Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 15
Capítulo Quinze - A dor de uma despedida




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Observo-o dormir e pela primeira vez em tanto tempo, ele está em paz.

Estou sentado ao lado de Alfred em sua cama de hospital a quase quatro horas. Os médicos o deram um sedativo para ajuda-lo a dormir e amenizar a dor. O tiro não fora grave, contudo, atingira o exato joelho no qual ele tivera sérios problemas no passado fazendo-o até mesmo deixar as Forças Especiais Britânicas.

O quarto do hospital era um dos melhores segundo a enfermeira. Uma televisão estava à disposição do paciente com diversos canais. Jarros com belas flores se espalhavam pelos cantos do cômodo. Da janela se era capaz de ver os Montes Chersky. Sua cama, ao centro do quarto parecia ser tão confortável quando as da Mansão Wayne. E a comida, se havia provado corretamente a mesma que meu amigo estava ingerindo, não deixava nada a desejar, mesmo sendo especial para indivíduos em recuperação.

Do lado de fora do quarto Henri Ducard e Harvey Harris recebiam cuidados médicos. Em breve agentes da INTERPOL estariam ali para averiguar o que havia acontecido. Eu havia falhado em impedir Ducard. Tanto Willi Doggett quanto Thomas Woodley estavam mortos e suas conexões fora de alcance.

De minha mente a cena de Ducard assassinando a sangue frio Doggett não ia embora. Por que ele havia feito aquilo? O homem estava rendido. Poderia nos contar o que quiséssemos. Por que mata-lo?

Meu amigo resmunga algo sobre a Coréia enquanto ainda dorme. Repentinamente lembro-me de sua esposa e filha no país, agora não muito longe dele. Deveria avisá-las sobre isto. Mesmo separados judicialmente, Alfred e sua esposa mantinham uma boa relação, e o mesmo amava sua filha tanto quanto tinha certeza que me amava. Saio do quarto decidido a de alguma forma encontrar um meio de informa-las sobre o ocorrido. Talvez possa contatar a filial das Empresas Wayne do país.

Ao sair do cômodo ouço a voz de Harvey Harris. Ele se aproxima. Locomovia-se com muletas. Sua cabeça está enfaixada tapando seus cabelos pretos longos. Apesar de sua perna engessada e de todos os curativos, o homem mantinha um sorriso em seu rosto quando me saudou.

— Ei, Bruce Wayne, em? Saiu-se bem lá rapaz. Para a sua idade, levou tudo com muita maturidade. Você tá legal?

— Tô. Tô legal. E você?

— Eles estão me fazendo usar isso, mas não tô tão mal. É protocolo mesmo.

— E Ducard?

— Está comendo. Como nos velhos tempos o cara não para. Mas tá bem mais rabugento.

— É...

Um silêncio desconfortável se mantém. Sem notar, ambos contemplamos Alfred dormir.

— Olha Bruce, posso te chamar de Bruce, certo? – inicia Harvey.

— Claro... – assento.

— Não foi sua culpa o que houve com Woodley, ou com Doggett. Você não podia fazer nada.

— Tem certeza?

— Nesse tipo de situação, praticamente nenhum de nós pode fazer muito. É mais uma questão de aprender a seguir em frente não importa o quão assustador é tudo o que vemos todos os dias. E de como tudo está tão longe de nosso alcance, mesmo ao nosso lado.

— Eu só... Não sei.

— Bruce, o mundo é muito grande. E as pessoas, são imprevisíveis. Você pode sempre esperar o melhor delas, mas precisa estar pronto para saber que vão te decepcionar. Te ferir.

— Alfred...

— Ele é um homem forte. Vai ficar bem.

— Ele só estava nisso por minha causa. Pedi para que me acompanhasse. Para que ficasse ao meu lado. Para que não me deixasse só. Se qualquer coisa acontecesse com ele, eu jamais me perdoaria. E aconteceu.

— Mas não foi grave.

— Na próxima vez pode ser. Não vou esperar para que seja. Estou em um caminho perigoso. Um do qual não posso desviar-me. É maior do que eu. Mas posso proteger aqueles aos quais amo privando-os de minha companhia. Do perigo que represento.

— Nem sempre afastar aqueles que se ama adianta.

— Eu tenho que tentar... Por Alfred.

Aproximo-me de meu amigo e seguro sua mão. Ele esboça uma débil reação sem abrir os olhos, o que me faz sorrir. Meus pais se foram, e uma das últimas pessoas a qual posso chamar de família pode ficar em um perigo muito maior por minha proximidade. Não vou permitir isto.

— Pode falar a ele?

— O quê?

— Que vou partir.

— Bruce...

— Eu preciso. Por favor, pode falar a ele?

— Eu... Passarei o recado.

Com a confirmação, faço meus preparativos. Sou capaz de contatar a filial das Empresas Wayne através da qual informo a esposa de Alfred e sua filha sobre seu estado e localização, em breve serão levadas a ele. Igualmente busco por equipamentos, suprimentos e tudo o que possa necessitar para minha jornada.

Terminados os preparativos volto ao hospital onde meu amigo ainda dorme. Harris informa-me que Ducard se fora e pedira para avisar que não iria requerer o dinheiro e que tudo o que antes havia recebido, já cobria pelos seus serviços. Entrego-lhe então uma carta que escrevera para Alfred.

— Bruce, tem certeza disto?

— Não.

Com uma mochila nas costas levando tudo o que acredito que possa precisar, uma lista de incríveis indivíduos que possam me auxiliar e um objetivo firmado em uma vontade inquebrável, parto em meu caminho só. Não por escolha, mas por necessidade.

...

Alfred Pennyworth se senta na cama de seu quarto de hospital enquanto lágrimas escorrem de seu rosto. Sua filha ainda tão jovem senta-se ao lado da mulher que um dia fora sua esposa. Harvey Harris mantém-se em pé a sua frente. Sua expressão é de condescendência e culpa.

Suas lágrimas molham a carta que Mestre Bruce deixara em sua partida. A carta que o pequeno Bruce Wayne, a quem a seus pais jurara jamais abandonar e sempre cuidar, e agora havia partido.

Querido Alfred,

Em decorrência dos últimos acontecimentos, opto neste momento por afastar-me de sua companhia em pró de seu bem-estar. Peço-lhe que não me procure. Não posso deixar de lado o que ocorreu como sei que pediria. Não posso abandonar este caminho como sei que queria. Mas posso protegê-lo do mal que atraio para mim mesmo em minha caminhada. Retorne a Gotham, ou aproveite sua vida. Aproveite a companhia de sua filha.

Agradeço por sua sempre fiel companhia. Seus cuidados e toda a alegria que me proporcionara durante tantos anos. Você jamais foi um mordomo ou apenas amigo, foi minha família. E agora, minha única família.

Fique bem meu amigo.

Com amor,

Bruce Wayne


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