Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 76
A Segunda Chance


Notas iniciais do capítulo

Annyeonghaseyo!!

Tudo bem com vocês? Esperamos que sim, pois nós estamos ótimas em termos avançado até aqui na companhia de vocês e finalizar essa fic é como um sonho realizado. Sem muitos agradecimentos aqui, nós os faremos nas notas finais, mas, mesmo assim, fica aqui o nosso MUITO OBRIGADA!

E obrigada sim pelos comentários do capítulo passado. Não poderíamos finalizar sem agradecer, não é??? ♥

Quero informar que inserimos cenas bônus que escrevíamos a cada 100 comentários e postávamos no nosso grupo do facebook. Agora, você que não estava por lá poderá ler cada um deles nos capítulos 37, 46, 50, 55, 60 e 65. Volta lá e leia tudo. Foi feito de coração!

Agora, sem mais delongas - porque o capítulo está enorme - vamos ao nosso capítulo final. Esperamos que gostem do que preparamos e aguardamos os comentários de vocês.

Beijos no coração, obrigada pela paciência, por nos acompanharem, por continuarem conosco até aqui. Vocês são de mais!



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8 anos depois…

Jung olhou-se novamente no espelho contemplando seu reflexo. O corpo coberto por um elegante smoking cinza chumbo, os cabelos penteados para trás, moldados com algum produto que o deixava brilhante, com o aspecto de molhado, mesmo que estivesse seco.

E ele aproximou os olhos do espelho. As sobrancelhas contraídas, os olhos focados no topete, levou o dedo indicador até os cabelos e os tocou levemente, constatando que estavam duros, estranhos para o seu eu habitual, mas elegantes ao compor o seu look cheio de classe.

Novamente o estômago gelou. Lembrou-se mais uma vez do que aconteceria em algumas horas e não conseguiu controlar a emoção. As borboletas levantaram voo dentro de si e as mãos, teimosas, começaram a gelar mais uma vez, mesmo que a tarde de primavera estivesse agradavelmente quente.

Estalou os dedos muito mais tenso que na sua primeira competição profissional, bem mais tenso do que quando inauguraram a academia. Respirou profundamente e se preparou para deixar o quarto rumo a mais um momento único que aquela família viveria.

— Aonde o senhor pensa que está indo? — era Eujin com seu sorriso de orelha a orelha abrindo a porta antes que Jung saísse, adentrando o quarto do mais novo e revelando uma pequena comitiva atrás de si.

Shin, Sun, Sook, Taeyang e Gun entraram logo depois, todos com uma expressão peculiar em suas faces; todos igualmente felizes por estarem ali, juntos, naquele momento tão importante e significante.

— Não sei se percebeu, mas este não é o quarto do hyung — Jung comentou num tom seco, por dentro estava extasiado de ver todos os irmãos reunidos consigo.

— É claro que a gente sabe, boboca… — Sun falou em seu eterno tom birrento — Viemos ver como você está.

— Como eu estou? — o outro rebateu — Como eu deveria estar?

— Quem sabe? — foi Eujin novamente — Pelo menos não estou sentindo nenhum odor incômodo…

— Aparentemente ele não borrou as calças — Sun completou o pensamento do irmão e Jung ameaçou avançar nele. O mais jovem se esquivou escondendo-se atrás de Sook e sentou-se na poltrona logo em seguida.

— Não sei o que esse fedelho está fazendo aqui — Jung continuou, a mágoa transparente em sua face — Tenho certeza que não tem nada de útil para me dizer…

— Rá rá rá… — ironizou o caçula — você que pensa, meu jovem rapaz. Esqueceu quantos anos faz que eu estou morando com Hea?

— E o que me importa? Acha que é mais experiente que eu por causa disso? Comecei a namorar bem antes que você, seu moleque fedorento…

— Claro que sou. Moramos juntos e tenho a experiência da vida a dois, esqueceu?

— Não esqueci, seu pirralho, mas isso não importa. Você não tem nada o que me ensinar — Jung respondeu com uma careta.

— Depois não se arrependa… Não lhe darei conselhos depois de hoje.

— Não quero seus conselhos…

— Você vai querer sim. Eu sou bom nas coisas, Jung, pense bem…

— Você é bom mesmo em me tirar a paciência… — Jung tencionou mover-se mas foi barrado.

— Aishh… Já chega vocês dois… Essa conversa já está me cansando — Eujin falou novamente desabotoando o paletó e jogando-se sobre a cama do irmão — Não dá para ter um minuto de descanso na presença desses dois bebezões…

— Fala isso agora… Nem vou contar as vezes que já choramingou com a gente… — Jung murmurou.

— Por que vocês não param com essa conversa chata e vão direto ao ponto que nos trouxe aqui?

— Não precisa ser assim, tão agressivo, hyung — Eujin respondeu ofendido para Gun que o olhava revirando os olhos, impacientemente.

— Nosso irmão tem razão, de certa forma…

— Vai… Vai, seu falso. Se debandando para o lado dele só porque são unha e carne agora, os dois loucos fissurados na empresa.

— Eujin… deixe Taeyang em paz… — Sook interferiu gentilmente — Não fale essas coisas com nossos irmãos…

— Se é para irmos direto ao ponto, então vamos direto ao ponto: Nós viemos aqui para te dizer para não perder a cabeça e se manter firme em suas decisões — Eujin falou da cama, olhando fixamente para o irmão — A partir de agora, as coisas só pioram.

— Ele não vai perder a cabeça, Eujin — Sook aproximou-se do mais novo com um sorriso orgulhoso, de pé, tão alto quanto ele, falou enquanto ajeitava a gravata do rapaz — Estou muito feliz por sua felicidade, meu irmão. Tenho certeza que nosso pai está exultante, onde quer que ele esteja, por suas decisões, todas elas sempre muito bem pensadas e acertadas. Tenho certeza que será feliz também com essa escolha e que tudo continuará dando certo.

— Obrigado, hyung…

— E as coisas não pioram a partir de agora — Sook continuou — Você vai ver que muitas coisas irão melhorar…

— Vão sim — Shin concordou recostado à cômoda.

— É… e lembre-se que a oferta continua de pé — Taeyang seguiu — A casa é sua, as portas estarão sempre abertas…

— Eu sei que sim, hyung, mas vamos começar tudo do nosso jeito…

— Fico pensando como vai ficar essa casa sem você…

— Não sei por que fica tão saudoso… você tem bastante movimento por aqui — Jung falou com um sorriso embargado — Não vai sentir tanta falta…

— Vocês foram saindo um a um… Não sei se esse era o desejo do papai, mas dá uma dor tremenda no coração ver vocês crescerem assim…

— Para com isso, Taeyang… — Eujin meteu-se se levantando da cama e se aproximando dos dois, tomando a frente do mais velho — Vai fazer Jung se emocionar e borrar toda a maquiagem…

— Que?

— Na Na disse que ele está aqui desde manhã… Deve ter uns dez quilos de reboco nessa carinha de bumbum de bebê… — continuou colocando o indicador na bochecha do irmão — Acho que ele contratou alguma das meninas da ISOI…

— Aish… O que você está falando, seu…

— Psiu! — Eujin colocou o indicador sobre a boca do irmão — Sou seu hyung também… me deve respeito e tem que ouvir o que eu quiser caladinho…

— Mas é claro que não, seu…

— Está bom… Já chega! — Shin tomou a frente de Eujin e continuou com um sorriso amplo — Jung, parabéns! Faço minhas as palavras de Sook. Estou imensamente feliz por sua felicidade e por suas escolhas… Tenho mais do que certeza absoluta que você será um homem muito feliz e que essa é uma escolha muito acertada…

— Mas não esquece que ela é a melhor amiga da Ha Jin — Eujin cortou novamente.

— O que você quis dizer com isso? — Shin perguntou ofendido.

— Você sabe, não é? Complicada…

— Ora, seu…

— Tudo bem, tudo bem… — Taeyang falou novamente e Sook gargalhou chamando à atenção de todos que gargalharam juntos à iniciativa do irmão mais velho. Um misto de sensações novas e antigas abundantes ao redor deles.

— Fico emocionado e feliz em ver vocês assim, não posso negar… Era o que papai queria… Ele conseguiu…

— Sim, ele conseguiu — Taeyang concordou com o mais velho compartilhando daquele sentimento.

— É… — Gun concordou timidamente, recostado na parede, próximo à porta. Os irmãos, à exceção de Shin e Taeyang, os mais próximos dele, não ouviram a discreta afirmativa.

— Agora me diga, Jung… — Eujin continuou após todos se acalmarem — Como conseguiu convencer a Mi Ok de tal loucura?

— Eu vou te bater!

— Eu sei que ela é bem enlouquecida, mas pensei que apenas para assuntos exóticos… imaginei que ela tivesse um pouco de juízo para determinadas escolhas…

Jung tentou avançar no irmão mais velho, Shin se colocando entre os dois. Os demais sorriam animados do nervosismo do rapaz e pelas emoções vivenciadas. Foi Gun que interrompeu mais aquele ataque se aproximando do mais novo.

— Estou feliz por você, pirralho — Gun sorriu discretamente para o irmão e Jung, os olhos embargados novamente, retribuiu — Percebi o quanto cresceu, o homem bondoso, persistente e amigável que se tornou anos atrás, não desistindo um segundo sequer do pior dos seus irmãos…

— Hyung…

— Vou ser sempre agradecido por isso… — Gun parou de falar um momento e respirou profundamente antes de continuar — Seja feliz, muito feliz, por favor. Você merece isso, e muito mais que isso!

— Obrigado, hyung… — os dedos de Jung foram aos seus olhos, enxugando-os — E obrigado por ter vindo…

— Jamais me ausentaria de um momento como este, meu irmão — Gun continuou com seu ar superior — Eu estive aqui até para o casamento do vira - latas…

— Estava demorando… — Shin revirou os olhos.

— … Acha mesmo que eu perderia o seu? Estou feliz por estar aqui…

— Afinal… somos todos vira - latas, não é mesmo? Só mudamos em estilo… — Shin soltou e Gun o olhou com olhos semicerrados, os outros rindo das pequenas alfinetadas sempre presentes, mas com o tom diferente das do passado.

— Acho tão bonito esse nosso espírito fraternal… — Sun soltou e os outros riram novamente.

— O importante é que seja feliz, é o que estamos querendo que saiba — Taeyang voltou a falar.

— Você cresceu bem! É um homem. Estou orgulhoso — Sook continuou.

— Hey! Por que ninguém nunca disse que eu cresci bem ou coisas do tipo?

— Porque você é um nanico, Sun. A conversa aqui é entre os desenvolvidos… Não que Jung seja muito bem desenvolvido...

— Tudo bem, esqueça — Shin falou e Jung não respondeu.

— Vocês me cansam com essa infantilidade eterna… nunca crescem — Gun alfinetou novamente.

— E você nos ama do jeitinho que somos, não é? — Eujin se aproximou dele fazendo bico, o mais velho fazendo caretas, esquivando-se do beijo mortal.

— O bom disso tudo é que Mi Ok é financeiramente resolvida. Se nada der certo, ela tem como sustentar o garotão…

— O que? — Jung revoltou-se novamente, dessa vez conseguindo revidar e Sun, batendo a palma na palma erguida de Eujin, de costas, não teve como se defender da almofada sobre ele lançada.

— Pare com isso, Jung… Vai estragar seu smoking — Shin gracejou e o mais novo, temeroso, voltou-se para o espelho e passou as mãos sobre a roupa, olhando atentamente os cabelos.

— Está bonito, irmão… realmente, muito bonito — era a voz de Yun Mi que adentrava o recinto. Todos a olharam com curiosidade ao se aproximar de Jung — E essa é uma decisão muito importante em sua vida. Tenha convicção dela e será feliz.

— Eu serei sim, noona. Obrigado.

— Agora vocês deveriam parar com essa algazarra… — falou virando-se para os outros após arrumar uma mexa do cabelo do mais novo — Sei que têm essa mania de se reunirem pelos quartos da mansão e ficarem horas a fio falando sobre os mais variados assuntos… Mesmo os estúpidos…

— Noona… — Eujin ralhou, ofendido.

— … Mas hoje, realmente, não terão todo o tempo para ficarem aqui jogando conversa fora.

— Ah, noona… você diz isso, mas adora ficar jogando conversa fora com a gente…

— Não tenho tempo para essas coisas, Eujin…

— Você tem sim… — ele se aproximou abraçando a irmã — Até o chato do Gun se reúne com a gente…

— Hey!! — Gun ralhou e Shin gargalhou.

— A verdade sobre as personalidades…

— Cala o boca, seu imbecil!

— A língua dele continua afiada — Shin rebateu e gargalhou para o outro que o encarava, aquilo tudo já não passava de encenação.

— Deixem de serem tão ranzinzas, sim? Noona, se lembra do aniversário de Taeyang? Você ficou com a gente um tempão…

— Eujin…

— Nosso próximo encontro será no quarto de Shin, durante o aniversário da Ha Na e queremos você lá!

— Não tenho tempo para isso…

— Só um pouquinho, vai…

— Não.

— Por favorzinho…

— Aish… está bem. Eu fico um pouco, depois. Agora temos um casamento para realizar e a menos que você queira deixar a sua noiva esperando, sugiro que se apresse e vá encontrá-la de uma vez…

— Sim… Sim, eu vou agora mesmo… — Jung precipitou-se atrapalhando-se em seus próprios pés.

— Mas vê se não mete a cara no chão… — Sun sorriu do nervosismo do outro — Vai casar com a cara toda inchada.

— No melhor estilo lutador… — Eujin emendou e sorriu com Sun, se aproximando do outro em seguida, fechando os botões que abrira há pouco tempo — Vamos… Vou te levar até lá, venha… segure em minha mão, não quero que caia.

— Não preciso de nada… Sai… — Jung revoltou-se puxando os braços dos toques dos outros dois mais novos.

— Olha… mas que mal agradecido… Não sei se ele é tão amigável quanto você pensa, hyung — falou olhando para Gun.

— Seja feliz, meu irmão — Sook falou novamente e os gracejos pararam.

— E nunca se esqueça de que estaremos aqui para você, quando precisar — Taeyang continuou a frase do mais velho.

— E olha… talvez você precise muito — Eujin falou mais uma vez — Elas nos tiram do sério, mas são maravilhosas, as mulheres…

— Que comentário desnecessário, Eujin — Yun Mi revirou os olhos antes de continuar — Quero que seja feliz, tudo bem? — Jung balançou a cabeça em silêncio.

— E que realize todos os seus sonhos, não importa quais sejam — Shin falou também.

— Estaremos sempre torcendo por você… sempre estaremos torcendo uns pelos outros, porque é assim que tem de ser — Sun falou também, sorrindo.

— Seja sempre assim, como você sempre foi… Nosso querido e amável Jung — Gun encerrou aquele pequeno monólogo e o mais novo não resistiu. Aproximando-se do irmão, o abraçou. Em seguida, como tornara-se costume em determinados momentos, o abraço tornou-se amplo e envolveu a todos, abraçados ao sentirem o apoio mútuo, como uma verdadeira família deveria ser.

A tarde primaveril de Setembro banhava a Mansão da Lua com um perfume inspirador. Os arredores discretamente decorados recebiam em seus amplos aposentos alguns convidados que partilhavam daquele momento com a família Wang.

Os jardins, muito bem aparados e cuidados, davam um toque especial à estrutura magistral e compunham naturalmente a decoração que o ambiente recebera.

Na parte interna da casa tudo também estava florido. Flores da estação traziam para a casa um aroma agradável, discreto e reconfortante. Vasos com muito verde, flores brancas e amarelas decoravam com delicadeza e bom-gosto a sala de visitas.

Nada do luxo de outrora, dos exageros ou das listas de convidados longas e sem sentido, das tentativas em mostrar uma realidade que não era vivenciada. Ali, naquela tarde, cada um dos presentes demonstravam aquilo que realmente eram e se estavam felizes, o sentimento era genuíno.

Os funcionários da casa, como já era de praxe, seguiam em sua coreografia previamente ensaiada pela governanta, Sung Ryung, no posto há alguns anos, e deslizavam magistralmente entre os convidados com suas roupas bem cortadas, em tom claro, diferentemente do passado, e suas bandejas às mãos oferecendo as mais finas bebidas e o que havia de melhor no cardápio para aquela íntima reunião.

À direita, em uma área ampla da sala de visitas, uma orquestra composta por quatro instrumentistas tocava melodias envolventes. Alguns convidados, os mais animados, já se moviam na área livre da sala, seus corpos balançando no compasso dos instrumentos que tocavam harmoniosamente.

Não era de se duvidar: a senhora da casa tinha um excelente gosto para tudo. Além de bondosa e gentil, Na Na superava a senhora Ah Ra também na elegância e no paladar. Nenhum convidado torcia o nariz ao que lhes era oferecido e na casa, conforto e bom gosto recebiam cada um deles há oito anos.

E a senhora da casa poderia, naquele exato momento, ser vista próxima à porta de entrada da cozinha em seu mais árduo e gratificante ofício: o de ser mãe.

Percebeu ao longe, conhecendo bem os filhos que tinha - que Taeyang insistia em afirmar terem herdado a astúcia e o cinismo do tio Eujin, que os dois aprontariam algo em breve e aproximou-se veloz em direção às crianças, naquela noite, acompanhadas.

— Posso saber o que os dois estão pensando em fazer? — perguntou com firmeza e os dois meninos, cópias perfeitas do pai na questão física, a olharam fixamente.

— Nada, mãe… — um dos gêmeos respondeu em seu mais perfeito ar angelical.

A verdade é que os meninos, juntamente com os primos, estavam pensando em furtar alguns dos docinhos que ainda não haviam sido disponibilizados aos convidados.

— E por que resolveram fazer nada bem em frente à porta da cozinha? — a mãe questionou novamente. O outro menino respondeu.

— Só estamos mostrando a casa para nosso primo Daniel, mãe. Da última vez que ele veio era muito pequeno e não se lembra da casa.

— Dong-ho, você acha mesmo que eu vou acreditar nessa história?

— Mas é a verdade, mãe… — o menino respondeu ofendido — O que estaríamos fazendo senão isso?

— Mãe, nosso primo estava perdido nessa casa desse tamanho… estamos ajudando.

— E se a proposta dos dois é apresentar a casa ao seu primo, por que a Soo Jin está aqui com vocês?

— Mãe, nós somos irmãos… é normal que irmãos estejam sempre juntos…

— Song-ho, está mesmo tentando enganar a sua mãe?

— As crianças estão causando alguma coisa, Na Na? — a mulher virou-se repentinamente para a voz que chegou até ela — Daniel, já conversamos antes… não quero que desobedeça a nenhum de seus tios.

— Não desobedeci, papai… — o menino falou finalmente. O tom tão polido quanto o do homem embora existisse carinho na fala dos dois.

— Não se preocupe, Gun… — Na Na falou com gentileza — não há problema algum com Daniel. São esses dois que estão aprontando!

— MÃE!!!! Eu não fiz nada!

— Nem eu, mamãe.

— Por agora vou relevar em respeito aos convidados. Se vir os dois fazendo algo suspeito mais uma vez, não vou deixar passar… Vão brincar de alguma coisa que não quebre nada…

— Não, mãe. O que o tio vai pensar da gente?

— Vamos… andando, os quatro!

Na Na e Gun observaram as crianças se afastarem, os mais velhos representando mágoa. Gun não conseguiu segurar uma risada discreta.

— Você realmente deve ter muita paciência… três filhos e controlá-los assim não deve ser fácil.

— Mas eles não são tão difíceis… Não sempre — sorriram em conjunto — O mais complicado é quando os meninos não entendem que devem tratar Soo Jin igual eles se tratam, mas que isso não quer dizer que podem bater nela.

— Deve ser realmente complicado… Felizmente não temos esse problema com Daniel.

— Não pensam em lhe dar um irmão? — ela perguntou gentilmente.

— Não sei… quem sabe…?

— Mas eles são ótimos…

— Não digo que não — Gun concordou — Não se arrepende de ter aberto a mão de seu profissional para se dedicar à casa?

— Sinceramente? Logo de início eu tive medo, mas hoje sei que foi a melhor decisão.

— Mas você sempre foi uma excelente profissional. Não pensa em voltar ao ofício depois que as crianças estiverem maiores?

— Acredita que já pensei nisso? Mas agora, realmente acredito que não. Depois que Soo Jin nasceu… quero ficar com meus filhos, se tenho essa opção.

— É uma excelente escolha!! As boas escolhas são aquelas as quais temos certeza ao tomá-las. Fico realmente feliz em saber que está bem.

— E sua esposa? Ainda não pude conversar com Lívia.

— Estamos com Taeyang.

— Ótimo! Daqui a pouco me aproximo de vocês!

— Por favor… vou voltar para lá.

— Sinta-se à vontade!

— Obrigado!

...

— É sério… quando a mamãe se distrair, a gente entra na cozinha — Dong-ho falou para os outros. O espírito de liderança nato.

— Não sei… mamãe falou para eu não dar trabalho e papai disse para eu ser obediente — Daniel argumentou em seguida com seu terno bem cortado e cabelo bem penteado. O menino de seis anos, assim como os gêmeos, era a cópia do pai, Gun, com a pequena variação no tom da pele que era delicadamente bronzeada, como a da mãe.

— Ah, não, Daniel… Não da para voltar atrás agora… — Song-ho pegou a fala do irmão.

— E eu quero doces! Vocês prometeram que me dariam doces se eu ficasse perto de vocês — foi Soo Jin que reclamou.

— Nós vamos te dar os doces, mas precisamos entrar na cozinha primeiro.

— Não seria mais fácil se a gente entrasse pela porta de trás, a do jardim? — Mi-Young, filho mais novo de Sook, e que estava com aproximadamente sete anos, se aproximou dos primos e seguiu com as ideias — Assim não tem como nossos pais ou tios nos verem. Eu voto que a gente vá para o jardim e entre pela porta externa.

— Essa é uma excelente ideia! — Dong-ho tomou a frente e os cinco saíram correndo pela sala, sob os olhos atentos de seus pais que perceberam a movimentação.

— Desculpa, tia!!! — Song-ho virou-se para Yun Mi depois de esbarrar com ela — Estamos apressados… Te amo! — se despediu mandando dois beijos para a mulher e seguiu os demais.

— O que eles estão aprontando agora? — Yun Mi perguntou para ninguém em específico, mas Taeyang sentiu-se na obrigação de responder.

― Provavelmente estão tentando roubar os doces da cozinha… É sempre isso!

― Acho realmente incrível essa capacidade de vocês em criarem filhos. Deve ser algo extremamente cansativo…

― Não é fácil, mas não é mais complicado que conduzir uma empresa ― Taeyang justificou-se.

― Não sei como conseguem conciliar tudo... Tenho certeza que enlouqueceria.

― Esse é o pensamento inicial ― Shin falou nostálgico ― É uma sensação muito louca, desesperadora. Imagina só, você gerar outro ser e ter de cuidar e criar e educar... Ha Jin e eu ficamos desesperados quando descobrimos que ela estava grávida. Desespero e alegria, sabe?

― Não... Não sei e nem pretendo.

 ―E que tal mudarmos de assunto? ― Taeyang indicou e Shin iniciou novamente a conversa.

― Estou terminando um novo desenho para enviar para vocês. Tenho trabalhado nele faz algumas semanas. Finalmente concluí…

― Ainda querem que eu não me impressione... ― a mulher continuou ― Como conseguem conciliar tudo!

― Eu entendo sua surpresa, irmã, mas não é tão complicado quanto parece. Você se adapta a tudo e as coisas se tornam mais simples. Ha Jin, por exemplo, é a melhor esposa que eu poderia querer e, além disso é uma super mãe e excelente profissional da cosmética.

― Tudo depende de você e de como gostaria de conduzir as coisas ― Taeyang completou a fala do irmão mais velho.

― Eu compreendo, mas não consigo deixar de achar complicado...

― Essas suas perguntas são críticas ou uma possível curiosidade…? Por acaso está, finalmente pensando em nos dar um sobrinho?

― Taeyang, por favor! O que não te falta são sobrinhos. Não serão os meus que farão você ficar triste.

― Eu sei que sim ― Taeyang sorriu divertidamente ― mas consigo perceber uma pontinha de interesse nesse seu questionamento.

― Jin In e eu decidimos assim. Sem filhos. Só o profissional. Já temos um ao outro e não precisamos de mais nada ― ela falou cheia de si e bebericou novamente sua bebida. Shin a observava quase sorrindo ― O que é?

― Nada! ― ele sorriu finalmente ― Não posso olhar para a minha irmã?

― Depende do motivo.

― Como está áspera…

― Sempre fui.

― Lembro-me de uma Yun Mi do passado que era bem mais gentil com seu oppa…

― Ora, Shin! Me poupe de seus comentários jurássicos ― os dois rapazes sorriram e a jovem ficou em silêncio por breves instantes, mudando o foco da conversa em seguida ― Vamos falar sobre coisas mais proveitosas e me diga como é essa nova moto?

― Como falei, trabalhei nela nas últimas semanas ― Shin continuou ainda com um vestígio da brincadeira em seus lábios e olhar ― Quis dar uma turbinada no motor e peguei umas dicas com Gun. Acho que irão gostar.

― Por que não volta para a fábrica, Shin? ― Yun Mi perguntou atenciosa ― Você nunca fez um curso e trabalha tão bem… Seu lugar sempre estará lá, você sabe.

― Eu sei… Mas depois de tudo, minha melhor decisão foi ficar perto de Ha Jin. Já tenho minha fábrica no quintal de casa. Me sinto bem em produzir lá. Quando me canso, basta dar alguns passos e já recupero minhas energias ao ver minha casa, minha família. Estou bem, mas obrigado, mesmo assim…

― Eu não acredito que estão falando de trabalho aqui… ― Na Na recriminou ao se aproximar com Lívia.

― Até parece que não conhece os Wang ― Shin brincou ao receber as duas mulheres.

― O que os meninos estão aprontando? ― Taeyang perguntou à esposa assim que ela se aproximou.

― Estão na cozinha… roubando os doces.

― Eu sabia…

― Esses seus filhos saíram bem diferentes de você, irmão ― Yun Mi brincou também ― O certinho Taeyang e os dois Eujin que tem criado.

― O que estão falando de mim? ― Eujin se aproximou dos outros e ouviu seu nome ser mencionado.

― O de sempre… Seus sobrinhos roubando os doces mais uma vez ― Taeyang comentou com o irmão, a situação aparentando ser totalmente corriqueira.

― Sério? Vou procurar Sun para ajudarmos as crianças… ― e partiu em direção à cozinha sem olhar para trás.

― Não acredito nisso ― Na Na falou conformada, os demais sorriram da situação ― Agora tenho que bronquear esses dois também.

― Sempre temos, na verdade ― Taeyang apoiou a esposa e suspirou vencido naquela pequena batalha.

― E como tem passado, Lívia? Como vão as coisas nos EUA? ― Yun Mi mudou o foco da conversa mais uma vez, e a jovem mulher olhou gentilmente para a cunhada ao responder:

― Estamos indo bem! Na filial as coisas estão de vento em polpa. Fizemos muito sucesso com o último lançamento. Os americanos adoram os carros e motos Wang. É uma febre quando lançamos.

― E Gun também é um excelente líder ― Taeyang comentou com orgulho.

― Sem sombra de dúvida. Não quero encher a bola do meu marido, mas sim, Gun é excelente em tudo o que faz. Toda liderança e funcionários estão satisfeitos. Como você bem sabe, tivemos um grande crescimento nos últimos dois anos…

― E seu MBA? ― Na Na questionou assim que a outra concluiu.

― Acabo daqui a cinco meses ― Lívia respondeu com entusiasmo ― Adoro fazer esses aperfeiçoamentos… Me empolgo!

― É realmente muito empolgada em tudo o que faz! ― Gun interrompeu a mulher ao se aproximar ― Principalmente nos MBA… Me lembra de você e do nosso primeiro encontro.

― Você nunca contou como conheceu Lívia ― Taeyang comentou com Gun e a esposa o olhou em falso choque.

― Pois contarei agora! ― ela continuou e Gun ficou claramente envergonhado.

― Papai… estou cansado ― Shin sentiu a barra da calça sendo puxada e deu de cara com Dae-hyun, seu filho mais velho.

― Vem aqui então ― o homem se abaixou e pegou o pequeno de recém-completos quatro anos nos braços.

― Ah, gente! Desculpa interromper vocês ― Ha Jin chegou logo em seguida, a mais nova, Seol, cochilando em seus braços.

― Por que não colocam as crianças para dormir nos quartos?

― Não acho bom ― Ha Jin comentou para a prima ― Se dormirem agora, vão perder a cerimônia e mais tarde demoram a dormir…

― Isso é ― Shin confirmou pensativo sobre aquele comentário. Aparentemente já haviam vivenciado a experiência.

― Vou levá-los para brincarem no cercadinho com os primos.

― Ótima ideia ― Na Na confirmou e Taeyang interrompeu.

― Mas, primeiro, vamos ouvir a história de amor entre Gun e Julia…

― Não… Acho que vou levar as crianças de uma vez…

― Ha Jin, por que não para de fugir de uma vez? ― Yun Mi falou diretamente para a outra ― Sei que no passado tivemos muitas desavenças e problemas sérios dos quais eu me arrependo verdadeiramente e tenho vergonha ao lembrar que os cometi, mas a nossa vida mudou e você teve grande parte em todas as boas mudanças. Por favor, pare de fugir de mim sempre que nos aproximamos. Somos parentes… somos uma família.

― Sim… ― Ha Jin respondeu levemente constrangida e sentiu a mão livre de Shin abraçá-la enquanto a trazia para perto de si.

― Pode começar a contar, Lívia, por favor ― Taeyang incitou observando que, aparentemente aquela última barreira entre a irmã e a cunhada havia, finalmente, acabado de se dissolver.

― Como vocês sabem, fui para os EUA para fazer especialização em Economia ― Lívia começou ― Tinha me formado fazia alguns meses e estava animadíssima com a oportunidade. Um dos professores convidados era um jovem muito bonito e de feições fechadas… Fiquei encantada!

― Lívia… Não precisa contar essas coisas…

― Fui sua aluna por seis meses e aprendi coisas incríveis sobre desenvolvimento e economia empresarial, um dos melhores… ― a mulher continuou sem qualquer inibição ― então, nos últimos dias de aula, sem querer, mas ainda bem que isso aconteceu, esbarrei no professor. Ele me olhou de cima a baixo com um ar totalmente superior e começou a se afastar.

"Eu respirei fundo. Era a minha última oportunidade. Reuni toda coragem que existia dentro de mim e falei com ele caminhando mesmo: "Gostaria de tomar um café, senhor Wang?" Ele se virou para mim, novamente aquele olhar frio e intimidador, então falou simplesmente: "às 18h, no café da esquina. Não se atrase." E pronto! Desde então temos tomado muitos cafés juntos e o olhar frio se tornou mais caloroso ao longo dos dias..."

― Ainda bem que não desistiu… ― Shin falou de pronto ― Isso é cachorro velho. Tem que ter jogo de cintura para amansar…

― Interessante… O único cachorro Wang que conheço é você…

― Mas precisamos admitir que não sou eu que tenho a mania de ficar roendo o osso e nunca o abandonar.

― Isso é um costume dos vira-latas... Nada do que você fale pode ser direcionado a mim.

― Mesmo que você tenha todo pedigree do mundo, vai continuar sendo um cachorro Wang.

― Não sou da sua laia, seu...

― Não se esqueça de que temos o mesmo sangue, irmãozinho…

― Não preciso que traga à tona essas memórias desagradáveis…

― Aish… Vão começar de novo… ― Taeyang comentou enquanto todos ouviam o pequeno duelo de ofensas entre os dois.

...

― Olha o que eu trouxe para você minha bolotinha… ― Eujin sentou-se ao lado de Hye com um prato de doces e salgadinhos nas mãos. Os olhos da mulher brilharam de emoção ao se depararem com os aperitivos e Ji Eun tak aproveitou o momento para chamar a atenção do mais velho.

― Isso aqui é bem melhor do que ficar ouvindo meu pai falando sobre a empresa com Sook.

― Nem me fala… ― Hea comentou sentada de frente com a jovem ― Passei lá perto e papai tentou me puxar também. Ele ainda acredita que eu, em algum momento da minha vida, vou trabalhar com ele…

― Também não acredito que ele acredita. Mais do que claro que corre sangue gamer em suas veias ― Eujin comentou engraçado e a mãe o interrompeu:

― E eu não acredito que você ainda não perdeu essa mania terrível de roubar os doces de todas as festas, querido…

― Mãe, é a melhor parte. Nunca vou entender porque só servem o mais gostoso por último.

― Mesmo assim, meu filho… Olhe o mau exemplo que tem dado aos seus sobrinhos. Só vejo os meninos entrando e saindo da cozinha com os doces escondidos nas mangas. A pobre Na Na até já desistiu de repreendê-los.

― Mas também fiz isso por minha bolotinha… ― o rapaz desconversou beijando Hye na bochecha.

― Só te permito me chamar de bolotinha porque é o que eu sou no momento…

― A bolota mais linda de todas as bolotas carregando mais uma bolota fofa…

― Você realmente está muito linda, Hye… A gravidez te fez muito bem ― Hea, comentou gentil.

― Muito obrigada, querida, mas na maioria das vezes me sinto uma monstrenga… E isso que ainda estou no quarto mês… Nem quero pensar quando estiver com os nove.

― E como você está, querida? ― Eun tak perguntou a Hea ― Faz um tempo desde que nos vimos pessoalmente ― a última vez tinha sido há cerca de um ano, quando Sun viajou para a Coreia em um torneio. Os dois, finalmente, ganhavam bem e viviam daquilo que realmente gostava: jogos.

― Estou ótima! Muito melhor agora, nesses dias, se é que posso dizer… Estou feliz em estar de volta também...

― Cheguei! ― Sun sentou-se entre Hea e a mãe no pensamento de receber carinho e atenção das duas em um único momento.

― Devia ter ficado onde estava ― Eujin recebeu o irmão em seu melhor estilo e sequer o olhou, focado em colocar um docinho na boca da mulher.

― Se não está gostando de eu estar aqui, então saia, afinal sabe muito bem sobre aquele ditado: “os incomodados que se retirem”.

― Não vê que estou ocupado? Estou cuidando das minhas bolotinhas… saia você se não tem de quem cuidar.

― Claro que tenho de quem cuidar. Hea e mamãe estão aqui… E que apelido ridículo é esse? Como permite, Hye? É vergonhoso te ver assim, Eujin…

― Seria bom não ter tanta vergonha, Sun… ― Hea começou, mas o rapaz a atrapalhou.

― Como não? De todos os meus irmãos, ele é o mais estúpido depois que soube que vai virar pai. E olha que os outros já passaram por isso mais vezes… Nenhum deles ficou imbecilizado assim…

― Mas é extremamente normal, querido ― Eun Tak se fez ouvir em defesa do primogênito ― O primeiro filho sempre traz maiores expectativas… Quando vocês estiverem esperando um, você entenderá…

Hea sorriu discretamente, as bochechas coradas, olhando para baixo. Sun continuou seu pequeno embate com o irmão mais velho não se atentando àqueles novos sinais. Eun Tak, porém, notou.

― Mamãe já explicou, bobão… Não vou ficar perdendo meu precioso tempo discutindo com você…

― Então se cale…

― Você que deveria se calar… Afinal, além de primogênito aqui, eu estou na vantagem de ser o pai da primeira neta da mamãe… Estou em vantagem.

― Não tanta… ― Hea comentou novamente e, agora, as duas mulheres olharam para ela com interesse.

― Aish… Mas é um idiota mesmo ― o mais novo não notou, irritado, e levantou-se virando-se para a namorada ― Vou buscar alguma coisa para beber… O que você quer, Hea?

― Qualquer coisa sem álcool, obrigada! ― ela respondeu sob o olhar intenso da sogra. Em seguida, Hye, com a desculpa de ir mais uma vez ao banheiro, levantou-se, Eujin em seu encalço.

― Gostaria de me contar alguma coisa, Hea? ― Eun Tak puxou o assunto assim que se viram sozinhas e a jovem, envergonhada e sorrindo, escondeu o rosto nas mãos.

― Acho que a senhora já entendeu… ― comentou ainda com o rosto abafado e a senhora a olhou com carinho, delicadamente retirando as mãos de seu rosto para que se olhassem.

― Quando descobriu? ― Eun Tak perguntou maternalmente.

― Há alguns dias, senhora, e estou bem desesperada, de certa forma, mesmo que feliz.

― Imagino que deve ser assim… e pelo que percebi, Sun ainda não sabe de nada.

― Não senhora ― a jovem sorriu novamente ― estou tentando, mas ainda não tive coragem. Não sei como ele vai reagir.

― Ele vai ficar louco de alegria… ― a jovem senhora comentou rememorando, um sorriso gentil para a moça ― Lembro que quando ele era criança sempre falava que quando tivesse uma esposa, teria quatro filhos, dois meninos e duas meninas. Nunca entendi o motivo daquele comentário, sempre em momentos estranhos, mas era o que ele dizia…

― Quatro, senhora?

― Sim…

― Mas não sou esposa dele… Na verdade, nem sei o que somos…

― Hea… não importa. Vocês se amam, meu filho te ama demais… você não faz ideia do quanto, e eu tenho certeza que serão ainda mais felizes agora.

― A senhora acha?

― Sim! Tenho certeza. Absoluta certeza… Mas, e seu pai?

― Vai querer obrigar a gente a se casar, certamente…

― E está no direito dele ― a mulher comentou após um sorriso, lembrando-se do quanto Yoseob comentava sobre os dois, que gostaria que os filhos vivessem perto dele, que gostaria de ter netos ― Acho que seu pai também ficará muito feliz.

― Não sei, senhora… Tenho receio sobre isso.

― Não tenha. Aproveite que Sun está voltando com suas bebidas e converse com ele de uma vez. O resto, nós vemos como podemos fazer.

― Agora, senhora? ― Hea desesperou-se por aquela iniciativa.

― Sim, agora! ― falou e levantou-se, Sun ao seu lado, olhando para as duas enquanto a senhora tocava carinhosamente o rosto da outra ― Estou muito feliz por essa notícia, querida! Obrigada por isso.

― O que? ― Sun perguntou curioso e a mãe afastou-se lhe ofertando um sorriso amplo e amável ― O que estavam conversando?

Hea olhou fixamente para Sun e respirou profundamente. Tomou a bebida que ele lhe ofereceu e, sem seguida, sentiu as mãos esfriarem. Sun, ansioso e igualmente nervoso, sentou-se diante dela, aguardando o que viria em seguida.

Ha Na estava sentada dentro de uma espécie de cercadinho em tamanho grande para ser suficiente para todas as crianças da família Wang. Estava com a prima mais nova, Seol, sentada em seu colo. A menina brincava de bater as mãos com Soo Jin. Diante dela, Dae-hyun brincava com um tabuleiro e seu irmão, Mi-young, junto com Dong-ho, Song-ho e Daniel travavam uma luta acirrada no War.

Viu que a senhora Eun Tak se aproximava e, atrás dela, percebeu o tio levar as mãos à boca. Estranhou a situação quando o rapaz, ajoelhando-se no chão, abraçou Hea. Lembrou-se de oito anos atrás, quando o pai fizera o mesmo diante dela, com sua mãe.

― Não me diga que vou ganhar outro primo? ― perguntou para a senhora assim que ela encostou-se à cerquinha onde ela estava.

― Como você é sagaz, Ha Na… ― a mulher comentou com graça, olhando para a jovem com admiração.

― Depois de tantas crianças chegando nessa família, posso dizer que sou quase especialista em descobrir… ― falou cheia de si ― além do mais, foi tudo muito suspeito: primeiro a senhora conversando com a Hea, depois saindo e a cara aparvalhada do tio Sun. Olha só… Ele está fazendo a mesma coisa que papai fez quando soube que minha mãe teria Mi-young.

― Não dá mesmo para te esconder nada… Não é a toa que todos comentam o quanto você é inteligente, menina…

― Pois é. Só que meus tios, ou melhor, todos dessa família foram cruéis comigo ― começou a lamentar com o mesmo ar falso que Eujin costumava usar, a senhora reconhecendo muito dele na menina ― Quando eu era criança… Nossa, uma criança a mais para brincar comigo? Não. Nenhuma. Agora tenho várias ao meu redor. Serei uma velha quando eles tiverem minha idade…

― Aigo, Ha Na… São apenas oito anos entre você e os gêmeos ― nesse momento Daniel deu um grito. Havia conquistado um novo território do jogo.

― Hum… Só oito anos… Mamãe fala o mesmo, mas nenhum deles estava aqui comigo quando eu queria alguém para brincar… entende o que estou dizendo?

― Sim, querida… Eu entendo.

― Agora, vem mais um por aí. Eu realmente adoro ter meus primos, eles são lindos… meu irmão ainda mais, mas queria esse monte de criança quando eu ainda era criança.

― Mas você pode e deve aproveitar cada um deles agora, você sabe disso.

― Claro… Como disse, adoro meus primos, sou louca de amores por cada um deles ― falou apertando as bochechas distraídas de Seol que a olhou com estranheza.

― Isso dói, Ha Na ― a menina contestou.

― Agradeça porque não te mordi, sua gostosa… ― e começou uma nova leva de cócegas na menina distraída.

― Já está novamente fazendo seus monólogos, Ha Na? ― Sun Hee se aproximou também e a jovem a olhou indignada ― Viu só, tia Eun Tak. É disso que estou falando. Estão nem aí para mim ou para meus sentimentos…

― Meu amor… Seja feliz por ter tantos primos.

― Todos na época errada…

― Todos cheios de amor. Pare de ser reclamona, menina ― Sun Hee falou dando um cascudo na cabeça da menina, que sorriu.

Todos conheciam as reclamações eternas de Wang Ha Na, a garota que cresceu sozinha entre adultos e que agora tinha várias crianças com as quais não poderia perder toda a manhã ou tarde de todos os dias brincando sem parar.

No fundo todos também sabiam que aquela reclamação era só uma forma da menina agradecer por aquela família. Amava cada um dos tios, o irmão e todos os primos e sempre que possível, se fazia criança, muitas vezes muito mais criança que o menor deles.

Uma gargalhada alta chamou a atenção de Ha Na e das duas senhoras. Olharam em direção ao barulho e viram Yoseob, Nahm Gong e Sook divertidos, animados com algo que havia sido dito naquele momento.

― Devem estar falando sobre negócios, para variar ― Eun Tak comentou certeira e Sun Hee confirmou com a cabeça.

― Sook até dá uma trégua, na maior parte do tempo, quando estamos em família… Mas aqui, com aqueles dois, acho um pouco difícil que o tema, mesmo que mude, não volte sempre para o mesmo lugar…

O trio continuava sorridente. Yoseob tinha uma taça nas mãos, assim como os dois empresários. Falavam, mais uma vez, e aquele assunto se tornou corriqueiro entre os Wang e seus investidores, do desespero dos acionistas que abriram mão dos investimentos na empresa quando essa estava nas mãos dos jovens que tentavam tirar seu nome da lama.

― Nunca vou me esquecer da cara daqueles tolos ― Yoseob falou ao se recuperar da crise de risos ― A melhor coisa na vida são as muitas voltas que ela dá. Mesmo que a Wang S.A. não tivesse conseguido se reerguer, eu estaria aqui, com todos vocês. Não me arrependo da minha dedicação. Sei que tudo foi do jeito que tinha de ser…

― E nós somos gratos a você, Yoseob ― Sook falou em seguida ― Nunca esqueceremos de todo apoio, de como sempre esteve à frente de tudo abrindo os nossos olhos para as dificuldades e nos deixando conscientes dos riscos. Você foi fundamental…

― Ainda bem que minha filha casou com um de vocês ― Nahm Gong falou também ― Não sei se teria coragem de comprar algumas ações da empresa depois de todo aquele espetáculo que Eujin criou com Hye…

― Homem… Pare de reclamar… ― era Yoseob novamente ― Levante as mãos aos céus e agradeça que sua filha casou… E a minha que continua morando com aquele moleque nos EUA depois de todos esses anos e sequer pensa em oficializar o relacionamento? Tem ideia de quantas vezes eu infarto por semana por causa disso?

― Também não precisa exagerar, Yoseob ― Sook falou com um sorriso bobo ― Deixe que eles vivam do jeito que têm de viver. A vida não foi fácil para eles também…

― Quero ver você dizer isso quando acontecer com a sua Ha Na…

― Senhor…

Uma nova gargalhada dos três ecoou pela sala de estar, destacando-se sobre a música que preenchia aquele ambiente. Gun olhou de sua cadeira em direção ao trio e sorriu imaginando sobre o que eles conversavam.

― Certamente estão falando dos acionistas novamente ― comentou com ninguém em específico e Taeyang respondeu:

― Não duvido…

― Quem duvidaria? ― Na Na sorriu também, achando divertida aquela situação.

― Acho que eles nunca deixarão de se divertirem com os acionistas que deixaram a empresa antes de a reerguermos… ― Yun Mi comentou bebericando em sua taça.

― Acho que é muito mais do que justo ― Jin In se colocou também ― Vocês deram o sangue para isso naquele tempo. Nada mais justo que se divirtam sobre os lucros.

― Nos EUA também não foi diferente ― Lívia completou a colocação ― Mesmo que eu não tenha vivido essa fase da empresa, vi que muitos acionistas se negaram a estar com ela no seu momento de maior crise. Os mais antigos geralmente se divertem sobre isso… os lucros sempre são apontados como motivo do desespero de muitos americanos…

Ao passo que comentavam sobre aquele momento, Gun sentiu o bolso do terno vibrar. Era o celular. Ao observar o visor, um leve lapso se colocou sobre ele. Evitando constranger os demais que estavam sentados ao seu lado, pediu licença e se distanciou, atendendo em seguida:

― O que houve? Por que está me ligando agora?

― Gun… Meu filho… Quando vocês irão parar com isso?

― O que a senhora quer? Estou um pouco ocupado agora.

― Eu sei… eu sei… Eu sei que está, sempre está ocupado para falar comigo. Seu irmão também. Antes… antes não era assim… Meu filho, são quase dez anos…

― E o que a senhora quer? ― perguntou impassível, sem demonstrar qualquer tipo de sentimento, o peito, porém, batia apressado sempre que ouvia a voz daquela mulher.

― Eu quero vê-los… Eu sei que está aqui na Coréia… Eu estou tão sozinha, Gun, tão solitária. Eu sinto tanta falta de vocês, eu…

― A senhora está precisando de dinheiro? Posso mandar para a sua conta agora mesmo, basta me dizer…

― Eu preciso ver vocês. Eu quero estar novamente com vocês meu filho. Eu me arrependo, me arrependo do que disse aos dois, da forma como eu os tratei… Eu só quero estar com vocês…

― Mamãe…

― Seu filho sabe que tem uma avó paterna? Você contou para seu filho que estou viva?

― Sim, mamãe… Ele sabe. Ele sabe, sim…

― Eu gostaria tanto de conhecê-lo. Traga meu neto aqui, por favor, antes de ir embora. Peça para seu irmão me atender… ele parou de atender minhas ligações há alguns meses…

― Mamãe, a senhora sabe que dia é hoje? ― Gun perguntou genuinamente curioso.

― Sim… Eu sei, Gun. Sei que Jung irá se casar e, assim como com você, não farei parte desse momento. Eu sei que errei em muitas coisas, sei que fui grosseira, pretensiosa… sei que passei por cima de vocês muitas vezes… Eu assumo, Gun, mas vocês me deram o pior castigo, pior do que perder meu nome e prestígio… pior que perder meu dinheiro e tudo o que sempre fui… eu perdi vocês. Eu não posso continuar assim, por favor…

― Mamãe…

― Eu quero ir vê-los, agora… se puder. Quero vê-los, meu filho…

― A senhora sabe que dia é hoje e, mesmo assim, mesmo renegando minha cunhada por todo esse tempo, quer vir? O que a senhora quer, afinal? Promover mais uma de suas cenas? Estamos tranquilos, temos estado bem em nossas reuniões sem a senhora destilando todo o seu veneno e inveja por onde passa…

― Não fale assim, Gun, por favor…

― E como a senhora quer que eu fale? Vi isso a minha vida inteira… se fui o que fui por quase trinta anos, foi culpa da senhora, Yoon Min-joo.

― Gun…

― O que me garante que a senhora não fará nada aqui, nessa casa?

― Dou minha palavra… Se fizer algo que venha a envergonhá-los eu… eu prometo, nunca mais irei procurá-los…

― Eu não sei…

― Quero vê-los, pelo menos uma vez…

― Essa festa não é minha, mamãe…

― Por favor…

― Entro em contato mais tarde.

Shin não conseguiu disfarçar a atenção que direcionou para Gun assim que ele, muito sorrateiramente, afastou-se de sua mesa e começou a falar ao telefone, uma expressão constrangida.

Ha Jin também o viu. Segui o olhar de Shin e encontrou o cunhado estranhamente tenso mantendo uma conversa que parecia querer encerrar rapidamente.

― Deve ser a senhora Min-joo novamente ― Shin comentou assim que a esposa recostou o queijo em seu ombro, ambos olhando na direção do outro.

― Às vezes acho que ela merece uma chance ― Ha Jin comentou ainda apoiada nele ― Não deve ser fácil receber a ausência e o desprezo dos filhos assim… Não sei o que faria se algo desse tipo acontecesse comigo.

― Sem chances… ― ele foi enfático virando-se para ela ― Você é a melhor mãe do mundo. Nossos filhos são abençoados de terem você como mãe deles. Eu não conheço uma mãe mais dedicada e cheia de qualidades que você…

― Mas como é mal agradecido ― foi a voz de Hin Hee que chegou aos ouvidos do casal e enquanto Ha Jin sorria da intervenção da sogra, Shin assumia uma expressão contraída.

 ― Claro que é depois de você, mãe ― falou de uma vez.

 ― Acho engraçado que fale isso… Nesse caso estou em um nível mais alto que o da sua esposa?

― Sim, isso mesmo.

― Então eu já não sou mais a melhor mãe do mundo? ― Ha Jin perguntou em seguida e Shin arregalou os olhos, sem alternativas.

― Não tem como revidar, meu neto. Melhor ficar calado de uma vez ― o avô, bem mais velho, porém incrivelmente mais saudável, aconselhou.

― As duas são mães maravilhosas, queridas… tiveram excelentes mães como exemplo… ― Hoon Sang começou cheia de orgulho, mas foi rapidamente interrompida pelo marido.

― Mas é muita prepotência da sua parte falar isso, não acha mulher…

― Ah… papai. Está bem. Não discuta, pelo menos hoje…

― Mas é verdade… e nem falo só pela Hin Hee, seu velho chato ― a senhora rebateu direcionando-se a Ha Jin ― Mas pelo bom exemplo de família que nossa menina teve. Sua mãe é excelente, sua tia também. Mães maravilhosas, mulheres fortes… como Ha Jin não seria uma mulher e mãe excelente? E você, querida filha… nenhuma palavra é significativa o suficiente para dizer o quão forte e boa mãe você é.

― Preciso concordar com minha velha dessa vez… está certa, não tem como rebater.

― Sua história é incrível, Hin Hee ― a mãe de Ha Jin comentou também, cheia de respeito e admiração ― Só uma mãe verdadeira seria capaz de fazer tudo o que fez…

― É realmente incrível. Parece coisa de novela ― Hyoon Jin-hi, a mãe de Na Na também se posicionou.

― Mas é a vida e o que ser humano é capaz de fazer…

― Está bom! ― Shin adiantou-se para interromper a fala da mãe percebendo o tom que ela assumia. Aquele assunto sempre a colocava em um estado de tristeza profundo e ele o evitava sempre que possível ― Como a senhora teve forças e conseguiu fechar a loja hoje? Não está escravizando seus funcionários enquanto fica aqui se divertindo, não é, senhora Nyeo Hin Hee?

― Não estou escravizando meus funcionários, seu filho desnaturado ― falou com falsa irritação e os demais sorriram ― Dei folga para os cinco e fechei a padaria, sim, satisfeito?

― Imagino como o seu coração deve estar doendo por estar aqui e não lá… ― brincou e levou um cascudo da senhora, sentada ao seu lado.

― Mas está mesmo querendo levar umas chineladas, em garoto?

Uma nova onda de risadas dos integrantes da mesa. O motivo era o mesmo de sempre para aquelas discussões bobas entre mãe e filho: a dedicação intensa de Nyeo Hin Hee ao seu empreendimento.

Após o acidente de Shin, Hin Hee se desligou por completo da mansão Wang dedicando-se dia e noite ao filho, estando permanentemente ao seu lado esperando a sua completa recuperação.

Após o sumiço do filho naquela noite terrível, seu quase infarto pelo desespero de não encontrá-lo e o misto de sensações que vivenciou ao ver Shin entrar andando, ao lado de Ha Jin, pelas portas do hospital, ela compreendeu que ele estava bem e que seguiria dali para frente a sua vida, finalmente. Da mesma forma, ela resolveu que também mudaria seu rumo.

Sua primeira atitude foi, com os rendimentos que a empresa Wang lhe forneciam, comprar uma casa para os pais em um local mais próximo de Busan e de Shin. Em seguida vendeu a antiga casa e instalou a estufa para que os senhores continuassem naquele ofício que já eram tão habituados, mesmo que não fosse mais necessário.

Pouco tempo depois, após um período de pesquisas intensas com o filho e a nora, comprou um estabelecimento perto da sua nova casa e iniciou seu próprio negócio: uma padaria.

Desde pães caseiros e artesanais, bolos e tortas variados, lanches e salgados e os mais diversos tipos de doces, a grande maioria produzidos com as frutas cultivadas pelos pais, os mais deliciosos temperos poderiam ser encontrados ali com geleias caseiras feitas por ela e sua mãe. Em pouco tempo os sabores incomparáveis fizeram o pequeno comércio deslanchar e ficar conhecido em toda região e adjacências.

A jovem senhora, então, passou de governanta a empresária de sucesso, fazendo pais, filho e nora ainda mais orgulhosos de seu dinamismo, inteligência e audácia para os negócios.

Shin, sempre que possível, utilizava a dedicação exagerada da mãe ao seu empreendimento para falar sobre o seu autoritarismo e exploração aos funcionários, o que realmente não passava de brincadeira, pois mesmo exigente, a senhora era gentil e maleável com todos.

― Se continuar falando assim de mim vão acabar acreditando que sou uma carrasca…

― Sabemos que não é assim, Hin Hee… ― Hyoon Soh-ra saiu em defesa da amiga ― É esse menino que tem essa mania de exagerar com tudo.

― Lembra quando ele disse para Dae-hyun que se ele não fosse obediente eu iria sumir e fez eu me esconder por isso? ― o senhor Go complementou o pensamento da esposa ao se lembrar de um dos muitos momentos de brincadeiras do genro.

― Coitado do menino ― a senhora Soh-ra relembrou em meio às risadas ― A expressão do pobre pensando que o avô tinha desaparecido…

― Mas ele obedeceu, não é? ― Shin se justificou.

― Ainda bem que Taeyang não é assim ― Jin-hi comparou o genro da irmã com o seu ― Imagina se ele faz isso com os gêmeos…

― Quero nem pensar ― Kim Cheul comentou também. A fagulha da risada aumentando mais uma vez ― Ainda bem que Taeyang é tranquilo com as crianças…

― Mas eu também sou ― Shin falou injustiçado e Ha Jin riu do desespero dele.

― Só parece que meu filho voltou a ser criança depois de adulto… ― Hin Hee concluiu e ele a olhou com atenção.

― A idade é algo relativo e preciso passar por todas as fases da minha vida ao lado da minha mãe ― ele falou seriamente.

― Mas você viveu todas as fases ao meu lado, menino…

― Posso ter vivido, mas não com você como minha mãe…

Um silêncio se instaurou momentaneamente sobre os integrantes à mesa. Mãe e filho se olharam intensamente, uma conversa secreta que apenas os dois entendiam. Os olhos de Hin Hee brilharam em direção ao rapaz e ele, sem demonstrar qualquer constrangimento ou dúvida, moveu-se à sua cadeira e a abraçou, depositando-lhe um beijo carinhoso na bochecha.

― Mamãe… ― Dae-hyun se aproximou da mesa se direcionando a Ha Jin ― Seol está com alguma coisa estranha na boca e não deixa a Ha Na tirar…

― Ah… O que será? ― Ha Jin se moveu sobre a cadeira, levantando-se em seguida ― Com licença. Já volto!

― Venha aqui, Dae-hyun ― Hoon Sang chamou o neto e o sentou no colo, enchendo-o de cafunés e carinhos ― Eu tinha certeza quando vi a menina Ha Jin que eu teria bisnetos lindos… Vejam só… ― ela chamou a atenção de todos ― Existe um menino mais lindo que esse meu bisneto?

― Ele é a cara do pai, não tem como negar ― a senhora Soh-ra comentou observando o neto ― Não tem nada de Ha Jin.

― Mas a Seol é a cara dela ― o comentário foi da sua irmã, a senhora Jin-hi.

― Não acho… É uma mistura dos dois…

― Pelo menos não é a cópia exata de seu genro… ― a outra falou levemente azeda ― Os filhos de Na Na parecem miniaturas de Taeyang.

― Isso é verdade… Nunca vi parecerem tanto… ― Kim Cheul comentou também.

― Mas não é tão diferente com Dae-hyun… ― a mãe de Ha Jin falou mais uma vez e a senhora com o menino nos braços sorriu animada.

― Esse menino é lindo, meu meninão… ― falou com uma nova leva de cafunés no pequeno que se esbaldava com todo o carinho recebido.

― Ela diz isso, acha nosso bisneto lindo porque ele é a cara de Shin e, claro, Shin é a minha cara… Não é estranho que ela tenha essa opinião…

― Lá vai esse velho metido e convencido começar com isso…

― Vovó… ― Shin lhe chamou a atenção e ela parou a nova leva de insultos por estar na frente da criança.

― Aish… eu sempre sou a recriminada…

― É que a senhora é a que tem a língua mais solta, mamãe…

Uma nova onda de risadas recebeu Ha Jin à mesa. Nos braços, a pequena Seol ainda chorava por ter sido separada de um pedaço da decoração que mastigava com afinco e empenho.

Enquanto aquela conversa era travada, em seus pensamentos, Gun também travava um pequeno duelo. A ligação da mãe o havia comovido e por mais que se portasse de forma indiferente com a senhora, sabia que ela sofria ao modo dela e sentia falta dos dois.

Sentiu-se aflito, mas não sentia-se apto a ver a mulher, não sozinho. Aquela fraqueza que adquiriu nos últimos anos não o deixava irritado como seria no passado e, mesmo que não falasse abertamente a ninguém, acostumara-se com o sentimento familiar, com a possibilidade de tomar decisões importantes em conjunto, sem que as responsabilidades recaíssem todas sobre si.

Caminhou entre os convidados e se dirigiu ao quarto do irmão mais novo. Bateu à porta duas vezes e foi recebido em seguida. Jung parecia em ponto de ter uma crise de nervos, mas sorriu ao ver o irmão à porta.

― Acho que não foi uma boa hora para vir te encontrar ― Gun começou sem ao menos adentrar no quarto do mais novo ― Está muito nervoso. Acho melhor te deixar sozinho por agora…

― Não, hyung, entre, por favor ― Jung adiantou-se empurrando o irmão com gentileza para dentro ― Estou nervoso. Quero que isso comece de uma vez, mas Mi Ok ainda não está pronta…

― Ainda não?

― Yun Mi veio faz uns dez minutos me informar isso. Preciso ser bravo e confiante que tudo dará certo, mas não vou mentir para você que estou nervoso… Estou muito ansioso…

― Sobre o que? Por que está com esses pensamentos agora? Tem dúvidas se está fazendo o certo?

― Dúvidas? Claro que não tenho ― Jung comentou como se aquela fosse a maior loucura a ser cogitada ― Estou feliz que finalmente Mi Ok aceitou casar comigo… Não quis assumir mais cedo, mas é verdade que ela me enrolou bastante…

― Ela não te enrolou, irmão, ela apenas queria conquistar o que era dela por merecimento antes de iniciar essa nova fase na vida de vocês. Ela não está errada, você sabe disso…

― Eu sei, sim… Mi Ok é uma mulher maravilhosa. Ela jamais aceitaria viver sob minhas rédeas, vivendo de meus rendimentos… Acho que essa foi uma das coisas nela que mais me cativou… Como ela é segura e dona de si e de seus atos. Ela é maravilhosa…

― E você um bobo apaixonado… ― Gun sorriu de seu comentário e da expressão do irmão.

― Não vou negar ― o mais novo sorriu junto com ele.

― Mas, no fim das contas, parece que todos nós nos envolvemos com mulheres cheias de fibra e opinião própria.

― É verdade… E isso é bom.

― Nossa irmã é o melhor exemplo disso…

― Yun Mi sofreu muito e não desistiu… Fico feliz que ela esteja bem agora..

― Isso é bom.

― Fico feliz que esteja bem também, hyung.

― Eu sei que sim… ― Gun inspirou profundamente e prosseguiu ― E se sou quem sou hoje, devo muito a você por nunca ter desistido…

― Por favor, esse assunto de novo não.

― Serei grato para sempre, Jung.

― Por favor, vamos mudar de assunto… Somos irmãos, não tem o que agradecer. Você faria o mesmo por mim ― Gun olhou profundamente os olhos do mais novo. Eles sabiam que naquela situação, naquele momento, ele não teria feito o mesmo, mas hoje, sim, e era essa certeza que fazia com que Gun superasse os remorsos do passado.

― Quanto ao seu casamento, não se preocupe com nada. Dará tudo certo. Você se tornou um homem exemplar, Jung, e sei que será feliz ao lado de Mi Ok e se, por algum motivo, qualquer que seja, chegarem a se desentender, respire fundo, reflita e veja o motivo do problema. Converse e tenha em mente que você a ama e a escolheu para estar ao seu lado, então problemas serão supérfluos diante do sentimento de vocês e peça desculpas quando estiver errado. Não deixe de aceitá-las também.

"Também não se esqueça de continuar a conquistando todos os dias. Seja atencioso, carinhoso e a surpreenda quando ela menos esperar.

"A ajude com os afazeres, independente de quais sejam. Tenham momentos sozinhos, mesmo que seja fazendo um lámen borrachento para comer enquanto veem um drama bobo ou um filme antigo.

"Também não se esqueça da sua individualidade, muito menos da dela. A apoie para que possa receber apoio também. Tomem suas decisões em conjunto por mais bobas que sejam e andem lado a lado sempre.

"Seja seu amigo e confidente. Seja seu porto seguro, a certeza de que tem alguém em que pode confiar e não deixe de inovar na intimidade... isso é bem importante."

Jung sorriu, o ar quente escapando pelas narinas ao ouvir o irmão continuar.

― Não tenha vergonha de dizer que a ama, de exaltar suas qualidades e mostrar os defeitos. Cresçam juntos. Estejam juntos e sejam felizes. Nunca esqueça o real motivo que fez com que tomasse a decisão de casar com ela.

Gun encerrou seu pequeno monólogo e um discreto sorriso despontou em seu rosto. Jung, tocado e sentindo as lágrimas se formarem em seus olhos, saiu de onde estava e se aproximou do mais velho sem qualquer aviso prévio, o abraçando fortemente, recebendo dele bem mais que aquelas palavras, mas um amor fraterno genuíno.

― Muito obrigado por ser meu irmão, Gun ― falou, duas lágrimas intrusas descendo de seus olhos ― É muito bom ouvir você falando assim.

― Foram vocês que me ensinaram a importância disso tudo, de ser sincero, de sempre tentar...

― Estou muito feliz... feliz por estar conosco... por estar comigo.

― Eu também estou feliz, de verdade, finalmente.

― Eu te amo, hyung.

― Eu sei que sim... ― Gun brincou com o mais novo ― Obrigado por acreditar em mim… por confiar…

O abraço continuou por mais alguns instantes. Em seguida os dois se olharam profunda e intimamente, sendo despertos daquele momento por leves batidas à porta. Era a mãe de Mi Ok.

― Jung, querido… Mi Ok está pronta.

― Já? ― o rapaz se desesperou novamente, enxugando os olhos rapidamente. A mulher sorriu.

― Assim que estiver pronto, vá buscá-la, tudo bem?

― Sim, senhora. Obrigado.

A mulher fechou a porta e novamente os dois irmãos se encontraram naquele íntimo silêncio, Gun observando as têmporas do irmão começarem a suar. Respirou profundamente antes de iniciar aquele assunto, mas era necessário fazê-lo, não o poderia resolver sozinho.

― Jung… Eu preciso falar algo muito importante ― o rapaz o olhou aflito ― Mamãe me ligou há pouco.

― Te pediu para me convencer a desistir do casamento? ― Jung perguntou levemente alterado.

― Não… ― o mais novo olhou curioso para o mais velho ― Pelo contrário. Pediu que eu fosse buscá-la. Disse que queria estar junto da gente nesse momento, que queria nos ver…

― Nos ver… ou te ver?

― Nos ver. Nós dois. Jung, ela me pareceu verdadeira e senti vontade de dar essa chance para ela. Se até eu tive uma chance, por que ela não poderia ter?

― O que nos garante que ela não fará nada? Que não vai começar com seus shows de horrores? Que não vai desmerecer minha noiva e a família dela?

― Ela me disse que se fizesse isso nunca mais entraria em contato conosco…

― Eu não sei…

― Não posso tomar essa decisão sozinho, meu irmão. É a nossa mãe independente dos fatos…

Jung olhou novamente para o irmão. Aquela intensidade e intimidade que se criou mesmo que outro estivesse morando tão longe. Um relacionamento que se estreitou como nunca fora antes.

O rapaz respirou profundamente, uma expressão cheia de convicção, olhou para o irmão e afirmou com a cabeça. Gun respondeu o gesto afirmativamente e olhos e lábios de ambos sorriram sobre aquela decisão.

― Vou ligar para ela ― Gun falou e se adiantou até a porta ― Volto em aproximadamente trinta minutos e... eu também te amo, meu irmão.

 

Mi Ok estava linda, essa era a única certeza de Ha Jin ao entrar no antigo quarto de Shin e encontrar a amiga vestida em seu vestido de noiva dos sonhos. Desde o início ela imaginou que Mi Ok iria se vestir como um bolo de noivas, cheia de enfeites e brilhos com uma saia rodada com uns seis metros de largura, mas se surpreendeu. A amiga também amadureceu.

Mi Ok a olhou com alegria. A mãe, ao seu lado, levava um lenço nas mãos e enxugava os olhos de tempos em tempos ao contemplar a beleza da filha.

― Mamãe, pare de chorar… ― Mi Ok falou mais uma vez ― A maquiadora já foi embora e não tem como te retocar novamente.

― Eu sei, minha filha, eu sei… ― a senhora enxugou os olhos novamente e, respirando fundo, sorriu ― A verdade é que estou feliz. Muito feliz. Você está tão linda, Jung te ama tanto… Meu coração se alegra com isso, minha filha.

― Eu sei que sim…

― Você realmente está linda, minha amiga ― Ha Jin falou finalmente ― Radiante. Sei que serão muito felizes. Não tenho dúvidas do quanto…

― Obrigada, Ha Jin… Obrigada!

― Também vim te avisar que vamos atrasar alguns minutos…

― Por quê?

― A senhora Min-joo…

― O que tem ela? ― a jovem perguntou alarmada interrompendo a outra.

― Nada de mais, mas Gun e Jung resolveram lhe dar uma chance e Gun foi buscá-la para o casamento.

― Você está brincando com a minha cara há essa hora, Ha Jin? ― Mi Ok perguntou levemente irritada, confusa e esperançosa.

― Por que eu iria brincar sobre isso? ― a outra respondeu com desdém ― Todos já estão avisados. Felizmente nenhum deles se opôs à decisão dos dois.

― Espero que dê tudo certo… ― a noiva comentou mais para si do que para as outras.

― Vamos confiar que sim ― Ha Jin confirmou e se aproximou da jovem e a encheu de carinhos e mimos.

Na sala de visitas, onde agora os convidados esperavam o início da cerimônia, o ar havia ficado um pouco mais denso depois da notícia que Yoon Min-joo estaria entre todos em breve. Alguns burburinhos se iniciaram, mas logo foram abafados pelos herdeiros que, em parceria com os dois irmãos, torciam para que nada desse errado diante daquela escolha.

― O que acha de nos posicionarmos um do lado de Shin e o outro do lado da senhora Min-joo? ― Eujin perguntou para Sun ao tomarem algumas bebidas.

― Deixa de falar asneiras, garoto… Claro que isso não vai ser necessário ― Sun contestou assim que ingeriu o gole de sua bebida.

― E como pode ter tanta certeza, moleque? ― o outro desafiou.

― Porque a senhora Min-joo não é besta. Faz anos que ela tenta entrar em contato com nossos irmãos e faz anos que eles sempre a ignoram e dizem não. Acha que ela desperdiçaria a chance de retomar os laços com os filhos dessa forma?

― Hmm… faz sentido ― Eujin concordou após uns instantes de meditação ― Até que você não é tão idiota como sempre pareceu.

― E você continua sendo um grande babaca…

― Como tem coragem de falar assim com seu irmão mais velho ao qual você deve respeito e obediência?

― Obediência a você? ― Sun gargalhou ― Por favor, Eujin… Vá tomar banho e deixe de se sentir a última bolacha do pacote.

― Eu sei por que está tão áspero… ― Eujin continuou. O tom brincalhão impregnado em suas palavras ― Está se sentindo ofendido e diminuído porque eu serei pai e você, não ― gargalhou e se surpreendeu ao ver o irmão cortar sua gargalhada com uma gargalhada própria.

― Como você é ingênuo, hyung… ― Sun foi totalmente sarcástico ― Com que certeza pode afirmar algo assim?

― A certeza que tenho é que sou o primogênito da mamãe… ela sempre me amou mais e agora vou lhe dar um netinho. Sou mais amado que você.

― Claro que não! ― nova gargalhada rompeu dos pulmões de Sun ― Só por essa sua prepotência não vou te contar a novidade…

― Que novidade?

― Não te interessa, senhor preferido de todos.

― Me diz logo, seu moleque chato!

― Claro que não. Vai me forçar a falar?

― Olha que posso fazer isso… Não faz muito tempo que você era um pirralho ranzinza e eu te fazia dizer o que eu queria ouvir…

― Posso ser ranzinza e mais novo que você, até menor… mas me tornei bem mais resistente que no passado, seu palerma.

― Olha como se direciona a mim, pivete irritante. Me diga logo…

― Não direi…

― Diga de uma vez!

― Por que vocês dois não param com essa infantilidade eterna e vão cuidar de suas mulheres e filhos? ― a mãe dos dois repreendeu enquanto se servia com suco.

A disputa entre os dois parou repentinamente. A boca de Eujin se abriu em um exagerado ‘O’ ao passo que os olhos se esbugalhavam ao observar o cinismo presente na expressão do irmão.

― Seu falso… ― Eujin recomeçou as acusações ― Seu grande mentiroso desleal. Como teve coragem de me enganar? Como assim você conseguiu me enganar. E a Doh Hea, aquela pequena mentirosa… Rindo de mim enquanto eu me gabava para a mamãe…

― Para você deixar de ser tão exibido, querido hyung…

― E Sun também não sabia até agora a pouco ― Eun Tak falou antes de se distanciar dos filhos ― Parem com essas disputas bobocas. Eu amo os dois igualmente e amarei os meus netos da mesma forma.

― Você não sabia? ― Eujin perguntou quando a mãe se distanciou.

― Não… Hea me contou logo depois daquele momento quando discutimos.

― Cara… Deve ter sido pesado saber disso aqui, assim, de repente.

― Eu estou anestesiado até agora ― Sun comentou bobamente ― Eu não sei bem o que pensar… A ficha não caiu, sabe?

― Se sei… Se sei… ― Eujin continuou saudoso ― Quando Hye me contou que suspeitava estar grávida eu quase desmaiei. Eu caí sentado no sofá de casa e perdi o ar por alguns instantes. Ela que em trouxe de volta, essa mulher… Ela é forte, a Hye. Eu a amo…

― Eu tive uma vontade gigante de chorar… Eu não sei o motivo, só sei que senti. A sensação de que um sonho se realizou, entende? Como se eu sempre quisesse isso a minha vida inteira e, finalmente, vou poder realizar…

― Eu sei como é. É uma sensação louca, não é? ― Eujin sorriu e bateu de leve no ombro do irmão ― É muito louco passar por isso… Você vai ver só quando a Hea começar a ter uns desejos estranhos por umas comidas que você nunca viu na vida...

― Agora que comentou… Acho que ela já começou com isso. Semana passada ela comeu uma cebola inteira como se fosse maçã e estava comendo lámen com sorvete de morango dias antes de viajarmos para cá.

― Então você precisa ser mais atento, meu irmãozinho… São os sinais. De agora em diante, as coisas vão piorar para você.

― Não quero pensar nisso agora. Ainda estou extasiado com a notícia que serei pai…

― O que? ― Shin, que passava perto dos dois, ouviu aquela novidade e sorriu amplamente ― Você também? Não acredito! Eita, moleque… Não dorme no ponto, eim…? ― Sun sorriu abobalhado, o irmão mais velho o parabenizando e chamando Sook e Taeyang com gestos.

― O que está fazendo? ― Sun perguntou alarmado.

― O que mais ― Shin continuou tranquilamente ― Informando para os nossos irmãos essa grande novidade!

― Mas…

― Sem mas nem meio mas, pequeno Sun. Essa é uma notícia maravilhosa e precisamos divulgar.

― O que houve? ― Taeyang perguntou assim que se aproximaram.

― Adivinhem só… ― Shin continuou ― Adivinhem quem será o próximo Wang a ser pai?

― O que? ― Sook tomou sobre si a mesma expressão duvidosa que Shin tomara instantes atrás.

― Está brincando? ― Taeyang perguntou incrédulo.

― Por que tanto alarde por isso? ― Sun perguntou irritado ― Por que também não posso ser pai?

― Ah, irmão… Não é que não possa ― Sook continuou ― É que é o nosso caçula, nosso menininho… É estranho perceber que não é mais um moleque birrento, mas sim um homem…

― Por que todos me acham birrento?

― Porque você é, moleque ― Taeyang confirmou dando um tapa na nuca do rapaz.

― Como foi isso? ― Shin perguntou estupidamente.

― Sério que quer que ele conte como foi? ― Eujin perguntou fazendo uma expressão de nojo.

― Não ― Shin gargalhou daquela bobagem ― Estou feliz por você, irmão. Mais um para o time dos pais…

― E essa família só aumenta ― Sook comentou igualmente animado.

― Yoseob deve estar no céu com a notícia ― Taeyang comentou e Sun gelou por dentro.

― Ele ainda não sabe… ― confessou ― Não faço ideia da reação dele, de como vamos contar…

― Não se preocupe. Ele vive dizendo que gostaria de ter netos, que vocês voltassem para a Coreia… Tenho certeza que tudo será fácil com ele ― Taeyang acalmou.

― Só vai precisar ouvir uns vinte ou trinta minutos de impropérios como foi comigo por não serem casados, mas depois as coisas se acertam… ― Eujin falou calmamente para o mais novo e uma nova sessão de cascudos e felicitações iniciou-se.

 

Ainda estavam naquele momento de fraternidade exagerada quando os murmúrios normais de toda festa foram silenciados aos poucos. À porta, Yoon Min-joo de braços dados com Gun avançava pela sala em direção ao quarto de Jung. Rapidamente, tão quanto o silêncio dos convidados, as conversas foram retomadas.

― Jung? ― o rapaz ouviu o nome ser chamado assim que a porta abriu ― Mamãe está aqui.

― Está lindo, meu filho ― Min-joo falou se aproximando do rapaz, a mão adornada com anéis caros indo até o rosto dele ― Incrivelmente lindo.

― Obrigado… mamãe ― respondeu levemente constrangido sem saber o que sentia, de fato. Mesmo que ela insistisse em sempre ligar e por mais que eles se importassem com seu bem-estar, já fazia alguns anos desde a última vez que estiveram tão próximos.

― Estou feliz em estar aqui… não se preocupe, não farei nada para atrapalhar o seu casamento. A única coisa que eu queria era vê-los, saber que não os perdi por completo.

― Tudo bem ― o mais novo respondeu ainda confuso com aquela situação.

― Agora vá… sei que a cerimônia já atrasada. Não quero que demore ainda mais.

A cerimônia ocorreu da melhor forma, tudo de acordo com o desejo dos noivos. Mi Ok e Jung, todos os sorrisos, adentraram à sala onde celebraram o casamento de mãos dadas, sentimentos aflorados e a certeza da escolha que fizeram.

Os pais da noiva, emocionados com tudo o que vislumbravam, tinham os olhos brilhantes ao contemplar os dois apaixonados diante do celebrante lerem seus votos e selarem com um breve beijo a união que, a depender dos dois, duraria para sempre.

Os convidados, igualmente emocionados por tamanho sentimento que envolveu o ambiente da casa Wang, renovavam votos de amor eterno entre si, em secreto, confidenciados apenas ao ouvido do outro. Alguns convidados almejavam a alegria para o casal, outros passaram a sonhar com o seu próprio casamento. O sentimento de amor envolveu a todos do início ao fim.

Aos poucos, ao visitarem seus convidados e agradecerem por suas presenças, Jung e Mi Ok pareciam compreender que, finalmente, eram, definitivamente, um do outro. Votos entre os dois eram ditos nos intervalos entre as mesas, segredos de amor eram confidenciados ao caminharem lado a lado. Estavam felizes.

Felizes e observados de longe pela matriarca do noivo. Yoon Min-joo não vestia as tradicionais vestes que as mães usavam durante o casamento de seus filhos. Ela também se sentara mais distante, evitando, de alguma forma, o foco dos convidados.

Não estava satisfeita com aquela união, assim como não conseguia aceitar o casamento do primogênito com aquela criatura vinda de uma região tão inferior. De toda forma, ainda mais agora, resolveu, em sua grande sabedoria, ou a que achava que tinha, ignorar as escolhas dos filhos e desfrutar, finalmente, das suas presenças.

Seu maior intuito, naquele momento, era trazer os dois para perto de si mais uma vez. Foram anos de solidão e abandono que ela não gostaria de vivenciar novamente. Se para não estar sozinha, abandonada com aquela sensação constante de estar na sarjeta, precisava aceitar aquelas duas lambisgoias, ela aceitaria.

A tal Lívia, ao menos, lhe dera um belo neto. Uma miniatura de Gun e ela relembrou com sentimentos felizes a época em que o filho era ainda daquele tamanho, de como era educado e inteligente, assim como Daniel.

Sobre essa pobretona que adentrava no seio da sua família naquele fim de tarde, um sentimento de impotência por não ter convencido o mais novo, quando teve oportunidade, de separar-se dela e focar em garotas que estava à sua altura. Essa, ao menos, era bonita, parecia ser educada, mesmo que pobre e ela pedia aos céus, ou a quem quer que pudesse lhe conceder, forças para suportar essas duas mulheres.

― Percebi faz um tempo o clima nessa casa se fechando ― Li Chang Ru comentou ao se aproximar da mesa de Min-joo tirando-a de seus pensamentos mais profundos ― Era você deixando tudo mais escuro e pesado.

― O que está fazendo aqui, sua urubu velha? ― Min-joo rebateu altiva tomando a taça na mão e a levando aos lábios. Ignorou a outra por completo.

― Senti o cheiro da carniça podre e precisei me aproximar para ver de perto o quão estragada ela está…

― Não vou perder meu tempo precioso gastando do meu vocabulário com você, sua abutre dos infernos. Volte para o pardieiro de onde veio e de onde não deveria ter saído.

― Como é mal educada, meu Deus ― a mais velha balançou a cabeça em negativa sentando-se à mesa ― Todos esses anos no exílio não foram o suficiente para você aprender a frear essa sua língua enxerida?

― Não preciso refrear nada quando se trata de você, sua velha mexeriqueira. Se puder me fazer esse favor, retire-se da minha presença, não sou obrigada a passar o tempo que me foi concedido aqui olhando suas fuças enrugadas.

― Ah… Mas era sobre isso que eu queria falar, de fato ― Chang Ru iniciou sua fala ofendendo a outra ― Sei que temos nossas diferenças, jamais vou conseguir te perdoar pelas atitudes que tomou no passado e levou por toda a vida, pelos estragos que fez na vida dos seus filhos…

― Mas que velha…

― Psiu! ― Chang Ru fez com que a outra se calasse ― Nunca vou conseguir te perdoar pelo que fez a Shin, a Gun e a Jung. Eles não mereciam ter você por perto, mas, e esse é um grande "mas" ― enfatizou a palavra ― estou feliz que tenha conseguido o perdão de seus filhos.

Min-joo olhava atentamente para a outra. Esperava todos os insultos, como era de praxe há mais de trinta anos, mas aquelas palavras pegaram a senhora de surpresa e ela não soube como rebater.

― Não deve ser nada fácil ser afastada dos filhos ― Chang Ru continuou pensativa ― E isso me lembra o que você e aqueles homens estúpidos fizeram com a pobre Hin Hee… O bom disso é que você conseguiu sentir na pele, ao menos que seja 1%, a dor que essa pobre mulher sofreu.

"Mas, assim como ela, seus filhos voltaram a pairar sob suas asas. Diferentemente de Hin Hee que realmente merece todo o amor que recebe de Shin, você não o merece, mas não posso desconsiderar o fato de que você é mãe. Gosto de me iludir imaginando que suas escolhas foram todas movidas em prol do bem deles… Sei que estou me enganando, mas prefiro acreditar nisso. Fico feliz que eles tenham te aceitado de volta."

― Não preciso de nada que venha de você, muito menos dos seus sentimentos falsos…

― Não sou falsa em nenhuma das minhas palavras. Você realmente não merece, mas seus filhos foram contagiados pelo amor que só uma família verdadeira oferta e conseguiram buscar no fundo de seus corações um sentimento bom o suficiente para perdoar os anos de tortura que viveram ao seu lado. Espero que isso não se repita.

― Não quero seus conselhos, sua velha gagá. Melhor dar entrada em um asilo de uma vez e nos poupar da sua presença insignificante.

― Eu sei que concorda comigo e sei que sabe que eu estou certa, então deixe de ser tão soberba e prepotente. Ao menos agora, de agora em diante, coloque seus filhos acima das suas próprias idealizações e seja feliz com a felicidade deles. Ambos estão bem e realizados. Seja diferente com seu neto e possíveis netos que terá daqui para a frente... Continuarei me enganando acreditando que você está feliz também.

― Sua velha… ― ela rebateu pelo simples costume, mas não havia o tom agressivo de sempre em sua voz.

― Vejo que a reunião das ex já começou ― Ah Ra se aproximou da mesa com sua própria taça e puxando uma cadeira, se sentou. Min-joo revirou os olhos, mas não reclamou.

Não muito longe dali, Gun, Shin e Taeyang, sentados juntos, observavam o início daquela interação levemente alarmados. De outra mesa, Sook e Yun Mi, juntamente com Jin In, que conhecia através de sua esposa o passado das senhoras, também observavam a aproximação. Eujin e Sun, que falavam bobagens ao recém-casado, juntamente com ele, pararam momentaneamente suas implicações para observar também.

Todos os irmãos se olharam de onde estavam, sem alardes ou intervenções. Mudos, decidiram dar para as senhoras também aquela nova oportunidade, Eujin fechando os olhos fortemente, desacreditado, ao ver a mãe se aproximar da mesa também.

Aquilo parecia uma forma de reunião entre elas e a métrica era sempre a mesma. Em silêncio, torciam para que nada saísse do controle.

― Boa noite, senhoras ― Eun Tak sentou-se em seguida ― Estão todas bem? Fazia algum tempo que não nos encontrávamos todas juntas…

― O que você quer aqui? ― Min-joo perguntou para a mais jovem em seu tom superior ― Na verdade, nenhuma de vocês deveria estar aqui.

― Vê-se logo o quão mal agradecida você é ― Ah Ra falou petulante, muito mais confiante que dez anos atrás ― Estava aqui sentada, desenganada, sozinha… Deveria nos agradecer por nos ausentarmos de nossas famílias para doarmos um pouco da nossa companhia a você.

― Mas que estúpida ― Min-joo ofendeu após uma gargalhada ― Não estava sozinha e prefiro muito mais o silêncio e a solidão que ter de partilhar meus meus preciosos momentos com vocês, suas invejosas…

― Invejosa? Eu? ― Chang Ru rebateu eufórica, gostando daquela dinâmica ― Tem certeza que eu sou a invejosa? Lembre-se que eu fui a primeira senhora desta casa…

― Não importa qual a sua posição, broaca enrugada, eu sempre serei a verdadeira dona e senhora desta casa.

― Aigooo… Não é bem essa a verdade ― Ah Ra se colocou de novo, gargalhando ― Todos os funcionários sempre disseram que a dona dessa casa foi a Eun Tak… Hoje ela foi superada por minha nora, Na Na ― colocou cheia de orgulho ― Você nunca foi a senhora desta casa, porque nada nem ninguém nesta casa jamais gostou de você.

― Uou… ― Chang Ru aplaudiu Ah Ra ― vejo que ser avó te fez bem. Sua língua está mais afiada e as colocações muito mais pertinentes. Parabéns!

― Obrigada, senhora ― Ah Ra fez uma breve vênia para a mais velha e Eun Tak falou:

― Mas não sei se fui a senhora desta casa, de toda a forma. Sempre achei estranho viver aqui…

― Isso porque Hansol era um estúpido ― Chang Ru foi enfática ― Aquele homem, de formas diferentes, prejudicou cada uma de nós…

― Mas isso já passou de toda a forma ― Eun Tak continuou ― E mesmo que Hansol não tenha sido feliz em suas escolhas, devemos ser gratas a ele porque foi através dele que tivemos nossos filhos.

― Isso é… ― Ah Ra falou novamente, o tom orgulhoso muito evidente em sua voz ― Sou feliz pelos filhos que tenho. Taeyang é um filho maravilhoso, um homem forte, honesto e decidido, e ótimo marido e pai. Tem dirigido a empresa nos últimos dez anos com maestria e todos o adoram. O mesmo digo de Yun Mi. Foi problemática no início, mas era reflexo do que eu impunha para ela. Hoje minha filha é motivo de orgulho para mim onde quer que eu esteja. Não poderia querer filhos melhores…

― Digo o mesmo dos meus meninos ― Eun Tak foi a próxima, um sorriso de nostalgia e admiração ― Mesmo com todos os problemas e dificuldades que enfrentaram, mantiveram sua essência inabalável. Hoje são homens formidáveis, realizados em seus sonhos, felizes em suas vidas sentimentais e os mais dedicados à mãe. São maravilhosos…

― Assim como o meu Sook. O melhor filho, o melhor marido, o melhor pai, o melhor profissional. Cheio de fibra e bondade em seu coração. Um homem atencioso, disposto a ouvir a todos e a tentar, de todas as formas, entender os problemas, aconselhar… Meu Sook é incrível, o melhor…

As senhoras se calaram e olharam para Min-joo quando perceberam que ela não continuaria aquela demonstração pública de amor às crias. A mulher em seu vestido turquesa e adornada com suas joias de ouro bebericou novamente a sua bebida e ignorou por completo as demais.

― Mas os seus filhos também são formidáveis ― Ah Ra continuou aquele diálogo unilateral e Min-joo a olhou desconfiada ― Antes, mergulhada em minha própria soberba e desejo de sobrepor-me, não assumiria, mas eles o são e o tempo em que vivi aqui foi o suficiente para perceber.

"Gun é um homem excepcional. Tem garra, firmeza e persistência. Não desiste fácil do que quer e assume o que tiver de fazer para alcançar seus ideais. Infelizmente, por ser influenciado negativamente por você, usou toda a sua esperteza para prejudicar os outros e se prejudicou também. Hoje, ouvindo o que Taeyang fala dele e percebendo o quanto se aproximaram, percebo que ele sempre foi um bom rapaz, apenas se desviou com más influências e conseguiu voltar ao seu caminho quando se libertou delas…"

― Está querendo dizer o quê com isso, sua bruxa brega?

― Isso mesmo que você entendeu ― Ah Ra continuou sem sofrer qualquer intimidação ― Já Jung, esse menino tem um coração de ouro, enorme e cheio de bondade. Sempre me surpreendeu que fosse tão bom vindo de quem veio.

― Olhe como fala, sua gralha enlatada ― Min-joo, ofendida, recomeçou seus insultos.

― Deixe de ser tão mal-agradecida e receba essa oportunidade de ouro ― a outra continuou sem preocupar-se ― Seus filhos estão te dando a oportunidade de se aproximar deles. Deixe de ser tão soberba e preconceituosa e se alegre com seus filhos, que são homens excelentes.

― Concordo com isso, senhora Min-joo ― Eun Tak também se posicionou ― E mesmo que a senhora não dê a menor importância para a minha opinião ou as dessas senhoras, repense como tem vivido pelo seu bem e pelo bem de seus filhos. A vida, utilizando-se de seus filhos, tem lhe dado uma nova chance, uma segunda chance, e a senhora pode escolher se continuará fazendo tudo como fez até agora ou se resolverá seguir por outros caminhos…

― Vocês são umas chatas insuportáveis…

― Acho que deveríamos marcar mais encontros como esses, o que acham? ― Chang Ru instigou as demais, direcionando-se para Min-joo em seguida ― Talvez o que esteja faltando no coração gelado dessa senhora é seja o convívio com boas pessoas que a auxiliem a caminhar por lugares melhores…

― E essas boas pessoas são vocês, por acaso? ― Min-joo debochou.

― Quem mais seria, sua bruxa engessada? ― Chang Ru desdenhou e, tirando o aparelho celular da bolsa, anotou o número das outras duas senhoras antes de passar o aparelho para Min-joo ― Vamos, deixe de ser tão rabugenta e coloque seu número ai. Vamos marcar de beber qualquer final de semana desses…

― Não saio para beber com pessoas de baixa classe…

― Blá, blá, blá… ― Ah Ra debochou também ― Pare de ladainha e coloque o número aí de uma vez, sua bruxa.

― Olha como fala comigo, perua sem penas…

― Coloca isso logo. Que coisa irritante ter de ficar insistindo com você.

Tomando o celular da senhora Chang Ru nas mãos, Min-joo se viu obrigada a adicionar o seu próprio número e o deixar disponível para aquela mulher. Em seu íntimo não pode deixar de pensar na possibilidade de não precisar, em algum momento, continuar bebendo solitária entre as paredes frias de sua cobertura.

Ouvindo aquelas gralhas irritantes comentando sobre o possível encontro que marcariam em breve, Min-joo desviou o olhar, os ouvidos e a atenção para os filhos. Reparou como Gun parecia saudável, leve e feliz e lembrou-se com mágoa e da expressão angustiada que ele tinha quando ainda obedecia as suas ordens.

Jung, por outro lado, era a personificação da felicidade naquele momento. Nunca vira o filho sorrir tão abertamente em sua companhia como sorria ao lado daquela moça, uma moça sem berço e sem classe, mas que era capaz de arrancar dele o mais sincero sorriso de felicidade.

E Jung sorria abertamente, a mão dada à da esposa, conversando com seu cunhado, Han Ok. O jovem também tivera uma boa chance em sua vida há aproximadamente sete anos.

Depois da guinada que a Wang S.A. sofrera sob a direção de Taeyang e Yun Mi, as produções aumentaram substancialmente e, para suprir as demandas, nacionais e internacionais, os líderes da empresa entraram em acordo e contratariam novos funcionários.

A notícia espalhou-se rapidamente e currículos de várias regiões foram entregues ao RH. Inicialmente Jung pensou em indicar o cunhado aos irmãos, mas depois de uma conversa de Mi Ok onde o irmão dissera que conseguiria essa vaga sozinho, Jung apenas resolveu desistir e observar à penumbra.

Tudo foi como Han Ok disse. De todas as etapas de seleção ele foi um dos primeiros. Ao final, foi selecionado para trabalhar na fábrica, na linha de produção. Em pouco tempo conseguiu algumas promoções e agora era chefe do setor de montagem de motores. Tudo conquistado por seu esforço e empenho e só permitiu que Mi Ok o apresentasse como seu irmão aos cunhados quando conseguiu se estabilizar na fábrica.

― Eu já estava começando a duvidar que vocês fossem casar, de fato ― Han Ok falou para os dois. A esposa ao lado, Eujin se aproximando também.

― Mas isso porque sua irmã passou quase dez anos enrolando o pobre do meu irmão ― saiu em defesa do outro naquela pequena brincadeira ― Se fosse por Jung, os dois tinham casado há muitos anos, eu sei disso…

― Vocês vão me culpar por isso para sempre, não é? ― Mi Ok falou sob um sorriso brincalhão ― Enrolei mesmo… Quando me vi sem possível desculpas, precisei dar o braço a torcer e aceitar casar com esse rapaz…

― E que grande sofrimento deve ser para você, cunhada… Eu entendo ― Eujin falou e levou um peteleco de Jung.

― O importante é que estão juntos, finalmente, e papai não vai falar mais que você está enrolando a minha irmã…

― Olha só… Vocês se esqueceram de atualizar o pai de vocês sobre quem estava enrolando quem  ― Eujin brincou novamente e Jung gargalhou, engolindo a risada em seguida, ao ver a mãe se aproximar deles.

― Mamãe… está tudo bem com a senhora? Está gostando da festa?

― Sim… Estou gostando. Está tudo muito bonito.

― Que bom que está gostando.

― Obrigada por ter vindo… eomeoni ― Mi Ok encheu-se de coragem antes de proferir aquelas palavras, mas mesmo que a senhora tenha inspirado fortemente ao ouvir sua voz direcionar-se a ela, não houve embates e a Min-joo apenas lhe acenou positivamente com a cabeça, um gesto rápido e discreto. Os demais se afastaram discretamente da conversa dos três.

― Eu… quero dizer que estou feliz por você estar feliz, Jung ― Min-joo continuou falando diretamente para o filho ― Também estou feliz por vivenciar esse momento aqui, com você. Agradeço por estar aqui.

― Eu que agradeço, mamãe. Agradeço que a senhora esteja aqui…

― Quero que seja feliz, filho… Quero que sejam felizes. Que sejam felizes em suas escolhas e que vivam bem.

― Obrigado, mãe.

― Obrigada!

― Sejam felizes ― ela falou novamente antes de se afastar e retornar para a sua mesa. As outras senhoras ainda sentadas com ela, a sua espera, regozijadas por aquele altruísmo.

Observando a senhora sentar-se à mesa e ser recebida com expressões de alívio e impressionismo, Jung trouxe a esposa para perto de si em um abraço e depositando-lhe um beijo carinhoso sobre a bochecha, disse em seguida:

― Não se preocupe mais… Tudo ficará bem agora.

...

― Estou impressionada que essas senhoras ainda não começaram um duelo ― Hea comentou para Sun enquanto se serviam no buffet.

― Preciso admitir que todos estamos ― Sun respondeu para ela enchendo seus dois pratinhos ― Logo de início pensamos que elas se engalfinhariam, mas já passou um bom tempo e elas estão agindo civilizadamente… Acreditamos que podemos descansar sobre isso, afinal.

― Desde que me entendo por gente que vejo essas senhoras se maltratarem mutuamente… é como se fosse uma espécie de reunião entre elas. É muito esquisito.

― É normal… e é isso mesmo. É como um hábito, Hea. Elas são felizes quando estão juntas declarando ódio umas às outras. No fundo, meus irmãos e eu achamos que elas se adoram e usam essas discussões apenas para desviarem a atenção disso.

― É uma boa teoria… ― a jovem concordou colocando um dos canapés na boca, falando com a boca cheia em seguida ― Isso está maravilhoso. As comidas daqui também tem evoluído. Lembro dos buffets do passado e como era insuportável comê-los.

― Tudo está mil vezes melhor depois que Na Na chegou aqui ― Sun concordou e sorriu da jovem com a boca cheia.

― A evolução da sua família é formidável… a sua é uma das melhores.

― Acha que também evoluí?

― Sim… Da água para o bom vinho ― comentou olhando-o intensamente ― Nunca imaginei que te veria nos EUA com uma mochila nas costas, Sun. Imagina o susto que tomei?

― Sempre fui tão sem atitude, não é? ― perguntou entristecido.

― Sim… você foi e, para mim, foi um choque te encontrar na frente do apartamento me esperando. Nunca vou esquecer a cara das meninas me dizendo para não voltar para casa porque tinha um homem rondando o apartamento e elas iam chamar a polícia… Quando recebi a sua foto eu gelei, definitivamente, eu gelei.

― Eu não podia invadir, não é mesmo? Sabia que era ali que você morava, então a única coisa que eu poderia fazer era esperar.

― Ainda não acredito que papai te deu o endereço de onde eu morava ― ela sorriu nostálgica ― Essa foi outra grande surpresa!

― Meus irmãos não acreditaram em mim quando eu disse que iria… apenas Jung me apoiou. Eu estava cansado, Hea, cansado de te perder todos os dias. Eu precisava tentar, mesmo que fosse a última vez…

― E a única coisa que eu queria era que você se posicionasse, que você entendesse de uma vez o que sentia. Eu me afastei com o único propósito de te deixar livre, à vontade para sentir e deixar de sentir o que fosse, assim como eu… Era a prova de fogo e eu arrisquei tudo nisso. De uma forma ou de outra acabaríamos bem, ou nos separaríamos de vez e viveríamos nossas vidas longe um do outro ou nos aproximaríamos em definitivo…

― Fico feliz que tenha sido a segunda alternativa…

― Eu muito mais… ― Hea recebeu um beijo rápido de Sun, escondidos dos olhos dos demais.

― E como vai ser com seu pai? Eu estou com medo…

― Ainda não sei, mas muita gente já sabe. Não demora muito até que ele descubra também então é melhor falarmos de uma vez…

― Foi por isso que você disse que não queria mais ficar viajando e voltar para a Coreia?

― Também… Também sinto saudade do meu pai e sei que você sente falta da sua família também…

― Sim… Eu sinto.

― Então nós conversamos com papai amanhã… Ele vai reclamar um monte, mas depois ele vai aceitar. Ele é louco por crianças e sempre me falou sobre netos… Não vai ser tão complicado, pode acreditar…

― Vamos casar…

― Que?

― Vamos nos casar… Quero casar com você. Não precisa ser nada assim, se você não quiser.  Podemos simplesmente oficializar como Eujin e Hye fizeram e pronto. Eu quero muito isso, Hea… Não sabia como te falar, mas agora, diante de tudo, me sinto seguro em propor…

― Vamos casar, sim! ― a moça respondeu abraçando o rapaz ― Foram mais de vinte anos esperando por esse dia…

― Sério?

― Eu te amo desde que te conheci, Sun… Tínhamos o quê? Cinco ou seis anos? Nunca compreendi a intensidade daquele sentimento, mas eu apenas senti... Senti e esperei.

― Vamos casar, sim! Não aceito mais ser aquele boboca estúpido que não conseguia identificar o que sentia. Meu peito bate descompassado ao teu lado. Me sinto completo com você, minha querida Hea… Quero você ao meu lado para sempre.

― Você me tem… sempre teve e, em breve, terá um mini Sun ou uma mini Hea para amar ainda mais… nosso amor vai se multiplicando… eu estou muito feliz, Sun, muito!

― Sou tão feliz quanto você e não vejo a hora de ensinar vários jogos para esse bebê lindo… ― comentou carinhoso, a mão descendo até a barriga quase imperceptível da jovem ― Ou podemos colocá-lo na esgrima, o que acha?

― Acho que seremos felizes… muito mais do que somos agora.

― Sim… Seremos sim… Acho que podemos ter uns quatro filhos, o que acha? Duas meninas e dois meninos…

― E como vamos definir se serão meninos ou meninas? ― ela sorriu do comentário e lembrou-se do que a sogra lhe falou antes.

― Não sei… Vamos tentando até dar certo…

― E por que quatro?

― Também não sei… só um desejo do meu coração…

― Sun…― ele a encarou nostalgicamente, aquela sensação de quietude e certeza, de paz e completude.

― Teria sido bom se nós tivéssemos vivido assim desde o início…

― Podemos viver assim para sempre…

― Eu te amo, Hea. Definitivamente, eu te amo!

Você realmente não acha mais prudente tirar a sua mãe daquela mesa? ― Sun Hee perguntou ao marido.

Ela e Sook estavam sentados à uma mesa, abraçados, lado a lado no melhor estilo casal de namorados. A mulher, aflita com a aproximação das ex senhoras Wang, tentava convencer o marido daquela situação talvez tomar rumos indesejáveis.

― Não… olhe bem: elas só estão conversando, interagindo entre elas do modo delas… vamos dar uma oportunidade às senhoras, ao menos uma vez.

― Realmente, elas não parecem estar discutindo ― ela comentou observando melhor e as mulheres pareciam bem envolvidas em um tema qualquer ― Acho que você tem razão, querido… por que não, não é mesmo?

― Sim… ― Sook retomou a fala ― vamos deixar as coisas seguirem seu próprio fluxo. Veja como tudo parece estar indo bem, finalmente…

Eles olharam mais um pouco, de forma mais abrangente. Conseguiram ver os irmãos interagindo entre si, com seus filhos ou companheiros. Olharam os convidados, animados naquela reunião, conversando sem se preocuparem com apostas, com a próxima discussão realizada pelos parentes. Tudo corria bem.

― Parece um sonho ver nossa família assim, finalmente ― Sun Hee comentou se aconchegando nos braços do marido ― Era uma realidade que eu não tinha esperanças de alcançar um dia… não com os Wang.

― Eu te entendo, meu amor… entendo esse pensamento. Tantas vezes conversamos sobre isso, sobre a desunião entre meus irmãos…

― É como se todos os problemas só estivessem esperando que as verdades fossem reveladas para que os pedidos de desculpa se iniciassem… para que todos entendessem a necessidade que cada um tem no outro…

― Meu pai escondeu muitos erros, cometeu muitos pecados e se massacrou muito, além de nos massacrar e a muitos outros enquanto cometia seus erros…

― Mas ele se arrependeu…

― E eu acredito que foi o seu arrependimento, o seu pedido verdadeiro de desculpas que nos deu a oportunidade de nos perdoarmos também…

― A sensação que tenho é que a vida deu uma nova oportunidade a vocês…

― Exatamente. É como se estivéssemos vivendo uma nova vida… uma segunda chance para revermos nossos problemas, nossos erros cometidos no passado…

― É muito bom ver a todos finalmente unidos.

― Tenho a esperança de que seremos assim daqui para frente… acredito que conseguimos aceitar essa nova chance de braços abertos, todos nós… estamos finalmente fazendo o nosso melhor, o nosso melhor unidos… Finalmente a maldita maldição sobre a disputa pela liderança da empresa que nos desunia foi quebrada…

Os dois ficaram em silêncio concordando sobre aquela conversa. Abraçados, confortados um nos braços do outro, passearam seus olhos novamente pela grande sala de estar da Mansão da Lua. Diante de seus olhos Eujin sorria bobamente para Nahm Hye. Os dois dançavam abraçados ao som da melodia tocada pelos instrumentistas. Pareciam deslizar ao ritmo da música.

― Preciso dizer que essas férias na Coréia vieram em uma boa hora! ― Eujin falou animado ao ouvido de Hye.

― Estava pensando… O que acha de voltarmos para cá?

― Acho que podemos começar a pensar melhor nisso… Tenho um bom nome e construí uma boa carreira…

― Não é a toa que a Universidade de Artes te mandou aquele convite ― ela falou pomposa conhecendo as artes de massagear o ego de Eujin.

― Sim, sim… Estou realmente tentado em aceitar. Seria uma experiência formidável e, de quebra, poderíamos ficar próximos de nossas famílias. Algum problema em morar em Seul?

― Nenhum, meu amor. Só quero estar com você. Se estivermos juntos, sei que tudo ficará bem.

― Eu tenho a melhor esposa do mundo ― ele a olhou e continuou ― Nunca vou me cansar de estar com você, Hye…

― Mesmo que eu fique velha e feia? ― a jovem brincou. Os braços contornando o pescoço do rapaz.

― Mesmo que você fosse a mais feia de todas eu jamais te acharia feia, Hye, porque eu te amo… Aos meus olhos você sempre será a mais bela, a mais formosa, a mais gentil e amável das mulheres. Para mim você sempre será a melhor, a mais especial entre todas…

― Depois minha mãe pergunta por que eu te amo tanto…

― Ela ainda fala sobre isso?

― Sim…  ― a jovem sorriu antes de prosseguir, escondendo levemente o rosto no peito do esposo ― Ela não queria que eu tivesse casado com você, a verdade é essa e você sabe… Muito menos papai. Ele, pelo menos, deu o braço a torcer depois dos investimentos na sua empresa, mas mamãe… Ela tinha outros planos para mim… Um casamento pomposo e cheio de status.

― Fico imaginando a vida terrível que você teria em um casamento assim… Imagina não me ter ao seu lado para te fazer sorrir todos os dias…

― É… seria um tormento. Mesmo que as coisas tivessem sido como meus pais queriam com Pyo, nós nunca seríamos felizes… Não como somos agora. De toda forma, nos rebelarmos contra nossos pais, naquele momento, foram nossas melhores escolhas…

― Não que os pais dele aceitem amigavelmente…

― Mesmo assim. Ele está feliz, assim como eu estou… assim como estamos ― sorriu para ele e recebeu um selinho apaixonado ― Obrigada por ter sido tão corajoso, por ter ido me resgatar…

― Quando namorávamos… logo no início, prometemos que estaríamos juntos para o que desse e viesse, que nos apoiaríamos… O pacto não teria se cumprido se eu não tivesse ido. Eu não teria ido se você não tivesse me mostrado o quanto eu estava errado em apenas esperar que você decidisse tudo…

― Mas eu também não estava certa. Eu também fui fraca e voltei atrás muitas vezes. Por vezes quis abandonar tudo aqui e te procurar, mas também temi e fiquei no meu lugar… fiquei te esperando…

― Mas estamos bem agora… Muito bem. Nós três. Somos felizes, minha linda, somos felizes e sempre seremos. Nossa vida está fadada ao sucesso…

― E que assim seja ― os olhos da mulher brilharam em resposta às palavras do esposo ― Que nosso amor possa durar eternamente, que nada consiga nos separar…

― Nada vai nos separar… nunca mais…

Ele a abraçou mais forte. A criança no ventre da mãe, com aquela proximidade, mexeu e os dois se afastaram por um momento, voltando ao abraço em seguida, voltando a se embalarem ao som envolvente daquele início de noite.

― Por que decidiu ir para aqui? ― Choi Jin In perguntou a Yun Mi. Ambos estavam sentados em uma área que dava para o jardim da mansão. Um banco sob uma árvore frondosa, cheia de flores que perfumavam o local ― Está tão calada desde que nos sentamos…

― Eu queria respirar um pouco ― ela começou simplesmente ― Sempre que volto à essa casa as lembranças de tudo o que vivi aqui acabam retornando de alguma forma.

― Ainda está se punindo? Meu amor, não precisa…

― Eu sei… Eu sei que não preciso, e não estou me punindo. Obrigada por tanta preocupação ― falou ao acariciar o rosto do homem, um beijo delicado sendo oferecido em seguida ― Obrigada por estar ao meu lado…

― Sempre estarei.

― Eu sei que sim.

Um novo silêncio pairou entre os dois. Yun Mi continuava observando um ponto qualquer diante de seus olhos. Às vezes parecia entrar em uma espécie de transe e em seguida respirava profundamente.

― Eu vivi muitos momentos aqui… a maioria ruins, mas alguns muito bons. Quando éramos crianças, meus irmãos, menos Gun, sempre estavam por perto me protegendo das quedas e dos choros. Era tão bom… Eu não sei quando começamos a nos desentendermos… não sei como nos afastamos ao ponto de nos odiarmos, mas eu sempre desejei ter os meus irmãos de volta, comigo…

“Quando a Ha Jin chegou eu tive tanta inveja… Ela conseguiu em poucas semanas o que eu tentei reaver minha vida inteira e eu fiz tantas coisas absurdas contra ela… Me arrependo disso, mas se não tivesse feito aquelas loucuras, não teria te conhecido, não seria a pessoa que sou hoje...”

― Por isso as pessoas costumam dizer que nada na vida é em vão. É como se cada uma de nossas decisões nos levassem a algo futuramente. Você precisava de ajuda para respirar aliviada, você também precisava de paz.

― E encontrei em você! Nunca vou deixar de agradecer por tudo o que me fez, por me suportar…

― Eu te amo ― ele a interrompeu, pegando-a de surpresa ― Amei você sem saber que te amava. Fiquei ao seu lado porque eu sabia o quão solitária você se sentia. Amei você com seus problemas, com suas infantilidades, com seus medos, com suas decepções… Amei você porque me sentia como você. Me vi em você e sabia que o que você precisava era exatamente aquilo que eu também queria: amor.

― Eu te amo, Jin In. Hoje tenho amor pelas fotos de nosso casamento. Há dez anos eu jamais imaginaria que aquelas fotos me trariam bons sentimentos… Que elas me levariam para uma vida tão especial, tão cheia de carinhos… Você me mostrou o sentido da vida, você me ensinou o que eu nunca conseguiria aprender sozinha. Me incentivou a conquistar meus sonhos com minha força, com meus sentimentos… E eu consegui conquistar cada um dos meus sonhos ao seu lado… Conquistei a posição que desejava na empresa, conquistei meus irmãos, o respeito e compreensão verdadeiros de cada um deles e, acima de tudo, conquistei o amor… Um amor que não me cobra nem me oprime, que não me obriga a nada e me deixa ser quem exatamente eu sou. Um amor verdadeiro. O seu amor. Eu realmente te amo…

― E eu encontrei todo esse amor em você.

― Não me lembro de ter vivido momentos tão bons como os que tenho vivido desde que te conheci. Hoje eu sou grata aos meus pais por terem nos vendido um ao outro…

― Acho que eles se arrependeram inicialmente…

― Sim, principalmente seus pais ao perceberem que não sou como eles imaginaram que eu era…

― Sim, foi um choque. Minha mãe está horrorizada até hoje! ― os dois sorriram daquele comentário.

― Uma dia ela há de se acostumar.

― Espero que sim, mas se não, não tem problema. Continuaremos juntos não importa o que digam ou pensem. Só quero estar com você e te fazer feliz…

― Obrigada por me amar… Obrigada por me deixar de amar, Jin In, do meu jeito…

― O melhor jeito que eu poderia querer…

O beijo entre os dois foi delicado, porém cheio de sentimentos. Yun Mi se viu sendo abraçada por seu marido, o homem que conseguiu transpassar a muralha de gelo que ela havia criado ao redor de seu coração assim como fora derrubada a muralha na qual Gun havia se escondido por anos. Uma das guerreiras a conseguirem tal vitória, sua esposa, Lívia.

Os dois caminhavam de mãos dadas até a porta principal da mansão, parando à entrada, sentando-se ambos nos banquinhos que adornavam o local. Ela segurou a mão de Gun com suas duas mãos e ele a olhou lhe oferecendo olhos brilhantes e um sorriso discreto.

― Como está se sentindo? ― ela perguntou olhando-o intensamente.

― Estou bem. Estou realmente bem.

― Estou tão feliz por você, Gun. Feliz que está conseguindo…

― Você sabe que tem grande influência nisso, não é? ― ele a olhou brincalhão. Quem visse aquele Gun jamais desconfiaria de quem ele fora no passado ― Praticamente me obrigou a vir a esse casamento.

― Meu amor… É a sua família, não é? O casamento do seu irmão. É um momento importante para vocês. Eu sei que está falando isso, mas no fundo você desejava revê-los…

― É mesmo? Eu desejava? ― quis se fazer de ofendido.

― Claro que sim. Está nos seus olhos. Eu consigo ver a alegria do seu coração em seus olhos, Gun. Não me arrependo de ter te perturbado até que você aceitasse. Eu sabia que você queria estar aqui…

― Você não tem jeito, Lívia. Não tem… ― ele sorriu expirando o ar. Ela o olhou com carinho, olhos brilhantes.

― Acho que foi esse meu jeito impulsiva e persiste que te conquistou, confesse ― ele a olhou intensamente.

― Foram seus olhos… Depois do acidente eu comecei a atentar para algumas coisas nas pessoas e, em nenhum momento, seus olhos foram falsos comigo. Você chegou devastando tudo ao meu redor…

― Está falando do dia que derramei café em você?

― Estava pensando na vez que destruiu meus documentos…

― Mas você me perdoou, não é? ― ela perguntou sob um sorriso amarelo ― Não foi de propósito.

― Mesmo sendo largamente desastrada, percebi que você tinha grande potencial e seus olhos me conquistaram de alguma forma…

― Os seus também me conquistaram… Era como se houvesse um pedido de socorro dentro deles, não sei… Como se eles me chamassem a estar perto de você sempre.

― Fico feliz que tenha conseguido enxergar isso…

― Fico feliz que tenha permitido que eu enxergasse tudo isso…

― Você me desarmou, Lívia… Me trouxe de volta de um mundo de tristezas. Mesmo que meus irmãos tenham me perdoado, eu ainda não tinha me perdoado e você me ajudou… me ajudou a ver que todos erramos, mas que podemos melhorar. Você é maravilhosa, querida esposa.

― E você é o melhor marido do mundo, meu amor.

― Espero que não mude de ideia um dia…

― Nem se eu ficar louca ― ela falou, um sorriso travesso nos lábios ― Quero te desarmar por muitos anos, em vários contextos… Quero ser aquela em quem você confia, a que te faz bem. Quero estar contigo não importa o tempo, o motivo ou a situação. Quero viver com você para sempre… Sempre.

Taeyang e Na Na, na sala de estar, resolveram dançar depois dos muitos pedidos dele e da recusa envergonhada de Na Na. Abraçados ao som que inundava a Mansão Wang. Diante deles, Eujin e Hye ainda se balançavam no mesmo ritmo, assim como outros casais, entre eles, Jung e Mi Ok.

Taeyang seguia sorrindo, Eujin o perturbando. Sobre os ombros das esposas, os dois se olhavam e trocavam olhares brincalhões. De tempos em tempos Eujin levantava o dedo polegar em sinal de positiva e piscava o olho para o irmão. Na cabeça do mais velho, pensamentos de anos atrás voltando com ímpeto.

― Do que está rindo? ― Na Na perguntou para ele pela segunda ou terceira vez.

― É Eujin… Ele está bem aqui diante de mim ― Na Na virou um pouco o rosto e deu de cara com o sorriso de todos os dentes de Eujin, mais um sinal de positivo para eles.

― Seu irmão nunca vai mudar… ― ela comentou divertida.

― Ainda bem… espero mesmo que seja assim para sempre!

― Fico imaginando as coisas que ele vai aprontar com esse bebê… sabe aqueles vídeos na internet de pais fazendo as mais variadas loucuras com os filhos? Acho que Eujin será um desses…

― Tenho certeza que esse bebê será muito feliz. Terá um pai amável, bondoso e de coração enorme…

― Na verdade, se pararmos para pensar bem, todos estão felizes… realizados de alguma forma.

― Sim… Fico feliz em ver que estamos todos bem. Mesmo Gun, o brilho no olhar dele é diferente. Ele está feliz.

― Sim, e isso é nítido. Ele tem um sentimento bonito pela Lívia e pelo Daniel. Eu sou feliz por ele ter conseguido também…

― Você tem um coração enorme, Na Na. Eu é que sou feliz de te ter comigo. Foi tudo tão complicado, mas no fim tudo ficou bem.

― As coisas só estão bem porque vocês decidiram por isso… Se um de vocês não quisesse, nada do que vocês têm conseguido até hoje estaria com vocês. Vocês escolheram viverem bem, serem felizes… É apenas a recompensa de suas atitudes…

― Eujin continua nos olhando…

― No mínimo ele está se lembrando do dia do restaurante. Acho que ele nunca vai se cansar de nos envergonhar sobre aquele dia.

― E aquela moça, Na Na… Nós nunca voltamos para dar o nome dos meus irmãos.

― Mas quem poderia? Sun apaixonado por Hea, Eujin pela Hye. Mesmo Shin já amava minha prima e não sabia…

― E eu tive receio de apresentá-la a Gun.

― Naquele momento, com toda razão.

― Mesmo Jung estava envolvido com alguém…

― Ela não poderia reclamar, afinal… Teria um grande trabalho e talvez jamais conseguisse fazer com que os meninos abrissem mão de seus sentimentos.

― Espero que ela tenha me perdoado por nunca ter voltado.

― Acho que poderíamos ir naquele restaurante em qualquer final de semana desses, o que acha?

― Acho uma ideia incrível!

― Então podemos falar com a jovem. Tenho certeza que ela não esperou por suas indicações…

― Não…

― O que foi? ― ela perguntou, Taeyang pensativo.

― Estava pensando… Como fomos bobos ao tentarmos enganar Eujin naquele dia. Ele já sabia muito antes de todos, talvez até de nós mesmos que ficaríamos juntos.

― Eujin tem um grande coração e uma sensibilidade impressionante, e não é de hoje…

― Se não fosse por ele, talvez nem estivéssemos juntos agora.

― Ele planejou tudo, esse moleque ― Na Na o olhou com olhos semicerrados e ele a olhou assustado, a expressão de que não entendeu o que houve.

― Um verdadeiro cupido...

― E se formos contabilizar, Eujin juntou uma boa parte dos casais dessa família ― Na Na comentou divertida ― Mesmo que Sun tenha ido em busca de Hea, foi ele, com a ajuda de Jung, que sempre estimularam o relacionamento…

― E Shin e Ha Jin… Ele percebeu mesmo antes de Shin notar ― Taeyang sorriu.

― Esse casamento só está acontecendo agora porque teve o dedo dele… Você não imagina o quanto ele pode ser chato quando tenta te abrir os olhos para algo que todos já conseguem ver. Não foi fácil para Jung também…

― Além disso, ainda tramou toda aquela história de viagem para nós dois irmos sozinhos…

― E eu o agradeço até hoje. Nunca vou esquecer sua expressão, seu olhar para mim naquele dia…

― Você morto de vergonha…

― Eu estava tomando banho…!

― E eu estava louca para tomar banho com você.

― Podemos tomar banho juntos mais tarde, o que acha? Relembramos os velhos tempos?

― Acho uma excelente ideia! ― ela recebeu um beijo demorado na bochecha.

― E sabe o que mais? Se você não tivesse ido até mim, eu jamais iria passar do limite que você nos impôs…

― Eu sei disso e sei o quanto eu fui boba…

― Você foi cautelosa… E me surpreendeu em todos os momentos. Na verdade, você sempre me surpreende, Na Na.

― Não sei de onde tirei tanta coragem naquele dia… acho que foi teu cheiro, tua presença. No fundo, sempre foi você.

― Sempre foi você… e sempre será.

― Sempre!

― Nunca mais vou te deixar ir… Nunca mais vou te perder. Você é a mulher perfeita para mim, a melhor mulher que eu poderia querer. Quero te amar para sempre, por todo sempre… eternamente.

Jung percebeu os olhares que os dois irmãos mais velhos trocavam entre si. Ele, abraçado à esposa, também se movimentava lentamente em resposta ao som daquela música tão envolvente.

Os dois mais velhos sorriam e piscavam um para o outro, certamente falando com o olhar sobre as muitas coisas que sempre conversavam, utilizando-se mais uma vez daquela ligação mútua que construíram ao longo dos últimos anos.

Desviou o olhar daquela cena peculiar e voltou a se dedicar com exclusividade à experiência de se casar. Mi Ok era a mulher que ele escolhera para estar ao seu lado para sempre, uma mulher forte, obstinada e decidida que, com toda a certeza, faria dele alguém muito feliz, assim como ele se empenharia dia e noite para que ela também o fosse.

A jovem noiva tinha a cabeça relaxada sobre o peito do esposo. Os braços estavam em volta da cintura do rapaz e era abraçada com firmeza pelos longos braços de Jung, a deixando firme e praticamente colada a ele. Eles gostavam de estarem assim, unidos um no outro.

Mas ele afastou-se brevemente, ela fez o mesmo. Ainda embalados ao som daquela melodia, se olharam intimamente. Jung levou sua mão até o rosto dela, o apoiando em sua palma, o dedo carinhosamente deslizando sobre a pele macia dela. Um sorriso cúmplice nos lábios e uma promessa de amor eterno nos olhos. Era isso o que eles queriam, a eternidade.

― Acho que, finalmente, o seu pai vai parar de me incomodar sobre namorarmos para sempre. ― foi o comentário dele depois de um tempo em silêncio, se olhando. Ela sorriu.

― Papai jamais aceitou que eu demorasse tanto tempo para casar, mas eu precisava lutar pelo que era meu antes de me envolver por completo com você… você sabe. Precisa me testar antes, ter minha independência…

― Eu sei disso e te admiro muito…

― Eu sei que sim!

Um beijo lento e discreto selou aquele pequeno diálogo dos dois. Logo depois o rapaz continuou aquela pequena conversa, os braços entrelaçados em seus corpos os deixando novamente próximos.

― Sabe o que seu pai me disse hoje, mais cedo? ― ele perguntou divertido e ela o incentivou com os olhos ― Que finalmente eu virei homem e tomei uma atitude de homem.

― Meu Deus… Papai não tem limites!

― Mas é verdade, de alguma forma… Eu precisava ter atitude uma hora também, não é?

― Acho que não devemos mais nos importarmos com isso… É um tema que já passou. Casamos e quero que sejamos o casal mais feliz dessa família ― ela falou divertida e continuou pensando em todas as realizações e bons momentos que a família estava passando desde o retorno de Shin daquele coma ― Mesmo que isso seja tão difícil...

― Somos todos felizes ao nosso modo, o importante é isso, no final das contas. Não precisamos medir nada, só nos amarmos e recebermos o que a vida tem para nos dar de volta.

― Você é tão lindo, meu amor ― ela falou ficando em ponta de pés, lhe dando um beijo rápido e estalado ― A melhor das escolhas que eu poderia ter feito para mim. Nunca deixarei de agradecer aos céus por ser você, por sempre ter sido você.

― E eu sou grato por você não ter desistido… ou quase…

― Aigoo… nem me lembra daquele dia. Tenho vergonha ainda hoje.

― Vergonha de mim? Depois de tudo o que vivemos juntos? Eu sou feliz de ter te encontrado naquele dia. Acho que o destino me guiou até aquele bar. Só poderia ser ele me mostrando a minha felicidade.

― Um destino maravilhoso que nos uniu de um jeito estranho, mas infalível… Agora, estamos juntos para sempre e não tem mais para onde fugir…

― E quem te disse que eu pretendo fugir? Fugir, para mim, só se for com você, minha pequena…

― E eu aceito, meu amor. Aceito, com você, ir para qualquer lugar…

― E iremos… estaremos juntos em todos os momentos, em todo o tempo.

Um novo beijo selou mais aquela conversa. A intimidade e sintonia pairava ao redor dos dois. A alegria transbordava em seus olhos tão brilhantes quanto os de Shin e Ha Jin, propositalmente vencidos pela amnésia relacionada à volta para o salão da mansão.

Caminhavam, de mãos dadas, pelos jardins da mansão, entre os ramos e arbustos que, por tantas vezes, lhe serviram de esconderijo nos primeiros meses de namoro.

Em silêncio eles avançavam pelos caminhos entre os ramos e as flores que decoravam aquele lugar. O sentimento de que haviam conseguido muito mais do que podiam compreender, muito mais do que as suas mentes poderiam cogitar.

Caminharam até algumas pedras adiante, o mesmo lugar onde, vários anos atrás, Shin se derramara em lágrimas ao descobrir sobre a verdade de sua origem; o local onde ele se conscientizou de que tudo o que conhecia da sua vida fora mentira.

Fora ali também onde Ha Jin o encontrara frágil e debilitado, onde ela se ofereceu como apoio, como sustento e conforto para aquele momento. Fora ali onde Ha Jin, movida por um impulso incontrolável, beijou Shin sem se preocupar com seus medos e dificuldades. Onde ela tentou mostrá-lo que ela era amado, independentemente de seu passado, de seus problemas, de seus medos.

E fora ali, sobre aquela mesma pedra, que eles se aconchegaram, distantes da animação da festa que avançava no interior da mansão, longe dos olhos dos parentes, amigos, conhecidos… fora ali, sentados, abraçados sob o brilho das estrelas que enfeitavam vagamente o céu, que eles permaneceram em silêncio. Pareciam se lembrar, ambos, do mesmo episódio de anos atrás.

― Preciso te contar um segredo que, em breve, não será mais segredo ― Shin começou tão logo se aconchegaram entre seus braços.

― Aigo… O que aconteceu agora? ― Ha Jin, sabendo que aquele tom era o que os levaria a alguma situação inesperada, preparou-se para a notícia.

― Bem… Sun e Hea…

― O que? ― ela falou algum tempo depois. Ele continua em silêncio, apenas rindo da sua expressão curiosa ― Aish… Como você é irritante quando quer, senhor Wang.

― Adoro ver essa sua expressão de curiosidade… Uma mistura de aflição com dúvida… É linda!

― Não me sinto linda neste momento, apenas curiosa, e você não está ajudando ficando em silêncio. Se não queria falar, não tivesse começado…

― Tá bem, eu vou dizer ― ele continuou percebendo que ela estava emburrada ― Sun e Hea terão um bebê!

― O que? ― Shin não conseguiu controlar a gargalhada diante da expressão da esposa. Ele a amava de todos os jeitos, em todos os momentos, mas estava tão feliz aquela noite que a mais simples pergunta seria o suficiente para fazer o seu coração explodir de contentamento.

― Isso mesmo, senhora Go. Seu querido cunhado será pai. Acho que agora eles sossegam um pouco.

Ha Jin ainda continuava com aquela expressão confusa e distante. Aquela notícia lhe parecia impossível de se acreditar, embora ela tivesse plena certeza que era verdadeira. Ela não conseguiria explicar o sentimento que enchia o seu coração, a sensação de que, finalmente, aqueles dois seriam felizes para sempre.

Então um filme veloz passou na cabeça da moça. Ela lembrou-se de tudo o que viveu desde que havia chegado à Mansão Wang. Do seu primeiro contato com Sun na sauna, dele se sentindo ofendido por ela bisbilhotar “seu corpo definido”. Lembrou-se de como a amizade deles se estreitou em pouco tempo, como se ela já existisse há muitos anos.

Lembrou-se das dores e aflições que ele viveu com a aposta que envolvia o nome de Doh Hea e de todas as lágrimas que ele derramou em sua presença. Lembrou-se do quanto ele sofreu enquanto estavam separados e, agora, finalmente, estavam juntos. Muito mais juntos do que ela poderia imaginar.

― Isso parece impossível ― ela comentou por fim, ainda catatônica em seus próprios pensamentos ― É muito esquisito imaginar que Sun e Hea serão pais.

― Acha que eles não vão conseguir? ― Shin perguntou levemente preocupado.

― Não… ― ela respondeu rápida ― Estou certa que eles serão os melhores pais que essa criança poderia ter. Tenho certeza que eles serão muito mais felizes agora…

― Mas você acabou de dizer que parece impossível…

― E o que nessa família parece verdadeiramente possível? ― ela perguntou e o olhou intimamente, os grandes olhos castanhos focando a alma do rapaz ― Eu fiquei em coma por um ano e depois de acordar encontrei essa família que me fez viver os momentos mais impossíveis do mundo. Um acidente mortal, mas com um sobrevivente que mudou completamente depois dele, em contato com a família. Irmãos que pareciam se odiar e, como num passe de mágica, reconheceram a necessidade que um tem no outro e a importância de vivenciar o sentimento da empatia.

“Uma amiga louca viciada em doramas e desesperada por coisas de astrologia namorando e casando com um dos rapazes mais ricos da Coreia. Eu mesma, que vivia em um quarto onde eu mal conseguia me mover consegui conquistar o mais lindo dentre esses irmãos.

“Uma senhora que passou trinta anos de sua vida amando o filho sem poder revelar quem ela era. Um homem que se deixou vencer por suas ambições e se esqueceu do mais importante mudando seu pensamento e libertando seus filhos das amarrar que ele havia criado. Uma jovem que sempre fora tratada como um objeto, sem sentimentos ou necessidades, se livrando de seus pesadelos depois que foi vendida em um casamento arranjado.

“E ainda temos um jovem músico que invadiu um casamento em curso e roubou a noiva diante de todos, isso sem contar com um novo acidente, um novo coma, na época de um eclipse como fora o meu, e um despertar depois de exatos um ano. Se tudo isso te parece possível, a mim não. E olha que nem citei todos os casos incríveis…

― É… agora que você falou… vivenciei tudo isso, mas nunca me pareceu estranho. Também é esquisito que você tenha se curado misteriosamente tempos depois de eu acordar do coma.

― Às vezes acho que foi a emoção de te ver voltar para mim… Acho que foi o impacto de te ouvir, de te ver me olhar… Se toda aquela tensão e catarse não me fizesse sucumbir de vez, me curaria. Acredito nessa possibilidade.

― Vamos confiar nela. Nenhum médico foi bom o suficiente para explicar, de fato…

― O interessante do problema do meu coração é que ele veio com o meu coma e se foi com o seu. Talvez algum ser celestial tenha me feito ter esse problema para que eu pudesse te encontrar. Se eu não tivesse o coma, não teria o problema do coração, nem teria desmaiado na ISOI. Assim, não teria sido demitida nem Na Na me indicaria para o cargo de governanta…

― Tanta coisa se passou… E já faz tanto tempo ― ele a olhou profundamente, agora, e a beijou calma e delicadamente ― Mas tenho outra boa notícia para te dar.

― Não me diga que Mi Ok também…

― Não! Não! ― ele começou a sorrir novamente da expressão de Ha Jin ― Quer dizer… Jung não nos disse nada.

― Aigoo… Consigo entender a revolta de Ha Na quando ela começa a falar de todos esses primos ― os dois sorriram em conjunto se lembrando das muitas vezes que a moça reclamava por ter sido uma criança solitária quando estava em busca de beijos e atenção ― Mas me diga, qual notícia tão boa.

― Um pouco depois que a senhora Min-joo chegou eu encontrei minha mãe a observando. Ela já estava sentada com as outras senhoras e mamãe pareceu pensativa… Eu perguntei o que ela tinha e sabe o que ela respondeu?

― O que? ― Ha Jin estava completamente atenta a conversa.

― Disse que todas as pessoas merecem uma segunda chance, que merecem a oportunidade de tentarem fazer tudo de novo.

― Ela disse isso? ― Ha Jin pareceu novamente assustada ― Por isso eu digo que essa família é a família dos impossíveis.

― Ela disse que ficava feliz que a senhora Min-joo estive tentando recuperar o carinho dos filhos e que, embora ela não desejasse contato ou aproximação, estava tentando não guardar mais mágoas daquela senhora. Entendia que grande parte das coisas que ela fez foram movidas pelo ciúme que ela tinha de papai.

“Então ela falou sobre ele. Fazia anos que não ouvia minha mãe comentar sobre o meu pai. Disse que não queria mais ser a responsável da alma dele não estar em paz, mesmo sabendo que eu menti e disse para ele que ela o perdoou. Ela me pediu para a acompanhar até a urna de papai. Disse que quer levar flores e conversar um pouco com ele…”

― Isso é incrível! E maravilhoso ― Ha Jin abraçou o esposo ainda mais apertado. Ela sabia como aquele assunto ainda maltratava o coração de Shin. Ela sabia o quanto ele desejara que sua mãe perdoasse o pai. Finalmente aquele momento havia chegado ― E quando irão?

― Depois de amanhã. Vamos aproveitar o domingo. Quer vir conosco?

― Não… Não irei ― ela disse com o coração cheio de carinho ― Esse é um momento de vocês e deve ser vivido pelos dois. Ficarei em casa com as crianças esperando que tudo seja do jeito que tem de ser.

― E será… Finalmente, Ha Jin… Finalmente eu sinto que as coisas não poderiam ficar melhores… Sinto como se meu coração estivesse em paz sobre todas as coisas que ele viveu. Me sinto livre, me sinto amado e não tenho mais medo de ser quem eu sou.

― Isso porque você é maravilhoso, Shin… Sempre foi.

― Por isso tantas pessoas me amam…

― Por isso é tão convencido…

― Por isso eu te amo tanto… ― Shin aproximou os lábios dos de Ha Jin, os olhos compenetrados no dela, ela retribuindo a profundidade daquele olhar.

― Por isso eu quero viver todos os meus dias com você…

― Por isso que eu sou feliz… porque você me faz feliz…

― Porque você me faz feliz e me ama…

― Porque eu seria capaz de atravessar o mundo e tempo para poder te ter comigo, para te sentir em meus braços, para poder olhar em teus olhos…

― Porque eu esperaria… Seria capaz de esperar uma eternidade por você, para que você me encontrasse de novo, para que pudéssemos estarmos juntos de novo…

― Porque nos amamos…

― Porque esse é o nosso tempo, a nossa época de nos amarmos como quisermos, sem impedimentos, apenas nos amarmos…

― E sermos felizes… ― Shin deu um toque delicado sobre os lábios de Ha Jin ― E sermos felizes, finalmente… para sempre.

Os lábios se tocaram mais uma vez. Mais uma vez o brilho das estrelas era testemunha daquela declaração. As estrelas, as mesmas que eles vislumbraram mil anos atrás brilhavam sobre suas cabeças silenciosas, marcando na eternidade aquele amor que não deveria existir, mas que resistiu e foi capaz de atravessar épocas, um milênio, para que pudesse se concretizar.

Ao longe, nos portões de entrada da Mansão Wang, um homem de terno claro, pasta na mão, observava aquele casal escondido sob os arbustos do jardim, visíveis aos olhos místicos de quem os reconhecia. Em seu rosto, um sorriso discreto, em seu olhar, um sentimento de satisfação. Aquilo fora um erro cometido no passado, mas um acerto desde o momento em que o erro se fez.

Caminhando, o homem, ainda sorrindo, começou a distanciar-se daquele local. Os cabelos começaram a mover-se de contra o vento frio daquela noite de primavera, e a névoa que se iniciou repentinamente, começou a espalhar-se ao redor dele que, tão rapidamente quanto a névoa iniciou-se, sumiu.

***


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Notas finais do capítulo

Oi pessoal! Aqui estou eu para meu último ‘olá’ e meu último ‘adeus’… Eita drama, mas vamos lá!
Pensem num projeto muito legal e que vai ficar para sempre guardado na minha memória. É minha relação Moon Lovers e esta fanfic. Há pouco tempo nunca me via escrevendo algo sobre doramas, mas, de repente, chegou Moon Lovers e abalou as estruturas dessa pessoinha. Claro que foi o quarto príncipe, esse personagem incrível que ficará para sempre no meu roll de preferidos da vida, o grande inspirador para esta história… uma história de amor, que apesar de vários clichêzinhos, me marcou por ser tão intensa e bem construída. Era desde Rony e Hermione que eu não tinha surtos por um casal e experimentava cambalhotas no estômago por cenas fofis deles dois. Ah, esses coreanos!
E então, eis que embarquei na epopeia de contar como seria se Hae Soo reencontrasse o seu grande amor, a expectativa de todo o órfão desse drama, e esta fanfic nasceu. Ela nasceu, mas só cresceu com sucesso, ao meu ver, devido a algo muito importante chamado co-autoria. Até este momento eu era “carreira solo”.
Resumindo, para os curiosos, mais ou menos como aconteceu. Primeiro capítulo: um dia Van Vet, que é amiga de Andye desde os primórdios da Floreios e Borrões (isso é para potterheads raiz, rs) começou a encher o saco para ela ver Moon Lovers. Andye, depois de muita insistência, porque olha, pensa numa pessoa cabeça dura, aceitou e começou a assistir. Segundo capítulo: Andye mais viciada que Van Vet e vendo o drama em looping, ps.: e num crush doido por Lee Joon Ki. Terceiro capítulo: Van Vet começa a postar os primeiros capítulos da fanfic enquanto Andye arquiteta uma fanfic parecida. Quarto capítulo: Andye e Van Vet comentam sobre as fanfics que estão/querem produzir e descobrem que suas ideias estão muito semelhantes. Quinto capítulo: A união faz a força, parceria selada e graças a isso não flopamos nenhuma vez. Capítulo final: aqui estamos.
Um ano e sete meses de parceria rendeu o que temos agora, uma história de quase quinhentas mil palavras, 78 capítulos e muitos leitores. A fanfic foi um sucesso para nós, trouxe muitos comentários, muita amizade nova e mais e mais camadas de acesso a esse submundo dos viciados em doramas.
Sou muito grata e encantada com tanta gente que veio ler nossos escritos. As inúmeras recomendações, as pessoas que não nos conheciam, mas indicavam de olhos fechados para quem chorava a falta de segunda temporada nos grupos do Facebook. Eu nunca me senti tão orgulhosa e realizada num projeto. Obrigada de verdade, não apenas da boca pra fora, de coração, a todos vocês que proporcionaram essa felicidade em minha vida.
Mas eu continuo pensando na co-autoria e como isso fez a diferença.
Como toda criação que é impulsionada pura e simplesmente pelo desejo de fã, as recaídas aconteciam. Houve muitas, muitas e muitas vezes que eu não aguentava mais escrever, afinal era toda semana tendo de dar conta de muitas ideias e palavras e teve momentos que isto me esgotava a cachola… além da preguiça. Andye me ajudou em todas elas. Seja me cercando e cobrando por resultados (amizade em prova várias vezes aqui), ou seja em nós duas nos adaptando nas cenas preferidas e mais motivadoras para cada uma e trocando a escrita de trechos para não desanimarmos. Ou ainda passando horas do Whatsapp discutindo possibilidades e formas de impressionar os leitores (e falhando na maioria delas, kkkk).
Particularmente, não acho que nossa fanfic é impecável ou infalível, mas gostei do resultado final, fiquei orgulhosa por ele e sei que metade disso é mérito da minha amiga também, o que me orgulha de novo! Somos pessoas bem diferentes em muitos aspectos, mas eu admiro o jeito como Andye é capaz de filtrar o irrelevante e extrair o melhor de nossa dinâmica. Escrever Moon Lovers: The Second Chance, embora árduo, foi mais ou menos como voltar a ser criança e ter alguém com quem dividir minhas brincadeiras de faz de conta. Foi empolgante, apaixonante e vibrante.
Obrigada a todos os leitores, mas, acima de tudo, obrigada Andye!

By Van Vet

~~~

Mas minha gente... O que dizer depois de uma mensagem dessa, não é mesmo? Olhos lacrimejantes, isso sim, porque além do agradecimento, me lembrei de como nos unimos desde os primórdios, desde o nosso desespero por Harry Potter e nossa motivação para contar todas as entrelinhas que ficaram entre Rony e Hermione (e também todos os universos possíveis dos dois) até aqui.
Moon Lovers veio como a quebra de muitos paradigmas para mim (sim, eu sou daquelas que achava que oriental era tudo igual e que essas novelas coreanas deveriam ser piores que as mexicanas, mas quebrei a cara no asfalto kkkk). Posso dizer que, talvez, não tenha sido fácil iniciar meu vício em doramas com Moon Lovers porque, por ele, acabo nivelando os outros que assisto ou, talvez, por ser uma temática tão interessante aos meus olhos (sem mocinhas dependentes de homens, com tanta dor e sofrimento - temáticas que eu curto - e uma cenografia e fotografia INCRÍVEIS) eu realmente viciei, ainda mais no JoonGi que no primeiro momento que apareceu na tela me lembrou outro amor de infância, Shiryu (CDZ - isso é para as mais antigas kkk). Só sei que apaixonei e sigo amando até hoje.
Por fim, a fanfic. E foi desse jeitinho mesmo que a Van contou. Vocês não têm ideia das idéias mirabolantes que criamos ao longo desse 1 ano e 7 meses, as nossas irritações quando vocês descobriam tudo o que a gente ia apresentar nos próximos capítulos e nossas tentativas frustradas de enganarmos vocês... A gente se irritava, mas depois nos animávamos porque percebíamos que isso só acontecia porque criamos uma sintonia ótima com vocês, nossxs leitorxs lindxs.
E agora, finalizamos. A sensação não poderia ter sido melhor descrita do que como a Van descreveu: Era uma brincadeira que brincaríamos solitárias, mas que decidimos brincarmos a duas. Eram as desavenças, as irritações... às vezes eu mandava 1001 mensagens com novas ideias pra Van no wpp e ela respondia que acordou com o celular vibrando, mas também era muitas gargalhadas, muitas brincadeiras e dedicação para fazermos o melhor do melhor para nós e para vocês.
Agora, chegamos ao fim. Em mim, o grande agradecimento a cada pessoa que se mobilizou em algum momento do seu dia para nos ler. Para cada pessoa que reservou um tempinho do seu dia para comentar nem que fosse um "Essa hitória é ótima." "Adorando" "Não parem, por favor". Agradeço a cada pessoa que participou ativamente conosco no grupo que criamos no facebook, as teorias, as brincadeiras, os capítulos narrados com gifs, os pedidos desesperados por mais capítulos, as ameaças de morte, as reclamações... ENFIM. Agradeço a cada pessoa que contribuiu com a conclusão desse projeto e espero que alguém traduza isso para o coreano e nos indique para a SBS. Estamos prontas para escrevermos vários doramas de sucesso por ai.
Por fim, MUITO OBRIGADA por tudo, a cada um de vocês e, em especial, não poderia ser diferente, a Van, pelas lindas palavras dedicadas a mim, por ter acreditado em nossa parceria e por ter me suportado falando dessa fic nos momentos mais inconvenientes da vida (rsrsrsrsrs)
Agora continuamos nos encontrando aqui no Nyah!, pelo facebook da vida ou em outros lugares... e fiquem atentas, afinal, é durante o eclipse que você pode se mudar para um novo mundo...

By Andye



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