Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 27
Capítulo Vinte e Sete - Corrigindo Erros




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/714346/chapter/27

Ebenezer Darcel ou Darrk fora o braço direito de Ra’s Al Ghul, o Cabeça de Demônio, Líder da Liga das Sombras, por muito tempo. Todavia, ao contrário dos outros Sombras, este não apoiava-se constantemente em suas proezas em artes marciais, mas sim, em planejamento cuidadoso e manipulação, assim como também emboscadas e armadilhas mortais. O mesmo ainda contava com um vasto arsenal de armas ocultas e venenos. Resumindo as palavras de Talia Al Ghul, este se mostraria uma verdadeira provação. Mas por enquanto, ele seria um problema para outra hora.

Kirigi nos provera com mapas das regiões próximas ao Monastério e generalizadas da montanha. Sendo assim, possuíamos informações o suficiente para bolar uma estratégia através da qual seríamos capazes de dominar nossos opositores.

Levando em conta que guardavam cada uma do que antes foram residências, assim como as antigas entradas do Vilarejo, poderíamos utilizar a cobertura das rochas para emergir das sombras, eliminando parte da ameaça. Dali, nos dividiríamos em grupos. Um procuraria infiltrar-se no Templo onde Darrk havia montado sua base enquanto que o outro cuidaria para que a entrada de nossos reforços fosse permitida, tornando-nos assim capazes de combater os desertores em sua totalidade.

— Temos o que precisamos, ao anoitecer invadiremos o local. – Talia decidia – Todavia, não tenho certeza se poderemos seguir com esta sua condição. “Sem mortes”. Nem sei mesmo por que a estou considerando.

— Os Desertores são devotos a aparentemente uma causa. Precisam provar a Ra’s Al Ghul que são dignos da Liga, através da captura deste Monastério e subjugando as forças a ele ligadas. Tirar suas vidas seria unicamente um incentivo para que outros tentassem. Deixe que vivam. Deixe que plantemos em seus corações uma mensagem. Uma mensagem de medo. Que os converta a acreditar que, não importa o que façam, jamais serão capazes de obter sucesso nisto. De que a Liga das Sombras é intransponível. – explico-lhe.

Graças a meu destaque no treinamento e por ajudar Talia a rastrear os Desertores, ganho autoridade em meio a meus irmãos. O que ajuda a definir o que possamos fazer. Aparentemente, este era um problema recorrente que precisava de solução, tornando-os desesperados e aceitando meu auxílio. Agora, iam jogar pelas minhas regras.

Assim que os preparativos são encerrados, Talia procura-me para falar:

— Kirigi contou-me que você discorda dos métodos de nossa organização. Diz que matar não é uma opção viável.

— Morte nem sempre é a saída. Nem todos que fazem o mal merecem a morte. Alguns merecem a chance de buscarem redenção. – respondo-lhe. Ela parece por um curto tempo avaliar o que disse.

— Certas vezes, você não tem uma opção. Se você não mata, outros morrem. Ou até mesmo você.

— Bem, desta vez, nós temos.

...

Talia e eu estamos entre o grupo de doze Sombras que se espalha através de específicos pontos nas montanhas. Cada uma das posições remete a um vigia dos Desertores. Os orientamos a aguardarem o sinal para que os ataques sejam sincronizados. Fica a meu cargo dar a permissão. Visto minha máscara e mantenho a mão erguida. Os desertores não se movem. Pelo visto, receberam ordens restritas de vigiar as ruínas a todo custo. Finalmente, abaixo a mão e dou o sinal.

Os Sombras caem como plumas em seus alvos. Nenhum som é produzido, a não ser em seguida o das pancadas que os crânios de nossos inimigos sofriam ao atingir o chão ou superfícies próximas. Contudo, nenhum golpe é fatal. Como havia especificado anteriormente, naquela noite, não haveriam mortes.

Talia ordena que seis de nossos irmãos sigam para as entradas do Vilarejo, a fim de abaterem a segurança e permitir a entrada de nossos reforços. Eles assentem e assim partem.

Os que restam, seguem conosco pelas sombras até o antigo Templo. Escalamos e fazemos uso dos buracos nas paredes e telhado para entrar. Já no recinto, peço que esperem um pouco mais até que a comoção no exterior inicie-se, atraindo assim a atenção de nossos inimigos para que novos ataques sejam executados em sua surpresa. Como combinado, Talia busca uma posição vantajosa sobre Darrk. Nosso plano era de incapacitar qualquer possibilidade de fuga do mesmo. No entanto, este não fazia muito mais do que contemplar papéis sobre sua mesa. Olho uma vez mais os arredores. Como já em ruínas, não havia nada demais naquele templo. Nada além de bancos de madeira destruídos e jogados nos cantos e uma mesa onde o próprio Darcel se apoiava. A luz do luar, tínhamos o disfarce perfeito, combinado a escuridão comum do próprio local.

Por fim, ouvimos os gritos da batalha lá fora. Assim o fazem nossos alvos. Eles começam a se movimentar em rebuliço, todavia, não deixam posições. Cada um está apoiado em uma pilastra. Ao todo, são quatro. Talia concede a ordem de ataque aos Sombras que saltam de seus poleiros. Todavia, ao tocarem o chão, o piso afunda e eles se perdem em buracos escuros. Malditas armadilhas. Por essas, apesar de todo o planejamento, nenhum de nós esperava.

— Há! Vejo que a Liga das Sombras não mudou seus métodos de ataque desde que saí. Por sorte, eu inventei alguns truques novos. Fique à vontade de sair das sombras quando quiser. Já sabemos que está aí. – exclama Darrk triunfante. Este refere-se unicamente a mim. Talia ainda é uma carta surpresa para se ter na manga.

Salto no meio dos quatro Desertores e encaro Ebenezer.

— Como de costume, vocês levam consigo pessoal o suficiente para abater os alvos secundários e um para conceder os ritos finais ao alvo principal. Ra’s Al Ghul ainda não rejeita um belo discurso antes que sua vontade seja feita. Quando voltar, tenho que alertá-lo sobre isto. – continua Darcel.

Os Desertores aproximam-se de mim formando um círculo. Qualquer saída bloqueada.

— Quem é você? – Darrk indaga-me fazendo minha atenção a ele retornar.

— Sou um mensageiro. – respondo estendendo ambos os meus braços e socando os rostos dos desertores que me cercavam. Eles cambaleiam para trás. Um deles tenta aplicar-me um chute pelas costas. Do qual desvio, seguro sua perna e com um golpe desloco seu joelho. Saco um shuriken e lanço no pé do seguinte atacante. Enquanto surpreso, salto e chuto seu rosto. Ao cair ele bate a cabeça no chão e desmaia. Não me viro com velocidade o suficiente para evitar que sofra um corte da lâmina que outro carregava. Todavia, sou rápido o suficiente para aparar o golpe que o seguinte tentava aplicar na altura de meu estômago. Coloco uma de minhas pernas entre as suas e sento no chão derrubando-o. Rolo, ao depois de fazê-lo imobilizo seu braço e o quebro. O remanescente arrisca outro golpe de faca contra mim. Desta vez escapo de seu alcance, prendo seu braço e uma vez mais o pressiono para cima. O membro se quebra e todos estão no chão.

— Impressionante. Mas há esta hora o veneno já fez efeito. – diz Ebenezer.

É de imediato que sinto um leve efeito apossar-se de meu corpo. A tontura vem e caio. Darrk aproxima-se.

— O veneno não vai te matar. Terei esta honra. E então, levarei sua cabeça em glória a Ra’s Al Ghul! – ele clama em voz alta.

— Não antes da mensagem! – chuto-o quando o efeito de sua toxina cessa. Ele voa e bate na mesa de madeira quebrando-a. Ciente de suas toxinas, todos foram orientados a tomarem antídotos para as que o mesmo já havia utilizado.

Darcel rasteja até um pouco mais a frente onde pressiona um dos blocos no chão e uma passagem se abre. Quando corro para detê-lo, este lança em minha direção uma bomba de aparente fumaça. Mas pela sensação que causa-me, devia conter outra toxina. Não posso deixar que fuja. Mas não consigo desvencilhar-me da fumaça. Prossigo da mesma forma através da passagem no solo. Salto e a meus pés há água. Cambaleio e bato-me nas paredes rochosas. Kirigi dissera que este vilarejo certa vez fora base da própria Liga. Que passagens como esta deviam ser esperadas. Sigo em frente um pouco mais até o ponto em que ao olhar novamente para água a meus pés, noto sua coloração mudar. Lembro-me então de que Talia era nosso elemento surpresa. Que caso falhássemos, ela iria impossibilitar a fuga de Darrk.

A água havia se tornado vermelha e a minha frente tombado, jazia o corpo de Ebenezer Darcel. Talia segurava uma adaga em sua mão da qual o sangue pingava.

— O que você fez? – indago-a.

Olhando para o corpo ela responde:

— Os Al Ghul acreditam que o erro, não é um aprendizado, mas sim, um sinônimo de fraqueza. Ebenezer Darcel era meu erro. Agora, ele foi corrigido.

...

Assim como com Henri Ducard e Willi Doggett, falho em fazer com que uma vida seja poupada e conduzida à redenção. Talia Al Ghul matou Ebenezer Darcel, mesmo depois que tínhamos esclarecido que naquela noite, não haveriam mortes.

Ela dissera-me que para sua família, um erro não pode ser considerado como um aprendizado, mas apenas como um símbolo de fraqueza. Contudo, deveria haver mais do que isso. Tinha de haver mais do que isso. E eu precisava saber.

Os Desertores foram poupados como pedido. Carregariam consigo a mensagem de medo que preveniria que isto, jamais ocorresse novamente. Os moradores da Vila, agora estavam seguros, e o Monastério, finalmente fora de risco.

Assim que chegamos, aguardei pela poeira para baixar. Esperei até que tudo se ajeitasse, e então parti para confrontar Talia. Ela se encontrava na parte superior do Monastério. Um pequeno andar onde não havia nada, do qual apenas podia-se contemplar a vista. Parada, unicamente observando, podia sentir que sua mente vagava para um local distante.

— Por que fez aquilo? – pergunto enquanto aproximo-me.

— Não lhe devo satisfações. – responde-me.

— Não. Realmente, talvez não deva. Gostaria apenas de saber por que, após ter dado sua palavra, você ainda tirou a vida de Darrk.

— Era o necessário.

— Necessário para o quê?

— Eu não devo lhe falar! – ela volta-se para mim gritando, mas repentinamente faz-se silêncio. Talia desvia o olhar e prossegue – Mas talvez seja o único com qual o possa.

Observo seu olhar. Este compartilha saudosismo, dor e raiva.

— Meu pai ensinou grande parte do que hoje sei. Toda minha vida foi dedicada a Liga. Ele me pôs neste caminho, o qual jamais questionei. Mas nem sempre era assim. Quando as obrigações o afastavam de mim, era Ebenezer Darcel que mantinha-me neste caminho. Era ele aquele quem ia assumir o lugar como Cabeça de Demônio. E em muitos momentos, o meu segundo pai.

O vento uiva enquanto ela prossegue.

— Quando sua primeira falha ocorreu, sabíamos o que vinha pela frente. Os dogmas da Liga são extremamente rígidos. Mas Darcel era um caso à parte. Papai o tinha como o filho que nunca tivera. Sendo assim, concedeu-lhe uma segunda chance de provar que sua derrota, fora mera obra do acaso. E assim, uma vez mais ele fracassou. A desonra da Liga e a falha com seu Senhor eram crimes graves demais para serem levianamente ignorados. A sentença era morte.

Sinto que a cada frase sua voz se torna mais pesada. Como se o passado estivesse retornando aos poucos para aquele exato local.

— Quando a execução estava pronta para ocorrer, deixei que meus sentimentos falassem mais alto do que a razão. Implorei para meu pai que o poupasse. Que o exila-se, mas o deixasse viver. Fui fraca, mesmo assim, Ra’s Al Ghul concedeu meu pedido. Exilando assim um homem que viria a tornar-se obcecado com a possibilidade de provar-se uma vez mais digno de estar ao lado do Cabeça de Demônio, não importando o que fosse necessário fazer. Não importando quem fosse necessário tirar de seu caminho.

Os olhos de Talia voltam-se para o Vilarejo.

— Este Monastério fora uma das primeiras bases da Liga das Sombras. Seu valor simbólico é inestimável para os Sombras. Capturando este local, Ebenezer esperava demonstrar o quão valoroso era. Para isso, ele atacava o Vilarejo, forçando os Sombras a saírem e combaterem até o ponto em que estariam tão fragilizados que a conquista seria simples. Centenas de vidas inocentes foram massacradas. Papai enviou-me para lidar com o assunto, pois já desconfiava da fonte. Algo, que eu não fazia ideia. Você vê onde isto chega, não é? Cada morte, cada vida inocente massacrada por Darrk, é minha culpa, pois eu o deixei viver.

— Vocês matam para atingir seus objetivos. Qual o seu remorso nisto?

— A Liga das Sombras elimina aqueles que vão contra seus dogmas e objetivos. A Liga existe para promover a paz e livrar o mundo da imundície que são aqueles que o levam a ruínas. Não temos interesse na aniquilação daqueles que não representam ameaça alguma. Se Darrk permanecesse vivo, não iria parar não importa qual fosse a mensagem. Ele iria matar qualquer e cada um se necessário para ser quem um dia fora. Eu tirei sua vida para prevenir isto. Eu corrigi meu erro. Eu eliminei minha fraqueza.

— A que preço? Há sangue em suas mãos de ambas as formas.

— Mas desta vez, é de alguém que merecia. Nem todos têm de viver. Você ainda possui uma moralidade que o torna virtuoso. Uma vontade de mostrar a todos uma redenção que você busca. Não sou capaz de entender. Mas admiro. Todavia, para alguns é tarde.

— Nunca é tarde para o arrependimento. Nunca é tarde para mudar.

— Talvez...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Batman - Alvorecer" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.