Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 4
Capítulo Quatro - Um novo propósito




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Há rosas sobre os caixões.

O funeral ocorre na Catedral de Gotham, na Antiga parte da cidade. A Catedral foi desenhada por Cyrus Pinkney e construída com o apoio financeiro do juiz Solomon Wayne, meu bisavô. Nos primeiros anos era aqui que ele pregava seus sermões sobre moralidade e valores.

Altas colunas de mármore branco se estendem do piso ao chão exibindo anjos de estatura média. Arcos se erguem sobre elas dando ao teto do local um sentido circular. Há imagens do paraíso, de anjos e ungidas pessoas que procuram trazer paz para os aflitos corações que por este local procuram. Candelabros com velas dão um tom amarelado para todo o local, efeito que em certos momentos é cortado pela nova iluminação introduzida. Todos os vitrais possuem a jornada do Santo Cristo em suas ilustrações, exceto um, este porta a imagem de um homem encapuzado com asas de ferro empunhando uma lança apontada para baixo. Seu traje faz-me lembrar dos antigos templários. Dizem ser o mais nobre guerreiro da Ordem de St. Dumas, Azrael. Apenas mitos.

Ao topo de cada coluna há gárgulas, os chamados Guardiões de Gotham, se sobrepondo aos anjos. Diversas delas estão espalhadas pela cidade. Nossas protetoras silenciosas há muito dormindo, seus olhos aquém do que a cidade se tornou. Abaixo do crucifixo há um órgão, um homem senta-se ali, mas nada toca. Um pouco mais a frente há retratos de papai e mamãe ornados com rosas, as preferidas dela. Vejo seus rostos alegres me sorrindo. Ao centro, seus caixões estão fechados.

Sento-me só, ao primeiro banco, longe de todos. Alfred pedira que o fizesse assim. Talvez não acreditasse que meu contato com outros fosse ser saudável para mim. Vejo Tio Jacob e Tia Gabi discutindo através de sussurros sobre algo. Não falei com Jacob. Ele esteve aborrecido por muito. Alfred dissera que esta era sua forma de lidar com a perda da irmã. Olho mais uma vez para os retratos. Uma lágrima escorre por minha bochecha. Faço pouco esforço para contê-la.

Avisto mais atrás Roman, Tommy e Harvey. Eles acenam. Tio Philip senta-se ao fundo. Olha sério para um ponto fixo no ambiente. Fisicamente ele não parecia muito com papai, sendo irmãos, isto era um pouco estranho. Seu cabelo era preto e apresentava mechas cinzentas ao contrário das de pai, brancas. Seus olhos cinzas pareciam um céu nublado. Pouco pude conviver com ele. Estava em Londres quando tudo aconteceu, presidindo a filial das Empresas Wayne no local. Viera para Gotham um dia atrás. Legalmente, ele não tomaria conta de mim, Alfred iria, uma surpresa para o mesmo. Este ficaria responsável pelos negócios da família, pelo fato de que por minha idade, não poderia assumir.

Retorno meu olhar para frente e noto Kate fitando-me. Ela tinha nove anos de idade, seu cabelo é vermelho, quase vinho. Seus olhos pretos encaram-me, noto agora as sardas que tomam sua bochecha. Nunca fomos muito próximos, graças à diferença de idade, ela pouco brincava comigo ou com meus amigos. Ela nada diz, apenas se senta e me abraça. “Família, Bruce”, ela diz.

...

Papai e mamãe são enterrados na colina, sob o Carvalho ao invés do mausoléu da família como os outros. Nesta cerimônia apenas os mais íntimos se encontram. Chove muito. Alfred me protege com o guarda-chuva. Tio Philip encontra-se próximo, seu olhar é o mesmo da Catedral, sério e fixo.

— Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, amém. – finaliza o padre. Os outros se movem, mas permaneço lá, onde meus pais estão sendo enterrados, onde estou sendo enterrado.

...

Estou sentado em minha cama contemplando o vazio. Lá fora chove. As luzes estão apagadas, a única luz que penetra o cômodo vem dos relâmpagos. Ouço o ronco dos trovões e lampejos do disparo de um revólver invadem minha mente. Suo frio.

Olho para a comida que Alfred deixara sobre a escrivaninha. Dissera que deveria comer. Não sentia fome, ou cansaço, ou alegria. Apenas dor, tristeza, ódio... Medo.

Outro trovão ronca. Ouço o disparo. Um relâmpago ilumina meu quarto. Papai cai diante de mim.

Um trovão estremece a mansão. Outro disparo é dado. Meu quarto se enche de tenebrosa luz estática. Mamãe alcança o chão com as pérolas. O coração de gesso se rompe no chão. Minhas mãos estão sujas de sangue. O sangue de meus pais.

A mansão é breu. Corro para fora. Meus ouvidos zumbem. A chuva fria me causa arrepios. Corro pelos ladrilhos. Caio. Levanto-me e continuo a correr. Além do jardim ao leste, além do lago, até o topo da colina. Há duas lápides. Papai e mamãe.

Thomas Wayne                                  Martha Wayne

Amado Marido e Pai                         Amada Esposa e Mãe

1/11/1967 – 26/6/2003                       3/3/1969 – 26/6/2003

A chuva se mistura com minhas lágrimas. Meus ouvidos zumbem. Meus joelhos fraquejam, caio. Minha cabeça dói. Meu peito pesa. Minhas mãos tocam o solo. Pergunto-me mentalmente “Por quê? Por quê?”.

Um relâmpago ilumina a colina. Vejo-o a minha frente. Sua arma está apontada para mim. Nos seus olhos há medo. O clarão o faz desaparecer. Sinto algo crescer em meu peito. Não é medo... É raiva. Um trovão faz a terra tremer. Faço me ouvir perante ele:

— EU VOU ACHÁ-LO! ONDE QUER QUE ESTEJA! SEJA QUEM FOR! EU VOU TE ACHAR!

Ouço os guinchos. Ao longe uma nuvem se move. Figuras indistinguíveis. Vultos negros aproximando-se. Eles vêm da caverna. Morcegos. Eles circulam planando ao meu redor. Abro meus braços, seus ruídos aumentam. A chuva é um batismo. A minha frente ele está. Fito seus olhos brilhantes, aparentam através de mim enxergar. Eles veem minha alma. Não há alegria ou tristeza, apenas ódio. Ele emana força. Ele sente o medo, e dele se alimenta. Mas não é o meu.

— Eu vou vingá-los...


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Notas finais do capítulo

· Philip Kane
Primeira Aparição – Batman Vol. 2 #21 (2013)

· Jacob Kane
Primeira Aparição – Detective Comics #854 (2009)

Personagens presentes nas publicações da Editora DC Comics;



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