Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 42
Compre Minha Briga e Meu Coração


Notas iniciais do capítulo

Annyeonghaseyo!!

Antes de qualquer coisa, muitíssimo obrigada por todos os comentários recebidos no capítulo anterior. Vocês são demais.
Nossa fic está caminhando bem e estamos animadas com tudo o que vem por aí. Neste último capítulo do arco de Eujin, muito barraco (que a gente adora), umas demonstrações de afeto entre muitos e alguns sentimentos serão demonstrados mais abertamente.
O nosso desejo é que vocês gostem do que preparamos para esse fim de arco e, de antemão, já digo que o próximo arco será ÓTIMO!
Então peguem os calmantes e vamos junt@s nessa leitura!



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Jung acordou naquele dia mais confiante que nunca. Estava de folga da faculdade e sabia que Sun também estava em casa. Tomou um banho rápido, foi até a sala de jantar e comeu seu desjejum com pressa. Passou pelo corredor dos quartos com passos rápidos e pesados. Forçando a maçaneta da porta do irmão, bateu ao perceber sua entrada impedida.

— Sun… Abre a porta — esmurrou a madeira enquanto proferia a frase — Sun… Abre logo…

— O que você quer? — o mais novo, com o cabelo desgrenhado, e ainda mais desbotado, apareceu pela fresta concedida, os olhos inchados de quem foi acordado desnecessariamente — Hoje não tem aula… Eujin nos liberou da empresa… O que você quer?

Ele ralhou enquanto o mais velho entrava no cômodo sem ser convidado e fechava a porta atrás de si. Sun, atentando para a fisionomia do irmão, entendeu que algo o deixava agitado. Caminhou até perto dele, os olhos embaçados e remelentos, e o esperou falar.

— Vai ser hoje — Jung soltou levemente nervoso.

— Hoje o que? — Sun perguntou sem entender ao certo o que estava acontecendo, esfregando os dedos nos olhos.

— Vou falar com Ha Jin. Ela está sozinha na biblioteca e os nossos irmãos já saíram. Vamos logo!

— Q… Que? — Sun, claramente atônito, repetiu — Você vai falar com Ha Jin? Agora?

— Sim… E quero que você escute tudo. Vou falar tudo o que percebi e o que sinto e, se por um acaso, você perceber que posso me acovardar, quero que saia de onde estiver e me dê uns socos. Em seguida, você liga para Doh Hea e a chama para sair. Certo?

— Jung… Não é um pouco cedo para… tantas atitudes?

— Certo? — o outro refez a indagação, mais incisivo - Pelo visto alguém acordou disposto a resolver todas as vírgulas da própria vida. Sun suspirou.

— Er… Acho que sim… — acabou se rendendo.

— Então vamos de uma vez… — Jung continuou seguindo até a porta.

— Espera… Eu nem mesmo escovei os dentes…

— Não precisa… Quem vai falar sou eu — continuou puxando o irmão grosseiramente  pelo pulso — Você fica atrás da porta.

— Espera… Espera… Não é assim…

— É assim, sim. Agora cala a boca e vamos logo.

Os dois caminharam lado a lado pelo corredor que levava até a biblioteca. Ha Jin, que havia recebido a ordem da governanta Nyeo para reorganizar alguns livros, estava tão absorta em sua tarefa que não percebeu o movimento atrás de si.

No momento sua atenção fora raptada para um curiosíssimo encadernado vermelho sobre a história das dinastias coreanas - Será que havia alguma menção a Hae Soo naquele compilado estupidamente pesado?

Jung adentrou na biblioteca puxando um pouco a porta de correr, apenas o suficiente para que Sun se escondesse atrás dela.

— Bom dia, Ha Jin — ele saudou com leveza e a governanta, sorrindo, lhe cumprimentou.

— Bom dia, senhor Jung — era a primeira vez que o herdeiro lhe dirigia a palavra desde o karaokê e ela achou por bem ser simpática e fazer de contas que nada havia acontecido.

— Ah… Por favor… — ele coçou a cabeça se aproximando um pouco mais — Sem formalidades…

— Eu sei… Mas a governanta Nyeo não gosta que eu os trate apenas pelo nome. Eu prefiro preservar o meu emprego — sorriu com gentileza.

— Tudo bem… Eu entendo…

— No que posso ser útil? — Ha Jin perguntou solícita, apoiando o livro imenso na prateleira outra vez.

— Na verdade, quero conversar um pouco com você — a mulher o olhando de forma séria agora, desconfiada sobre o que viria a seguir.

— Aconteceu algum problema?

— Não… Quer dizer… Sim. Digo… Eu estou com um problema e acho que você já percebeu… — ele falou e Ha Jin, entendendo sobre o que se tratava, assentiu — Eu não quero que você me diga nada, apenas me escute um pouco, tudo bem?

— Jung… Eu…

— Por favor… Só escute — ele falou novamente acenando com as mãos, ela o olhou esperando o que viria — Eu não sei bem como falar essas coisas, mas sinto que preciso. Eu tenho me deixado enganar e iludir por meus sentimentos faz um tempo e acredito que isso não é bom para mim.

"Quando você chegou nessa casa eu me assustei. A forma como te conhecemos foi incrível, inusitada e eu jamais vou esquecer daquele chute… Foi divertido — ele sorriu da lembrança e prosseguiu — Depois, com o passar do tempo, comecei a me aproximar e perceber o quanto você é uma garota especial… Garota, não, uma mulher especial, diferente de todas as outras que eu conheço e isso, de verdade, me encantou.

"Você é linda e gentil, além de ser sábia e muito esperta. É firme quando precisa ser e não se deixa calar ou humilhar. São características verdadeiramente louváveis e eu admiro demais… Logo, não era de se duvidar que um garoto comum como eu me apaixonasse por você…"

— Jung…

— Apenas escute, por favor. Eu me apaixonei de verdade, como nunca aconteceu antes e eu realmente seria capaz de abrir mão de muita coisa por você, caso sentisse o mesmo por mim… Sim, eu sei que não sente o mesmo por mim — ele confirmou assim que Ha Jin, de olhos arregalados, o encarou — E eu percebi isso faz um tempo, mas não quis aceitar, de fato, até aquela noite no karaokê… Acho que era mais fácil continuar me enganando e acreditando que, em algum momento, você me veria como um homem, e não como um garoto.

"Naquela noite eu percebi definitivamente que o seu coração está voltado para outra pessoa… Percebi que não tenho espaço na sua vida além de ser seu amigo, o que não é o ideal, mas já é muito bom. Eu… Quero dizer que farei o possível e vou me esforçar bastante para que você seja, para mim, da mesma forma que é para Eujin… para Sun… Nossa noona.

"Mas preciso te fazer um pedido: Por favor, tenha cuidado. Eu sei que não somos capazes de controlar nossos sentimentos, mas não sei como meu irmão reagirá ao perceber o que você sente por ele…"

— O que? — Ha Jin pareceu chocada, a cor sumindo das bochechas — Do que você está falando?

— Não precisa fingir… Eu percebi que seu coração era de outro faz um tempo e lá no karaokê apenas ficou claro a quem ele pertence…

— Jung… eu…

— Só me prometa que terá cuidado… Nunca tive muito contato com meu irmão, mas ele parece ser um cara legal, o problema é que, infelizmente, eu não tenho como te garantir isso. Eu espero, de verdade, que você seja muito feliz e, se precisar de um amigo, para o que quer que seja, pode sempre contar comigo, tudo bem?

— Ah…

— Obrigado por sempre me tratar tão bem, mesmo com as idiotices que eu fazia e minhas crises infantis de ciúmes — pega de surpresa, Ha Jin foi abraçada e, sem entender ao certo o que aconteceu, acompanhou com os olhos o jovem Wang saindo de sua presença e fechando a porta atrás de si.

— Mas o que aconteceu aqui? — se pegou falando para si mesma — Parece que o nosso Jung está crescendo, de fato… — suspirou feliz antes de se dar conta de outra verdade — "Como meu irmão reagirá?" "Ele é um cara legal?" "Tenha cuidado?" O que ele quis dizer com isso? Aigo… O que está acontecendo com você, Go Ha Jin? Coloque uma faixa na testa de uma vez dizendo dos seus sentimentos — reclamou enquanto batia na cabeça com os pulsos.

No corredor, Jung, com o coração descontrolado, arrastava Sun novamente até o seu quarto. Ao passarem pela porta, o mais velho a fechou com rapidez e olhando fixamente para o jovem levemente aturdido, moveu a cabeça em direção ao celular parado sobre o criado-mudo.

— Vamos… Ligue para Doh Hea agora — Jung falou sem muita educação.

— Que história é essa da Ha Jin apaixonada por nosso irmão? Um que você não tem muito contato? O que aconteceu com Shin e Ha Jin naquela noite?

— Não mude de assunto…

— Ha Jin está mesmo gostando do Shin? — Sun continuou curioso.

— Vamos. Pare de desconversar e ligue para Doh Hea. Depois que ligar eu conto o que houve no bar.

— Cara… Não é assim que as coisas funcionam…

— Claro que é! Vamos, você não tem mais como fugir de tudo isso. Ligue agora para ela e marque o encontro de vocês.

— Mas…

— Agora!

Sun, encurralado por toda aquela situação, se dirigiu em passos lentos até o celular. O tomando em sua mão, olhou para Jung e para a tela do aparelho antes de desbloqueá-lo.

— Cara…

— AGORA!

Procurou, moribundo, o número da garota e sentou-se sobre a cama, desolado com o que precisava fazer. Respirou profundamente ouvindo a ligação se completar e o toque de chamada do celular começar.

Alô, Sun — ela atendeu ao terceiro toque.

— Alô… É… Bom dia, Doh Hea — ele continuou sentindo um formigamento irritante no estômago.

Bom dia… A que devo a honra de sua ligação?

— Oh… Bom…

— Agora! — Jung insistiu com uma imposição muda.

— Eu estive pensando…

O que? — ela perguntou depois que ele parou de falar.

— Você tem alguma coisa para fazer no sábado?

Hmmm… Está me chamando para um encontro?

— Omo… Não. Não… Não é isso, é que… Eu só pensei que…

Acho que podemos nos ver no café perto da estação, o que acha? Tem uns lanches gostosos lá.

— Ah… Certo. Pode ser — Sun, por algum motivo incompreensível, estava nervoso.

Nos encontramos às 17 h então. No sábado. Te espero lá.

— Tudo bem. Até sábado então.

Tchau!

— Tchau.

***

— Algum problema, Ha Jin? — a governanta Nyeo perguntou percebendo que a mais jovem parecia longe em seus pensamentos.

As duas compartilhavam um espaço no balcão da cozinha, entre legumes sendo cortados e temperos conferidos.

— Ah… Não. Está tudo bem. Só estou pensando em algumas coisas que aconteceram recentemente…

— Entendo… Está tudo indo bem com sua família, seu coração, a saúde…?

— Sim. Obrigada pela preocupação. Mas, governanta, me diga uma coisa, o que está acontecendo hoje nesta casa?

—  Por que a pergunta?

— Alguns dos filhos estão vindo para o almoço… Isso geralmente não acontece.

— Ah… Isso. Eu esqueci que está aqui faz pouco tempo — a mais velha começou com uma nota estranha na voz — Hoje é o aniversário de casamento do senhor Hansol e da senhora Ah Ra. Os filhos, os mais próximos, almoçam com eles e, a noite, o casal costuma jantar fora.

— Então é isso… E quem estará aqui?

— Os senhor Taeyang e senhorita Yun Mi, com certeza. Os senhores Sun, Jung e Eujin. O senhor Gun não participa e não sei sobre os senhores Sook e Shin, mas a senhora Park Sun Hee sempre aparece com a senhorita Ha Na. Não sei se agora que se mudaram elas virão… Por via das dúvidas, estamos preparando a refeição para todos — e apontou para a montanha as panelas borbulhando no fogão.

— Sim, senhora… Tudo bem

E tudo ocorreu como a governanta Nyeo havia afirmado para Ha Jin. Enquanto organizavam a refeição e arrumação da casa, os herdeiros Wang começaram a aparecer, um a um, caminhando pela sala de visitas da mansão. Entre eles só não se encontravam Sook, Gun e Shin, este último em seu quarto, revendo alguns documentos antes de voltar para a empresa.

No decorrer da organização, Ha Jin não pôde deixar de perceber os olhares compridos que Yun Mi lançava para ela nas muitas idas e vindas até o seu quarto. Uma expressão muito além do habitual desprezo da herdeira para a governanta em cada cruzada de olhar. Havia em suas mãos, da última vez que voltara do aposento, uma caixa que ela dedicou à mãe.

— Esse é o meu presente para vocês, papai e mamãe. Fico muito feliz que as coisas estejam boas entre vocês.

— E por que não estaria, querida? — Ah Ra perguntou em seu tom superior.

— Verdade, papai… felicidades aos dois — Eujin parabenizou sem muita emoção. Ha Jin percebendo que os mais novos não faziam questão de estar ali.

— Vovô, eu também trouxe um presente para vocês — Ha Na, sentada entre Sun e a mãe se pronunciou — Está no carro da mamãe. Assim que terminarmos o almoço eu vou buscar.

— Fico muito feliz que você tenha se lembrado de seu velho avô, minha neta… — Hansol, com um inédito sorriso jovial no rosto, respondeu à menina.

— Sempre lembro, vovô… Como eu poderia esquecer do senhor — a pequena respondeu levemente ofendida.

— E o que o senhor reservou para mamãe, papai? — Yun Mi novamente se fez ouvir. O sorriso dissimulado de sempre parecia estar grudado em seu rosto como cola de tapeçaria em sapato velho. Os irmãos, incomodados com aquele semblante, olharam para ela imaginando o que estaria aprontando.

— Nada de mais… — Hansol externou, o olhar tão apagado quanto no início da refeição. Os funcionários trocavam o almoço pelas sobremesas — Apenas uma lembrança por mais um ano juntos.

— Tenho certeza que é algo realmente de muito bom gosto, papai… — ela continuou gracejando — O senhor tem um ótimo gosto para nos presentear, não é, mamãe?

— Sim… É verdade. Hansol tem um gosto muito refinado e sempre me surpreende com tudo o que faz.

— Lembra como fiquei feliz quando o senhor me deu aquela pulseira repleta de luas e estrelas em meu aniversário de dezoito anos? — Yun Mi já tomava para si a atenção de todos. De repente, Taeyang concluiu olhando-a de esguelha, a voz da irmã mais nova se assemelhava a um sibilo venenoso.

— Claro que lembro… Você ainda tem? —o senhor continuou a conversa.

— Oh… Sim — ela pareceu desconfortável e elevou as sobrancelhas de modo tão exagerado que Eujin teve certeza do seu teatralismo — Pensei em usá-la hoje, mas não a encontrei…

— Talvez tenha perdido, ou colocado em outro lugar. Não está no cofre? — Ah Ra perguntou observando também.

— Oh, não… — ela continuou com o ar displicente — Eu olhei no cofre, mas não estava… Não sei o que pode ter acontecido…

— O que está insinuando? — Taeyang perguntou para a irmã de uma vez — Acha que alguém mexeu em suas coisas?

— Não sei, irmão… Mas percebi que alguns brincos e anéis também sumiram de meu quarto há um tempo…

— Um tempo? Como assim sumiram de seu quarto, Yun Mi? — Hansol, dando mais atenção ao fato agora, perguntou com o tom firme — Quanto tempo faz que percebeu isso?

— Bem… Não sei ao certo… Cerca de dois ou três meses… Mas, provavelmente, eu devo ter colocado em algum outro lugar e não encontro. Talvez realmente esteja no cofre, posso olhar com mais cuidado depois…

— Faça isso, então… — o homem finalizou o assunto, uma mancha vermelha marcando seu pescoço, a irritação por aquele assunto aumentado. Entretanto, a jovem continuou.

— E então, papai… onde comemorarão hoje a noite?

— Vamos a um restaurante no centro…

— Que bom… Fico imensamente feliz por isso e espero que mamãe se divirta bastante essa noite.

— Claro que sim… Iremos nos divertir, Yun Mi — Ah Ra respondeu e, um tempo depois, o almoço fora encerrado com cada Wang saindo taciturnamente de suas cadeiras como se estivessem abandonando um funeral.

Yun Mi permanecia estranhamente falante e alegre. Tão alegre que até se permitiu ajudar Ha Jin sorrindo-lhe ao passar a louça que havia sujado para a bandeja de recolhimento da governanta.

***

— Você não achou a conversa da senhorita Yun Mi estranha, governanta Go? — Ryung perguntou para ela entre dezenas de trouxas de panos de prato, organizando os tecidos na lavanderia. Uma nova leva de roupa acabara de ser colocado para centrifugar nas máquinas, portanto a funcionária precisava vencer a barulheira no recinto, falando aos gritos.

— Não vamos falar sobre os patrões, Ryung. Você sabe que a governanta Nyeo não gosta e não temos o direito de ficar falando sobre eles — Ha Jin gritou de volta.

— Eu sei… Mas o pouco que ouvi enquanto servia o almoço me passou essa sensação… Aquela cobra criada está aprontando alguma coisa, escute o que eu estou falando. Não gosto dela, ela não é boa como os outros herdeiros. Ela e o senhor Gun sempre aprontam e fazem mal aos outros…

— Ryung…

— É verdade, minha amiga. Já vi várias coisas ruins acontecerem nessa mansão nesses poucos anos que trabalho aqui. Sempre que a senhorita começa com essas conversas, alguma coisa ruim acontece.

— Não se preocupe dessa vez, não vai acontecer nada…

— Você não sabe quem ela é… Tenho certeza que vem alguma coisa por aí, e os patrões perceberam…

— E o que poderia ser? — Ha Jin perguntou sem real interesse, embora estivesse com uma sensação ruim desde que Yun Mi arreganhou os dentes para ela e lhe ajudou com os pratos sujos.

— Eu não sei, mas fique de olhos abertos. Ela não faz nada pela metade. Se está aprontando algo, não se cansará até conseguir.

A tarde passou rápida e tranquila na Mansão da Lua. Ha Jin, realizando todas as tarefas as quais foi designada, vez ou outra lembrava da conversa desconcertante que tivera com Jung. Ainda não conseguia acreditar que o herdeiro havia percebido seus sentimentos pelo irmão mais velho, nem ela mesmo sabia se ainda nutria algum tipo de sentimento por um homem que tinha em seu hobby irritá-la e chamá-la de louca.

"Não… Não é possível que ele tenha percebido isso."

Pensou, a mangueira na mão molhando a grama que, aos seus olhos, estava ressecada demais naquele ponto do jardim. Em breve o resquício de sol, que quase não aparecia naquela época do ano, sumiria de vez por detrás dos prédios distantes e seu horário de ir embora para casa chegaria, mas já podia ouvir os carros dos herdeiros cruzarem as calçadas de pedra da mansão.

Aquela conversa só não a deixava mais incomodada do que as lembranças que tinha sobre o último sábado, sobre a bebedeira com Na Na e Mi Ok e a inusitada conversa que ela imaginava ter tido com a melhor amiga.

"Você provavelmente não vai lembrar de nada amanhã, mas, se por acaso lembrar de algo que seja, me pergunte, não vou te acusar nem te chamar de louca. Quero te ajudar… Quero que desabafe comigo."

Eram aquelas palavras que sempre vinham em sua lembrança e elas continuavam martelando desde o domingo, quando acordou e deu de cara com uma Mi Ok ainda mais estranha que o normal, sorrindo mais do que necessário e muito mais próxima do que de costume.

Ha Jin, você está bem?

Estou, Mi Ok… Só com bastante dor de cabeça. Na Na ainda está desmaiada, pelo que percebo…

Sim… Não quis acordar vocês, mas fiz uma sopa com umas coisas que tinham na dispensa… também esquentei um pouco de arroz. Coma logo. — informou a amiga ajoelhada à sua frente — Como se sente?

Estou bem… — olhou para Mi Ok estranhando toda aquela comoção — O que aconteceu?

Não se lembra? — a mais nova perguntou agitada.

Sim… Nós bebemos bastante, voltamos para casa e eu apaguei. Preciso parar de beber tanto, aliás… Se minha mãe souber estarei morta antes dos trinta.

Omo… Você não se lembra de mais nada? — perguntou levemente desapontada.

O que tenho para me lembrar? — Ha Jin perguntou parecendo preocupada.

Nada de mais… Apenas conversamos sobre algumas coisas… Mas não vou te incomodar com isso. Minha mãe ligou e me pediu para ir logo para casa, ela quer fazer um piquenique em família hoje por algum motivo que ela não me explicou claramente. Se, por acaso, lembrar de algo e quiser conversar, só precisa me ligar, tudo bem?

Eu… acho que… sim… — a mais velha respondeu, completamente desconfiada.

Diz para a Na Na que eu deixei um beijo e disse para ela não ter medo… Ela tem que se arriscar.

Tudo bem, eu digo.

E você, Ha Jin, por favor, não desista do que tiver que fazer. Não saia de perto das pessoas que você quer manter com você.

Do que você está falando? Acordou mais biruta do que sempre?

Já vou indo… Um ótimo domingo, unnie — despediu-se dando um beijo na bochecha de Ha Jin e saiu em seguida, deixando uma sensação de estranheza no ar.

O que aconteceu ontem para essa louca agir assim?

Foi durante a tarde daquele domingo, enquanto lavava a louça acumulada da semana, que Ha Jin lembrou-se das palavras da amiga "Não vou te acusar nem te chamar de louca. Quero te ajudar… Quero que desabafe comigo.”. Porém, por mais que forçasse a memória, não conseguia lembrar de mais nada daquela noite e se perguntava todos os dias desde então o que havia falado para que Mi Ok agisse daquela forma "Ainda vou ter um coma alcoólico por beber assim... ”.

— Ha Jin… Digo, governanta Go — Ryung a encontrou. Tinha o rosto vermelho e parecia nervosa.

— O que você tem, garota… Por que está correndo? — Ha Jin, repreendendo a amiga, esperou que ela falasse de uma vez.

— Está acontecendo um problemão na mansão… A governanta Nyeo pediu para te chamar.

— O que houve — perguntou quase deixando a mangueira molhar seu pé. Atrapalhando-se com o objeto, correu até a torneira e enfim desligou-a. Voltando para a outra funcionária, seguiu-a apressada pelos jardins em direção a casa sede.

— Eu não entendi muito bem… Parece que sumiu alguma coisa do senhor Hansol e ele está possesso na casa.

— Sumiu? De onde? — Ha Jin permanecia sem compreender as palavras da outra.

— Do cofre… Parece que mexeram no cofre… Eu não sei, vamos, se apresse, se apresse…

— Eu não acredito que algo assim esteja realmente acontecendo…

Wang Hansol tinha o olhar injetado de raiva. A face estava avermelhada e ele suava quando Ha Jin se posicionou ao lado dos outros criados, enfileirados, diante do patrão, na sala de estar. Através das altas janelas do aposento era possível ver que o dia acabava de dar seu adeus por completo.

— Papai… O que está acontecendo, afinal? — a voz tranquila, porém firme, de Taeyang se fez ouvir. Ele era o último dos Wang chegando na sala.

— O colar que eu comprei para a sua mãe sumiu. É isso o que está acontecendo.

Ha Jin, sem erguer muito o rosto, tentou assimilar a situação. De pé, ao centro, estava o dono da casa levemente desajustado em seu terno caro. Ao seu lado, sentada sobre o sofá parecendo desconcertada, a senhora Ah Ra em um vestido longo em tom azul sendo consolada pela única filha.

Yun Mi se assemelhava a uma pintura de museu, tão bela mesmo depois de horas de trabalho. Ao lado dela, porém de pé, Taeyang tentava compreender a situação. Ao seu lado, Eujin, sentado na poltrona e com a expressão comprimida, observava os senhores da casa com atenção, Sun sentado no braço do móvel concentrado em tudo o que acontecia. Era a primeira vez que Ha Jin o via em uma situação daquela sem o celular.

De frente, no outro sofá, Jung estava aflito em ver o pai tão nervoso. Os cotovelos apoiados nos joelhos e as sobrancelhas curvadas em preocupação demonstravam que ele já havia falado, ou pretendia, mas que não havia sido ouvido. Atrás dele, de pé, recostado na parede, de braços cruzados, Shin presenciava tudo sem expressar algo que pudesse ser perceptível. Por fim, Gun, ao lado do irmão mais novo, de pernas cruzadas e relaxado sobre o encosto do sofá, era o único que parecia estar prestes a assistir a um filme de comédia muito engraçado se iniciar.

Uma coisa, entretanto, era de conhecimento de todos os filhos de Hansol. Dentre as coisas que o patriarca mais detestava na vida, na mesma lista da preguiça, incompetência e desobediência, estava o roubo.

— Não é possível… — Taeyang continuou, surpreso demais em ver aquela bolha de climão aumentar — Isso nunca aconteceu antes, papai. Deve ter uma explicação…

— Que explicação? Me responda qual a explicação para isso? — o velho, irritado e de face ainda mais corada, gritou — Eu quero saber, neste instante, onde está o colar que presentearia a senhora Ah Ra.

— O que está tentando dizer com isso, papai? Acha que um dos empregados pegou? Está insinuando isso? — foi Eujin que perguntou — Porque se for, é uma acusação seríssima.

— Se não foi um deles, então quem seria? Um de vocês?

O homem rebateu e os funcionários, de cabeça baixa, permaneceram em total silêncio sem demonstrar qualquer sentimento. Ha Jin estava entre eles e, por dentro, sentia-se ofendida por ser comparada, como no passado, a uma ladra.

— Senhor Hansol — a governanta Nyeo começou. O tom de voz firme como o de uma navalha que sabe o que quer cortar — Não acredito que isso tenha sido feito por um dos empregados. Sei que o senhor e seus filhos guardam todos os pertences de valor no cofre familiar, mas nenhum dos empregados conhece o segredo.

— Como pode afirmar isso com tanta certeza, governanta? — Yun Mi falou com grosseria — Será que um de seus funcionários não poderia ter ludibriado algum de nós e conseguido a senha?

— Acho pouco provável, senhorita.

— Então como a senhora explica o colar da minha mãe e minhas joias terem sumido como vento do cofre particular da família?

— Não sei, senhorita, mas tenho certeza que nenhum dos empregados…

— Ah… Calem-se vocês — Ah Ha, exasperada, se fez ouvir — Não acredito nessas bobagens, governanta. É claro que alguém mexeu no cofre de Hansol e pegou essas coisas, aos poucos… Não imaginou que seria pego e agora estamos aqui. Talvez nem saiba que o colar era meu e pensou ser uma das muitas joias de Yun Mi…

— Pode ser isso, mamãe — a mulher falou ao acariciar os cabelos da mais velha.

— Hansol… chame os seguranças agora mesmo. Eu quero que façam uma busca nessa casa, nos aposentos dos empregados, em todos os lugares. Eu não vou permitir que o meu aniversário de casamento seja arruinado por ladrões. Quero o meu colar… Quero sair e comemorar com meu marido nosso aniversário…

— Jung!

— Sim, papai — o rapaz se prontificou imediatamente.

— Vá agora mesmo à segurança da casa e faça o que a senhora Ah Ra pediu. Acompanhe os seguranças na busca. Comecem pelos quartos dos empregados, vão para as áreas de recreação… Vasculhem essa casa até que não haja um só lugar que não tenha sido visto.

— Sim… Sim, senhor… Eu já vou.

— Taeyang, Sun… Vão junto com Jung.

— Sim, senhor — os outros dois responderam em uníssono. Taeyang claramente irritado por ter sido escalado naquela empreitada ridícula.

— Eu não acredito que algo desse tipo esteja acontecendo comigo, nessa casa — Ah Ha continuou lamentando-se do seu jeito trágico enquanto Hansol sentava-se sobre a poltrona principal e ruminava sobre o ocorrido.

— Não imaginei que a noite de hoje seria tão divertida — Gun comentou distraído, um sorriso estampando o rosto.

— Por favor, Gun… Ao menos por agora, não menospreze o que está acontecendo. Isso é realmente grave — Hansol repreendeu o rapaz.

— Tudo bem, papai… Desculpe.

Mas ele sorriu e Ha Jin se irritou com aquele comportamento. Não entendia como uma pessoa conseguia ser tão cínica ao ponto de não conseguir separar algo realmente sério de sua mania perversa de se regojizar na desgraça alheia.

Assim como a governanta Nyeo, Ha Jin não acreditava que um dos empregados seria o responsável por aquele sumiço. Sabia que tudo aquilo teria uma boa explicação e continuou imaginando o que deveria ter acontecido por alguns muitos minutos, até que Taeyang, Jung e Sun entraram na sala em companhia dos demais seguranças quebrando o silêncio que se instalou no lugar.

— Encontramos essa bolsa no quarto de um dos funcionários, senhor… — um dos seguranças se aproximou entregando um saco preto de tecido.

— O que tem dentro? — Hansol perguntou. Todos na sala, concentrados em seus movimentos.

— Seria bom o senhor mesmo olhar — o segurança indicou e o mais velho abriu a bolsa, sua expressão se transformando em raiva.

— Não é possível…

O patriarca remexeu no conteúdo do saco. Irado, caminhou até a mesa de centro e, virando a bolsa ao contrário sobre o móvel, expôs para todos alguns brincos, pulseiras e o dito colar enquanto os presentes na sala e demais funcionários estampavam em suas faces expressões de choque.

— Veem isso? — ele mostrava o colar da senhora Ah Ha para os empregados, todos de cabeça baixa — Esse colar estava no cofre. É impossível que tenha aparecido assim, do nada, no quarto de um dos empregados. Quem pegou essas joias do cofre? Como conseguiu a senha do cofre?

O silêncio que se seguiu deixou o homem ainda mais encolerizado. Ele suava e tinha a face rubra, passando diante de cada um dos empregados com a joia na mão.

— Senhor Hansol…

— Não, governanta Nyeo. Nada do que você diga agora poderá justificar o que está acontecendo aqui, e já que o culpado não quer se apresentar por si só, vamos fazer isso de outra forma. Jung — o pai virou-se para o filho e se encaminhou até ele — No quarto de qual dos funcionários vocês encontraram isso?

— Papai… — o jovem começou o discurso claramente nervoso — Acredito que deve estar havendo algum mal entendido porque…

— Jung — o mais velho gritou e o filho se reprimiu contra o som — No quarto de quem encontraram isso?

— No quarto… da governanta Go.

— O que? — Ha Jin, até então de cabeça baixa, olhou para Jung fixamente — Eu não fiz isso!

Um silêncio cortante emudeceu o ambiente. Até mesmo o senhor da casa pareceu chocado diante daquela revelação. Os herdeiros, espantados com o nome de Ha Jin vindo a tona, olhavam para a garota como se avistassem um e.t. Ao fundo dessa cena paralisada, apenas o risinho debochado de Gun escapou.

— Em nada me admira que tenham encontrado a bolsa de joias no quarto dessa mulher… — Yun Mi quebrou o silêncio alguns segundos depois. Emanando uma aura envenenada, deixou a mãe sozinha no sofá maior e levantou o corpo esbelto, apontando o dedo de unha perfeitamente aprumada, para a outra.

— Eu não fiz isso — Ha Jin negava enquanto lembranças de outras acusações, vividas no passado, vinham até sua mente — Eu não fiz isso, senhor… Eu não fiz isso.

— Papai… Está errado — Eujin se levantou e avançou até o senhor que parecia, agora, recobrar os sentidos — Não pode ser isso. Certamente tem alguma coisa errada.

— Não acredito que ainda quer defender essa ladra, Eujin…

— Não chame Ha Jin de ladra — Jung interrompeu a fala de Yun Mi — Deve ter acontecido algo de errado, não tem outra explicação.

— Não fiz nada. Não fiz nada — Ha Jin continuava seu mantra de defesa, as muitas lágrimas rolando de seus olhos. A governanta Nyeo, ao seu lado, achando tudo igualmente absurdo… e estranho.

— Eu acredito em você, Ha Jin, controle-se… Tudo irá se resolver.

— Era só o que me faltava — Yun Mi fincou as duas mãos na cintura e foi até Ha Jin — Quem você pensa que é para confortar essa ladra, governanta Nyeo? Já não basta querer mandar nessa casa como se fosse a verdadeira senhora dela, agora quer também defender ladrões?

— Eu não fiz isso… Eu juro que não fui eu… Eu mal uso meu dormitório. Não fui eu…

— Papai… Deve ter algum engano — Sun tentou também. O senhor da casa, sentado em sua poltrona, tinha a cabeça apoiada nas mãos.

— Sim, papai — Jung jogou-se aos pés do senhor — Certamente está havendo um erro…

— O único erro que vejo é terem contratado uma ladra para trabalhar nessa casa…

— Cala a boca, Yun Mi. Cala a boca — Jung gritou novamente. Eujin parecia desorientado, prestes a correr para a amiga e consolá-la.

— Não me calo, seu moleque. Me respeite… Sou sua irmã e sou mais velha que você. Essa garota foi um erro desde que pisou nesta casa. Nunca deveria ter sido contratada para nada aqui dentro. É uma rebelde, não sabe se colocar em seu lugar, desrespeita os patrões e, além de tudo, é uma ladra. Você pensou mesmo que não iríamos descobrir? Achou mesmo que não iríamos sentir falta de nossas joias? Como pôde ser tão ingênua? Você não parece ser uma boba… Sabia muito bem o que queria quando entrou nessa mansão…

— Yun Mi, cala a boca. Para com isso — Sun se colocou entre as duas mulheres, temendo que a irmã avançasse na empregada.

— Sai da minha frente, Sun — ela falou ameaçadora, entredentes — Sai da minha frente.

— Não. Não saio. Tem alguma coisa errada aqui. Ha Jin não é assim…

— E quem é você para saber quem ela é? — Yun Mi continuou e Taeyang se aproximou tentando contê-la.

— Yun Mi, já chega…

— Não! — ela esbravejou puxando o braço das mãos do irmão sem qualquer delicadeza — Estou farta de vocês defendendo essa mulher, uma ladra comprovada… Não sei como você pode conhecê-la tão bem, Sun… Como pode?

— Ha Jin é uma boa pessoa — Eujin interferiu.

— Sei… Sim… Muito boa pessoa. Uma mulher que entra em uma casa com o intuito de se dar bem — Yun Mi continuou enquanto as lágrimas de Ha Jin caíam copiosamente e seus soluços eram ouvidos contra as vozes dos herdeiros — Não me surpreende que ela tenha roubado as joias do cofre… certamente um de vocês deve ter dado a senha para ela…

— Claro que não!

— Não!

— Pare de inventar coisas, Yun Mi — Eujin ralhou em um tom mais alto.

— Inventar coisas?  Estou inventando coisas? — Yun Mi tinha um sorriso dissimulado — Será que, em algum momento, vocês não deram a senha para essa ladra?

— Pare de chamar Ha Jin de ladra… — Jung esbravejou.

— E a bebedeira que participaram juntos? — Yun Mi revelou e todos a olharam com espanto — Sim irmãos, eu sei de tudo. Eu sei que vocês se encontram com a criada para beberem. Não quero nem imaginar o que fizeram além de beber… O que me garante que, nessas bebedeiras, ela não os estimulou para pegar a senha do cofre?

— Não… Ha Jin não é assim — Eujin continuou negando, levemente desorientado ao saber que Yun Mi os descobrira.

— Yun Mi, por favor, se acalme… Deve ter uma explicação decente para tudo isso — Taeyang tentou novamente e recebeu um olhar ameaçador da irmã.

— Até você? Você é meu irmão legítimo e, mesmo assim, fecha os olhos e tenta defender essa ladra?

— Yun Mi…

— Mas é claro… De quem ela é prima? — a mulher continuou e Gun e Taeyang a olharam. Gun, pela primeira vez, manteve a expressão séria — Daquela mulher… Vieram do mesmo buraco, duas ladras que querem crescer tomando carona em idiotas como vocês — apontou para os irmãos. A face avermelhada, os olhos coléricos — Duas ladras que…

— Yun Mi, já chega! — Hansol falou finalmente.

— Papai… Não me diga que o senhor também vai defender…

— Não permito que ofenda a senhorita Kim Na Na. Ela é uma boa garota e uma mulher honesta.

— Papai…

— Eu disse "já chega" — a interrompeu e caminhou até Ha Jin — Por que fez isso?

— Eu não fiz isso, senhor… Eu juro que não fiz isso… Não preciso disso — ela tentou explicar-se em meio às lágrimas e o desespero — O senhor me deu uma oportunidade quando eu mais precisava, eu não colocaria isso a perder por nada, senhor. Eu não roubei… Eu nem mesmo sabia que havia um cofre nessa casa…

— Me poupe, garota cretina… Deixe de ser falsa…

— Cale-se Yun Mi. Seu pai está falando com ela — Ah Ra repreendeu a filha, o que a chocou. Ninguém mais notou o espanto que se formou no rosto da mais jovem, todos apreensivos demais sobre o que viria em seguida.

— Garota, eu não acredito que você teria motivos para isso — Hansol continuou — Mas você percebe que todas as provas estão contra você?

— Sim, senhor… Mas…

— Por que está saindo com os meus filhos?

— Eu… Eu…

— Papai… Não é culpa dela. Fomos nós que a chamamos — Eujin meteu-se na conversa, desesperado.

— Nós praticamente a obrigamos, papai… — Jung continuou — Não é justo que ela seja culpada por isso, nós a obrigamos…

— Calem-se todos! — Hansol exigiu de uma vez — Por que você achou que poderia sair com os meus filhos? Você não sabia que os empregados dessa casa não têm o direito de estarem com os patrões? Você achou que seria como eles se estivesse com eles? Por que não se colocou em seu lugar?

— Senhor… Em nenhum momento eu quis estar em qualquer lugar que não fosse o meu. Só fiz o meu trabalho da melhor forma…

— Tentando seduzir os meus filhos?

— Não! — ela respondeu com franco desespero.

— Papai! —a voz de Jung se ouviu sobre a dela.

— Cale-se. Não quero ouvir mais nada, Jung. De nenhum de vocês. Você, garota, saia imediatamente dessa casa. Acerte todas as suas contas com a governanta Nyeo e não apareça nem mesmo na nossa esquina.

— Sim, senhor… — as lágrimas de Ha Jin lavavam seu rosto enquanto ela, de cabeça baixa e chocada, ouvia o que o senhor da casa dizia.

— Não vou denunciá-la por hora, mas se souber que se encontrou novamente com qualquer um de meus filhos, prepare-se porque sua vida não será fácil.

— Sim… Sim, senhor. Eu agradeço, senhor — Ha Jin moveu-se mecanicamente em direção à cozinha assim que o homem novamente lhe mandou sair. Sentia-se pesada por ser acusada daquela forma, injustamente. Ainda conseguiu ver, de relance, o sorriso satisfeito de Yun Mi e lembrou-se das palavras de Ryung a alertando sobre algo de ruim que poderia acontecer.

— Se a governanta for realmente expulsa dessa casa, sairei em seguida e não voltarei mais.

Ha Jin sentiu as pernas vacilarem e o coração doer ao ouvir a voz de Shin se pronunciando diante do vazio que se formou mais uma vez. O senhor Hansol, que havia dado alguns passos em direção à escada que o levaria para o seu quarto, também parou. O herdeiro, até agora calado, sequer tinha sido notado pelos demais naquela sala e, finalmente, desfazendo-se do cruzar de braços, caminhou até Ha Jin.

— Não se meta nisso, garoto… — Hansol bufou, o aspecto já para lá de cansado e pálido para continuar se surpreendendo com os seus filhos.

Shin avolumou-se ao lado de Ha Jin com uma energia indômita, mais obstinada do que qualquer um dos seus outros irmãos juntos, e lançou um olhar deveras honesto para ela; um olhar que dizia que ele acreditava nela e que enquanto estivesse por lá faria o que fosse possível para salvá-la daquele inferno.

Yun Mi, no centro da sala, soltou o ar pesadamente pela boca, abertamente inconformada por, prestes a vencer aquela guerra, ter sido apunhalada pelo irmão mais velho, aquele que tanto admirava, mais uma vez tomando as dores da serviçal irritante. Irada, ultrapassou até mesmo a fala do pai, berrando em total descontrole:

— PARE DE DEFENDER ESSA MALDITA! APENAS PARE…

— Cale a boca, sua mal amada — Shin cortou-a com um olhar tão gelado e um tom de voz tão ferino que fez metade dos presentes na sala se encolherem. Ele não gritou, mas havia algo quase selvagem em sua voz, em suas expressões. Uma convicção tão forte quanto a de um leão defendendo sua prole, ou de um homem defendendo sua paixão. Ha Jin teve a nítida impressão de ver os olhos do indomável So que acabara de chegar em Goryeo ali  — Vou repetir. Ela sai dessa casa e eu saio em seguida.

— É muita notícia boa para uma única noite… — Gun cantarolou baixinho.

— Senhor Shin… — Ha Jin tocou-o no braço, querendo que ele parasse de defendê-la, com medo que isso pudesse trazer severas complicações para a vida daquele herdeiro, já tão complicada. Ele não pareceu perceber seu toque. Estava em transe.

— Por que isso agora? Por que está defendendo essa garota também? — Hansol quis saber, abandonando sua saída para o quarto e refazendo a caminhada para a sala. Pela primeira vez, estava mais curioso do que irritado.

— Porque eu acredito na sinceridade dela e sei que ela é inocente dessas acusações. Porque eu odeio a droga de injustiça que sempre ocorre nessa casa — Shin praticamente cuspiu as palavras, gesticulando firme — Eu fui embora daqui há muitos anos, mas tudo continua igual. As pessoas envelheceram, mas continuaram mesquinhas, mimadas e arrogantes. Se ser Wang é ser assim, não ligo de ser deserdado. Cada dia me arrependo mais de ter voltado.

Shin respirou com esforço e seus pulmões pareciam de pedra naquele movimento. A velha confiança perante a sua desprezível família permanecia com ele, porém, vinha sofrendo sutis abalos.

Ele não sabia ao certo porque estava tomando as dores de Ha Jin, para começar, correndo o risco de perder seu posto naquela hierarquia. No fundo, não ligava para o dinheiro, o nome ou o status dentro daquela dinâmica, mas continuava firme nas suas promessas íntimas de provar o quão era capaz.

Comprar a briga de Ha Jin poderia colocar tudo isso a perder e ainda assim ele não conseguia evitar ficar em outro lugar que não fosse ao lado dela. Na verdade, sentia uma estúpida vontade de abraçar aquela governanta chorona, abraçar bem forte, e tirá-la daquele ambiente contaminado de podridão para sempre.

— Ela sai, eu saio — repetiu.

Hansol pareceu vacilante por alguns instantes. Yun Mi começou a espernear diante de todos, falando toda coisa horrível sobre Ha Jin. As palavras que usava não combinavam com o refinamento no qual fora criada pela mãe. Seu vocabulário assustava a todos, aos irmãos, aos funcionários e, principalmente, ao pai.

— SUA VAGABUNDA! CONTAMINOU MEU IRMÃO, VADIA INTERESSEIRA!

Nyeo se empertigou ao ouvir a chuva de ofensas contra sua protegida e Ha Jin notou que ela estava prestes a esquecer sua posição na casa para colocar a filha do casal principal em seu devido lugar. Ha Jin  sabia que tudo estaria realmente perdido no instante em que a governanta comprasse a briga, porque ela era sensível o suficiente para perceber a existência de algo muito maior ali, um respeito intocável entre Nyeo e o dono da casa.

Shin novamente galopou pela estrada invisível de desespero e desesperança que a garota acusada percorria, salvando-a de outra precipitação.

— E eu também vi Yun Mi entrando e saindo do escritório diversas vezes minutos antes do almoço. Havia uma bolsa preta na mão dela numa dessas saídas.

— O que? — todos olharam chocados de Shin para Yun Mi, inclusive a senhora Ah Ra, que corou e levou as duas mãos às bochechas maquiadas.

— O que está acontecendo aqui? — Hansol perguntou numa voz perigosamente baixa, prestes a ter algum colapso nervoso, olhando de um filho para o outro.

— Como você pôde chegar tão baixo, minha irmã? — Taeyang questionou a Yun Mi em um tom baixo, horrorizado, o rosto muito chocado e envergonhado, finalmente compreendendo o que estava acontecendo  — Ela é prima de Na Na…

— Dane-se de quem ela é prima — Yun Mi agarrou os próprios cabelos e os puxou histérica — Ela é uma golpista! GOLPISTA MISERÁVEL! — berrou em tons agudos e desesperados. Lágrimas odiosas caindo de seus olhos para borrar maquiagem escura no rosto alvo, trazendo novos retoques de caos às suas expressões.

— Filha, calma…

— NÃOTENHOCALMANENHUMA! ISSO É UM COMPLÔ CONTRA MIM! VOCÊS TODOS SÃO CEGOS E IDIOTAS!

— Isso é um complô contra Ha Jin, que você criou — Shin apontou para ela, raivoso. Eujin teve a impressão de presenciar o nascimento de um novo irmão, um Shin que não conseguia esconder seus contraditórios sentimentos e ser o eterno indiferente naquela casa — E o senhor vai ter que reparar isso, porque ela não merece o que teve de escutar aqui de vocês. Ninguém merece tamanha humilhação.

— Eu, eu… Por favor, senhor Shin — a governanta balbuciou, mas não foi ouvida.

— É isso mesmo. Fale a verdade, Yun Mi. Você já foi desmascarada, sua cobra! Seja honesta ao menos uma vez nada vida — disse Jung, o corpo tremendo de raiva, unindo coro a Shin na defesa da amiga.

— Minha irmã, pare de agir assim. Você é melhor que isso — Taeyang concordou, passando da fase do choque e da vergonha, agora alcançando a fase da tristeza. Ele alertara tantas vezes a sua mãe para ser mais firme nos ‘nãos’ para com a irmã.

— Ha Jin é melhor que todos nós juntos! — Eujin exclamou, tão revoltado quanto Shin e Jung — Se desculpe. Apenas pare de nos envergonhar… e se envergonhar.

— Você não vai mudar nunca? — Sun perguntou a ela, o rosto numa nota de desprezo contra Yun Mi, como se ela subitamente tivesse adquirido uma doença repugnante de se encarar.

— Fale a verdade, Yun Mi — Hansol se virou para ela, ainda mais perplexo do que autoritário — O que houve afinal?

— AAAAAHHH! EU ODEIO TODOS VOCÊS! TODOS VOCÊS! ODEIO ESSA GOVERNANTA TAMBÉM! ODEIO DO FUNDO DO MEU CORAÇÃO!

Yun Mi surtou num ataque que seria lembrado por anos pelos irmãos. Encaminhando-se ensandecida para o aparador da lareira, agarrou todos os porta-retratos e bibelôs caros da mãe e começou a arremessá-los, um a um, contra Ha Jin.

Gun, observando a situação calado, se levantou rapidamente de onde estava, temendo ser atingido pela irmã dissimulada, ficando de pé, próximo ao corredor, observando a interessante cena que se iniciou em seguida.

Como guarda-costas engajados, Sun, Jung e Eujin, nessa ordem, se apressaram e criaram um escudo entre os objetos arremeçados e a governanta que ainda tinha uma última parede de proteção lhe protegendo daquele ataque: o corpo de Shin a abraçando firmemente.

Nesse ínterim maluco, em meio as gritarias de Ah Ra e Hansol, os berros agudos da arremessadora surtada que se desvencilhava das tentativas de Taeyang em pará-la e a exclamação de dor de Eujin, sendo alvejado no joelho por um castiçal de prata, Shin e Ha Jin se fitaram, ele aproveitando aquele momento para lhe dizer baixinho:

— Vai ficar tudo bem.

Yun Mi viu a munição na lareira chegando ao fim e empurrou violentamente o irmão que tentava conversar com ela e lhe acalmar, deixando-o estático de surpresa por alguns instantes, aproveitando esse momento para correr, em seguida, para as prateleiras onde estavam guardadas as bebidas. Os olhos injetados de ira, possuídos de um ódio até então desconhecido.

— Ah, Meu Deus! Filho, me ajude — Ah Ra se desesperou, tentando brecar o acesso de histeria e fúria de Yun Mi antes que garrafas de vidro começassem a ser lançadas ao ar. Taeyang, voltando a si, anuiu para a mãe e, pulando o sofá, agarrou a irmã pela cintura e imobilizou seus braços, pedindo para que ela se acalmasse.

— FUI EU QUE FIZ ISSO SIM… E FARIA MUITO MAIS, ESTÁ OUVINDO, GOVERNANTA? VOCÊ NÃO SABE DO QUE SOU CAPAZ!

Ainda num estado de neurose sem precedentes, completamente fora de si, ela foi escoltada para fora da cena pela mãe e pelo irmão que a levava presa pela cintura e sentia as unhas da jovem acertarem seus braços. Os dois estavam tão pálidos que poderiam desmaiar a qualquer instante não fosse a pesarosa missão que tinham pela frente.

Instaurado o silêncio outra vez, Ha Jin percebeu que uma descarga de choque finalmente desaguaria sobre seus nervos e, tão inesperado quanto um espirro, chorou alto e tremeu da cabeça aos pés, o estresse daquilo tudo a dominando por completo.

Shin olhou-a desnorteado, sentindo o pequeno corpo daquela mulher machucada ainda em seus braços vacilando contra o dele, mas então Nyeo veio ao seu resgate, pegando-a pelos ombros, dizendo palavras carinhosas e de consolo em seu ouvido. Ele se afastou finalmente, deslocado, não percebendo os semblantes perplexos de Eujin, Sun e Jung para si. Gun também os observava com demasiado interesse.

— Ela merece, no mínimo, um pedido de desculpas, não merece, papai? — Eujin perguntou petulante para o velho Wang.

Ainda mais macilento, Hansol pegou um lencinho dentro do bolso de seu terno e passou na têmpora molhada parecendo exausto. Se recompondo um pouco, virou-se para a funcionária e anuiu.

— Acho que Eujin está certo… Meu Deus, não sei o que anda acontecendo com essa família… Senhorita — começou num tom claramente cansado — Retiro todas as barbaridades que disse ainda há pouco, mas se quiser nos processar por tantas acusações absurdas, eu não posso fazer nada além de concordar. Se não quiser mais trabalhar para nós, eu entenderei também, e farei uma bela carta de recomendação para você.

— Ela não está em condições de responder nada agora, Senhor Wang. — Nyeo respondeu por Ha Jin que ainda tremia em seu abraço. O tom era extremamente frio e cortante — Dê espaço para essa criança, por favor!

Embora pedisse, havia um tom forte de imposição na voz da governanta. Hansol baixou os olhos, ninguém saberia dizer se envergonhado ou humilhado, ou as duas coisas, e balançou a cabeça em concordância fraca.

— Vamos tomar um copo d'água com açúcar, querida. — Nyeo amparou Ha Jin, que permanecia chorosa, lançando um olhar astuto para Shin e as duas saíram da sala.

— Desculpem-nos por favor, por essa situação ridícula — Hansol se desculpou aos demais funcionários presentes — Peguem o resto da noite de folga, por favor.

Enquanto o clima na sala esmorecia, cada um indo para um canto da casa novamente, todos estarrecidos demais pela mais nova divergência familiar, Hansol encontrou sua esposa no corredor que acessava o quarto da filha. Toda a produção visual que a mulher havia montado para o passeio dos dois parecia ter ido por terra. Ah Ra tinha a maquiagem borrada nos dois olhos e o cabelo estranhamente desgrenhado no coque.

— Acho que nossa festa de casamento acabou por hoje… — constatou tão pálida quanto o marido.

— O que Yun Mi está se tornando, Ah Ra? — Hansol perguntou para ela com toda sinceridade. Na verdade queria perguntar o que sua vida, naquela altura, estava se tornando. Seu velho pai se envergonharia desses rebentos.

Ah Ra estava tão frustrada que não tinha nenhuma resposta sagaz para aquela pergunta. De fato, ela vinha inclinada a acreditar que havia feito algo muito errado na criação da sua filha mais nova.

"Isso não é normal", Taeyang lhe dissera minutos antes, forçando a irmã a não sair mais do quarto. Desde então, Yun Mi continuava em seu aposento, num estado de nervos absurdo, sendo acalmada pelo irmão que tinha esperança que os dois comprimidos potentes de calmante fizessem efeito logo.

— Precisamos casar essa menina logo, Hansol. É a única salvação que vejo para a nossa filha. Temos de arranjar um bom casamento o quanto antes.

Hansol não soube o que dizer daquela nova informação. A idade deveria estar chegando, porque, de repente, ele nem conseguia mais raciocinar.

Balançou a cabeça em concordância para esposa e caminhou para o quarto do casal. Na mente, mesmo com todas as cenas bárbaras que participou e acompanhou naquela noite, o olhar de desprezo direcionado a ele depois de toda aquela confusão já seria forte o suficiente para lhe tirar o sono.

***

Quando Ha Jin percebeu que já estava calma o suficiente, ou o quão calma poderia ficar em vista de toda aquela situação horrível pela qual passou, pediu permissão à governanta Nyeo para poder descansar em seu quarto, nos aposentos dos empregados. “Não precisa pedir permissão nenhuma”, a governanta afirmou bondosamente e, beijando a mais nova na testa, acompanhou-a com olhar, contornar os jardins em direção ao alojamento.

Uma vez dentro do seu quarto revirado pela revista dos seguranças mais cedo, Ha Jin pensou que talvez estivesse diante de uma decisão muito importante. Precisava realmente resolver o que fazer a seguir.

Colocando o colchão e o travesseiro de volta no lugar, ponderou que talvez deveria deixar a mansão. Aquele ambiente, aquelas pessoas, a envenenariam como envenenaram séculos atrás, até que não restasse nela mais do que alguns dias de vida.

Poderia ser um exagero, afinal ainda estava sob o efeito do estresse, mas nem Shin e seu engajamento para defendê-la parecia ser um motivo suficientemente forte para fazê-la mudar de ideia. As coisas ruins costumavam sobrepujar as boas de um modo assustador.

Refletindo sobre o que faria a seguir, se iria embora para casa, se iria embora daquele emprego, ou se iria embora daquele quarto, deitou a cabeça que mergulhava numa enxaqueca insuportável no travesseiro e fechou os olhos por um instante.

— Oi? — sentiu uma presença parada na porta e viu, não surpresa, Ryung a encarando. A funcionária morava muito longe da mansão, portanto passava a noite no alojamento.

— Oi, Ha Jin — começou em um tom baixo — Não quero incomodar… A governanta Nyeo pediu para que ninguém te perturbasse e tudo mais, mas é que o senhor Shin está ali fora pedindo encarecidamente para falar com você. Você pode?

Ha Jin respondeu essa pergunta saindo de sua cama, agradecendo a amiga e se encaminhando para a entrada do abrigo. Lá fora, apoiado na parede da construção, debaixo das estrelas e deixando a brisa fria da noite cercá-lo, Shin observou a governanta surgir:

— Me chamou? — ela perguntou baixinho.

— Sim — ele confirmou, as mãos enfiadas nos bolsos da calça. Ao olhá-la, Shin sentiu um aperto terrível no peito, testemunhando o quanto seus olhos haviam ficado vermelhos e inchados. Nada daquilo combinava com o rosto bonito que ela tinha.

— Achei que o senhor estaria no seu quarto… estudando ou algo assim.

— Acho que eu não conseguiria me concentrar em nenhuma leitura nem que minha herança dependesse disso — riu de leve, mas sem vontade — Queria ver como você está. Atrapalhei?

— Não. Não atrapalhou — Ha Jin tocou no rosto, afastando uma mecha de cabelo teimosa que ficava caindo no seu olho direito — Aliás, obrigada senhor Shin.

— Olha — ele desencostou do muro e em apenas dois passos já estava com o rosto tão próximo do dela que se a governanta respirasse mais forte ele poderia sentir sua brisa quente — Você vai mesmo pedir demissão?

— Não sei… Não consigo pensar em muita coisa nesse momento. Minha cabeça está…. Sabe, parece que vai explodir.

"E você, Ha Jin, por favor, não desista do que tiver que fazer. Não saia de perto das pessoas que você quer manter com você.” De repente se lembrou de Mi Ok falando em sua cabeça, intrometidamente.

— É, minha família tem esse superpoder de deixar qualquer um pirado. Me desculpe por eles — disse Shin de um modo doce, a mão querendo ganhar vida sozinha e tocar o rosto daquela garota até que, sem querer, como se alguém estivesse dominando seu corpo, lá estava ele afastando a mecha teimosa de cabelo do rosto dela, apoiando atrás de sua orelha.

Ha Jin controlou o arrepio que subiu-lhe pela espinha e manteve a conversa, um gesto quase sobre-humano com aqueles olhos tão perto dos olhos dela, para não se complicar ainda mais naquela noite.

— Não se desculpe pelos erros dos outros, senhor. Nossa família nem sempre nos define como pessoas… — tentou aconselhá-lo — Pode fazer isso?

— Acho que sim… Mas só se você parar de me chamar de senhor. Estou ficando aborrecido com essa sua formalidade ao falar comigo.

— Co-como?

— Eu disse que acho que mereço ser chamado de ‘você’ ou apenas de ‘Shin’… Não é assim que você faz com meus outros irmãos? Estou achando que pareço um velho ranzinza e ando de saco cheio de tanto ‘senhor, senhor, senhor...’ — repetiu seu desejo, a voz repentinamente se tornando rabugenta.

— Tá bem — ela concordou, o estômago dando um solavanco ansioso, o rosto apresentando um sorriso nervoso — Shin - So.

— Quer uma carona para casa? Eu te levo — o herdeiro se ofereceu, subtraindo os dois passos de antes e retornando a se encostar na parede.

— Hoje Ha Jin vai ficar aqui — a governanta Nyeo surgiu vindo dos jardins e se aproximou deles, enlaçando a mulher mais nova no seu braço — Vou fazer um chá tranquilizante para ela ter uma boa noite de sono e contar algumas piadas para que possa dormir rindo.

— A senhora é boa em contar piadas, é? — Shin sorriu, depois de se recuperar de um momentâneo desconforto com a chegada da mais velha.

— Péssima — Nyeo sorriu de leve, arrastando Ha Jin consigo para o alojamento — Boa noite, Shin. E obrigada por ter sido tão… justo essa noite.

— Não há de quê — o herdeiro respondeu, uma nesga de melancolia na voz e, olhando incognitamente para Ha Jin por uma última vez,  seguiu solitário seu caminho pelo jardim.

***


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Notas finais do capítulo

Agora que chegaram até aqui, a pergunta que não quer calar: O que fazemos com Yun Mi??? Por favor, nos ajude com esse dilema!

Obrigada pela leitura e aqui finalizamos mais um arco. Nos encontramos semana que vem!

FIGHTING!



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