Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 28
Capítulo Vinte e Oito - Alvorecer




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— Você está distraído.

É o que o Mestre Kirigi diz-me quando pela segunda vez vou ao chão em pleno treino de combate.

— Perdoe-me Mestre. – respondo erguendo-me.

— Não me peça perdão. Mostre-me que estou errado e finalize este treino. – ele me responde com seu tom calmo usual.

Desde o fim dos Desertores e a morte de Ebenezer Darcel ou Darrk, passou-se um mês. Após minha conversa com Talia Al Ghul, não lhe dirigi mais a palavra. Contentávamo-nos com rápidos olhares, fora isso, nada mais.

Ela permanecia no Monastério a pedido de seu pai, Ra’s Al Ghul, o Cabeça de Demônio e Líder da Liga das Sombras. A razão, nem ela ou Kirigi haviam especificado. Mas acreditava que fosse para garantir de uma vez por todas, que tanto esta construção quanto o Vilarejo, agora estavam seguros.

Meu treino chega ao fim quando nocauteio o último de meus irmãos. Kirigi pede-me para continuar praticando em minhas imperfeições em combate. Por mais que seja habilidoso em aplicar os golpes, não esquivo bem, o que pode levar há um fim prematuro de embate por minha parte caso a percussão certa seja aplicada.

Sigo minha preparação com um dos Sombras até o momento em que uma voz feminina às minhas costas pede para que o mesmo se afaste a fim de treinar comigo. Surpreendo-me ao ver que este alguém era Talia.

— Você é rápido na ofensiva, mas peca na defensiva. Seu oponente possui vantagem quando está no ataque, espere até que execute seu golpe para contra-atacar, ou será atingido continuamente.

Ela executa sequências das quais devo desviar.

— O que está fazendo? – pergunto-a.

— Desde que pude fechar minha mão em um punho, fui treinada por meu pai para ser a melhor. Uma digna sucessora do Cabeça de Demônio. Claramente, até agora sei mais do que você é capaz.

Uma nova sequência, e com sucesso desvio da mesma.

— Em outras palavras, quero ajuda-lo.

— Por quê?

— Por mais que não tenha sido da forma idealizada, você me ajudou, estou aqui para retribuir o favor. Você só tem a ganhar.

Outra percussão, esta aparo e contra-ataco.

— Eu... Aceito.

...

Os meses passam tão rápidos quanto um vento. Kirigi ainda conduz meus treinos, todavia, grande parte de minhas horas passo com Talia. Minha preparação, seja física ou mental, é em sua companhia. Conduzimos tudo com foco, contudo, é quase impossível que vez ou outra não desviemos de nossos caminhos. Assim sendo, venho a conhecer dela um pouco mais. Acontecimento que se torna recíproco.

Nossos momentos juntos não carregam mais o mesmo peso. O mundo ao nosso redor quando unidos estamos, é diferente. Promissor. Uma sensação que certa vez já experimentara, mas os meses a tornam mais forte.

Compartilhamos do mesmo péssimo hábito de não aproveitar nossas noites, então o último andar do Monastério é nosso refúgio. No entanto, nada acontece. Prendo-me. Constantemente sou lembrado de que ali, não estou para criar vínculos. Há uma missão, que é maior do que eu ou qualquer outro. Uma missão que excede minhas vontades. Uma missão da qual não posso desviar.

...

Em um piscar de olhos, dois anos vem e vão. Meu tempo no Monastério está perto de alcançar seu fim. É dia de meu teste final.

Reunimo-nos no único pátio do Monastério o qual a ninguém era permitida a entrada. Todos ali estão. Em um local circular, como um grande ginásio. Os Sombras distribuem-se de pé ao redor do círculo que se forma. Estão, assim como eu, trajados para o combate. No chão do pátio, a insígnia da Liga das Sombras brilha, remetendo a luz das tochas devidamente espalhadas pelas paredes. Os assentos são separados do chão por uma pequena muralha. É no topo dela que o Mestre Kirigi e Talia Al Ghul encontram-se. Kirigi traja uma luxuosa toga chinesa branca. Talia utiliza uma armadura de combate mais trabalhada que a de meus irmãos.

Ao entrar no pátio e atingir o seu centro, ajoelho-me apoiando minha mão esquerda sobre a espada fincada no chão a meu lado. Ao fazê-lo, Kirigi inicia a cerimônia.

— Bruce Kane Wayne, você tem vivido em nosso meio agora por mais de dois anos, e neste período, demonstrara ser um valoroso guerreiro. Digno, da Liga das Sombras. Todavia, você não requisita em nós um lugar. Está aqui por deseja transpor seus limites. Está aqui, pois deseja tornar-se o meio através do qual será capaz de purificar seu lar. Sendo assim, sua cerimônia de formatura, não será como a de seus irmãos Sombras. A você, algo especial aguarda. Veja o cálice a sua frente.

Ergo minha cabeça e contemplo o cálice de ouro que reside a minha frente em um pequeno pedestal.

— Beba o que nele há. – Kirigi ordena. Assim o faço.

— O medo pode ser a ruína de um homem. Este turva sua mente e altera seu julgamento. Aquele que tem medo está em perdição. Mas aquele sem medo é um perdido. Para ser mais do que você é, deve aprender a combater seus medos, e fazer deles algo que possa controlar, dobrar a sua vontade. A sua frente... – ele aponta para a entrada entalhada na pedra na qual apenas vejo o véu da escuridão – Encontra-se o Túmulo. Enterre lá quem você é e traga quem deve ser. Torne-se, o que precisa ser.

Erguendo-me, retiro a espada do chão e a mantenho em punho enquanto adentro o Túmulo.

Nada sou capaz de ver, até que não estou mais nas sombras, mas sim sou as sombras. O caminho se torna claro e prossigo. A bebida, provavelmente continha algum tipo de alucinógeno, pois sou forçado a divagar.

Minha mente leva-me ao passado. Uma vez mais estou na Mansão Wayne. Correndo pelos jardins ao lado de Tommy, Ron e Harv. Ao deixar a sombra das árvores e contemplar a colina do grande Carvalho, aprecio papai e mamãe conversarem com Tio Jacob e Tia Gabrielle que carrega Kate. É minha própria voz que ouço ecoar no fundo de minha mente.

“Nós tínhamos tudo. O mundo era bom. Mas tudo que é bom, não dura. Tudo que é bom cai por terra. Pois a escuridão sempre vem.”

Sinto o chão faltar-me e finalmente ruir. Mas a minha volta, Papai, Mamãe e Alfred me contemplam sorrindo. A sensação enche meu peito.

“É no dia que encontramos alegria. Antes do Sol se pôr, sorrimos.”

Ouço o som de disparo e meus joelhos ruem. Vou ao chão ainda empunhando minha espada. Ela esta suja de sangue, assim como minhas mãos. A minha frente, mamãe e papai jazem mortos. A dor retorna de uma forma como não o fazia em anos. Todo o peso, ali estava novamente.

“Tudo nos foi tirado. Não há mais luz quando tudo se perder.”

Seus corpos afundam no chão e no mesmo, local lápides surgem. Um trovão ensurdece-me. A dor é substituída por raiva. Sinto vontade de gritar. Sinto vontade de matar.

“É vingança o que queremos. É um novo propósito.”

Ao meu redor fotos flutuam. Rostos que não reconheço, até que em meio a eles, um inicia sua reprodução em todo o lugar. É o rosto de Joe Chill. O ambiente ao meu redor se transforma. Vejo o caminho até o apartamento do mesmo reproduzir-se.

“O que preciso é vingança.”

Joe Chill está ajoelhado a minha frente. Minha espada já não é mais o que tenho em mãos. Uma arma engatilhada a substitui. Apontada diretamente para a cabeça do assassino de meus pais. Todavia, não possuo o desejo de atirar. Não sou assim. Não sou um assassino.

“Quem devo ser? Minha própria voz ecoa em minha mente.

É neste momento que um som familiar preenche o local. Estou de volta a uma caverna úmida e escura já conhecida. O som se torna mais alto, quase ensurdecedor. Assim eles vêm.

Morcegos.

Abaixo-me protegendo minha cabeça. Eles voam ao meu redor, sem tocar-me. Não me deixam ver. Não distingo suas formas até que cessam e se dispersam. Ali, no meio do véu algo se move nas sombras. Planando em direção à luz fraca na qual me encontro. Ele não se afasta como os outros. Fito seus olhos brilhantes, eles parecem através de mim enxergar. Eles veem minha alma. Não há alegria ou tristeza, apenas ódio. Ele emana força. Ele sente medo e dele se alimenta. Mas não é o meu. Ergo-me e deixo que suas asas me envolvam. Ele não é o mal. É parte de mim. Ele é...

“Um caminho melhor.”

Quando saio do Túmulo, não é Bruce Wayne quem emerge. É outra pessoa. Outra coisa.

...

Quando dado o término de minha formatura, retornei a meus aposentos onde reuni meus pertences, aprontando-os para a manhã seguinte, onde se daria minha partida.

Todavia, apesar de precisar dormir para reunir energia para meu retorno, subo até o último andar do Monastério e lá permaneço. Remoendo o que havia acontecido no Túmulo e planejando o que viria a seguir. No entanto, sou retirado de minhas divagações por uma voz que me evoca.

— Você obteve sucesso. Não é como se fosse uma novidade. – Talia diz enquanto sorri e se aproxima.

— Você nem mesmo parece surpresa. – retribuo seu sorriso.

— Não existe surpresa quando há a certeza de algo.

Viro-me para a vista contemplar.

— Estarei partindo pela manhã. Finalmente, estou pronto para voltar a meu lar.

Talia agora a meu lado segura minha mão.

— Você não quer ficar?

Nossas mãos se entrelaçam e nossos corpos estão próximos.

— É maior do que eu. É uma promessa que fiz, e não posso quebrar.

Nossos olhos trocam olhares que mais de mil coisas dizem. Que não perguntam, nem respondem, simplesmente satisfazem.

— Lutar contra sua vontade seria infrutífero. Então, apenas lhe peço...

— O quê?

Rostos a centímetros.

— Que não vá sem dizer adeus.

Nossos lábios se tocam e o mundo ao nosso redor se desfaz. Não há nada mais. Sem mais dor, remorso ou promessas. Apenas nós dois. Os corpos se entrelaçam e o calor é reconfortante. Beijos que não cessam. Atingimos o chão, e ali, nos permitimos amar.


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