Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 43
Um Wang que Caminhava nas Sombras


Notas iniciais do capítulo

Olá para todos!!! o/

Mais um mês começando e a nossa fanfic continua firme e forte graças a vocês, os leitores mais incríveis e fiéis que qualquer ficwriter respeita ♥ Adoramos os últimos comentários do fim de arco (rimos muito, na verdade kkkk) e, mais uma vez, agradecemos imensamente à todos.

Pulando para o próximo arco, que por sinal é o arco que mais gostamos de escrever, acompanharemos altos momentos fofos do nosso casal milenar, cenas tensas e três viradas de jogo daquelas bafônicas!!!

Enfim, como todo arco começa mais calminho, bora lá aproveitar o que aprontamos para esse capítulo...

Super beijo e ótima semana! :*



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Ela sabia que não poderia adiar aquela conversa, no fundo nem queria, mas o dia havia chegado e, com ele, a tarefa espinhosa de falar com o senhor da casa em particular. Nyeo esperou que Ha Jin terminasse seu café da manhã, era a primeira vez que a moça passava a noite em seu dormitório particular se deparando com a farta mesa disponível na ala dos funcionários para o dia seguinte, e anunciou que estava disposta a acompanhá-la na direção da casa sede se ela quisesse.

Ha Jin queria sim. Queria muito. Sua vontade era de pedir para Nyeo acompanhá-la até dentro do escritório e escutar a conversa toda enquanto lançava olhares severos para o homem. Melhor ainda, a mulher mais velha poderia dizer tudo em seu lugar, ela era sábia e honesta… e corajosa… e Ha Jin queria que Nyeo decidisse por ela o rumo de sua vida, naquele momento. No lugar disso, engolindo o arroz cozido com gosto de desapontamento, respondeu:

— Eu vou sozinha, governanta Nyeo… — sua mãe, sempre orgulhosa, a ensinara que as pessoas deveriam resolver seus problemas sozinhas e de cabeça erguida — Não se preocupe.

— Tudo bem, criança. Vá com calma então — a mulher sorriu bondosamente para a outra, aquele seu sorriso de ouro, e se direcionou para fora do alojamento.

Terminado seu café da manhã, comeu pouco, sem apetite, Ha Jin tratou de colocar um pé na frente do outro e caminhar relutante o percurso de pedras que a levaria através dos jardins para dentro da mansão. Há poucas horas, seu passado saíra por aquela mesma porta grande e suntuosa, chorando de soluçar pela injustiça e violência infligida.

Ao percorrer todo o trajeto até o escritório em que o homem a aguardava, ela encontrou apenas silêncio e vazio pelos cômodos e corredores dali. Nenhum dos herdeiros, nem a senhora Ah Ra e, graças a Deus, nem Yun Mi estavam à vista.

— Bom dia, senhorita Go Ha Jin — Hansol saudou a moça cuidando para que sua voz soasse tranquila e hospitaleira no instante que a viu cruzar a porta — Pode fechar a porta, por favor?

— Claro, senhor — ela respondeu baixo e encerrou os dois na privacidade do recinto.

— Sente-se, por favor — disse oferecendo a poltrona à sua frente, diante da mesa. Cuidou também para que aquele pedido não parecesse uma ordem. A jovem funcionária estava muito abatida, os olhos inchados e avermelhados, a pele sem cor, portanto temia que, a qualquer interpretação equivocada nos trejeitos dele, ela se desmanchasse em choro outra vez.

— Obrigada.

— Conseguiu descansar um pouco? — fez um leve rodeio antes de entrar no cerne da questão.

Ha Jin, por outro lado, começou a nutrir um sentimento de angústia por estar ali. Era como se tivesse voltado à pele de Hae Soo e a sua condição irrelevante, esperando que o rei Taejo tomasse a decisão sobre a vida, morte ou, para não dizer que ele não era piedoso, apenas algumas dezenas de chibatas em suas costas. Sentindo uma urgência de resolver tudo logo, disse ignorando sua pergunta.

— Senhor… O senhor quer saber se eu pretendo ficar aqui? Quer saber qual a natureza dos meus passeios com seus filhos e quer saber se vou processá-lo? São esses os motivos da nossa reunião? — ergueu os olhos e firmou-os decididamente nos olhos do velho homem.

— Eu… — ele começou, após um segundo de surpresa pela interrupção.

— Não sei, para a primeira pergunta. Tenho um carinho e uma amizade sincera com eles, no caso da segunda. E não, não processarei vocês por isso.

O desconforto entre o patrão e a empregada terminou de se instalar no amplo escritório. Não somente isso, ele expandiu como uma bolha e envolveu os dois protagonistas sem chance de trégua. De repente, Hansol achou que ela não choraria mais. Aquela menina era bastante impetuosa, avaliou, e pôde constatar mais um motivo para os filhos terem se aproximado dela.

— Não estou pressionando você para tomar uma decisão — o patriarca entrelaçou as mãos em cima da mesa e recomeçou — O que houve ontem aqui foi muito grave e não será deixado em branco. Quando tomar sua decisão, entretanto, quero ser informado primeiro. Se a senhorita deixar esta mansão, alguém terá de substituí-la…

— Se o senhor precisa de um prazo… Me dê, ao menos, um mês. É tudo o que peço.

— Claro, claro… Não há nenhum problema nisso — ele concordou — Mas sobre os meus filhos, esse assunto tem de ser esclarecido, governanta Go.

— Com certeza — Ha Jin reiterou quase o atropelando. Nesse intercurso soou um pouco ríspida — Eu não tenho nenhuma relação amorosa… Com nenhum deles.

Embora isso não quisesse dizer que não pretendia.

— Tudo bem, confio na sua palavra — Hansol respondeu solícito, escondendo suas desconfianças. Shin nunca fora tão enfático em defender uma funcionária, uma mulher, como fora na noite anterior. Para o pai, ao menos, aquela faceta do filho rebelde tinha sido assustadoramente inédita — Contudo, vou precisar ser sincero. Não quero meus filhos saindo com a senhorita. Não permito. Vou ter uma conversa com eles mais tarde pedindo para deixá-la em paz caso a insistência por esses passeios, como acredito que ocorreram, tenha partido deles. É uma decisão íntima e familiar, nada tem a ver com preconceitos ou desmerecimentos…

— Eu entendo, senhor — ela o cortou mais uma vez, a voz alguns graus abaixo de zero.

A cada interrupção Hansol parecia se perder no seu próprio eixo e precisava tomar novo fôlego para continuar. Era, agora, quase palpável o motivo de Shin ter se afeiçoado àquela pequena mulher. Ela era desnorteante, como o rapaz.

— Isso não quer dizer que vocês não podem conversar nas dependências da mansão. Nem eles nem a senhorita são pedaços inanimados aqui dentro. Eu permito um diálogo casual e breve, entre seus afazeres, nas dependências da minha residência já que ficaram… amigos. Da portaria para fora, nada. Nem passeios, nem encontros, nem bebedeiras. Nada.

— Me parece ótimo… Quer dizer, não se repetirá, senhor Wang.

— Que bom — ele pareceu satisfeito por vê-la descobrir seu lugar naquela conversa no último instante, abaixando a cabeça e anuindo. O que Hansol não sabia era que Ha Jin teve de controlar sua língua, freá-la a duzentos quilômetros por hora, pois estava prestes a soltar verdades irremediáveis além do “ótimo” — Mais uma vez então, peço desculpas, encarecidamente, em nome de minha filha. Yun Mi está passando por sérios problemas psicológicos e, como disse, estamos consertando isso — “Coitadinha” Ha Jin pensou sarcástica.

— Desculpas aceitas, senhor Wang — ela se levantou e curvou-se brevemente. Hansol também se levantou e retribuiu o gesto.

— Se a senhorita achar que precisa de alguns dias ou semanas de folga, depois disso tudo, eu permito.

— Não, senhor. Trabalhar será minha terapia. Obrigada.

***

Estar no controle total da empresa não era novidade para Taeyang. Uma vez que seu pai estava fora do país, a negócios, e isso vinha acontecendo muito ultimamente, até mesmo meses antes de toda aquela coisa de CEO’s sortidos começar, ele revezava a liderança da Wang S.A com Gun frequentemente,o que não era estranho considerando que os dois sempre foram os mais engajados com aquele mundo.

O que era realmente inédito e empolgante seria ele poder assumir o negócio de sua família por um mês inteiro e ainda ter autoridade sobre seu inoportuno irmão. Havia tantas coisas boas as quais ele pensou e tentou durante todos aqueles anos, mas foi impedido pela desonestidade de Gun…

…Taeyang não conseguia se lembrar exatamente se começou a sentir mais raiva e desprezo por alguém de seu sangue do que deveria de uma hora para outra ou no acumular das decepções, mas guardava algumas lembranças dolorosas o suficiente na cabeça para alimentar tais frustrações.

Um menininho muito educado e reservado sorriu para os amigos importantes de seu pai assim que os viu o encarando do sofá da sala. Um deles o reconheceu e acenou fazendo um gracejo e o pequeno Taeyang também o reconheceu, seu nome era algo com Y… Young, Yoo, Yoseb… Algo do gênero…

Taeyang, vá ver o que sua mãe está fazendo. Ela precisa que você seja um rapaz responsável para ajudar a cuidar de sua irmãzinha Hansol ordenou ao seu filho de quase cinco anos. As expressões do pai não eram severas, mas eram claras o suficiente para o menino entender que ali era a hora e o lugar dos adultos, apenas.

É um menino lindo demais, Hansol o homem com Y no início do nome comentou enquanto o pequeno se encaminhava ociosamente para os corredores da mansão.

Sim, ele é, mas espere só até ver como está a minha primeira garotinha… Yun Mi…

Como vai a bebê? outro homem perguntou.

Linda. Completou dois anos semana passada. Depois mostro ela para vocês.

— Mas a criança é tão pequena e está sem a mãe?

— Ah não, Ah Ra veio para a mansão esse fim de semana para que Taeyang pudesse passar algum tempo com os irmãos mais velhos. Logo ele se mudará definitivamente para cá, de qualquer forma.

— E elas se dão bem? — outro adulto perguntou num tom misterioso.

— O quê? Ah Ra e Eun Tak? — Hansol indagou. Houve apenas um leve meneio de cabeça do homem que perguntou Sim, Eun Tak é muito tranquila e agora que está na reta final da gestação fica sonolenta demais para se irritar com alguém…

Você é um sujeito sacana, Hansol um homem mais velho riu alto E não sente o perigo ao colocar sua atual mulher e sua ex-esposa juntas na mesma casa?

— Sentiria se fosse Min-Joo… — todos gargalharam. O que havia acenado para o pequeno, Y Alguma Coisa, mais que todos.

Taeyang notou que já estava escutando demais para uma criança quando o nome da mãe de seus irmãos mais velhos surgiu no assunto. Se havia um ensinamento valioso de sua própria mãe, e que o jovem rapazinho carregaria para a vida toda, era que quando visse ou escutasse sobre Min-Joo ele deveria se afastar o máximo possível, o mais rápido que conseguisse.

Se sentindo deveras chateado, arrastou os pés em direção à biblioteca. Toda vez que alguém comentava dele, seu pai tinha que falar da irmãzinha. “Yun Mi isso”, “Yun Mi aquilo”, a irmãzinha sempre parecia ser muito melhor, muito mais adorável e agradável do que o garoto para receber esses elogios.

Aiii… Taeyang experimentou uma dor aguda abaixo da perna e caiu estatelado no chão encerado. Ressentido, acariciou o tornozelo que havia sido maldosamente chutado.

Vai chorar é, bebezinho? Gun, que estava escondido atrás da porta, a espera do melhor momento para atormentar o irmão, perguntou.

Por que você me chutou? Taeyang quis saber se sentindo mais injustiçado do que nunca agora, os olhos marejados de água.

Por que não chutar? Você é só o filho da usurpadora mesmo! o outro provocou, dando mais um chute na perna do irmão que ainda estava indefeso no chão.

Para, Gun… Taeyang choramingou, com medo de falar ou chorar alto demais e seu pai vir lhe repreender por atrapalhar a conversa dos adultos na sala, a poucos metros dali Para…

Depois que eu te chutar, vou atrás da sua irmã e vou chutar ela também Gun ameaçou se preparando para o terceiro chute.

O Wang acuado fechou os olhos, se preparando para mais uma dor desnecessária, mas ela não veio. Olhando lentamente na direção do mais velho, ele viu Gun ser içado para cima, puxado pelo colarinho da roupa, e empurrado contra a parede.

Para já com isso, Gun o outro meio irmão de Taeyang, tão comprido e inalcançável para seu conceito pueril, surgiu para tirá-lo daquela injustiça.

Sai daqui, seu idiota.

Não sou idiota, sou seu irmão. E seu irmão mais velho Shin comentou, o rosto impassível e calmo, uma calma que Taeyang invejava. Um dia ele queria ser igual a Shin e não ter medo nenhum de Gun.

Mamãe disse que você é só um idiota e ela está certa. Idiota!

Shin pareceu bastante abalado ao escutar aquilo, mas com as maçãs do rosto vermelhas e os lábios trêmulos, ele tentou ignorar o irmão de sete anos completos e estendeu a mão para Taeyang, o ajudando a levantar.

Vá procurar sua mãe disse quase ordenando ao mais novo E se eu te vir mais uma vez fazendo isso, vou contar pro papai Shin virou-se para Gun e ameaçou.

E eu conto para mamãe que você me bateu e saiu dali saltitando, confiante da imunidade concedida por Min-joo, que pairaria sobre ele durante boa parte da vida.

Ah é? E o que o professor disse, meu filho? Hansol perguntou, cabisbaixo, fuçando o seu prato de comida com os hashis de prata. A cabeça do famoso empresário estava dispersa em seus problemas pessoais e da empresa durante aquele jantar.

— O professor disse que tenho uma chance muito grande de vencer a Feira de Ciência por isso. ‘É um robô autônomo completo’, foram as palavras dele continuou Taeyang, um rapaz com quase dezesseis anos, brilhante na escola, mas absolutamente apagado naquele jantar enquanto falava com os pais.

A senhora Ah Ra permanecia comendo frugalmente ao lado do marido, o homem que ela casara duas vezes no intervalo de uma esposa e que, às vezes, conversava sobre roupas e compras com a filha mais nova sem dar muita importância para o que Taeyang contava.

Que bom, meu filho. Fico orgulhoso o pai comentou num gesto nada mais do que mecânico, após um incômodo silêncio. Deu um sorriso tão fraco para Taeyang, que por um momento o adolescente achou que ele nem chegaria aos lábios do pai.

Mas você podia ter feito tudo isso sem pedir ajudar para o Nam Wook intrometeu-se Gun, exibindo um sorriso espertalhão para o irmão.

— O que? — Hansol ergueu a cabeça, um misto de inconformismo e raiva em seu olhar. De repente, parecia que o homem tinha sido apunhalado por uma faca invisível nas costas — Você anda falando com um dos filhos de Nam Seong¹? Eu não disse para vocês ficarem longe deles naquela escola?!

O berro do pai fez os outros filhos, a esposa e até os empregados erguerem as cabeças, assustados. Taeyang era o mais pálido de todos.

— E… Eu… Papai… Só perguntei a ele se poderia criar um slogan para meu projeto. Ele é conhecido na classe por ser bom nisso. Não somos amigos nem nada — começou a falar rapidamente, com desespero, se esforçando para não atropelar as palavras — O professor que nos encorajou a…

— NÃO IMPORTA O QUE NINGUÉM FALOU! EU SOU SEU PAI E ESTOU MANDANDO NÃO FALAR MAIS COM ELE. COM NENHUM DAQUELES GANGSTERS!

— Hansol, não exagere.

— Fique quieta, Ah Ra! — Hansol se levantou da mesa bruscamente, o rosto escarlate — Nunca mais me decepcione dessa forma, Taeyang.

Ainda chocado de como uma notícia que ele considerava empolgante e que poderia preencher o pai de orgulho se transformou naquilo, Taeyang avistou o irmão causador da confusão exibindo um sorriso maldoso e acenando do outro extremo da mesa.

Shin, já um homem em seus vinte anos, taciturno e calado, sentado muito distante dos demais, exceto de Eujin que sentava próximo a ele, levantou de sua cadeira com um movimento seco, derrubando o copo de vidro com suco, derramando o líquido sobre a toalha de mesa limpíssima. Saiu, mais sério do que nunca da mesa, sem se desculpar por aquilo.

— Nem licença ele pede para sair da mesa — Ah Ra murmurou encarando o corredor por onde Shin havia partido, com desprezo — Onde esse marginal vai parar?

Taeyang continuou flutuando em sua própria bolha de vergonha e injustiça.

Quando Taeyang avistou aquela adorável moça que acabara de começar como estagiária na empresa se dirigir para a sala das cafeteiras, ele se viu impulsionado a segui-la. Já não era mais nenhum adolescente, uma vez que faria vinte e dois anos em breve, mas sentiu uma pontada de ansiedade dançar no topo do abdômen, conforme se aproximava do local onde ela estava.

— Senhor Wang — a jovem se levantou agilmente da cadeira assim que o viu entrando. Estava se preparando para inclinar em respeito ao herdeiro.

— Não precisa — ele acenou sorridente — Me sinto desconfortável com isso. Sou apenas Taeyang e nada de formalidades ao me ver.

— Tudo bem — ela sorriu com timidez e era tão linda assim também.

Taeyang caminhou rigidamente para as cafeterias e preencheu uma xícara de café para si, mesmo estando sem vontade de tomar aquilo. Ao retornar, escolheu uma cadeira na mesa que ela estava, a única disponível no recinto, ficando de frente para a garota.

— Acho que vou por mais açúcar no meu… — ele comentou depois de dar um gole e fazer uma careta — Quer alguns sachês também? — indagou caminhando até o balcão ao lado.

— Não, muito obrigada — ela recusou com meiga educação — Gosto do meu café extra forte e pouco adoçado.

— Sério?! — ele exclamou, surpreso, retornando com seus sachês de açúcar — As garotas normalmente gostam das coisas mais doces.

— Eu nem tanto — ela objetou lançando-lhe um olhar gracioso. O olhar que fez cócegas na alma dele — Aliás, gostei muito da cor para as propagandas no novo modelo Tiger que o se… você escolheu… Normalmente ficam com escalas em cinza ou o preto…

— Ah é? Obrigado, senhorita Kim. Gosto muito do azul e achei que combinaria no novo designer.

— Você tem bom gosto… E não precisa usar formalidades para falar comigo também… Digo, se quiser — aninhou sua xícara nas mãos alvas e delicadas — Posso ser apenas Na Na, se preferir.

— Na Na soa muito melhor. Eu gostei…

— Taeyang — Gun entrou naquele ambiente e cortou o clima como um raio cortando um tronco em metades fumegantes — Ah, bom dia senhorita Kim.

— Senhor Wang — ela levantou de novo e, desta vez, fez sua singela vênia.

Gun foi para as cafeteiras e se serviu de uma xícara grande. Conforme o líquido gotejava no recipiente de porcelana, os músculos de Taeyang ficavam mais rígidos. Até poucos minutos o irmão se preparava para visitar a fábrica e, agora, magicamente, voltava para um gole de café? Ele tinha algo em mente. Se debruçando no balcão, já com sua xícara em mãos, ele perguntou:

— Hum… Não tive tempo de saber durante o café da manhã, irmão. Quando é o casamento com a senhorita Lee?

— Quê?

Sua mãe está toda animada lá na mansão. Ela estava conversando com a mãe da senhorita Lee sobre unir o filho com uma dama da sociedade, a filha dela. Pelo que me lembro, você é o único filho da minha madrasta. Como estão as coisas? Teremos casamento logo, então?

— Que conversa é essa? — Taeyang articulou, chocado por ainda se surpreender ao ver como Gun gostava de ir baixo para destruí-lo — Você estava presente e já sabe que esse fato se encerrou há uma semana. Vou me casar quando eu quiser e com quem eu escolher, não com quem meus pais querem. Esse assunto está para lá de conversado — replicou, controlando o ódio.

Kim Na Na continuou na companhia de seu café. Estática, ela certamente temia respirar muito alto e ser inserida naquela pequena conversa entre irmãos, que tinha todo jeito para virar uma discussão.

— Sério? Nossa, nem lembrava… — Gun assobiou — Eu colocava maior fé em vocês dois. Pensei que tivesse algo com Lee Yon Ji desde a época da escola… Eram tão próximos…

— Você está equivocado — Taeyang fuzilou o irmão com o olhar e saiu da cadeira respirando pesadamente — Tenha um ótimo dia, Na Na.

Quando Taeyang voltou de seus pensamentos, ele continuava sentado à mesa do café da manhã. A única diferença de quando afundou em lembranças tristes para agora era que havia uma companhia junto a ele. Shin estava sentado no exato lugar em que se sentava há onze anos.

— Você parecia estar longe — o herdeiro rebelde comentou para ele do seu lado da mesa — Ansioso para o primeiro dia?

— Acho que sim — Taeyang admitiu para Shin, mas também para si.

— Olha, não sou lá o melhor animador que existe, mas se Eujin foi bem durante esse um mês, você certamente vai tirar de letra.

— Obrigado pela consideração, Shin — respondeu com sinceridade.

Fazia algumas semanas que ele vinha enxergando aquele irmão com outros olhos. Ele ajudou Eujin no cargo durante todo mês, vinha se dando bem com os mais novos e certamente surpreendeu Taeyang tomando as dores da prima da mulher que ele amava, e também sua amiga, Ha Jin, no caso do roubo. E, como Taeyang, Shin conhecia mais do pior lado de Gun do que os outros herdeiros. Então, após dar uma breve olhada para ver se ninguém vinha do corredor, disse em um tom mais baixo, levemente conspiratório:

— Você… não está achando Gun muito quieto na empresa?

— Ele está trabalhando em algo — Shin concordou de imediato — Aposto minhas pernas como tem a ver com o…

— Projeto do P02 — Taeyang completou como numa transmissão de pensamentos — É como eu imaginava… Será que ele faria algo para prejudicar a empresa?

— Não sei. Fiquei muito tempo longe… Que tipo de homem Gun se tornou de lá para cá? Que apreço ele tem pelos negócios da família?

Honestamente, Taeyang não saberia responder. Ele era o pior, sem sombra de dúvidas, mas tinha que ser muito imbecil para prejudicar o patrimônio que vinha trabalhando com afinco por tantos anos. O mais certo era que Gun estivesse mirando prejudicar todos os irmãos de uma vez só e ficar incólume perante o pai.

— Preciso ficar de olho nele.

— Eu ajudo — Shin ofereceu-se sem pestanejar.

— Oh… obrigado.

— Aquilo tudo é nosso, afinal — o irmão reforçou, terminado seu suco — Tem algum plano?

— Acho que deveríamos investigar os registros da produção… O que esse cara, o engenheiro que Eujin já andava desconfiando, andou fazendo nos últimos meses…

— Ele esteve mais na fábrica do que em qualquer outro lugar. Eu fiquei de olho nele para falar a verdade… Tenho uma ideia: Vou pegar os relatórios dele desse mês e vou para empresa no fim da tarde, então nós dois podemos investigar juntos o que o tal ficou escrevendo naqueles papéis, concorda?

— Me parece ótimo — Taeyang ficou mais aliviado, uma sensação boa de que não estava desamparado o dominou. Era quase como se fosse o pequeno Taeyang outra vez. O medo pelas ações de Gun voltando e Shin, destemido, surgindo do nada para ajudá-lo — Chamamos mais alguém para ajudar? Eujin, talvez…

— Não, vamos deixar os mais novos tranquilos por enquanto.

— Tem razão. Nós dois conseguimos dar conta — Taeyang olhou no relógio e viu que poderia se atrasar. Como CEO precisava começar cedo — Estou em cima da hora, vou indo.

— Boa sorte, irmão.

— Obrigado, irmão.

***

Naquela tarde ela não se sentia bem. Já havia se passado algumas horas desde que a herdeira Wang lhe acusara de algo que ela não havia feito, uma sensação de injustiça e impunidade que continuava forte dentro dela, queimando como uma brasa incandescente que não se apaga. A reunião com o senhor Hansol mais cedo, todos os pedidos de desculpas do velho homem, também não foram suficientes para apaziguar os sentimentos negativos.

Ela rememorou durante todo dia as acusações que ouviu, toda defesa que recebeu, principalmente a inusitada aparição de Shin quando ela imaginou que tudo estivesse perdido. Ele havia lhe defendido com tanta coragem, com tanta convicção.

Depois de toda dor sentida pela injustiça que novamente aquela família lhe impunha, ela conseguia perceber tudo o que aconteceu: praticamente todos os herdeiros Wang a defenderam. Shin tomou suas dores, se colocou à sua frente, a abraçou… Ele me abraçou.

A lembrança dos abraços reconfortantes que trocou com seu rei agora estavam mais nítidas que antes. Se fechasse os olhos profundamente seria capaz de sentir seu toque, seu aroma, a sua quentura como se não tivesse se passando um único dia. Por que ele fez aquilo? Se perguntou mais uma vez. Será possível que ele… Não, não seria. E mais uma vez se perguntou o que faria dali em diante. Tinha muita vontade de abandonar aquela mansão, de apagar esse passado de sua vida em definitivo, mas não conseguia se desviar daquele destino, algo lhe prendia ali, e não era apenas Shin.

— Ha Jin…

Ela se assustou ao ouvir a voz de Ryung. A governanta estava sentada sobre algumas pedras em uma área do jardim que não era tão acessada quanto os demais, próximo a algumas árvores secas, úmidas da chuva que haviam tomado naquela manhã.

— Desculpe… Não quis te assustar.

— Não assustou, Ryung. Está tudo bem.

— O que está fazendo aqui? — a jovem se aproximou, abaixando ao lado da governanta, aproveitando aquele momento de paz que geralmente acontecia nas tardes da mansão.

— Pensando um pouco… em algumas coisas.

— Ha Jin, você vai sair da mansão? — Ryung perguntou de uma vez e a mais velha a olhou confusa.

— Não sei…

— Não quero tentar te induzir, mas… Todos nós gostamos muito de você. Alguns funcionários até comentaram como seria injusto se você fosse embora. Por favor… Pense muito bem e, independentemente do que decida, não deixe de ser minha amiga. Quero que você esteja no meu casamento também…

— Que honra… — a governanta sorriu e lembrou-se como rapidamente conquistou o carinho do corpo de funcionários, que tanto a detestavam no início de seu emprego — E quando será?

— Ainda não sei, mas acredito que no próximo ano. Já temos quase tudo pronto.

— Fico feliz por você, Ryung, e ainda mais feliz por me considerar sua amiga e me convidar para participar com você de um momento desse. Com toda certeza, eu irei.

— Obrigada! — a mais jovem sorriu de volta e continuou — Agora vamos… A governanta Nyeo pediu para te chamar. Já vamos iniciar o jantar.

***

Ela estava deitada sobre a cama. Não sentia desejo de sair de seu quarto. Sabia que algo de ruim a aguardava e isso a deixava ansiosa. Irritada.

Havia sido criada de uma forma que lhe trazia tristeza, que lhe fazia sentir mal pelas coisas que presenciava. Desde pequena se sentiu, e foi colocada, sob a retaguarda dos irmãos, mesmo os mais novos, e aquela sensação de ser pior, menos digna que eles por ser mulher lhe trazia rancor, ódio, talvez.

Lembrava-se de como sempre foi tratada como uma princesa pelos seus familiares. A mãe sempre lhe encheu de bonecas, mimos e tudo  o que bem queria. Era tratada com diferença dos irmãos que sempre eram responsabilizados pelos problemas que cometiam.

Nunca foi vista, verdadeiramente, como uma pessoa que pudesse se superar e vencer. Sobre si, jamais fora colocado qualquer tipo de esperança de algo melhor. Talvez fosse realmente culpa da criação que teve, talvez o fato de ter nascido entre sete irmãos tenha lhe trazido o selo de inferioridade, de subestimação, fixado em sua testa desde o momento que chegou a este mundo.

Desde pequena aprendeu a se defender. Desde pequena aprendeu que precisaria se esforçar para alcançar seus objetivos, conquistar seus sonhos, e não era nada fácil lutar no meio de uma família que não lhe dava créditos ou acreditava em suas ideias. Também aprendeu desde cedo a não confiar nas pessoas.

Aprendeu que sempre que se aproximavam dela, era com um interesse maior sob suas intenções, com exceção dos irmãos mais velhos. Eles sempre a protegeram, talvez seguindo a ordem do pai em cuidar da menina da família, talvez por acharem realmente que ela era frágil demais, mas eles sempre estavam com ela, principalmente Shin.

Shin… O irmão pelo qual nutria bons sentimentos. Sentimentos que se confundiam. Aquele pelo qual ela seria capaz de fazer o que precisasse. O único que lhe trazia sensações boas, que era capaz de lhe fazer refletir. O mesmo irmão que a defendia na escola, aquele que fez com que ela chorasse escondida em seu quarto ao ir embora da mansão. O irmão que ela sempre tentou proteger e que, agora, havia lhe trocado por outra, que defendia outra mulher… Estava claramente envolvido com a vagabunda.

A governanta. Não conseguia entender como a família praticamente inteira estava enlouquecida por aquela mulher. Não sabia também o motivo, mas a odiava desde o momento que a viu pela primeira vez em sua casa, naquele cargo que não lhe pertencia.

Aquela mulher, ao contrário do outro, lhe trazia sentimentos que não conseguia definir, enchia sua alma de um rancor, um ódio incontrolável, um desejo desmedido de vê-la sofrer, de vê-la longe, o mais longe dali. Aquela mulher falsa e interesseira que tentava tomar para si aquilo que ela sempre desejou e nunca teve: a atenção e carinho dos irmãos.

Sabia que tinha ido longe demais em tudo o que havia feito, mas verdadeiramente não conseguia se arrepender. Preferia ter novamente aquela oportunidade e refazer, escondendo-se de olhos astutos que pudessem a denunciar posteriormente.

Havia falhado em seu plano e, por isso, aguardava a decisão dos pais sobre o seu castigo e, independente do que fosse, ela sabia que, agora, mais do que nunca, deveria tomar para si a oportunidade de CEO na empresa, no mês vindouro, e mostrar a todos aqueles que a subjugaram do que poderia ser capaz. Que era tão bem qualificada como qualquer um dos seus irmãos. Que poderia ajudar a empresa com tudo o que sabia, com todos os anos anônimos de dedicação.

Quando ela se aproximou da sala de jantar, todos já estavam à mesa. A mãe conversava discretamente com o pai e antes de se aproximar da cadeira, não pode evitar que seu olhar cruzasse, inesperadamente, com o da governanta que não desviou, altiva como sempre demonstrou ser e que, agora, certa de que os herdeiros a protegeriam, se achava no direito de lhe encarar daquela forma.

— Como se sente, Yun Mi? — Taeyang perguntou e alertou aos demais que a irmã havia chegado.

— Um pouco cansada — respondeu desviando o olhar da outra mulher e sentando-se ao lado de Taeyang — Também tenho um pouco de dor de cabeça…

— Não era para menos… — Ah Ra falou com um tom ríspido, chamando a atenção de todos.

— Me desculpem por ontem — começou, os olhos baixos focando as mãos sobre o colo — Acredito que me excedi.

— Bastante — Jung cortou a fala da irmã. Seu tom estava repleto de rancor. Ela o olhou com indignação. Todos ao lado dessa mulher.

— Acho que não somos nós que precisamos do seu pedido de desculpas, Yun Mi — Eujin falou e Ha Jin sentiu o estômago gelar pedindo aos céus que o senhor Hansol os liberassem para servir o jantar.

Nesse momento, todos focaram Yun Mi que, com ódio e surpresa injetados em sua face, encarava o irmão mais novo. Hansol mantinha uma expressão cansada enquanto Ah Ra a olhava com desgosto, como se houvesse errado em algo.

Shin tinha a expressão divagando entre surpresa pelo questionamento do irmão mais novo e a angústia sobre o que a irmã faria. Taeyang estava resignado, como se concordasse com aquela opinião e os três mais novos, aparentando terem combinado anteriormente sobre aquela situação, a encaravam com expressões de injustiça e revolta. Gun, de sobrancelhas arqueadas e um fino e discreto sorriso, era o único que parecia se divertir com a cena.

— É verdade. Apenas uma pessoa foi verdadeiramente prejudicada aqui com suas histerias — Sun continuou, apoiando o irmão com ímpeto.

— Você tem ideia dos absurdos que fez e falou ontem? — Jung perguntou acusador e, para a surpresa de todos, Yun Mi permanecia em silêncio.

— Não foi nada legal o que você fez…

— Queria que você mudasse um pouco…

— Como tem coragem de criar uma situação como essa?

— Você não pensa nas loucuras que faz antes de cometê-las?

— Está ficando cada vez pior a forma como você trata os outros…

— Como podemos conviver com você dessa forma?

— Você precisa se controlar mais…

— Ela é só uma empregada e eu não gosto dela…

Yun Mi respondeu entredentes e todos se calaram. Hansol, respirando profundamente, alto o suficiente para que todos pudessem ouvir, colocou as mãos sobre a madeira da mesa e abaixou a cabeça, saturado de confusões.

— Será que em algum dia da minha vida poderei ter uma refeição tranquila nesta casa, com a minha família reunida? — a voz era baixa e rouca, mas audível  — Será que terei de fazer minhas refeições em restaurantes para sempre para poder privar meus ouvidos das suas reclamações.

— Não precisa, querido — Ah Ra continuou com uma voz gentil, colocando a mão sobre a mão do marido, se dirigindo a Ha Jin em seguida — Vamos jantar, por favor.

Ha Jin, fazendo uma breve vênia e agradecendo intimamente aos céus por aquilo ter parado, se dirigiu até a cozinha e informou à governanta Nyeo que o jantar poderia ser servido. Seguindo a mais velha que levava para a mesa, além dos diversos acompanhamentos, um cheiroso ensopado de camarão, se posicionando ao seu lado, contou mentalmente os segundos que aquela família demorava para concluir sua refeição, canalizando pensamentos positivos para que nada viesse a lhe atingir.

Minutos depois do início do jantar, os herdeiros, todos prestando atenção em Yun Mi, jantavam em um profundo silêncio, o suficiente para ser constrangedor. Por alguns breves instantes, Ha Jin foi capaz de perceber Shin olhando para ela de esguelha, ansioso, como se esperasse por mais algum acesso de histeria da parte da irmã.

— Taeyang, como você fará na próxima semana? Sei que irá para Seul. Quem ficará à frente da empresa durante esses dias — Hansol tentou quebrar o clima pesado que se instaurou, puxando um assunto desconhecendo a tensão que o mesmo provocaria.

— Eujin — o rapaz respondeu com simplicidade ignorando o olhar irado que Gun lhe ofertou.

— Não tem problema com isso, Eujin? — o mais velho continuou.

— Não, papai. Só vou estender por mais alguns dias. Não vai me afetar em nada, de toda forma — o filho respondeu tomando o exemplo de Taeyang ao ignorar o olhar do outro.

— Você fez um excelente trabalho esse mês, meu filho. Estou realmente orgulhoso.

— Obrigado, papai — Eujin mostrou uma expressão de choque em resposta as palavras do pai. Não era normal que o senhor da casa lhes oferecesse elogios dessa natureza, ainda mais na frente dos demais.

— E como vão na faculdade, vocês dois? — continuou olhando para os dois mais novos.

— Comigo vai tudo bem, papai. Não vejo a hora de me formar — Jung começou sem muita emoção — Já com Sun, acredito que ele vai atrasar mais um período.

— Deixe de ser mentiroso, seu inútil — Sun rebateu irritado — Peça desculpas agora mesmo.

— Não vou pedir desculpas para você, seu fedelho — o outro respondeu com superioridade.

— Como não, seu… — o mais novo o olhou ameaçadoramente.

— Parece que nossa família tem um grave problema quando se trata de pedir desculpas.

Eujin trouxe novamente aquele assunto à tona. Mais uma vez a tensão se instaurou naquele lugar. Ha Jin sentiu o estômago colado às costelas, congelado, um toque discreto da mão de Nyeo sobre a sua.

— Por que está insistindo nesse assunto, garoto? — Yun Mi falou olhando para o irmão — Por que deveria pedir desculpas para essa mulher?

— Por ter simulado um roubo e ter incriminado ela? Esse seria motivo bom o suficiente? — Eujin rebateu irritado.

— Não vou pedir desculpas a ninguém — pontuou irritada, controlando os nervos para não ter outro surto.

— Concordo com Yun Mi… — Gun começou a falar e Ha Jin fechou os olhos, temendo o que viria — Não vejo motivos para pedir desculpas à empregada considerando que papai já deve ter feito isso, mas devo concordar com meus irmãos…

A atenção de todos foi desviada de suas refeições e pensamentos ao ouvirem aquela frase. Eles o encararam como se estivessem observando um milagre no calibre da volta do Messias à Terra. Até mesmo Hansol e Ah Ra se impressionaram com aquela declaração. Ha Jin, até então de olhos fechados, não conseguiu conter a boca que se abriu em um “O” mudo enquanto o focava espantada. Gun os olhou de volta, à mesa, estranhando aquela comoção, e continuou:

— Quê? — tinha um sorriso displicente ao indagar — Vão dizer que não acham que Yun Mi foi longe demais dessa vez?

— Claro… que foi… — Jung falou primeiro, muito espantado com a atitude do irmão.

— E quem você acha que é para me julgar? — Yun Mi questionou, mas ele não aparentou se abater.

— Acho mesmo que você precisa de novidade em sua vida, irmã — continuou com uma expressão debochada — Talvez uma viagem a Paris, Milão…? Precisa de novos ares para arejar sua mente e descansar um pouco. Talvez esteja… saturada demais…

— Não estou saturada de nada, seu…

— Já chega! — foi Ah Ra quem falou. O tom mais alto, quando utilizado, costumava provocar surpresa em todos — Yun Mi não vai viajar para lugar nenhum. Seu pai e eu conversamos muito noite passada e resolvemos que já está na hora de você se casar, querida.

— O que?

Yun Mi arregalou os olhos e olhou a mãe com espanto, raiva e descrença. Os irmãos, igualmente assustados com aquela novidade, pousaram seus talheres sobre os descansos de mesa e aguardaram o que viria a seguir. Gun, como se achasse a novidade espetacular, se pronunciou sorrindo largamente:

— Acho essa ideia formidável, papai. Posso apresentar colegas de muito boa família para minha querida irmã.

— O que está acontecendo aqui, agora? — Yun Mi perguntou diretamente para a mãe.

— Não está acontecendo nada, minha filha. Apenas concordamos que você já está em tempo de casar. Agradeço a sua gentileza, Gun, mas eu mesma irei procurar um bom partido para minha filha.

— Mas eu não quero me casar. Vocês, por um acaso, me perguntaram o que eu acho sobre isso?

— Não há necessidades. Todas as moças de nossa família se casaram com bons partidos escolhidos pelos pais. Farei o mesmo com você, não se preocupe.

— Eu não quero casar — repetiu chocada — Isso é tudo culpa dessa governanta imunda…

— Yun Mi, não… — Eujin começou, mas ela o interrompeu.

— Cale sua boca, seu fedelho idiota. Você não sabe de nada, mas eu… eu sabia desde o início… Quando coloquei meus olhos sobre você — olhou fixamente para Ha Jin que a encarou de volta, claramente assustada — senti como se todos os problemas do mundo estivessem entrando na minha vida. Sua interesseira nojenta. Eu sei que o que você quer aqui é conquistar esses idiotas e viver de boa vida.

— Yun Mi, já chega! — Hansol a interrompeu antes que tudo ficasse pior.

— Mamãe… — Taeyang finalmente falou durante aquele jantar — Tem certeza que essa é a melhor opção? Não acredito que Yun Mi esteja pronta para um casamento.

— Já está decidido, Taeyang — Ah Ra falou e os outros herdeiros a olharam com angústia.

— Mamãe… A senhora já tentou isso comigo e não deu muito certo, está lembrada?

— Me lembro muito bem — a mulher retrucou exasperada, remexendo a comida sobre o prato — Nunca imaginei que você se rebelaria contra mim daquela forma, Taeyang…

— Não me rebelei, mamãe, só não podia aceitar aquilo.

— Tem ideia de como sua atitude me deixou mal com a família de Lee Yon Ji? Aquela garota era ideal para você, mas não… Você tinha que discordar de mim, não é? Não sei onde errei com vocês...

— Mãe, não é isso — o jovem continuou — A senhora só precisa entender que não pode simplesmente escolher com quem vamos passar o resto de nossas vidas.

— Sim, eu posso. Fizeram isso por mim e eu posso fazer isso por vocês. É minha obrigação como mãe traçar um destino sadio e feliz para meus filhos.

— Seria bom pensar melhor sobre isso. A senhora não pode tomar uma atitude precipitada novamente. Sei que Yun Mi tem feito muitas coisas erradas, mas casar a minha irmã não é uma punição condizente.

— Ela sequer tem um namorado — Sun comentou mais para si que para qualquer outro, mas foi ouvido por todos — Não podem casar Yun Mi com uma pessoa que ela não conhece.

— Mas ela conhecerá em breve — Ah Ra continuou irredutível. Yun Mi, de cabeça baixa, irada demais com tudo aquilo, ouvia aquelas pessoas decidindo sua vida como se ela não tivesse opinião — Fiz uma lista com os nomes de alguns rapazes. Ela irá conhecê-los e escolherá um.

— Não vou escolher ninguém…

— Senhora, esse tipo de situação é bem antiquado — Eujin tomou a palavra para si — Quase não se usa mais isso. Por que a senhora quer forçar Yun Mi a casar tão de repente?

— Por que? — a mais velha olhou o rapaz com altivez — Porque eu não aguento mais as histerias dela. Não aguento mais seus mimos e sua forma de resolver seus problemas. Yun Mi só tem me dado dores de cabeça e ontem foi o cúmulo. Não aguento mais e estou lavando minhas mãos.

— Isso não é uma coisa boa de se dizer para uma filha, senhora Ah Ra — Jung comentou.

— Yun Mi irá se casar em breve. Deixará a fábrica e tomará conta de sua casa, de seu marido. Está decidido.

A mulher finalizou e todos se calaram, olhando para Yun Mi que parecia prestes a chorar, não de tristeza, seu semblante mostrava ódio. Os irmãos se olharam entre si, esperando o que viria em seguida, a jovem respirando profundamente antes de iniciar sua fala.

— Vocês não se cansam de me tratar como um objeto? — começou em um tom baixo e assustador. Todos a olharam com seriedade — Desde a minha infância que vocês decidem o rumo da minha vida e nunca pararam para perguntar a minha opinião. A senhora diz que lavou as mãos, que cansou de mim, mas se esquece que sou assim por que foi assim que me criaram? Era assim que vocês queriam que eu fosse.

“Fico impressionada com vocês. — se dirigiu aos irmãos — Ontem vocês pareciam bem mais destemidos ao defender aquela mulher da acusação que criei, mas agora, estou sendo forçada a me casar com um homem que não conheço porque a minha mãe cansou de mim e o máximo que tenho de vocês são algumas poucas palavras. E você… — olhou diretamente para Shin que a observava sem demonstrar qualquer sentimento — Você sequer abriu a sua boca em meu favor.”

— Yun Mi… — Eujin tentou falar, mas ela o interrompeu gritando.

— CALE A BOCA! Eu sei que não tenho escolhas sabendo que a senhora já sentenciou o meu futuro. Sei que não terei apoio de ninguém caso siga o exemplo de Taeyang e diga não, mas quero que saiba que serei uma mulher infeliz, muito mais infeliz do que sou agora. A senhora será a culpada de todo o sofrimento que eu vou ter que vivenciar.

— Minha filha…

— NÃO! — ela gritou novamente e se levantou — Eu não quero ouvir mais nada, mamãe. Eu apenas queria mostrar que posso ser tão boa quanto vocês…

— Mas você é — Taeyang a interrompeu.

— NÃO SOU! NUNCA SEREI! Vocês sempre me trataram assim, como se eu não servisse para nada além de enfeitar essa casa. Desde pequena foi assim. Papai me mostrava para seus amigos como se eu fosse uma boneca, um troféu diferente dos demais e a senhora sempre me fez acreditar que eu era realmente isso, uma boneca, um enfeite nessa mansão…

“Fui forçada a fazer o que não queria e cada um de vocês foi responsável por eu ser obrigada a algo, fosse o ballet, as aulas de pintura e culinária, francês, japonês e inglês… Eu nunca fui perguntada sobre o que queria — as lágrimas começaram a cair — Vocês nunca se deram ao trabalho de saber que eu preferia ter aprendido violino do que piano, nem nunca desconfiaram que eu preferia hipismo ao ballet… Vocês me obrigaram a minha vida inteira, eu nunca tive escolhas e até ela, até você… por sua culpa, sua vadia interesseira, POR SUA CAUSA EU VOU SER FORÇADA A ME CASAR E ABANDONAR A EMPRESA. POR SUA CAUSA, SUA VAGABUNDA…

Yun Mi lançou o prato de louça fina que havia à sua frente na direção de Ha Jin. Jung e Eujin, ágeis em seus reflexos, se afastaram do objeto antes de serem atingidos, este se espatifando no chão, aos pés da governanta que parecia não ter uma gota de sangue em seu rosto.

— É TUDO SUA CULPA! — Yun Mi se preparou para lançar um dos copos na direção de Ha Jin, mas Taeyang a impediu.

— Yun Mi, por favor. Se controle.

— NÃO! ESTOU CANSADA DE ME CONTROLAR — gritava enquanto Taeyang a puxava, agarrando-a pela cintura, para fora da mesa.

— Yun Mi, já basta disso — Hansol falou seriamente, batendo com as mãos sobre a mesa, ficando de pé — Pare com esses seus shows de uma vez.

— NÃO! NÃO! NÃO VOU PARAR ATÉ QUE ME ESCUTEM — continuou enquanto Taeyang a levava, à força, para o quarto — EU NÃO QUERO ME CASAR, MAMÃE! POR FAVOR, NÃO ME OBRIGUE A FAZER ISSO… POR FAVOR, MAMÃE… EU NÃO QUERO ABANDONAR A EMPRESA. EU PRECISO MOSTRAR QUE POSSO MUITO MAIS DO QUE VOCÊS ACREDITAM. MAMÃE!! MAMÃE!! NÃO FAÇA ISSO COMIGO, MAMÃE…

Os gritos se encerraram assim que ouviram a porta se fechar, abafando os lamentos e pedidos de Yun Mi atrás de si. À mesa, os demais Wang focavam seus pratos de comida sentidos pelo que haviam presenciado, se dando conta, talvez, de como sempre haviam deixado a jovem de lado. Neste mesmo tempo, funcionários limpavam do chão a louça e comida espatifadas aos pés da governanta.

— Mais uma vez, me desculpo com você por minha filha, governanta Go — Hansol, estático, ainda de pé, falou — Entenderei sua decisão, seja ela qual for — dizendo isso, se retirou em total silêncio. Ah Ra, sendo novamente alvo dos olhares acusadores dos três mais novos à mesa, também se retirou.

— Isso não está certo — Eujin foi o primeiro a falar, respirando profundamente, cansado — Nem mesmo Yun Mi merece isso…

— E mesmo sendo como ela é, sei que ela gosta muito de estar na empresa — Jung concordou.

— Eu acho que é a melhor solução — Gun, com seu ar superior, opinou — Agora ela terá sua própria casa e poderá ter seus ataques histéricos por lá.

— Como pode falar algo assim? — Sun rebateu — Ela é nossa irmã. Ninguém merece ser obrigado a fazer o que não tem vontade, muito menos se casar.

— Tenho pena é do futuro marido dela… Quando penso o que ele terá que passar com essa fera…

— Cale a boca, Gun — Shin falou pela primeira vez depois de toda aquela situação. Sua expressão não deixava claro o que ele sentia naquele momento, mas suas palavras foram profundas — Sei bem o motivo que te deixa tão feliz… Menos um de nós para concorrer com você, não é? Mas os seus interesses não te dão o direito de zombar ou tripudiar da sorte de ninguém. Se está feliz com isso, apenas fique, mas nos poupe de seus comentários sórdidos. Você é bem filho de sua mãe mesmo… Eu perdi a fome. Com licença.

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Notas finais do capítulo

¹Proprietário da empresa concorrente da Wang S.A, a Busan Yong Motors.

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo
Nahm Hye - Woo Hee