Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 28
Apostando Amizade e Propondo Desonestidade


Notas iniciais do capítulo

Oi galera! Finalmente apareci com mais um capítulo para vocês!
Depois do Nyah! nos trollar ontem, venho agora com a primeira de duas partes da sequência de cenas que trará um novo rumo para nossos personagens.
Esperamos que gostem! ;)

No demais, agradecemos aos comentários no capítulo anterior e não esqueçam de deixar suas impressões por aqui também... As autoras sentem falta de saber o que estão achando depois de escrevermos o capítulo com todo carinho e o que temos de melhor para vocês.

Tenham tod@s uma semana ótima e até domingo!

FIGHTING



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Sun ouviu uma movimentação diferente quando adentrou na mansão para a sala principal. A casa, como não era de costume naquele horário da tarde, estava cheia. Enquanto tirava seus sapatos e caminhava para seu quarto a fim de guardar a mochila, observou a sobrinha, Ha Na, aos papos com o tio Eujin. Jung, deitado espaçosamente sobre um dos sofás, usava óculos escuros e ele se perguntou o motivo daquilo dentro da casa.

— Tira essas pranchas daí — Sun deu uma tapa nos pés de Jung, lhe exigindo o assento enquanto largava a mochila ao lado do móvel. O quase gêmeo murmurou em reclamação, mas sentou largado sobre o lado vago do sofá, aparentando estar doente.

— Tio Sun, não fale assim com tio Jung, ele está doente — Ha Na defendeu o tio e recebeu um positivo em agradecimento.

— E será que eu posso saber o motivo do seu tio está com essa cara de kimchi estragado? — Sun continuou, focando a menina.

— Não sei bem… — ela pareceu pensar um pouco enquanto remexia nos cabelos de Eujin — Nenhum dos dois me disse, mesmo que eu tenha perguntado, mas pela cara do tio Jung só pode ser uma coisa muito grave para ser motivo de faltar na aula… — Sun olhou alarmado para o irmão — Acho que os tios beberam.

— Você é esperta demais para meu gosto, senhorita Wang Ha Na — Eujin ralhou, seu velho tom divertido abafado pelas dores pós-bebedeira.

— Vocês beberam ontem? — Sun perguntou confuso — Onde, por que e com quem? Papai está sabendo disso?

— Uma pergunta de cada vez, criatura. Meu cérebro não está processando muito rápido hoje.

Era Jung murmurando em resposta ao garoto de cabelos vermelhos. Em seguida deu um gemido aliviado ao sentir as mãos da sobrinha massageando suas têmporas por trás do encosto do sofá. Sun os olhou e percebeu que aquela situação estava sendo repetida há algum tempo, associando àquela situação, o fato de Jung estar deitado anteriormente. Eujin, igualmente deitado no outro estofado, olhava para a menina esperando que chegasse novamente sua vez.

— O que está acontecendo além da óbvia exploração infantil? — Sun continuou indagando, curioso e em tom baixo, para o irmão mais velho.

— Nós saímos para beber ontem, foi isso — Eujin falou de uma vez, a cabeça apoiada no braço do sofá — Estamos enfrentando a ressaca e eu estou percebendo que estou ficando velho demais para isso...

— Eu não consigo acreditar nisso... Como foram tão imprudentes de saírem para beber em pleno domingo? Vocês sabem que temos responsabilidades e...

— Aissh... Parece até Taeyang falando assim... — Jung interrompeu irritado — Qual o problema da gente se divertir? Só passamos do ponto, mas estamos bem.

— Quero ver vocês ficarem bem quando papai descobrir que estão faltando às suas responsabilidades.

— Ei... peraí — Eujin se alarmou — Eu fui para a empresa hoje de manhã. Só que resolvi trabalhar o projeto de designer do P02 aqui em casa. Vim almoçar com a minha querida família... — as últimas palavras em um gemido por receber as mãos da sobrinha massageando suas têmporas, finalmente.

— O que é? — Jung perguntou para o irmão mais novo que o olhava inquisidoramente depois da fala de Eujin — Aissh… Eu vou para a empresa depois do almoço e também… mal teria aula hoje... Você sabe que estou terminando. Estaria terminando também se não tivesse repetido o segundo período...

— O assunto aqui não sou eu — Sun se exasperou levemente enquanto Eujin soltava um risinho pelo nariz — Com quem foram beber?

— Não vem ao caso no momento — Eujin cortou — Depois contamos, mas podemos dizer que saímos com uns amigos.

— Tio Sun, por que você repetiu sua escola? — Ha Na perguntou com interesse sagaz. Sun olhando ameaçadoramente para Jung — Minha mãe sempre fala que não devemos deixar de estudar porque é o estudo que nos faz pessoas melhores.

— Nossa mãe também nos diz isso, Ha Na, não se preocupe — Eujin se meteu na conversa — O problema é que o seu tio Sun tem... certas dificuldades com os estudos — comentou debochado.

— Que dificuldades, tio? — a menina se virou para Sun e ele semicerrou os olhos, irritado.

— Eu... — começou sabendo que a menina seria inoportuna por um bom tempo se não respondesse de uma vez — Eu não consegui aprender muito bem os assuntos e... eu não tinha quem me ajudasse — olhou acusativo para Jung — e por isso acabei repetindo um período.

— Ele se esqueceu de dizer que é um rapaz rebelde — Eujin continuou — que, naquela época, se importava apenas em pintar as unhas de preto, deixar o cabelo sobre os olhos e jogar vídeo-game.

— Sério, tio? — a menina parecia encantada com todas aquelas novidades. Há três anos, ela era pequena o suficiente para não se importar ou recordar daqueles assuntos — Eu gosto muito de jogar vídeo-game... papai diz que herdei o seu sangue — ela falou com orgulho.

— Sou um bom jogador — ele pontuou igualmente orgulhoso — e se realmente gosta, continue. É algo muito...

— Não, não... — Jung interrompera — Não ligue para seu tio. Video-game é passatempo. Você tem mesmo é que se dedicar às suas aulas de taekwondo, como seu tio fortão aqui! — a menina sorria animada — Sabia que agora eu sou professor em uma academia?

— É mesmo? — os olhinhos dela brilharam com a informação.

— Sim... Darei aulas para crianças e mulheres. Quem sabe você não pode ser uma das minhas alunas...

— Seria ótimo — ela pareceu extremamente ansiosa — Mas não tenho dinheiro. Minha mesada não vai dar pra pagar isso... Deve ser caro ter você como professor.

— Que nada... — Jung pontuou, o peito inflado — As aulas são de graça. Só precisa falar com seus pais. Além do mais, moramos todos juntos... Posso te dar umas aulas particulares — piscou o olho para a menina que lhe sorriu empolgada.

— Você aceitou essa atividade para conseguir uma namorada, Jung? — Eujin pontuou divertido e Ha Na sorriu cobrindo os lábios. Não queria que o tio percebesse que achou graça.

— Claro que não, seu bestão — respondeu grosseiramente — Aceitei porque quero fazer alguma coisa pelas pessoas. Serão aulas de defesa pessoal. É totalmente importante que as mulheres saibam se defender dos caras metidos a conquistadores que aparecem por aí...

— Isso foi uma indireta? — Eujin perguntou sem se mover sobre o estofado — Mas quero mesmo saber quando a senhorita Ha Na vai se dar ao trabalho de começar as aulas de piano, como eu sugeri.

— Ah, tio... — ela demonstrou certo acanhamento — Eu não gosto muito de piano — Eujin a olhou com as sobrancelhas arqueadas — Na verdade... Eu prefiro...

— O que? — ele perguntou curioso quando ela parou de falar e os outros dois ficaram atentos à resposta.

— Eu prefiro — em um cochicho quase inaudível — Bateria...

— Uau — Sun assoviou, erguendo os dedos indicadores e mindinho da mão direita, emulando o universal gesto do rock’n roll.

— Acho que papai não deixaria — comentou desesperançada.

— Você tem que tentar, Ha Na — Eujin continuou — Você tem que fazer aquilo que você gosta, aquilo que o seu coração quer fazer. Não deixe que as pessoas interfiram nos seus sonhos...

— Mas se o papai não deixar...

— Você faz o que ele quer e, quando puder, realize os seus sonhos — Jung intrometeu-se, olhando reprovador para o irmão. Eujin exagerava naquele discurso inflamado sobre “sonho não realizados” com quem quer que fosse — E Sook não é igual ao nosso pai. Ele vai entender.

— Nós três fazemos aquilo que o vovô Hansol nos manda — Sun contribuiu com mais uma dose de desgosto, comentando — Mas também tentamos a todo custo realizar o que gostamos…

— Com licença — Ha Jin apareceu na sala interrompendo a singela reunião familiar — O almoço será servido.

Quando os quatro chegaram à sala de jantar, viram Ha Na ir até a mãe, Sun Hee, e sentar-se ao seu lado. As duas conversaram sobre alguma coisa, sorriram uma para a outra e a menina recebeu um beijo no alto da cabeça da senhora. Ah Ra também estava à mesa, sentada ao lado direito da cadeira correspondente ao senhor da casa, naquele momento, não presente.

Ha Jin, responsável por servir o almoço, os observava com carinho. Os irmãos conversavam entre si com cumplicidade e mesmo que dois deles aparentassem uma expressão cansada – que ela bem conhecia o motivo - eram próximos e companheiros entre si.

— Sook ainda está com a ideia de deixar a mansão? — Ah Ra perguntou para Sun Hee fazendo Ha Jin despertar de seus pensamentos.

— Sim, senhora — Sun Hee, sempre exalando educação, respondeu com um movimento discreto de cabeça.

— Hansol comentou sobre há alguns dias...  — a mais velha continuou.

— Por que ele quer ir embora? — Sun perguntou curioso.

— Como a empresa não será mais responsabilidade dele — a mulher prosseguiu e os três herdeiros fizeram caretas em desgosto àquela menção — achamos que seria melhor termos nosso próprio lar.

Ha Jin ouviu aquela explicação com atenção, também estava curiosa, e mesmo que Sun Hee aparentasse tanta boa vontade em explicar a situação e essa realmente parecesse convincente, em seu íntimo, a governanta imaginava que o verdadeiro motivo nada mais seria que se afastarem das constantes discussões existentes na mansão. No fim das contas, não se tratava de um ambiente saudável para a filha crescer.

— Ah... Quem vai massagear minha cabeça quando eu precisar? — Eujin fez cara de tristeza, brincando com a sobrinha.

— E eu vou perder minha parceira de jogo? — Sun perguntou também.

— Parece que, agora, você vai mesmo precisar ir para as aulas... — Jung concluiu a fala dos irmãos.

— Calma, tios... — Ha Na falou se sentindo importante — Não vamos nos mudar para longe. Vou pedir para papai para ficarmos perto e, assim, posso continuar vindo sempre aqui para que não sofram com a minha falta.

— Me sinto confortado — Jung comentou e todos riram, inclusive Ha Jin, em sua discrição.

— Aulas…? — Sun Hee quis saber, curiosa.

— Meu tio Jung agora é professor de taekwondo e eu vou ser sua aluna. Hoje mesmo falarei com papai — ela parecia animada, uma semi adulta providenciando as rédeas do seu futuro.

— Muito bem! Quero você lá. Será minha melhor aluna! — o rapaz aprovou animado para a menina.

— Dará aulas de taekwondo, Jung? — Ah Ra perguntou com seu ar superior.

— Sim — ele respondeu desfazendo o ar animado — Para crianças e defesa pessoal para mulheres.

— Interessante… Seu pai já está sabendo disso?

— Não senhora, mas não se preocupe, contarei assim que ele voltar de viagem. Obrigado por perguntar.

Algum tempo depois, apenas os três irmãos, juntamente com a governanta, encontravam-se à sala de jantar. Eujin e Jung bebericavam chá de gengibre e hortelã, preparado especialmente para a ressaca dos dois aos mandos de Ha Jin (ela finalmente descobrira, depois de especular com Nyeo e recordar sobre seu estoque na despensa, o chá milagroso de Shin), Jung, bem mais irritado, cobiçava o pedaço de torta de morango que Sun devorava avidamente.

— Coma direito, patife. Parece que nunca viu uma torta de morangos... — Jung ralhou, carrancudo.

— Está muito boa, de verdade... Deveria provar — o outro comentou com a boca cheia.

— Ha Jin, não posso comer um pedaço? — choramingou para a governanta que lhe balançou a cabeça em negativa.

— Não — ela tinha uma expressão travessa olhando para os três.

— Beba logo isso — Eujin aconselhou — Ela já disse que só libera o doce quando terminarmos o chá — a governanta sorrindo abertamente diante dos herdeiros mais novos, seus melhores amigos na mansão.

— Isso é injusto — Jung reclamou bebericando mais um pouco — E você...?

— O que? — Sun questionou sem dar muita atenção, concentrado em seu doce.

— Quando vai pagar sua parte da aposta?

A pergunta saiu como uma apunhalada nas costas de Sun. Uma parte do pedaço de torta que havia colocado instantes atrás na boca caiu de volta sobre o prato. Ele arregalou os olhos e tossiu forte, o rosto muito vermelho. Jung , assustado, deu um tapa nas costas do irmão, um senhor tapa, que fez com que o morango enroscado na traqueia do mais novo voasse para longe, quase acertando Eujin que estava sentado à sua frente. Enquanto o garoto se recuperava do engasgo, Ha Jin, que adoraria assistir esse encontro, permaneceu em silêncio esperando a resposta do mais novo.

— Vou pagar — ele falou por fim, a voz falhada, os olhos vermelhos. Engoliu um gole d’água, colocando um novo pedaço de torta na boca. Aparentemente, o doce perdeu todo o sabor.

— Se você está pensando que vou deixar passar barato, está enganado.

— Não vou deixar nada... — Sun falou terminando a torta com rapidez — Vou levar quando achar que devo. Não precisa ficar me cobrando, eu não esqueci...

— Hmmm — Jung provocou — Então quer dizer que tem pensado em Doh Hea ultimamente...

— Vá se... — parou o xingamento ao ver a cara que Ha Jin fazia para ele, levantando da mesa em seguida — Não vou falar o que penso na frente da Ha Jin, ela não merece. Agora, com licença, porque, ao contrário de algumas pessoas, tenho responsabilidades a cumprir.

Dizendo isso, Sun saiu do encontro dos irmãos que riram entre si comentando sobre o assunto, desfazendo ambos o sorriso assim que encontraram os olhos impacientes da governanta. Pouco tempo depois, quando os dois irmãos saiam juntos para a empresa, cruzaram com Gun na porta de entrada. O irmão mais velho passou ligeiro, o rosto avermelhado de irritação, em direção ao quarto com os cabelos molhados e a camisa manchada de algo que parecia vinho. Os dois se olharam em silêncio concluindo que algo nada bom deveria ter acontecido e decidiram sair sem procurar maiores explicações.

***

Haviam acabado de ultrapassar uma van há milímetros da sua traseira. O motorista do veículo coletivo buzinou revoltado, brecando no acostamento para não colidir no carro ao lado, mas a Lamborghini de Gun, o automóvel que causou todo o alvoroço, sequer estava mais por perto para receber a retaliação do outro veículo. Na Na se segurava firme no banco, apesar de ter passado o cinto de segurança e conferido duas vezes se ficara bem preso, e olhava de soslaio para o rapaz, indiferente àquele modo arriscado de dirigir.

Ela não era cega… Percebia a bolha de tensão crescer entre eles dentro do pequeno ambiente do carro esporte, como entendeu que algo não ia bem quando, ao chamar Gun em seu escritório, para enfim almoçarem, recebeu um olhar glacial dele, antes de vê-lo concordar e saírem da empresa. Um olhar idêntico ao de Min-joo.

Na Na se pegou pensando que tipo de evento acontecera nos poucos minutos que separavam os instantes de carinho do segundo reencontro. Se esforçou para encontrar uma resposta, embora nada relacionado aos dois viesse à mente. Haveria de ter sido algo na empresa… Envolvendo os irmãos, para variar.

Ela gostaria de poder se abrir com ele, perguntar abertamente sobre sua mudança súbita, mas sentia uma barreira de tijolos dividi-los. Se sentia temerosa de abordá-lo sobre questões que poderiam gerar bate-boca com ele naquele estado, diante do volante. Ao chegarem no restaurante pediriam um bom vinho para acompanhar e, de ânimos mais relaxados, chegaria na conversa.

Gun estacionou fazendo um estardalhaço de cantar pneus nas portas do restaurante que gostavam de frequentar. O estabelecimento era mais retirado do centro, fora de mão para o caso de precisarem voltar às pressas para uma reunião de emergência, mas o cardápio e o ambiente valiam a pena. Fora construído em cima de um penhasco, toda sua volta erguida em paredes de vidro, proporcionando uma maravilhosa vista da ponte que cortava a cidade e o mar.

O manobrista do local correu de encontro ao herdeiro Wang e este jogou a chave na mão do funcionário, encaminhando-se a passos duros para a entrada. Na Na ficou em segundo plano, esquecida, terminando de se livrar o cinto de segurança e, após esboçar um sorriso sem graça para o manobrista, acompanhou o namorado.

Ele já estava diante do maître pedindo à mesa quando ela conseguiu alcançá-lo. Conversaram sobre algo que ela não conseguiu chegar a tempo para escutar e, em seguida, o homem pediu educadamente para que o casal os acompanhasse até a mesa reservada. Em nenhum momento, Gun mostrou interesse em tomá-la pelo braço com cavalheirismo, a moça seguindo atrás como uma cachorrinha desamparada, uma amante de segunda classe. Aquilo estava começando a chateá-la… Qual o motivo para aquela frieza toda?

A espinha congelou, as pernas travaram e o rosto empalideceu ao chegarem ao lugar reservado a eles. Era uma mesa circular, bem no meio do salão, posicionada numa área visível a todos os outros clientes. Normalmente, o rapaz não escolheria aquele lugar tão incômodo para sentar e, normalmente também, Taeyang não estava presente na mesma mesa que o casal.

— Chamarei um garçom competente para atendê-los — o maître anunciou, curvando-se respeitosamente para o trio e deixando-os a sós.

Taeyang levantou no mesmo instante que seus olhos perceberam Na Na.

— O que está havendo aqui?

— Sente-se, Taeyang. Até parece que nunca viu minha namorada — Gun falou, a voz transbordando cinismo — Eu levo ela para almoçar às vezes e achei que não existiria nenhum problema dela estar entre nós enquanto discutimos sobre a questão da empresa que vou trazer — Na Na, ainda petrificada na mesma posição, sem entender nada, teve sua atenção requisitada por Gun, que galantemente, o olhar dócil, afastou uma cadeira entre ele e o irmão e pediu para ela se sentar — Vamos, querida.

Sentindo os pés afundarem em areia movediça, ela obedeceu calada, absorvendo o estranho fato. Taeyang fitou-a atônito, como se a reconhecesse após muitos meses afastados, para em seguida voltar-se para o irmão, perguntando:

— O que você tá armando?

O outro Wang riu, se sentando espaçosamente no assento preterido, capturando um guardanapo de pano sobre a mesa e o acomodando no colo. Ergueu o dedo indicador para o garçom que sondava-os, em aguardo, ao passo que ia dizendo para seu interlocutor sisudo:

— Por que você sempre acha que estou armando algo? Meus olhos andam vendo justamente o oposto, aliás — virando o rosto para o funcionário do restaurante tomou a liberdade de fazer o pedido em nome dos três.

Na Na, desconcertada, encontrou o olhar de Taeyang mais uma vez. Ele a encarou num pedido mudo por explicações e ela balançou a cabeça sutilmente para dar a entender que não sabia o que estava acontecendo.

— Achei que o almoço seria algo somente nosso, Gun… — finalmente a moça conseguiu se articular, a pele alva das maçãs corando.

— Eu precisava discutir um assunto urgente com Taeyang e, como vocês tem uma intimidade bem grande, não vi problema nenhum em unir o útil ao agradável.

— Pelo que eu me lembro, não tem nenhum assunto urgente que tenhamos de compartilhar — o outro rebateu, enfático.

— Temos sim. É uma proposta, na verdade —Gun cantarolou.

Numa velocidade eficiente, o garçom retornou com dois auxiliares que depositaram taças de vinho para cada um na mesa e uma jarra d’água fresca para aprimorar a palatabilidade do vinho selecionado. Um terceiro funcionário veio erguendo a garrafa de bebida, que desarrolhou na frente dos irmãos Wang e da garota elegante em seu tailleur vermelho para, em seguida, servi-los. O séquito de atendentes executou uma breve mesura ao partir.

— Já que o assunto dos dois é importante, seria mais ético eu me retirar do que… — Na Na começou, preparando-se para se distanciar, querendo se ver livre daquele clima sufocante.

— Senta aí! — Gun exigiu, sério.

Algumas pessoas nas mesas próximos fitaram o rapaz dar às ordens a patética mulher, curiosidade estampada em seus rostos. Trêmula e, acima de tudo, humilhada, ela acatou, mas não porque ele exigira, e sim devido a vontade soberana de não chamar atenção dos desconhecidos para si.

— É desse jeito que você fala com ela? A sua futura esposa? — Taeyang perguntou ao irmão, o semblante inflamado de raiva contida.

O acusado agarrou sua taça de vinho e sorveu o líquido por inteiro, em goles ávidos, aparentemente deliciando-se com aquela situação.

— Não lhe interessa como eu a trato… Ou será que realmente interessa? — ergueu uma sobrancelha especulativa, os lábios manchados de carmim e a taça vazia retornando para a superfície com um baque.

— Esse modo de me tratar está me cansando, Gun... — disse Na Na, a cabeça baixa, agarrando a barra da saia e mirando os próprios joelhos.

— Ah é? — o namorado sorriu.

— Ela não merece… Você nunca a mereceu — Taeyang voltou ao seu mantra pró Na Na.

— Quem merece você então, querida? Conta pra gente… Ficará só entre eu e meu irmãozinho aqui — ele inclinou-se para a garota, petulante, levando o outro rapaz a um novo nível de impaciência que, com a mão estendida, aplicou um empurrão no ombro de Gun para afastá-lo dela.

— Taeyang — ela ergueu a cabeça e tocou-o no braço, refreando-o — Não faça isso…

— É, Taeyang… Obedeça a moça, vocês são tão amigos — Gun provocou, se afastando e parecendo muito à vontade em orquestrar o pequeno desconforto nos outros dois. Levantando o dedo indicador novamente, chamou o garçom portando a garrafa de vinho para preencher sua taça uma vez mais. Os outros ainda não haviam tocado em suas bebidas.

— Você se acha muito melhor que qualquer um, não é, Gun? Foi sempre assim… Correndo para chamar a atenção do papai, para ver o resto de nós comer poeira e poder ficar rindo na linha de chegada… Conseguiu o que quis as custas de egoísmo e fica usando as pessoas para continuar atingindo a nós. A mim.

— Quanta soberba — Gun juntou as mãos acima da linha dos cotovelos aplaudindo fracamente, o olhar vazio para o irmão — Esse é o Taeyang verdadeiro, Na Na. Veja como ele adora culpar o mundo por ser um fracassado…

— Não era nesse tipo de situação que eu queria estar com você quando conversamos mais cedo… — a garota confessou, erguendo a cabeça e olhando para o namorado profundamente, o rosto magoado. Gun a encarou brevemente e estalactites de gelo emanavam através de suas pupilas.

— Eu vou embora, não tenho motivo para olhar para sua cara mais do que o necessário — Taeyang retirou o guardanapo no colo com violência, jogando-o sobre a mesa enquanto afastava a cadeira para abandonar seu lugar.

— Ouça a minha proposta, primeiro — o outro voltou a dizer no mesmo tom inquisitório — Dou meu braço como a ideia vai interessá-lo de verdade. Serei breve…

— Então diga de uma vez! — recostou-se na cadeira, contrariado. De esgueira, dirigiu um novo olhar a garota que era comprometida com seu irmão. Ela estava cada vez mais apagada…

Era mais do que irônico, era vergonhoso ter ele testemunhando o irmão tratá-la exatamente como ela afirmara que não aconteceria mais. Há poucos instantes ela havia freado Taeyang, apostando na felicidade duradoura com o outro herdeiro, para no instante seguinte não conseguir nem se expressar ao lado dele sem receio de ser humilhada.

Um pequeno filme se desenrolava em sua mente, um compilado de pessoas diferentes aconselhando-a a não se iludir ao lado de Gun, lhe contando sobre seus modos escusos de chegar aonde queria, enquanto Na Na não encontrava nenhum argumento real para defender aquele que seria seu marido. O que vinha acontecendo às suas escolhas? Por que se envolvera com um homem mimado e poderoso, um Wang, para início de conversa?

— Eu sei que você sonha em fazer um ótimo trabalho quando chegar sua vez de se tornar CEO. É natural sua ansiedade por tentar passar a perna em quem esteve muitos passos na sua frente nos últimos anos: eu — Gun apontou para si, inflando Taeyang por dentro, que cerrou os punhos em cima da mesa — Entretanto, e descartando todos aqueles incompetentes dos nossos irmãos, no fim das contas, somente eu ou você ficaremos a comando da empresa.

"Ainda falta alguns dias para o fim do meu tempo como CEO, mas venho sentindo sua crescente falta de apoio a minha pessoa, nitidamente. Não estou levando para o lado pessoal, eu faria igual. Minha proposta… — interrompeu seu monólogo para molhar a garganta — é que quando chegar seu momento de comandar o leme, tome a atitude mais assertiva, a mais inteligente, e abdique de qualquer esforço. Seja o medíocre que conhecemos, não tente fazer alianças com nenhum acionista e, muito menos, nossos irmãos… Apenas sente na direção e faça o mínimo possível. Sua omissão será a última cartada para o meu trunfo.

— Que brincadeira é essa?

— Minha proposta, meu caro.

— E o que eu ganho em troca por deixar que afunde nosso patrimônio em egoísmo? — Taeyang parecia perplexo ao ouvir aquela proposta.

Gun esboçou um sorriso perverso enquanto acariciava a haste da reluzente taça de vinho. O líquido vermelho sangue dentro do recipiente refletindo o que de mais malicioso havia nos traços do jovem rapaz.

— Algo que você quer muito — sibilou — Lembra quando éramos crianças e concordou em ficar com meu avião de controle remoto em troca de me deixar ir visitar o Japão na companhia do papai? O velho Hansol queria levar o filhinho que tinha feito com a nova mulher, numa linda viagem em família… Então você fingiu estar doente e eu implorei para ser o filho a ir no seu lugar. Ah Ra ficou tão irritada que quase me estrangulou ao descobrir seu fingimento! — riu-se debochado, recordando.

— FALE DE UMA VEZ, DESGRAÇADO! — Taeyang berrou, um sinuoso vaso saltando em sua têmpora. Cabeças curiosas voltaram a abandonar seus talheres e se interessar pela exasperação na mesa do trio.

— Vamos fazer igual dessa vez… Me ajude a comandar a Wang S.A. que deixo minha esposa visitar sua cama quando nos casarmos. Nossos quartos são praticamente ao lado mesmo…

Uma força inexplicável tomou conta de Na Na ao fim das palavras de Gun. Horas depois, ela não saberia dizer onde encontrou iniciativa para pegar sua taça e jogar a bebida toda na cara dele. Suas pernas andaram sozinhas, um passo atrás do outro, nenhum olhar para trás, para fora dali. Ela achou que estava andando normalmente, uma mulher de negócios deslizando para fora de um almoço mal sucedido, entretanto corria. Seu corpo lutando para tirá-la de perto daquele homem o quanto antes.

Não era possível nem respirar naquele ambiente. Na saída do restaurante, diante da movimentada avenida, lançou-se de corpo aberto sobre o primeiro táxi que avistou se aproximar. O carro brecou, ela entrou, e depois de se sentar no banco traseiro, as pernas e as mãos trêmulas, viu Taeyang correndo e acenando pela borda da pista, tentando alcançá-la em vão.

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Notas finais do capítulo

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo

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