Sem Necessidade de Mega Sagas. escrita por Abraxas


Capítulo 5
Capítulo 5: Sem necessidade de policiais psicopatas.


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior, os nossos heróis enfrentaram os seus sonhos e desejos em nome da liberdade. Por causa disso, todos descobriram os seus limites, mas alguém, dominada pela ambição, traiu os seus amigos a favor de seus sonhos.



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Chocada pelo comentário de Kiyone, Washu tenta meios de convencer sua amiga a abandonar a sua terrível decisão.

              -           Olha, Kiyone... Sei que todas nós fomos egoístas, mas nos matar só para atender os caprichos de uma criança?

              -           Você é patética, Washu! - diz a policial. O que todos dizem para convencer alguém para sair do mundo de cristal? Que tudo isto é ilusão. Bem, acho que se eu for matá-los não deverá ter qualquer problema, afinal de contas, tudo é um sonho.    

              -            Sua idiota! O cristal está prendendo as nossas mentes nestes mundos. Se morrermos aqui, não poderemos voltar aos nossos corpos.

              A mulher olha a cientista com frieza e diz:

              -            E daí? Acha mesmo que isso vai fazer diferença?

              A pequena cientista de cabelos vermelhos fica estarrecida. Ela não conhece mais esta mulher que está em sua frente.

              -            Kiyone! Você realmente está ouvindo o que está dizendo? Sua ambição está te transformando numa monstra.

              -            Eu sou o que quiser ser, querida! - diz com ironia.

              Neste momento, a policial puxa a sua arma, que estava na gaveta de sua imensa mesa, e aponta para sua ex-amiga.

              -            Agora sou uma caçadora e você a caça! - e atira.

              O tiro passa raspando no braço direito e causa um ferimento na cientista.

              -            Eu não acredito! Você atirou em mim?

              -            Exato! Na próxima vez vai ser na cabeça!

              -            Duvido! Você é minha amiga! Nunca iria fazer isto!

              -            Não aposte nisto. - e atira.

              No lado de fora, na sala de espera, todos escutam os dois tiros e entram para ver uma cena aterradora. Washu parada diante um pequeno projetil que ia em direção de sua testa e Kiyone apontando uma arma saindo uma leve fumaça no cano.

              -             Você está doente, Kiyone! - diz a cientista.

              -             Ora! Um campo de força! Afinal de contas, você não confiava tanto assim em mim. Mas acho que seus amigos não terão o mesmo tipo de defesa. - e aponta a arma para eles.

              -             KIYONE!!! - grita Mihoshi. Não faz isso!

              -             Morram!!! - e atira.

              Uma luz encobre a todos e vêem que estão no interior de uma nave. Não é qualquer nave, mas é a nossa conhecida Yagami. E nossos heróis estão chocados com os acontecimentos e a atitude de sua amiga.

              -             Ela foi corrompida! - diz Washu. Temos que descobrir um meio de libertá-la disso!

              -             O que aconteceu? - pergunta Nobuyuki. Agora a pouco, estávamos na estação orbital da tal policia galáctica e, de repente, estamos nesta nave.

              Tenchi explica ao pai que todos foram teletransportados, por Washu, para fugir de Kiyone. 

              -             Esperava mais de Kiyone. - comenta Ayeka. Será que esqueceu por tudo que passamos? Afinal, somos todas amigas. Porém, ninguém mantém a sanidade por muito tempo convivendo com a Mihoshi...

              -             A lacraia tem razão! - alfineta Ryoko. O parafuso da Kiyone afrouxou quando percebeu que teria que voltar a viver com a imbecil da Mihoshi.

              Irritada, a loira reclama:

              -             Parem, com isso! Sei que sou desastrada, mas sou amiga dela e não vou permitir que a chamem de louca! Talvez, eu tenha arruinado a carreira dela, porém, ela sempre cuidou de mim com muito carinho e dedicação. Algo que ninguém o fez até hoje. Se fosse por vocês, certamente, estaria arruinada ou abandonada pelas ruas da vida. - e ao dizer estas palavras a policial começa a chorar.

              Um clima pesado paira no ar.

              Sasami aproxima-se da policial e diz:

              -             Eu também sinto falta dela. - abraça a amiga. Nós todos estamos nervosos com o que aconteceu e, às vezes, pessoas falam coisas idiotas sem motivo. - olhando para Ayeka e Ryoko. Mas estamos aqui para apoia-la para o que der e vier. - e sorri com o seu jeito infantil. 

              -             Obrigada, Sasami! - responde à loira. Você é uma amiga de verdade!      

              Alheio ao pequeno incidente com a Mihoshi, o avô de Tenchi vai até a sala de comando da Yagami e chegando lá encontra Washu pilotando a nave. A cientista percebendo a presença do sacerdote comenta:

              -             Cansou da palhaçada lá atras, Sr. Masaki?

              -             Acho que ninguém está para piadas. É muito duro saber que uma amiga foi capaz de nos trair.

              -             Sempre confiei na Kiyone. - diz secamente a pequena ruiva. Achava que era a mais estável e forte. Agora a coisa muda de figura. Temos uma mulher abalada psicologicamente e dominada pelo poder.

              -             Senhorita Washu, acha mesmo que os desejos dela foram os responsáveis por sua atitude homicida?

              O olhar da pequena mulher mostra preocupação.

              -             Eu não sei! Talvez seja algum agente externo, ou seja, mesmo o seu lado maligno... O fato é que ela nos atacou e temos que fazer alguma coisa. O senhor tem alguma sugestão?

              O sacerdote recorda dos tempos que estava no Templo Masaki, ainda como Yosho, e o começo de sua adaptação ao planeta que o acolheu. O seu país estava em franca expansão militar e imperialista, em 1937, o imperador Hiroíto desejava o apoio incondicional do povo que queria controlar todos os templos xintoístas e, incluindo, o Templo Masaki.

              O seu sogro lutou até a morte pela manutenção da pureza do Templo e a guarda imperial cobrou, com sangue, a divida do velho sacerdote. Deixando para o inexperiente sacerdote alienígena, Katsihiro Masaki, a responsabilidade da defesa de sua posição pacifista aos seguidores do Templo.

              As ameaças do imperador se cumpriam quando as atividades do Templo tornaram-se clandestinos e todos os adeptos foram exilados do país e incluindo o futuro avô de Tenchi que foi com sua jovem esposa, que na época tinha doze anos, para o Laos.

              Depois das duas bombas atômicas sobre a terra do Sol nascente, o casal retorna ao Templo Masaki e uma década mais tarde tiveram a sua menina, Achika.

              O que o sacerdote queria ilustrar é o pedido de perdão do imperador Hiroíto aos seus perseguidos. O homem que estava em sua frente era uma sombra do orgulhoso imperador antes da guerra.

              A conclusão dessa história é a resposta que irá dar a pequena cientista.

              -             Não importa o quão poderoso seja a criatura, sempre estará à mercê das mudanças do destino, da natureza e do coração.                     

              A cientista mostra certa curiosidade e diz:

              -             Mas ela controla, de forma inconsciente, todos os elementos físicos desse mundo. Não creio que haja "surpresas desagradáveis" para deter a sua ambição. Acho que nós somos o seu verdadeiro incomodo.

              Sorridente, o sacerdote diz a cientista:

              -             Há muito mais mistérios na mente humana do que imaginamos senhoria Washu. Estamos presenciando um dos maiores combates humanos.

              -             Qual?

              -             O combate pela nossa alma. Essa luta que determina o que sermos daí em diante.

              A cientista faz uma cara de desdém e comenta:

              -             Não sei o que isso vai nos ajudar agora.

              -             Às vezes, a razão não é resposta para tudo. Talvez a emoção tem muito mais efeito do que explicações lógicas.

              A pequena ruiva não diz mais nada e concentra-se para pilotar a nave. Já o sacerdote, percebe que incomoda os seus pensamentos, sai da sala de comando e parte para outro setor da nave. Sozinha, comenta a si mesma:

              -             Clérigos e suas fantasias... - e balança a cabeça negativamente.

              No interior da estação orbital da polícia galáctica, a sua presidente prepara para a sua maior realização de sua extraordinária carreira. Todos os altos funcionários da organização temem o que aquela mulher lendária irá dizer e suas conseqüências de suas palavras.

              A presidente Kiyone está em seu camarim, arrumando o seu cabelo e sendo ajudada por inúmeras auxiliares. Depois de alguns minutos, a bela mulher está apta para um discurso para toda a galáxia e com o seu uniforme oficial impecável.

              No estúdio de transmissão, a líder suprema da polícia galáctica sorri para esconder a angústia da espera. Todos os técnicos estão empenhados para tornar aquele discurso o mais importante marco da história de toda a polícia galáctica. Por isso, todos andam e correm como loucos.

              Depois de algum tempo, tudo ficou pronto e finalmente a bela mulher de cabelos negros vai fazer o seu discurso. Ao subir no púlpito, Kiyone respira fundo e relê o seu texto. Algumas assistentes dão os últimos retoques nos cabelos e nas roupas. O diretor grita e as mulheres saem, deixando a presidente sozinha em seus pensamentos: "Finalmente, agora poderei mostrar quem eu sou e o que vim fazer aqui." A mulher sorri e começa a dizer suas primeiras palavras.

              -             Criaturas de todos os sistemas estrelares afiliados a policia galáctica, têm o prazer imenso de dizer que na minha atual administração é, considerado por muitos, a melhor de todas de toda existência dessa maravilhosa instituição. Contudo, ainda precisamos melhorar...

              Uma pausa e a mulher bebe um copo de água.

              -             Nos últimos séculos, a nossa instituição tem sido usado como fantoche de ações políticas e militares de potências alienígenas que não tiveram nenhuma consideração devido as nossas dificuldades financeiras e nos humilharam como força de manutenção da lei e da ordem.

              Alguns embaixadores Juraianos ficaram consternados ao ouvirem as palavras da presidente.

              -             Isso acabou! - diz Kiyone olhando fixamente aos embaixadores. Temos agora meios de existimos sem depender da "ajuda" do império de Jurai ou de qualquer outra potência galáctica. Recentemente, os nossos cientistas descobriram uma nova fonte de energia que vai tornar as nossas naves muito mais potentes e velozes e o mais importante sem a necessidade de reposição. O que significa que além de nossa independência econômica e política, temos um meio de comercializar e estabelecer a nossa política policial por toda a galáxia. Em resumo, nós somos uma potência galáctica. Alguma pergunta, senhores?

              O silêncio corta todo o auditório. Todos estão chocados com as palavras daquela mulher lendária que ousou dizer "basta!" ao império de Jurai e seus desmandos.

              Depois do choque inicial, os embaixadores Juraianos começam a falar e suas palavras não foram muitos polidos.

              -             Presidente Kiyone Makibe! - diz um dos embaixadores. Esta louca? O império de Jurai fundou a polícia galáctica e seus estatutos prevêem que qualquer ação insana como essa seria considerada como ato de guerra ao império de Jurai. Sua ação é considerada como suprema traição e tem como punição a pena de morte.

              Os homens esperavam que suas palavras pudessem assustar a jovem mulher, mas a sua frieza frustra qualquer tentativa de intimidação.

              -             Achavam mesmo que eu não esperava este tipo de coisa? - diz a mulher. Antes que os senhores colocassem os seus pés "sagrados" em nossa estação orbital, o nosso conselho já tinha mudado todo o seu "bendito" estatuto e estabelecemos outro.

              Os embaixadores ficaram horrorizados e gritaram:

              -             Isso é traição! O império de Jurai será avisado dessa insanidade é a guerra será breve e tu serás executada no asteróide-prisão de Wagon. O seu nome será constará nos livros de história como a maior traidora de todos os tempos!

              Sorrindo, a mulher responde:

              -             A história sempre é escrita pelo vencedor.        

              -             Nós temos a maior esquadra e exercito do Universo. Seu levante insignificante será sufocado em poucas horas, afinal de contas, somos o império de Jurai. - diz o embaixador que aponta o dedo para a mulher. 

              A líder da policia galáctica o olha com desdém.

              -             Nós temos a maior rede de comandos especiais do Universo. E, por isso, esperávamos esta reação e ordenei a ida dos meus comandos para executar a mais ousada operação de guerra de todos de tempos. A captura do imperador de Jurai. Acho que se conseguir tal intento será vencedor de nossa guerra, não é?

              -             A guarda imperial irá impedir a sua loucura! - diz o embaixador indignado.

              -             Senhor embaixador... Quem acha que indicou os componentes da guarda imperial?

              Os representantes de Jurai gelam ao ouvir as palavras da mulher, pois estava no antigo estatuto da PG que os membros da guarda imperial seriam indicados pelo presidente da policia galáctica. Era uma medida de segurança.

              Temendo pela vida do imperador, os homens mudam o tom da voz para a mulher.

              -             Senhora... Esperamos que seja compreensiva diante as circunstâncias e reconsidere as suas atitudes.

              -             Reconsiderar? Nesta altura o seu imperador já foi deposto e eu já deva ser a nova imperatriz de Jurai.

              -             Impossível! - bradam. Tu nunca ira ser reconhecida pelo poder de Jurai.

              -             A menos que o imperador renuncie ao poder e dê para mim.

              -             Ele jamais faria isso!

              Neste momento, uma luz envolve a mulher e os homens sentem uma energia bastante conhecida, a mesma força que somente os eleitos da família real de Jurai possuem. Por causa disso, os homens ajoelham para a nova imperatriz de Jurai, Kiyone Makibe. "Isto é apenas o começo." Pensa a nova imperatriz.

              Uma nave vermelha corta a imensidão do espaço com uma velocidade extraordinária e no seu interior estão, talvez, a única resistência contra a ambição da senhora desse mundo de sonho.

              Na sala de comando da nave, Washu trabalha exaustivamente para manter a estabilidade do veículo e comenta consigo: "As leis que regem este Universo estão alterando. Em breve, teremos dificuldades de navegação. Infelizmente, terei que pousar a nave em algum mundo, mesmo que seja o preço que ela nos capture."

              Em outro compartimento, os nossos heróis "matam" o seu tempo, como, por exemplo, aplacar a interminável briga entre Ryoko e Ayeka. Porém, Tenchi percebe que a nave está indo em direção em um mundo e tal fato causa curiosidade ao rapaz que vai a sala de comando. Chegando lá, o rapaz pergunta a cientista:

              -             O que está acontecendo, senhorita Washu?

              A pequena ruiva o olha com curiosidade.

              -             Oi, Tenchi! Estou pousando a nave.

              O rapaz, surpreso, pergunta:

              -             Por quê?! A Yagami tem algum problema?

              -             Não! Este Universo está!

              -             Como assim?!

              -             Os meus cálculos não estão batendo com os números de distância da nave e sistema de navegação está desorientado em alguns graus.

              -             Mas isso não é nenhum problema... - diz sorrindo e coçando a nuca.

              -             Você não tem idéia da tolice que está dizendo, Tenchi. Alteração de graus numa nave espacial que voa em velocidades próximas a da Luz e morte certa se cairmos, por exemplo, num buraco negro. Mesmo num mundo imaginário, existem regras e leis da física que devem ser obedecidas, se não, a fantasia não terá um pouco de realismo necessário para manutenção da estrutura do sonho.

              -             Quer dizer que o "mundo" da Kiyone está desfazendo?

              -             Se fosse uma boa notícia como essa, certamente, estaria comemorando, mas não é bem assim. O Universo de Kiyone está se adaptando aos seus novos desejos e se for o que estou imaginado temo que estamos com sérios problemas.

              -             Adaptando? - pergunta o rapaz.

              -             Vamos imaginar que ela chegou ao limite dos objetivos de vida e não tenha mais nenhum sonho a realizar. O cristal começa a criar outros tipos de objetivos que vai causar um acumulo de poder imaginativo. Nesse fenômeno, a fantasia cria objetivos fantásticos que culmina numa fusão persona/indivíduo que causa alterações irreparáveis na consciência.          

              -             O que isso quer dizer?

              -             Se fosse ao nosso mundo, megalomania extrema que provocaria a esquizofrenia. Aqui, seria uma deusa totalmente insana e obcecada em nos destruir.

              Tenchi entende a preocupação da mulher, mas tem muitas dúvidas em relação o porquê aterrissagem da nave naquele mundo e tem a coragem para fazer a pergunta, por isto tem a resposta.

              -             Não é óbvio, Tenchi? Se vamos morrer que seja em terra firme!

              Às vezes, é melhor não fazer nenhuma pergunta...    

              -             O que?! - grita Ryoko. Estamos aqui para morremos?! Está louca, Washu?

              Os nossos heróis estão reunidos próximos da nave, naquele planeta belo e misterioso. Coloridos pássaros alienígenas voam contrastando com um céu violeta e nuvens azuladas. A paisagem lembra a da Terra, mas um pouco mais nebuloso.

              A cena mostra Ryoko, em pé, gritando com Washu, que está sentada ao lado de Sasami, que, por sua vez, ao lado de sua irmã, Ayeka. Em seguida, Katsihiro Masaki e seu genro Nobuyuki. Para completar o circulo, Tenchi, Mihoshi e a nossa mascote favorita Ryo-ohki.

              -             Se você ficar calma, eu poderei explicar o porquê dessa minha atitude, Ryoko. - diz com frieza a cientista.

              -             Eu não entendo, senhorita Washu. - diz confusa Ayeka. Por que uma decisão tão radical?

              A pequena mulher de cabelos vermelhos respira fundo e começa a falar palavras duras aos seus amigos.

              -             O cristal deu a todos nós o poder realizar todos os nossos sonhos, mas quando confrontamos com a realidade optamos por ela. Já no caso de Kiyone, a sua ambição agiu como amplificador para o poder do cristal, por isso, estamos presos neste mundo e não temos meios de fugir daqui sem que a destrua. Só temos duas saídas, morremos passivamente, ou matamos a nossa amiga e morremos juntos, pois com a morte da mente da Kiyone o seu mundo deixa de existir e nós também. Como foi tentando anteriormente, convence-la da verdade está fora de questão. - a ruiva respira fundo. Perguntas?

              Um silêncio medonho corta o local, mas uma voz estridente quebra o clima tenso.

              -             Dava pra repetir? - pergunta Mihoshi. Tava vendo aqueles pássaros tão lindos e não deu para entender o que dizia.

              -             Como posso ver, sem perguntas! - diz secamente Washu. Mas nesta história toda tem algo de bom, terei o prazer de nunca mais conviver com certas mulheres loiras com o QI de uma ostra.

              Piscando os olhos, Mihoshi mia para a cientista.

              -             Eu também gosto de você, Washu. Mas não tinha um plano para nos tirar daqui?

              Uma gota imensa surge na cabeça de todos, exceto a pequena ruiva, que tem na testa um pequeno "x" vermelho pulsando.

              -             Se o Universo tiver um inferno e o diabo for a Mihoshi, espero que eu seja anjo, pois é castigo de demais conviver com essa mulher! - diz furiosa Washu.

              O tempo passa. O ócio é angustiante e todos ficam esperando o rumo dos acontecimentos. Porém, Tenchi sente uma espécie de distúrbio no poder de Jurai e se aproxima rapidamente.

              -             Gente... Acho que ela está chegando. - diz o jovem.

              A pequena ruiva fala de forma autoritária para todos.

              -             Atenção! Vamos tentar convence-la, pois é a última tentativa de sairmos daqui. Se falharmos, não termos outra oportunidade.

              Todos ficam apreensivos e sentem uma pressão em seus corpos. Em seguida, uma luz marrom brilha no céu violeta e esse brilho transforma em uma energia que cai do céu. O brilho começa formar uma forma humana e feminina.

              Os nossos heróis pressentem quem seja e começam a se preparar.

              A forma brilhante ilumina todo o local e, subitamente, cessa o brilho revelando quem é o indivíduo.

              -             Como vai, Kiyone? - diz Washu com frieza. Viagem foi boa?

              A mulher não é a mesma. A melhor maneira de defini-la é que ela é uma deusa. Uma visão divina e assustadora. Bela e medonha. A ex-policial tem os seus negros cabelos longos e flutuantes entregues ao ar, o seu corpo é envolto por um tecido branco quase transparente revelando, parcialmente, sinuosidade de suas formas e uma aura escura saindo do seu corpo como chamas espectrais. De suas mãos, envolvidas por luvas negras que chegam aos seus ombros, tocam em seu próprio corpo que revelam uma sensualidade fora de comum. De seus lábios saem uma doce voz feminina e sensual que diz aos presentes:

              -             Belo mundo... Será um bom cemitério.

              A ruiva olha fixamente para a deusa e diz:            

              -             Esta que estou vendo não é a Kiyone. É um monstro que possuiu o corpo de minha amiga, o único meio que vejo para derrotá-la é invocando a alma dela.

              -             Sua idiota! Eu sou Kiyone Makibe e tenho todo o poder que preciso para derrotá-los. Em seguida, sair deste mundo de cristal tendo todos os seus poderes para sempre. - e gargalha.

              A cientista sente um frio percorrer a espinha.

              -             Kiyone! - grita Ayeka. Que história é essa?         

              Um disparo energético é a resposta que atinge a princesa.

              -             Irmã Ayeka! - grita Sasami.

              A garota vê a irmã rolando pela grama. Em seguida, Ryoko voa em direção da ex-policial e cria uma espécie de espada de Luz. Porém, com um gesto, a mulher repele o avanço da pirata especial que cai no chão.

              Neste momento, Tenchi Masaki puxa a sua espada de Luz e parte gritando em direção do ser que ameaça a todos. Mas, durante o salto, outro raio energético joga o rapaz longe.

              -             Parem todos! - berra Washu. Será que vocês não vêem que nós não somos páreo para ela?

              -             Finalmente, alguém com alguma razão! - diz Kiyone. É uma pena que é tarde demais...

              -             Kiyone! - grita Sasami em lágrimas. Onde está aquela amiga que convivia conosco e dividia os seus problemas? Será mudou tanto a ponto de esquecer tudo que passamos?

              -             Garota! - diz com desprezo. Eu me lembro muito bem de tudo e é por isso que estou agindo dessa maneira. Principalmente, por causa dos caprichos de uma princesinha mimada.

              De súbito, a mulher faz um gesto que a terra revolve debaixo de nossos heróis que todos caem. Segundos depois, o chão torna-se num redemoinho de terra e grama que suas vítimas são levadas em direção do centro, onde uma cratera os aguarda.

              A princesa Ayeka usa os seus poderes para criar uma "rolha" na cratera, mas Kiyone percebe a artimanha e cria um imenso precipício. Logo, a primeira princesa de Jurai descobre que sua tentativa de salvar a todos foi em vão. Um a um caem ribanceira a baixo, apesar de lutarem muito.

              Sobrando apenas Mihoshi, que segura uma raiz de uma árvore e assim a sua antiga parceira aproxima da desastrada policial.

              -             Por que não se solta daí e aceita o seu destino?

              -             Kiyone! - diz em lágrimas. Por que você faz essas coisas horrorosas?

              -             Porque posso! O meu maior prazer é saber que nunca mais vou vê-la. Vou absorver os poderes dos outros, mas você terei que rejeitar. Afinal de contas, você não serve para nada! Uma inútil! Uma incompetente! Um nada!  Quando você cair, irais deixar de existir e nem em minhas lembranças terei o desprazer de vê-la.

              A loira abaixa a cabeça e suas lágrimas caem no abismo sem fim. Neste momento, uma lembrança surge em sua mente e a leva a um apertado apartamento em Tóquio. Aonde duas amigas trocam algumas palavras debaixo do cobertor.

              "-          Kiyone, por que você fica comigo? Será que não vê que sou desastrada e que vou arruinar a sua carreira?"

              "-         Isso é verdade, mas tenho uma responsabilidade e que é você. Sentiria-me péssima se a deixasse sozinha no mundo. Eu certamente sentiria assim."

              Súbito, a loira levanta a cabeça e diz com coragem para a sua ex-parceira.

              -             Sei que vou morrer, mas tenho muita pena de você!

              -             Por quê? - diz em tom de deboche.

              -             Pode ter tudo, mas vai ficar sozinha no Universo e não terá ninguém para conversar ou mostrar as suas conquistas.

              -             Acha mesmo que vou precisar?

              -             Acabe comigo e verá! - diz Mihoshi determinada.

              -             Não preciso de você! Afinal, tenho o cristal que me abriu os olhos para a realidade...

              -             Mas não era você que controlava o cristal? - pergunta Mihoshi. Como ela pode abrir os seus olhos?

              Na mente de Kiyone surge uma rachadura. Quem é que manda? Kiyone ou cristal? Lembranças tocam o seu espírito e causam uma terrível sensação de mal estar. "Será que para chegar ao poder terei que fazer tanta maldade? Por que eu não medi as conseqüências dos meus atos? Do que vale conquistar tudo se deseja se não tem ninguém para torcer por você?" Essa duvida corroem a alma da policial que se contorce em culpa. Os seus olhos começam a escorrer lágrimas e o seu rosto tem uma expressão de angústia.

              -             Kiyone... O que houve? - pergunta Mihoshi, com ingenuidade, agarrada a sua raiz.

              A mulher não responde, mas no interior de sua alma sabe muito bem a causa de sua dor. A sua ambição sem limites. Suas lembranças a levam ao passado quando era menina e tinha um sonho.

              "Quando era menina, eu ia às paradas da policia galáctica e via os belos uniformes. O meu desejo era ser um deles e sabia que aquele era o meu destino. Nisto perguntei ao meu pai o que era preciso para ser um deles e me respondeu que era estudar muito. Apaixonada por aquele uniforme, passei a ser a melhor de todos os estudantes, mas a minha condição financeira me limitava o acesso aos livros mais especializados. Por isso, troquei a minha infância e adolescência pelas horas intermináveis nas mesas das bibliotecas, porém tive a minha recompensa passei em segundo lugar geral no concurso de acesso para policia galáctica. Foi o dia mais feliz da minha vida. O amor por aquela farda era a motivação para lutar contra tudo e abandonar as minhas fantasias juvenis. Porém, percebi que ser uma policial não era grande coisa, pois aquele uniforme não era nada mais do que um uniforme. A magia que exercia em mim, era a mesma que uma boneca que o meu pai negou a comprar, mas quando a consegue nada mais é como era. Essa era é a minha vida. Uma eterna busca de bonecas e tudo que conseguia era um quarto vazio cheio delas."

             A policial olha para sua parceira que responde o seu olhar com um sorriso.

             "Até o dia que conheci a minha parceira, a idiota, a mentecapta, a desastrada e adorável Mihoshi. Desde primeiro momento que a vi sabia que aquela garota era o meu degrau para o meu sucesso. Sim! Eu sabia que ela era filha e neta de figurões da policia galáctica, mas era só usa-la e pronto. Mais uma promoção em minha sagrada carreira. (Ou mais uma boneca em meu quarto vazio.) Com o tempo percebi que aquela garota era uma vítima do destino, como eu. Ela não tinha culpa se os seus parentes a obrigassem a ser uma policial. Era apenas uma garota romântica que queria agradar os seus pais e ser feliz. O seu apego a mim é somente porque sou o que ela nunca vai ser. Tive pena dela. Neste momento, criou-se um elo entre nós, somos duas desgraçadas pelo destino e agarradas uma na outra neste Universo caótico. Como irmãs."

             -              Mihoshi... O que acha de mim? - pergunta Kiyone carregada de toda a culpa.

             A loira responde com toda a convicção.

             -              A minha melhor amiga!

             A dor que sente em seu coração é gigantesco. Há poucos momentos atrás queria mata-la, agora, pede o seu perdão e a garota dá sem impor condições. Somente aí que percebe o motivo que o Universo a quer ao seu lado, para salvar a sua vida e dar um sentido para ela. "Eu finalmente posso acabar com aquele maldito quarto de bonecas, pois tenho a melhor de todas elas!" Um abraço entre as duas amigas foi a senha para o mundo de cristal ruísse e revelasse o que sempre foi. Um mundo de ilusão.

             -             Afinal contas você serviu para alguma coisa, Mihoshi!

             -             Cala-se, Washu! - diz Kiyone com raiva. Faça alguma coisa de útil e nos tire daqui.

             Os nossos heróis estão reunidos no meio do nada e com um fundo cristalino.

             -             Segundo os meus cálculos, devemos retornar os nossos corpos neste...

             Foi aí que todos perdem a consciência.

             As trevas começam a deixar os olhos de Tenchi Masaki que desperta de um longo sono. Quando o rapaz mexe o seu corpo, sente uma dor intensa em todas as suas articulações e um terrível gosto amargo na boca. Ao passar a língua nos lábios, uma aspereza assustadora e uma sede medonha. O jovem tem a visão um pouco embaçada devido a remela acumulada nos cantos dos olhos, mas, apesar da dor, usa as mãos para limpar os olhos e constata que a poeira acumulou em todo o seu corpo.

             Gemidos e queixumes ecoam em toda a sala e o rapaz tenta falar alguma coisa, mas uma voz rouca e baixa sai de sua garganta.

             -             Vocês estão bem?

             Tosses e pigarros são a sua resposta.

             Tenchi Masaki tenta levantar-se, porém uma dor avassaladora o impede. O mundo começa a rodar e o rapaz desmaia. Minutos depois, os seus olhos voltam a abrir, porém a visão não é tão turva e consegue ver toda a sala. O cenário é de total abandono, uma camada de folhas e poeira encobre tudo e cheiro de mofo é irritante. Com determinação, o nosso herói consegue se pôr sentado apoiado na pequena mesa da sala.

             -             Gente... Vocês estão bem?

             Uma voz feminina e infantil responde.

             -             Não! Estou horrível e suja. E você, Tenchi?

             -             Com muitas dores... Dói até a alma. Temos que chamar um médico, Sasami!

             -             Quantos dias ficamos assim?

             Uma voz confiante responde no fundo da sala.

             -             Onze dias e duas horas. O sistema sustentação de vida dos cristais nos manteve vivos todo esse tempo. A maldita Yugui queria nos definhar vivos. Fiquem calmos que vou salva-los, o processo de mumificação não foi completo e poderei ajudá-los com os meus aparelhos.

             Ofegante, Tenchi fala para a mulher ruiva.

             -             Obrigado, Washu!

             -             Como você recuperou-se tão rápido? - pergunta Sasami.

             -             Só foi chamar os meus pequenos robôs para me levar ao meu laboratório e lá tratar-me. - diz sorridente com as mãos na cintura. Afinal de contas, sou um gênio! - e gargalha.

             Neste momento, vários robôs, parecidos com aranhas, recolhem os nossos heróis ao laboratório da louca cientista e lá são tratados com toda a competência.

             Depois de tratamento intensivo, todos recuperam as suas forças e tomam consciência do que passaram. As meninas andam com dificuldade, mas com determinação. Porém Tenchi nota que alguma coisa está faltando e pergunta a cientista:

             -             Senhoria Washu?

             -             Sim? - responde a cientista analisando uma cultura de bactérias.

             -             Onde está a Ryoko?

             Automaticamente, a cientista pára o estava fazendo e olha para os olhos do rapaz.

             -             Depende.

             -             Como assim, depende?

             A pequena ruiva respira fundo e diz:

             -             Fisicamente, eu não sei, mas sei onde está a sua essência.

             -             Essência?!

             -             Siga-me, Tenchi.

           O rapaz segue a mulher até uma espécie de depósito no imenso laboratório sub-espacial da cientista. E dentro de um vidro, há um pequeno cristal em forma de losango.

             -             Ela está aí dentro!

             -             O que?! - exclama o rapaz.

             E no interior do vidro uma pequena voz abafada chama o rapaz.

             -             Tenchi... Ajuda-me... Tenchi...

             -             Eu não acredito! Quem fez isto?

             Com sua frieza característica, Washu responde:

             -             Eu não sei, mas o fato e que alguém veio aqui e roubou o corpo da Ryoko. Foi durante quando estávamos hibernando. Infelizmente, a sua essência não foi junto com o seu corpo e nossa amiga continua presa no mundo de cristal.

             -             O que faremos?

             A cientista faz uma cara de desdém e responde:

             -             Vamos improvisar.

                                      Fim do capítulo cinco.


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Notas finais do capítulo

Que situação difícil? Alguém roubou o corpo da nossa pirata especial favorita. Que atitude os nossos heróis irão fazer diante tamanha adversidade? No próximo capítulo, todos os filmes de ficção científica e de terror serão homenageados em:


Sem necessidade de Enguias Elétricas.



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