Start Over escrita por MBS


Capítulo 16
Verdades à tona - Parte 3




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— Hey – chamei parando envergonhada na porta de entrada da cozinha.

— Por favor Abby, eu não dormi a noite e não quero brigar já cedo. – Ele disse ainda de costas para mim.

— Eu também não quero Gui... – sentei em uma das banquetas e deitei minha cabeça sobre a mesa. Senti uma xícara de café sendo posta em minha frente. – Quando foi que nos afastamos tanto?

— Eu não sei... mas, deu medo ontem com tudo isso. Nós dois assim somos explosivos e não notamos as consequências... – Ele suspirou e sentou ao meu lado. – Desculpa por você descobrir tudo assim...

— Eu é que me tornei uma péssima irmã Gui e não notei quando você precisava de ajuda... – suspirei e o encarei – Mas drogas Gui?

— Abby... – ele falou em tom repreensivo. – Você é a pessoa com menos moral para falar sobre isso comigo...

— Sério? – eu estava indignada e revirei os olhos.

— Você também se droga. – me acusou.

— Remédios não são drogas – rebati.

— São sim, na quantidade que você tomava eles são sim. – bufei, odiava quando ele estava certo.

— Eu não tomo mais... – falei em um sussurro.

— Claro, eu joguei todos fora – dessa vez foi à vez dele revirar os olhos.

— Não só por isso, por jogá-los fora eu te agradeço... é só que eu não tinha mais motivos para toma-los.

— E qual era o motivo? – perguntou arqueando as sobrancelhas – Abigail, eu cuido de você desde que eu tinha seis anos de idade, enquanto meus amigos brincavam, eu já cuidava da minha irmã mais nova, sabe o quanto de responsabilidade a mamãe me deixou ter tão novo? O mínimo que eu queria fazer quando eu via todas aquelas caixas de remédio era brigar com você, por estar se matando lentamente... – ele falou indignado.

— Uma história que não tem necessidade de ser falada agora – respondi dando de ombros ganhando um bufo de meu irmão como resposta – Estamos com problemas demais agora Gui, e esse assunto está morto... Não precisamos desenterra-lo agora. – Encarei seu rosto. – Nunca pensei que eu fosse um fardo pra você.

— Você nunca foi um fardo pra mim – ele segurou minha mão sobre a mesa – É só que eu tinha 18 enquanto você tinha 12 quando nos mudamos para essa casa, eu sabia o quão ligados éramos e não iriamos continuar separados... Foi muito difícil aprender a cuidar de você e das minhas coisas, mas eu consegui, e estou aqui. Eu amo você, independente de qualquer coisa. – Ele disse dando um sorriso de canto.

Levantei e o abracei, como sempre, me senti tão pequena nos braços do meu irmão, permiti que minhas lágrimas caísse, assim como as dele. Sempre fomos assim, sempre fomos mais do que irmãos, fomos amigos apesar de tudo, e por algum motivo estávamos afastados.

— Eu te amo também... Mas Gui – falei me afastando e o encarando – Obrigada por estar do lado da Bia quando eu não estava.

— Era o mínimo que eu poderia fazer. – Ele sorriu e me deu um beijo na testa

— Gui... mudando de assunto... que história é essa que o pai da Bia é mafioso na cidade?

— Ninguém tem família perfeita Abby, a nossa Cortez está inclusa nisso.

— Eu nunca desconfiei disso – soltei o ar dos pulmões me sentindo culpada.

— Tem muita coisa que ela esconde, coisas que talvez nem eu saiba... Mas ela precisa agora de um ombro amigo, e acho que você deveria conversar com ela. Quem sabe ela se abra contigo – ele deu de ombro e deu um sorriso de canto – Bem, eu vou pra casa da mamãe daqui a pouco tentar descobrir o que houve... mesmo nós já imaginando – ele suspirou e apoiou-se na pia.

— Você acha que é sobre isso? – perguntei meio repreensiva.

— Você tem dúvidas? – Ele perguntou saindo e indo até o andar de cima.

Logo Sophie acordou e veio sentar-se no sofá da sala comigo, logo deitando a cabeça em meu colo. Mesmo com a dor na perna eu não reclamei. Notei que Gui desceu novamente a cozinha e arrumou uma bandeja de café da manhã, levando novamente para o quarto. Sorri em sua direção e ele apenas piscou para mim.

— Vai ficar em casa hoje? – Perguntei e ela me encarou.

— Não sei, Stavo me convidou para ir lá... – Ela disse dando um sorriso de canto.

— Você deveria ir...

— Me expulsando daqui Abby? – ela perguntou sorrindo.

— Não praguinha, só acho que é bom sair um pouco de todos esses problemas e relaxar. – Respondi dando de ombros.

— Por que você não vai junto? Ver o Bernardo.

— Nós... brigamos feio ontem. Depois vou ligar pra ele chamando-o pra vir aqui para conversarmos.

— Brigaram por quê? – Ela pediu sentando-se apressada e me encarando.

— Porque sua irmã mais velha é uma idiota Soph, e por isso que ela perde e afasta as pessoas. – A encarei e logo desviei o olhar para a televisão. Sophie logo foi para seu quarto se arrumar e quando terminou Gui falou que ia a deixar na casa dos Granemann e depois ir para a casa da minha mãe. Avisou que Bia ainda estava deitada no quarto e eu assenti, dando um aceno para ambos e subindo as escadas na direção do quarto. Dei duas batidas na porta e entrei, indo deitar ao seu lado. – Oi leãozinho.

— Oi cobrinha – ela respondeu com um pequeno sorriso.

— Como você tá? – perguntei a encarando.

— Bem... um pouco melhor – ela deu de ombros – Desculpa por você descobrir tudo assim....

— Ei, não precisa falar nada. Eu conversei com o Gui e ele me explicou boa parte. Me desculpa por ser uma péssima amiga. – falei sentindo uma lágrima caindo, Bia a secou e negou com a cabeça.

— Eu é que escondi muita coisa de você Abby... Você se abre tanto comigo e eu conto o mínimo possível... – ela deu de ombros. Pela primeira vez em dois anos eu conseguia ver que Bianca era tão forte não porque ela queria, mas sim porque a situação exigia. Na minha frente estava uma Bianca que eu não conhecia, uma com boa parte das barreiras caídas.

— Bem, mesmo assim, você conta o que estiver quiser apenas... não vou te forçar a contar o que não quiser.

— Você pode me perguntar o que quer saber...

— Primeira coisa – falei sorrindo – Como é seu nome?

— Idiota – recebi um soco em meu braço e começamos a rir.

Ficamos assim boa parte da manhã, rindo e conversando sobre tudo. Bianca tinha me explicado boa parte das coisas que não havia nunca mencionado comigo, apenas escutei e absorvi as informações. Em vez de fazermos um almoço digno fomos para a cozinha fazer pipoca para vermos filme.

— E o Bernardo? – Ela perguntou sentando em uma das baquetas.

— Não sei – respondi enquanto pegava o milho em que estava em um pote e jogando na panela.

— Vocês não conversaram desde ontem? – pediu e eu apenas neguei com a cabeça – Manda mensagem pra ele.

— Não.

— Abigail.

— Bianca, ele não quer falar comigo!

— Que mentira... você não sabe disso. Vai – ela disse entregando meu celular já desbloqueado – Mais do que você ganhar um “eu não quero falar com você” você não ganha. Agora manda mensagem pra ele pedindo pra ele vir aqui pra vocês se resolverem.

— Bia...

— Abigail Carstairs Montgomery, pare de ser cabeça dura e manda logo a mensagem – ela falou ameaçadora e eu comecei a rir.

— Ok, você venceu. – falei pegando o celular e ela veio até a panela continuando a mexer. Mandei a mensagem para Bernardo e logo recebi a resposta dele confirmando que iria vir. – Ele vai vir.

— Viu – ela disse cantando vitoriosa – MEU OTP VOLTOU – ela disse e eu comecei a rir ainda mais.

Terminamos a pipoca e fomos para a sala, colocamos uma comédia romântica até que escutei o barulho do carro de Bernardo parando na frente da minha casa.

— Ele chegou... – Bianca sorriu em minha direção e fez um aceno com a cabeça para mim até lá. – Já volto – falei me levantando e indo até a porta. Não havia notado que eu estava tremendo até abrir a porta e o vê-lo encostado no carro de cabeça baixa. Eu estava me sentindo um lixo, minha cara deveria estar inchada graças ao choro logo cedo com Guilherme e alguns assuntos com Bianca agora a pouco. – Hey – chamei sua atenção chegando perto com as mãos nos bolsos da jaqueta.

— Fiquei preocupado com seu desaparecimento das mensagens ontem à noite – ele disse me encarando, pelas olheiras escuras em seu rosto eu não fui a única a não dormir. – Achei que eu ia te perder...

— Me desculpa... – Senti minhas lágrimas brotando novamente, encurtei a distância que havia entre nós e o abracei, colocando minha cabeça na volta do seu pescoço. Seu perfume me acalmava, assim como o seu toque e o seu carinho. Seus braços apertaram meu corpo contra o seu e ele começou a fazer carinho em meu cabelo.

— Eu devia ter te contado... – ele começou.

— Não só disso... por tudo, pela briga de ontem, pelas palavras, pela frieza...eu deveria ter de escutado antes de julgar. Eu tenho a péssima mania de quando descubro algo julgar antes de escutar. – funguei e levantei meu rosto encarando o seu.

— Tá tudo bem minha pequena, eu meio que mereci por ter te escondido isso, mas você não tem ideia de como eu me senti quando na linha de largada eu vi que era você a garota ao lado do Gabriel rindo... Eu fiquei fora de mim.

— Bernardo...

— Eu sei que vocês quase namoraram, que hoje em dias são só amigos, mas mesmo assim... é horrível ver a sua garota com outro cara e não você... – ele deixou uma lágrima cair e eu levantei a mão secando.

— Exatamente, eu sou a SUA garota, não vai mais se repetir isso. Vou estar do seu lado nas corridas quando você estiver disposto a me levar – respondi sorrindo e ele logo sorriu também em concordância. Bernardo colocou uma das mãos atrás em minha nuca e me puxou para um beijo calmo como um fim ao pedido de desculpas.

— Eu amo você – sussurrou colocando nossas testas, em seus lábios havia um sorriso.

— Eu amo você – falei em resposta sorrindo. Puxei sua mão para entrarmos na casa e Bianca apenas acenou para nós sorrindo. – Eu já volto ai contigo – falei para ela que concordou com a cabeça e voltou à atenção para a série, Travelers. Puxei Bernardo escada acima, mais especificamente para o meu quarto.

— O que houve, além da nossa briga? – Ele pediu sentando na cama, apoiam o corpo sobre as mãos que estavam estendidas para trás. Ele acenou com a cabeça acenando para fora do quarto, que logo entendi que era sobre Bianca.

— Você já sabia que ela era a rainha – olhei para ele pelo espelho do guarda-roupa enquanto tirava a jaqueta e a camisa do meu pijama. Ele apenas abaixou a cabeça assentindo – Ontem foi o dia que eu apenas dei sermão e não estava a fim de escutar, acabei brigando no jantar com ela e com o Gui por me esconderem que estavam juntos, aí a Sophie apareceu em nossa porta anunciando que iria morar conosco, a Bia fugiu, eu e o Gui brigamos de novo, fomos atrás da Bia, a trouxemos de volta, ela se cortou... me senti uma péssima amiga quando  notei que meu irmão sabia mais dela do que eu... Ai hoje ele me mandou arrumar as merdas que eu havia feito, se referindo a vocês dois no caso. Aí agora estamos nessa, eu e ela estamos tentando nos abrir, contando coisas que não sabíamos, principalmente ela. – Falei procurando uma legging nos prateleiras do guarda-roupa, tirando minha calça do pijama e notei que o olhar de Bernardo se focou nos cortes recém-formados em minha coxa.

— E isso ai? – ele me encarou preocupado – Veio antes ou depois de toda essa briga?

— Depois, ontem pra ser específica – falei dando de ombros terminando de me vestir e indo para o seu lado.

— Me sinto culpado...

— Não se sinta, por nós ontem eu apenas tive vontade de socar algo, ou chorar. Mas reli as conversas de madrugada quando estava com insônia e notei que eu também estava sendo uma babaca, mas os cortes foram mais por eu não ter notado nada que estava acontecendo com a Bia, de todo esse tempo eu não ter notado os detalhes... – soltei o ar dos pulmões e encostei-me a seu ombro.

— A culpa não é sua amor, mas eu deveria estar aqui para não te deixar fazer isso consigo mesma.

— Deveria, mas aconteceu amor... – abaixei a cabeça envergonhada.

— E não vai se repetir, não é mesmo? – Ele perguntou tocando meu rosto.

— Eu vou tentar – ele arqueou as sobrancelhas – Não posso te prometer isso Bernardo...

— Você vai conseguir... Agora eu vou voltar pra casa, deixar você ficar aqui com a Bia, quem sabe eu volte à noite. – Concordei com a cabeça e fomos em direção à porta de saída do andar de baixo. – Fiquem bem – ele disse dando um selinho e saindo. Após isso tranquei a porta e voltei para a sala. – Me desculpa por isso...

— Vocês tinham que se entender Abby, e tinham que fazer isso exatamente dessa forma – ela deu de ombros e pegou mais um punhado de pipoca – Mas onde estávamos... aé, primeira vez. Bem a minha você já sabe com quem foi. – Ela deu de ombros sorrindo marota.

— Poupe-me dos detalhes, ainda quero conseguir dormir à noite – respondi rindo e ganhando algumas pipocas em minha cara.

— Mas e a sua, foi com o Carter não? – neguei com a cabeça e Bianca me olhou boquiaberta – Foi com quem então?

— Gabriel – respondi encarando a TV, mas sabia que Bianca ainda me olhava.

— BABACA – ela gritou – Não você, porque você está me contando agora, mas ele por nunca ter me contado... – ela disse indignada e eu comecei a rir.

— Foi nossa promessa Bia, nunca iriamos contar a menos que nos tornássemos um casal.

— Mesmo assim, eu deveria saber – ela disse arqueando as sobrancelhas e cruzando os braços.

— Awn, olha que fofinha. Ela ficou magoada – falei em deboche cutucando suas costelas.

— Nem vem de carinho agora – ela disse, mas logo começou a sorrir e começou a retribuir os cutucões que logo se tornaram cócegas.

— Deu – pedi em meio a risadas enquanto faltava ar em meus pulmões. Ficamos conversando mais um tempo e vendo séries até que Sophie e Guilherme chegaram a casa. Recebemos um sermão de Guilherme por não termos almoçado e comido só besteiras o dia todo.

Quando chegou a noite Guilherme sentou sente eu e Bia, abraçando-a e ela logo recostou a cabeça em seu ombro. Sorri com a visão dos dois. Sophie não largava do celular e logo disse que ia ir deitar. A campainha tocou e eu levantei para ir ver quem era.

— Oi amor – Bernardo falou. Ele estava com uma caixa na mão, que pelo cheiro era comida.

— Você tem que parar de me trazer comida – falei sorrindo e dando um selinho.

— Você tem que parar de se alimentar mal – ele rebateu. Apenas revirei os olhos. – Sophie te entregou.

— Vaca. – caminhei em direção à cozinha. Ficamos conversando por um tempo até que eu fiquei com sono e decidi ir dormir, convidei Bernardo para ficar e ele mandou uma mensagem para a mãe avisando. Demos boa noite e notei o olhar que Guilherme lançou para Bernardo, ganhando um cutucão da Bianca que sorriu.

Quando deitamos e eu me aconcheguei em seu peito não havia notado a quão cansada eu estava, até que cai no sono sem notar enquanto Bernardo fazia carinho em seus cabelos, mas logo fui despertada com o som de uma música.

— O que é isso? - Escutei Bernardo sussurrando baixinho, mas deitada em seu peito deu para notar ele rindo. 

— Parece uma festinha no quarto ao lado - Comentei.

Após algum tempo, mesmo com Bernardo fazendo carinho em minhas costas para dormir novamente, escutamos gemidos vindo do quarto eu lado. Não me contive e dei uma risada abafada.

— Quero minha Bianca virgem novamente. - resmunguei escondendo o rosto mais afundo na volta do pescoço de Bernardo.

— Não fale assim, deixa eles se divertirem - defendeu. Levantei meu corpo para encarar seu rosto.

— Atrapalha meu sono de beleza - Dei um sorriso e deitei novamente.

Logo consegui voltar ao meu sono tranquilamente, mas aquelas seriam lembranças que iriam merecer serem zoadas no outro dia.


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