Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 27
A Carona que Não se Recusa


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, como estão? o/

O super-hiper-mega-ultra agradecimento de hoje vai especialmente para Thaty, que trouxe a segunda e linda recomendação. Obrigada por suas palavras, Thaty. Amamos!

Não menos importante, um muito obrigada para o pessoal que comentou no capítulo passado, e um pedido para que não nos abandonem… As autoras sofrem de carência aguda quando vocês não conversam conosco.

Capítulo de hoje também está muito bom. Super fanservice! Depois de lê-lo, nos digam o que acharam. Aguardamos todos!

Ótima leitura, beijos!



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Eujin meteu os óculos escuros na cara, alegando que o dia estava muito ensolarado, mas, na verdade, Shin sabia que o irmão não tinha coragem de olhá-lo naquela manhã. Era bem provável que estivesse com duas bolsas inchadas debaixo dos olhos assim como uma dor de cabeça digna da bebedeira de ontem pela mansidão cautelosa em que organizava as frases ao falar.    

    Os dois herdeiros entraram no carro do mais novo e seguiram para o centro de Busan, Eujin ofertando uma carona ao irmão, a caminho da empresa, para ir buscar sua moto na casa da governanta. Nada mais justo.

— Então a noitada foi boa ontem? — Shin quebrou o silêncio se sentindo incomodado por estar dentro de um carro, não era seu veículo favorito. E como um passageiro, menos ainda.

— Foi sim… — o outro confirmou, acenando discretamente para o guarda da guarita, que abriu a cancela para os filhos de Hansol deixarem a propriedade.

— E a governanta?

— Ha Jin, você diz?

— É… Go Ha Jin — ele respondeu balançando a cabeça lentamente em concordância.

— O que tem ela?

— Tive a impressão que Jung nutre algum sentimento por ela… — comentou, recordando-se do outro irmão elogiando no banco de trás do Audi de Eujin, na noite anterior, a caminho da mansão, sobre como a moça estava bonita e risonha.

 “Aqueles sorrisos todos eram para mim. Para mim” ele dizia incessantemente e não parou quando apagou a poucos metros da propriedade Wang, resmungando entre um ronco e outro, tão entregue ao álcool que teve de ser levado para a cama amparado pelos braços, pelos dois irmãos, porque não era mais possível acordá-lo antes do nascer de um novo dia.

— Mais do que isso — Eujin riu, parecendo lutar contra sua ressaca pela primeira vez na manhã — Ele tá apaixonado.

— Humm… E é recíproco?

— Não fiquei pensando muito sobre isso, mas se minha vida dependesse desse palpite, eu diria que não. Jung…? Com Ha Jin? Não, não. — esboçou uma careta de descrença misturada com a dor de cabeça.

O carro avançou para pelas ruas de tráfego mais intenso, caminhos mais conhecidos para o centro, responsáveis por levarem os rapazes para o bairro da governanta.

— Por que quer saber?

— Hã? — Shin arregalou os olhos, olhando para irmão — Nada… — retornou a prestar atenção na paisagem dando de ombros — Apenas não seria uma coisa muito sábia provocar nosso pai ainda mais. Não podemos ter relacionamentos com os empregados e… Aquela garota é um tanto imprevisível.

— Ela é ótima. E Jung realmente não parece se importar com as regras do papai — comentou com o ar animado — Pareceu um Romeo em busca de sua Julieta ontem…

— Não vejo isso como algo divertido — Shin ralhou sem demonstrar qualquer sentimento — Não é algo prudente no momento.

— Você sempre gostou de quebrar as regras — Eujin retorquiu, seguindo reto e passando do acesso que os conduziria para o edifício da empresa.

— Curta sua enxaqueca sem palpitar, garoto! — Shin exclamou batendo no topo da cabeça do motorista apenas o suficiente para o descabelar, achando engraçado vê-lo reclamar de dor dramaticamente.

  Nas entranhas da cidade que amanhecia, Ha Jin abraçava suas cobertas, nadando num sonho bom. Shin aparecia para ela na mansão em meio aos seus afazeres entediantes, a tomava nos braços, beijava sua boca apaixonadamente e a chamava de Soo-ya. Então ela se afastava um pouco, não muito, porque não queria perder seu abraço, para inspecioná-lo atentamente, confirmando a presença da fina cicatriz atravessando seu olho esquerdo, disfarçada pela maquiagem. Não era mais Shin… Era seu So. Ele a abraçava de novo, alisava seus cabelos e dizia que estava tudo bem, que agora nada iria impedi-los de se casarem. Ela seria, de uma vez por todas, sua única rainha.

  De repente, um barulho inoportuno resolveu interromper o doce beijo dos amantes. Um som agudo e constante de uma intromissão absurda. Ha Jin ergueu a cabeça procurando desesperadamente a origem do som, cada vez mais irritada, até localizar na parede da sua casa, porque, repentinamente, eles já não estavam mais na mansão, mas no seu pequeno pardieiro, a campainha tocando estridente perto da porta.

  O quarto rei de Goryeo desapareceu diante dela e Ha Jin abriu os olhos pesadamente, sobressaltada ao retornar para o mundo real. A campainha de seu apartamento tocava sem parar. Ainda era noite? Quem seria? Que horas eram? Que dia? O que estava acontecendo? As questões pipocavam em sua mente desorientada e subitamente desperta.

Ela jogou o edredom para longe e se levantou de uma vez. Nem bem deu dois passos e já caiu sobre as cobertas novamente, que se embolaram em seus pés. A cabeça doía como há muito tempo ela não lembrava, o susto se assomando à ressaca.

Enquanto se recuperava do tombo, correu às escuras pela casa em direção a porta de entrada. Puxou os trincos e girou a chave, cada vez mais pressurosa por se ver livre daquele barulho infernal, e acabou por ser massacrada pelos raios de sol, ansiosos para destruir sua retina e, para além daquele brilho matutino, a jovem percebeu a silhueta dele… e seu rosto, encarando-a. Dando um gritinho de surpresa, bateu a porta na cara da visita e se escorou na madeira pelo lado de dentro.

— Aigoo… — praguejou apenas mexendo os lábios, sem exprimir nenhum som, batendo nas têmporas com os punhos cerrados em negação.

— Eu já vi você… — Shin comentou do lado de fora, depois de dar um minuto inteiro para a garota digerir sobre a sua presença.

Ha Jin continuava apoiada contra a porta, dando um tranco na mente para relembrar exatamente o que havia aprontado na companhia de Jung, Eujin e Mi Ok para Shin vir parar na sua casa aquela hora da manhã. Talvez ele fora designado para entregar pessoalmente a carta de demissão da governanta ou, pior, mostrar aos policiais o esconderijo da mulher que incentivou seus irmãos mais novos a se alcoolizarem. Exigiu um pouco mais da cachola, apertando os olhos, e pouco a pouco, a cena da noite anterior foi se desenhando.

 Eujin paquerando pelo bar e se queixando de como o pai o privou da felicidade, Jung e Mi Ok sangrando os ouvidos das pessoas ao dominarem o karaokê do salão, ela pedindo mais e mais soju para dividir com os próprios patrões e depois, Shin surgindo para buscar os beberrões e discutindo feio com Ha Jin sobre a condição dos garotos ou sobre a moto. Ou os dois? Não recordava de cada frase, só tinha certeza de que o bate-boca fora feio e ele nem embriagado estava para sofrer o maravilhoso efeito da amnésia do dia seguinte.

 O ponto alto daquele desastre fora Mi Ok chorando e esculachando os dois, completamente fora de si, e entrando na casa dela para dormir feito uma pedra… Mi Ok… Onde está Mi Ok? O que ela falou ontem?

Ela se moveu alguns centímetros, apenas para tocar o interruptor e acender a luz do cômodo. Encontrou o colchonete muito bem dobrado no lugar em que deveria estar sua amiga. A sacana deixara seu apartamento de fininho. Deveria ter ido trabalhar, o que significava que era SEGUNDA-FEIRA!

Uma olhadela para o relógio de parede e sua filha da mãe, nem me chamou. Agora faltava pouco menos de quarenta minutos para ela atravessar a cidade inteira e bater ponto na mansão dos Wang. E com um Wang à sua porta, ainda por cima, Shin, querendo… O quê? Tirar satisfações sobre o Domingo, certamente. Que vergonha…

— Ainda estou aqui, sabia?… Quero saber se a minha moto passou bem a noite…

 Ha Jin respirou fundo, se conformando de que não havia escapatória. Não parecia uma boa opção ignorar o rapaz por completo e depois encontrá-lo, mais tarde, na mansão. E seu aspecto deveria estar péssimo como ela costumava ficar após afogar todas… Reproduzindo uma careta de lamento, pegou um casaco disponível no gancho ao lado da porta, enfiou-se nele abotoando-o até o pescoço – pijama de gatinho, não – e girou a maçaneta para sua visita.

 Shin, dentro de um terno escuro que parecia ter sido desenhado à risca para seu corpo esbelto e alto, a fitava com ares de curiosidade.

— Acordou agora, é?

— Se a sua moto continua no mesmo lugar, então ela passou bem a noite, sim — a garota observou, uma leve rouquidão na voz.

  O herdeiro espalmou a mão na lateral da porta e inclinou o corpo para a frente, quase encostando no rosto de Ha Jin, se a jovem não tivesse recuado sutilmente.

— Como você você pretende ir para a mansão?

— De ônibus, como todos os dias — ela respondeu dando alguns passos para dentro da casa.

— Vai chegar atrasada — Shin sentenciou, também experimentando um passo na direção dela e do seu modesto lar.

— Eu sei — a governanta resmungou fingindo não se importar com a fatalidade do seu dia. Ela nem precisava de muito azar para encontrar Yun Mi inspecionando a criadagem naquela manhã e descobrindo, vitoriosa, sua falha.

— Posso te dar uma carona, se quiser…

— C-omo? O-onde? Na sua moto…? — ela balbuciou sobre aquela possibilidade impensada fazendo ele franzir o cenho de desconfiança.

— Algum problema com a minha moto?

— Ela… Ela… Eu precisaria de um capacete para que você possa me dar uma carona. Não tenho capacete — adiantou-se em constatar.

— Esse problema pode ser resolvido facilmente — ele saiu do apartamento e se agachou próximo à porta. Quando retornou tinha dois capacetes nas mãos e um sorriso convencido estampando a face.

— Por que você trouxe dois?

  Shin enrolou-se com a língua, apoiou os capacetes no braço, coçou um ponto atrás da nuca e pigarreou alto antes de se recompor para responder:

— Sempre fico com dois para o caso de precisar dar alguma carona.

— Não sabia desse seu lado altruísta, que gosta de dar caronas por aí…

— Para os meus irmãos…

— Seus irmãos que possuem carros milionários? — ela rebateu, sem poder controlar sua grande boca especulativa.

— Vai querer a carona ou não? — Shin cortou-a, perguntando impaciente, o capacete rodando em uma das mãos.

 Ha Jin considerou a proposta. Continuava envergonhada e com o orgulho um pouco ferido pelas coisas que ouviu dele ontem, embora não se lembrasse de nenhuma palavra com clareza, por mais que se esforçasse. Por outro lado, seu peito tendia a sufocá-la de expectativa para o caso de conseguir estar mais tempo perto do rapaz. Por mais que eles estivessem se tratando de modo indiferente durante todas essas semanas, para ela nunca fora uma opção lutar contra seus sentimentos diante da reencarnação de Wang So.

— Preciso me arrumar… Tomar uma ducha bem rápida…

— Dá tempo — ele respondeu com segurança.

 A moça terminou de colocar a visita para dentro do apartamento e fechou a porta principal, encerrando os dois naquele ambiente diminuto. Em seguida, um pouco constrangida, encaminhou-se para o seu guarda-roupa, abraçou a toalha e algumas peças de roupa e se enfiou dentro do banheiro, achando inacreditável o fato de Shin zanzar na sua sala-quarto enquanto ela precisava ficar nua do outro lado de uma portinha ordinária de plástico.

 Shin olhou para a humilde casa da moça com curiosidade. Apesar de muito pequeno, o local exalava uma aura de aconchego, tão diferente do mundo que ela era encarregada de limpar e organizar. Ele nem conseguia imaginar como deveria ser lidar com aquela dicotomia todos os dias, embora tivesse morado em locais desprovidos de luxo no tempo em que residiu nos Estados Unidos.

 Escutando o chuveiro ser ligado, retirou os sapatos no hall e seguiu para as janelas, abrindo as grossas cortinas para deixar a luz do dia invadir o apartamento. Aquela garota era muito pálida e andava precisando tomar um sol. Na sequência, resolveu desbravar a cozinha da tal, tendo uma ideia interessante para passar os minutos e, de quebra, tornar o trabalho dela mais produtivo naquela segunda-feira.

 Ha Jin lutou bravamente para conseguir se trocar dentro do banheiro e, após duas cotoveladas no espelho, acabou vitoriosa. Com uma mão na cabeça, que não parava de latejar, saiu para a sala, o vapor produzido no banho ao seu encalço, e procurou Shin, que já não estava comportado diante do hall como ela o havia deixado.

— Está com uma baita enxaqueca, aposto — a voz dele surgiu a sua esquerda, sobressaltando-a. A garota ficou espantada ao vê-lo atrás do balcão da cozinha com sua panela de alumínio - a de cabo ruim, que iria para o lixo a qualquer momento, somente esperando ela tomar coragem - na mão. Cheiro de erva infundida serpenteava para fora do objeto num filete de fumaça.

— Um pouco… — ela confessou, aproximando-se — O que é isso? — perguntou.

  Ele pegou uma caneca no armário e despejou o líquido quente dentro, entregando para a moça, que sentiu seus dedos encostarem nos dele ao pegar.

— Tome, vai ajudar na sua resseca — a incentivou ao vê-la inspecionar o conteúdo de perto — Foi complicado achar algo decente nessa sua cozinha, mas nada pior do que uma funcionária desleixada que encheu a cara poucas horas antes da segunda-feira colocando meu quarto em ordem.

 Semicerrando os olhos para ele, tomou o líquido com irritação. Bebericou um gole, e mais um, sentindo o líquido descer pela garganta e trazer uma sensação imediata de reconforto. Estava maravilhoso e sua vontade era perguntar que tipo erva, no seu estoque limitado, fora capaz de trazer esses sabores. Ao invés disso, disposta a não dar o braço a torcer, perguntou para ele:

— Seus irmãos estão bem?

— Claro… Eujin já está a caminho da empresa, apesar da cara de cachorro atropelado. Jung parece que não conseguiu acordar, e olha que os empregados tentaram... O mais provável é que leve uma boa bronca do meu pai por ficar faltando a faculdade à toa… Mas, como ele disse, são todos adultos.

 Sabendo que aquela agulhada fora para ela, Ha Jin revirou os olhos, enxergando pela primeira vez um bilhete bem cretino que Mi Ok havia lhe deixado sobre o balcão. Nele se desculpava por sair tão cedo e sem avisá-la, mas que mais tarde ligava para conversarem. Então, terminou seu chá de uma vez e encarou o relógio confirmando que faltava menos de vinte minutos para ela estar na Mansão da Lua.

— Ah, droga, estou muito atrasada… — suspirou, quase que conformada com sua próxima desgraça.

— Eu disse que você vai chegar a tempo, confie em mim — Shin a interrompeu voltando para o hall, calçando os sapatos e tirando a chave da moto do bolso interno do paletó.

 Ela aceitou o desafio, vestiu um casaco, pegou sua bolsa e fechou o apartamento rapidamente enquanto ele já descia os degraus de ferro e chegava na calçada. A seguir subiu na moto, intacta como ele deixara ontem, e ligou-a fazendo o barulho do motor estridente ecoar pela rua. Com um aceno, pediu para a jovem tomar seu lugar na garupa e lhe passou o capacete.

— Pode se segurar em mim, se sentir que pode cair... — ele comentou, olhando-a de um modo estranhamente desafiador e colocou seu próprio capacete.

— Não será preciso — Ha Jin disse alto, acima do ruído da moto, para que ficasse muito claro aos ouvidos dele.

— Tudo bem — Shin deu de ombros.

Então o rapaz alavancou. Abandonaram a ladeira numa velocidade desnecessária e alcançaram a avenida no mesmo ritmo suicida. Ha Jin percebeu que seu corpo não conseguiria acompanhar os movimentos bruscos do veículo e precisou engolir suas palavras ao decidir envolver os braços ao redor da cintura do herdeiro. Um frio na barriga e um aperto na garganta traduziram em sensação o sentimento confuso que foi encostar no corpo dele. Estava abraçada à reencarnação do seu grande amor e isso bastava para que uma explosão de recordações dominassem sua mente.

  Lembrou do primeiro e tumultuado beijo entre os dois. Aquele não fora o melhor momento deles como um casal, mas, logo depois, So raptou-a para fora do castelo cavalgando habilidosamente montado em um cavalo de carne e osso, não de aço como agora, equilibrando Hae Soo com o corpo dele. Diante daquela praia, às margens do nascer do sol, confessou para ela…

Você diz que tem medo de mim? Eu não acredito. Você é a única que está ao meu lado. Eu não me sinto pesaroso por nada, nem pelo beijo e nem por trazê-la aqui.”

 Sem que se desse conta, Ha Jin abraçou Shin com mais força, acalentando recordações. Enquanto isso, o rapaz, que não costumava levar acompanhantes na sua moto, se sentia curiosamente à vontade por ter os braços da moça pressionando sua cintura.

 Chegaram em menos de quinze minutos no limite da propriedade dos Wang e levaram mais um para subirem até o pátio de entrada, diante da porta principal. Ele parou suavemente e esperou ela desmontar do seu veículo, entregando-lhe o capacete.

— Deixe no meu quarto — ele pediu.

— Eu achei que você sempre o carregasse para o caso de seus irmãos precisarem — a governanta objetou, ajeitando o cabelo.

— Ah, é, é verdade — ele confirmou ruborizando de leve, seu próprio capacete o protegendo de ser descoberto. Não tendo outra alternativa além de se apoderar do objeto, o recebeu das mãos da governanta — Bom trabalho então.

— Pra você também — ela agradeceu, ainda postada no mesmo lugar, vendo ele contornar a moto pelo pátio e deixar as dependências da casa.

 Somente então se deu conta de que não havia nenhum motivo em especial para ele tocar sua campainha naquela manhã, já que possuía a chave do seu próprio veículo o tempo todo.

***

 Gun continuara alimentando todas as suas angústias, desafetos e decepções. Sua família, assim como o império que esperou ter em suas mãos por toda a sua vida, esvaiam-se por entre seus dedos como a água, impossível de segurar.

Ele bem sabia que precisava agir o quanto antes, e com extrema cautela, para  que as coisas voltassem ao seu devido lugar. Deveria se esforçar para que os cães ao seu redor deixassem de se aproximar e voltassem para a sarjeta de onde jamais deveriam ter saído.  Mas ele estava começando a trabalhar para mudar isso...

Por outro lado, em seu íntimo, as palavras ditas pelo pai dias antes o obrigando a compartilhar o mesmo ambiente com aquele imprestável, assim como o tapa recebido de sua mãe como resposta ao ouvi-lo culpá-la por tudo o que ocorrera em relação ao seu filho mais velho, ainda estavam frescas. Não se esquecera de nenhum detalhe ocorrido naqueles últimos dias.

Porém, agora, resolveu afastar todos aqueles sentimentos momentaneamente para o lado e decidiu comemorar consigo próprio a excelente reunião que tivera com os acionistas da empresa encerrada há pouco mais de vinte minutos; a convicção de que aquele posto era seu, que havia nascido para estar à frente daquele lugar. Sorria sentindo-se orgulhoso.

Uma batida à porta lhe chamou a atenção. Olhou para o local e imaginou se seria Na Na. Aquele era um momento que adoraria partilhar com ela. Não precisava que ela presenciasse suas frustrações, que lhe retribuísse pena. Esperava dela o seu reconhecimento, sua admiração e sentia-se ainda mais orgulhoso quando ouvia seus elogios, uma massagem mais do que merecida em seu grande ego.

— Entre — ordenou andando satisfeito até a frente da mesa. Decepcionou-se em seguida. Não era Na Na.

    — Vim trazer algumas observações dos acionistas — Doh Yoseob se encaminhou para ele, uma pasta robusta nas mãos.

— Obrigado — agradeceu sem muito entusiasmo tomando o objeto para si.

— Você foi muito bem hoje, Gun — elogiou enquanto o rapaz voltava para a sua poltrona folheando os documentos recém recebidos — Os acionistas ficaram muito motivados em apoiar no projeto do P02 na sua reta final. Parabéns.

— Eu sei.

Um novo fio de orgulho surgiu no rapaz,  o velho, que ele sabia não nutrir nenhum respeito por ele,  se retirava sem curvar-se. Pouco importava, se sentia vitorioso naquele momento. Imaginava qual dos irmãos seria capaz de convencer oito dos dez acionistas a  votarem em mais de oitenta por cento do capital ser destinado para a produção do novo automóvel. Sem dúvidas, isso era algo que apenas ele poderia fazer.

Uma chamada no celular lhe distraiu do seu instante narcisista. O aparelho sobre uma pilha de documentos iluminou-se apresentando o nome dela. Feliz, como há muito não se sentia, atendeu.

— Na Na...— a voz amena saudou a moça com carinho.

Percebo que está bem — ela também lhe devolveu mansidão — Acredito que tudo ocorreu bem na reunião.

— Melhor... Tudo ocorreu melhor do que o esperado.

Ótimo! Acabei de voltar da fábrica. Estou indo aí lhe dar os parabéns!

— Estou ansioso...

Ele olhou para o aparelho desconectando aquela ligação antes de o descartar em um lugar qualquer sobre a mesa. Seguiu até uma das janelas da sala e observou a cidade através dela. Pensou que talvez esse fosse o sinal de que as coisas começariam a se ajustar. Que o controle da sua vida voltava para as suas mãos.

— Bom dia! — a jovem mulher o saudou, entrando sem nem mesmo bater à porta. Fechou-a e seguiu até ele. O sorriso largo e satisfeito estampando seu belo rosto.

— Bom dia, moça — ele lhe sorriu de volta indo até ela. O abraço repentino a pegou de surpresa e era nesses momentos que Na Na se dava conta de quanto charme Wang Gun possuía.

— Parabéns — continuou aconchegada ao abraço do rapaz.

— Obrigado — ele lhe respondeu afrouxando o contato, lhe depositando um beijo no alto da cabeça.

— Como foi tudo? — perguntou. Ambos ainda próximos, os olhos fixos um no outro.

— Como deveria ter sido — ele falou com o orgulho inflado — Consegui oito dos dez acionistas.

— Sério? — a admiração era revelada em sua expressão.

— Sim. Foi demorado e cansativo, embora eu estivesse muito confiante, mas, no fim, eles aceitaram a proposta.

— Parabéns — falou novamente, satisfeita com as boas novas — Fico muito feliz, Gun. Sabe que gosto quando você fica bem, quando fica feliz e… tenho certeza que o fato de estar bem, junto com o seu excelente profissionalismo, fez com que conseguisse tudo isso — ele anuiu em concordância as afirmações corretíssimas dela.

— Você também tem certa culpa nisso... — galanteou.

— Eu? — agora aparentando confusão.

— Sim — continuou, novamente se aproximando — Gosto de te ver assim, satisfeita comigo, reconhecendo o meu valor.

— Não precisa se esforçar tanto para me agradar — rebateu com suavidade e alguma cautela — Só precisa ser esse Gun carinhoso e gentil, esse que me conquistou e que, volta e meia, insiste em sumir...

— Acho que não precisamos falar sobre isso — respondeu com tranquilidade, evitando os olhos dela momentaneamente — Também sei que não tenho sido bom o suficiente, mas para tudo houve uma justificativa… Certo, nem todas as vezes… De qualquer forma, estamos nos encaminhando para uma fase melhor...

— Eu sei que sim — ela respondeu ao fim de um leve e silencioso ponderar — E tenho certeza que as coisas vão melhorar aos poucos. Se continuarmos assim, juntos, apoiando um ao outro e dividindo nossas alegrias e tristezas, tudo será melhor.

 — Quero estar ao seu lado, Na Na. Quero que me veja ser um homem muito poderoso.

— Você já é.

— E o que acha de comemorarmos esse momento? Vamos almoçar juntos? — convidou a futura noiva com charme em excesso.

— Acho que seria muito bom — ela respondeu animada. Era impossível negar-lhe algo quando estava assim.

— Daqui à uma hora?

— Está ótimo. Vou repassar os relatórios que trouxe da fábrica e nos encontramos em seguida.

— Eu te espero aqui para sairmos juntos — continuou.

— Está bem — ela suspirou — Vai ser ótimo passar um tempo com você.

— E o que acha de esticarmos um pouco, mais tarde? — a voz do rapaz assumia um tom mais malicioso agora. O corpo mais próximo do dela, lhe fazendo corar.

— Como assim? — ela tentou disfarçar o acanhamento, desviando o olhar.

— Acho que faz um bom tempo que não ficamos a sós — ele pontuou a observando — Percebi que estamos muito envolvidos com tudo nessa empresa, talvez esse tenha sido o problema, e temos deixado nossos momentos de lado…

— Gun… — ela tinha o rosto avermelhado, mas, em seu íntimo, concordava querendo agradá-lo.

— Poderíamos sair juntos no final do expediente — ele insistiu em saber sua opinião — O que acha?

— Acho que esse não é o ambiente adequado para falarmos sobre essas coisas — ela resolveu se afastar daquela zona de perigo.

— Tudo bem — concordou sentindo-se seduzido por aquela timidez. Não lembrava de ter se sentido assim antes, ficando levemente afetado por essa sensação — Conversamos melhor sobre isso durante o almoço, pode ser?

— Talvez — a voz vacilante, retraída, não o encarando de fato; as bochechas hiperêmicas — Preciso ir agora.

— Te espero para almoçarmos juntos.

 — Volto logo.

E, sendo pega de surpresa enquanto se encaminhava para a porta de saída, Na Na se viu tomada pelos braços de Gun. Ele, que resolvera não reprimir aquele impulso, segurou a namorada pelo braço e a trouxe para si. Os olhos dela permaneceram abertos por um instante, tempo suficiente para lhe fazer entender o que acabara de acontecer. Fora rápido, mas completamente singular: Gun a beijara e ela, sem compreender de fato o que sentira, seguiu a passos trôpegos até o elevador.

***

Taeyang estava, no momento, concentrado em seu novo projeto de marketing. A proposta era criar algo brilhante e inovador que apresentasse o automóvel, ainda conhecido como P02, e ele pensava em unir o modelo e suas muitas vantagens à tradição que a Wang S.A detinha no mercado automobilístico para que, dessa forma, os inúmeros usuários em potencial pudessem desejá-lo ao ponto de não saírem de seus pensamentos até que fossem, de fato, adquiridos.

Sentado atrás de sua mesa, com uma caneta na mão diante de seus muitos rascunhos, ele pensou em tudo o que havia sido acordado com sua equipe na reunião que tiveram alguns minutos atrás. Pensou em todas as sugestões e, dessa vez, apresentaria um bom projeto. Não permitiria que terceiros lhe roubassem, mais uma vez, a glória das suas ideias.

Parou por um instante relembrando tudo o que Gun havia lhe tirado em sua vida. Desde muito jovens que o irmão mais velho fora competitivo. Lembrava-se que sempre que fazia algo de bom para o pai, o irmão aparecia no outro dia com algo maior. Acreditava que, naquela época, fosse apenas o ciúme infantil, porém percebeu que a necessidade de ser maior que ele, superá-lo e ter os louros da vitória eram o que lhe movia.

Taeyang custou a acreditar, mas hoje sabia que não poderia confiar no irmão, e era aquela desconfiança que ele lançava para os demais. Nunca estava cem por cento convicto da boa vontade de alguém e a dúvida em relação aos parentes o rodeava concomitantemente.  

O pior, além de roubar o seu projeto mais recente, fora criar problemas entre Na Na e ele, e era ela que mais o preocupava. Era nela que ele frequentemente pensava sempre que se encontrava sozinho, ou muito próximo daquela mulher.

Observava com desgosto, a cada dia, a forma como o irmão sempre a tratava e geralmente não ficava feliz com o que presenciava. Na Na, uma criatura doce e gentil, jamais deveria perder seu tempo ao lado de um homem que não a cuidava, um homem que só a queria por perto em seus momentos de satisfação, de glória; um homem que se satisfaz em controlar e comandar seus atos da forma como ele bem quer, um homem que não inspira confiança.

Ela, o oposto extremo de Gun em todos os aspectos humanos, talvez no costume de seu convívio, não percebera ainda o modo abusivo com o qual era tratada e ele, em sua responsabilidade particular por ela, se sentia no direito, e na vontade, de cuidá-la e defendê-la dessa constante de maus tratos.

Naquele instante, com a cabeça cheia de coisas que não eram a empresa e o projeto, parou de uma vez o que fazia fechando a pasta e guardando os arquivos na gaveta – fechando-a com chave - e decidiu ir até a rua, no café próximo à empresa, para tomar um chá enquanto ruminava em sua vida e sobre o caminho que  trilhava nela.

Caminhando pelo corredor até o elevador, refletia em todas as coisas que havia vivido até ali desde que entrara na empresa quase cinco anos atrás. Fora encontrado pelas mais difíceis dificuldade e enganado algumas vezes pelo irmão mais velho, sempre motivado a estar por cima, prejudicando terceiros enquanto aparecia com a solução para todos os possíveis problemas que, do nada, apareciam.

Quando se aproximou do painel do elevador, prestes a apertar o botão para chamá-lo ao seu andar, olhou para o final do corredor, a porta do escritório de Gun na lateral. Imaginou se ela estaria ali, se a encontraria naquele dia. Cogitou estar perdendo tempo ao fazer o seu coração se animar na expectativa daquela mulher e, nesse ínterim, foi surpreendido por aquela voz que tanto o acalmava.

— Está descendo? — Na Na lhe perguntou toda sorrisos, e ele respondeu à altura.

— Sim — esquecera-se de chamar o elevador e se encantou com aquele sorriso  — Indo para fábrica de novo?  Ou indo resolver mais problemas insolucionáveis da empresa?

Ela sorriu para ele antes de responder:

— Acabei de chegar da fábrica. Estive avaliando a construção do P02. Aparentemente está tudo correndo muito bem.

— Que bom — respondeu Taeyang com a expressão tranquila — Se você realmente acha que tudo está indo bem, apenas acredito na informação. Você é uma ótima profissional, Na Na. Nunca cansarei de repetir.

— Obrigada — ela respondeu. A face levemente avermelhada pelo elogio inesperado, continuando a conversa no ritmo eternamente pacífico que haviam combinado tacitamente entre eles — Mas acredito que você deveria elogiar também o seu irmão, Shin. Ele está sendo responsável pela montagem do protótipo e até onde estou acompanhando, tudo está muito bem. Quem o vê jamais acreditaria que não foi formado ou não tenha experiência e isso  é espantoso e importante para a confiança dos funcionários da fábrica.

— Nunca o conheci bem, na verdade, mas sei que Shin sempre foi dedicado em tudo o que se propunha a fazer e pouco me surpreende que a linha de produção esteja indo tão bem. Estou atento aos passos dele por lá e gostando do que vejo. Realmente, ele vestiu a camisa.

— Embora não o conheça bem, percebi que ele é muito esforçado e dedicado, além de uma boa pessoa. Os funcionários da fábrica gostam muito dele e estão tecendo uma amizade com o patrão que eu nunca vi antes — ela parecia encantada com aquela novidade.

— Sim, sim. Eu também tenho observado isso quando vou lá. É realmente bom que as coisas estejam indo bem para a família Wang... E para ele.

— Que bom que pensa assim, Taeyang — ela comentou recordando de toda aspereza lançada de Gun para o mais velho.

— Na Na, e você, como está? — ele perguntou se aproximando dela. Sequer notaram que não chamaram o elevador.

  — Vai tudo bem por aqui…

— Me refiro a você — ele continuou — Não tenho te visto ultimamente e não sei como as coisas estão indo para você. Não temos mais conversado como antes… Isso é muito ruim.

— Realmente… — ela pareceu pensativa, na cabeça de ambos flutuando aquela pequena discussão em que se envolveram, semanas atrás — Não temos tido muito tempo. Estamos correndo muito aqui na empresa e as coisas estão a todo vapor. É normal que nos encontremos menos. Tudo está muito rápido com os preparativos para o lançamento do protótipo, mas é só querer que uma brecha surge.

— É bom mesmo que ela exista — com um sorriso conquistador, ele se aproximou mais um pouco.

— Claro — ela retribuiu o gesto do outro — E estou bem. Agradeço muito a sua preocupação comigo.

— Não agradeça, Na Na. Nada do que falo ou faço por você é forçado. Eu me importo muito com seu bem — falou com brandura — Você é  muito especial para mim, e eu espero, de coração, que seja sempre feliz e tenha muito sucesso.

— Coisa muito boa de se ouvir... — ela respondeu. As antigas, mas nunca adormecidas sensações que nutria ao lado do cunhado, se debatendo no fundo de seu âmago, muito abaixo do compromisso firmado com o irmão dele.

— Não é nada estranho — ele respondeu ao perceber a forma como ela o olhava. Os dedos deslizando pelos cabelos e rosto da mulher — Estranho é você ser maltratada.

Enquanto conversavam, não perceberam que, ao longe, Gun os observava próximo à curva do corredor. O rapaz sentiu o impulso de se aproximar dos dois, mas resolveu desistir daquele ato e voltar para a sua sala. A passos largos e pesados, embalados pela sua ira, não ouviu o finalizar da conversa entre a namorada o e descarado do irmão.

— Obrigada por todas as palavras que você me disse e sempre me diz — Na Na deu um passo pequeno para trás em resposta à investida do rapaz; o corpo querendo o toque de Taeyang, mas a mente a ordenando do contrário — O seu apoio é muito importante para mim. É um grande reconhecimento e sou feliz e grata por isso, mas devemos evitar uma aproximação… diferenciada. Eu estou bem com Gun, melhor do que nunca, para ser bem honesta. Não há motivos para especulações maldosas.

— Não quis ser maldoso — informou com cautela — Eu entendo a sua posição. Apenas não quero te ver sofrer.

— Eu sei que você e seu irmão não têm uma boa relação. Gun é uma pessoa difícil e você o conhece bem melhor do que eu e…

— É justamente por conhecê-lo que eu digo que a sua escolha não é a melhor, Na Na — a voz de Taeyang pareceu aflita — Ele não é uma pessoa que mereça estar ao seu lado e eu sinto que ele não te fará feliz.

— Independente disso, Taeyang, nós estamos bem. Acredito que consegui compreender o jeito dele e tenho confiança no caminho de iremos trilhar juntos.

— Eu realmente espero que a sua decisão te faça feliz.

— Farei o possível, não se preocupe — sorriu de forma amável, solicitando finalmente o elevador — Não aceitarei nada que me faça mal como parte do meu futuro.

Os dois se fitaram com demasiado carinho, os olhos falando um para o outro a verdade de seus corações.


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Notas finais do capítulo

Ps.: Cartinha na imagem escrita em hangul representa a carta (cara de pau) que Mi Ok deixou para Ha Jin, no dia seguinte.

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo

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