Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 44
A Melhor Aluna de Jung


Notas iniciais do capítulo

Annyeonghaseyo!!!
Como estão, leitor@s? Esperamos que tudo esteja em ordem.
Queremos agradecer imensamente todo carinho que têm nos demonstrado, os comentários maravilhosos, recomendações >> Recebemos uma nova da MaryTez <<
고마워 (gomawo!)
Nosso corações transbordam de alegria quando recebemos uma nova interação de vocês! Não parem! ♥

Sobre este capítulo, tranquilidade.
Nada de barracos, nada de louça quebrada, nenhuma crise de histeria AMÉM!
Mas temos uma interação linda de nosso OTP maravilhoso e um novo ship que começa a dar as caras, além de algumas falcatruas.

Vamos junt@s? Uma ótima leitura e uma semana maravilhosa!
Beijocas.
Fighting!



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Ha Jin estava apostando todas as suas fichas numa pegadinha dos empregados, de Ryung especificamente, até ver com seus próprios olhos a maluquice sendo arquitetada nos jardins. A senhora Ah Ra realmente havia encomendado e contratado uma empresa para fincar flamingos róseos de metal e em tamanho natural pela grama, acima da neve, para enfeitar o lado de fora da mansão.

Observando aquela bizarrice surreal que deixaria Salvador Dalí orgulhoso, a jovem governanta teve de fazer um grande esforço para controlar o riso escrachado e, naquele ato dificílimo, se pegou recordando que a antepassada da atual esposa do senhor Wang, a imperatriz Hwangbo, não era tão… Tão doida. Ao menos não parecia.

Mergulhada em seus pensamentos, sem que se desse conta, alguém vinha caminhando para a sua direção, contornando a piscina externa e se posicionando exatamente ao seu lado direito.

— Procrastinando o trabalho de novo, governanta? — a voz inquiriu sarcástica fazendo a moça se virar subitamente para o dono do questionamento.

Era apenas Shin. Não apenas, porque Shin nunca seria um “apenas” para ela, mas ao menos não era nenhuma companhia que ela desprezasse ali.

Embora sua pergunta fosse provocativa, as expressões de seu rosto não eram. Ele estava sorrindo de um modo um tanto reservado, os cabelos negros jogados para o lado e as bochechas coradas devido ao frio.

— Senhor Shin…

— Se continuar me chamando assim, não te defendo nunca mais — ameaçou, balançando a cabeça negativamente. Ha Jin abriu um pequeno sorriso mediante a doce chantagem dele e se retratou reformulando a fala:

— Então você já voltou do trabalho… Shin?

— Humm… — ele a olhou de modo avaliativo, para então concluir — Assim está ótimo, Ha Jin. Dispensamos o pessoal da fábrica uma hora mais cedo porque a neve promete engrossar mais tarde e os transportes públicos ficam um caos, então também voltei para casa. Respondida sua pergunta?

— Sim. Obrigada — a jovem agradeceu achando aquele início de conversa quente e acolhedor — O sol já vai se pôr, acho que está perto da hora de eu ir embora também.

— Quer que eu te leve? — o herdeiro perguntou sem pestanejar.

— Shin, não quero mais confusão para o meu lado. Tive uma reunião com o senhor Wang e ele me proibiu de me relacionar com todos vocês da portaria para fora. Além do mais, estou mais do que acostumada a seguir meu caminho de ônibus. Mas eu agradeço…

— Não ligo para nenhuma dessas regras preconceituosas e acho que você já sabe disso há tempos — o rapaz enfiou as duas mãos nos bolsos do casaco para se aquecer e continuou — Mas eu jamais te prejudicaria propositalmente. Se quer um conselho, porém, o tempo vai piorar mais tarde…

— Está me mandando embora, é? — perguntou divertida, o olhando de esguelha.

— Nunca — respondeu convicto. Ha Jin estremeceu e desviou o rosto para a equipe contratada de Ah Ra e seus flamingos eternamente estáticos. Shin pareceu seguir a direção do olhar dela, pois comentou — Esses bichos não são naturais das savanas africanas?

Ha Jin levou as duas mãos à boca e as tapou para não gargalhar alto. Shin riu baixinho, o pomo de adão subindo e descendo na garganta com graciosidade masculina.

Ele não estava rindo de sua observação piadista, mas da visão agradável que era a garota ao seu lado selando os lábios, como se a megera da sua madrasta pudesse escutá-la de tão longe.

— Às vezes eu acho que não pertenço a essa família, e estou falando sério — comentou após o término dos acessos de risos — E você ainda chegou aqui numa época boa… Já aconteceu tanta maluquice dentro e fora dessas paredes que é até difícil de acreditar. Acho que quando meu pai construiu essa casa nunca imaginou seu projeto dos sonhos sendo palco dessa infinidade de pesadelos.

— O que houve? — ela quis saber, séria e preocupada. Não gostava de ver as expressões dele entristecidas.

— Muitas brigas, muitas disputas. Minha mãe, aquela mulher de caráter impressionante que você deve ter conhecido no jantar que o idiota do Gun armou, protagonizou vários desses momentos. As coisas nunca foram fáceis por aqui. Você já teve suas provas, entretanto, como o episódio com Yun Mi e tudo mais…

As coisas nunca foram fáceis para vocês em época nenhuma, Ha Jin quis dizer. Ao invés disso, o lembrou:

— Conheci a senhora Yoon Min-joo antes, na primeira vez que te vi…

Novamente os olhares deles se cruzaram. Novamente aquela estranha sensação fez cócegas nos sentidos de Shin. Ha Jin trouxe à tona uma recordação muito peculiar, que ora vinha, ora escapava da mente dele.

Embora ela ainda não fosse nada além de uma desconhecida para ele naquela época, tão logo seu olhar cruzou no da atrapalhada empregada que destruiu sua entrada triunfante daquela noite, uma corrente elétrica de reconhecimento o percorreu.

Fora apenas uma impressão. Continuava sendo apenas uma impressão.

Ah é, teve aquela vez. Meus pêsames, então.

— Já me acostumei — Tive duas vidas para isso.

Abaixo do zênite cinzento que se acumulava nos últimos resquícios da luz solar, os dois observaram os trabalhadores contratados guardarem seus equipamentos de montagem ao concluírem as estatuetas cafonas e andar pelos jardins, rumo a saída.

Seus pés deixaram marcas pronunciadas na neve, que estava muito mais alta do que quando a governanta se acomodou para acompanhar o trabalho.

De repente, Ha Jin se deu conta de que já estava nevando sobre eles, flocos branquinhos se amontoando em seus ombros e cabeças. Shin ergueu a mão na direção dela, que ficou tensa e ansiosa, enquanto o herdeiro acariciava seu cocuruto.

— Tem neve na sua cabeça — ele se justificou absurdamente deslocado tão logo o semblante intrigado da moça o atingiu. Abaixou a mão rapidamente e a enfiou no bolso, com força, como se estivesse ordenando para que aqueles dedos idiotas parassem de querer tocar nela toda vez que estavam próximos. Puxou algum novo assunto para disfarçar — Sempre gostei de ficar nesse lado da casa. A construção faz uma elevação nessa parte e podemos ver porque a Mansão da Lua é a Mansão da Lua. Olha lá.

Ha Jin prestou atenção para onde Shin estava apontando e soltou uma pequena exclamação de surpresa ao assimilar o fato.

Em meses de trabalho, passando para lá e para cá na propriedade, nunca erguera o queixo para observar a arquitetura engenhosamente elaborada do telhado da casa sede.

Havia aquela fotografia na parede da sala com visão panorâmica, mas ela não conseguia resgatar o efeito que o olho nu conseguia.

O telhado em formato minguante descia em três camadas segmentadas e circulares, suas superfícies tomadas por reluzentes painéis solares.

Dependendo do modo como se virava o rosto era possível enxergar uma ou todas as camadas juntas, aumentando o efeito 3D sobre a estrutura. Era simplesmente genial.

— Ahhh, você me deve mais uma… — o rapaz vangloriou-se ao fitar a garota boquiaberta — Ninguém nunca te mostrou isso?

— Não, e é incrível! Foi seu pai que fez?

— Foi sim. Nas noites estreladas e de lua cheia esse telhado brilha igual uma peça de prata polida. No inverno vai ser difícil de conseguir um tempo favorável, mas ele sempre estará aqui quando a noite perfeita chegar.

— Como ele teve a ideia para essa construção?

— É uma história legal, embora eu ache que o meu pai exagerou um bocado para deixá-la mais interessante quando nos contou. Ele era bem novo na época, tinha a idade do Eujin, se não me falha a memória… Nessa época, numa noite comum, ele dormiu e quando acordou comentou com o meu avô que sonhara que vivia na dinastia Goryeo.

“Então um homem chamando Choi Ji-Mong apareceu para ele no sonho, e era como se ele estivesse vivendo no seu ‘eu’ do passado ali, e disse que a linhagem de sangue de nossa família, os Wang, possuíam fortes ligações com as estrelas e astros, mas principalmente a lua. A seguir contou que faria bem se meu pai mantivesse esses elementos sempre por perto na sua vida.”

Nesse ponto da conversa, Shin não percebeu porque a iluminação solar os abandonara de vez, mas Ha Jin estava ficando muito pálida.

— …Foi quando meu avô, diz meu pai, interrompeu sua refeição e encaminhou-se para o escritório afim tirar uma dúvida num dos livros de história e genealogia da família. “Como pensava”, ele disse, “Choi Ji-Mong era o astrônomo real de nossos antepassados”.

— E então…?

— E então foi assim que, naqueles anos, o seu patrão arrumou um jeito de convencer meu avô a construir uma casa com formato de lua minguante… ou crescente, dependendo de onde você olhe — e riu, relembrando a nostálgica história.

— Por que está rindo? — Ha Jin perguntou séria — Não acredita que seu pai sonhou com Ji-Mong? Poderia ser uma visão de outro tempo, de outra vida…

— Ou o meu velho leu o livro de história um dia antes e elaborou o melhor jeito de enrolar meu avô a deixá-lo construir a casa dos seus sonhos. Pelo que diziam, meu avô não era uma pessoa conhecida por seu gênio bom.

— Mas você acredita em reencarnação? — ela insistiu.

Shin umedeceu levemente os lábios e direcionou um olhar atento para sua interrogadora.

— Acho tudo isso bobagem supersticiosa. Nós temos uma única vida e temos de vivê-la de algum jeito, de um jeito bom de preferência, já que não teremos outra chance. Você não concorda?

— Em partes. Temos de fazer nossa vida valer sim, embora outras vidas nos reservem outras surpresas… e outras escolhas. Eu acredito em reencarnação.

— Tá bem… — ele meneou a cabeça e suspirou fundo — A crença é sua, eu respeito. Só não vai me dizer que você gasta seu salário com sessões de regressão espiritual para saber se era uma princesa famosa na dinastia Joseon? — brincou.

— Não, mas você provavelmente era algum aldeão encrenqueiro que acabou sendo condenado a trabalhos forçados diretamente pela palavra do rei... Posso apostar! — Ha Jin exclamou se fazendo de ofendida.

— Eu te mostro o segredo dessa mansão e sou comparado com um marginal simplório… Você nunca se cansa de me destratar, não é? — também se fingiu de ofendido.

A neve começou a aumentar, a cabeça dos dois coberta por gorros brancos e flocosos. Mais uma vez a mão intrometida de Shin saiu de dentro do bolso da calça para varrer o topo da cabeça de Ha Jin.

— Acho melhor você sair dessa neve ou vai acabar pegando um resfriado daqueles — observou, cauteloso.

— O senhor também. Digo… você — se corrigiu rapidamente sobre o olhar severo do herdeiro — Meu horário já terminou por hoje. Boa noite, Shin.

— Boa noite, Ha Jin — ele acenou, se deslocando para o caminho de pedra que o levaria para dentro da mansão — Na sua outra vida de princesa, se eu aparecer por lá, me ajude para que eu seja um cara mais influente… Um príncipe, ou até um rei, talvez…

***

Ela usava uma calça legging verde oliva com listras pretas verticais, um top preto com uma camiseta regata rosa por cima, finalizado com o casaco quente que havia colocado sobre os ombros com o intuito de espantar o frio cortante daquela noite de quinta-feira.

Ágil, com seus tênis recém comprados, meias brancas que iam até a metade da panturrilha e uma garrafinha de água em uma das mãos, Khan Mi-Ok subia a pequena ladeira que a levaria para o seu novo destino, a academia de ginástica, esperando que, lá dentro, o clima estivesse menos congelante que nas ruas frias do bairro.

Aquela era a primeira vez que entrava em um lugar como aquele, e era também a primeira vez que se empenhava tanto em conquistar alguém.

Logo na entrada, algumas pessoas corriam, e disputavam, as esteiras do local que era, ela pensou, bem humilde para ter um Wang em suas dependências.

“Será que eles sabem quem é o professor?”

A verdade é que ela demorou até se matricular para as aulas de defesa pessoal ministradas por Jung. Um misto de desilusão, desânimo e preguiça sendo mais fortes que os seus desejos íntimos de ser a nova amada do herdeiro, e aquilo nada tinha a ver com dinheiro que ele tinha. Apenas sentia o coração palpitar quando pensava nele, seu sorriso ficava mais amplo quando falava dele, suas emoções eram mais intensas quando se tratavam dele.

Percorreu os aparelhos da sala seguinte, alguns poucos rapazes fazendo uma força que ela percebia ser exagerada ao mover pesos em equipamentos dispostos pelo ambiente em uma disputa acirrada para saber qual deles parecia mais forte ou fazia caretas mais ameaçadoras.

Por fim, ouviu a voz do dono de seus melhores pensamentos por trás de uma parede. Uma vergonha repentina lhe tomando novamente, o desejo de voltar para casa e desistir daqueles ímpetos incoerentes.

Quando um cara como ele poderia olhar para mim?

Dando uma volta, tencionando sair e seguir para casa, foi barrada por um grupo de três jovens senhoras que se aproximaram, sorridentes, em suas roupas coladas ao corpo, levemente maquiadas. “Elas escovaram os cabelos?” Percebeu espantada, irritada com aquela constatação.

— Ele é uma gracinha — uma das senhoras comentou em meio a uma risada.

— É sim… E grande como uma porta… Fico imaginando se…

— Shhhh — a terceira repreendeu — Não falem isso. Tem uma mocinha ali na frente.

— Boa noite, senhoras — Mi Ok saudou as mais velhas com uma breve vênia. “Ele tem idade para ser filho de vocês”.

— Veio para as aulas de defesa pessoal? — a que parecia ser mais nova entre as três perguntou com certo desgosto.

— Sim… — ela respondeu sem graça.

— Então entre logo… A aula já começou. Está atrapalhando a passagem.

As três empurraram a mais jovem que, no impulso, cruzou a porta de uma maneira nada delicada, chamando a atenção do professor que, inesperadamente, lhe ofertou um sorriso satisfeito.

— Como estava dizendo — Jung continuou enquanto as mulheres se distribuíam entre as alunas — Hoje vou explicar para vocês como se defenderem de um possível ataque frontal ou lateral. Antes disso, como temos novas alunas — e olhou novamente para Mi Ok, que sorriu de volta, levemente constrangida sob os olhos das demais que, curiosas (ou irritadas), acompanharam para quem era o sorriso — Vamos relembrar a forma correta de fechar o punho.

Ele levantou as duas mãos, de forma que ficaram visíveis a todas as mulheres, cerca de vinte naquela noite, e foi dobrando os dedos, mostrando uma a uma, as partes da mão que eram acionadas para aquela posição.

— Por fim, não se esqueçam que os pulsos têm que ficarem completamente retos. Não pode flexionar ou irão se machucar.

As mulheres, a maioria jovens na mesma faixa etária que ela, estavam tão focadas na aula que mal prestavam atenção no que ele dizia.

Em suas roupas de ginástica, algumas de barriga de fora, delicadas demais para seu gosto, sorriam como princesas enquanto o desejado professor ofertava um olhar rápido nas mãos e punhos cerrados, corrigindo a maioria que, para Mi Ok, pareciam errar propositalmente.

— Agora, vamos tentar com o movimento que trouxe para vocês. Ele é bem simples — começou explicando e Mi Ok observou as muitas mulheres suspirando ao passo que Jung, seu príncipe, demonstrava aquele movimento. Percebeu que, realmente, precisaria agir — Vocês vão levantar o braço do mesmo lado que o agressor se aproxima com o cotovelo flexionado e a mão aberta, dessa forma. A função dela é defendê-las do golpe.

“Com a outra mão, o punho deve estar fechado, vocês vão dar um soco no agressor, mas devem focar o queixo, o nariz ou a garganta. O esperado é que o agressor levante a cabeça e se afaste para trás, o que vai dar a oportunidade do chute na virilha que já aprendemos semana passada, tudo certo?”

— Sim — as mulheres, derretidas ao observar os movimentos de Jung, responderam em uníssono.

— Então vamos praticar — ele continuou, animado — Se dividam em duplas e testem o golpe, com cuidado para não machucar a amiga. Uma será o agressor e a outra irá se defender, depois trocamos.

As mulheres começaram a se mover e, em duplas, executavam aquilo que Jung havia explicado. Vez ou outra, uma mais animada lhe chamava pedindo que ele demonstrasse, mais de perto, os golpes.

Mi Ok percebeu, com revolta, retirando o casaco, as sem vergonha se aproveitando para passar a mão em seus braços desnudos pela camiseta sem mangas. Jogou o casaco no chão irritada e não percebeu que se aproximavam dela.

— Ficou sem dupla, Mi Ok? — ele perguntou lhe tirando um sorriso e a atenção de algumas alunas.

— Parece que sim — respondeu sorrindo, colocando uma mecha solta de seu rabo de cavalo para trás da orelha, feliz que ele soubesse, ao menos, o seu nome.

— Faço com você então… — ele se ofereceu e iniciou mostrando novamente o golpe para ela — Fiquei realmente surpreso de te ver aqui. Não sabia que tinha interesse em algo assim.

— Nem eu, de fato — ela respondeu, executando os movimentos de forma desastrada, o que fez o professor sorrir.

— E o que te fez vir, então? — ele perguntou segurando seu braço, lhe mostrando o modo correto de desenvolver o golpe. Mi Ok se perdendo momentaneamente no toque, sentindo o estômago virar.

— Minha mãe disse que seria bom para mim — ela respondeu, o que não era de todo mentira.

— Sua mãe? — ele perguntou curioso enquanto ela voltava a fazer o movimento, tirando a jovem de seus pensamentos.

— Sim… A filha da amiga dela está aqui… Acho que no domingo, e as duas comentaram tanto que mamãe achou bom que eu viesse também.

É claro que ele não precisava saber que, desde que descobrira sobre as aulas, ficou insistindo dia a dia para que os pais lhe permitissem participar. O senhor Kang, um homem que gostava de se mostrar severo e no controle de todas as situações de sua família, disse não assim que a garota demonstrou seu interesse, como ela já imaginava.

Mi Ok, em sua ânsia, apelou para o irmão mais velho tentando comprá-lo com dinheiro e outras coisas que ele gostava, para que a ajudasse a convencer o velho, mas nada parecia ter dado certo.

Sabendo, portanto, que não poderia participar se o pai não lhe permitisse, entendeu que precisaria usar outras estratégias, daquelas que vinham de fora. Foi então que convenceu a filha mais nova de uma das vizinhas de sua mãe a participar e, sempre que podia, choramingava sobre o quanto gostaria de aprender a se defender também.

Com toda essa conversa, finalmente, a mãe da vizinha, conversando com sua mãe, comentou o quanto a filha parecia mais confiante depois que iniciou as aulas, que agora aprendera a se defender e o quanto era importante que garotas soubessem essas técnicas quando tinham que voltar tão tarde de seus trabalhos.

Foi a partir desse instante que a mãe tomou partido de sua luta. Durante o jantar, naquele mesmo dia, conversou com seu pai sobre essa grande oportunidade, considerando que a taxa era baixa e seria de grande serventia para a indefesa filha mais nova.

— Mas é meio longe de sua casa…

— Na verdade, não. Moro a dois quarteirões daqui…

— Pensei que morasse perto de Ha…

— Não… — ela sorriu sem demonstrar a irritação por ele citar a amiga tão rapidamente, cortando  o comentário enquanto era tempo — Eu moro aqui com meus pais e meu irmão mais velho. Gosto de lá porque vejo meus dramas em paz e tenho uma boa amiga para contar meus problemas e rir das bobagens do dia.

— Entendo… Deve ser bom…

— Na verdade, é sim… — ela concordou e percebeu que ele olhava as alunas ao redor, falando em um tom alto em seguida — Podem trocar as posições, agressor agora é vítima.

Um novo movimento das alunas e as posições de luta foram trocadas. Aos poucos, as mulheres iam desferindo golpes, em meio a risadas aparentemente nervosas e olhares taciturnos em direção a Mi Ok, as três senhoras da entrada parecendo insatisfeitas com sua presença ali.

— Devemos trocar também? — ela perguntou ao rapaz amistosamente, ignorando a sensação de estranheza.

— Não… Não quero me defender de você…

Mi Ok, de olhos arregalados, não conseguiu controlar o palpitar acelerado do coração diante daquela revelação. Sentiu um desejo profundo de abraçá-lo ali mesmo, naquele momento, mas sabia que para entrar na vida do Wang, deveria ser confiante e tentar abrir aquela porta aos poucos.

Conforme ia ganhando confiança nas instruções de Jung e nos movimentos do seu próprio corpo, a aluna novata do herdeiro empolgou-se nas sequências ensinadas por seu brilhante professor e, na euforia de mostrar a rapidez de sua aprendizagem, acertou o queixo do rapaz com demasiada força.

— Ai! — ele levou a mão ao rosto unido a uma careta de dor.

— Oh, droga… Mil perdões! Você se machucou muito…? Não foi proposital, sabe...

— Brincadeira — ele desfez-se do semblante sofrido e riu bem humorado — Foi um belo golpe!

— Aishh, você me deixou preocupada… — replicou, misto de aborrecimento e encantamento no olhar. O primeiro elogio dele para mim.  

Assim que concluíram a aula, foram poucas as alunas que realmente se despediram. A grande maioria, assim como ela, permaneceram no local tentando de todas as formas possíveis chamar um pouco da atenção do jovem professor. Mi Ok, mais afastada, observando tudo, colocando o casaco de volta e ponderando quantas mulheres teria de transpor até chegar no seu objeto de desejo, tinha a expressão emburrada e um olhar ameaçador.

Jung, cheio de simpatia para suas alunas, era bondoso e inocente demais para perceber aquele monte de mulheres sobre ele tentando, de qualquer forma possível, tirar uma casquinha da pele suada.

— E o que achou de sua primeira aula? — Jung perguntou depois de praticamente dez minutos do final da aula. Agora organizava sua mochila sentado em um banquinho.

— Gostei bastante — só não vou comentar sobre esse bando de urubus em cima de você — Parece que suas outras alunas também gostam bastante…  

— Sim… Elas são sempre muito dedicadas…

— Sei…

— Sempre têm dúvidas e se esforçam bastante…

— Imagino…

— E quando vem novamente? Volta para a aula do domingo?

— Hmmm — quis parecer tranquila. As últimas duas vezes que encontrou com o rapaz não tinham sido as melhores experiências — Não sei… Acaba sendo bem puxado para mim, ainda mais que preciso caminhar de volta sozinha…

— E seu irmão, por que não vem te buscar? — Jung perguntou levemente preocupado.

— Ah… Ele é muito ocupado — mentiu. A verdade era que o irmão não ia se dar ao trabalho de buscar a irmã quando procurava uma namorada — E ele está tendo alguns encontros às escuras…

— Hmmm…

— Mamãe acha que, agora que ele está trabalhando, já está na hora, para ele.

— Entendo… Qual a idade dele? — Jung perguntou terminando sua bolsa e levantando em seguida.

— Vinte e sete…

— É… Espero que dê tudo certo para ele…

— Sim… Espero que sim, também…

— Vamos?

— Vamos!

Os dois caminharam em silêncio pelas salas de musculação e ginástica da academia enquanto se dirigiam para a saída. Em frente ao local, os dois se olharam por um breve instante e Mi Ok foi a primeira a se despedir.

— Até a próxima então… — Jung lhe acenando com a mão antes de chamá-la.

— Mi Ok!

— Sim?

— Eu te levo em casa.

— Oh… Não precisa — negou tentando disfarçar a alegria, apenas repetindo o que as mocinhas dos doramas geralmente faziam. Um sorriso sem graça, o cabelo por trás da orelha… seja graciosa e aceite quando ele oferecer pela terceira vez.

— Vamos, é meu caminho — falou se aproximando dela que, delicadamente, fez cara de inocente e colocou o cabelo por trás da orelha.

— Não quero te atrapalhar…

— Não atrapalha em nada… Vamos!

— Tudo bem, então… — se deixou levar por Jung que, colocando a mão sobre seu ombro, indicou o caminho do carro para ela.

Pelas ruas daquele bairro, dentro do veículo absurdamente caro do herdeiro, Jung continuou a conversa naturalmente, sequer notando sua carona boquiaberta pela quantidade de aparatos no painel da sua BMW.

— E você, no que trabalha? — ele perguntou , Mi Ok lhe mostrando o caminho de sua casa de tempos em tempos e imaginando o que os vizinhos diriam por chegar em um carro daqueles.

— Ah… Trabalho na ISOI.

— Na ISOI? — ele riu de leve.

— Sim… Eu sei que é do seu irmão e de sua cunhada. Ha Jin me contou.

— É sim… Que coincidência… Eu gosto de comprar nas lojas deles.

— Sim, eu sei… Te atendi, uma vez.

— Sério? — ele a olhou brevemente, a face injetada de curiosidade.

— Sim… E você me deu uma ótima comissão naquele dia. Nunca vou esquecer — ela sorriu mais ainda, ele a acompanhando.

— Que bom… Fico feliz que tenha sido para você.

— Eu também…

— Você é bem diferente quando não está bêbada — falou entrando na rua da casa de Mi Ok depois que ela o indicou.

— Oh… Isso… Desculpe pelas últimas vezes… Acabo ficando animada demais.

— Não… Não se desculpe. É bom, às vezes. E você fica bem divertida… Não que não seja divertida quando está sóbria também.

— Obrigada! — ela sorriu verdadeiramente encabulada — É aqui.

Jung parou o carro diante da casa de Mi Ok, uma construção simples com um andar sobre o térreo, uma rua residencial e um belo jardim em sua frente, cercada por uma grade baixa. Os vizinhos, muitos deles sentados em cadeiras de balanço conversando na rua, pararam subitamente para observar o estranho carro que adentrara na humilde rua.

— Obrigada novamente pela carona.

— Não agradeça. E se quiser ir no domingo, posso te trazer.

— Sério? — ela exclamou alto o suficiente para soar exagerada.

— Sim — Jung confirmou, uma risada curta, achando graça da reação da garota.

— Obrigada.

— Vamos! Entre antes que fique muito tarde.

— Sim, irei agora. Boa noite, Jung.

— Boa noite, Mi Ok.

A garota saiu do carro com a sensação que havia ganhado na loteria. Parada, na lateral do automóvel, despediu-se do jovem Wang com um aceno de mão, virando e caminhando para o portão ouvindo o som do motor potente ser ligado, controlando-se em não olhar para trás enquanto seguia para a porta de entrada de sua casa.

***

Gun tentou contornar toda aquela neve que se acumulava na calçada, mas acabou afofando os pés num montículo relativamente avantajado. Fazendo uma careta de desagrado, ele odiava o inverno, ergueu as botas e, depois de mais duas pisadas largas, estava dentro do restaurante.

O aquecedor e a música lounge reconfortante no ambiente da varanda fechada foram dois anfitriões gentis que vieram lhe receber daquele inferno congelante da rua. O terceiro foi o maître do local, mas a este ele apenas dirigiu meia dúzia de palavras ásperas e disse que estava sendo esperado por uma senhora muito elegante que já chegara, chamada Yoon Min-joo.

— Mas que agasalho é esse, Gun? — ela própria perguntou quase horrorizada ao ver seu filho querido se aproximar da mesa vestindo suéter fino e uma camisa tão leve quanto por debaixo da peça — Está quase uma nevasca lá fora.

— E eu não sei, mamãe? — beijou a mulher no rosto e se acomodou em uma cadeira assim que o maître lhe puxou o móvel — Deixei um casaco mais grosso no roupeiro, não se preocupe.

— Ainda assim… Você sempre foi uma criança delicada com a friagem. Me lembro como se fosse hoje daquela pneumonia que você teve quando estava com dois anos. Seu pai e aquele incompetente que era o médico da família Wang há gerações, acho que aquele matusalém estava atazanando seus antepassados desde Goryeo, disseram que eu apenas exagerava até que uma febre de quarenta e um graus te derrubou numa convulsão horrorosa…

— Mamãe, chega desses assuntos mórbidos, que tal? — ele fez um sinal para que Min-joo parasse. Aquele assunto tinha tendência a irritá-lo, ainda mais porque, de alguma forma, Shin ficara sabendo sobre o ocorrido e na adolescência dos dois usava o argumento de que as convulsões fritaram seus miolos quando Gun praticava seu passatempo favorito que era desmerecer o irmão mais velho — Vim aqui para contar notícias, no mínimo, engraçadas.

— Com licença senhores, mas querem que eu chame o garçom para tomar seus pedidos antes? — o funcionário que havia acompanhado Gun perguntou com toda calma e toda educação condizente.

— No momento só queremos que você suma das nossas vistas. Estou conversando com meu filho, não está vendo? — a mulher respondeu acidamente para o gentil homem.

— Como desejar, senhora… senhor — anuiu o maître numa vênia exagerada e se retirou não muito abalado pela grosseria. Como aquele era um dos restaurantes mais caros da cidade, a burguesia sem educação estava sempre por lá achando que o dinheiro os transformava em reis e rainhas.

— Como vão as coisas com o filho inútil da Usurpadora como CEO? — Min-joo perguntou quase entediada. Havia cansado de tentar entender por que seu ex-marido persistia naquela tremenda idiotice.

— Mamãe… Tudo vai acabar bem, não precisa ficar se preocupando com essas coisas. Eu já tenho tudo certo e esquematizado — respondeu tentando bancar o espírito tranquilizador.

Na verdade, tirando o fato de querer esganar Na Na e Taeyang cada vez que os via juntos pela empresa, assim como dar um fim por definitivo no bastardo do irmão mais velho tinha planejado para que os dois viajassem juntos, as coisas para Gun tinham dado uma boa melhorada.

Jo Han Rok se contentou com a papelada forjada que ele colocou em suas mãos sobre o projeto do P02 e parou de cercá-lo para todo o lado insistindo no assunto. Essa parte tinha sido tão fácil que ele quase se achou estúpido por não pensar naquilo tudo antes.

As coisas com a mãe melhoram bastante também. Depois do fiasco do noivado, mãe e filho fizeram as pazes em definitivo quase que instantaneamente, ela prometendo que jamais encostaria o dedo nele SE ele nunca mais se envolvesse com tipos como Na Na. “Vagabundas asquerosas e aproveitadoras iguais a Usurpadora” foram suas exatas palavras. Gun preferiu deixá-la falando sozinha, sem argumentar, afinal ela era a única capaz de entender tudo o que ele sentia em relação ao seu pai e aos outros Wang naquele e em todos os momentos.

— Então, qual é a grande notícia? — Min-joo perguntou em suspense ansioso.

— São muitas — ele sorriu com malícia — Primeiro, a Yun Mi vai ser obrigada a se casar e finalmente vai sair da jogada! — riu com gosto. O rosto da irmã naquele jantar, o rosto de uma mulher acusada e sentenciada a força, não saía de sua cabeça.

— Me explique isso direito, menino.

— A minha cara meia-irmã está surtada… Eu acho que ela andou exagerando nos ataques de ciúmes com a governanta da casa, a garota nova.

— O que? A prima daquela cretina ainda está circulando no mesmo local que os meus filhos? A Mansão da Lua virou um circo… — retorquiu, inconformada.

— Não, mamãe, calma — Gun ergueu as mãos pedindo para que ela aguardasse as boas novas — Tudo só tende a melhorar. Yun Mi endoidou e tentou forjar um roubo no cofre da casa para incriminar a governanta, mas acabou caindo na própria armadilha. Agora Ah Ra e papai querem casá-la o quanto antes e despachá-la da mansão. A outra boa notícia é que, no meio disso tudo, Shin tomou as dores da tal empregada e agora me parece definitivo…

— Shin? — Min-joo interrompeu perplexa. Aquele marginal egoísta não tomava as dores de ninguém por nada… Nem por ninguém, a não ser para defender os irmãos mais novos… A não ser que… — Não vai me dizer…?

— Estou só esperando o momento dele quebrar a regra mais sagrada de papai para ser obliterado da disputa. Quem sabe, eu sei que é soar otimista demais, ele ainda engravide aquela sonsa para tornar a coisa toda mais cômica — e desatou a rir feito uma hiena.

O que Gun, no auge de seu divertimento sórdido e otimista não percebeu, foi a mãe empalidecendo. Min-joo emulou um sorriso frouxo para acompanhar seu filho nas gargalhadas enquanto sua mente traçava um cenário, no mínimo familiar, como a reprise incansável de um filme cafona e trágico.

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Notas finais do capítulo

>> Nos deixem suas impressões! Até a próxima semana. :*

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo
Nahm Hye - Woo Hee



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