Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 33
Um Wang que Queria ser Livre


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos!

Depois da pequena pausa de uma semana, voltamos!

Antes de ir para o capítulo, queremos agradecer as duas lindas que recomendaram nossa fic: Katherine Havegreen e LallyGracess. Obrigada mais uma vez, seguimos amando :)

Vamos lá começar mais um arco, com o lindo do Eujin agora, e com todo mundo afiado nos comentários... Afinal, tem um momento ouro nesse capítulo merecedor de suas opiniões ♥

Ótima leitura, beijos mil! o/



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Eujin acordou desejando muito continuar dormindo pelas próximas quatro semanas. Aquela segunda-feira dava início a sua largada ao posto de CEO da Wang S.A. Ele, contudo, sonhava em não ter de ser o segundo na sucessão dos herdeiros pelo revezamento do cargo… Nem o terceiro, ou o quarto, nem o último… Nenhum!

De ombros caídos, o desânimo mais do que pronunciado em seus gestos, o rapaz se arrastou para fora da cama e entrou debaixo do chuveiro para uma chuveirada rápida. Ao retornar ao quarto, envolto no vapor do banho, direcionou-se para o closet escolhendo o terno que usaria durante o dia.

Pontuou a produção, carregada de obrigações vazias, com um pouco do perfume que Hye lhe presenteara, borrifado na nuca e nos pulsos. A única coisa boa do dia seria desviar os pensamentos para a sua garota, a lembrança do quão bom era conhecê-la melhor, a cada encontro tocá-la, beijá-la ou, simplesmente, vê-la sorrir.

Fora do quarto, caminhando pelo corredor, Eujin teve sua atenção capturada por um tumulto dos empregados da mansão, entrando e saindo do quarto de Gun. Espiando dentro do aposento do mais velho, focou o objeto espatifado ao chão, observando os funcionários recolhendo os pedaços espalhados ao redor, sob as ordens de Ha Jin. Não havia sinal de Gun em lugar algum, então ele resolveu arriscar e entrar para sanar sua curiosidade.

— O que teria acontecido por aqui? — perguntou às costas da governanta.

— Eujin? Ah, bom dia. — ela dedicou um sorriso caloroso para o amigo, após afastar-se para o lado a fim de vê-lo melhor.

— Acho que não é necessário ser muito sagaz para descobrir porque a televisão de cinquenta polegadas de Gun “desgrudou” da parede e foi parar no chão… — ele bem escutara um tumulto vindo do quarto do irmão as altas horas da madrugada, mas estava sonolento demais para verificar a origem.

— É… — a garota concordou balançando a cabeça penalizada, se mantendo reservada por estar próxima de seus subordinados, sobre a opinião que nutria por um dos patrões.

Os empregados ergueram o que sobrou da armação do televisor e apoiaram dentro da caixa com rodinhas que haviam trazido para esta finalidade. Debaixo do objeto, o porta-retratos de Gun abraçado à Na Na estava triturado.

— Foi o melhor para sua prima, com certeza — Eujin reforçou enquanto dos dois olhavam para a cara do ex-casal toda fragmentada pelos cortes do vidro, espantados.

— Com certeza… — Ha Jin endossou, ligeiramente avoada.

— Aonde está ele, por falar nisso? Já foi para a empresa para ajudar o meu dia a se tornar melhor?

— Bom… — ela retornou para a conversa, mais compenetrada — Não cabe a mim dizer, mas agora que perguntou… O senhor seu pai enviou o seu irmão para uma viagem de negócios fora do país. Ao menos foi isso que escutei na mesa do café da manhã, entre ele e sua madrasta, mais cedo.

— Sério?

— Sim, mas eu não estava bisbilhotando — prosseguiu, se isentando — E, qualquer coisa, não escutou isso de mim.

Mas ele não se importava. Sua amiga havia tornado o seu primeiro dia um pouco mais leve ao dar aquela notícia maravilhosa. Gun não facilitaria para o próximo irmão que viesse lhe dar ordens, contudo, tendo tempo de se adaptar a direção da empresa, Eujin estaria mais preparado para enfrentá-lo em seu retorno.

— Leve ao lixo, não há mais conserto nisso — Ha Jin orientou um empregado sobre o que fazer com os restos mortais do televisor — Hoje é o seu primeiro dia como CEO, estou certa? — perguntou a ele, virando-se.

— É sim… — o rapaz suspirou pesadamente.

— Fiz um bolinho de frutas para você — Eujin abriu a boca para protestar, mas ela o calou erguendo o dedo indicador no ar de um modo autoritário, semelhante a governanta Nyeo — Eu sei que você está sem fome, que está nervoso, mas essa é uma tradição na minha família. Bolinho de frutas no café da manhã para ter um dia de sorte aonde for.

— De onde vem isso? Do interior? — franziu o cenho, curioso.

— Não venha me dizer que é coisa de gente da roça.

— Eu não ia — ele ergueu os braços, rendendo-se e escondendo um riso.

— Tá bom… — ela fitou-o de olhos miúdos, desconfiada — De qualquer forma, desejo um bom primeiro dia de trabalho. Os seguintes também. Vai dar tudo certo durante essas semanas em que você será CEO. Eu acredito na sua competência. E se tiver ruim, pode ter certeza que passará antes que se torne insuportável. Fighting!

O carinho da garota deixou o herdeiro tocado. Ele gostaria de abraçá-la ali, contudo temeu comentários maldosos dos funcionários que pudessem prejudicar sua amiga. Aliás, ela era mais do que uma boa amiga, era sua irmãzinha do coração, porque da irmã de verdade não era possível esperar nada de positivo.

Eujin despediu-se da jovem governanta e, aceitando seu presente, passou na cozinha para resgatar seu bolinho da sorte, colocado num saquinho celofane com direito a laço e tudo. Enquanto dirigia para a empresa, o rádio ligado numa estação dedicada à música clássica, sua favorita, tornou-se impossível não relembrar da terrível noite em que seu pai decidiu seu destino…

Ele chegara no limite de desafiar o pai, mas não voltaria para trás. Não estava em seus planos de vida se tornar mais um cordeirinho nas mãos do poderoso empresário Wang Hansol, o homem mais rico de Busan, uns dos cinco maiores da Coreia, e também um pai autoritário, que exigia de todos os filhos dedicação inquestionável ao negócio da família.

Eujin escutou o carro do senhor da casa cantando pneus no pátio externo. O homem não costumava dirigir, portanto quem já vinha sofrendo com sua fúria era o pobre motorista particular. Tanto fazia, o rapaz se preparara a tarde toda para aquele momento e para o estado de espírito do patriarca. Passos pesados atravessaram o hall e então Hansol despontou na sala, encontrando o filho mais velho de Eun Tak esparramado ao sofá folheando uma revista sobre música.

Você quer brincar comigo, garoto?

Ele ergueu a cabeça do exemplar, calmamente, e mirou o pai, muito vermelho, olhando-o com dois olhos que mais pareciam duas adagas de aço afiadíssimas.

O senhor já deve estar sabendo, então…

Não trate esse assunto com leviandade, como se não fosse nada, Eujin!

O senhor está certo, papai. É algo, sim ele respirou fundo, abandonando a leitura e se preparando para a sua defesa — Eu venho a bastante tempo lhe informando da minha decisão.

Não há decisão alguma! — Hansol rugiu como em poucas ocasiões o herdeiro testemunhara. Seu berro, estrondoso, alertou os outros habitantes da mansão que saíram de suas tocas e aproximaram-se da confusão feito baratas ao redor de comida velha — Escute aqui, Eujin! Escute bem, pois falarei apenas uma vez: Se não reaver sua matrícula no curso de engenharia o quanto antes, está tudo acabado para você.

E o que o senhor fará? — o rapaz perguntou desafiador, jogando a revista longe, o exemplar caindo farfalhando para trás do sofá, e se pondo em pé.

Sook, o único irmão dos mais velhos que apoiava seu sonho de tornar-se músico, além de Shin, que sumira no mundo havia dois anos, contornou o sofá para alcançar o herdeiro em revolta. A discussão entre pai e filho, contudo, havia deixado os protagonistas cegos para os espectadores, ambos tremendo de ódio.

Estará tudo acabado para você. Para início de conversa, rapaz, seu carro, seus instrumentos musicais, sua matrícula naquela escola inútil de música, tudo isso vem do meu dinheiro! — apontou para o próprio peito, triunfante.

Não me importo! Eu trabalharei para prover minhas próprias despesas…

Hansol exibiu um sorriso sem emoção, debochado, e naquela hora o gesto o tornou mais pai de Gun do que nunca.

E no que trabalhará para bancar todas essas dívidas? Você acha que só porque carrega o sobrenome Wang nas costas as pessoas lhe darão posições e salários milionários? Não tem nenhuma experiência, nenhum outro estudo, garoto insolente!

Não ligo para esse nome idiota! — Eujin cuspiu, fora de si, odiava esse tipo de comparações — Não ligo para nada que venha do senhor. Vou morar com a minha mãe…

Eujin… — Sun, um adolescente de dezesseis anos ainda, arfou num canto da sala.

E você vem comigo, irmão, se não quiser ser outra peça — virou-se para o garoto, as expressões eloquentes.

Tenho muito apreço por sua mãe — Hansol retornou, a voz, de repente, perigosamente baixa — mas se for pedir abrigo para ela para obter qualquer apoio, eu serei obrigado a cortar a pensão que forneço para Eun Tak.

O rapaz estancou, chocado. Não poderia ter ouvido corretamente. Por que ele estava colocando sua mãe, uma criatura do bem, que nada tinha a ver com as loucuras daquele homem implacável, no meio do assunto?

O senhor não faria isso…

Papai, seja complacente — Sook finalmente se intrometeu na conversa e também entre os dois homens, se pondo em pé no meio deles como um árbitro de luta livre — Deixe Eujin fazer o que quiser. Ele não gosta da empresa. Aquele lugar não combina com ele. Deixe que estude música e…

CALADO, SOOK! — Hansol gritou, os olhos focados em Eujin de modo frio.

Não há o que fazer, irmão — o mais novo o interrompeu, lágrimas raivosas brotando nos cantos dos olhos — Este é nosso pai. Essa criatura vazia e controladora. Não há argumentos com esse homem e hoje, ao ameaçar minha mãe, ele provou que tipo de pessoa é…

"Vou me matricular amanhã naquele curso imbecil, enterrarei meu sonho de vez e, se possível, afundarei essa empresa se ela estiver ao meu cargo. Serei tão zeloso ao negócio da família como sou em mostrar meu empenho por fazer parte daquilo!"

Remoer aquela memória fazia parte da rotina de Eujin. Toda vez que ele se sentia infeliz ou coagido pelo legado Wang, imaginava que poderia ter feito a diferença no seu futuro se tivesse sido mais corajoso.

Semanas após aquela terrível discussão, Eun Tak ficara sabendo, não por ele, mas certamente por Sun, que fora usada como um argumento para pressionar o filho. Ao encostá-lo na parede, acabou tendo sua confirmação do ocorrido. A mãe então, queria de toda a forma, tirar satisfação com Hansol, ao mesmo tempo que dizia ao filho que não precisava daquela pensão para sobreviver.

Eujin, entretanto, já se sentia fraco e alquebrado demais para dar vazão a sua causa. E assim, ele se formou como um aluno mediano, assumindo um setor na empresa que nada tinha a ver com sua formação acadêmica, numa área de produção criativa como um prêmio de consolação patético fomentado pelo pai.

Mergulhando em ressentimentos, o jovem herdeiro nem notou que já estava entrando no subsolo do prédio, na garagem. Estacionou seu carro na vaga concedida exclusivamente para os herdeiros, mais próxima aos elevadores, e saiu do carro voltando a experimentar o peso do mundo sobre os ombros.

De pasta na mão, tomou coragem nos primeiros passos em direção aos elevadores e notou a aproximação de outra pessoa caminhando à sua esquerda. Era Shin.

— Achei que tinha ido para a fábrica — comentou após desejar ‘bom dia’ ao irmão.

— Eu fui, mas apenas para pegar alguns documentos. Hoje fico aqui.

— Sério? — Eujin se surpreendeu. Shin somente aparecia na sede quando era estritamente necessário sua presença nela — Por que isso?

— Porque quero ajudá-lo no que for possível durante sua estada como CEO… Ah, e também porque Gun viajou e o clima no escritório deve estar bem melhor…

— Obrigado no primeiro caso e ótima razão no segundo…

— Já estava sabendo sobre Gun? — o mais velho semicerrou os olhos, perspicaz — Foi meio repentino… Papai encaminhou ele para a nossa filial nos Estados Unidos de madrugada. Taeyang que me disse há pouco pelo celular.

— Ah, sim… — Eujin disfarçou, um pouco sem graça, fingindo procurar algo na pasta que trazia na mão. Os dois pararam diante do elevador e esperaram ele chegar.

— Foi aquela governanta fofoqueira quem lhe contou, não é? — Shin coçou o queixo lentamente, o semblante parecendo somar dois mais dois.

— Não chame Ha Jin de fofoqueira.

— Sabia! — exclamou enquanto estalava os dedos, vitorioso por ter sido certeiro.

O elevador também emitiu um estalo avisando que acabara de chegar ao subsolo. Eujin abaixou a cabeça, olhando as mãos, uma ocupada com sua pasta e a outra vazia. O bolinho de Ha Jin havia ficado no carro.

— Vou no carro rápido buscar um bolo que Ha Jin fez para mim — alertou a Shin, cruzando as portas para adentrar na caixa metálica — Segure o elevador, por favor.

— Bolo? Como assim?

Mas o outro já corria para o carro, perdendo a oportunidade de ver o rosto contrariado que o irmão esboçava ao saber daquela informação.

***

A natureza não poderia ter pintado aquele dia de melhor forma: o céu estava nublado, cinzento como a vida de tantas pessoas ao seu redor. Ha Jin caminhava em direção à sauna com uma pilha de toalhas. Já não era necessariamente seu ofício, ela poderia designar outros funcionários para aquela função, mas estava tão entediada de ficar dentro da mansão que resolvera ela mesma reabastecer os armários.

Enquanto andava, observava o ambiente ao seu redor. Além do céu escuro, as árvores estavam ressecando e havia mais gravetos que flores nesse momento. Tudo parecia secar, literalmente.

Pensou na prima e naquela situação terrível vivenciada no sábado. Ainda não conseguia entender como Gun achou que ela encararia como tudo bem, que ficaria calada e aceitaria sem pestanejar, um pedido vindo depois de tantas demonstrações de tentativas de controle, de tantas palavras humilhantes cuspidas, de tanta opressão. Na Na chorara, estava triste, mas o orgulho que sentia de si mesma por ter dito não e por enfrentar a família como fizera lhe deixava com o semblante radiante, mesmo que os olhos estivessem apagados.

Você pode ficar quanto tempo quiser, Na Na — era Ha Jin falando para a prima enquanto jantavam na noite anterior — Não me incomoda em nada, você sabe disso.

Sei que sim, e agradeço de todo o coração, prima. Mas preciso tomar um novo rumo na minha vida. Quinta-feira volto para a empresa e vou enfrentar tudo de frente. Não vou me esconder. Amanhã mesmo volto para casa. Vai dar tudo certo, eu sei que sim.

Eu também sei. Você é muito forte…

Nem tanto… — Na Na respondeu cabisbaixa — Estava cega…

O que você foi capaz de fazer é complicado. Você enfrentou uma família complicada, pessoas difíceis e conseguiu se impor. Mesmo que tenha demorado, você finalmente entendeu que aquilo não te fazia bem, e ter dito tudo o que disse foi incrível — Ha Jin incentivou.

Acho que sim, então… — um sorriso discreto apareceu como resposta.

Você vai superar tudo isso mais rápido do que imagina.

Espero que sim…

Mas sentirei falta do arroz com sete acompanhamentos todas as noites…

As duas riram e continuaram a comer. De tempos em tempos, comentavam sobre ambições e desejos futuros. Ha Jin sabia o quanto ela sofria e tudo o que ainda enfrentaria, mas tinha convicção que Na Na não se deixaria mais ludibriar. Agora tinha consciência que a prima havia tomado as rédeas de sua vida definitivamente.

A prima estava mais decidida que nunca a voltar para a empresa e enfrentar a todos, mas temia até onde toda essa coragem a levaria e se conseguiria suportar tudo de maneira positiva, afinal, fora Wang Gun que recebera o não e, se ela bem lembrava, em seu passado ele não aceitava negativas com facilidade.

Nesse meio tempo, se perdeu recordando da carona recebida. Sentiu as bochechas queimarem lembrando de como Shin fora tão prestativo ao levá-la para casa e que isso fora suficiente para que ela sonhasse com ele na noite do sábado e passasse o domingo inteiro suspirando ao lembrar.

Shin guiava a moto ladeira acima, Ha Jin tentando não apertar demais a cintura de seu condutor, imaginando os vizinhos acordando e observando a cena. Já sabia que deveria ser conhecida pelas famílias daquela ruela como a barulhenta da madrugada. Sorriu por dentro com o pensamento enquanto sentia a quentura que emanava do corpo dele.

Chegamos — ele pontuou desligando a moto. Ela agradeceu, ainda temerosa pelas especulações dos vizinhos.

Obrigada — entregou o capacete que ele colocou sobre o motor do veículo. Ela se apoiava nele para descer da garupa enquanto isso.

Fora de repente. O salto prendeu entre as pedras da rua, o desequilíbrio de quem ainda não firmara os dois pés no chão a tomou de surpresa. Sentiu que a noite se encerraria com ela caída no chão sob o olhar do herdeiro, da imponência de sua moto, com ares de riso.

O ocorrido foi completamente diferente do que ela imaginou. Com uma agilidade admirável, Shin soltou do guidão direito e a mão, rápida e firme, passou por sua cintura e a impediu de esborrachar-se no paralelepípedo duro, trazendo-a para perto dele, as mãos da governanta segurando os ombros do rapaz com firmeza, os corpos muito perto.

Os olhos de Ha Jin se arregalaram com o susto. O rosto igualmente muito próximo ao rosto dele. O peito batendo mais rápido do que a moça conseguiria achar ser possível. E ela conseguiu, por um mínimo instante, sentir o perfume inebriante que ele exalava. Nesse mesmo instante, entreviu os olhos de seu So penetrarem sua alma, e os respondeu sem desviar o olhar. Em seu íntimo, o desejo crescente de beijá-lo, de declarar seu amor… de falar tudo o que viveram em um passado distante e sofrido.

Obrigada por ter me trazido — respondeu quando ele a soltou, sentia o rosto fervendo — Nem sei como poderia agradecer tanta gentileza.

Não é gentileza, Go Ha Jin — ele respondeu friamente. Parecia perturbado — É uma questão de educação.

Então… — continuou, tensa com aquela situação, engolindo em seco — Obrigada por sua educação — retirou o blazer e o entregou para o rapaz.

De nada — falou recebendo a peça de roupa e já a vestindo — Entre.

Sim… Já vou. Tenha uma boa noite — despediu-se desconcertada daquela  situação com um movimento de cabeça, se encaminhando para a entrada do prédio. Sentia que o herdeiro a acompanhava com os olhos.

Subiu as escadas que davam para as portas dos apartamentos e não ouvia o barulho da moto sendo ligada. Curiosa sobre o porquê de ele ainda não ter ido embora, percorreu o caminho até sua porta e, antes de abrir a bolsa para pegar a chave, olhou para trás.

Shin, ainda com o capacete que ela entregara nas mãos, esquadrinhava-a de uma forma curiosa, observando enquanto ela voltava para casa. Ele permanecia parado, os dois pés sobre o chão, apoiando seu veículo de duas rodas.

Os olhos de ambos se encontraram e, novamente aparentando perturbação, Shin passou o capacete que ela usara no braço direito, recolocou o seu e, num movimento brusco e impetuoso, deu partida no motor, rasgando a noite silenciosa daquele bairro, o barulho diminuindo conforme ele se afastava.

Continuou caminhando até a sauna e adentrou no local de uma vez, empurrando a porta com o quadril devido ao volume de toalhas sobre as mãos. Era um fim da tarde de segunda-feira, estava frio naquele horário e nenhum dos Wang se encontrava em casa, então, por qual motivo a porcaria da sauna estava ligada?

Com uma exasperação exagerada, colocou as toalhas sobre uma cadeira na entrada no ambiente e, a passos firmes, se encaminhou, xingando, até o interruptor responsável por deixar aquele local tão vaporoso.  

Esperou que a visão melhorasse enquanto o vapor se esvaía. Nesse meio tempo, espanando a fumaça de diante de si, aproveitou para xingar mais um pouco, agora os dois responsáveis pela manutenção do local.

— Mas eles vão ver só… Onde já se viu? Como podem ser tão irresponsáveis ao ponto de deixarem a sauna ligada? Provavelmente os meninos a usaram ontem, provavelmente… Aqueles dois. Como permitiram que esse lugar ficasse ligado até agora?! A governanta Nyeo vai ficar irritadíssima quando souber, ah se vai…

— Não sabia que também tem mania de falar sozinha.

A voz masculina cortando a sua lhe fez sobressaltar com o susto. Virou-se de imediato e encontrou o segundo herdeiro com uma toalha envolta da cintura bem diante de seus olhos. Segurou a respiração por breves instantes.

No impulso pela visão, levou as mãos até os olhos e os tapou com firmeza. A respiração acelerou e o peito doeu aspirando a fumaça ainda presente e que rodeava suas pernas, seu corpo. Os pensamentos se tornando tão densos quanto aquele lugar.

— O que pensa que está fazendo? — ouviu a voz do homem muito próxima de si — Por que veio desabafar suas frustrações aqui, ao meu ouvido? Não se cansa de me incomodar?

— Não sabia que o senhor estava aqui, me desculpe. Já vou me retirar — respondeu rapidamente, o tom ansioso e sentiu, em seguida, os pulsos serem segurados pelos dedos de Shin.

— Olhe para mim quando fala comigo — ele ordenou enquanto lhe tirava as mãos da face — Não é educado da sua parte desviar o olhar de seus patrões.

O peito doeu novamente. Lembrou-se de todas as vezes que Wang So lhe falara sobre seus olhos, sobre a intensidade que existia neles. Imaginava que, em seu íntimo, ele pudesse ter vagas lembranças de tudo o que viveram em Goryeo.

— Desculpe, senhor… — repetiu acanhada, mas sem desviar o olhar — Não sabia que estava em casa a essa hora, muito menos que estaria aqui. Vim reabastecer a sauna com toalhas. Não esperava encontrá-lo.

— Sabe de uma coisa? — ele perguntou se aproximando ainda mais, a expressão parecia zangada — Não consigo entender o que meus irmãos veem de tão bom em você?

— O que? — ela arqueou as sobrancelhas, curiosa ao comentário — O que o senhor está querendo dizer?

— Meus irmãos mais novos viram algo em você que não consigo ver. Você é petulante, irritante e abusada. Insolente, não sabe receber ordens e é respondona. A única coisa que penso quando vejo você é em o quanto se acha autossuficiente.

— O que está dizendo? — o olhava também com os olhos semicerrados — Quem você pensa que é para falar comigo desse jeito?

— Viu só? O que acabei de dizer… — ele comentou semicerrando os olhos também — Por que você sempre aparece em todos os lugares que estou? Por que continuo tendo a sensação de que está me perseguindo?

— Eu?! — exclamou irritada — Não tenho motivo algum para perseguir o senhor. O que pensa que é? A última bolacha do pacote? Acha que só porque tem uma boa posição nesta casa pode pensar o que quiser das pessoas?

— Você é muito petulante, garota… — falou com um tom ameaçador.

— E o senhor é um grosseiro. Por que sempre me trata dessa forma quando me aproximo? Acha mesmo que o encontrei aqui por que quis? Por que tenho desejos pelo senhor? Tenho muito mais o que fazer do que perder o meu tempo lhe procurando por essa mansão.

— O que está querendo dizer com isso? — ele a cercou como um cão farejador.

Ha Jin segurou a respiração e arregalou os olhos. Shin, suado de estar naquele ambiente, apenas de toalha enrolada na cintura, aproximou ainda mais o rosto do dela, os olhos vasculhando sua alma como na noite de sábado. Os braços, cada qual de um lado do corpo da jovem, a deixaram encurralada. O peito prestes de explodir.

— Está dizendo que sou uma perda de tempo, governanta Go? — ameaçou.

— Não… Não foi isso… o que disse — ela gaguejou. Não conseguia manter a mente em estado são para responder àquela pergunta — É que…

— Disse que não sou importante…

— Senhor, não coloque palavras na minha boca.

— Você bem precisa de um jeito nessa sua boca — falou provocador, os olhos injetados de um sentimento que Ha Jin há muito não via. Era o seu So; não era apenas a aparência.

— Senhor… — suplicou encostada na parede. A voz mais parecia um sussurro que um pedido.

Não conseguia desviar os olhos dos dele, mas ele desviou o olhar do dela. Em seguida, de repente, um barulho distante e familiar se fez ouvir em seus ouvidos e ele, novamente, a olhou intensamente. Ela sentia que morreria a qualquer instante.

Shin se afastou, segurou o nó que prendia a toalha e voltou para os bancos de madeira, sentando-se. Ha Jin, quase fundida na parede, respirava com grande dificuldade, o peito subindo e descendo com rapidez. O ar quente da sauna voltando a envolvê-la.

Virou a cabeça para o lado com lentidão, parecia letárgica, e viu, em um vislumbre, o interruptor que havia desligado há pouco. O barulho conhecido viera dali. Ele religou.

Por fim, tentando se manter sã, fechou os olhos e concentrou a mente para movimentar novamente as pernas. Voltou-se para as toalhas e ligeira, e em silêncio, as guardou no armário, saindo em disparada logo depois.

Não olhou para trás, e mesmo que o fizesse, a neblina densa que já se formara não permitiria que ela visse o sorriso zombeteiro que decorava o rosto do herdeiro. Ele a observava enquanto se apressava. Ela era realmente diferente…

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Notas finais do capítulo

PS: A senhora do meio, na imagem, é a mãe do Eujin, Ji Eun-tak

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo

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