O Legado escrita por Luna


Capítulo 70
Parte V - Capítulo 70


Notas iniciais do capítulo

Para a maravilhosa srta. Quentty, seu comentário me deixou muito feliz.
Espero que goste.



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“É sempre mais escuro antes do amanhecer. Mas, às vezes... Só há escuridão.”

Riverdale

 

Há algo inexplicável na fúria de um homem bom, algo que quase não se pode conter e todos viam como Harry Potter tentava manter sua raiva sobre controle. O que aconteceria se ele liberasse sua fúria sobre os presentes naquela sala? O silêncio era quase palpável, sufocante e esmagador, era cortado uma vez ou outra pelo fungar de nariz da jovem Amélia que se encolhia no canto, quase como se desejasse se fundir ao papel de parede.

 – Você sabia? – Harry se virou para Eveline, a mulher tinha mantido a mesma expressão desde o momento que chegou a casa e sairia dali da mesma forma. Ela não era uma bola de cristal e não tinha obrigação de ser.

— Algumas coisas não podem ser evitadas. – Ela encarou Harry com a mesma intensidade que ele o fazia. – Se eu dissesse tudo que sei onde isso nos levaria?

— Então você viu? – Harry parecia ainda mais perigoso quando falava daquela forma pausada e baixa.

— Não, Arwen viu. Ela me falou e eu decidi manter isso sob sigilo. – Dos presentes Ben era o que estava pior, tentava ser forte, mas estava muito destruído.

— Eu a pediria em casamento, já tinha a aliança, só estava esperando pelo momento certo. – Ben a olhava com sofrimento. – Ela era sensacional, foi a mais promissora da sua turma, era boa, até mesmo com as piores pessoas. Era gentil quando não tinha obrigação de ser e agora está morta.

— Eu sei. – Eve nunca alterava sua expressão. – E acredite quando eu digo que realmente lamento por essa morte, mas algumas coisas não podem ser alteradas.

— NÃO É VOCÊ QUE DECIDE. – Harry gritou.

— Sim, é. Pois eu sou a única que sabe as terríveis consequências que isso pode causar. Eu tenho falado tudo que posso, tenho levado meu dom mais longe do que ele já foi em qualquer momento da minha vida. Evitei ataques, preveni mortes, protegi pessoas, mas tudo deve ter um limite.

— Como você consegue ser tão cínica? – Harry apertou sua mão, se portasse a varinha naquele momento provavelmente sairia fagulhas dela.

— Já chega! – Terêncio Boot saiu de sua posição e se colocou atrás da cadeira de Eve a tocando no ombro. – Eveline está certa, o dom é dela, ela sabe mais sobre visões e futuro do que qualquer um nessa sala. Se ela diz que não poderia ter nos alertado sobre o que aconteceu nessa noite então devemos acreditar.

Eveline estremeceu sob o toque. Era quase difícil se manter longe dele quando ele a defendia assim, mas era só lembrar o aviso de Arwen que sua força de vontade voltava. Ela não estaria por perto quando Terêncio encontrasse sua própria morte, esperava que ele mantivesse essa mesma ideia quando percebesse que ela não o tinha salvado.

— Temos que ir para o Ministério. – Harry deu as costas. – O governo francês deve fazer algum pronunciamento, talvez agora depois desse ataque o Congresso Mágico possa nos ajudar de alguma forma.

— Ele irá responsabilizar o Ministério por colocar pessoas de risco em território francês sem a devida notificação. – Eve falou. – O ministério deve ser servil e reconhecer seu erro, não importa egos agora. Não podemos ter intrigas políticas quando o inimigo se torna mais forte a cada dia.

— Tem mais alguma informação valiosa para nos dar? – O sarcasmo era notado em cada palavra.

Eve fechou os olhos, a pressão que a casa fazia sobre o seu dom se tornava mais forte quando ela não se concentrava e o turbilhão de imagens que perpassava sua mente a deixava zonza e confusa.

— Sophia parece perturbada.

— Eu poderia simplesmente mata-la. – Blaise bateu na mesa.

— Sim, essa seria uma ótima forma de lidar com as coisas. – Eve falou. – Mas eu acho que o ataque de hoje não veio dela.

— Por quê?

— Porque o ataque falhou. Amélia está viva e segura e eles nem conseguiram rachar a proteção. Sophia Zabine nunca cometeria esse erro.

— Se o ataque não veio dela, então veio de quem? – Hermione perguntou, mas nem mesmo Eveline conseguia ver a resposta para isso.

0o0o0o

— Como você pode? – Sophia andava de um lado para o outro. – Entende a estupidez que cometeu?

— Foi apenas um aviso. – Vitorin permanecia sentado, como se a explosão da mulher não significasse nada.

Adria permanecia em pé do outro lado da mesa, não tentaria mediar as coisas, se tivesse sorte Sophia poderia matar Vitorin ali mesmo. Ela própria limparia o sangue no chão com um pano e escova se fosse o caso.

— Aviso? AVISO? – Sophia o olhava com raiva e desprezo. – Você falhou. Apenas mostrou a eles que aquela sangue ruim ainda é intocável.

— Uma auror morreu. – Ele comentou displicente.

Sophia virou para Adria, aquela era uma informação nova.

— Acácia Pentaghast. – Adria falou. – Isso apenas vai dar a Ordem da Fênix mais uma família aliada, uma poderosa família. Os Pentaghast tem voz ativa no Ministério, eles podem começar uma caçada imediatamente, forçar os franceses a se movimentar. Foi um movimento arriscado e os riscos não foram ponderados.

Vitorin apenas bufou e fez descaso com a mão.

— Era uma menina tola, nem deveria ser uma boa bruxa.

— Acácia foi a primeira de sua turma, diziam que ela seria tão boa quanto sua mãe e era tão fascinante em feitiços quanto seu pai. Era o orgulho da família. – Adria falava tudo olhando para Sophia, ignorava a presença do outro bruxo.

— Alguém tinha que fazer alguma coisa. – Vitorin se levantou. – Você está parada há semanas, fala de planejamento e blá blá. Nós temos que lutar.

— Nós temos que vencer, seu tolo. – A magia furiosa de Sophia parecia se expandir. – Acha que eu faço movimentos aleatórios? A sangue ruim me entregaria todos que eu desejo no momento certo, agora elas serão protegidas novamente, escondidas e tudo por que você não consegue pensar.

— Eu não sou um de seus servos. Você não me dá ordens. – Vitorin tirou a varinha da manga, mas não apontava para Sophia, um erro, é claro.

O feitiço foi em direção ao homem tão rápido que provavelmente teria lhe decepado a cabeça antes que ele percebesse o que tinha acontecido. Felizmente para ele e infelizmente para as mulheres Illya estava perto o suficiente para usar um contra-feitiço forte o bastante para rebater a maldição.

— Sua... – Ele ia erguer a mão, mas Illya segurou o seu braço e fez que não com a cabeça.

— Illya, querido, você é realmente magistral. – Sophia deu um sorriso frio.

— Obrigada, sra. Zabine. Tenho certeza que meu tio se sente terrível por ter falhado no ataque à casa de Eliza Hall, sabemos como as duas são importantes para você. Mas devemos conter nossos movimentos, não queremos que ninguém se machuque.

— Isso é um aviso ou ameaça? – O sorriso nunca abandonava o rosto de Sophia.

— Uma constatação, talvez. Ameace minha família novamente e seu filho terá dificuldade em reconhecer o que sobrar do seu corpo. – Illya sorriu, ou fez um gesto que deveria ser um sorriso. – E isso vale para qualquer um que tentar protegê-la. – Ele olhou na direção de Adria. – Viu? Isso é uma ameaça. Vamos tomar café no quarto, se as senhoras nos derem licença.

Os dois homens cruzaram a porta e Sophia sentia vontade de conjurar um jarro apenas para jogar contra a madeira.

— Poderia simplesmente mata-los.

— E nesse caso terá mais uma grande família contra nós. – Adria cruzou o espaço e segurou as mãos de Sophia. – Vitorin é um tolo, mas Illya não, ele não é um inimigo que deve ser subestimado, Soph. Devemos tomar cuidado.

— Convivemos a vida toda rodeadas de cobras, Adria. A essa altura deveríamos ser imunes ao veneno que elas expelem.

— Sim, mas não somos imunes aos feitiços que elas soltam. – Adria sorriu. – Seja o que for você dará um jeito, Soph, você sempre dá.

— Sim. – Ela passou a mão pela madeira da cadeira, mesmo furiosa sua mente já rodava pensando nas possibilidades futuras. – Eu ainda as terei mortas, Adria, as duas. Vai ser um deleite quando eu ver aquela sangue ruim matando a pequena bastarda.

Uma dor profunda se instalou no peito de Adria e sua própria mente começou a tentar achar soluções. Talvez ter Illya por perto não fosse tão ruim assim, ela tinha uma infinidade de tesouros, um deles poderia agradar o jovem rapaz o suficiente para ele lhe prestar um pequeno favor.

0o0o0o

Ela andava pelas ruas de Londres sem saber onde estava de fato. Nunca tinha passado tanto tempo na Inglaterra, o parque estava cheio de pessoas, o que poderia lhe dar algum conforto em situações normais, mas ela poderia simplesmente cair ali vítima de um feitiço e nenhum dos trouxas poderiam ajudar. Aquilo ainda poderia ser uma armadilha, era tão ridicularmente claro que era uma armadilha.

— Não pare de andar.

Eliza quis virar o rosto para ver melhor o homem que se projetou ao seu lado, mas não tinha coragem o suficiente.

— Nunca acreditei quando ouvia minha mãe dizer que fazemos coisas idiotas por aqueles que amamos, mas olha aqui você comprovando o argumento. – Continuou. Ele puxava um pouco o erre, mas tirando isso seu sotaque era perfeito. – Nem consigo expressar o quanto a acho estúpida.

— Porque estou aqui? – Eliza encontrou sua voz, ela fez que ia parar, mas ele segurou seu braço e continuou a impulsionando para frente.

— Por algum motivo você tem pessoas do outro lado que desejam seu bem. – Ele apertou ainda mais o braço dela quando Eliza se moveu tentando sair. – Como disse, pessoas fazem coisas idiotas por amor.

Eles pararam no meio do parque, uma grande quantidade de árvores estavam em volta dos dois e o número de pessoas tinha diminuído ali.

— Você sabe quem eu sou? – Eliza não respondeu e ele sorriu. – Eu acho que você sabe, mas de qualquer forma, sou Illya Ivashkov.

Illya era um homem alto, pelo menos uma cabeça maior que Eliza, tinha cabelos castanhos e olhos da mesma cor. Deveria ter mais de trinta anos e possuía covinhas quando sorria, o que dava um ar singelo em todos o traço masculino. Tinha uma pequena quantidade de barba crescendo pelo seu maxilar e fios escuros caiam sobre sua testa, o que lhe fazia uma vez ou outra passar a mão pelo cabelo. Isso lhe dava um ar galante.

— Você me trouxe até aqui. Irá me matar?

— Impressionante, você não parece com medo. – Ele a analisava criticamente.

— Às vezes acho que caso eu morra talvez ela pare de caçar Amélia. – Eliza confessou algo que vinha pensando há algum tempo. Talvez isso a tenha feito cometer a temeridade de aceitar o convite de alguém desconhecido.

— Então você realmente não conhece a sra. Zabine.

— Você conhece?

— O suficiente para dizer que sua morte não será o suficiente. Sua filha está condenada enquanto Sophia viver.

Eliza sentiu vontade de se encolher e chorar.

— O que você quer?

— Dar-lhe isso. – Ele tirou um conjunto de papeis do bolso. – Você pode ir embora hoje ainda. Pegue sua filha e saia do continente, vá para longe.

— O que? – Eliza estava perdida.

— Uma passagem até a Argentina. Especialmente acho que de lá deveria pegar outro avião para o Brasil, o país é grande, é receptivo e Castelobruxo é uma grande escola de magia, sua filha pode continuar sua instrução mágica lá.

— O que? – Eliza não sabia se estava mais surpresa pelo que significava os papeis ou por ele saber sobre transporte trouxa.

Illya revirou os olhos, a mulher era mais tola do que tinha pensado.

— Não há qualquer futuro para você aqui. Acha que o Potter poderá mantê-la segura? Ele estará muito ocupado protegendo aqueles que lhe são importantes para se preocupar com você? Quem você tem? Blaise e Mary Zabine? Eles também tem seus filhos, os herdeiros e de sangue puro. Hermione Granger tem um Ministério para manter de pé. Quem você tem Eliza?

— Por que está fazendo isso? O que você ganha com isso?

— Muita coisa, mas especialmente eu não perco nada. Sophia nunca irá descobrir sobre esse pequeno encontro e eu ganho vários presentes de sua amiga especial.

— Que amiga especial? – Ela estava tão confusa.

Illya tinha o sorriso fácil para ela. Ele parecia ponderar sobre algo, olhou para trás e voltou-se para ela. Os olhos de Eliza estavam cheios de medo e aflição.

— Eu soube que você sumiu por alguns dias. Onde você acha que esteve? – Ela era muito baixa para ele, era quase engraçado como ela tinha que levantar a cabeça para olhá-lo. – O que acha que ela fez com você enquanto estava sob seu domínio?

— Vocês dois parecem bem íntimos, por que não me fala? – Ela falou com raiva.

Illya voltou a sorrir.

— Eu acho que ela roubou sua mente, tirou algo daí e colocou outra coisa no lugar. Suas raízes africanas dão a Sophia um poder que nenhum de nós conhece, ela não é uma pessoa para ser ignorada.

— Acredite, eu sei.

— Sabe? Mesmo? – Ele estreitou os olhos, mas logo um sorriso tomou lugar. – Fiz o que eu devia fazer, foi um prazer, srta. Hall.

— Eu não vou fugir. – Eliza gritou atraindo atenção de algumas pessoas que passavam por perto.

Illya voltou-se para ela, Eliza não compreendeu o que tinha no olhar dele, queria que ele voltasse com o sorriso debochado, ao invés de olhá-la daquela forma.

— A coragem só é válida se ela a mantém viva. Fique e morra, não me importo realmente.

Ele nem ao menos olhou ao redor antes de aparatar a deixando sozinha. Eliza olhou para as passagens na sua mão, ela estaria segura se colocasse um continente entre elas e Sophia?


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