Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 26
Capítulo Vinte e Seis - O Exílio




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Os dias passam sem se fazerem notar. O tempo cavalga velozmente e não o vejo passar. Ao todo, já se foram três meses de treinamento no Monastério. Kirigi tem acompanhado de perto meu progresso. Constantemente, ele gosta de lembrar-me que meu corpo é uma arma, e minha mente o punho que a manuseia. Dado isto, meu preparo não se resume a exercícios corporais, mais também mentais.

Por contar com uma vasta gama de material para leitura, gasto tempo significativo avaliando tanto livros como pergaminhos do local. Vez ou outra, o assunto principal pelo qual procuro é a Liga das Sombras. Não há uma data exata de sua fundação, e o único líder a ser referido é Ra’s Al Ghul, conhecido igualmente como o Cabeça de Demônio. O mesmo ainda é o pai de Talia Al Ghul, jovem responsável por salvar minha vida no ataque dos Desertores.

Tenho a observado, por mais que Kirigi tivesse recomendado-me que mantivesse distância. Possuía habilidade superior a qualquer um dos Sombras, e até mesmo que suas protetoras. Ela assistia a todos os treinos e fazia questão de volta e meia assumir as rédeas. Referia-se unicamente a meu Mestre, no resto do tempo, era reclusa. Após certo tempo, resolvi deixa-la de lado.

As noites para mim não eram um momento para parar. Mesmo seguindo fortes rotinas de treino, era nesse horário que vagava pelo Monastério. Kirigi jamais especificara que a movimentação noturna não era permitida. Aos poucos, conhecia cada palmo do local. Quando cansava de seguir pelos mesmos corredores, tomava a trilha que o pátio principal conduzia até as montanhas. Os ventos esclareciam minha mente.

Contudo, em uma das noites em que o fazia, noto movimento em colinas não muito distantes. Dois indivíduos mascarados, os quais as roupas lembrei-me de imediato, eram Desertores. Mantinham-se parados apenas, observando o Monastério. Ao notarem que talvez pudesse tê-los visto, desapareciam. Situação que se repetira mais de uma vez.

Quando a mesma estava prestes a uma vez mais ocorrer, decido sorrateiramente aproximar-me dos mesmos. Fico finalmente a poucos metros destes, todavia, algo que provavelmente faço lhes evoca atenção e fogem. Inesperadamente, sinto que não estou só. Viro-me de supetão imobilizando seu braço com a mão esquerda enquanto que com o braço direito prendo seu pescoço.

— Faça qualquer movimento e dilacero sua carne. – diz-me ela assim que noto a posição de sua faca. De fato, apenas um corte na lateral de meu corpo seria o suficiente para fazer-me sangrar até a morte. Soltando-a, noto que é a Talia Al Ghul a quem referia-me.

— O que faz aqui fora? – indaga-me.

— Observava duas pessoas. Acredito que possam ser Desertores monitorando o Monastério. – respondo. Não vejo qualquer problema em demonstrar respeito a esta. Afinal, apenas estou ali, pois Kirigi permitira, e o mesmo a ela respondia.

— Acredito que tenha vigiado os mesmos por duas noites agora. Tentei segui-los, no entanto, eles escapam de alguma forma que desconheço. – comenta voltando-se para mim – Espera, você é o forasteiro. Kirigi contara-me sobre você. Não segue o caminho dos Sombras mas demonstra potencial. O que realmente faz aqui?

— Busco preparo, assim como os outros.

É verdade que durante os três meses que haviam se passado, nos treinos costumava destacar-me por estar um passo a frente de meus irmãos. Por vezes, notara os olhos de Al Ghul em mim. Algo que até ali, considerava mau presságio.

— O que acha que aqueles que vimos planejavam? – mudo de assunto.

— Provavelmente, outro ataque. Deixarei Kirigi ciente. Ele deverá tomar as devidas providências. Com sua licença. – ela se afasta, retornando ao Monastério. Permaneço naquele mesmo local por certo tempo, admirando os arredores, todavia, logo retorno.

...

Na manhã seguinte, todos reúnem-se em um dos pátios para treinar sincronia de movimentos. O Mestre ordena-nos quando avançar e recuar, a seu lado, Talia encontra-se atentamente a observar. Organizamo-nos em duplas. Ao fim dispersamo-nos para outros treinos. Contudo, ouço uma voz feminina chamar-me. Ao virar-me, uma espada me é jogada. Agarro-a e noto quem evocara-me.

— Wayne, uma provação para você. Lute comigo. Não morra. – Talia saca sua espada e faz o cumprimento comum. Repito o gesto e iniciamos.

Os golpes são rápidos. Não ataco inicialmente, apenas aparo os ataques.

— Preciso de ajuda. – ela inicia – Estive rastreando os homens da última noite. Contudo, sempre perco o rastro deles. Fui treinada para ser uma grande caçadora entre diversas habilidades. Mas não estou obtendo sucesso nisto. Você, todavia, compartilha de habilidades que possam ser úteis neste assunto. Ajude-me.

— Do que precisa? – aparo um de seus golpes girando a espada pronto para desarmá-la. A mesma é rápida e fazendo um giro, mantém a arma firme em sua mão.

— Esperaremos até que apareçam esta noite. Assim que o fizerem, os seguiremos até onde acredito que seu líder possa estar escondido. E daremos um fim nisso.

— Ajudarei. Sem mortes.

— Você não define diretrizes. – ela executa fortes golpes buscando desestabilizar-me.

— E você precisa de ajuda. Será capaz de rastrear estes homens, mas provavelmente não a tempo de evitar outro ataque ao Monastério e Vila.

— Se preocupa-se com a possibilidade de carregar sangue em suas mãos, sinto desapontá-lo ao dizer que ou carregará a morte destes Desertores, ou a de seus irmãos e dos aldeões caso um novo ataque ocorra.

— Sim. Todavia... – repelo seu golpe alto e logo em seguida um baixo – Você é emissária de seu pai aqui. Busca agradá-lo e demonstrar que pode manter tudo sob controle, como ele é capaz.

— Como você...?

— As paredes têm ouvidos.

— Você só está aqui porque permitimos.

Nossas espadas se encontram soltando faíscas e colocando nossos rostos próximos.

— Você quer ajuda, não é mesmo?

Executando um giro ela desarma-me fazendo com que minha espada seja lançada atingindo o teto.

— Encontre-me na trilha da montanha, ao anoitecer. – ela sussurra enquanto executa o cumprimento padrão e se afasta.

...

É noite quando nos encontramos na trilha. Talia demonstra um caminho para um local onde ficaríamos escondidos de olhares curiosos, mas perto o suficiente para observar nossos alvos.

Ducard ensinara-me que a melhor forma de rastrear alguém, era criar uma forma de tornar esta pessoa rastreável. Sendo assim, utilizo no local onde os mesmos geralmente permaneciam, pequenos fragmentos de ferro esmigalhados, que seriam capazes de produzir barulho, demonstrando quando os mesmos estavam se movimentando, e de acordo com as inclinações da colina, identificar para que lado seguiam. Inicialmente, esta técnica para mim não fazia sentido algum. Agora em uso, era diferente.

Permanecemos de tocaia pelo que parece uma eternidade. Não conversamos. Vez ou outra um olhar curioso é trocado. No entanto, quando ouvimos o som das botas roçarem nas migalhas, ficamos atentos. Um dos indivíduos resmunga sobre o fato. Os dois apontam e fazem anotações. Utilizam binóculos para focalizar tanto o Monastério quanto a Vila. Ficam ali por aparentemente uma hora. Quando fazem seus preparativos para voltar, aprontamo-nos.

Fazem barulho ao moverem-se. Escorregam e iniciam a caminhada de volta. São ágeis e rápidos. Saltam e correm, de forma que é complicado mantê-los sob a vista. As migalhas de ferro não eram unicamente para produzir som, mas estas brilhavam onde seus trajes encostavam. Deixando uma leve trilha. Depois de obtido um ritmo, delas quase não dependemos mais. Os seguimos por quase três quilômetros, até o ponto em que alcançamos uma vila abandonada.

A mesma é cercada por diversos Desertores que fazem patrulhas. Há um próximo à ruína de cada residência, contudo, um número maior deles se concentra as portas de um local que antes devia ter sido um templo.

— Deve ser lá que o líder deles está. Precisamos descobrir quem é. – diz Talia já procurando por um local de onde possamos observar das sombras.

Aguardamos até que um homem alto, de cabelo preto curto, rosto magro, aparentando estar por volta de seus quarenta anos e trajando uma armadura da Liga das Sombras, que poderia indicar um alto cargo hierárquico deixa a cobertura do Templo em ruínas e mostra-se a luz do luar.

— Ebenezer Darcel... Já devia esperar. – Talia diz.

O nome me é familiar. Lembro-me de ter lido algo sobre o mesmo. Aparentemente o homem havia sido...

— Um dos alunos mais promissores de meu pai. Jamais deixara de cumprir suas obrigações com a Liga. Era conhecido em nosso meio por Darrk. Até que por desgraça falhou em uma de suas missões, e o que o seguiu foi o consecutivo fracasso em tudo o que empreendeu. Não sendo mais de utilidade para meu pai, foi exilado. Ele parece ter arranjado a companhia de outros que compartilham de sua experiência.

— Exílio? De acordo com o histórico da Liga, esta parece uma punição leve. – comento.

— Ele deve sua vida a mim. Na época, era uma criança, e Ebenezer era um amigo. Jamais devia tê-lo poupado. Retornaremos ao Monastério e organizaremos um ataque. É passada a hora de meu erro ser consertado, e do fim a vida de Darcel.

 

 

Ebenezer Darcel

Primeira Aparição – Detective Comics #406 (1970)


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