Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 5
Capítulo Cinco - O que preciso




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É hora do intervalo. Mantive-me distante de Tommy e Roman durante todo este tempo na escola. Agora, sento-me só em um banco de pedra no pátio do colégio. Observo outras crianças brincarem, comerem. Não sinto fome. Nestas últimas duas semanas chovera. O pátio tinha várias poças espalhadas por sua extensão, alguns brincavam nelas.

— Algo errado, Wayne? – diz uma voz nojenta atrás de mim- Ah é, esqueci, papai e mamãe morreram né?

Viro-me a tempo de vê-lo fazer uma expressão e sons de choro. Seus acompanhantes riem. Ao todo são cinco, pelo menos três são maiores que eu. Talvez dois mais velhos. Mantenho meu olhar fixo. Estou me controlando. No tempo que se passara outros já haviam tentado me tirar do sério, haviam conseguido. Alfred dissera para ignorar. Não conseguia, mas tentava.

— O que foi Wayne, ficou mudo, é? Ou você é só afeminado que nem o seu pai? Talvez tenha puxado a vadia da sua mã - -

Já chega.

Coloco toda a força que posso neste soco. Minha mão afunda em seu rosto. Ele cai no chão, desmaiado. Os outros me encaram. “Pega ele!” grita um deles. Todos partem para cima. Seguram-me meu braço direito, piso em seu pé. Empurram-me no chão, mas quando iam me chutar, vejo um vulto levar dois ao solo. É Tommy. Ele soca o garoto que tenta proteger o rosto com as mãos. Seu amigo corre para acudi-lo quando Ron o empurra e este cai. O imobilizam. Levanto-me de um pulo e parto em seu encalço. A briga se intensifica. Encaixam-me em uma chave de braço, chuto, mordo, dou cotoveladas. Roman e Tommy se viram como podem. Derrubo quem me imobilizara e o embate chega a seu fim. Os outros alunos se encontram ao nosso redor. Ao longe ouço os gritos, o diretor chegara.

...

Estamos os três sentados no corredor em frente à porta do diretor. Tommy está com um belo arranhão sob a sobrancelha e no seu braço esquerdo um corte. Ron possui um tampão em cada narina e seu joelho está ralado. Meu lábio está cortado, assim como meu supercílio. Uma escoriação em meu braço arde, deixando-me aéreo quanto à outra que tenho na perna.

— Vocês não precisavam se meter. Agora estão machucados. – começo a repreendê-los.

— Ibo? Que bada. Bebamos bem. – Sionis tenta falar, mas pouco entendo graças a seus tampões.

— Se esse é o seu “obrigado”, está precisando melhorar. – diz Elliot rindo.

— Ah... Valeu gente. – agradeço acompanhando-o na risada.

Começamos a falar de como nos saímos com a briga. Tommy se gaba de como derrubara dois outros garotos com um só empurrão. Ron se diz orgulhoso do próprio chute que dera. Falo de como fiquei impressionado que um de meus oponentes fora a nocaute com um só golpe. As risadas cessam quando enxergo Alfred caminhando pelo corredor em direção à diretoria.

O olhar que me lança é severo. Ele cumprimenta Thomas e Roman e adentra a sala. Levanto-me encostando a orelha na porta e ouvindo a conversa.

— Sr. Pennyworth, nem sou capaz de imaginar pelo trabalho que possa estar passando agora. Criar uma criança nem sempre é fácil, especialmente quando não é nossa. Sei que está dando o seu melhor, mas não está sendo o suficiente. O jovem Wayne tem sido um problema para nós. – a voz do diretor expressa sincera condescendência.

— Já é a terceira vez em duas semanas. E este foi o pior incidente. Cinco garotos estão na enfermaria. Um deles não acordou até agora. E o senhor já viu o estado dos três aí fora? Wayne agora colocou até mesmo outros dois garotos em suas brigas sem sentido. O garoto é um problema. – continua o diretor.

— Com todo o respeito Sr. Miller, contudo, o Mestre Wayne foi provocado em todas as três ocasiões, e caso não esteja ciente, todos os acontecimentos se deram pela menção desonrosa de outros garotos aos pais dele. Portanto, Bruce Wayne não é um problema, mas está passando por um. Acredito que seja melhor avisar a estes garotos que se caso queiram meter-se com o Senhor Wayne outra vez, ele tem minha aprovação para manda-los para enfermaria o quanto for necessário. E caso esteja pensando em suspendê-lo ou expulsa-lo, tenho plena certeza de que encontrar outro colégio seria extremamente fácil, mas difícil seria para o senhor de ganhar em um processo no qual é acusado de deixar que um de seus alunos em território escolar seja constantemente agredido física e moralmente por nenhum motivo justo ou específico. – retruca Alfred com toda a calma possível. Não ouço qualquer outro som.

— Tenha um bom dia Sr. Miller. – despede-se Alfred e ouço seus passos se aproximando da porta. Dirijo-me rapidamente de volta a cadeira como se de lá jamais tivesse saído.

— Alfred, está tudo bem? – pergunto como quem não quer nada. Penso em dizer algo mais a respeito de sua conversa com o diretor, mas eu não deveria ter ouvido, portanto, mantenho-me quieto.

— Sim. Devemos ir agora Mestre Bruce. Sr. Elliot, Sr. Sionis. – responde-me ele após um longo suspiro.

Despeço-me de Tommy e Ron e sigo Alfred até o carro. Lá ele saca seu kit de primeiros-socorros e faz os curativos necessários em mim. Diz que me levará para casa para que tome banho, reclama de como estou sujo de lama, mas peço que me leve para as Empresas Wayne.

— E por que o senhor deseja ir até lá? – pergunta-me surpreso.

— Queria fazer uma visita ao Tio Philip. Ver como ele está. Dissera que não ficaria na Mansão então pouco o vejo. – explico calmamente enquanto checo o curativo em meu supercílio.

— Ah... Tudo bem. O levarei lá. Mas será uma visita rápida

...

De dentro as Empresas Wayne são tão impressionantes quanto por fora. No saguão de entrada há uma parede firme de mármore na qual o nome Wayne está detalhadamente entalhado e através de um espelho uma falsa cachoeira passa. O chão de acrílico é suficientemente brilhante para que possa enxergar-me com perfeição. Noto o quanto estou judiado. Há palmeiras e fontes d’água espalhadas de forma padronizada pelo local. E arbustos floridos tomam algumas paredes. Há diversos balcões para atendimento daqueles que adentrassem o local logo após passarem pela roletas. Fico admirado pelas escadas giratórias que passam pelo centro do edifício e nas paredes onde elevadores espelhados possibilitam que qualquer um admire a beleza interior e exterior.

Todos no prédio me conhecem, portanto não preciso de credenciais para passar. Ouço saudações e condolências. Pegamos o elevador e logo estamos no último andar, onde encontra-se a sala de Tio Philip, a antiga sala de papai. Está exatamente como me lembro.

As janelas se estendem do teto ao chão, além delas uma varanda, pelas paredes grandes estantes de livros, poltronas e cadeiras confortáveis. Um tabuleiro de xadrez com algumas peças movidas e ao centro a mesa onde Philip deveria estar sentado, contudo encontramos o mesmo falando ao telefone enquanto contempla a vista do lado de fora. Não posso culpa-lo, permaneceu magnífica. Daqui de cima tudo é beleza, tudo é paz.

Ao notar nossa entrada, ele desliga o telefone e vem nos cumprimentar.

— Bruce, Sr. Pennyworth, não esperava encontra-los aqui. Não que não esteja feliz, mas por que não avisaram? – ele pergunta. Posso jurar que ele está mais feliz do que aparenta de nos ver aqui.

— Patrão Bruce decidiu de última hora que gostaria de fazer uma visita. – respondeu-lhe Alfred. Mentalmente aposto que ele está se arrependendo de ter concordado.

— Ah, excelente. Bruce, o que houve com você meu rapaz? – ele nota meus curativos e as manchas de lama.

— Eu... Escorreguei. De uma colina. – respondo sorrindo como se fosse a mais sincera verdade. Tio Philip deve ter muito com o que se preocupar, não o faria adicionar a sua lista o problemático Bruce Wayne.

— Oh, tome mais cuidado da próxima vez meu garoto. Hoje em dia até as colinas são perigosas. – ele bagunça meu cabelo e sorri.

— Desculpe Tio Philip, mas preciso ir ao banheiro, faz muito tempo que fui da última vez e levando em conta quanta água bebi... – começo. É hora de fazer o que preciso.

— Ah claro, claro. Alfred, por favor, me acompanha em um chá? Preciso que me conte como vão as coisas aqui com Bruce, e o manterei informado sobre os negócios. – diz Tio Philip prontamente começando a servir o chá em uma mesa próxima.

— Seria muito bom Senhor Wayne. Bruce, não demore. – me pede meu mordomo amigo.

— Isso não depende de mim.

Deixo a sala rapidamente e me dirijo ao elevador. Espero que ainda esteja na mesma sala. Desço os andares necessários e passo por um longo corredor. A última sala do mesmo, de número 140. Bato a porta e uma voz me permiti a entrada. Um dos diversos funcionários que papai me apresentara no dia em que fiz a visita, e ao qual o mesmo dissera ser extremamente promissor era Edward Nygma.

— Senhor Wayne, a que devo a visita? – cumprimenta-me Edward assim que adentro o recinto.

Sua sala não é muito grande, mas como todas as outras nas Empresas Wayne, possui uma bela vista da cidade. Há uma mesa onde o mesmo trabalha, ocupada por um computador e diversos livros, em sua grande parte de exercícios mentais, charadas. Há diversos arquivadores transbordando e papéis presos as paredes com anotações em verde.

— Bom dia Sr. Nygma, como está? Vim, pois preciso de ajuda com uma coisa. Preciso descobrir algo. – começo.

— Ah, um mistério, um enigma, uma charada? Fascinante! Fascinante! – ele comemora enquanto volta entre tropeços para sua mesa.

O homem é magro, seu cabelo é castanho e bagunçado, quase ultrapassando o pescoço. Seu olho é castanho mais dificilmente notaria por usar óculos. O que acabei de dizer o fez sorrir de orelha a orelha.

— Ah, sinto muito por sua perda Sr. Wayne, seu pai foi um grande homem. – ele dá suas condolências. Agradeço enquanto me aproximo com dificuldade pelo número de objetos pelo caminho.

— Agora, qual o mistério? – ele esfrega as mãos avidamente.

— Preciso encontrar uma pessoa a qual não sei o nome, ou nada mais a não ser seu rosto. Estive procurando, mas não pude encontrar algo até agora. Preciso de uma boa base de dados, e isso não tenho de casa. – explico. De fato, nas últimas duas semanas estive procurando só por pistas, exibindo um retrato que fiz do homem para algumas pessoas. Ninguém soube quem ele era ou onde poderia encontra-lo.

— Ah, o senhor precisa de registros! Imagens, nomes, endereços! O senhor poderia ir até o Arquivo Público... Que tolice a minha. Jamais dariam ao senhor arquivos sem uma devida permissão. Por isso, o senhor precisa de uma forma alternativa. Um meio de burlar a segurança sem precisar estar no local. O senhor precisa de alguém com habilidade o suficiente para invadir os sistemas da cidade e acessar informações sobre cada cidadão de Gotham. Esperto. – o homem fala tão rapidamente que quase não sou capaz de acompanhar seu raciocínio. Quase.

— Exatamente. Pode fazer isso?

— Já fiz! – ele me responde abrindo um sorriso assustador. É possível alguém ter um sorriso tão largo?

Aproximo-me retirando da mochila o desenho que havia feito do indivíduo do beco. Algo que talvez não fosse necessário é extremamente vívida sua expressão e seu olhar em minha mente.

— Sabe qual é o cúmulo da velocidade senhor Wayne? – pergunta-me Nygma enquanto puxo uma cadeira para sentar a seu lado e visualizar o computador. Penso rapidamente e respondo.

— Correr ao redor de uma mesa e pegar a si mesmo?

— Aha, esta foi fácil, não? Agora vamos à busca. Podemos demorar um pouco. Soube que Gotham tem dez milhões de habitantes.

— Há alguma forma de filtrar a pesquisa? Reduzir a área de busca? O homem que procuro é um assaltante. Podemos utilizar um filtro para obter uma lista de pessoas que possam ter uma renda baixa, ou que tenham sido demitidas recentemente. Se é que isso é possível. – sugiro avaliando cada uma das fotos que passa pela tela.

— Vamos ver. Não, não... Espera, espera... A-HÁ! Temos um filtro. E a nossa busca foi reduzida em alguns milhões. – comemora Edward Nygma enquanto ainda avaliamos as imagens.

Agilizamos o processo. Cada vez mais Nygma passa as imagens com maior velocidade. São faces e mais faces, nomes e mais nomes. Registro por registro e nenhum é dele. Estamos ficando sem tempo. Alfred logo notará que não estou no banheiro, ou que posso ter sérios problemas com minha bexiga.

Finalmente o encontramos.

Joe Chill. 33 anos. Vive no Bowery. Recentemente demitido das Docas de Gotham. Está tudo ali. Seu endereço, sua informações pessoais, tudo. O que precisava para encontra-lo, para vingar meus pais. Observo seu registro. Encaro sua foto. A lembrança é vívida em minha memória.

— É este. É este o homem que estive procurando. Dê-me um minuto, preciso anotar isso. – peço a Nygma que me entrega um papel e caneta. Anoto o que é necessário.

— Obrigado Sr. Nygma. Farei com que receba um aumento por isso. – prometo a ele.

— É muita gentileza sua Sr. Wayne. Mas, se me permite, o que pretende fazer com essas informações? – ele agora nota o que pode ter feito.

— Não se preocupe, é só uma coisa que preciso fazer. Não é nada. – saio da sala e não olho para trás. Faço meu caminho de volta para a sala de Tio Philip e encontro os dois ainda tomando chá e conversando. Alfred conta da vez em que protagonizou um drama e a Rainha da Inglaterra em pessoa o parabenizou. Philip nota minha chegada.

— Ah, Bruce, você demorou. Está tudo bem, você parece tenso? – agora os dois me observam atentamente.

— Não, está tudo bem. Mas creio que precisamos ir agora. Foi um prazer vê-lo Tio. Deveria aparecer mais na Mansão. – cumprimento Philip e Alfred faz o mesmo agradecendo pelo chá e a conversa.

Fazemos o caminho de volta e chegamos até o carro. Agora que tenho um nome e endereço, preciso dos meios para executar isto, e mais importante, preciso deixar Alfred fora disto.

 

Edward Nygma

Primeira Aparição – Detective Comics #140 (1948)

 

Joe Chill

Primeira Aparição – Detective Comics #33 (1939)

 

Personagens presentes nas publicações da Editora DC Comics;


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