Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 34
Franqueza e Uma Boa Conversa


Notas iniciais do capítulo

Oi gente... capítulo hoje está chegando cedinho porque, talvez, não consiga postar mais tarde.

Antes de tudo, nosso MUITO OBRIGADA por todos os comentários no capítulo passado. Sentimos nosso coração esquentar de tanta felicidade em recebermos o retorno de vocês e digo que me diverti demais lendo os comentários relacionados ao nosso Shin... fizemos com amor e recebemos o carinho de vocês como retorno ♥

Nosso sejam muito bem-vindas à Sarah, Gii, Anna, Guardiã das Estrelas e Hitsugaya que deixaram o anonimato e vieram até os comentários ♥ Autoras felizes!!!

Sem mais delongas, vamos suspirar com o doce Taeyang e nos divertir com o Bromance que a gente respeita (de quebra temos um Shin enciumado kkkk)!!

Boa leitura.

FIGHTING!



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O senhor Hansol tinha um modo muito imparcial de resolver os problemas dentro da empresa, mas naquele início de semana Na Na tinha certeza absoluta de que o grande empresário havia favorecido sua reles funcionária ao invés de Gun. Não parecia haver outra explicação para ele enviar o filho ao outro lado do Pacífico, às pressas, tão logo o episódio desconfortável do pedido de noivado ocorrera.

   Embora a segunda-feira estivesse se iniciando com mais tranquilidade para a moça, era um alívio não ter de encarar o ex-namorado e todo o ódio que ele deveria reservar para ela. Poderia assim se concentrar na outra provação que teria pela frente, e que atendia pelo nome de  Wang Taeyang.

Seu corpo respondeu por si assim que adentrou ao saguão principal do andar dos escritórios, as mãos frias, o coração acelerado, a garganta seca. Estava prestes a cruzar seu olhar com o dele e isso a empolgava e assustava na mesma intensidade. Na Na quase havia esquecido que reencontrar Taeyang traria outro impacto agora: Eles se beijaram no último contato efetivo que tiveram, afinal.

  O dia, entrementes, transcorreu como um domingo nublado em busca de algum vestígio de sol. E ele, assim como o sol escondido, não estava no prédio por todo o período da manhã, cabendo ao novo CEO, o desanimado e desorientado Eujin, presidir os principais tópicos do dia de expediente. À tarde, após o retorno do almoço na casa dos pais, Na Na soube pela principal secretária dos Wang que Taeyang havia chegado, mas acabara de se enfiar em um dos escritórios de apoio para reuniões menores com os investidores japoneses e Eujin. E eles não tinham hora para o término da reunião.

   A moça acabou por se desligar um pouco da ansiedade que a afligia, se concentrando em seu próprio ofício no decorrer vespertino. De posse de seu notebook e diversas pastas com documentos a serem atualizados e revisados, acúmulos de suas férias súbitas, ela escolheu um ambiente que lhe trouxesse melhores lembranças do que seu escritório particular, testemunha da pancadaria entre Gun e Taeyang, se aconchegando numa das saletas vazias de janelas privilegiadas para a vista panorâmica da cidade.

  Ninguém a incomodou por muitas horas e o sol começou a se despedir por detrás dos arranha-céus de Busan, trazendo o início da noite e, com ele, a ativação das luzes automáticas em todo o edifício. Gradualmente, a movimentação e o falatório do local de trabalho foram se tornando esparsos até não passarem de ocasionais diálogos de “até amanhã” e “tenha uma boa noite” ecoando pelos corredores quase vazios.

  Então uma voz sedosa penetrou o silêncio da sala onde Na Na estava, a sobressaltando de leve.

    — Mil desculpas. Te assustei? — perguntou Taeyang, parado diante da porta de vidro entreaberta, indeciso.

  Ela teve de se recompor em segundos, o corpo se adaptando velozmente a constatação da presença dele.

    — Nem tanto… É que estava concentrada — sorriu em desconcerto, fitando a tela do notebook em seguida. Sua cabeça ligeiramente zonza — O que dizia?

    — Eu havia perguntado se você não vai para a casa? — ele continuava parado no mesmo lugar — Está ficando tarde, quase todo mundo foi embora… — olhou para o relógio de pulso para exemplificar.

   Pela primeira vez desde que entrara na sala Na Na observou o relógio no canto inferior direito do desktop e descobriu que as dezenove horas foram embora há muito tempo.

   — Verdade! — exclamou se erguendo da poltrona num sobressalto um tanto afobado. Estava agindo como uma colegial abobalhada na frente dele — A hora voa — concluiu fechando o notebook com um estrépito exagerado.

    — Está com fome? — ele avançou um passo para dentro do recinto, balançando duas sacolas plásticas diante dos olhos.

      — Acho que sim, mas…

     — A senhorita Lee me informou que ainda estava trabalhando aqui, então eu desci na avenida e trouxe um pouco de comida para nós, da birosca ali embaixo, perto da esquina, mas se quiser levar para comer em casa… — se aproximou da mesa em que ela terminava de reunir as pastas e apoiou uma das sacolas na superfície — Ou comer sozinha… — começou a se distanciar para a porta de novo — Só não vá trabalhar demais. Meu pai não quer que faça serão a troco de compensar nada. Eram suas férias. Aliás, bem-vinda de volta. Boa noite — acenou-lhe carinhosamente.

    — Obrigada — ela agradeceu acompanhando-o com o olhar, prestes a deixá-la só — Taeyang? — chamou-o no último instante. Ele hesitou a meio caminho, a mão na maçaneta, a fitando — Venha… venha jantar comigo.

   — Acho que aceito o convite — sorriu-lhe radiante, indo se sentar na companhia dela, um vasto negro pontilhado de luzes artificiais da cidade noturna emoldurando o momento de refeição dos dois.

   Enquanto removia da sacola a embalagem de comida que o rapaz lhe trouxera e a abria para desvendar seu conteúdo, um Doenjang jigae fumegante e deliciosamente cheiroso, se empenhou em tornar a situação de proximidade a ele, a mais natural possível, enveredando em assuntos triviais.

     — E como foi Eujin em seu primeiro dia assumindo o leme?

   — Ele vai conseguir — Taeyang comentou dividindo seus hashis e se preparando para angariar um pedaço de tofu flutuante do caldo apimentado — Está preocupado e, eu diria, um pouco assustado pelo cargo provisório imposto por papai, mas ele também guarda uma força de vontade incrível… Até para aquilo que não quer. Eujin tem o orgulho típico da nossa família, logo vai buscar ser o melhor enquanto estiver como o comandante da vez por aqui.

   — Ele é um bom menino.

  — Sim, esse é ele — apoiou, após mastigar — Acho que eles exageraram na pimenta desse caldo… O que acha?

   — Está ótimo. Adoro mais apimentado — objetou sentindo seu estômago se aquecer na temperatura do tempero e da companhia de Taeyang — Shin também esteve por aqui o dia todo.

   — É… Parece que ele veio dar um apoio para o Eujin… Cada dia me sinto mais confuso sobre isso.

    — Por que? Não é uma coisa boa?

   — É, e vai contra muito do que andei escutando todos esses anos… — o herdeiro ponderou, pensativo.

   Eles retornaram para suas porções, comendo em silêncio. Na Na preferia não avançar em assuntos do qual não conhecia, ainda mais este, envolvendo as relações fraternais da complicada família para a qual trabalhava. Precisava de um bom tempo longe de tudo isso.

Vez ou outra, o olhar de Taeyang esbarrava no dela, a ansiedade querendo dominá-la novamente, mas um sentimento maior, de acalento, sobressaindo em vantagem. Em determinado ponto, o prato principal terminado, ela acabou por se ver perguntando:

    — Como… andam as coisas na mansão… depois da noite de sábado?

    — Quer saber de Gun? — ele disse, uma pontada de frustração na voz.

    — Não! — exclamou enfática, mas prosseguiu num tom mais soturno — Quero saber com que olhos o senhor Hansol está me enxergando. Ainda não tive como vê-lo… Acho que preciso me desculpar… Não sei se foi certo, quero dizer, sei que foi, mas talvez dizer aquele “não” diante de todo mundo, no restaurante…

     — Na Na — Taeyang afastou as embalagens vazias de perto deles e envolveu sua mão na dela, gentilmente — Quanto mais te conheço, mais te acho admirável. A sua atitude foi incrível! Você é a mulher mais corajosa de quem já tive o prazer de estar perto… Não há nenhum motivo para se arrepender das coisas que disse naquela noite ou como as disse. Você foi verdadeira e meu pai preza isso mais do que tudo. Ele está do seu lado. Todos nós, os sensatos, estamos. Gun nunca mereceu uma pessoa tão… — percorreu o olhar pelo rosto dela, as mãos dele inquietas, parecendo pressurosas para tocá-la na face, contudo contendo-se — Tão meiga… Tão apaixonante como você.

    Um desejo ardente de beijar o rapaz, uma vontade que chegava a lhe formigar os lábios, quis dar vazão dentro dela. Porém, Na Na tinha consciência de que sua mente e seu corpo precisavam de tempo. Havia uma ferida terrível cicatrizando lentamente em sua alma, resultado de um relacionamento abusivo, regado a sofrimento, e era preciso deixar que isto se curasse para estar pronta com honestidade para Taeyang.

     — Taeyang…

    — Por favor, me perdoe — ele cortou subitamente o contato entre eles, se afastando para trás, o olhar carregado de culpa — Eu desconfiei de você naquele tempo, há quatro anos, e cultivei essa desconfiança até pouquíssimo tempo atrás, muito embora dentro de mim já soubesse a verdade. Sou assim, um idiota receoso… E depois de testemunhar a forma como Gun te usava, tudo se tornou mais ostensivo com a disputa do cargo de CEO, a ficha caiu de vez. Não há como nada daquilo ter sido feito com você compactuando com ele…

   — Aquilo me magoou muito, confesso — ela suspirou relembrando a fatídica ocasião de anos atrás.

    Gun vinha sondando a nova estagiária como um chacal faminto. Enquanto Taeyang era tímido, o outro irmão demonstrava seu interesse por ela com toda sua confiança no auge, oferecendo pequenos presentes surpresas na saída do trabalho, usando do seu charme masculino e de uma grande dose de cavalheirismo ao abordá-la. Respeitoso e cordial, e mesmo demonstrando uma pitada de energia acumulada nas investidas, ela lhe prestou atenção. Esse era Gun no início, o homem que paquerava a estagiária Kim.

    Contudo, mesmo o achando bonito e agradável, era pelo tímido, o reservado Taeyang, que a funcionária sentia o peito palpitar. Fora aquilo desde o primeiro olhar… E isso porque Na Na nunca acreditou em amor à primeira vista. Gun, por outro lado, entrara no jogo para ganhar, e ganhar significava usar todas as armas disponíveis: as honestas (seu charme) e as desleais (suas armações).

   Era uma semana atribulada. Taeyang cursava os últimos anos do ensino superior, mas precisava tomar as rédeas de várias questões na Wang S.A. No dia em questão, ele confiara a Na Na um documento importante sobre os cálculos finais do lucro do último lançamento da multinacional. Eles seriam apresentados por Yoseob a patrocinadores estrangeiros. Gun pediu para avaliar a documentação minutos antes de Na Na entregá-la na sala de reuniões e, ao devolvê-lo, trocou os dados.

    No instante que Taeyang soube por Yoseob que os negócios estavam arruinados, os investidores não haviam ficado satisfeitos com os percentuais entregues e um grande negócio havia ido de ralo abaixo. A estagiária Kim Na Na se tornou alvo de uma grande descompostura diante do escritório todo.

Taeyang, num dos poucos ataques de frustração já expressados, acusou a estagiária de incompetente e prometeu nunca mais lhe delegar nenhuma função importante. Para piorar, o documento original, com os dados corretos, fora encontrado na lixeira ao lado da mesa dela.

    Então Gun surgiu, um escudo audacioso, justificando que, por culpa dele, não dela, a troca ocorrera. Ele, aparentemente, como dito na época, se enganara por conta, mas prometeu reaver todo erro e evitar a demissão da jovem senhorita Kim, um assunto que havia sido posto em voga pelo próprio Hansol. Claro que Gun conseguiu desfazer o estratagema criado, apenas para separar o provável futuro casal. Claro também que um sentimento diferente em relação ao seu primeiro amor começou a crescer na garota vítima de desconfiança.

    Muitas semanas se passaram até os dois voltarem a se aproximar. Taeyang pediu desculpas, Na Na as aceitou, mas o ressentimento fora encravado, assim como o anel de compromisso no dedo anelar dela, que acabou por aceitar o cortejo de Gun.

   — Quero que me perdoe algum dia… — Taeyang voltou a desculpar-se no presente — Sinto vergonha de mim toda vez que lembro disso. Agi como Yun Min, como Gun… Como meu pai nos seus piores dias… Eu… Eu não era assim… Acho que me senti acuado por ver meu irmão se aproximando cada vez mais de você… — apertou os olhos e balançou a cabeça — Mas nada justifica, não é mesmo?

   — Eu já te perdoei faz um tempo — ela o respondeu com um sorriso tranquilo.

De fato, ele fora aquele homem amargo, porém em apenas uma ocasião. Depois daquilo, cada elogio descarado ao trabalho dela, cada olhar demorado, cada palavra não dita, cada abraço não dado, durante os quatro anos seguintes, se traduziram como castigo por aquele erro.

    — É sério? — ele não parecia acreditar.

   Desta vez foi Na Na quem deitou sua mão sobre a do homem, aproximando-se e olhando-o no fundo dos olhos.

    — Você foi meu melhor amigo aqui dentro. Incentivou minha efetivação, me ajudou a subir de cargo e salvou minha pele dezenas de vezes quando eu, na minha inexperiência administrativa, estive prestes a cometer várias falhas.

   — Mas eu só precisei dar um pequeno empurrão… A genialidade era inata a você e agora vem provando isso, exaustivamente, alguns diriam — riu discreto, devolvendo o fitar dela com olhos brilhantes de amabilidade.

    — E agora você me deixa encabulada, constantemente, eu diria — desviou o olhar, encarando os dedos de ambos, se entrelaçando sobre a mesa.

    — Na Na — a chamou com firmeza, após outro vácuo de silêncio instalado.

    — Hum? — voltou a olhá-lo.

   — Go Ha Jin passou meu recado enquanto você estava dando um tempo de tudo na casa dela? — ela apenas continuou sustentando o olhar, preparando-se para o que viria — Sobre o que sinto... por você?

    — Taeyang, só me dê um tem...— começou, num murmúrio.

   — Eu sei — a interrompeu noutro sussurro — Eu sei. Te darei todo o tempo do mundo. Uma semana, um mês, um ano, dez anos. Eu mereço, aliás.

    — Não é essa a questão — ergueu o braço livre e mergulhou os dedos no cabelo do rapaz, um afago leve, espantando-o pelo gesto íntimo — É que a queda foi alta, entende?

   — Não só entendo, como a apoio — concordou carinhoso, seu lindo rosto, o queixo quadrado e a boca carnuda, seduzindo as convicções da mulher — Estarei por aqui, como um amigo, até quando você quiser…

***

Shin estava sentado em sua poltrona pensando nas muitas coisas que aqueles dias vinham trazendo. Desde o inesperado “não” recebido por Gun no último sábado que as coisas na Mansão da Lua caminhavam mais esquisitas que antes e aquela sensação de que todos estavam contra ele voltava a fazer parte de sua rotina.

Levantou e foi até a escrivaninha. Abriu a gaveta em busca de canetas e marcadores e viu aquele pedaço de papel ainda esquecido no móvel. O nome da governanta mais jovem e o seu número, conquistados depois de uma grande batalha entre seus irmãos e Nyeo, o observava agora.

Imaginou a garota e, subitamente, fechou a gaveta enterrando o papel e aquela imagem novamente. Pegou alguns dos livros que costumeiramente estudava e escolheu um deles para a leitura. Ali, sentado, folheando o livro, pensou na governanta e se perguntou por que ela estava tão constantemente em sua mente, como uma mula insistente e birrenta.

Aquela garota desastrada e irritante não se satisfazia em perturbar sua vida enquanto estava na mansão e continuava a incomodá-lo também depois de ir embora.

De repente, olhou pela janela do quarto e viu que chovia forte. “Será que chegou bem em casa? Aishh” Fechou o livro abruptamente e bateu levemente com as mãos nas laterais da cabeça tentando afastar o pensamento. Abriu o livro novamente e focou nas páginas diante de si. Letras miúdas e jargões técnicos para distraí-lo ainda mais, mas era melhor se esforçar para manter a mente ocupada da melhor forma.

— Shin — ouviu a voz de Eujin depois de uma batida leve e o mandou entrar — Cara, estou te atrapalhando? Volto depois…

— Não… Estava apenas passando o tempo.

— Como passa o tempo com um livro dessa grossura? — Eujin comentou brincalhão, deitando na cama do irmão - surpreendendo o mais velho - olhando para o teto em seguida — Nenhum de nós tem se dedicado tanto quanto você para esse cargo. Estou realmente ansioso por sua vez. Sei que vai ser muito bom.

— Não quero necessariamente ser o novo responsável pela empresa, você sabe… — Shin comentou largando o livro e se acomodando melhor na poltrona. Eujin o acompanhando com o olhar — Só quero mostrar que posso muito mais do que acham.

— Sei que vai se dar bem — o mais novo repetiu — Queria mesmo era que esse mês terminasse de uma vez e hoje ainda é quinta-feira...

— Sua primeira semana é a mais crucial. Felizmente, Gun deixou tudo da melhor forma. Ele realmente tem talento para isso, então você só precisa manter as coisas de acordo e se dará bem. Foque em fazer a empresa manter o ritmo que tem mantido até agora…

— Quando ele volta? — perguntou curioso ao mais velho.

— Acredito que na próxima semana… Não tenho certeza.

— Você ouviu os comentários dos funcionários? — Eujin falou com seu tom zombeteiro.

— Está fofocando com os empregados agora? — o mais velho ralhou, mas parecia brincar.

— Pare de se fazer se sisudo — sorriu — Ouvi os funcionários da empresa falando que o clima nunca esteve tão bom…

— Eujin…

— E os da mansão falaram que, melhor que isso, só se a Yun Mi também viajasse…

— Como sabe dessas coisas? — Shin quis saber, espantado.

— Tenho minhas fontes — comentou com um ar prepotente.

— Deveria se concentrar no trabalho ao invés de ficar por aí fofocando com os empregados...

— Não estava fofocando — se defendeu ressentido — Estava colhendo informações importantes...

— Importantes? Ora vamos, o mais importante agora é fazer um bom trabalho e...

— Isso é um saco — esbravejou cobrindo os olhos com o braço, batendo os pés sobre o colchão com força, interrompendo a fala do irmão que sorriu discretamente — Não suporto mais tudo isso.

— Mas agora que se passaram quatro dias… — Shin prosseguiu com um tom brincalhão.

— Não tenho tido mais tempo para nada… Odeio aquelas reuniões tediosas. Chego tarde em casa… Não tenho tempo de sair e…

— E...? — arqueou as sobrancelhas e outro o olhou com um ar maroto — Está se encontrando com uma garota?

— É… bem…

— Eujin — Sun adentrou pela porta do quarto sem sequer pedir licença, Jung logo atrás. Shin, sentado sobre a poltrona, permaneceu estático diante daquela interrupção peculiar.

— Aishh… — Eujin ralhou tapando os olhos novamente — Que saco vocês dois! O que querem agora?

— Esse imbecil que não quer cumprir a aposta — Jung falou com grosseria — Quer nos passar a perna. Disse que não vai chamar Doh Hea para sair.

— Sun… Isso não é atitude de homem — Eujin comentou olhando os dois da cama — E eu não participei dessa aposta estúpida. Não me comprometam.

— Eu não quero sair com aquela garota… Ela é insuportável — Sun pontuou. Os braços cruzados lembrando uma criança birrenta.

— Então para que apostou se não queria cumprir? — Jung falou ameaçador — Nosso irmão foi para a reunião e tem se dado bem na empresa. Você perdeu. Tem que cumprir sua parte.

— Não vou cumprir nada…

— Deixe de ser bebê chorão…

— Não sou um bebê, me respeite seu…

— Estou enganado ou andam apostando sobre a minha vida por aí?

Shin se fez ouvir finalmente. Jung e Sun, percebendo o irmão mais velho, pararam o embate e o olharam ansiosos, temendo o que poderia acontecer enquanto recebiam um olhar inquisidor. Eujin controlava o riso ao ver a cara que os dois faziam.

— Quem vai fazer o favor de me explicar o que está acontecendo? — Shin perguntou. O semblante irritadiço.

— Er… Bem… — Sun começou acanhado.

— Eu… Eu e Sun… — fora Jung agora.

— Esses dois apostaram se você ia ou não para a primeira reunião que papai fez conosco, logo depois do jantar… — Eujin falou de uma vez e os dois mais novos olharam para ele com um misto de espanto, nervosismo e injustiça.

— Não é bem assim, irmão — Jung continuou — É que pensamos que você fosse embora novamente…

— Não apostamos sobre você… Era se você iria ou não para a reunião e…

— Você perdeu? — Shin olhou para Sun acusadoramente — Quer se livrar de uma aposta que fizeram sobre a minha vida?

— Não foi sobre sua vida… Foi… — Sun tentou se explicar, mas Shin o interrompeu.

— O que ele perdeu? — olhou para Jung.

— Ele tem que levar Doh Hea, sabe, a filha do acionista Yoseob, para sair. Eles se gostam, ele só não percebeu ainda.

— Não gosto daquela chata…

— Ora, ora… Quer dizer que você tem que sair com uma garota — Shin se levantou e caminhou até os dois de braços cruzados — Seja homem e cumpra com sua palavra.

— Ahhh… — Jung gritou em comemoração, abraçando um Shin confuso diante da efusão de seus sentimentos juvenis — Irmão, você é demais! Viu só, seu patife. Vá convidar a garota para sair.

— Dê uma oportunidade… Quem sabe não se dão realmente bem… — Eujin pontuou para Sun que tinha o rosto em brasa.

— Não é tão complicado assim… É só sair com ela e pá… — Jung continuou empolgado.

— Falou o mestre dos encontros… — Eujin interrompeu os conselhos de Jung — Tem usado essas táticas com Ha Jin?

Shin não conseguiu controlar as sensações estranhas que sentiu em decorrência daquela frase. O irmão mais novo, apaixonado pela governanta? Não entendia o porquê, mas aquela informação o incomodara mais do que deveria. Voltou para a poltrona, atento à conversa que seguia.

— Seu traidor — Jung pulara sobre Eujin que mal tivera tempo de se proteger. Instantes depois, o mais novo proferia uma “gravata” no mais velho que se debatia sobre a cama teatralmente.

— Então quer dizer que nosso Jung está apaixonado pela governanta? — Sun repetiu a frase e nova sensação estranha se formou em Shin como uma indigestão — Você sabe que não pode… E ela é muito mais velha que você.

— Nem tanto assim — defendeu-se soltando Eujin que ainda batia nos braços do outro e gritava em tom agudo — E ela parece bem jovem.

— Já te falei mil vezes que Ha Jin não gosta de você desse jeito.

— E ela gosta de você, por acaso? — Jung ameaçou Eujin novamente.

— Só acho que ela gosta de alguém que não conhecemos. Às vezes ela fica aérea, como se pensasse em algo distante, com cara de apaixonada. Não é você, cara… Deve ser um homem.

— O que quer dizer com isso? — Jung voltou a bater no irmão, Sun revirando os olhos e deitando no chão, apoiando a cabeça sobre um dos travesseiros jogados pelo quarto.

— O que acha que devo fazer? — Shin fora pego de surpresa pela pergunta do caçula Wang. Na verdade, estava estranhando toda aquela interação familiar.

— Acho que deve cumprir sua palavra e convidar a garota para sair.

— Mas ela é um saco… — irritou-se novamente. Os outros dois parando sua luta ensaiada e sentando-se para prestar atenção à conversa — Ela me enche.

— Será que isso acontece por que você preferiu focar nos defeitos, ao invés das qualidades? — Shin objetou. Os três o olhavam com atenção — Às vezes é mais fácil observar os defeitos, aquilo que nos afasta. Esquecemos que as pessoas têm um lado bom também e perdemos muito por concluirmos ideias apenas pelo negativo. Talvez ela tenha muito a oferecer e você não tem percebido… Se não em um relacionamento, mas quem sabe em uma boa e verdadeira amizade. Custa alguma coisa tentar?

— Ela gosta de jogos… — Sun comentou pensativo depois de um suspiro — E é bem inteligente também. Sempre me ajuda nos trabalhos em grupo.

— Então já temos três pontos positivos para focar — Shin listou.

— É, Sun… Vai que você acaba descobrindo coisas que nunca viu antes nela — Jung, deitado com as pernas de Eujin sobre a barriga, comentou animado.

— E você não tem nada a perder, de fato — Eujin continuou — Vocês já se conhecem faz um tempão. São amigos desde a infância… Um passeio amigável não é um problema.

— Pode ser…

— Ótimo! — Jung parecia animado — E quando vai ser?

— Não me pressione. Preciso pensar mais sobre isso.

— Tudo bem, mas vou cobrar se demorar muito.

— Tá… Tá… Eu aviso.

— E você, Eujin… vai continuar o assunto de antes? — Shin perguntou, a curiosidade ainda persistente.

— Sim… — sentiu a face esquentar — Estou saindo com uma garota.

— Ah ê!!!! — Jung deu um tapa forte na perna do irmão, que reclamou da dor. Sun e Shin rindo da cara que Eujin fizera.

— Quem ela é?

— Qual o nome dela?

— Onde ela vive?

— O que ela faz?

— Não é uma das funcionárias de novo, é?

— Não… não — Eujin respondeu irritado — Não houve nada entre aquela garota e eu…

— Sim… claro — Jung falou com cinismo.

— Todo mundo sabe, Eujin. Assume de uma vez e não faz de novo — Sun comentou divertido.

— O que houve? — Shin perguntou entendendo que, finalmente, saberia o que houve com o irmão e uma das empregadas.

— Ano passado Eujin se apaixonou por uma das funcionárias da lavanderia — Jung tomou a vanguarda da fofoca — Yun Mi viu quando ele entrou no quarto da garota, na área dos funcionários, e foi uma confusão. A coitada foi demitida por justa causa no outro dia. Yun Mi não pegou leve com ela.

— Aquela bruxa — Sun reclamou indignado, o cenho franzido — Nem falava com a garota, mas não era para tanto.

— Yun Mi sempre exagera em tudo…

— Você sabe como ela está? — Shin perguntou para Eujin.

— Não… Depois que Yun Mi a expulsou eu fui atrás dela. Ela estava amedrontada, chorava muito. Quase não consegui me aproximar. Não sei o que aquela bruxa falou para ela… Depois ela sumiu. Eu continuei procurando e a última vez que a encontrei, uns quatro meses depois que foi demitida, ela tinha resolvido ir para Seul trabalhar com os pais. Depois disso não tive mais contato.

— Entendo…  

— Mas quem é a garota nova? — Jung voltou a conversa para o irmão — Quando vamos conhecê-la?

— Ela se chama Nahm Hye e não sei se vocês merecem conhecê-la…

— Mas que idiota — Jung bufou enquanto Sun batia o travesseiro na cabeça do irmão.

— Onde a conheceu? — o mais velho questionou. Já se sentia mais à vontade com os outros três.

— No dia que saímos para beber com Ha Jin… Ela é linda. Simplesmente linda.

— Ta apaixonadinho… — Jung brincou.

— Ao menos meu amor é possível — o outro falou certeiro.

— Pare de falar da Ha Jin — Jung esbravejou e novamente Shin sentiu o estômago dar um solavanco.

— Está interessado na governanta Go? — perguntou de uma vez notando que sua voz saiu esquisita.

— É que ela é… Tão perfeita e… Eu gosto dela, do jeito dela — Jung confessou e Shin sentiu-se ainda mais desnorteado — Ela é gentil e atenciosa. Sempre tem uma palavra amiga e disposição para ajudar. Além de ter um sorriso perfeito e aqueles olhos… Às vezes ela me olha de um modo… Parece que nos conhecemos há muito tempo.

— E é uns cinco anos mais velha que você, no mínimo — Sun cortou o irmão.

— E daí? — Jung perguntou dando de ombros.

— E daí? Ela não vai se interessar por um moleque como você. É muito mais fácil que ela se interesse pelo Shin. Eles devem ter praticamente a mesma idade.

Shin ficou sem graça com o comentário e agradeceu que os irmãos não o estivessem olhando, agora que se esmurravam mais uma vez. Sentiu o sangue esquentar e o rosto arder. Não se sentiu tranquilo diante do comentário de Sun.

— E você, Shin — Sun se voltou para ele depois que a luta se encerrou — Não acha muito mais fácil que Ha Jin se apaixone por um cara como você que pelo Jung?

— Eu… Er… Eu não sei — estava acanhado e claramente nervoso. Eujin sorriu para ele — Não sei. Depende do tipo de homem que ela procura, se é que ela procura…

— Vocês deviam ter mais respeito pela Ha Jin — Jung esbravejou jogando um travesseiro sobre Sun — Sentimento não é assim… Não se escolhe.

— E o que você sabe sobre sentimento? — Sun devolveu, as expressões corporais birrentas de antes.

— Não muito… Mas sei o que sinto — respondeu reflexivo — Como é se apaixonar de verdade, irmão? — os três olharam o mais velho que estava ainda mais constrangido.

— Eh… Eu não sei bem. Não sei se em algum momento da minha vida senti algo verdadeiro para explicar a vocês…

— Não dá para explicar o que se sente quando se ama alguém assim tão fácil, Jung — era Eujin tomando a atenção dos outros Wang para si, socorrendo o mais velho — Mas você reconhece que está apaixonado quando a outra pessoa se torna especial para você. Ela passa a ser o seu primeiro pensamento ao acordar, e o último, antes de dormir. Você pensa nela mais do que deveria e pequenas coisas te fazem lembrar. Sente que ela está perto mesmo quando está longe. Você ouve sua voz como se fosse a mais linda melodia e tudo o que você mais quer é estar ao lado dela, protegê-la... abraçá-la.

“Quando você se apaixona de verdade por alguém, é como se nada fosse capaz de abalar os dois e você consegue estar com ela nos momentos mais alegres, partilhando sorrisos, bobagens... mas também gostaria de estar com ela nos momentos de dor, na hora de derramar lágrimas, de consolar e ser consolado por ela… A única coisa que você quer é ela ao seu lado, sentir seu cheiro, ouvir seu sorriso, viver todos os dias para que ela esteja feliz, para que ela te dê seu sorriso, para que ela não derrame mais suas lágrimas…”

— Eu… Nunca senti nada assim  — Sun foi o primeiro a comentar. Jung e Shin permaneciam calados, submersos em seus pensamentos.

— Você teve muitos casos de amor nos Estados Unidos, Shin? — Jung perguntou interessado, virando-se sobre a cama para o mais velho, desviando o foco da conversa. Eles certamente vinham aproveitando a ocasião para bombardeá-lo com questões que a muito gostariam de esclarecer — Você é um cara bonito… Deve ter se dado bem — sorriu maroto.

— Er… — o questionado pigarreou, arrematado pelo acanhamento, coçava a nuca copiosamente diante do olhar dos três — Alguns… muito pouco mesmo.

— Cara, fala a verdade — Jung continuou, ansioso — Você deveria nos dar umas dicas para conquistar garotas…

— Eu não preciso de dicas. Já tenho meu charme próprio — Eujin disse vaidoso.

— Ah… Idiota — deu-lhe uma cotovelada.

— Você mesmo admitiu que tenho charme, irmãozinho — os dois se olharam, o mais novo fazendo uma careta de poucos amigos.

— Não tenho dicas… Relacionamento é algo complicado. Nos Estados Unidos não tive muito tempo para sair. Lá eu trabalhava muito e preferia ficar em casa do que ir para as ruas…

— E…? — Jung incentivou.

— As mulheres são bem… animadas, por lá.

Os três sorriram entendendo o teor daquela frase. Jung quase urrando enquanto Eujin saltitava o corpo sobre a cama. Sun, aparentemente envergonhado, depois da gargalhada, escondeu o rosto por baixo do travesseiro que Jung lhe jogara antes e Shin, estranhando tudo aquilo, se permitiu sorrir com eles.

Era, de fato, uma situação inusitada. Jamais imaginou que, um dia, aquele momento pudesse acontecer. Estava feliz. Eram seus irmãos, viu cada um deles nascer e, depois de cinco anos distante, mesmo com todos os comentários mentirosos que provavelmente ouviram, a sensação que tinha agora era que nada do que disseram antes tinha importância.

Enquanto gargalhavam, os quatro sequer notaram uma quinta presença sorrindo aos observá-los por trás da porta esquecida entreaberta. Hansol, que passava pelo corredor em direção ao seu quarto, ouviu o barulho e desistiu das escadas se encaminhando curioso até o quarto de seu segundo filho, enchendo o peito de fé e alegria, pensando mais uma vez que fizera o certo no dia em que o chamou de volta para o lugar de onde nunca deveria ter saído.

***


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Notas finais do capítulo

E então??? O que acharam do capítulo? Não esqueçam de deixar o seu review nos incentivando a sempre continuar. Beijus :***

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Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo

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