Start Over escrita por MBS


Capítulo 26
Rotina, ou tentativa disso




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Ponto de Vista – Abigail

 

Minha vida e minha cabeça estavam um caos, eu não sabia mais como agir, pensar, me acalmar e ter uma ótima noite de sono como qualquer pessoa normal teria. Após o acidente de Bernardo e sua situação atual que não havia mudado em nada, eu não tinha mais controle de nada.

Meu emocional estava abalado demais, eu chorava por qualquer coisa e passava horas ao lado dele no hospital, contando as novidades de como estava a escola e os preparativos para a formatura, mesmo sem saber se ele estava me escutando.

Nos últimos dias minha rotina já estava “normalizada”, se assim poderia ser definida. Eu saia das aulas e ia para o hospital, sentava ao seu lado, colocava nossas matérias em dia, colocava alguma música que conseguisse nos definir. Meu peito apertava cada vez mais, sentia falta do seu sorriso, das suas provocações, seus beijos, toques, principalmente do seu perfume.

Encarei novamente meu reflexo no espelho, eu estava com olheiras bem aparentes, graças as noites mal dormidas. Prendi meu cabelo em um coque frouxo, coloquei uma jaqueta e sai do meu quarto. Escrevi um bilhete para Gui ou Bia avisando que estaria no hospital. Como eu quase não estava mais em casa não via mais nenhum dos dois, Guilherme normalmente brigava comigo por esquecer do celular, eu tentava explicar que quando eu estava no hospital com o Bernardo eu esquecia completamente do aparelho.

— Vai sair? – Escutei a voz de meu pai vindo da sala.

— Pai, não sabia que estava aqui – Falei indo abraça-lo. Seu abraço era reconfortante e apertado, como se quisesse juntar todo o caco que eu estou e me deixar inteira novamente.

— Seu irmão me ligou preocupado.

— O Gui te ligando? – Fiquei meio espantada. Para meu irmão ligar para qualquer um dos nossos pais era só em questões extremas.

— Imagina como eu fiquei quando ele me disse que você ainda estava em estado de choque, não se alimentava mais direito, não está dormindo direito, que essa sua rotina de todo dia estar indo pro hospital, voltando tarde dirigindo... Filha, eu sei que dói meu amor, mas você acha que ele gostaria de te ver fazendo isso consigo mesma? Você não tem dormido direito Abigail, quer você também ficar em uma cama de hospital? – Ele disse tocando levemente meu rosto.

— Pai... não vamos falar sobre isso, não agora ok? Estou indo no hospital ver o Bernardo e não sei que horas volto – Separei-me de seu abraço e fui pegar a chave do carro, mas sua mão me impediu.

— Eu te levo, e te busco quando me ligar. Ok? Eu não quero que você se coloque em perigo Abby.  

— Tá.

Sabia que se eu tentasse discutir seria uma batalha perdida, então ajeitei minha bolsa em meu ombro e caminhei até a garagem, entrando no carro e já ligando o som.

Esse era o lado bom do meu pai, ele sabia quando os filhos estavam a fim de conversa ou não, sempre foi assim. Ele sabia respeitar.

— Então – Comecei – Como está as coisas com a mamãe?

— Ela está ótima, pelo jeito Carlos aceitou bem a separação. Pelo que ela me contou eles estão indo atrás de uma advogado para acertar os ultimos detalhes.  – Meu pai respondeu com um sorriso enorme. – Sua mãe sente falta de vocês Abby, mesmo que não pareça para vocês, mas ela sente.

— Okay pai, entendi. Dependendo de como as coisas forem eu convenço o Gui de nos aproximarmos dela novamente, mas é por você Major. – Joguei as mãos para o alto em sinal de rendimento e dei um sorriso de canto.

— Obrigado – Respondeu sorrindo – Mas então, eu estava vendo as fotos pela casa, Gui está namorando?

Notei a testa franzida de meu pai. Ele sabia que o filho não era de uma menina só e sempre estava com uma diferente, até a Bia aparecer na vida dele.

— Está sim, inclusive a Bia está morando com nós.

— Bia?

— Bianca Maria Cortez, vulgo minha melhor amiga barra cunhada barra minha consciência.

— Ual, como eles se conheceram?

— AH pai, isso é uma coisa que terá que pedir para eles, mesmo eu conhecendo a história darei esse direito de contar ao Gui.

— Vocês dois mudaram tanto.

— Não mudamos pai, a vida nos deu lições e nós nos vimos obrigados a arcar com as consequências. Isso tudo apenas nos amadureceu...

— Como eu disse, vocês mudaram tanto.

— Vai se acostumando Major – dei duas batidinhas em seu ombro e notei que havíamos chegado no hospital. – Depois eu ligo para vocês – Sorri – Amo você.

— Amo você pequeninha – Meu pai respondeu enquanto eu saia do carro.

Entrei no hospital e como se minhas pernas tivessem vida própria apenas me dirigi ao quarto que Bernardo havia sido transferido. Após um mês na UTI ele na última semana havia progredido no quadro e sido transferido para um quarto. Caminhei até a porta do seu quarto e dei duas batidas antes de entrar.

— Licença – Abri a porta e notei que o pai dele estava ao seu lado – Oi.

— Abigail, que bom que veio. – Ele disse com um meio sorriso.

— Senhor – Cumprimentei-o no mesmo tom.

— Sem essas formalidades, me chame de George.

— Sendo assim, então me chame de Abby.

— Abby... sente-se, eu já estou quase de saída. – Disse levantando-se da poltrona e dando lugar para eu ir sentar.

Soltei minha bolsa em cima do sofá que havia perto da janela do quarto e caminhei até a poltrona que estava ao lado da cama, pegando na mão de Bernardo.

— Oi amor – falei dando um beijo em sua testa. Agora, ele já estava voltando a ter cor nas bochechas, estar menos pálido e inchado. Bem dizendo, já estava voltando ao normal.

— Admiro vocês dois – George se manifestou. Encarei-o meio espantada.

— Por que?

— Porque mesmo com tudo o que aconteceu você continua aqui, ao lado dele, lutando com ele, todo dia firme e forte...

— Porque eu sei que ele faria a mesma coisa caso a situação fosse inversa. Fora que devemos saber que batalhas lutar, e eu não estou disposta a abandona-lo ou desistir dele. – Respondi com convicção.

— Exatamente isso que eu quero dizer Abby... Bernardo sempre me falou de você, o quão forte você era e o quanto ele te admirava, agora eu entendo o porquê.

— Bom saber disso – Sorri.

— Bem, eu já vou indo. Cuide-se Abby.

— O senhor também.

Tive uma sensação ruim, George pareceu notar.

— Você está bem?

— Sim, é só que...

E nisso os aparelhos de Bernardo começaram a apitar. Ele estava tendo uma parada cardiorrespiratória, senti o meu coração querer sair pela boca. Tudo estava acontecendo rápido, George saiu do quarto chamando os enfermeiros e eu afastei a poltrona da cama. Logo os enfermeiros e médicos entraram no quarto. Senti o olhar de Judith sobre mim e logo George me puxou ao seu lado.

— Tirem os travesseiros, abaixem a cama – Um médico disse e o enfermeiro em sua frente fez o que foi mandado.

Trouxeram o carrinho para reanimação e começam a arrumar Bernardo para ganhar os choques. Após três tentativas, as três vezes que meu coração quase parou a cada vez que um choque era dado e ele não reagia, ele voltou. O médico começou a checar tudo e foram aos poucos se retirando do quarto.

Não notei que estava chorando até Judith para em minha frente e secar minhas lágrimas.

Eu estava absorta encarando Bernardo na cama, percebi que ele começou a agitar-se e caminhei até o seu lado, segurando em sua mão.

— Vai ficar tudo bem agora – falei para ele.

Pela primeira vez em quase dois meses ele abriu os olhos, piscou algumas vezes para acostumar-se com a luz no ambiente. Seus olhos azuis ficaram me encarando, tinha aquele brilho de sempre. Toquei seu rosto levemente e notei uma tentativa de sorriso.

Agora as coisas iriam melhorar, assim espero.


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