Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 16
Capítulo Dezesseis - Sem cartas na manga


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de agradecer a todos que estão acompanhando a história. E a aqueles que estão comentando. O apoio de vocês é muito importante. Vocês fazem isto valer à pena.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/714346/chapter/16

Caminho pelas ruas da cidade em meio a tantos outros. Alguns têm pressa. Outros não. Alguns conversam entre si, dão-se as mãos. Riem. Aqui, em Metrópolis, as pessoas costumam olhar para o céu. Costumam sorrir mais. É óbvio que a cidade tem problemas, contudo, pouco os deixa transparecer. Não como Gotham. Não como me lembro de Gotham desde que meus pais foram tirados de mim por um homem. Um homem que representava tudo o que de errado havia com minha cidade. Com meu lar. Lá a podridão que a corrói pode ser percebida em cada aspecto. Hoje, aqui em Metrópolis, a Cidade do Amanhã, prossigo até meu destino para mudar isto. Para fazer de minha casa o que meus pais um dia idealizaram. Para torna-la um lugar onde nenhum outro inocente jamais sofreria uma tragédia como a que me afligiu. Onde as pessoas possam sorrir.

Já se foram três anos desde que abandonei a companhia de meu fiel amigo e mordomo, Alfred Pennyworth. Após um intenso período sob as instruções de Henri Ducard, nos encontramos em uma situação de vida ou morte na qual meu companheiro fora ferido. Não gravemente, mas fora o suficiente para que me fizesse tomar por certeza algo que já havia pensado antes. O caminho que decidi tomar é perigoso. E aqueles que estiverem próximos a mim podem se ferir. Jamais desejaria que Alfred, praticamente a única família que me resta fosse tomado de mim. Precisava protegê-lo. E para isso, precisava tê-lo longe.

Utilizávamos uma lista para guiar-nos em direção aos indivíduos que seriam capazes de ensinar-me o que fosse necessário para que pudesse mudar minha cidade. No entanto, agora que a necessidade de mantê-lo a distância se faz precisa, não poderia segui-la. Para que não chegasse a mim era de extrema importância que... Desvios fossem feitos. Desde então estive nos mais variados lugares. Aprendendo o que pudesse. Encontrei boas pessoas, pessoas más. Contudo, mantive-me a distância. Como um homem, não posso combater o mundo só. Um passo de cada vez. Detetives, criminologistas, mestres em artes marciais, visitei diversos deles nestes três anos.

Agora, às portas de meu aniversário de 18 anos, não mais assemelho-me a aquela criança que começava a entender o quão complicado e terrível o mundo poderia ser. Era um homem. Fisicamente crescera. Os exercícios e lições tornaram-me forte. Meu cabelo, desde muito tempo não o cortara, tornava alguém difícil de reconhecer, o que precisava para continuar na surdina. Adquirira cicatrizes. Apesar dos protestos de meus instrutores, jamais seria mais do que sou se não ultrapassasse meus limites. As dores, os ferimentos, eram um preço baixo a pagar. Como papai, minha barba iniciara seu crescimento apressadamente. Tudo intervia para tornar-me irreconhecível. Para todos, Bruce Wayne não deveria estar fazendo isto, então, Bruce Wayne jamais estaria ali.

Aproximava-me de meu destino. De acordo com os arquivos, Giovanni Zatara mantinha moradia no mesmo teatro em que se apresentava. Agora às portas do local, perguntava-me se ele o ainda residia. A fachada do mesmo caía aos pedaços. Suas portas da frente estavam presas com correntes e cadeados. Suas janelas tapadas com tábuas. Pela frente, nenhuma entrada possível. Precisaria de outra forma.

Vasculhando os arredores do prédio encontro uma porta dos fundos. Talvez através dela fosse capaz de chamar a atenção de alguém que ainda morasse ali. Bato uma, duas, três vezes e ninguém atende. Observo os arredores. Há pontos dos quais poderia aproveitar-me para subir e averiguar o local. Invadir? Não, era um termo muito forte. Iria apenas certificar-me de que não perderia mais do que o necessário de tempo procurando em um lugar que nada tem a oferecer. É neste momento que a porta se abre.

— Oi, posso ajudar? – a jovem que atende possui cabelo negro e longo, ultrapassando os ombros. Os olhos azuis aparentam distração. Ela parece de saída. Carrega consigo uma bolsa na qual mexe. Traja jeans pretos, botas, blazer preto e blusa formal branca. Parte de sua roupa me recorda os mágicos da década de vinte.

— Ah, oi. Estava procurando por Giovanni Zatara, soube que era aqui que ele morava e se apresentava. Sou... Um fã do trabalho dele. – respondo.

— Ah, um fã? Atualmente são raros. Bem, você está certo, ele vive aqui e se apresentava também. Mas parece não estar senhor...

— Williams. – nos cumprimentamos.

Ao longo do tempo adotei diversos pseudônimos para passar despercebido. Assim como também pratiquei formas de iludir o sistema das Empresas Wayne de forma que Alfred jamais pudesse me localizar através dos gastos com as viagens e pagamentos. Cada gasto redirecionava a diversas contas aleatórias que cobririam o rastro.

— Williams? Bem, é um prazer conhecer. Sou Zatanna Zatara, filha de Giovanni. Vim visita-lo, mas como ele não está vou continuar procurando por ele em outro local.

— Se incomoda se acompanha-la? Gostaria muito de falar com seu pai. Trocar algumas ideias.

— Não, tudo bem. A companhia é bem-vinda.

Deixamos o teatro e caminhamos pelas ruas.

— Tem alguma ideia de onde ele possa estar? – indago-a.

— Bem, quando não está no teatro ele costuma frequentar um bar aqui perto. Bem ali. – ela aponta para um estabelecimento virando a esquina.

— Ele vai lá há muito tempo?

— Uns dois anos, desde que mamãe... Bem, na época eu ia me mudar para Central City para estudar, mas ele precisava de mim aqui. Ele disse que não queria. Mesmo assim vim. Como estudo, passo a maior parte do dia fora. Ele aproveita e vem para cá.

— Entendo.

Assim que entramos noto que por mais que Zatanna houvesse dito que Zatara frequentasse o bar há praticamente dois anos e que provavelmente lutava contra a depressão da perda de um ente querido aliado a sua queda profissional, não poderia imaginar que sua situação fosse tão deplorável.

O homem estava jogado ao chão do bar. Outros que frequentavam o local o auxiliavam a levantar com dificuldade. Colocando-o de volta em uma cadeira. Por incrível que pareça, a garrafa que segurava não derramou uma gota sequer.

— Pai! - Zatanna se dirigiu ao pai retirando a garrafa de sua mão e sentando-se ao seu lado voltando-se para o dono do estabelecimento atrás do balcão – Há quanto tempo ele tá aqui Ted?

— Umas duas horas. Hoje ele tá pegando pesado. – respondeu o homem pegando a garrafa que Zatanna o entregava.

— Ah pai, você não pode continuar assim. Tem que ir para casa. Se cuidar. – a filha de Giovanni lhe dava tapinhas em suas costas enquanto ele tossia e limpava a boca com o braço.

— Filha, o que está fazendo aqui? Esse lugar não é para você... – responde-a aparentando dificuldade para focalizá-la.

— Nem para você. Vamos, já está mais do que na hora de ir para casa.

— Sou um homem... Perfeitamente crescido... E digo quando é hora de ir para casa. E não é... Agora. – Zatara mal conseguia falar graças a seus soluços. Penso que talvez seja hora de intervir para tirá-lo do local.

— Senhor Zatara, sou Williams. Sou um grande fã do seu trabalho e gostaria de conversar com o senhor. – apresento-me estendendo a mão. Zatara a observa como se fosse algo que jamais tivesse visto.

— Williams? Fã... Do meu trabalho...? Bem... Isso é bem raro agora. – sua voz se torna embargada. Momentaneamente faz menção de ir ao chão e se segura no balcão.

— O senhor ainda é um grande mágico, acredito. Por que a surpresa? Aliás, que tal conversarmos em outro lugar sobre isto?

— Outro lugar? Sim... Sim. Quanto eu te devo Ted...?

— Não se preocupe quanto a isto senhor Zatara. Eu cuido disto.

— Ah, não, não, não. Eu posso... – o homem vai ao chão.

Pago sua conta e o carrego ao ombro. Zatanna oferece ajuda, no entanto, recuso. Acredito que andaremos mais rápido desta forma. Além do mais, o homem não pesava muito. Graças a seu recente vício em álcool, provavelmente perdera peso.

Ao entrarmos no teatro noto a decadência do local. Não é de fato muito grande, contudo, é suficientemente espaçoso. As cadeiras que ficavam presas ao solo foram arrancadas de qualquer forma formando buracos pelo chão. O palco de madeira ornado de lâmpadas tinha marcas de queimado e as tábuas estavam soltas. As cortinas que uma vez deviam ter sido vermelhas, hoje possuíam um tom marrom. Tudo era tomado de poeira. Por trás do palco havia uma escada levando ao segundo andar do recinto, onde Giovanni Zatara morava.

O local era grande. Seu interior lembrava em grande parte a Mansão Wayne. Contudo, era desorganizado e sujo. Cadeiras estavam viradas, cortinas rasgadas. Uma grande janela na sala estava tapada com tábuas. O sofá a direita do recinto, próximo à entrada, deixava escapar sua espuma. Uma lâmpada acesa piscava pronta para queimar.

— Onde o coloco? – perguntei quando chegamos e pude me acostumar com o cheiro ruim.

— Coloque-o na cama. Vai precisar descansar. Mais tarde poderá se alimentar. – Zatanna acompanha-me até o quarto.

Coloco o homem em sua cama, todavia não sem antes retirar o abarrotado de objetos e roupas jogados por sobre ela. É praticamente imediato o primeiro ronco que este libera ao se ajeitar corretamente.

— Olha, eu só queria agradecer pela ajuda com ele. E sinto muito por isso. Você estava esperando ver o Grande Zatara, e bem... O encontra assim. – a voz de Zatanna emana culpa. Provavelmente coloca sobre seus próprios ombros a responsabilidade pelo estado do pai.

— Bem, somos todos humanos e temos nossas recaídas. Mas sempre podemos levantar. – observo o homem roncar em sua cama. Parece em paz.

— É... Tem razão.

— Olha, acredito que entenda sobre luto, e gostaria de oferecer ajuda para reabilitar seu pai. Pelo que disse, ele te afasta. Talvez possa precisar. Sei que sou um estranho, mas... Realmente quero ajudar se possível.

— Eu... Posso sentir que há verdade no que diz. Mesmo que não em tudo. E agradeço pela oferta. Mas por enquanto, ele é responsabilidade minha. Meu pai. Preciso fazê-lo voltar aos trilhos. Você disse que queria conversar com ele, assim que ele estiver melhor posso chama-lo para que o possam fazer.

— Certo, seria ótimo. Este é o meu telefone. – entrego-lhe um pedaço de papel o qual assino o telefone do apartamento que aluguei temporariamente em um bairro não muito longe – Vai precisar de ajuda com esse lugar?

— Ah, não. Vai ser bem rápido. E não quero te prender nesse tipo de serviço.

— Bem, então eu já vou. Se precisar, ligue.

— Pode deixar. Williams.

Deixo o local e desço para o teatro. Ouço sons estranhos vindo do cômodo, todavia prossigo. A porta do recinto se fecha às minhas costas com calma e parece trancar-se só. O dia não prosseguira como esperava, mas talvez amanhã fosse melhor. Afinal de contas, poderia em primeira mão conversar com um mágico de verdade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Batman - Alvorecer" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.