Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 63
Uma Nova Estação


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!

Como estão? Espero que bem após o capítulo bad de fim de arco.
Este capítulo marca um novo ciclo na história, afinal, com a partida de Hansol, esperamos que muitos daqueles velhos entraves que seguravam os Wang tenham ido embora também... Mas tudo é gradual e temos algumas viradas interessante daqui até o fim da fanfic.

Aguaaaardem!!

Aquele super agradecimento para quem nunca nos abandona nos comentários e bora lá para a leitura desse novo.

Beijos! o/



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A primavera na Coreia chegara com toda a força e graciosidade característica da estação. Os parques nacionais, que na estação anterior exibiam o aspecto ressequido e cinzento do inverno, agora ganhavam vida e cor.

O canto dos pássaros era contagiante. As copas das árvores, cheias, acolhiam os visitantes com sua sombra. As belas flores perfumavam o ar e atraiam insetos para sua sedutora polinização. As pessoas estavam livres para aproveitar o clima ameno pelas ruas. As pessoas estavam mais felizes por sentirem o sol aquecer seus ossos e suas almas.

Para os Wang, a mudança de estação significaria uma mudança de estado de espírito. Eles não haviam se livrado do luto e de todos os percalços dos meses anteriores.

O inverno despediu-se do país deixando uma miscelânea de lembranças inesquecíveis a todos. Para o bem ou para mal, fora uma estação agitada na vida dos Wang e daqueles que os rodeavam.

Uma crise sem precedentes na empresa, que ainda não se recuperara dos revezes. Traições, revelações chocantes, separações inevitáveis dentro da família.

Um Wang alquebrado fisicamente, rodeando a casa numa cadeira de rodas, todos os oito alquebrados por dentro tentando seguir com suas vidas da melhor forma e o patriarca daquele núcleo repousando eternamente numa urna funerária. Esse fora o saldo do inverno.

Passado um mês desde a morte de Wang Hansol, a dinâmica dentro da Mansão da Lua havia mudado. A propriedade sempre pleiteada por alguma das esposas de Hansol estava, oficialmente, sem nenhuma senhora.

Ah Ra não via mais sentido em estar ali e seguia morando solitária em seu apartamento na cidade. Min-joo nunca mais tivera a chance de pisar dentro do lugar, proibida em definitivo de passar da portaria. Eun Tak e Chang Ru, que já eram figuras distantes daquele convívio, preferiam manter a antiga rotina de aguardar seus filhos visitá-las no conforto de seus lares. Nyeo Hin Hee, a força motriz da mansão por tantos anos, também não havia retornado para seu antigo cargo.

Assim, todos aqueles muitos metros quadrados de luxo e ostentação eram ultimamente divididos entre Taeyang, Shin, Gun, Eujin, Jung e Sun. Somente os seis rapazes, além dos empregados, viviam ali.

Apenas na segunda semana após a morte do pai, Taeyang e Shin reuniram alguma coragem e esvaziaram o andar superior doando os pertences de Hansol, liberando o cômodo por completo. Cada um dos rapazes, em suas horas vagas, encontrava consolo e ânimo nos braços de suas respectivas namoradas.

Eujin e Sun lidavam com o luto de outra forma. Sun passava muito tempo na casa da mãe, porque se sentia amargurado e desorientado. A perda de Hansol o atingira como um trem-bala, ele ainda tinha aquele pensamento de que todos ao seu redor seriam eternos até perceber sua primeira perda.

Eujin estava triste, mas essa tristeza ele canalizou em prol de seu benefício: Havia se inscrito em um curso de música para o próximo semestre. Nesse meio tempo, entre as visitas à empresa para tentar resolver a crise com os outros irmãos e suas crises pessoais, ensaiava incansavelmente com seu fagote. Hye também não saía de seus pensamentos.

Jung estava nadando entre vários sentimentos dicotômicos. Havia o luto, mas havia também o envolvimento com Khan Mi Ok, que ele há muito não conseguia encontrar e lhe provocava saudades profundas.

Lidar com a crescente depressão de Gun, enclausurado em seu quarto, não querendo conversar ou contar o que, de fato, havia acontecido entre ele e a mãe, também o afligia e era o ponto onde Jung encontrava sua maior impotência.

E em meio a um daqueles fins de semana enlutados, Yoseob e o advogado da família Wang foram visitar os herdeiros para a leitura do testamento do patriarca. Yun Mi e Sook, os filhos remanescentes, se uniram aos demais que habitavam a casa, todos se organizando ao redor do sofá e das poltronas do escritório, para escutarem o que lhes era de interesse.

— Como vocês sabem desde muito jovens, Hansol foi meu grande amigo durante esta vida e, como um último pedido, me confiou a tarefa de orientar o advogado Hyuk Sil na leitura do testamento… — Yoseob anunciou após perceber que tinha a atenção plena de todos os filhos de seu amigo.

— Sim… Ficamos gratos por ter o senhor conosco neste momento — Taeyang respondeu pelos demais. Gratidão e solenidade no tom de seus dizeres — Sempre o consideramos da família, senhor Doh.

— Obrigado, Taeyang — o mais velho sorriu com nostalgia — Agora, senhor Hyuk, pode começar a ler o testamento de uma vez.

O advogado quebrou o lacre de um envelope branco e retirou, movimentos delicados com as mãos, como se estivesse revelando uma preciosidade, um tratado milenar, o papel oculto.

A folha que carregava a caligrafia bonita e alongada de Hansol surgiu aos olhos de Shin, o mais próximo do homem, que pigarreou de leve e iniciou a leitura:

“Quando vocês escutarem o conteúdo deste testamento, significa que eu parti, que meu tempo neste mundo enfim se foi. A partir deste ponto, vocês, meus filhos, darão seus próprios passos, trilharão suas jornadas particulares sem as exigências desse velho chato… E não vou me prolongar por aqui, espero ter obtido o perdão de vocês pelo que fui ou deixei de ser ainda em vida, mas minha missão não terminou.

“Devo repartir meu patrimônio, que não foi conquistado apenas por mim, mas pelo meu pai e também pelos esforços de vocês e de tantos outros colaboradores. Não sei que caminhos escolherão, se desejarão dar seguimento à direção da Wang S.A. ou venderão suas partes das ações e viverão do modo como quiserem, isso realmente não importa mais, mas acho injusto que um pai de oito filhos tenha que decidir quem deve estar à frente de uma possível liderança.

“Quando eu iniciei a escolha do novo CEO, em instante nenhum me vi tomando esta decisão. Meu plano original era uni-los, vê-los confiando e trabalhando um com o outro como irmãos, não como inimigos nascidos de mães diferentes.

“Queria acompanhá-los decidindo por vocês mesmos, através da justiça, do companheirismo e do altruísmo, quem seria o novo líder da empresa. Infelizmente, ou não, vou manter o plano e deixar essa tarefa com vocês. Queria estar vivo ainda, pelo menos para acompanhar esta decisão, embora tenha meu palpite.

“Deste modo, o que cabe a mim legalmente é dividir as minhas ações na Wang S.A. entre Shin, Gun, Taeyang, Yun Mi, Eujin, Jung e Sun por igual. Sook, que já teve sua parte na herança adiantada com os investimentos na sua própria empresa, terá a oitava parte destas ações partilhadas com Doh Yoseob, Li Chang Ru, Ji Eun Tak, Woo Ah Ra, Yoon Min-joo e Nyeo Hin Hee.

“A Mansão da Lua tem o mesmo destino da direção da empresa. Vocês decidirão. Podem mantê-la e morar nela ou vender a propriedade e repartir o valor da venda entre os oito. As demais posses que estão no meu nome, os carros, os barcos, o apartamento em Seul e o de Nova York, também seguem as orientações do que fazer com a mansão. Contem com a ajuda do senhor Hyuk Sil para serem guiados nos trâmites de suas escolhas.

“Terminada a parte burocrática, me despeço de vocês em definitivo, desejando que sejam felizes e almejando que permaneçam unidos, mesmo que seus caminhos se distanciem. Wang Hansol”.

Obviamente, terminada a leitura impecável do advogado, o último ‘adeus’ de Hansol deixou todos no escritório com os olhos molhados. Yoseob, que havia chorado ao escutar seu amigo mencioná-lo na distribuição da herança, secou o rosto rapidamente e se recompôs para sua tarefa final.

— O pai de vocês me encarregou de mais uma coisa — disse e, em seguida, abrindo a pasta de couro em cima da mesa, retirou oito pequenos envelopes — São cartas individuais, algo mais particular que Hansol escreveu para cada um de vocês e me pediu para entregar depois da leitura do testamento. Tomem. Cada carta está marcada nominalmente.

Shin pegou o seu, hesitante, em cima do monte. Sun e Jung se apossaram dos envelopes com seus nomes, curiosos. Eujin pegou o seu, a caligrafia caprichosa do pai fazendo um contorno perfeito nas letras de seu nome, e entregou os de Yun Mi e Sook, logo abaixo da pilha. Por fim, Taeyang colocou seu envelope dentro do terno e estendeu a mão para entregar o de Gun, que o puxou da mão do irmão com brusquidão. Nenhum dos herdeiros quis ler a carta na frente dos demais.

— Então, é isso… — Yoseob suspirou — Não vou me livrar de vocês ainda. Também recebi uma carta dessa. Hansol me pediu para ajudar vocês no que fosse preciso, aquele velho caótico.

Os Wang, à exceção de Gun e Yun Mi, sorriram de leve ao pequeno gracejo descontraído do homem. O clima de tristeza estava se quebrando.

Taeyang se levantou e ofereceu um chá na sala de visitas a Yoseob e ao advogado Hyuk. Eujin, Sook, Sun e Yun Mi o acompanharam no entretenimento dos hóspedes. Shin tocou seu envelope, avaliou-o com desconcerto e saiu do escritório pouco depois. Jung quis ajudar Gun, tirar o irmão puxando a cadeira de rodas, mas o mais velho rosnou para que ele não tocasse no objeto e o deixasse em paz ali dentro. Jung acatou a rabugice de Gun e partiu do cômodo sozinho.

O sol da tarde, primaveril, avermelhado e misterioso, já estava derramando seus raios sobre a grande janela do escritório quando todos saíram daquele ambiente. Olhando através do vidro, Gun tinha uma visão privilegiada dos jardins à luz crepuscular. Entrevado, cheio de frustração em seu coração, abriu o envelope a rasgos descuidados e se pôs a descobrir o que seu pai queria lhe falar particularmente.

***

Jung esfregava as mãos uma na outra, ansioso demais pelo que faria a seguir. Decidiu, em um impulso incompreensível, que não tinha mais tempo a perder. As experiências recentes fazendo com que ele desejasse a cada dia poder aproveitar tudo de bom que a vida poderia lhe oferecer. Entre essas boas coisas, estava Mi Ok.

Desde as declarações sobre seus sentimentos e os primeiros beijos trocados na mesma noite, o rapaz mal tivera tempo de encontrá-la, de conversar sobre os dois e lhe deixar claro quais as suas intenções, o que ele desejava.

O turbilhão de desventuras ocorridas com sua família havia distanciado o, até então, casal de amigos e ela, em sua infinita compreensão e companheirismo, em nenhum momento o cobrou. Deixou que ele estivesse livre e vivenciasse cada uma de suas tristezas, estando presente como uma boa amiga lhe ofertando seu ombro sempre que necessário.

Mas não era na amizade de Khan Mi Ok que Jung estava interessado naquele momento.

Abriu a carteira e olhou com carinho a última lembrança deixada por seu pai, ainda em vida, exclusiva para ele. Releu as poucas linhas com o coração cheio de saudade, impulsionado a nunca desistir daquilo que desejava.

Meu querido filho, Jung

Sinto uma grande tristeza em meu coração por não ter aproveitado mais de você, por não ter demonstrado a atenção que deveria e por ter sido tão relapso durante a sua vida.

Você cresceu praticamente só, sem uma verdadeira presença paterna e me arrependo de não ter feito mais, de não ter sido seu amigo e companheiro, de não ter te instruído como deveria e ter ficado ao seu lado quando precisou.

Mas sou igualmente grato. Você tornou-se um homem bom, com um coração nobre e não foi afetado pelas maldades que te rodeavam desde o seu nascimento. Sou feliz por saber que meu pequeno filho tornou-se um homem de valor, que se dedica ao que quer, que não mede esforços para alcançar seus sonhos.

Devo confessar: me preocupei quando soube que daria aulas de luta, mas não quis me impor contra você. Já havia estragado demais a nossa família para inflamar ainda mais seu coração tão aventureiro, desbravador e cheio de força. Hoje, me exulto, você tem feito o que se propõe com maestria e dedicação. Parabéns!

Não te fiz muito em vida, mas estarei te acompanhando de onde estiver. Quero que seja feliz independente do que os outros digam, que mostre ao mundo seus talentos, que continue perseguindo seus sonhos e que não se deixe intimidar pelas dificuldades que a vida te apresentar. Lute contra elas com sabedoria e seja vitorioso!

Obrigado por me encher de orgulho, por fazer meu coração se alegrar ao enxergar o homem maravilhoso que se tornou.

Te amo, filho. Fique bem.

Seu pai.

Colocou a carta novamente no envelope, guardou em sua carteira e saiu do carro, um buquê de rosas brancas e uma caixa de bombons nas mãos. “Você precisa levar alguma coisa para o pai dela também. Por que não leva bebidas?” Lembrou-se do conselho do irmão mais velho, Eujin, e pegou o terceiro pacote, uma camisa bonita comprada online, estranhamente escolhida por Yun Mi, que o interrompeu quando pesquisava as bebidas no computador da empresa.

Não faça isso, Jung. Você não pode ofertar bebidas para um senhor mais velho e que você mal conhece, ainda mais quando está indo visitá-lo por causa da filha dele. Ele pode achar que isso é algum tipo de ofensa. Por que não tenta algo mais cordial? Uma gravata ou camisa, por exemplo. Posso ajudar a escolher, se quiser.

O sol começava a se pôr quando o rapaz abriu o portão de entrada para o jardim com certa dificuldade devido ao excesso de pacotes, os vizinhos observando cada um de seus movimentos, e caminhou decidido até a porta da frente, consciente de que não havia avisado a nenhuma pessoa daquela casa sobre a sua visita. Temeu por essa surpresa.

— O que você está fazendo aqui? — os olhos de Mi Ok se arregalaram quando abriu a porta, em resposta ao som da campainha.

— Eu vim te ver…

— Como é? Está doido? Por que veio sem avisar?

— Quem é, Mi Ok? — a voz feminina, que ele reconheceu ser da mãe da jovem, se propagou pela casa.

— Ah, mamãe… É…

— Jung!

Han Ok brotou da terra, atrás da jovem que fechou os olhos com força, irritada pela nova vergonha que passaria. Não estava esperando a visita do rapaz, não sabia o que ele queria e nem se deu conta, tamanha a frustração, que ele trazia presentes para os moradores da casa.

— Há quanto tempo — o irmão continuou puxando Jung pelo pulso, quase derrubando Mi Ok à porta — Venha, entre, sente-se.

— Quem é?... Ah, Jung! Quanto tempo, meu querido. Demorou para aparecer — a senhora, toda sorrisos, saudou o rapaz com simpatia — Como está?

— Ah… Estou bem, senhora. Obrigado.

— Eu soube sobre seu pai pela TV. Sinto muitíssimo.

— Obrigado. Ah… eu trouxe essas coisas — falou entregando as flores e a camisa — São para a senhora e para o senhor Khan.

— Muito obrigada, mas não precisava ter se incomodado… Realmente eu pensei que você não viria nos visitar. Mi Ok parou de ir à academia… Imaginei que tivessem passando por problemas…

— Mamãe… — a jovem tentou, mas a conversa não lhe cabia naquele momento.

— Eu vou colocar mais comida para nós. Por favor, fique para o jantar.

— Não se incomode…

— Não é incômodo. Fique à vontade.

A casa de Mi Ok era espaçosa, embora simples. A sala era ampla, o piso de madeira, as paredes em um tom claro, o estofado colorido. Havia uma escada que, provavelmente, daria para os quartos e tudo se concentrava e um conjunto de cores agradável. Ele se sentiu acolhido.

— Como vai a empresa da sua família? Fiquei sabendo que estão passando por uma crise… A Wang S.A. é uma das maiores empresas automobilísticas que eu conheço… — Han Ok continuou se metendo onde não deveria.

— A pior parte já foi resolvida, conseguimos provar que nosso projeto foi roubado… Agora é seguir e tentar voltar a estar entre as melhores.

— Vão conseguir rápido.

— Espero que sim. E você, como vai?

— Ah… Está tudo bem. Acredito que em breve irei marcar meu casamento. Quero que venha, afinal você já é quase da família…

— Oppa… — Mi Ok falou novamente. Estava envergonhada. Não havia conversado com Jung sobre a situação dos dois. Na verdade, evitou qualquer tipo de situação durante as últimas semanas. O rapaz não enfrentava bons momentos com a família e ela se dedicou a auxiliá-lo por telefone, sempre que ele a procurava.

— Estou em casa — o senhor Khan anunciou cruzando a porta, o estômago de Jung indo a cem graus negativos.

— Boa noite, senhor — a vênia nervosa — É um prazer revê-lo.

— Hmm… Olha só quem resolveu dar o ar de sua graça… O que você pensa que somos, seu moleque?

— Papai…

— Silêncio, menina! Estou falando com esse projeto de homem que não se deu ao trabalho de vir a nossa casa há mais de três meses…

— Papai, Jung está… — ela tentou novamente, a senhora aparecendo novamente na sala.

— Menina, já te falei para não se meter. O que você quer aqui, moleque? Por que apareceu do nada depois de todo esse tempo?

— Senhor, primeiramente eu quero me desculpar por não ter vindo assim que o senhor falou, mas minha família tem enfrentado problemas muito sérios e… recentemente, perdi meu pai — a voz do rapaz ficou audivelmente mais grossa ao mencionar Hansol — Não foram meses fáceis e eu sei que também não há desculpas. Deveria ter vindo tão logo o senhor exigiu. Peço perdão.

Jung curvou-se profundamente diante do senhor que o avaliou em silêncio. A esposa, de pé, ao seu lado, tinha uma expressão relaxada, poderia até dizer que satisfeita, por ver o rapaz em sua casa.

— Tudo bem, rapaz. Pode se recompor — o senhor falou com o tom mais brando, olhando do jovem para a filha — Sei bem como é passar por problemas, perder entes queridos… Tudo bem.

— Eu agradeço, senhor — curvou-se novamente, em agradecimento.

— O que quer aqui, afinal?

— Sim… Isso… Bem… Vou ser muito sincero com o senhor… Estou bem nervoso nesse momento porque… nunca fiz algo do tipo em minha vida. Já faz um bom tempo que conheço sua filha.

"Nosso relacionamento passou de “conhecidos” a “amigos próximos” com rapidez até que chegou o dia em que a única coisa que eu queria era olhar nos olhos dela e me sentir em paz, porque é isso o que ela sempre me transmite.

“Paz quando eu necessito, um ombro amigo quando me sinto só… Mi Ok é uma garota maravilhosa que eu tive o grande prazer de conhecer e gostaria que o nosso relacionamento deixasse de ser apenas uma amizade. Por isso, eu vim aqui para pedir permissão ao senhor e namorar com sua filha.”

Mi Ok, de olhos e boca arregaladas, encarava Jung com espanto. Eles não saíram, mal trocaram beijos. Foram tantas problemáticas na vida do rapaz nos últimos meses que ela deixou esse assunto de lado, preferindo focar apenas o emocional dele, o apoiando.

Mas agora, pouco mais de um mês depois do falecimento de seu pai, Jung a surpreendera com uma atitude que ela jamais imaginou.

Esperava que ele, em algum momento, a convidaria para sair, que conversariam, mas de todas as surpresas possíveis, aquela era a última que ela esperaria para aquele momento.

— Como vocês se conheceram? — o senhor Khan perguntou oferecendo o sofá para que o rapaz sentasse.

— Eu fui apresentado à Mi Ok pela Go Ha Jin, num passeio que fizemos meses atrás — preferiu não revelar a bebedeira. Sabia que o senhor não gostaria de conhecer aquela parte da história — A partir de então, começamos a conversar, a nos aproximar mais, Mi Ok sempre me ajudando e apoiando em diversas situações… Eu me apaixonei sem perceber e mesmo que tenha demorado um pouco para compreender, tenho convicção do que sinto por ela.

— Por que está aqui, agora?

— Como já disse, senhor, quero namorar sua filha, de verdade. Preciso que o senhor nos abençoe para podermos seguir adiante.

— E quais são as suas intenções com ela? Minha filha não é qualquer garota. Você não vai passar a vida inteira enganando a garota e…

— Não senhor — Jung o interrompeu, eufórico — Pretendo casar com ela tão logo eu terminar meus estudos e começar a trabalhar. Isso para daqui a dois ou três anos, no máximo… Se ela quiser, é claro.

 Mi Ok sentiu o sangue parar, juntamente com o coração e o raciocínio. Tudo, de repente, ficou silencioso demais. Provavelmente seu cérebro não estava arejado, era bem fácil que aquilo tudo fosse um sonho do qual ela acordaria em segundos…

Mas ela não acordou, ouviu seu pai lhe chamando ao longe, muito distante, mas não conseguiu entender o que ele falava, a mente deslizando em uma névoa de vários nadas. Só voltou aos sentidos quando o irmão lhe deu um cascudo dolorido.

— Ai… — ela reclamou da dor, massageando a lateral da cabeça — Por que me bateu?

— Porque papai está falando com você e você parece estar em outro universo…

— Sim, papai… — virou-se para o senhor depois de uma careta destinada ao irmão.

— Quero saber o que você acha de tudo isso… — o homem repetiu a fala, Mi Ok ficando tensa novamente — Você quer ter um compromisso com esse rapaz?

— Eu… — ela lembrou-se novamente de seus dramas, puxou por algum momento onde houvesse pedidos de namoro, mas desistiu de seguir aquilo, resolveu ser ela mesma naquele momento e expor o que sentia da forma mais sincera que poderia — É o que eu mais quero, papai. Ficarei muito feliz se o senhor nos permitir namorar.

— Então… — o homem parou por um momento, parecia pensar seriamente no que ouviu. Jung o encarava nervoso, novamente esfregando as mãos. Talvez tenha sido afobado demais ao exagerar nas promessas dizendo que iria casar com uma pessoa que ainda estava pedindo em namoro, mas não vacilou e seguiu confiante. Mi Ok, tão tensa quanto ele, pega de surpresa, olhava para os dedos, cruzados e movendo-se agilmente sobre as pernas — Não vejo motivos para não permitir.

— Obrigado, senhor. Muito obrigado… — Jung começou com os agradecimentos e vênias, sendo logo interrompido.

— Vocês podem se ver aqui, na nossa casa. O horário máximo para chegar de passeios é dez da noite. Não vou permitir beijos nesta casa, nem que viajem sozinhos. Nunca irá dormir aqui e a senhorita, ficarei de olho em suas saídas a partir de agora.

— Tudo bem, papai… Muito obrigada!

— Vamos jantar de uma vez? — o homem falou se dirigindo à esposa, levantando em seguida — Vou me lavar e já volto.

— Sim, marido…

O homem se ausentou da sala, Jung e Mi Ok, animados com aquela permissão, de mãos dadas, exultantes, sequer perceberam o sorriso satisfeito que o patriarca revelou, discreto, a caminho do banheiro.

Algumas horas depois, o novo casal estava sentado em um banco na rua, quase de frente com a casa de Mi Ok, conversando com um pouco mais de privacidade, àquela que os vizinhos permitiam que tivessem.

— Fiquei impressionada com tudo isso… Jamais imaginei… — ela falou tímida, as mãos dadas, olhando para elas entrelaçadas.

— Eu pensei que não tinha mais o que esperar… Me desculpa por ter vindo sem avisar, mas a vida é curta demais para ficarmos esperando, Mi Ok. A gente se gosta… Sou muito feliz quando estou com você. Por que esperar?

— A gente nem saiu juntos… É estranho. Geralmente os casais demoram para falar com os pais…

— A gente saiu muito. E todas as vezes que saímos depois da academia? Mesmo quando levei seu pai ao hospital. Todos já sabiam… É engraçado como não percebi… — comentou com certo gracejo — A gente se viu nesses últimos meses mais que muito casal de namorados por aí, mas se estiver achando precipitado, posso falar com seu pai e voltar atrás, mas isso vai dar um problemão e…

— NÃO! — ela se exaltou — Não precisa. Estou bem assim. Estamos bem. Está tudo bem.

— Sim… Está tudo bem — ele se permitiu abraçá-la enquanto sentia os olhos da vizinhança sobre eles — Obrigado por ter esperado que eu entendesse o óbvio…

— Não fale bobagens. Tudo na vida acontece no tempo certo. E você até que foi rápido se for comparar com algumas amigas…

— Saí na frente? Isso é ótimo. Mas não me isenta de ter sido um bobão com você… uma garota maravilhosa do meu lado e eu olhando para outra que só me via como um menino grande… Como me aguentou todo esse tempo?

— Ah… Eu sou uma pessoa muito persistente, se quer saber — ela sorriu e ganhou um selinho tímido do namorado — Não ia desistir tão fácil…

— Mas quase desistiu…

— Eu sei… Estava complicado estar com você tão perto e não poder fazer nada, ficar te tratando como amigo. Estava me fazendo mal e esse foi o único motivo que me fez tomar aquela decisão.

— Ainda bem que te encontrei naquele dia, mesmo que estivesse quase bêbada… — ela olhou para as mãos, envergonhada — Ainda bem que as coisas foram como foram. Estamos juntos agora… Isso é o mais importante.

— Jung… — ela continuou após receber um abraço carinhoso e mais um beijo tímido — E sua família?

— O que tem?

— Como vão ser as coisas quando souberem de mim? Eu não nasci em berço de ouro e…

— … Não faz a menor diferença. Não fale bobagens nem se preocupe com isso. Tudo dará certo. Não vou permitir que nada nos separe, tenha certeza disso.

— Tudo bem — ela concordou, um aperto ansioso no peito.

— O céu está tão bonito hoje, tão límpido e estrelado… — ele comentou desviando o assunto, temeroso por aquele assunto, o que aconteceria quando Yoon Min-joo soubesse — Acho que é a companhia que me faz ver tudo mais bonito…

— Pode ser… — ela respondeu com a face corada — Mas tem umas coisas estranhas no céu também…

— É? O que?  

— Lembra do eclipse de dois anos atrás? Um que foi super comentado na mídia porque é raro e aconteceu pouquíssimas vezes na história?

— Acho que sim…

— Pois é… algo estranho aconteceu. A meteorologia anunciou que haverá outro nos próximos meses… Entre maio e agosto… Mudanças climáticas são relacionadas ao eclipse também, esse céu… Tudo. Isso não é normal. Outro eclipse desse, só daqui a muitos anos, décadas… talvez séculos…

— Por que se interessa tanto sobre isso?

— Porque… Não deveria te contar, mas acho que não deve mais haver segredos entre nós. Somos quase todos da família…

— O que houve?

— Há dois anos, no outro eclipse, aconteceu alguma coisa estranha com Ha Jin… Ela caiu em um rio tentando resgatar um garotinho e não conseguiu voltar à margem. Ela ficou muito tempo submersa e… quando foi resgatada, no hospital, ela já estava em coma.

— Em coma? Que história é essa, Mi Ok?

— É… É isso. Ninguém sabe o motivo, mas ela também adquiriu um problema no coração enquanto estava dormindo. Precisa fazer uma cirurgia… Ela toma remédios.

"Quando ela acordou, ano passado, começou a dizer umas coisas estranhas, eu não entendia muito bem e… por isso eu comecei a pesquisar e encontrei fatos sobre algumas pessoas que vivem fora de seu próprio corpo quando estão em coma e… Ah… deixa para lá. É bobagem da minha cabeça. O importante aqui é sabermos do eclipse… teremos outro. O que acha de vermos juntos?"

— Pode ser… Mas isso é bem sério. Por que Ha Jin nunca falou sobre esse problema conosco?

— Ah… Talvez ela tenha vergonha ou não queira provocar pena nas pessoas… sei lá… Vamos esquecer isso por enquanto, tudo bem?

— Tudo bem… obrigado por confiar em mim e me contar… O que foi? — ele perguntou em resposta ao sorriso aberto dela.

— Ah… É que me lembrei que somos namorados… — respondeu timidamente.     

— Havia esquecido? — ele sorriu também.

— Preciso me acostumar… Isso é um sonho realizado…

— Fico feliz em poder realizar seu sonho…

— Sabe o que mais?

— O que?

— Você vai me ajudar a realizar outro grande sonho que tenho…

— É? Qual?

— Finalmente vou poder usar roupas de casal!!

Mi Ok exultou de alegria com aquela constatação. Jung, espantado de princípio, sorriu junto com a namorada, o coração leve por estarem juntos finalmente.

***

Ha Jin estava agachada, na cozinha, praticamente enfiada no forno do fogão da casa Wang limpando um pequeno acidente que acontecera durante a preparação do jantar: O molho fervente que provocara uma sujeira sem tamanho, alongando ainda mais o seu trabalho.

Fora um erro seu. Encheu demais a travessa e pagou pelo seu exagero. Serviu o jantar e esperou que todos os herdeiros se recolhessem, voltando para a cozinha afim de duelar com aquele objeto que quase conseguia ser mais espaçoso que o seu banheiro.

Enquanto limpava, pensava nas mudanças que a família vinha sofrendo, as batalhas pessoais que cada um dos filhos de Hansol tratavam nessa nova fase de suas vidas, sem o patriarca que, embora fosse intransigente e autoritário, os amou o quanto pode, da forma que sabia.

— Aishh… Essa mancha nunca vai sair assim…

— Seria melhor você tentar usar o removedor em uma flanela…

Ha Jin parou dentro do forno. Os olhos arregalados, o corpo tenso, as mãos congeladas em seus movimentos. Piscou antes de se afastar e sair de onde estava, consciente de que estava enlouquecendo ou, por que não dizer, que estava precisando de férias.

Mas ela não estava louca. Ainda ajoelhada no chão, de frente para o fogão, virou um pouco o corpo na direção da voz que escutara lhe aconselhar. Sorriu. Não conseguiu conter o gritinho histérico que sua garganta soltou ao se levantar e avançar para a senhora, a única e verdadeira governanta daquela mansão.

— Governanta Nyeo — Ha Jin a abraçou.

Hin Hee devolveu o gesto de afeto com um sorriso largo, os braços envolta do corpo da garota que sorria descontroladamente enquanto a abraçava. Pareciam anos de privação de sua presença, como se Ha Jin tivesse sofrido cada um dos dias que estiveram longe, incomunicáveis.

— É a senhora, mesmo? — a mais jovem perguntou olhando-a ansiosamente — Ah… Eu esperei muito por isso. Eu sei que não é fácil, mas eu senti tanta falta da senhora, governanta.

— Por que nunca foi me visitar, então? Falei para Shin levar você várias vezes. Meus pais querem te conhecer…

— Eu sei… Eu sei que não fui — o rosto avermelhado de acanhamento — Mas não deu para sair da mansão esses últimos tempos… As coisas não estão sendo fáceis.

— Sei que não. Não te culpo, minha criança. Sei bem como é esse trabalho.

— Como a senhora está? E seus pais? Shin sempre fala de todos… Fico tão feliz que ele tenha encontrado vocês…

— Estou bem, meus pais também. E quero te agradecer por ter ficado ao lado do meu filho por todo esse tempo… Obrigada.

— Não, senhora. Não agradeça. Eu jamais poderia deixar Shin sozinho… Não. Abandoná-lo não faz parte dos meus planos… “Nunca mais...”

— Isso me deixa feliz… verdadeiramente feliz.

— A senhora veio vê-lo? Eu vou chamá-lo agora mesmo. Já volto. Um minuto…

— Não, Ha Jin. Não precisa chamá-lo.

— Por que não? — Ha Jin estranhou aquele pedido.

— Porque quero conversar com você antes…

— Comigo?

— Sim. Sente-se um pouco — Ha Jin o fez, ficando de frente para a outra — Quando saí dessa mansão, te deixei sob uma responsabilidade que não era a sua, mas que não poderia confiar a mais ninguém: a de cuidar de Shin. E eu agradeci a cada novo dia por ter feito esse pedido.

“Você foi maravilhosa em todos os momentos, abriu mão de sua privacidade, de sua casa e família para estar aqui, com essas pessoas que te fizeram mal, tudo isso porque tem um coração enorme, porque queria ver meu filho bem. Não tenho como agradecer o que fez.”

— Já disse que não precisa agradecer. Também era meu dever permanecer aqui…

— Eu sei… Sei que, mesmo que não tivesse pedido, você teria ficado. Isso porque você é uma grande mulher, tem um caráter incrível e uma fibra surpreendente.

— Obrigada…

— Hoje, eu vim te libertar dessa carga. Não precisa mais ficar como governanta interina. Vou conversar com o senhor Taeyang e, se me for permitido, retornarei às minhas funções hoje mesmo. Inclusive, posso te ajudar com a mancha do fogão — sorriu divertida.

— Mas… A senhora já conversou com Shin sobre isso?

— Não… Ele ficou muito abalado depois da morte do pai e não quis importuná-lo com mais nada… também precisei lutar contra meus próprios fantasmas para voltar a essa casa. Muita coisa ruim me aconteceu aqui… acredito que deve conhecer a história e, voltar seria como aceitar que passou ou retomar todos os dias essas dores.

— E o que a senhora decidiu?

— Tentar seguir. Meu filho me perdoou. Estamos juntos e, finalmente, podemos ser o que nos impediram por trinta anos. Preciso começar a me livrar das minhas mágoas. Não quero que elas voltem a me afetar, porque essa mansão também me trouxe o que há de mais importante em minha vida. Me trouxe meu menino querido.

— Fico feliz por isso, governanta Nyeo… Seja bem-vinda de volta!

— Go Ha Jin, o que… Mãe? — Shin, que havia ido sorrateiramente à cozinha fingindo precisar de algo quando, na verdade, fora procurar a namorada com o propósito de lhe dar uns beijos escondidos, surpreendeu-se com a presença de Hin Hee na cozinha com a moça. Ha Jin emocionou-se por ouvi-lo chamá-la assim.

— Oi, meu filho…

— O que a senhora está fazendo aqui? — perguntou confuso, aproximando-se e abraçando a jovem senhora.

— Resolvi voltar para a mansão…

— O que? — ele parecia atordoado, de pé, ao lado de Ha Jin.

— Falei com seus avós e decidimos que está na hora de eu retomar minhas funções. Conversarei com o seu irmão e, caso ainda possa, voltarei aos meus ofícios hoje mesmo.

— Não… A senhora não pode fazer isso — Shin objetou, a testa franzida — A senhora é minha mãe, não pode ser governanta. Vai ficar no quarto de hóspedes e…

— Shin… Sou sua mãe, mas sempre fui a governanta desta casa. Eu gosto da função. Gosto de cuidar da casa e dos funcionários. Inclusive, senti muita falta enquanto estive na casa dos seus avós.

— Mas a senhora… a senhora não pode voltar para esse cargo…

— Por que não? Você mesmo disse que me queria aqui, de volta…

— Mas… é que… Porque… porque…

— Por que você tem vergonha que eu trabalhe aqui?

— Não… Não tenho vergonha, mas a senhora é a minha mãe e… não pode…

— Meu filho, eu entendo que se sinta estranho em ter a sua mãe trabalhando para a sua família. Compreendo esse sentimento, mas eu não quero uma posição que não me pertence. Nunca me sentiria bem como você deseja que eu esteja.

"Se você se sente mal que sua mãe trabalhe aqui, conversarei com o senhor Taeyang, terminarei meu contrato com a casa e procurarei um emprego em outro lugar…"

— Não! Não. A senhora não pode fazer isso… Aish… Vocês são duas teimosas… — ele ralhou apontando de uma para a outra, contrariado, os olhos arregalados com a frustração.

— Eu? — Ha Jin estranhou a comparação — O que eu fiz?

— Não aceita o trabalho que Sook ofereceu… Insiste em permanecer nesta mansão… Agora, a senhora também. Por que não me escutam uma vez sequer?

— Trabalho? — Hin Hee virou-se para a outra — Que trabalho, Ha Jin?

— Ah… Isso? — Ha Jin sentiu-se acuada. Não havia comentado sobre a proposta justamente por causa do pedido feito pela mais velha — O senhor Sook me ofereceu uma bolsa de estudos no curso de Química em uma universidade aqui em Busan… Me propôs um trabalho de meio período na ISOI também…

— Há quanto tempo isso aconteceu?

— Uns dois ou três meses…

— E por que não aceitou, Ha Jin? Foi pelo meu pedido? Aigoo… Não posso acreditar que estava atrapalhando o seu sonho. Por favor, fale com o senhor Sook. Agora mesmo, se puder. Não pode perder essa oportunidade.

— Finalmente alguém para abrir os olhos dessa garota e lhe obrigar a fazer o certo. Obrigado, mãe… e quanto a senhora trabalhar como governanta…

— Vou conversar com seu irmão, não se preocupe. Encerrarei meu contrato e procurarei…

— Não… Não faça isso, por favor — pediu exaltado.

— Então…? — a senhora o interrogou.

— Se vai continuar trabalhando, que seja aqui. Ao menos estará perto de mim todos os dias… — concordou vencido — E meus avós?

— Estão felizes e ficarão bem. Pediram para que nós os visitássemos sempre… E querem conhecer Ha Jin.

— Sim. Será assim! Vamos marcar o dia e iremos os três… — o rapaz concordou, suspirando em seguida — Vou avisar para Taeyang que as governantas da casa esperam por ele na sala de reuniões. Se é para resolver as coisas, vamos resolver tudo de uma vez…

***

Dias após a leitura do testamento, Yun Mi permanecia em sua teimosia, travando uma briga solitária com seu falecido pai, se negando a ler a carta que ele havia lhe deixado.

Eram desculpas que estavam escritas ali dentro, ela imaginou, isso ou um pedido muito gentil, e muito cruel, para que ela deixasse o caminho livre a um dos irmãos na ascensão da empresa.

Várias mágoas abasteciam a alma da garota Wang, uma miríade sufocante de sentimentos negativos, e observar o envelope intacto diante da escrivaninha em seu quarto fazia com que ela se sentisse satisfeita, menos injustiçada, de algum modo.

Outra coisa que Yun Mi não conseguia perdoar, que reforçava aquele comportamento vingativo contra os últimos dizeres de Hansol, era não entender por que o pai escondera a doença por tanto tempo.

Os filhos deveriam ter tido a chance de ajudá-lo, encontrar mais recursos e estar mais perto, mas só chegaram na reta final, no momento do adeus.

Novamente, já executara aquele ritual algumas vezes, guardou o envelope dentro da gaveta e puniu em memória seu pai, o exilando em um móvel frio e escuro. Com um balançar de ombros conformado, se levantou da poltrona que estava e acompanhou seu esposo, Choi Jin In, para o almoço na companhia de sua sogra.

Aquela era mais uma das muitas provações pelas quais ela vinha passando. Detestava o casamento, detestava estar atada àquela união e detestava tudo o que ela representava, mais uma forma de ser impotente nas mãos da família.

Mesmo assim, seguiu paciente na companhia do enigmático homem, entrou em seu carro, sentou-se ao seu lado e se deixou envolver em um encontro social falso e extenuante. Em alguns meses aquele martírio findaria, ela se divorciaria e partiria em busca do que quisesse, sem a sombra de ninguém a impedindo.

A mãe de Jin In sondava os dois há muitas semanas para conseguir o encontro. Um restaurante chique para mostrar seu dinheiro. Um vinho de safra rara para mostrar seu bom gosto. Frases milimetricamente calculadas para mostrar sua educação na frente da nora. Fora isso que Yun Mi achou que seria o almoço com a sogra e fora mais do que isso que encontrara:

— E em que momento pretende deixar seus irmãos à vontade na empresa, Yun Mi? — Son Yoo Na a questionou terminado as perguntas automáticas sobre como iam a empresa e o luto após a morte de Hansol, partindo para o real objetivo do almoço.

Jin In apoiou os talheres que usava para cortar a sobremesa e encarou a mãe seriamente. A senhora não percebeu, ou fingiu não perceber, e continuou olhando a nora em busca da resposta.

— Acho que não entendi a sua pergunta, senhora — Yun Mi se desvencilhou num primeiro momento, o sangue começando a esquentar.

— É que… Bem… — Yoo Na riu baixinho e este gesto cínico fez a garota apertar a haste de sua taça de vinho para canalizar o ódio — Nós somos uma família muito tradicional e prezamos quando a mulher fica em casa, ofertando a melhor educação e tempo disponível aos filhos, do que trabalhando fora desnecessariamente. Meu filho é um pouco tímido para comentar essas coisas, mas ele aprova que fique apenas em casa, enquanto provê em nome dos dois.

— Eu aprovo?! — Jin In se manifestou antes que Yun Mi tivesse sua chance — A senhora está falando isso por si mesma ou é o papai mandando através da sua voz como eu devo levar meu casamento?

— Ah, por favor, Jin In… — a mulher mais velha abanou o guardanapo de pano que estava em seu colo, no ar — Pare de exageros. Seu pai se importa, sim, com sua vida. Qual o problema nisso? Eu também me importo e acho de péssimo tom que sua esposa continue trabalhando na empresa da família dela quando tem um marido em casa plenamente capaz de sustentá-la.

— Então tenho uma péssima notícia para dar aos dois — respondeu o rapaz, perdendo completamente a fome pelo tiramissu à sua frente — Os tempos mudaram, mamãe. Yun Mi fará o que quiser, o que a faz se sentir bem e feliz.

"Não quero ser desrespeitoso com vocês, eu amo os dois, mas chegou o tempo em que não vou mais ficar ouvindo absurdos. Ela trabalhará na Wang S.A. por quanto tempo desejar, a vida toda se quiser. Vocês são apenas os sogros dela, não os donos."

A senhora Yoo Na e seu rosto incrédulo focando o filho seriam uma boa vingança para os olhos de Yun Mi. Entrementes, a moça, que não poderia escolher palavras melhores para rebater as barbaridades escutadas da sogra, estava mais entretida, mais interessada, em observar o semblante de seu defensor.

Aquele homem parecia fazer, sem nenhum gesto forçado, seu mundo desinteressante se tornar intrigante a cada nova experiência que o envolvesse…

O estrépito da porta da sala sendo fechada com força fez Choi Jin In se sobressaltar em sua cadeira, à cabeceira da mesa de jantar, onde estava concentrado em seu notebook observando algumas planilhas referentes à fábrica de sua família.

Yun Mi, que não havia ido jantar em casa, surgiu pela porta com cara de poucos amigos, bem menos do que ela sempre apresentava enquanto estava naquele apartamento. Ele sabia que os problemas na Wang S.A. eram sérios, mas se assustou com as reações da esposa.

— Aquele cretino de uma figa — jogou o casaco que vestia no chão com violência e o chutou antes de se dirigir às almofadas cuidadosamente organizadas pela empregada, lançando-as contra a parede, pontuando ofensas a cada novo arremesso — Quem ele pensa que é para me tratar assim? Nojento… Traidor… Idiota… Filho da mãe estúpido… Asqueroso…

Percebendo que estava sem munição, caminhou em passos rápidos, descabelada, em direção a uma estante. Lá, conseguiu encontrar mais utensílios a serem lançados e continuou sua declaração de ofensas, liberando a tensão da noite naquele pequeno surto histérico ao lançar livros, revistas e pequenos objetos de decoração, todos direcionados a Gun.

Seguiu para o sofá minutos depois, tensa, exausta daqueles dias, daquela noite, de todos os problemas que sua família passava e sequer percebeu a presença do marido, ou dos seus olhos seguindo cada um de seus passos.

Ele também não moveu sequer um músculo, temendo ser outro alvo daquela mulher, mas fez-se presente ao ouvir uma reclamação de dor quando ela encostou-se no móvel, jogando-se sentada sobre o sofá.

— O que aconteceu com suas costas, Yun Mi? — ele se aproximou solicito, mantendo certa distância, ela o reparando finalmente.

Odiava o aroma que ele exalava, odiava a forma sempre gentil como ele falava. Odiava a presença dele, porque ele a incomodava e lhe deixava de um jeito que ela não estava conseguindo controlar. Isso a frustrava.

— Não te interessa — ela respondeu ríspida, alongando o pescoço, tentando massagear o ponto machucado de seu pescoço com os dedos, ignorando a presença do homem e das sensações irritantes que ele provocava — Não precisa fingir preocupação. Meus problemas não te dizem respeito.

— Eu sei… Mas se não me custa ajudar a estranhos, o que dirá à mulher com quem divido uma casa…

— Somos estranhos… — ela o olhou. “Por que ele é sempre gentil?”

— Por isso mesmo — sorriu para ela — Me sinto na obrigação de ajudá-la também. Venha, deixe de ser tão cabeça-dura. Vire-se. Me deixe ver seu pescoço.

Jin In não esperou que ela respondesse, se levantasse ou o agredisse, fugindo para o seu quarto e se trancando lá em seguida. Sentou ao seu lado, forçando-a a afastar-se à base do susto para lhe dar espaço e, virando-a de costas para ele, passando os dedos por seus cabelos sem lhe pedir permissão, os arrumou e amarrou em um coque alto.

Yun Mi arregalou os olhos e sentiu o sangue pulsar na jugular quando os dedos de Choi Jin In tocaram seus cabelos, seu pescoço, sua pele. Prendeu a respiração por um breve instante, não querendo aceitar aquelas reações estúpidas.

— Seu pescoço não está nada bom. Foi uma pancada grande e está vermelho até em suas costas — comentou próximo à sua nuca. A mulher fechou os olhos com força, a pele dos braços arrepiando de leve, os punhos cerrados, concentrando-se — Fique aqui. Tenho uma pomada que vai te ajudar. Me espere um minuto.

Ela permaneceu onde estava. Petrificada. Não conseguia raciocinar uma resposta para ele, um pedido para que parasse de se intrometer e, muito antes que ela pudesse encontrar as forças que se esvairam de suas pernas naqueles segundos para ir se trancar em seu quarto, Jin In já voltara e se sentara novamente onde estava antes.

— Vou passar a pomada agora, até onde consigo ver a vermelhidão. Você vai sentir sua pele formigar um pouco, mas logo a dor vai começar a diminuir…

Explicou o que faria temendo que a sua jovem esposa pudesse virar-se contra ele por tomar qualquer tipo de atitude desavisada. Colocando um pouco da pomada nos dedos, começou a massagear com leveza o pescoço avermelhado de Yun Mi, preocupado em como ela conseguira aquele machucado, preocupado em manter seu corpo controlado perto daquela mulher.

Ela, tensa, prendera novamente a respiração, as unhas começando a machucar as palmas das mãos, a pele formigando, e esquentando, onde ele tocava. Fechou novamente os olhos, com força, tentando raciocinar e juntar forças para dar um fim naquela situação, mas perdeu-se novamente em seu raciocínio quando os dedos, e as mãos grandes de seu marido, massagearam também suas costas, a pele exposta pelo decote do vestido, os dedos apertando delicadamente a sua pele.

— Não sei como se machucou, mas precisa cuidar disso, está bem vermelho e tem uma área roxa em seu pescoço. Espero que não tenha sido uma situação muito séria que tenha provocado isso, considerando que deveria estar com seus irmãos na empresa… — a voz parecia genuinamente preocupada — Se precisar de ajuda para alguma coisa, Yun Mi, por favor, confie em mim. Quero passar esse ano que acordamos de forma agradável. Não precisamos ser inimigos.

Aquela massagem não estava lhe fazendo bem. A proximidade daquele homem não lhe deixava à vontade e mexia perigosamente com os seus sentidos, lhe deixando em uma situação desprotegida, que ela não conseguia controlar. Ela odiava sentir-se assim.

Fechou novamente os olhos quando os dedos, aparentemente muito experientes naquela função, voltaram ao seu pescoço, próximos de suas orelhas. A pele dos braços, traidora, lhe denunciando mais uma vez, dessa vez de forma mais aparente.

— Está com frio? — ele perguntou e ela sentiu o hálito quente próximo demais de sua nuca, arrepiando ainda mais — Posso ligar o aquecedor se…

— Não preciso de nada — ela falou, enfática, levantando-se e mirando-o, altiva — Também não te interessa em nada a minha vida. Não quero ser sua amiga, não quero nada que venha de você. Mantenha-se longe, por favor.

Encerrou e começou a caminhar decidida em direção ao seu quarto, a respiração mais descompassada do que deveria estar. Antes de fechar a porta, ainda conseguiu ouvir a voz gentil do marido dizer em sua direção: “Vou deixar a pomada aqui, caso precise depois. Boa noite.”

—--

Yun Mi olhou o horário no relógio de cabeceira e se admirou que fosse tão tarde. A madrugada já havia começado há algumas horas e ela, lendo em busca do sono perdido, sequer notou o avançar dos ponteiros.

Resolveu tentar dormir de uma vez, precisava descansar a mente dos muitos problemas que sua família ainda enfrentava, e enfrentaria dali em diante. Levantou-se um tempo depois no intuito de tomar um copo d’água, esperando que o líquido pudesse descer por sua garganta e espalhar-se em seu corpo como um sonífero potente, mas precisou interromper o caminho desejado tão logo cruzou o corredor.

Deitado displicentemente sobre o sofá da sala, o mesmo onde ela fora massageada há alguns dias, Choi Jin In parecia dormir profundamente, três botões da camisa abertos, o peito à mostra, sob a luz fraca do abajur próximo ao móvel, o notebook esquecido no chão, ligado.

Sentiu os pés trabalharem sozinhos, caminhando ao encontro dele, estranhando aquela situação. Não conhecia o marido muito bem, mas já sabia que ele não era desorganizado, que jamais dormiria no sofá, muito menos com o notebook ligado na tomada, responsável demais quando se tratava de segurança.

O olhou atentamente, observando-o aparentemente suado, pensou em chamá-lo, afinal não era nada agradável sair do quarto e dar de frente com aquele homem, naquelas condições. Um gemido, porém, que parecia ser de dor, alarmou a herdeira.

Ela se aproximou um pouco mais, percebeu sob a luz fraca do abajur que ele contraia os olhos, estava avermelhado e parecia ter febre. Com certo receio, levou uma das mãos até a testa do marido e percebeu que ele estava mais quente do que o normal para um ser humano saudável.

Foi impossível não se preocupar depois do que acontecera com a carne temperada com castanhas. Rumou para o banheiro onde encontrou um termômetro e alguns remédios. Levou todos os que pode para a sala, deixando-os sobre a mesinha do abajur e, controlando seus impulsos enquanto abria um pouco mais a camisa de Jin In, percebeu que ele estava levemente consciente.

— Jin In, levante um pouco o braço. Preciso verificar sua temperatura — ela pediu receosa e ele, como um menino obediente, em meio a um resmungo, a ajudou.

Em seguida, leu as bulas e percebeu que nenhum daqueles remédios era destinado ao controle da febre. Esperou que o termômetro apitasse, confirmou a febre e aproveitou que o notebook estava ali para iniciar uma pesquisa.

“Por que ele não colocou senha neste computador? Não sabe que eu poderia me aproveitar deste momento e me vingar? Por que ele confia em mim? Por que não se incomoda?”

Pesquisou “como controlar febre alta” e depois de algumas leituras, constatou que o único meio não arriscado para a saúde era aquele. Respirou profundamente. Não sabia o por quê de se importar, mas o fez.

Salvou todos os arquivos e planilhas abertas no notebook e o desligou em seguida. Levantou-se e contemplou o homem, os olhos fechados e contraídos, deitado sobre o sofá. Resignada, antes de iniciar mais um momento estranho para a sua personalidade inabalável, rumou para a cozinha e, novamente, até o banheiro.

Yun Mi estava a cerca de quarenta minutos sentada sobre o tapete, duas toalhas pequenas ensopadas de água dentro de uma bacia. As outras duas repousavam sobre o corpo do homem, uma em sua testa, a outra em seu peito.

Ela as trocava de tempos em tempos, controlando os olhos para não focar o corpo dele, punindo-se mentalmente cada vez que seus dedos, com vontade própria, desviavam das toalhas e deslizavam pelo peito e abdômen, totalmente expostos agora que ela abrira a camisa por completo.  

Quando Jin In despertou, o dia começava a clarear. Sentiu o corpo úmido e frio, e estranhou a cena que viu: Yun Mi, dormindo sentada sobre o chão, a cabeça relaxada sobre seu abdômen, ressonava tranquilamente. Havia uma bacia com água, toalhas dentro dela e sobre o seu corpo.

Não conseguiu evitar um sorriso discreto e envaidecido. Também não conseguiu evitar um comichão abaixo do ventre ao fitar aquela linda mulher em sua camisola de seda, o contorno de seu busto evidenciado.

Pensou, por um segundo, se o sonho estranho que tivera com a jovem lhe tocando o corpo enquanto sorria era reflexo daquilo.

Focou-a novamente, o dedo descontrolado indo até os cabelos dela, lhe tirando uma mecha da frente do rosto; sentia-se melhor, porém mal sabia por que teria adoecido, sentindo-se profundamente agradecido por aquele gesto vindo da esposa.

Calmamente, receoso para não acordá-la, desvencilhou-se das toalhas e da cabeça da jovem, movendo-se sem movimentos bruscos, como um felino, levantando-se e parando de frente para ela, dormindo profundamente, recostada ao sofá.

Nunca negaria a beleza de Yun Mi, assim como não negaria os desejos que ela lhe provocava desde que a conhecera. Jamais imaginou vivenciar aquela situação, que, um dia, a herdeira Wang passaria a noite cuidando dele.

Com cuidado, ergueu a esposa em seus braços, ela, estranhamente se aconchegou aos seus, e a levou até seu quarto, a porta aberta, colocando-a sobre a cama, cobrindo-a e olhando-a mais uma vez.

— Obrigado por cuidar de mim, Yun Mi — sussurrou ainda olhando a jovem, que fingia dormir desde que acordara quando estava sendo içada pelos braços dele, saindo e fechando a porta em seguida.

...

A Wang voltou de suas recordações se vendo de mãos dadas – pele, quentura e segurança, com Jin In. Ele se despediu de um modo insolente de sua mãe e arrastou a esposa gentilmente para fora do restaurante. No carro, se desculpou com ela mais algumas vezes e prometeu que nada daquilo se repetiria.

O tempo todo Yun Mi não se sentiu afrontada. Pelo contrário, ela se viu inebriada, carregada manhosamente por um sentimento leve, semelhante, porém mais instigante, àquele que sentia por seu primeiro protetor incondicional, Shin.

O que nenhum dos dois sabiam era que Jin In não seria um substituto do irmão mais velho dela. Ele chegaria para reivindicar um patamar muito acima do qual qualquer homem conseguira conquistar dentro do coração de Wang Yun Mi.

***


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Notas finais do capítulo

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo



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