Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 32
Portas Que se Fecham são Janelas Que se Abrem


Notas iniciais do capítulo

Oi gente... Como vai o fim de domingo? Que tudo esteja tranquilo!
Agora, como prometido, entra o último capítulo do arco de Wang Gun e está cheio de novidades, assim como encerra algumas situações... Esperamos que gostem.

Antes de liberar vocês, quero agradecer imensamente, em meu nome e no de Van Vet, as novas leitoras Katherine Havegreen e Lili Rosen por chegarem por aqui. Fiquem à vontade e muito obrigada pelos comentários. É combustível para essas autoras... Assim como agradeço serena hime e Tati Hufflepuff que voltaram das sombras e nos deram seus retornos aquecendo nossos coraçõezinhos . Tudo OKAY!!!
♥♥ Obrigada a tod@s, de coração, pelo retorno nos capítulos.

Então... Agora, sem mais delongas, vamos ao capítulo. Leiam sem moderação e comentem à vontade.

FIGHTING!!!



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Na Na sentiu a mão quente de Ha Jin sobre a sua, as duas mulheres sentadas no banco de trás de um táxi, e um sorriso animador percorreu o rosto da prima a fim de tranquilizá-la. Na Na retribuiu o carinho da outra mulher, agradecendo com o olhar sereno, mas logo voltou ao seu mundo particular de medos e anseios por saber que a hora de rever Gun estava se aproximando.

Em poucos minutos, teria de ficar de frente para ele e dizer, de uma vez por todas, que aquela relação não tinha futuro. Que era para nunca mais. Não poderia viver na companhia de alguém tão destrutivo. Precisava, acima de tudo, de um tempo sozinha para se reencontrar como pessoa, como mulher… Sentia que o namorado - futuro ex - levara quase toda sua energia embora.

O táxi estacionou em frente do local indicado e Na Na estremeceu de leve. Conhecia aquele lugar, era um restaurante absurdamente requintado onde a família Wang constantemente realizava comemorações particulares. Já devia esperar que ele preparasse algo grandioso para tentar persuadi-la. Sentindo um frio na barriga, pagou a corrida ao motorista e deixou o veículo, vacilante.

— Será que vou ter dinheiro suficiente para ficar tomando uma água em uma das mesas enquanto você termina com ele? — Ha Jin perguntou, inspecionando pasma a fachada do estabelecimento.

Realmente a suntuosidade da construção espantava e assustava os desacostumados. A decoração externa era marcada por um estilo jardim zen; vidro, tijolo aparente e madeiras em pequenas e delicadas vigas contrastando entre si na ambientação externa. O jogo de luzes quentes apoiadas à vegetação orlava as janelas gigantescas num convite sedutor para o bom gosto gourmet.

— Agora eu entendo porque ele disse para você vir de social… — Ha Jin argumentou depois do torpor inicial pela visão da paisagem extravagante, passar — Só não sei se eu estou de acordo… — a garota olhou para si, um tanto acanhada por escolher usar um vestido simples que achou por um bom preço numa liquidação no centro da cidade.

— Você está ótima — Na Na balançou a cabeça discordando da prima e seus incríveis cabelos longos brilhavam a iluminação da entrada. A moça, vestindo uma peça sofisticada de frente única azul turquesa em conjunto a uma estola de pelúcia branca, subiu a rampa de acesso para a parte interna do restaurante, prosseguindo na fala — Os Wang vêm aqui com frequência. Você pode pedir para se sentar na área de espera que eles não cobrarão consumo e nem lhe perturbarão até que possa terminar com…

— Boa noite, senhoritas! — uma maître impecável em seu uniforme, vestindo preto e sapatos de salto alto, aproximou-se delas, interrompendo Na Na de um modo delicado para não transparecer desrespeito. Após uma profunda mesura, sorriu para elas e perguntou — Mesa para dois? Estão com a reserva para quando?

— Hã… Eu… Estou esperando o senhor Wang Gun… — a prima titubeou, tocando no rosto ao refletir, observou Ha Jin.

— Ah! Fazem parte dos convidados da mesa dos Wang?

— Convidados? — as duas perguntaram quase em sintonia, confusas.

— Sim… São convidadas deles?

As primas se fitaram, ainda mais atônitas. Deles? Na mente de Na Na uma suspeita macabra começando a se formar. Claro que nem em um dos dias mais importantes de sua vida, Gun facilitaria para ela. Não mesmo.

— Creio que somos — Ha Jin respondeu pela outra, que continuava atordoada, sem certeza nenhuma de nada.

— Nome, por favor — a mulher perguntou para Ha Jin. Na Na ainda permanecia pensativa para ter atenção ao que quer que fosse.

— Kim Na Na — Ha Jin respondeu em seguida, e a prima voltou sua atenção para ela.

— Sim… Está aqui. Por favor, me acompanhem — a bela funcionária pediu num floreio suave e as três mulheres seguiram cortando o restaurante em direção ao destino final.

Ao atravessarem o salão, Ha Jin não pôde deixar de imaginar todas as exclamações e caretas que Mi Ok soltaria ao ver a riqueza arquitetônica daquele estabelecimento. O teto vinha de um trabalho amadeirado magnífico, provocando espanto em olhos inéditos. Ripas sinuosas corriam de ponta a ponta, encravadas no nada modesto pé direito, se entrelaçando uma na outra como a um tapete artesanal de folhas de coqueiro.

O bar ficava localizado ao centro, um largo balcão de pedra preta com um aquário enorme, em segundo plano, entre as prateleiras de bebidas, onde um espécime aquático do tamanho de, no mínimo, um tubarão-lixa, nadava confortável rodeado de outros peixes menores. Vez por outra, ele submergia por detrás dos corais, não sendo possível, num lance tão ligeiro, a moça identificar de que bicho se tratava.

Elas terminaram de contornar todas as mesas do salão principal e subiram, acompanhadas pela maître de quadris estreitos e sedutores, uma rampa ladeada por pedras que acessava uma segunda parte do restaurante, aparentemente um jardim de inverno. Um pianista solitário dedilhava envolventes acordes em seu piano de cauda ao canto direito, uma parede de vegetação pontuada por centenas de minúsculas lâmpadas, semelhantes a vaga-lumes, atrás do músico.

Do outro lado, uma composição de poltronas e mesas, seguindo o mesmo estilo da parte interna do restaurante, e no outro extremo uma mesa redonda, muito maior, com uma dúzia de pessoas sentadas ao seu redor, além do séquito de garçons ocupados, tomando nota de pedidos e servindo bebidas.

Na Na prendeu a respiração, chocada por presenciar aquela situação, porém foi Ha Jin quem mais se sentiu deslocada, principalmente quando seu olhar conectou-se ao de Shin prontamente. Surpresa nos olhos de ambos.

— Fiquem à vontade — a moça que conduziu as primas até ali, desejou. As duas, em contrapartida, estavam congeladas em seus medos, sequer escutando-a. A mais alta agarrada à sua bolsa, a mais baixa apertando as mãos na frente do corpo.

— Olá, Na Na… — Gun ergueu-se de sua poltrona, sob os olhares dos demais convidados, e pegou a namorada pelo braço, fazendo-a soltar o aperto contra a bolsa, puxando-a de leve para um beijo entusiasmado na bochecha — Senti muita saudade — sussurrou no ouvido dela, que observava muitas cabeças voltadas para eles.

— O que é isso…? — ela perguntou estarrecida focando cada um dos cunhados, os sogros, a senhora Ah Ra e, para seu espanto ainda maior, os próprios pais. Todos na mesma mesa, a mesa deles.

— Sua festa de aniversário, querida — Gun comentou, sorrindo-lhe carinhosamente exibindo uma piscadela sagaz ao mesmo tempo que tocava-lhe na cintura, alisando sua pele sob o tecido fino com os dedos.

Pouco importava se era a festa dela. Ela nem atentava-se com a data naquele dia e se ele pudesse lhe dar um presente, que fosse não ter armado aquele circo absurdo para intimidá-la mais uma vez. Por um segundo, mergulhada em seu transe ao ter as expectativas do término imediato minado, seu olhar captou Taeyang a três poltronas de distância do local em que Gun abriu espaço para que ela sentasse. O rapaz a fitando cheio de significância.

— Essa garota, quem é? — Min-joo se fez ouvir entre os participantes da mesa, apontando com o queixo para Ha Jin que permanecia de pé.

— Minha sobrinha! — Hyoon Jin-hi, tia de Ha Jin, a irmã mais nova de sua mãe, respondeu, sorrindo para a governanta, se levantando para arrematá-la num abraço apertado. O tio, Kim Cheul, imitou a esposa, saudando a jovem moça, a subalterna da maioria daquelas pessoas — Como vai, minha linda sobrinha? Está tão magrinha…

— Eu vou bem, tia — Ha Jin respondeu, finalmente se recompondo um pouco do susto inicial e, enfim, desviando os olhos do olhar de Shin. O rapaz voltou sua atenção para a bebida.

— Não sabia que tinha convidado ela também, Wang Gun? — Hyoon Jin-hi questionou para o genro, alegremente.

— Também não — ele argumentou, observando a governanta, mas sem querer dispensar muita atenção a ela.

— Impossível se livrar de certas pessoas… — Yun Mi, linda e bem-vestida como de costume, soltou a frase no ar para ninguém em específico, revelando um pouco da sua alma intragável.

— Agora estou lembrando…— Min-joo retomou a palavra, entediada. A ex-senhora de Hansol vestia um de seus chamativos vestidos de grife, cintilantes, em tons de lilás. Desta vez, os cabelos estavam presos num coque frouxo no alto da cabeça — É a empregada que derrubou a bandeja naquela reunião ridícula que Hansol promoveu para falar asneiras... Onde essa família vai parar?

— Chega, mamãe — Gun cortou a senhora rispidamente. Haviam feito as pazes havia poucos dias e ela, não por consideração à família de sua nora, mas por trégua com o filho, apenas deu de ombros.

— Um lugar para você… — continuou Hyoon Jin-hi avaliando as poltronas ao redor da mesa, notando todas estarem ocupadas — Como faremos…

Shin, usando uma camisa cinza de mangas compridas, muito bem ajustada ao seu corpo, apoiou o copo sobre a superfície de madeira e preparou-se para levantar. No mesmo instante, Eujin se ergueu, dizendo:

— Eu peço uma poltrona a mais — ofereceu-se todo solícito, sorrindo para a amiga governanta. Shin, sem ser notado pelos demais, retornou discretamente à sua posição, resgatando o copo de bebida e o levando aos lábios.

— Deixa que eu vou, não tem problema — Sun prontificou-se em seguida, desgrudando a atenção do seu smartphone momentaneamente. Também sorriu para Ha Jin de um modo maroto, os cabelos tão coloridos quanto o colete brilhante que ele usava, com certeza para contrariar quem se sentisse ofendido por vê-lo vestido assim em mais um evento letalmente massante de sua família.

— Estou indo! — Jung exclamou, atropelando os irmãos ao sair do seu assento abruptamente, ajeitando o blazer sobre a camiseta clara, que destacava-lhe sutilmente o tórax definido, e correndo para o salão atrás de uma poltrona vaga.

— É praticamente um selvagem — Eujin observou o irmão, achando graça e retornando para o seu lugar.

Ao mesmo tempo que as acomodações de Ha Jin eram preparadas, Na Na terminava de se sentar ao lado de Gun, as mãos voltando a agarrar a bolsa obstinadamente. Ele voltou a passar a mão pelas suas costas, o semblante confiante e já sem nenhum vestígio da briga travada contra Taeyang semanas atrás.

— Você está linda, minha querida — galanteou, enchendo ele próprio uma taça de vinho para ela.

— Por que está fazendo isso? — ela perguntou, entredentes, o choque dando espaço, gradativamente, à indignação — Você sabe muito bem o que aconteceria aqui, hoje, Gun…

— Não se exalte — o herdeiro a interrompeu, levando o indicador aos lábios de Na Na, apenas para irritá-la ainda mais — Você que não sabe o que vai acontecer aqui, hoje. Confie em mim, por favor. Tenho certeza que vou me redimir de tudo em algumas horas. Guardar mágoa para quê? …

— Bateu com a cabeça? — ela arregalou os olhos, cada vez mais indignada.

Gun sondou ao redor, torcendo para que todos estivessem ocupados com suas conversas e bebidas, pouco se importando com o casal principal e o inconveniente trabalho que Na Na estava dando para entender o quão importante estava sendo o evento preparado por ele.

Taeyang era o único completamente interessado no que se passava com eles. Ao cruzar o fitar no de Gun, seus olhos faiscaram de raiva, o irmão tendo certeza de que faltava muito pouco para o outro abandonar sua poltrona. Naquela noite, contudo, o herdeiro obstinado desejava Taeyang quieto, um espectador que assistiria de camarote, calado e destruído por dentro, enquanto ele triunfava em definitivo.

— Quem bateu com a cabeça? — Min-joo intrometeu-se, mirando a nora desconfiada.

Gun, entre a mãe e a namorada, dedicou alguma atenção à senhora, pedindo para que ela fosse mais gentil ao se intrometer em assuntos que não lhe diziam respeito.

— O que há com você, filho? Quer me matar de desgosto, agora? Falando assim comigo, somente porque…

— Deixe o garoto e sua nora em paz, Min-joo — Hansol pediu, ao lado dela. Parecia mais descontraído e pressuroso por sossego durante o jantar. Ah Ra, do lado esquerdo do esposo, achou que sua opinião também valia alguma coisa na roda.

— Realmente, Min-joo, seja um pouco civilizada e simpática ao menos hoje, na comemoração do aniversário de sua futura filha — disse toda pomposa, novamente o excesso de maquiagem nos olhos a tornando centenas de anos mais velha — Ela é uma boa moça.

— Quer para você, então? — a ex-esposa perguntou por cima do ombro de Hansol para a atual.

— Aishh… Parem as duas — Hansol retorquiu a ambas, bateram seu copo na mesa para tentar encerrar as picuinhas e, de quebra, sendo interpretadas por um garçom impaciente pelo desejo de uma nova dose de uísque.

No outro extremo do móvel, Jung retornava carregando uma das pesadas poltronas, seguido de outro garçom, aflito por ver o cliente se dando ao trabalho de executar uma tarefa que não era dele. O rapaz acomodava a poltrona destinada a Ha Jin ao seu lado quando o irmão mais velho disse:

— Ela fica do meu lado — Shin apontou para sua direita.

— Por que? — Jung perguntou levemente contrariado. Os olhos arregalados de Ha Jin o encarando também.

Shin sentiu o peso de mais alguns olhares sobre si. Os pais de Na Na, Eujin, Sun e Yun Mi, além de Gun e Min Joo, que usaram o familiar desprezo no olhar.

— Ora, não é óbvio? — ele balbuciou, mirando o vazio para esconder o constrangimento nos olhos — Os tios dela estão do meu lado…

— Ah… — Jung analisou a disposição dos convidados, ficando muito desanimado, os ombros caídos e a expressão desnorteada ao se dar conta da questão apontada pelo irmão mais velho — É verdade…

Se arrastando como um condenado, mas recusando a ajuda do garçom para carregar o objeto, o rapaz acomodou a poltrona de Ha Jin ao lado da tia. A governanta sorriu para ele em agradecimento e tocou levemente em seu braço enquanto agradecia com um leve sorriso, deixando o filho mais novo de Min-joo abobalhado pelo gesto por alguns segundos. Em seguida ela, enfim, pôde descansar as pernas enquanto o garoto voltava como se carregasse o peso do mundo nos ombros para o seu assento.

Imediatamente, a senhora Hyoon Jin-hi se pôs a papear com a sobrinha, já que a filha continuava muito distante, sendo abordada por Gun. Shin avaliou a jovem governanta ao seu lado, um cheiro bom de perfume despontando no ar, ao mesmo tempo em que ela ocupava aquele espaço à sua direita.

Diferente das demais mulheres à mesa, Na Na admirável, sua mãe extravagante, a senhora Ah Ra cintilante, a cunhada Park Sun Hee elegante, a irmã sofisticada, e até a sogra do irmão, que escolhera um vestido pomposo, Ha Jin estava vestida com simplicidade.

O tecido do seu vestido não tinha nada de especial, tão pouco as joias artesanais adornando seu pescoço e pulsos. Os cabelos não foram trabalhados em nenhum penteado extraordinário, na verdade, formavam uma trança que ela escolheu deixar apoiada sobre o ombro esquerdo. Para finalizar, havia aquele batom rosa, dando cor aos lábios. Lábios estes que sorriam educadamente durante a conversa com a tia ao passo que a mão esquerda brincava com a mecha de cabelo sobressalente no final da trança. De repente, Shin caiu em si ao descobrir o quanto aquela tal Go Ha Jin poderia ser agradável aos olhos quando bem-arrumada.

— E como anda esse seu coraçãozinho, minha querida? — a tia da governanta perguntou a ela.

— Vai indo tudo bem — Ha Jin concordou, a voz carregada de positivismo.

Shin curvou-se para frente, tentando se distanciar do som da voz de Yun Mi, passando alguma lição de moral idiota em Sun, para conseguir escutar exatamente sobre o teor do diálogo. Falavam de namorados? E ela dizia ir bem…? Então Go Ha Jin tinha mesmo um namorado...

— Sua mãe disse que está tomando os remédios todos os dias — a velha continuava com um tom de preocupação na fala — Mas ainda não posso acreditar. Uma moça tão jovem, tão saudável de aparência, tão bonita quanto você, dependendo de remédio para o coração tão cedo. Problemas cardíacos na sua idade… Onde já se viu! — lamentava.

O herdeiro estancou diante da revelação. A governanta era doente, então? Vivia à base de medicações diárias por que tinha um problema cardíaco? Aquilo parecia um tanto triste.

— Tia, eu estou ótima — começou a responder, amável — É algo que me acompanha desde a infância. O médico disse que é congênito. Acontece que depois do problema no lado e daquele tempo no hospital sofri uma forte emoção e tive uma crise de arritmia.

"Por um lado foi bom, porque assim eles conseguiram identificar meu problema logo, e por isso tenho vivido perfeitamente bem, não se preocupe. Até exercícios físicos eu posso fazer se quiser... Minha saúde está totalmente de acordo com a de uma pessoa da minha idade e isso é graças aos remédios."

— Mesmo assim, minha querida. Não é algo fácil de lidar. Sua mãe tem estado muito preocupada também.

— Eu sei, tia... E me preocupo com isso. Mas mamãe exagera, a senhora sabe... Estou me cuidando. Tenho tomado os remédios e eles vão me manter enquanto consigo o dinheiro da cirurgia.

— Sim, sua mãe comentou… Como foi isso?

— Depois dos últimos exames descobri que tenho a possibilidade de corrigir o problema com cirurgia, mas é bem cara... Vai demorar um bom tempo até conseguir tudo e, até lá, vou levando minha vida normalmente.

— Ha Jin...

— Estou bem, tia. De verdade — o tom de voz era doce, gentil.

— Mas não deixo de me preocupar… — a senhora pousou a mão sobre a mão da sobrinha, apoiada na mesa.

— Eu sei…

— Essa comemoração está muito suspeita — Eujin comentou ao lado esquerdo de Shin o obrigando a se desconectar de uma conversa, a qual, certamente, não era da sua conta.

— Hum… É, concordo — bebericou em seu copo, recompondo-se — Principalmente pela cara da namorada do nosso irmão. Ela não parece nada bem.

— Pobre garota… — Eujin suspirou — E é uma pessoa legal, ainda por cima...

— Ela é mais que legal… É especial — Taeyang surgiu como uma presença assustadora, ao lado de Eujin, fazendo os dois irmãos olhá-lo como se estivessem vendo-o pela primeira vez em anos.

Taeyang não tinha nenhum histórico de puxar assunto numa conversa que incluísse Shin, mas ele também exibia uma expressão estranha, diferente de qualquer outro dia. Se o irmão pudesse definir Taeyang em uma palavra seria "amargura".

— Uma espécie de santa, eu diria, para aguentar o Gun — Eujin concordou ao seu modo, mirando Shin de esgueira.

— Vamos torcer para que ela acorde logo — Shin reforçou o desagrado dos demais, cauteloso em se prolongar num assunto fora de seu escopo.

As horas se arrastavam e o jantar de comemoração ao aniversário de Na Na parecia não ter fim. Ha Jin encarou a prima diversas vezes, testemunhando o desespero no íntimo da moça de se desvencilhar daquela armação de uma vez por todas.

No desejo da jovem governanta, ela gostaria de ter presença de espírito suficiente para tomar o controle da noite, jogando na roda sobre as reais intenções de Na Na para o reencontro com Gun. Ela pressentia que as coisas poderiam ficar muito piores se a prima adiasse o fim da relação com o herdeiro por mais tempo.

O momento das refeições finalmente chegou, Ha Jin observando o cardápio com angústia ao se dar conta dos valores de cada prato. Ela não sabia bem como a comemoração funcionaria nesse sentido, mas imaginou que a conta da noite estivesse por conta de Gun, o organizador do evento, apenas avaliando a forma tranquila como seus tios escolhiam o jantar. A família da prima era como a sua, simples, portanto aquele luxo todo do restaurante não combinava com seus bolsos.

— Além de tudo é indecisa… — Shin comentou para a garota, por sobre seu ombro, observando-a analisar os itens do menu demoradamente.

— Eu… É que… E você já pediu, por um acaso? — Ha Jin se deparou com ele a encarando, misterioso e irônico. As mãos ficaram geladas pela enésima vez, o fato se repetindo sempre que se dava conta de que Shin estava bem ao seu lado.

— Já — respondeu com um meneio de cabeça — Esse aqui — apontou para um nome difícil de se pronunciar no cardápio — Vai por mim, é…

— Ha Jin! Ha Jin! Experimente este — a cabeça de Jung surgiu magicamente entre eles, roubando a atenção da governanta para si — É um dos meus pratos preferidos nesse restaurante…

Enquanto Ha Jin era capturada, praticamente raptada, pela atenção do irmão, Shin afastou-se experimentando certa contrariedade e aborrecimento pelos excessos de Jung. Faltava somente o rapaz colocar um letreiro na testa declarando sua paixonite pela garota e isso poderia, quem sabe, acabar prejudicando-a no trabalho devido a tantos olhares suspeitos e acusatórios na mesma mesa.

Na verdade, ele nem sabia porque se metera naquele evento insuportável com a família. Ah, sim, Eujin o alugou a tarde inteira para que aceitasse o convite dado por Gun para que todos os moradores da mansão comparecessem de social às 19 horas em ponto naquele lugar. “Vem alguma coisa grande por aí”, Eujin comentou “Até Taeyang, eu soube que ele convidou!”. E então Shin acabou rendido pela curiosidade mórbida e acompanhou o mais novo na próxima aventura Wang.

Claro que Gun não gostou nada de vê-lo entre os convidados, talvez tenha se esquecido que ele também era um morador da Mansão da Lua, mas apenas dedicou-lhe seu famoso olhar de desprezo e o ignorou pelo resto da noite. Foi um favor que ele fez a Shin, um presente sincero evitá-lo, porém sua mãe não compactuava daquele bom senso. Eram constantes os olhares ácidos que ela lançava sobre seu primogênito, que hora erguia seu copo em comemoração ao reencontro deles, ora a desprezava por completo. E aquela noite ainda parecia longe do término…

Ha Jin acabou acatando a sugestão de Jung, por insistência do amigo mais do que tudo e, no fim, apreciou o prato sugerido. Como toda comida sofisticada, viera pouco e era enfeitada demais, mas serviu ao propósito de alimentá-la, ela que se sentia tensa, sem muita fome, e por diversos motivos. Shin ao lado o tempo todo; A conta do seu prato que finalmente a tia sussurrou em seu ouvido que tudo estava sendo bancado por Gun; E, o mais crucial, os olhares de súplica que Na Na lançava sobre Ha Jin, como se a garota tivesse algum poder super-heróico de abduzi-las dali.

Depois que os pratos foram retirados e as sobremesas servidas, a garota escutou, entre uma garfada e outra de seu doce, os tios comentarem sobre algo muito alarmante:

— Eu não sei como vamos dar conta disso tudo, mulher — Kim Cheul, o tio, cochichava para a esposa, que acenava discretamente para ele falar o mais baixo possível.

— Pare, pare… Nós vamos dar um jeito… Abriremos a lavanderia todos os dias, até nos domingos, e podemos usar um pouco daquela economia da nossa aposentadoria também… Casamento é algo único, Cheul, e eu quero que a minha filhinha seja uma rainha nesse dia…

— Eu sei, eu também quero… Até parece que eu não me importo com Na Na… — o homem resmungou, ofendido — Mas mesmo apertando para todos os lados, não sei se conseguiremos bancar esses custos tão em cima da hora. Não era pra eles se casarem só daqui muitos meses? Por que esse rapaz resolveu adiantar o pedido? Por que? Estão me escondendo algo, não é? Por que Na Na precisou tirar férias repentinas e sumir de casa?

— Pare de me olhar assim como se eu tivesse todas as respostas do mundo, homem! — Jin-hi respondeu atravessado, murmurando.

Ha Jin inclinou-se sorrateiramente para perto dos tios, para saber se aquilo que entendia era aquilo mesmo, quando Gun se ergueu de sua cadeira e bateu suavemente o talher de prata sobre a taça em sua mão, captando a atenção de todos os presentes na mesa, e também de alguns nas mesas vizinhas. Ele pigarreou, colocou sua máscara alegre e espontânea, a que a governanta conheceu no momento que o reviu pela primeira vez naquela vida atual, e tomou a palavra:

— Finalmente é chegado o momento… Estou me guardando, me protelando durante toda a noite, mas por dentro a ansiedade cresce mais… Ao longo de quatro anos estive com uma garota incrível, bonita, amorosa e companheira. Uma garota que sei que muitos por aí cobiçariam… — ele apoiou a taça e o talher na mesa e prosseguiu, uma das mãos mergulhando dentro no bolso da calça — As últimas semanas têm sido complicadas e por motivos óbvios…

"Pressão no trabalho e a reta final do meu mandato como CEO, algo que fiz com dedicação e competência, para o bem de nossa empresa familiar. Entretanto, acabei me dedicando pouco a parte sentimental da minha vida e à minha namorada… Bom, as pessoas costumam dizer que somos noivos, nós mesmos acabamos por nos referirmos assim às vezes, mas ainda não tive a oportunidade de oficializar nada e colocar um lindo anel no dedo dessa linda mulher… Não estive nos meus melhores dias para você, Na Na — virou-se, a moça sentada em sua cadeira, olhando-a de um modo auspicioso — Mas agora eu estou…"

Ha Jin fechou os olhos como se ver o desfecho daquela cena pudesse cegá-la, lamentando o que viria a seguir. Ao abri-los novamente não conseguiu ser poupada do momento, vendo Gun tirar do bolso do terno uma caixinha vermelha, que abriu suavemente, sobre as exclamações animadas de alguns poucos convidados, revelando um anel reluzente, enquanto terminava seu monólogo numa pergunta:

— Na Na… Casa comigo?

Tudo ao redor de Na Na ficou escuro momentaneamente. Ela não conseguia ouvir nada. No seu ouvido um zumbido constante e, na cabeça, a pontada que começava a incomodar e se alastrar para a sua nuca. Sentia o corpo completamente gelado. Todo o corpo tremendo em resposta àquela situação.

Por um instante fugaz, viu o olhar de Taeyang, tenso e apreensivo, fitando-a. O desejo que tinha era sair dali correndo e nunca mais se envolver com nada que dissesse respeito àquela família, porém as pernas não obedeciam e seu corpo permanecia letárgico ao lado de Gun.

De repente, e ela não sabia quanto tempo fazia que estava parada fitando o vácuo que se formou diante de seus olhos, começou a ouvir zumbidos que pareciam ser pessoas comentando o fato de ela estar assim, sentada, atônita, pensando em tudo, menos no que acabara de ouvir. E agora que o seu cérebro parecia voltar a funcionar, se indagou: Gun havia mesmo feito aquilo?

Como que em câmera lenta, sentiu seu pescoço se mover e os seus olhos focaram o rapaz de pé ao seu lado. Ele lhe mantinha um sorriso altivo, mesmo que aparentasse tensão. Sua expressão era ansiosa e, ao mesmo tempo, inquisidora. Ela deveria lhe dar uma resposta, era isso.

Olhou novamente para a sua frente, um embrulho angustiante se formando em seu estômago. Seus pais a olhavam com espanto. Ha Jin, de olhos levemente arregalados, mostrava para ela que compactuaria com sua decisão fosse ela qual fosse, porém, deixava claro naquele fitar o que achava que a prima deveria fazer.

— Garota, o que pensa que está fazendo? Responda de uma vez! Acha que terá a mesma sorte outro dia? Meu filho lhe pediu em casamento. Por quanto tempo vai ficar com essa cara de boba olhando para o nada? Não tem o que pensar diante de um pedido desse.

Aquela mulher repetiu o que ela imaginou ter ouvido errado. Aquela mulher que sempre a tratou da pior forma possível. Aquela que a humilhava, que lhe diminuía diante de todos sem se importar com seus sentimentos, com seus pensamentos. Aquela mulher da qual Gun nunca fora capaz de defendê-la estava ali, insistindo que ela aceitasse o pedido de seu filho.

Que tipo de vida teria se aceitasse esse pedido?

— Com licença — Na Na falou finalmente. A voz trêmula, o olhar perdido. Levantou-se atordoada — Preciso ir ao banheiro.

E saiu em seguida. Suas pernas pareciam amolecidas e sustentavam seu corpo com dificuldade. Enquanto se encaminhava para fora da mesa, ainda ouviu um "Mas é uma sem classe, mesmo… Como teve coragem de pedir essa criatura em casamento?" e em seu coração, o desespero começou a transformar toda aquela tensão em aflição. A garganta começava a fechar enquanto os olhos queimavam ao produzirem uma quantidade considerável de lágrimas que ela se esforçava em manter longe de seu rosto.

No banheiro, tentou manter as lágrimas intactas em seus olhos, mas elas estavam descontroladas e insistiam em rolar pelo seu rosto. Inundavam-no, borrando a pouca maquiagem que havia colocado naquela noite. O desespero alcançando sua mente.

Como ele podia fazer algo daquele tipo?”

Como pôde me pedir em casamento depois de tudo o que me disse?”

O que ele acha que sou? Por que sempre tenta me comprar quando comete seus erros?”

Por que não se importa comigo? Com meus sentimentos? Com como me sinto?”  

Sempre ele. Sempre suas vontades. Sempre seus desejos. Como ele pôde preparar tudo isso e achar que eu iria gostar?”

— Por que você não se importa com ninguém, Gun? —  perguntou ao reflexo no espelho — Você acha mesmo que sou tão idiota?

— Na Na…? —  Ha Jin adentrou no banheiro e encontrou a prima diante do espelho, os olhos brilhavam com as lágrimas. O rosto praticamente encharcado diante daquele choro incontrolável.

— Por que ele fez isso, Ha Jin? Por que ele me trata como se eu fosse um nada? Por que ele não se importa com o que eu digo, com o que eu penso? Por que as coisas têm sempre de ser do jeito que ele quer?

— Preciso mesmo responder essas questões? — a outra perguntou sinceramente — Não quero jamais me meter em sua vida ou influenciar suas escolhas. Não quero que tome atitudes só porque eu disse que deveria, porque achava que era o melhor. Você precisa ter consciência do que você quer, e você bem sabe o tipo de vida que terá caso sua resposta seja sim…

— Eu não quero isso para a minha vida…

— Então não aceite. Você não é obrigada a aceitar. Você não deve nada para ele e, mesmo que devesse, nada seria motivo suficiente para fazer com que você se casasse sem sentir que deve.

—  Eu não quero casar com ele… Ele não é o que eu quero para mim. Gun não me faz bem. Não me trata com respeito nem considera a minha opinião para nada. Ele me trata como se eu fosse parte de mais uma de suas conquistas. Ele não me ama… Eu sei que ele não me ama, Ha Jin —  as lágrimas continuavam a cair de seus olhos regando a louça da pia — Como eu pude me enganar por tanto tempo? Como eu me permiti ser tratada desse jeito? Como eu pude ser tão idiota ao ponto de pensar que ele sentia qualquer coisa que fosse por mim?

—  Você não é idiota, já te falei. Você se deu inteiramente e não deve ter vergonha disso. O problema não está em você…

— Tanto tempo da minha vida dedicado a um homem que nunca se dedicou a mim…

—  Mas você tem todo o tempo do mundo, Na Na… Não é porque isso deu errado que sua vida será sempre assim. Sei que é muito cedo para falar sobre isso, mas eu tenho certeza que existe alguém que te ama de verdade por aí… Alguém que cuidará de você como parte dele, que respeitará sua opinião e dará crédito ao que você pensa. Alguém que te amará por suas qualidades e que saberá conviver com seus defeitos…

— E o que eu faço agora? — Na Na parecia desnorteada.

— Enxugue seu rosto — Ha Jin olhou ao redor, procurando o típico papel toalha, mas encontrando um amontoado de toalhas de rosto felpudas e macias no lugar. Pegando uma delas, ainda incerta se aquilo substituía o papel padrão, estendeu para a outra garota — Volte lá e diga o que pensa. Estarei do seu lado.

As duas mulheres fizeram o caminho de volta para a mesa onde as famílias esperavam. Na Na, rígida diante de toda aquela pressão, retornou para o lado de Gun e, antes de sentar, encontrou o olhar preocupado de Taeyang. Ele parecia angustiado e a sua expressão deixava a jovem mulher ainda mais abatida. Também não queria que Taeyang fosse obrigado a presenciar todo aquele desfecho.

— Por que demorou tanto? — Gun perguntou sem muita delicadeza. Parecia incomodado — Eu fiz uma pergunta simples. Só precisava dizer sim. Não tinha motivos para isso…

— Não vai falar nada, garota? — Min-joo novamente se fez ouvir. Ela observou a senhora ao lado de Hansol. O homem mantinha o mesmo olhar enigmático durante todo o tempo. Sua atual esposa, Ah Ra, do outro lado, olhava para ela como se esperasse ansiosa pelo fim de um grande espetáculo, assim como sua filha, Yun Mi.

— Você está bem, minha querida? — ouviu a voz da mãe em seu tom de preocupação. A mulher, sempre tímida diante daquela família, parecia não se importar com mais nada além dela que balançou a cabeça afirmativamente.

— Então por que não responde de uma vez? — Min-joo retorquiu, muito impaciente. Seu tom prepotente e acusador mais afiado que nunca — Não temos todo tempo do mundo… Além do mais, já falei que não há o que pensar diante de um pedido desse.

— Deixe a senhorita Kim Na Na respirar, Min-joo. Ela foi pêga de surpresa. Não é fácil — Hansol a defendeu e ela, com o coração batendo rápido e dolorosamente em seu peito, encontrou aceitação no olhar do chefe. Ele sabia. Ele sabia de tudo o que houve…

— Não — a voz de Na Na fora um sussurro audível a poucos. Os olhos baixos fitavam as mãos.

— O que? — Gun perguntou irritado.

— O que você disse, garota? — Min-joo falou colérica.

— Não imaginei que esse jantar seria tão divertido — Ah Ra comentou bebericando sua bebida.

— Filha… — a voz na mãe lhe chamou de volta novamente.

— Eu peço desculpas por ter saído dessa forma da mesa, mas realmente não estava me sentindo muito bem — Na Na começou sua defesa com dificuldade. As palavras pareciam se prender na garganta — Também quero agradecer a todos por estarem aqui… Viemos para comemorar o meu aniversário como Gun havia dito mais cedo e eu realmente agradeço, porém… Mesmo diante disso tudo, minha resposta é... Não.

— O que? Como você… — Gun interrompeu enquanto Min-joo fazia uma expressão chocada. Ah Ra e Yun Mi sequer conseguiam esconder seus sorrisos animados, mãe e filha se divertindo enquanto os demais mantinham suas expressões sérias e tensas.

— Não posso aceitar esse pedido de casamento — a pretendida do herdeiro Wang continuou ignorando as palavras dele, mas o fitou profundamente — Quando aceitei jantar com você essa noite, era para conversarmos, não para isso. Então, já que decidiu que fosse assim, falarei o que queria aqui, diante de todos.

"Eu não posso aceitar ter um futuro no qual não me encaixo. Eu não sei porque você planejou tudo isso sem a minha permissão… Ou melhor, você sempre fez tudo sem se importar com a minha opinião… Não deveria ter me assustado tanto com esse pedido, só não imaginei que você iria tão longe em sua mania de me manipular."

— Do que você está falando? — ele perguntou parecendo atordoado.

— Estou falando que não vou mais permitir que você controle a minha vida. Não vou me submeter aos seus caprichos, aos seus desejos… Eu tenho uma vida também. Eu tenho sonhos… tenho minhas próprias opiniões e sei decidir o que eu quero ou não para a minha vida, então, agradeço novamente a todos por estarem aqui essa noite — se direcionou novamente aos familiares, se levantado e produzindo uma demorada vênia a todos — E me desculpem por terem que presenciar tudo isso nessa noite — voltando-se para Gun, encerrou — Por favor, não me procure mais.

Falando essas palavras, pediu licença aos convidados, que permaneciam calados diante daquela situação, e saiu daquele lugar. Sentia que um peso terrível havia sido retirado de seus ombros. Sentia como se estivesse finalmente livre agora. Antes de ir, encontrou pela última vez o olhar de Taeyang. Ele parecia surpreso, porém feliz.

Enquanto a moça saía, Gun, com o rosto injetado de raiva, tinha a respiração pesada e irritada olhando para um ponto invisível diante de si. Parecia ter sido sugado para um mundo particular de decepção e não percebeu o movimento rápido feito por Taeyang, que tencionava ir encontrar a garota que havia acabado de sair. Shin, atento a tudo o que acontecia, percebeu esse movimento involuntário ser abafado quando Ha Jin levantou-se bruscamente do seu lado e correu atrás da prima.

— Na Na… — Ha Jin chamou-a e esta parou, permitindo ser alcançada já do lado de fora, na calçada — estou do seu lado, sempre…

As duas se abraçaram diante do restaurante. Na Na, chorando copiosamente, soluçava sobre o ombro da prima. Ha Jin não poderia imaginar o que ela sentia agora, mas a apoiaria em tudo. Conseguira se livrar daquele homem e, agora, tinha certeza, sua vida começaria a ter um novo rumo.

— Vamos embora, Ha Jin. Não quero ficar um segundo sequer aqui…

— Minha bolsa… Ficou lá dentro — a jovem governanta comentou percebendo o detalhe.

— Vá buscar e…

— Está vindo um táxi — Ha Jin comentou sinalizando pela prima — Vou buscar minha bolsa e vou em seguida, melhor você ir logo. Mi Ok está em casa nos esperando. Vai dar tudo certo.

— Tudo bem — ela respondeu enquanto a mulher mais baixa abria a porta para que ela entrasse.

— Já estou indo em seguida. Fique com Mi Ok até eu chegar, por favor.

— Certo… — as lágrimas caíram novamente — Te espero em casa.

— Sim…

Ha Jin caminhou rápida e decidida de volta para o restaurante, em direção à mesa onde deixara a bolsa. Ao se aproximar, presenciou algo que ela jamais poderia acreditar ver: a tia, conhecida por sua timidez, discutindo - em um tom altivo - com a senhora mais petulante dentre os convidados, Min-joo.

A moça desistiu de simplesmente pegar a bolsa e deslizou para sua poltrona antes de direcionar a atenção para aquele embate. Sem esperar, sentiu a mão de Shin sobre a sua que repousara tensa sobre a perna, sendo puxada subitamente daquele momento para um onde apenas existiam eles dois.

Os olhares se encontraram antes que ele lhe perguntasse "Sua prima está bem?" Ela, atordoada, sinalizou com a cabeça que sim e a mão dele se distanciou do seu corpo. Em choque por aquele breve contato, teve a atenção novamente desviada para a discussão que se travava entre as matiarcas envolvidas.

— E você acha mesmo que a sua filha vai ter uma outra oportunidade como essa? Olhe para vocês… Não têm classe ou berço. Sua filha é uma tola.

— Minha filha sabe muito bem o que é melhor para ela. Não é a quantidade de dinheiro que temos em nossa conta bancária que diz se somos ou não boas pessoas. Somos humildes sim, e temos orgulho disso. Não precisamos nos sentir bem humilhando os outros — Hyoon Jin-hi defendia a filha.

— Todos sabemos que aquela garota estava apenas procurando um nome…

— A senhora respeite a minha filha — a mulher se exaltou interrompendo Min-joo, tensionando ficar de pé e sendo contida pelo marido — Não precisamos do seu dinheiro, senhora. Sabemos muito bem que nome e posição social não compram caráter.

— O que está insinuando, sua pobretona…?

— Min-joo, já chega — era a voz de Hansol, imponente se colocando no meio daquela discussão — Gun, leve sua mãe para casa.

Gun, até então mergulhado em um mundo impenetrável, olhou para o pai com desprezo. Sustentou o olhar para cada um dos que estavam ali presentes, demorando-se mais do que necessário ao encontrar os olhos de Taeyang. Os dois se olharam por um longo tempo, os olhares falando mais que qualquer palavra poderia dizer. Distante de seus ouvidos, percebeu a mãe novamente indo de contra a senhora Hyoon Jin-hi. O pai se interpondo entre as duas enquanto o senhor Kim Cheul tentava controlar a esposa.

— Vamos, mamãe — falou de uma vez, levantando-se após quebrar o olhar sustentado por Taeyang. O rosto colérico — Não temos mais o que fazer aqui.

— Sim… — Min-joo saiu de sua cadeira em seguida — Não tenho mais nada para fazer aqui no meio dessas pessoas… — e olhou com superioridade para todos — Não quero mais me misturar…

E debandou dali antes mesmo que o filho, que a seguiu logo atrás. Os demais permaneceram sentados. A maioria parecendo letárgica diante daquela cena. Foi a voz de Hansol que quebrou aquele momento de profundo coma.

— Por favor, desculpem a senhora Min-joo. Ela não sabe aceitar um não e não consegue lidar muito bem com as perdas. Infelizmente, Gun é assim também, mas eu peço desculpas em nome dos dois.

— Tudo bem, senhor Hansol — Kim Cheul respondeu em nome da família. A esposa conversava aos sussurros com Ha Jin — Mas gostaríamos de deixar claro que estamos ao lado de nossa filha e a apoiaremos em tudo. Entendemos que a senhora Min-joo tenha se sentido ferida em seu orgulho. Seu filho recebeu um não e isso não deve ser fácil.

— Agradeço por compreender — Hansol continuou amigável — E gostaria de dizer que Na Na é uma garota querida em nossa família. Nada mudará em relação a ela. Sei que as coisas irão se resolver e que ela ficará bem. Não deve ter sido fácil.

— Agradecemos — o homem aceitou as desculpas, complacente — Agora, se nos der licença, já vamos embora.

— Posso levá-los — Eujin se ofereceu doido para sair dali. Hansol sorrindo discretamente para o filho e o compreendendo, concordou com aquele gesto.

— Não, rapaz. Não precisa se incomodar — Kim Cheul ergueu a mão, acenando.

— Não é incômodo nenhum… Faço questão — Eujin já se levantava, dando boa noite para todos, incentivando os pais de Na Na para segui-lo.

— Ha Jin… — Taeyang, pulando para a cadeira ao lado de Shin, ocupada anteriormente por Eujin. Yun Mi, que conversava com a mãe sobre a noite, focou o irmão sentar-se em busca da governanta, esforçando-se, mas não conseguindo ouvir o que falavam. — Para onde Na Na foi?

— Para minha casa — ela respondeu ao ver o rapaz tão aflito. Shin entre os dois achava a conversa interessante e ela o olhou de esguelha, sentindo-se incomodada por estar tão perto dele.

— Eu preciso falar com ela, Ha Jin. Me dê o endereço, por favor…

— Eu não posso, Taeyang — ela respondeu firme tentando ignorar a presença do outro e Shin olhou desconfiado para a moça. Não havia formalidade em suas palavras — Ela precisa ficar só. Eu sei que você entende.

— Entendo… Mas sei que você me entende também — o rapaz continuou, a voz angustiada.

— Vou cuidar dela, não se preocupe — ela sorria bondosa — E vou te falar sobre o que ela permitir. Tudo isso aqui foi muito difícil para ela… Na Na precisa de mais um tempo.

— Eu sei, mas…

— Então, acho que essa noite acaba aqui — Hansol falou em alto e bom tom, interrompendo os dois que cochichavam.

— Foi uma ótima noite — Ah Ra comentou sob um sorriso, atrelando sua bolsa ao corpo, o rosto radiante e as bochechas vermelhas devido ao excesso de álcool.

— Vocês têm como voltar para casa, imagino? — Hansol se dirigiu para Shin e Taeyang.

— Sim… — Taeyang respondeu de pronto, enquanto Shin afirmava apenas balançando a cabeça.

— Jung, Sun… Vamos embora — o homem continuou se direcionando para o corredor. Ah Ra e Yun Mi, que observava os três ainda sentados, seguiram o patriarca. Jung olhou pesaroso para Ha Jin entre os dois irmãos ao partir.

— Devia ter vindo de carro…

— Deixe de resmungar e se apresse — Sook pontuou ansioso — Está tapando quase toda passagem de saída.

— Calma, Sook —  Park Sun Hee comentou com o homem enquanto caminhavam atrás do lento e desanimado Jung.

— Se o problema for a companhia para a volta, venha conosco, mas se apresse… — Sook empurrando o irmão.

— Tá… Tá… Já entendi. Não precisa me empurrar, já estou indo.

— Tem certeza que ela ficará bem? — Taeyang perguntou outra vez assim que os demais saíram de suas presenças. Parecia não perceber que Shin continuava entre os dois.

— Sim… — ela sorriu tranquilizadora e Shin sentiu-se constrangido por estar sentado entre eles. O sorriso dela o inquietou — Fique tranquilo.

Prometeu e apenas enquanto Taeyang se dirigia para fora da área do restaurante onde estavam, percebeu que os tios também haviam ido embora. Olhou novamente para Shin, o coração bombeando forte.

Deslocada, Ha Jin cruzou os braços, ainda ponderando o que faria a seguir. Não sabia quanto tempo teria de esperar por um táxi na avenida aquela hora da noite sabendo que certamente com Na Na fora um golpe de sorte e, para variar, seu celular estava zerado de crédito para chamar um carro.

Olhando o longo salão que levaria à saída, garçons esparsos limpado as mesas vazias e esperando que eles saíssem para finalizarem aquela também, controlou seu nervosismo escutando a respiração do herdeiro restante tão perto de si.

— Parece que somos só nós… — ele comentou chamando a atenção da jovem.

— Parece que sim — ela concordou virando-se para olhá-lo. Os ombros tensos.

Shin terminou sua bebida e ficou rodando o copo, acompanhando o cubo de gelo derreter no resto do líquido aguado. Falou descontraído:

— Só espero que Gun tenha pago a conta antes de ir.

— Nada do que aconteceu aqui, hoje, teve graça — ela objetou, indignada ao ver que ele estava prestes a sorrir, certamente ensaiando mais piadas sobre a fatídica noite envolvendo seus familiares.

— Desculpe… Você está certa, não disse por mal — ele concordou parecendo ligeiramente envergonhado, apoiando o copo em cima da toalha.

— Não precisa se desculpar… — encarou uma unha da mão direita, sentia-se deslocada por ter sido tão incisiva — Foi um fiasco mesmo, mas fiquei alegre ao vê-la agir com tanta fibra…

— Sua prima? — ele perguntou, mas era retórica, porque já emendou antes de Ha Jin concordar — Concordo. Não é qualquer um que consegue dizer “não” para Gun… Muito menos na presença de nossa mãe. Estou feliz por ela. Apesar de não conhecê-la, posso afirmar que foi uma decisão absurdamente sábia.

A governanta concordou o olhando agradecida pelas palavras. Um sorriso discreto se formando. A maître de mais cedo veio andando pelo salão até se aproximar deles.

— Olá, senhores… Estão de saída ou desejam que eu abre uma nova conta em nome do casal?

— Não somos um casal — Shin saiu desfazendo o mal entendido, agitando a mão em negativa. A acompanhante na mesa evitou olhá-lo, fazendo grande esforço para esconder o desânimo daquela realidade.

— Entendo — a funcionária juntou as mãos na frente do corpo, respeitosamente — Mas bem que poderiam ser. Os dois combinam — brincou, gentil.

Ha Jin arregalou os olhos, corando loucamente pelo comentário indiscreto. Shin coçou um ponto na testa, sorrindo nervosamente, como se estivesse ouvindo um absurdo sem igual.

— Ra-Rá… Impressão sua, senhora — Ha Jin objetou, produzindo um riso mortiço e se odiando por sentir as bochechas queimarem.

— Uma boa noite a vocês, então. Foi um prazer recebê-los.

Quando a mulher já havia partido, os saltos tintilando pelo piso de mármore, Shin achou por bem opinar:

— Curioso, mas sinto que estamos sendo sutilmente expulsos por não estarmos mais dando dinheiro a eles.

— Pois é — ela riu, desta vez de verdade, e a seguir fingiu procurar algo na sua bolsa de mão... Uma solução para sair dali com a dignidade intacta, quem sabe?!

— Como você vai embora? — Shin se levantou de vez.

— Eu acho que…

— Sinto que todas suas possibilidades de carona debandaram…

— Não é isso… — ela fez uma careta de contrariedade.

— Te deixo em casa.

— Ah, como…? — balbuciou pega de surpresa pelo convite dele.

— Ah, vamos, não é nada demais. — Shin vestia sua máscara de indiferença — Não me olhe como se tivesse oferecendo metade da minha herança.

— Não estou — ela se retraiu, irritada com aquela comparação, passando a pequena bolsa pelo pescoço e ficando em pé ao lado dele — E você está de moto, por um acaso?

— Sempre, Go Ha Jin… Sempre. Não gostou de andar nela da última vez? É aventura demais para você?

— Você não me conhece, senhor. Não me assusto por pouco…

— Humm — ele cruzou os braços — Vou dizer isso para aquela aranha imensa na garagem.

— Aquilo é fobia, é diferente — rebateu, virando os olhos impaciente — E um capacete a mais, você trouxe? — desafiou.

— Trouxe — ele sacudiu os ombros, passando por ela e argumentando jubiloso — Está lá no guarda-volume junto ao meu. Eu sabia que alguém ficaria fora de rumo com o que meu irmão aprontaria essa noite e precisaria de uma carona

— Eu tenho meus meios de ir embora, mas… Bem, eu…

Ela ainda estava gaguejando desculpas para não parecer tão evidente seu desejo de continuar mais algum tempo próxima de Shin. O rapaz ignorou suas hesitações patéticas, caminhando em direção a saída.

— Estou ficando cansado… Chega de tagarelar e vamos embora logo.

— Tagarelar? — Ha Jin resmungou ofendida, mas seguindo em seu encalço.

Shin pegou os dois capacetes no guarda-volume do restaurante, na mente não concebendo muito bem o motivo de trazer aqueles objetos em par. Fazia algumas semanas que ele vinha tomando atitudes esquisitas, aliás.

Enquanto esperavam no pátio de entrada o manobrista surgir com a moto, ele notou a governanta abraçando os braços para se aquecer do vento gelado que tomava conta do início da madrugada. Por que aquela cabeça dura não se agasalhou melhor em pleno final de outono, era o que ele gostaria de saber. Se já sentia frio ali, parada, na moto tintilaria do início ao fim do percurso. Impetuoso, ele se viu tirando o próprio blazer e passando nos ombros dela, que o encarou com espanto em resposta a aproximação silenciosa.

— Você tem que parar com essa mania de me olhar feito um gato assustado — comentou terminando de cobri-la nos ombros com sua peça de roupa.

— Não precisa se incomodar…

— Pare de ser teimosa… E pare de me olhar assim…

— Às vezes não sei o que vai acontecer a seguir… — respondeu olhando-o de um modo totalmente diferente agora, penetrante.

— Não sou isso tudo que minha família gosta de pintar — se viu argumentando, sem perder o sustento do olhar dela.

— Eu sei — Ha Jin disse sem pestanejar.

De repente, e ineditamente, ele se viu incapaz de manter o olhar daquela moça, daquela desconhecida que lhe disse o necessário para tomar coragem e estar junto aos irmãos na mesa do jantar. Daquela desconhecida cheia de ousadia, mas tão pequena e frágil fisicamente. Daquela desconhecida, que ele viu caminhar de modo diligente para a morte no primeiro encontro deles… Encontro o qual, por um milésimo de segundo, deu a Shin a impressão de já conhecê-la em outra ocasião.

O funcionário estacionou próximo ao meio-fio, salvando Shin daquele momento desconfortável. Ele agradeceu a entrega de seu veículo, subiu na moto, vestiu o capacete e aguardou sua passageira fazer o mesmo para, então, alcançarem as noites de Busan.

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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Próximo arco será sobre Wang Eujin... Vamos saber um pouco mais sobre o mais fofo e amável dos Wang ♥
또 만나요!

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo

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