Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 64
Ajuda Inesperada


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas lindas que continuam firmes nos acompanhando. Chegamos em mais um domingo e, com ele, temos mais um capítulo de nossa Second Chance!

Agradecemos imensamente aos comentários no capítulo passado, adoramos saber de suas ideias, pensamentos e suposições. Muita coisa estava de acordo com o que temos pensado, mas claro que não vamos dizer o que... hehehe

Neste capítulo, momentos fofinhos, tensos, conversas francas e uma boa surpresa inesperada para todos. Esperamos que vocês curtam o que preparamos e, como sempre, nos deixem seu feedback para que possamos sempre melhorar.

Ótimo domingo de carnaval e boa leitura!

Beijo da Andye ♥



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Quando o segundo filho de Hansol rumou para a cozinha da mansão da Lua sentiu aquela sensação estranha novamente. Era esquisito não ter Go Ha Jin lavando hortaliças ou preparando o menu do jantar para abraçar e beijar escondido dos olhos de todos que já haviam percebido o envolvimento dos dois - aquilo já não era segredo para ninguém, eles sabiam.

Era ainda mais esquisito entrar na cozinha e se deparar com Nyeo Hin Hee, a mulher que o criou como filho, porque ele o era, e que o amou de forma desmedida, enfrentando todos os problemas do mundo para que ele fosse feliz. Aquela mulher maravilhosa, valorosa e forte que ele tinha o prazer de chamar de mãe e que, impreterivelmente, se recusou a sair da mansão.

— Bom dia, mãe — ele a abraçou e lhe depositou um beijo na bochecha. Aquela atitude ainda era atípica para ele, mas seu coração se aquecia sempre que a fazia. Sentia-se reconfortado por chamá-la de mãe. Por saber que poderia chamá-la de mãe e que ela o aceitava como tal.

— Bom dia, meu filho — ela retribuiu o beijo. Seu semblante tão mais ameno do que épocas passadas, ainda tão recentes — Precisa de algo?

— Não… Só vim ver a senhora.

— E essa carinha… Está pensando em alguma coisa?

— Na verdade, sim... Estou querendo levar Ha Jin na casa dos meus avós esse final de semana. 

— Acho uma excelente ideia e tenho certeza que seus avós irão adorar conhecer a famosa Go Ha Jin. Quando pretende ir à casa dos pais dela?

— Logo em seguida. Já deveria ter feito isso há muito tempo... Estou em falta com a minha namorada e com minha família — Hin Hee sorriu e ele a olhou curioso — Por que o sorriso?

— É reconfortante te ouvir falando isso... "minha namorada" "minha família"... Por um momento eu imaginei que nunca conseguiria te ver feliz de verdade, que nunca poderia te dizer que sou sua mãe... Tinha medo que sua vida se resumisse às humilhações e tristezas que eu te impus.

— Mãe... Não fale assim. A senhora não me impôs nada. Absolutamente nada. Pelo contrário, lutou por mim e por minha vida. Não posso ser mais grato.

— Mesmo assim...

— Pare de se lamentar sobre o que passou e não importa mais. Em mim só ficou o amor que recebi da senhora todo esse tempo. Para mim já é mais importante do que as tristezas…

— Você é o melhor filho do mundo, meu amor…

— Há controvérsias… — Eujin apareceu na cozinha e se direcionou até a geladeira, pegando um suco em lata — Minha mãe sempre me diz que eu sou o melhor filho do mundo… E agora, governanta?

— E agora você ganha um cascudo para deixar de ser tão exibido e metido — Shin começou se movendo em sua própria cadeira, Eujin escondendo-se atrás de Hin Hee.

— Me proteja, governanta, por favor. Seu filho quer me bater.

— Acho que não vou me intrometer dessa vez, querido — dirigiu-se para Eujin — Ele é seu irmão mais velho, acho que podem resolver seus problemas sozinhos.

— Como a senhora pode ser capaz de tamanha atrocidade? — o famoso ar teatral aparecendo — Como vai me deixar ser destroçado por esse hyung sedento de sangue?

— Pelo amor de Deus, pare de tanto drama e vá se preparar para irmos à empresa.

— Olha só… Só porque é o mais velho… Pensa que é o senhor da razão. Acho que a senhora criou esse rapaz com muito mimo…

— Deixe de falar asneiras… Se apresse que estamos quase atrasados.

— Você está muito ranzinza… Governanta, fico feliz que a senhora tenha voltado, mas não sei se foi uma boa ideia deixar Ha Jin ir para a ISOI. Meu hyung costumava ser mais gentil quando ficava se encontrando às escondidas pela sauna e arbustos da mansão com a gover…

— Cale a boca, seu fedelho… — Shin avançou novamente para o mais novo que fugia e se escondia atrás de Hin Hee enquanto continuavam a perseguição na cozinha.

— Acho melhor a gente convidar a Ha Jin mais vezes para a casa… Shin fica mais tranquilo quando ela está por perto…

— Eu vou te matar…

— Ameaçado de morte… Aigo… Meu próprio irmão, aquele que deveria me proteger de todo o mal…

— Cale a boca… — Shin falou entre os dentes, a governanta sorrindo. Eujin sorria junto.

— Sim… me calo, mas vou pedir para Ha Jin ser mais bondosa com você.

— Seu moleque…

Shin lançou uma colher de pau contra o irmão, mas ele havia sido mais ágil e fugira do objeto que colidiu contra a parede da cozinha. Com a face quente, envergonhado que a mãe tivesse ouvido aquelas palavras, o rapaz caminhou até o objeto e o devolveu à senhora.

— Não se irrite com seu irmão… Ele é jovem e animado. Te ama muito, desde sempre, e te tem como um exemplo a ser seguido.

— Eu sei… mas ele tem a boca grande também.

— Não se incomode com isso, meu bem… Está tudo bem. E ele não disse nada que seja mentira…

— Mãe… — ela sorria gentilmente, a mão carinhosa sobre a face do filho — Enfim… Vamos marcar um passeio. Os pais de Ha Jin querem te conhecer.

— A mim? — perguntou espantada.

— Sim… A senhora é a minha mãe. É natural que queiram.

— Mas… Eu não esperava…

— Vamos combinar tudo da melhor forma. Levamos Ha Jin na casa dos meus avós e depois iremos até a casa dos pais dela.

— Mas eu… eu…

— A senhora é a minha mãe, de quem eu me orgulho demais. Quero que nossas famílias se aproximem. Tenho certeza que vai gostar da mãe dela e que se darão bem. Quero que todos saibam a mãe maravilhosa que eu tenho e quero anunciar aos quatro cantos o quanto a senhora é especial.

— Meu filho…

— Te amo muito. Vamos ser uma família de verdade, por favor. Acho que precisamos disso...

Shin recebeu um abraço apertado. A senhora, comovida com aquelas palavras, beijou a face do filho com carinho e felicidade. Sofrera por muitos anos em sua vida, mas agora, finalmente, conseguia sentir aquilo que sempre desejou: o amor de seu filho.

***

Gun se encontrava no exato lugar que estivera quando leu a carta do pai pela primeira vez. Em frente a janela ampla do escritório, que se debruçava para os jardins, seu olhar melancólico observando o gramado, tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe.

Era uma tarde chuvosa. Gotas de chuva roliças se atirando contra o vidro, mas ele gostaria de estar lá fora caminhando entre as plantas, sentindo a terra úmida e a textura da grama molhada na sola dos pés. Há muito tempo não dera valor a coisas pequenas como essas, mas, naquele momento, queria mais.

Queria voltar a ser menino, como naquela vez em que ele tinha apenas quatro anos e brincara na chuva, ao redor da propriedade, com Shin como seu comparsa de crime. A bronca que os dois levaram ao entrar na mansão com os pés enlameados pareceu ao Gun do presente algo próximo da felicidade.

O papel com a caligrafia de Hansol, mais uma vez em seu colo, trazia um teimoso enigma. Ele entendia. Ele sabia. Ele era inteligente o bastante. Ele somente não queria dar o braço a torcer às palavras do pai. O caminho poderia parecer simples, como o velho patriarca frisara, mas era humilhante.

E Gun já se sentia humilhado demais.

Para um rapaz com o orgulho do tamanho de um continente como ele, depender de terceiros para se locomover em determinados locais, para sair da casa, para entrar no banho, tinha um peso semelhante a chicotear um ex-ditador em frente ao seu povo subjugado.

Ele não havia visto nenhum olhar de triunfo nos irmãos, mas sabia que eles se satisfaziam às suas costas. Finalmente o filho de Min Joo fora derrotado e o caminho estava mais do que livre para as hienas se apoderarem da empresa. Entretanto, isso já não assustava o Wang na cadeira de rodas. O que assustava Gun era ter a consciência que não se importava mais.

A cada dia que fitava suas pernas imobilizadas como dois pesos mortos apoiados na cadeira, as ambições de outrora se desfaziam com assombrosa facilidade. No lugar de pensar em um modo de se reintroduzir nos negócios (e na disputa), as preocupações se resumiam em se ele teria ânimo para abrir os olhos e escovar os dentes na manhã seguinte.

Quando Jung, o único irmão que ele permitia violar o resquício de sua dignidade, o colocava nu dentro da banheira, era com muito esforço que encarava suas coxas magras mergulhadas na água. O homem vaidoso do passado não conseguia encarar o alquebrado do agora.

E ele despachava Jung do banheiro, não era um bebê e ainda tinha a droga das mãos para se ensaboar sozinho, e encostava a cabeça na louça ponderando se deveria tomar um banho de verdade ou só dar a impressão que estava se cuidando para não escutar do irmão mais novo.

Seu outro hábito era dormir na maior parte da manhã. Era uma boa forma de passar o tempo, afinal ele esquecia completamente da sua condição quando estava sonhando. Às vezes até podia andar naquele outro mundo…

Sentindo vontade de fazer exatamente isso, após o desjejum, Gun guardou a carta do pai do bolso da camisa – amarrotada como todas as outras que usava nesses dias – e direcionou a cadeira de rodas para fora do escritório, na direção do seu quarto. Já em frente à sua cama, apoiou as mãos sobre o colchão e se preparou para aterrizar na superfície macia.

A porta se abrindo e a voz de Taeyang penetrando o recinto fez com que ele se desequilibrasse no exato momento em que projetava o corpo para frente. Caiu feito um bibelô bambo no chão.

— Oh meu Deus, Gun! — Taeyang exclamou preocupado, correndo em auxílio ao irmão.

Gun estava do outro lado da cama, se arrastando para ficar sentando no assoalho enquanto o rosto ficava vermelho de raiva.

— Me solte! — gritou para Taeyang ao perceber ele se agachando para ajudá-lo.

— Você se machucou? — o outro Wang perguntou, visivelmente ignorando o alerta dele. As mãos estavam indo para suas costas e isso o irritou ainda mais.

— ME SOLTE, IMBECIL! — empurrou Taeyang com o braço direito e cravou os dedos no colchão em uma nova tentativa de subir na cama alta.

Então aconteceu. Taeyang o pegou em seus braços e o depositou com alguma dificuldade, já que Gun tentou esmurrá-lo no processo, apoiando o rapaz aleijado na cama.

— Quem te deu o direito de me tocar?! — sua raiva havia alcançado um novo patamar. Queria ter suas pernas sadias por meros instantes apenas para partir para cima daquele oportunista de cara lavada.

— A culpa foi minha. Eu te distraí… — Taeyang se justificou, depois de respirar fundo reunindo uma boa dose de paciência.

— E que merda veio fazer no meu quarto?

— Queria conversar com você sobre a empresa. Estamos tomando algumas decisões…

— Não ligo — rosnou entredentes.

— Seria importante que…

— Não quero saber.

— Eu entendo — Taeyang concordou, embora não entendesse nada. Gun continuava sendo um dos herdeiros e, por mais que suas falcatruas tivessem levado a empresa a uma crise, ele ainda era parte dos bons frutos do passado — Acontece que conversei com nossos irmãos e nós estamos pensando…

— EU NÃO QUERO SABER! — Gun berrou a plenos pulmões — EU NÃO TÔ LIGANDO PARA NADA! Vendam minhas ações e parem de me perturbar com esse assunto. Parem de me perturbar com tudo!

Taeyang aguardou o rompante de ira de Gun terminar. Calado e pensativo, fitou-o arrastar-se para dentro do edredom com truculência como um inseto retornando para se esconder no casulo. Uma tristeza conhecida, que vinha visitando o peito de Taeyang desde que o mais velho se acidentou, o atingiu novamente.

— Acho que você anda dormindo demais — observou após ficar vários minutos encarando as costas do irmão — Tenha um… um bom dia.

Derrotado e impotente, Taeyang cruzou o imenso quarto do outro herdeiro e chegou à porta. Preste a ganhar o corredor, escutou a voz abafada pelos lençóis lhe perguntar:

— Por que não me denunciaram para a polícia?

A resposta veio natural, natural como respirar, aos lábios dele. Com uma voz pacífica e determinada, Taeyang o informou:

— Porque você é nosso irmão.

***

Na Na, a cabeça apoiada despreocupadamente sobre o peito de Taeyang, deslizava o dedo indicador desde o pescoço até o umbigo do rapaz, fazendo movimentos ondulatórios e circulares em determinados pontos do tórax exposto.

Ele, com a pele levemente arrepiada em resposta ao toque da namorada, tinha os dedos pressionando carinhosamente a cabeça dela em um cafuné, envolvendo seus dedos nos cabelos da namorada, sorvendo um pouco mais do aroma que ela exalava.

Os dois, deitados em uma cama de hotel, suas roupas jogadas displicentemente pelo ambiente, seguiam silenciosos enquanto se acariciavam após intensos momentos de prazer. A TV, agora ligada em um programa qualquer, era o único barulho que se ouvia naquele quarto.

E era Na Na que reiniciava o contato mais íntimo entre os dois. Cansando-se dos carinhos feitos no peito do namorado, moveu-se sensualmente, os cabelos caindo sobre o seu corpo, emoldurando seu rosto, e se colocou sobre ele, curvando-se, os seios pressionando o tórax, os lábios colando-se aos dele, sorvendo-o como se necessitasse dele para sobreviver.

Mas o beijo fora interrompido.

Taeyang, instantes atrás, novamente envolvido pelo charme e desejo que sentia pela namorada, entregue ao beijo e os sentimentos que mais uma vez afloravam em seu corpo, se viu interrompendo aquele contato para dar atenção à uma matéria exibida naquele momento.

Na Na, entendendo a importância do momento, sentou-se ao lado dele, estático, os olhos fixados sem distrações na tela da TV, colocando a mão delicadamente sobre sua coxa, mostrando-o mais uma vez que ele não estava só.

Estamos agora em frente à Busan Young Motors. A qualquer momento o senhor Nam Seong poderá aparecer. A polícia já entrou no prédio e a comoção é grande entre os funcionários e curiosos.

O senhor Nam Seong foi acusado por seu funcionário, o senhor Jo Han Rok, de tê-lo ameaçado caso não se infiltrasse na Wang S.A., a maior concorrente do senhor Nam, e roubasse a ideia do novo carro sendo construído pela empresa.

Para os que não se lembram, no último evento realizado no ano passado onde conheceríamos os carros que seriam lançados em 2018, a Busan Young Motors apresentou um carro idêntico ao da concorrente, Wang S.A.

Sendo acusada de espionagem industrial pelo próprio Nam Seong, a empresa, que ainda estava sob o controle do falecido senhor Wang Hansol, respondeu a alguns processos, até então sem nenhuma prova evidente, e enfrentou graves crises para se manter aberta, a situação se prolongando até hoje.

Então, como uma reviravolta fantástica, o senhor Jo Han Rok se apresentou pessoalmente à polícia responsável pelo caso e acusou o patrão de espionagem, roubo, chantagem, entre outros crimes que ainda não temos conhecimento… vejam, o senhor Nam Seong está saindo… Senhor Nam, o que tem a dizer sobre as acusações de seu funcionário? Fomos informados que há provas que o incriminam de toda a espionagem industrial? O que o senhor pretende fazer?...

— Ele foi preso… — Taeyang comentou em um resmungo.

— Sim… Finalmente a justiça será feita…

— Ele realmente foi preso? — Taeyang perguntou à namorada, incredulidade em seu rosto.

— Sim… — os dedos dela apertaram carinhosamente a coxa, onde a mão repousara — E com isso, as acusações que existiam sobre a Wang S.A. serão retiradas. Vocês conseguiram, meu amor. Conseguiram…

— Não sem a sua ajuda — ele falou depois de um suspiro cansado — Você foi peça fundamental em tudo isso também…

— Mas não fiz muito além de apoiá-los… De te apoiar…

— Acha mesmo que isso é pouco? — aquela expressão gentil que ela tanto amava — Isso é muito importante, muito mesmo.

— E como será agora com Jo Han Rok? — ela perguntou depois de um sorriso.

— Será como combinamos… Vamos arcar com o advogado. Ele tem a possibilidade de ter a pena reduzida por ter confessado e deu sua palavra que desmentiria Nam Seong caso ele acusasse Gun. Ele o fez. Cumpriu sua palavra e nós cumpriremos a nossa.

— Mas ele também não tinha muita escolha…

— Ele escolheu o que iria prejudicá-lo menos. Entre ser acusado como cúmplice e acusar ter sido chantageado…

— Claro… Espero que esse problema tenha acabado.

— Vamos esperar que sim…

— Agora chega de olhar para esta televisão e falar sobre esse homem. Vamos parar de pensar na empresa por alguns instantes… — Na Na exigiu desligando a TV, aproximou-se ainda mais, envolvendo o rapaz com seus braços, depositando um beijo demorado e instigante nos lábios dele — Essa tarde seria apenas nossa, esqueceu?

— Eu ando muito chato, não é? — ele resmungou em conformação. A mão acariciava o rosto dela.

Na Na, observando o rosto pensativo de Taeyang, desistiu de namorar por aquele momento e deitou novamente, a cabeça apoiada no travesseiro, para escutar suas lamúrias o oferecendo seu ombro. Ele deitou-se ao lado dela.

— Eu sei que estou sendo chato… desligado… desculpe. Mas são tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo em casa e na empresa... Às vezes acho que minha cabeça vai explodir a qualquer momento.

— Não se desculpe… Somos um casal. Estamos juntos para todos os momentos, esqueceu?

— Não… Eu não esqueci e… por isso, precisamos resolver nossa situação também. Não quero continuar escondendo sobre nós…

— Taeyang… eu já te disse que ainda é cedo…

— Estamos juntos há quase seis meses…

— Mas eu não sei como meus pais vão reagir. Não é uma notícia fácil de dar.

— Nós nos amamos, estamos juntos e estamos felizes… O que não é fácil nessa situação?

— Tudo o que aconteceu, Taeyang… Meus pais ficaram sentidos com sua família…

— Com meu irmão…

— Sim, mas eu tenho medo do que eles vão pensar.

— Na Na… Você é uma moça de família, de uma ótima família, e eu não me sinto bem em esconder isso de seus pais.

— Eu sei…

— Quero estar sempre contigo, poder andar livremente com você pelas ruas, de mãos dadas… Não quero precisar ficar me escondendo em um hotel a cada vez que quiser te ver… Isso me deixa mal.

“Eu quero mostrar a todos o quanto eu sou feliz… Que eu tenho a mulher mais maravilhosa do mundo ao meu lado. Não quero ter medo de ser visto com você. Quero poder mostrar para seus pais que eu sou um bom homem… quero que eles conheçam minhas intenções com você.”

— Taeyang…

— Do que você tem medo? Eu não sou o meu irmão.

— Eu sei…

— E então?

— Tenho medo… que meus pais não te aceitem… por causa dele.

— Se isso acontecer, vamos convencê-los do contrário. Estou disposto a lutar por você, Na Na. Nada mais nos afastará… Não vamos permitir isso, mas preciso que confie em mim. Daremos um jeito, independentemente do que aconteça. Estamos juntos. Somos um casal.

— Tudo bem — ela deu um suspiro profundo e resignado — Vamos falar com meus pais, mas me deixe sondar o que eles pensam primeiro…

— Até quando?

— Esta semana, tudo bem?

— Vou esperar… — ele a olhou com intensidade, o sorriso divagando entre o carinho e a malícia.

— O que é? — ela perguntou sentindo-se esquentar em resposta aos olhos dele sobre ela.

— Ficou chateada? — perguntou. Um beijo demorado no pescoço.

— Não…

— Mas parece… — o beijo do pescoço desceu um pouco, indo para o colo.

— Só impressão…

— Então eu posso fazer isto que você não vai se importar? — ele perguntou e, em seguida, a língua passeando sobre o seio da namorada. Um suspiro profundo e demorado foi ouvido como resposta.

— Talvez eu não me importe, afinal… — ela respondeu, a sombra de um sorriso contido em resposta à brincadeira do namorado.

— Obrigado por não se chatear comigo… — Taeyang se colocou sobre ela, os lábios se encontrando, as mãos astutas deslizando pelo corpo esbelto da mulher — Posso continuar o que interrompi há alguns minutos?

— Terá que compensar o beijo que interrompeu… — ela provocou.

— Farei o meu melhor…

Os lábios se encontraram novamente, os corpos mais próximos, movendo-se livremente naquela tarde primaveril. Na Na sabia que podia confiar em Taeyang e, por isso, preferiu tentar livrar-se de seus medos. Taeyang sabia que, a partir dali, o relacionamento dos dois seguiria um novo caminho, um caminho mais firme e sólido.

***

A morte de Wang Hansol havia feito diferença na vida dos herdeiros Wang. O mais novo, assim como os demais, fora acometido por uma nova percepção de vida, nunca antes vislumbrada. Toda a situação lhe fez ver coisas que antes ele não notava e ter sentimentos até então desconhecidos.

Tudo aquilo também fizera com que ele pensasse mais no pai, no tempo que perderam por serem egoístas e naquela carta, a simples carta que tinha agora diante de seus olhos, que mexeu sobremaneira com seus sentimentos já tão maltratados.

Meu caçula amado, Sun

Lembro-me com saudades do dia em que te tomei em meus braços pela primeira vez. Eu já sentia que você era o meu último e que, como tal, abrilhantaria a minha pequena constelação de uma maneira incrível.

Você foi um menino pequeno e lindo que encheu essa mansão com seu sorriso, com suas brincadeiras, com seus choros incontroláveis… Sempre tão animado e comunicativo até que seu velho pai, incompreensivo e intolerante, te roubou essa alegria, essa audácia natural ao te proibir de seguir seus sonhos, te impondo responsabilidades que não deveriam ser suas.

Desculpe-me e livre-se desse fardo. Ele não é seu.

Sinto por ter perdido tantos bons momentos ao seu lado. E sabe o que mais? Sempre achei o seu empenho para esse mundo virtual algo admirável. A verdade é que sempre fui curioso para aprender a jogar… tinha umas coisas que te via jogar e me instigavam. Eu quis, mas não dei o braço a torcer, e agora é tarde para tentar começar e estreitar meu relacionamento com você.

Me desculpe por isso também.

O que quero, do fundo do meu coração, é que você volte a ser como na sua infância, livre, feliz e comunicativo, capaz de fazer o que quiser a qualquer momento. Serei feliz se, de onde estiver, puder te ver realizar seus sonhos sem ter medo, se puder te ver perseguir seus objetivos com garra e confiança, porque eu sei que você é capaz de realizar o que quiser…

E eu confio em você. Confio que aprenderá com os erros de seu velho pai e viverá o presente sem se preocupar com o futuro, aproveitando o que o agora tem de melhor. Que não trocará pessoas por coisas, que não cometerá erros que te trarão solidão, tristeza e arrependimentos.

Lembre-se ainda que você é tão importante quanto seus irmãos, meu menino, e deve estar com eles, se apoiar neles, e apoiá-los quando necessário for. Não se sinta menor, mas os veja como iguais, porque vocês são.

Conquiste todos os mundos e reinos que puder conquistar, mas conquiste, acima de tudo, sua paz e felicidade.

Te amo, meu pequeno. De seu pai.

Guardou o pedaço de papel no bolso da calça, os olhos embargados como sempre ficavam quando as lembranças do velho homem o tomavam, e voltou a pensar em tudo o que martelava a sua mente constantemente.

Sun passou a perceber o quanto mudara em relação ao seu modo de ver o mundo e as pessoas que o rodeavam. Começou a entender que situações insignificantes não mereciam a sua atenção assim como notara que algumas coisas, antes despercebidas, eram aquelas que realmente faziam sentido e tinham significado.

E, ao repensar em tudo isso, entristecido pelo rumo que sua família e vida seguiam, esperava que Hea chegasse no café, recordando com amargura o primeiro encontro que tiveram, logo após o casamento de Yun Mi.

As palavras ditas pela jovem tiveram o poder de transpassar seus sentimentos, seu coração… arrasaram sua alma. Sentia-se um completo imbecil por ter concordado com aquela aposta idiota e, a cada novo encontro, sentia como se todas as suas esperanças estivessem morrendo e que não fosse capaz de reconquistar o que fora estúpido o suficiente para não perceber.

...

O coração do caçula Wang batia tão desesperadamente que ele achou que seu peito pudesse estourar. Estava consciente de seus erros, sabia que havia feito algo realmente condenável e sequer merecia que Doh Hea, gentil demais, se desse ao trabalho de lhe encontrar.

A jovem chegou, como das outras vezes que haviam se encontrado, mais linda do que imaginou que ela pudesse estar. Um casaco jeans sobre uma camiseta de uma banda qualquer ensacada em sua saia xadrez. Meia preta grossa, um sapato da mesma cor; o casaco de frio, pendurado com delicadeza sobre o encosto da cadeira. Os lábios rosados. Os cabelos soltos, e avermelhados, sobre os ombros.

Era estranho reparar em tudo aquilo agora. Sentiu-se idiota por não ter percebido o quão incrível ela era antes de tudo desmoronar.

— Como vão as coisas, Sun? Seu pai melhorou?

— Está tudo bem, eu acho! — ele falou sem muita certeza, os olhos colocados intensamente sobre ela — Meu pai está melhor. Saímos com ele para o cinema ontem…

— Isso é bom. É importante que tragam para ele esses momentos de alegria durante sua recuperação. Não deve ser nada fácil passar tantos dias internado. Tudo o que o senhor Wang precisa no momento é se distrair.

— Sim… Acho que sim — Sun concordou, impressionado com a bondade que exalava dela, mas estranhou que não tocasse no assunto de antes, aquele que o motivou, juntamente com Shin, a estar ali, falando tão logo pediram dois cappuccinos  — Hea, eu sinto muito, de verdade… desculpe por ter feito o que fiz. Eu fui um completo estúpido ao ter apostado com Jung, muito pior por ter falado coisas tão tristes e feias sobre você à Midori… Eu estou arrependido de verdade… Me desculpe.

Sun… Você não precisa me pedir desculpa sobre nada…

— Claro que preciso…

— Claro que não precisa. Eu entendo você, entendo a aposta e entendo cada uma das palavras que você disse à Midori. Eu nunca fui a melhor das garotas, tenho minhas manias e fazia de tudo para estar perto de você… Isso cansa qualquer um, não te culpo.

Também não acho que acertei na forma como sempre me aproximei de você. Quando éramos mais novos, eu te cercava, te impedia de respirar e te irritava com minha insistência em estarmos juntos. Te sufoquei esperando que você me visse. Era óbvio que você não me desse crédito…

— Mas eu não me irritava de verdade… Eu sempre esperava que você estivesse por perto. Sentia sua falta quando não te encontrava… Eu não sabia o que sentia…

— Não se preocupa com isso, Sun. Está tudo bem.

— Não, Hea. Não está tudo bem. O que eu fiz com você foi uma idiotice sem tamanho, eu não consigo me perdoar e…

— Eu já perdoei. Vamos esquecer isso. Continuamos a ser amigos como sempre fomos. Nada muda.

— Tudo muda. Eu não quero apenas a sua amizade. Eu… acho que gosto muito de você, Hea. Sei que demorei a perceber, mas essa é a verdade.

— Sun, você não pode falar sobre algo que não tem certeza, nem eu posso aceitar os sentimentos de alguém que até poucas semanas atrás me achava um estorvo irritante e que não sabia mais o que fazer para me ter longe, que sequer suportava ouvir a minha voz…

— Eu sinto muito, Hea…

— Não sinta. Não dá para mudar o que passou… Vamos continuar como amigos, isso é o melhor, e evitar falar sobre coisas que você não tem certeza.  

Os dois foram interrompidos pelo garçom que trazia seus pedidos. A partir dali, ambos preferiram evitar comentar sobre o que aconteceu, assumindo que relevar era, nesse momento, o que de melhor poderiam fazer.

...

Naquele momento, o jovem refletia sobre a ligação da amiga horas antes, lhe chamando para se encontrarem. Desde o sepultamento de Hansol que os dois não se encontravam.

Sun, que havia decidido dar espaço para a moça evitando enchê-la com suas amarguras e tristezas, não imaginou que ela optaria por vê-lo. Não pôde evitar a ilusão sobre ficarem juntos.

— Boa tarde, Sun… — ela o cumprimentou. O rapaz, absorto em seus pensamentos, não notou sua chegada.

— Hea — como ele já se acostumara, estava linda. Um casaquinho xadrez, uma saia na altura do joelho, saltos… Estranhou aqueles saltos.

— Desculpe a demora… Papai pediu que eu o acompanhasse em umas negociações da empresa.

— Estava na empresa? — o outro estranhou.

— Sim… E papai me contou como as coisas têm melhorado depois que vocês passaram a trabalhar juntos…

— Não tenho contribuído com muita coisa…

— Não diminua sua participação. Ela é tão importante como a de todos os outros. Estão de parabéns! Você está de parabéns! Imagino que não é nada fácil continuar depois de tudo o que vocês têm enfrentado.

— Por que tem ido à empresa?

— Papai gosta que eu esteja com ele…   

— Vai estagiar na Wang S.A.? — Sun perguntou com uma ponta de animação solta no timbre.

— Ainda não sei… — ela foi evasiva, tomando cuidado com as palavras seguintes — Mas papai tem se sentido só nesse momento…

— Imagino… — um tom melancólico facilmente perceptível — Ele e papai sempre estiveram juntos. Acredito que não é fácil para o senhor Yoseob continuar depois que papai… nos deixou desse jeito…

— Eu sinto muito, Sun… Sinto muitíssimo. Era muito pequena quando perdi a minha mãe, mas meu pai me supriu em todas as minhas necessidades. Ele se esforçou ao máximo por mim e eu por ele e, assim como eu não estava só, você também não está. Você tem seus irmãos que te amam muito e não vão te abandonar. Vocês só precisam ficar juntinhos… Esquecer as brigas e se apoiarem.

Ambos pararam a conversa para fazerem os seus pedidos. Tão logo o garçom se afastou, se olharam por um breve instante, em total silêncio.

— A gente só percebe o valor das coisas quando não temos mais a chance de tê-las… Quando penso em meu pai, lembro de todos os momentos perdidos que poderiam ter sido aproveitados.

"Sei que ele não foi um exemplo de amor para mim e meus irmãos, mas agora… eu percebo que ele sempre lutou para que tivéssemos um futuro diferente do dele. Aprendi com os erros de meu pai que não posso me preocupar apenas com o futuro e me esquecer de viver o presente. Meu pai também sofreu por não realizar seus sonhos… Não quero isso para mim."

— Você está certo em cada uma das suas palavras… E é isso o que você precisa buscar. E sabe o que mais? Parece que estou falando com outro Wang Sun…

— O que quer dizer?

— Sei que tem sofrido, e não quero te deixar passar por esse momento sozinho, mas estou surpresa. Você parece mais centrado do que imaginei que estaria.

— Meu irmão Taeyang me disse que as dificuldades e perdas da vida nos deixam mais firmes, mais fortes e sábios… Talvez eu esteja começando a vivenciar essas experiências.

— Pode ser que sim…

— Por que me chamou aqui? — Sun perguntou em meio a um gole de seu chocolate.

— Queria ver como você estava… Imaginei que não estaria bem e estou bem mais tranquila agora que vi você… Independente de qualquer coisa, somos amigos… Eu não me sentiria bem se não estivesse com você nesse momento…

— Agradeço sua amizade, Hea… — o rapaz a olhou intensamente, os olhos distantes, avermelhados — E me desculpe por não ser bom o suficiente para você.

— Sun…

— Tudo bem. Não precisa se sentir mal com isso. Não diminuo a culpa que tenho diante do que fiz e te agradeço por não ter desistido por completo e ainda me permitir ser seu amigo.

A jovem desviou o olhar do rapaz. Focou a xícara praticamente intocada diante de si e sua fumaça se dissipando pelo ambiente. Sua mente divagava em vários momentos, deslizava desde o momento em que conhecera Sun, quando o pai se fez presente em algum jantar familiar, os momentos de brincadeira na infância às discussões de quando já eram maiores, as irritações da adolescência. Em seu coração, sempre desejou que o jovem Wang a visse como ela o via, que nutrisse por ela o mesmo que ela nutria, mas isso nunca ocorreu.

Agora, depois de todas as situações pelas quais passaram, daquela aposta e das declarações que ele fizera sobre ela à Midori, Doh Hea concluíra o quanto esteve enganada durante todos esses anos. Não mais sabia o que sentiu desde que conheceu Wang Sun. Não sabia o que esperava dele.

A única certeza que ela tinha era a de que não queria, nem aceitaria sofrer, nem mesmo por ele. Sun fora seu primeiro amor, aquele que perdurou por vários anos, mas ela não sabia se aquele sentimento era o suficiente para que ela, diante de tudo, fosse capaz de voltar atrás.

***

A empresa estava longe de ser o que eles almejavam. Mesmo com todas as acusações sendo retiradas, a rasteira da Busan Yong Motors fora muito grande, mas enquanto Taeyang olhava da cabeceira da mesa para os outros presentes na sala de reuniões, seu coração sentiu esperança.

Pela primeira vez os semblantes de seus irmãos carregavam engajamento. Eles não pareciam solitários em suas muralhas. Estavam em sintonia, em harmonia, e os olhos brilhavam de expectativa pelo que poderiam fazer para melhorar a Wang S.A.

Taeyang sorriu de leve observando os outros filhos do seu pai desejando apenas, para que aquilo se tornasse perfeito, que Gun pudesse se unir a eles contaminado pelo mesmo espírito de equipe. Infelizmente, não era possível se ter tudo.

— Vamos lá, meu irmão — Yun Mi o incentivou a parar de ficar encarando-os pensativamente e começar a reunião. A moça tinha um sorriso paciente no rosto, uma aura mais compreensiva e que raramente se viu no passado — Quer dizer, CEO interino.

Jung e Sun sorriram de leve ao ouvir a irmã mencionar Taeyang pelo cargo. Para eles já não havia dúvida de que o mais velho deveria ser o CEO definitivo.

— Certo — Taeyang abotoou o paletó e sentou-se na poltrona principal — Esta é a primeira reunião de acionistas depois que papai partiu… Estou feliz que os senhores decidiram continuar conosco e confiar em nós — virou-se para Yoseob e mais um acionista remanescente sentado à esquerda.

— Deixe disso, Taeyang. Hansol era como um irmão para mim, jamais poderia abandoná-los — Yoseob gesticulou como se aquele agradecimento fosse desnecessário. O outro concordando com acenos de cabeça.

— Ainda assim, não me custa agradecer a quem esteve ao nosso lado nesses momentos tão escuros. Agora que tudo foi esclarecido e que a polícia tem feito o seu trabalho, vamos tentar deixar os tempos sombrios de lado e focar no que realmente importa para nos reerguermos.

— Não poderia falar melhor — Eujin concordou.

— Pensamos muito numa forma de levantar a empresa com dignidade, e a melhor sugestão veio de Shin. O maior evento automobilístico da Ásia ocorrerá em alguns meses na China. As grandes marcas do mercado estarão por lá e haverá muita oportunidade para apresentar novos produtos. A mídia de todo mundo participará em peso desta cobertura e Shin pensa que devemos aproveitar a oportunidade... Eu também penso isso…

— É realmente uma chance verdadeira — Yun Mi, que também flertava com aquela possibilidade, endossou.

— Temos até uma ideia de projeto para estar lá. Shin, por favor — Taeyang gesticulou na direção do mais velho.

Shin pigarreou focando na reunião, andava distraído e sorrindo bobamente para o nada nas últimas semanas, e organizou alguns papéis da pasta à sua frente.

— Queremos criar um carro — Shin apresentou os desenhos dos esboços que havia feito com a ajuda dos irmãos mais novos para o acionista e o velho Yoseob — Poderíamos começar de modo mais cauteloso, desenvolvendo alguma peça menor, mas isso não seria a cara da Wang S.A. Sinto que devemos tentar voltar para o nosso lugar entre os grandes da Coreia do Sul com um carro novo. Um modelo diferente do anterior. Um conceito inesperado, diferente do que a empresa sempre criou.

Yoseob franziu o cenho. Suas mãos pegaram um dos rascunhos e ele observou o objeto desenhado na folha branca com admiração… e cautela.

— A Wang S.A. passou décadas apostando em modelos funcionais e acessíveis — Taeyang assumiu de novo — Esse lema não morre enquanto estivermos no comando. A população merece um veículo de preço honesto e qualidade, mas, no momento, devemos ser ousados. Para gerar lucro e atenção, temos que focar em outro público-alvo. Assim nasceu a ideia para esse automóvel. Um sport asiático para competir com os gigantes: Ferrari, Mustang, Porsche, BMW

— É uma ideia interessante, porém me parece pedir um alto investimento — Yoseob comentou sobriamente.

— Sim — Taeyang anuiu com desânimo, já prevendo o freio de quem tinha mais experiência comercial — A empresa está com poucos recursos desde que tivemos a saída maciça dos acionistas. Não sei como poderemos manter essa proposta. Esse é o principal ponto da reunião.

— Eu entrarei em contato com os investidores estrangeiros novamente. Os japoneses ainda estavam interessados antes de papai falecer… — Yun Mi tentou uma solução.

— É uma boa cartada. Acha que consegue, irmã?

— Sim. Eu consigo — a mulher falou com perseverança, embora seu peito estivesse cheio de incertezas sobre sua proposta — Posso começar os contatos ainda esta semana.

— Ótimo. Faça isso — o CEO interino aprovou — E peça ajuda a Na Na… Quer dizer, a senhorita Kim, para agilizar os contatos.

— Claro. Ela é bem melhor nisso do que eu — Yun Mi cantarolou com cumplicidade para seu irmão. Taeyang lutou bravamente para não corar.

— E apenas este investimento vai adiantar? — Sun perguntou após erguer o braço e se sentir liberto para discutir um assunto da empresa de igual para igual com os irmãos — Não sou muito bom em economia, mas me parece que precisaremos de um senhor capital para iniciar o projeto.

— Precisamos sim — Eujin balançou a cabeça em acordo — E eu também não queria depender 100% de investimento externo. Nosso lucro tem de surgir de algum lugar…

— Vou pedir para Na… para a senhorita Kim fazer o levantamento de quanto temos em nossa posse, um valor líquido. Contudo, adianto que os valores não serão nada animadores.

— O orçamento do projeto já foi feito? — Yoseob perguntou.

— Sim — Shin retirou mais um papel de sua pasta — Fiz com a ajuda de Taeyang, que é melhor em números e estimativas do que eu. O valor seria algo perto disso com uma margem de 15% para mais ou para menos.

— É mais do que eu imaginava — Yoseob arregalou os olhos ao ler o valor que Shin lhe havia indicado no papel — Se querem saber minha opinião, garotos… Temos de ter um corpo de acionistas maior ou essa ideia não passará de uma ideia. É como o garoto Eujin disse: se ficarmos dependendo somente de investimento externo, será quase como trocar seis por meia dúzia.

Era tudo o que Taeyang e os demais temiam escutar do amigo de seu pai. O plano mal saíra do papel e já estava descendo ladeira abaixo. Com um suspiro derrotado, o CEO relaxou na poltrona e olhou entristecido para a porta.

Se existia uma saída, ele não conseguia enxergar seu caminho. A única coisa que seus olhos viram, e com espanto, foi seu irmão mais velho, Sook, entrar sorrateiramente na sala de reunião.

— Irmão? — Eujin foi o segundo a vê-lo se aproximando. Era inusitado ver Sook na empresa, naquela sala, naquele momento, e ele não resistiu a bombardeá-lo de perguntas — O que faz aqui? Aconteceu alguma coisa? Minha sobrinha está bem?

— Um bom dia para todos — Sook curvou-se para os senhores mais velhos da sala. Para os irmãos, agora todos o olhando com surpresa, respondeu com irreverência — Está tudo bem, pessoal. Desfaçam essas caras de preocupação.

— Então… Bem… Por que está na empresa? — Taeyang indagou sendo visitado pela desconfiança.

— Eu vim ajudar.

— Ajudar?

— Ah, meu Deus! Como não pensei nisso antes?! — Sun bateu na própria testa enquanto vivia sua epifania.

— Será que… — Yun Mi gaguejou impactada, sendo a segunda a compreender.

— Eu não sei como vocês andam de acionistas — olhou para os dois homens solitários ao lado esquerdo da mesa — Mas ouvi dizer em algum lugar que comprar as ações da Wang S.A. será o grande acerto do mercado financeiro deste semestre.

— Inacreditável! — Jung abriu um grande sorriso esperançoso.

— Sook, você…? — Taeyang ainda processava o acontecimento que estava por vir.

— Sei que é deselegante aparecer no meio de uma reunião sem ser anunciado, mas eu não podia esperar que a ideia minguasse antes de começar. Quero comprar algumas ações, o quanto for necessário para ajudá-los, em nome da ISOI. Sun Hee aprovou o investimento no mesmo momento em que sugeri e olha que ela é bem exigente em firmar sociedades — Sook argumentou descontraído.

— Como soube disso tudo?

— Acho que o tal passarinho que anda assobiando na família Wang também se encarregou disso — Eujin brincou olhando para Shin, que fingia reorganizar seus papéis e não ter nada com aquilo. Sook sorriu para o mais novo compactuando o momento.

Taeyang compreendeu rapidamente como as coisas funcionaram e chegaram àquele ensejo. A única coisa que ele não entendeu foi por que não lembrou por si só de perguntar ao irmão mais velho se sua empresa, a maior do segmento de cosméticos na Coreia do Sul, poderia ajudar a Wang S.A. naquela crise. O que Sook disse a seguir foi providencial, como se ele estivesse escutando os pensamentos do rapaz.

— Não estávamos acostumados a nos ajudar, mas esse tempo já foi. Sou o terceiro acionista desta reunião e estou pronto, com muito tempo até buscar Ra Na na escola, para escutar os detalhes do novo projeto.

Sook caminhou até uma poltrona ao lado de Yoseob, que o cumprimentou efusivamente por agora fazer parte do grupo. O outro acionista, contudo, ainda tinha mais uma sombra pairando sobre eles para apontar.

— E a questão do motor? Não somos bons nisso. Aliás, essa foi a nossa desgraça. Criar um carro sport requer uma peça memorável. Não teremos capacidade para isso… Precisamos contratar alguém de fora, ou seja, mais gastos.

— Na verdade, nós temos alguém…

— Vão atrás de outro ex-engenheiro da concorrência?

— Não. Nós temos uma pessoa com essa competência entre nós — Taeyang confessou. Há alguns meses seria muito improvável ele dar o braço a torcer assim.

— Hum, quem? — o acionista perguntou desafiador.

— Alguém que não teve muita confiança em seu trabalho no semestre anterior e optou pelo caminho mais fácil. Ele é um ótimo engenheiro, apenas não se deu conta disso — olhando para Jung, e sabendo que os outros irmãos compreendiam o que ele falava, Taeyang completou — Por favor, Jung, convença ele. Faça ele entender que será bem-vindo entre nós e que queremos fazer isso juntos.

Jung concordou, balançando a cabeça, mas acrescentou:

— Farei meu melhor, mas, sinceramente, acho que isso não depende só de mim.

— Você está certo — Taeyang anuiu — Vamos parar de jogar a responsabilidade no colo uns dos outros e trabalharmos juntos. Em tudo.

Sook sorriu discretamente para a cena à sua frente e escutou a reunião prosseguir em ritmo esperançoso. Por dentro, o filho Wang mais velho abrira um sorriso muito maior, tranquilizado pelo que acontecia, pelos passos que seu pai tanto desejara aos filhos e que pareciam, finalmente, estar se concretizando.

As frases de Hansol na carta particular para o primogênito continuavam ecoando na cabeça de Sook, e agora faziam muito mais sentido que antes…

… Fico feliz que você se tornou um homem completo, longe da minha influência, mais perto da índole de sua mãe do que da minha ganância…

… Cuide bem dos seus irmãos. Os ajude o quanto puder. Eles precisam muito da sua sabedoria, meu querido Sook…

… Deixe Ra Na fazer o que quiser quando crescer. Deixe ela ser livre e feliz com suas próprias escolhas…

Eu te amo, meu filho.  

***


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Notas finais do capítulo

Esperamos que tenham gostado desse capítulo. Não deixem de comentar e nos falar de suas impressões. É muito importante para nós.

Um ótimo feriadão a todXs e até próximo domingo!

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Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo



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