas, por ter acordado tarde, ele não sentia um pingo de sono que fosse.

Depois de horas e mais horas revirando-se, estranhando o fato de que Harry não chorava, decidiu levantar-se. Pelo jeito que James falava, parecia que eles não dormiam, o que era um fato para ele ter medo de ir dormir lá, mas a criança era tranquila. Ou estava, naquela noite.

Talvez fosse o costume de dormir em sofás, já que não gostava de ir ao seu quarto em Grimmauld Place, e Remus não tinha uma casa muito... Elaborada, por assim dizer.

Antes que pudesse descer as escadas, entretanto, algo o fez parar, algo o chamou para o quarto de seu afilhado. Assim que entrou no quarto, silenciosamente, viu como o bebê fazia tudo menos chorar. Os olhos bem abertos, tentando passar por cima ou entre as barrinhas do cercado.

— Ah! Seu danadinho! — Sirius sussurrou, sorridente — Bem que eu deveria ter desconfiado...

Sabia que Lily o mataria por isso mais tarde, mas pegou o pequeno, que começava a balbuciar, tentando formar palavras coerentes, e desceu as escadas junto dele.

— Se não fosse filho do seu pai, eu juraria que você tem uma barriguinha aí — brincou Sirius, sentando-se no tapete, e ajeitando Harry em seus braços — Fale baixo, ou seus pais vão acordar. Deixe-os dormir por uma noite!

Agradecendo por Lily não ter obrigado James a guardar todos os brinquedos do bebê, ou por ele ter esquecido-se disso, Sirius aproveitou para passar um tempo com o seu afilhado, sem importar-se com a possibilidade de Lily acordar ou de eles caíssem no sono ali mesmo.

Estava bem perto disso, quando decidiu deitar-se no sofá, com um Harry já sonolento apoiado em seu peito.

— Vou ensinar uns truques para os seus pais — Sirius sussurrou.

A resposta foi um bocejo.

Estava quase dormindo ali também, finalmente sendo vencido pelo cansaço, quando escutou um barulho de fogo vindo da lareira. Abrindo os olhos alarmado, mas conseguindo conter o impulso de mexer-se, acordando a Harry, ele virou o rosto para a frente.

— Regulus? — ele sussurrou, franzindo o cenho.

O mais cuidadosamente possível, Sirius sentou-se, apoiando Harry o mais confortavelmente possível.

— Você precisa vir para cá agora! — Regulus falou o mais baixo possível, mas sem chegar a ser um sussurro.

— O que houve? — o irmão perguntou, inclinando-se levemente para escutá-lo melhor.

— Não dá para falar por lareira — Regulus revirou os olhos, impaciente — Leve-o para cima e venha!

Sirius não demorou a concordar. Ele não tinha avisado que estaria ali, na casa dos Potter, o que só provava que ele tinha o procurado por todos os lados, o que significava que era algo urgente, que não poderia esperar até o nascer do dia.

Por sorte, Harry não acordou. Pelo menos, não até que ele partisse para a Muy Nobre y Antiga Casa dos Black.

— Que isso, Reg? O que é que houve? Você nunca foi me procurar — perguntou Sirius, assim que saiu da lareira, sem importar-se com as cinzas que espalharam-se por sua roupa.

— Lene! — Regulus ignorou-o, gritando bem alto — Ele chegou!

— Enlouqueceu? Vai acordar os nossos tataravós!

Aparentemente, todos os quadros já estavam acordados, foi o que ele constatou quando passou pelo corredor, onde milhares de olhos acompanharam o seu percurso escada acima.

— Onde ela se meteu... — murmurou Regulus.

— Aqui! No quarto do Sirius! — Marlene respondeu a pergunta, embora ela tivesse sido proferida em uma altura impossível de ser escutada de onde ela estava.

— Por que no meu quarto? — o mencionado resmungou.

Assim que chegou ao quarto, precisou parar para analisar a cena. Por sorte, Regulus ia à sua frente, então não atrapalhou a sua entrada.

Marlene olhava para Sirius com os olhos arregalados, uma clara mensagem de “socorro!”, que provava que ninguém estava entendendo o que acontecia. Uma cesta parecida com a de um piquenique, que Lily já obrigou todos a fazerem em Hogwarts, tinha alguns lençóis brancos, e um bebê embrulhado neles, que agora estava no colo da mulher.

— Onde você encontrou esse bebê? — Sirius entrou no quarto, olhando surpreso para a cunhada.

— Tocaram na campainha — explicou Regulus — Estávamos dormindo, mas acordou o quadro de mamãe. Ela começou a berrar, descemos correndo, achando que era algum ladrão, mas... Quando abrimos a porta...

— Pensamos que tinha sido abandonado — continuou Marlene, trocando um olhar com o namorado — Tem uma carta, e está no seu nome, Sirius.

A última informação foi muito mais chocante que todas as outras.

— Tem certeza? Deve ser outra pessoa — ele disse, pegando o envelope, nervoso.

— A não ser que exista outro Sirius Black — retrucou Regulus — Bem, existir, existe, mas estão todos mortos. Quer que eu leia para o quadro deles?

Sirius não prestou a atenção, rasgando o envelope, e pegando o papel de carta.

“Essa é Vega Black, sua filha, desgraçado infeliz, cuide dela direito ou então eu volto para cortar as suas bolas”

— Vega... — Sirius sentiu o ar lhe faltando — Black.

Regulus não demorou a pegar o papel de suas mãos, de olhos arregalados.

— Black? — ele quase gritou, mas conteve-se ao olhar para a bebê nos braços de Marlene.

Sirius não tinha a menor ideia de qual foi a última vez que saiu com uma garota, e isso era sempre jogado na sua cara por seus amigos, e agora estava ali aquela criança. Ela não podia ter mais que alguns meses, mas ele não... Aquilo era impossível!

— Eu... — ele engoliu em seco.

E, quando Vega abriu os olhos, ele não aguentou.

Sem despedir-se, ou dar qualquer esclarecimento, Sirius saiu do quarto apressado. Não orgulhava-se daquilo, não era uma atitude de um Gryffindor, mas não podia evitar. Ele precisava pensar, e não conseguia sequer respirar.

— Sirius! Sirius! — Regulus foi atrás dele.

— Eu sabia que ele não assumiria — escutou a voz de Walburga.

A porta da frente batendo foi a última coisa que os habitantes da casa escutaram.

Quando Regulus abriu-a, viu como um enorme cachorro negro corria para longe.

Ele podia ter tentando alcançá-lo, lançado um feitiço, mas sabia que nada disso adiantaria. Nada disso ajudaria. Ele já passou por muitos momentos em que queria apenas ficar sozinho, e Sirius nunca o pressionou.

Agora, era a sua vez de retribuir. Precisava dar esse espaço ao seu irmão também.

Ele tinha a sensação de que muita coisa mudaria com a chegada daquela pequena, mas só podia torcer para que fosse para melhor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!