O Legado escrita por Luna


Capítulo 64
Capítulo 64


Notas iniciais do capítulo

Se chegarem até aqui me digam o que estão achando



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“Uma vez feita a escolha é preciso seguir adiante e confiar no seu próprio coração...”

Paulo Coelho

 

Ele nunca imaginou que estaria nessa situação, morando em um lugar tão miserável e convivendo com pessoas que ele passou toda a vida aprendendo a detestar. Se fosse ser sincero o lugar não era tão ruim, era limpo e agradável, a cor clara nas paredes era o oposto a escuridão de sua antiga casa, tinha até mesmo um jarro com flores que Dominique tinha deixado na última vez que passou por lá.

Pensar na garota lhe trazia um amargor no fundo da garganta acompanhado de sensações que há muito tempo ele não sentia. Recriminava-se cada vez que aceitava um convite ou quando agia impensadamente e a procurava. Quando estava com ela toda a tempestade que vivia em si se acalmava e era como se ele finalmente conseguisse respirar e ela conseguia lê-lo com facilidade, algo que o incomodava profundamente.

Todo dia quando ele encostava a cabeça no travesseiro se perguntava se tinha tomado a decisão correta. Tinha agido impulsivamente, estava tão cheio daquela casa, de seu pai e do avô, as notícias nos jornais lhe causavam uma raiva descomunal e a inércia de Theodore o irritava de tal forma que a explosão que se seguiu depois da última discussão dos dois não foi uma surpresa para si. Sabia que em algum momento seu mau gênio tomaria a frente e acabaria fazendo algo estúpido.

Culpava Hermione, a convivência com ela estava afetando seu bom senso, isso era certo. Que outra explicação teria para ter simplesmente jogado suas coisas dentro de uma mala e saído de casa? Ainda conseguia ver a figura de seu pai parado na porta dizendo que aquela era a decisão errada, via sua mãe com os olhos brilhando e silenciosa.

Depois que cruzou os portões soube que jamais poderia voltar, era orgulhoso demais para admitir seu erro diante do pai e seu futuro dali em diante estava traçado. Pelo menos ele esperava ainda ter um futuro. Diminuiu sua mala e foi para o Ministério, onde ele viveria a partir de então ainda era uma incógnita que ele evitou pensar nas primeiras horas, mas sua falta de atenção foi percebida por todos. Infelizmente no dia ele teve uma reunião com o Ministro da Magia e não fazia ideia do que estava falando.

Victorie tentou continuar com a pauta do dia, mas ela ainda não estava por dentro de todos os procedimentos que eles vinham trabalhando e até seu conhecimento teve um limite e foi quando Hermione com toda a sua sensibilidade encerrou a reunião. Eric ainda estava tão atordoado que nem se sentia envergonhado por ter se passado por incompetente na frente de seu chefe.

— Vai me dizer o que está acontecendo? – Hermione entrou na sua sala sem bater, algo incomum vindo dela.

— Desculpe?

— Você me mandou os documentos errados. – Ela ergueu a pasta na mão e se sentou na cadeira em frente a sua mesa. – Você estava totalmente fora de si hoje mais cedo e tem se preparado para a reunião há semanas.

Eric batia o dedo na mesa e evitava olhar para a mulher. Sua mente trabalhava com todos os possíveis cenários da sua atitude insensata.

— Eu sai de casa, Sra. Granger. – Ele olhou para além dela. – Hoje de manhã, joguei minhas roupas e objetos pessoais dentro de uma mala e sai de casa.

— Entendo.

Não, Eric duvidava que ela entendesse.

— Isso significa que eu rompi com a minha família. – Ele resolveu explicar para que ela entendesse a gravidade da sua situação.

— Espera... O que? – Os olhos dela piscaram.

— Meu pai, ele... – Eric bufou e jogou a cabeça para trás. – Ele não vai tomar uma posição, isso significa que ele pode jogar para os dois lados.

Hermione ainda o encarava estática.

— As notícias só ficam piores a cada dia, isso por que eles não sabem todas as informações. Quando meus irmãos forem para casa... Quando eles souberem... Nicholas é tão... Ele simplesmente não consegue manter a língua dentro da boca, adora despejar os erros das pessoas e irritá-las é o passatempo preferido dele e Timothy não consegue controla-lo.

— Eric...

— Meu avô... Mamãe o estava mantendo distante, mas agora... Meu pai... Sebastian pode machucar o Nicholas, e o garoto é tão... Eu conseguia controlar a situação, me manter entre os dois, mas Nicholas sempre gostou de se impor e isso...

— Eric, calma. – Hermione rodeou a mesa e se ajoelhou perto dele o virando para si. – Está tudo bem.

— Eu cometi um erro, jamais deveria ter feito isso. Jamais deveria tê-los deixado sozinhos naquele lugar. Eu só...

— Não aguentava mais ficar lá. – Ela complementou. – Vamos pensar em um problema de cada vez, agora temos que ver um local para você ficar. Você tem dinheiro?

Eric respirou fundo tentando clarear sua mente.

— Sim, uma boa quantia.

Victorie escolheu esse momento para entrar na sala. Ela era uma companhia agradável, inteligente e educada, embora falasse sem parar o que o irritava um pouco e tinha o péssimo hábito de entrar sem bater. Eric achava que poderia adestra-la e fazê-la uma pessoa melhor para se conviver com Sonserinos. Lembrava-se de Molly, a garota provavelmente o agradeceria.

— Está tudo bem? – Victorie perguntou com a porta semiaberta, não sabia se entrava ou se saia.

Hermione se levantou e colocou a mão no ombro de Eric apertando um pouco.

— Sim, mas Eric precisa de ajuda. – Seu aperto ficou mais forte quando percebeu que ele iria retrucar. – Ele precisa arrumar um local para morar, você poderia ajuda-lo, Vic?

A pergunta se formou na mente dela, mas seu bom senso se impediu de proferi-la e ela apenas concordou sorrindo formalmente.

Ela gostava de Eric, mas ele não era a pessoa mais fácil de conviver. Por isso ficou feliz ao ver Dominique e empurrá-lo para ela, a irmã tinha voltado para a Inglaterra há alguns meses e tinha procurado lugares para morar, o que já adiantaria todo o trabalho. Não foi fácil convencer Eric a aceitar a ajuda de Dominique, mesmo relutante ele a acompanhou para fora do Ministério.

Havia uma graça na mulher, ela passava fragilidade com sua pele pálida e seus cabelos dançando com o vento, toda a confusão vermelha se tornava mais exposta com sua escolha de roupas, totalmente em tom negro. Achou que ela ficaria chateada por ter sido encarregada de fazer aquilo, mas ela manteve o bom humor e foi agradável durante todo o dia, mesmo que Eric respondesse suas perguntas de forma fria e curta.

Eles acharam um bom apartamento, já tinha mobília e era bem localizado no Beco Diagonal, tinha alguns feitiços de proteção padrão e o valor era satisfatório, com o dinheiro que havia no banco e seu salário no Ministério ele conseguiria viver confortavelmente. Aceitou por educação o convite que ela fez de irem comer algo antes de ir embora e agora ele se perguntava se as coisas seriam diferentes se ele tivesse recusado.

Eles sentaram em uma mesa na calçada, o clima estava agradável e não havia muitas pessoas transitando pelo local. Dominique pediu chocolate com marshmello e quando ela levantou a xícara aproximando do rosto soprou uma brisa suave que fez seu cabelo ir para frente de seu rosto e ela deu um lindo sorriso falando algo sobre Victorie e marshmello, Eric não fazia ideia do assunto, ele só conseguia pensar como o cabelo dela brilhava com a luz do pôr do sol e como o seu sorriso fazia com que seus olhos parecessem mais brilhantes.

No mesmo dia ele descobriu que ela estava trabalhando no Gringotes e por isso estava sempre por ali perto. O que lhe dava uma grande desculpa para sempre aparecer na casa dele no fim da tarde trazendo o jantar ou algum enfeite bonito que ela viu no caminho. Ele tentou impor alguns limites no inicio, mas ela sempre os driblava e depois ele passou a se acostumar com a presença dela e ansiar por sua companhia.

Ele sentia vontade de sorrir quando lembrava que Dominique sempre retirava os sapatos quando chegava ao apartamento, pegava algo para beber e bisbilhotava o que tinha de comida, em seguida se deitava no sofá como se estivesse em sua própria casa. Eric a tinha repreendido no começo, mas como todo o resto ela ignorou.

Assim que ele entrou em sua sala a corrente de pensamentos que o levaria a enviar uma coruja a ruiva a convidando para jantar foi interrompida. Seu coração palpitava forte contra o peito, nunca havia sentido qualquer coisa semelhante. Engoliu em seco e fechou a porta contornando a mesa e colocado os documentos em seus devidos lugares.

— Essa é uma bela sala para um estagiário. – A voz grave de Sebastian causavam calafrios nele.

— Não sou mais estagiário, Sra. Granger me deu uma posição permanente no DELM.

— Ah, essa é uma excelente notícia, Eric. Algo a se comemorar. – A voz soava feliz, mas os olhos continuavam duros.

— Não há motivo para tanto. – Ele sentou, sem convidar o outro a fazer o mesmo. – O senhor deseja alguma coisa?

Eric resolveu acabar com aquilo de uma vez, ficar protelando só faria a vontade de vomitar aumentar.

— Ora, eu volte e descubro que o herdeiro de nossa família saiu de casa e está morando em um lugar qualquer. – Sebastian andava pela sala, observando os detalhes do ambiente. – Isso foi uma surpresa.

Eric não tinha o que falar e não sabia se conseguiria falar algo sem se passar por idiota. Seus pensamentos estavam em um turbilhão, imaginava se o avô estava ali para mata-lo e se conseguiria se defender por tempo suficiente até algum auror chegar.

— Sua ação pode ser vista de maneira errada por algumas pessoas. – Sebastian continuou. – Elas podem entender isso como uma afronta aos nossos costumes e isso pode ser perigoso nesses tempos tempestuosos.

— Se veio aqui para tentar me convencer a voltar a resposta é não. – Ele tentou soar o mais seguro possível, mas sentiu sua voz vacilando e sabia que o avô também.

— Tentar? – Sebastian riu. – Caro Eric, sempre pensei que você fosse o mais inteligente dos seus irmãos. O que traria orgulho a nossa casa, Merlin sabe como Timothy já é uma decepção ao se envolver com mestiços e Nicholas é tão esquisito que deve acabar vivendo em uma casa isolada criando corujas. Mas você? Você estava na DELM depois de pouco tempo de formado, tem sessões particulares com o Ministro, seu nome já corre entre os bruxos da Suprema Corte e algumas das leis que você trabalhou já estão em vigor. Quem sabe daqui alguns anos você não chega a chefe do departamento?

A postura de Sebastian era invejável. Por anos Eric tentou copiá-la, ela passava força e segurança, ninguém o contestaria desde que ele fosse frio como o avô e passasse o medo para os mais fracos. Mas já fazia algum tempo que ele não queria mais ser assim.

— Minha decisão foi tomada, minha escolha foi feita. – Cada palavra transmitiu a raiva que Eric sentia do homem a sua frente.

Sebastian sorriu como se Eric ainda fosse uma criança impertinente. Um garoto bobo que não sabia de nada.

— Eric, a-ah desculpa. – Dominique abriu a porta e se deparou com um homem parado e Eric com uma expressão furiosa.

Sebastian se virou para ver quem tinha entrado e se deparou com a jovem de cabelos ruivos visivelmente constrangida. Ele não percebeu o movimento quase imperceptível que Eric fez para a moça, mas felizmente Dominique conseguia entende-lo muito bem.

— Srta. Weasley acho que já conversamos sobre isso. – Eric falou friamente.

— Sim, é claro, bater na porta antes de entrar. Eu sei, desculpa. É-e... Vic... Victorie pediu para eu avisar que os documentos que você solicitou já estão com ela.

— Obrigada, você pode bater a porta quando sair.

Dominique assentiu profusamente e saiu sem se despedir de nenhum deles.

— Que mal educada, pelos cabelos já penso que é uma Weasley. Aquela gente não sabe como educar as crias. – Sebastian reclamou, mas logo voltou ao assunto. – Sei que você e seu pai brigaram, isso é normal, acontece. Por isso vou lhe dar um tempo para esfriar a cabeça, você tem até o próximo mês, volte para casa, para seu lugar de direito. E depois nós vamos a alguma festa, podemos até mesmo fazer uma festa na mansão para que todos saibam que tudo voltou ao normal. Tome esse tempo para relaxar, respirar um pouco longe das asas da sua mãe.

— Eu não irei voltar. – Eric se levantou. – Eu sei o que você está por trás desses ataques e eu nunca vou fazer parte disso.

Não havia qualquer hesitação em Eric, qualquer dúvida. Apenas convicção.

— Acidentes acontecem, Eric. São tempos tão perigosos, nem mesmo os puros sangues estão seguros. Como eu disse, tome seu tempo para relaxar e repensar suas escolhas. Hoje em dia elas se referem a vida e a morte.

Ele não esperou que o rapaz dissesse qualquer coisa e saiu da sala, deixando Eric atordoado. Ele fechou os olhos e sentia seu coração saltando descontroladamente, pela primeira vez ele sentia o medo aterrorizante invadir suas veias, se sentia completamente perdido e exposto. Sua mente, sempre tão pragmática parecia tomada por diabretes. Só conseguia pensar em uma pessoa que poderia ajuda-lo a colocar as ideias em ordem e fazê-lo tomar a decisão correta.

Saiu de sua sala e passou por Sofia abrindo a porta do escritório de Hermione. Não bateu, ele não precisava. Se ela estivesse em alguma reunião importante ou não quisesse ser incomodada selava a sala e ninguém poderia entrar. Ela estava encostada na mesa de braços cruzados e conversava com Harry Potter que estava encostado na estante de livros. Os dois se viraram para ele quando entrou e vendo o auror ali ele se sentiu desarmado.

Uma coisa era falar com Hermione, uma pessoa que ele tinha confiança e simpatia. Mas ele mal conhecia Harry, além do que todos sabiam.

— Eric, está tudo bem? – Hermione perguntou.

— S-sim, eu só... eu posso voltar mais tarde. – Ele se virou para a porta, mas Hermione a selou. Ele respirou fundo e voltou-se para ela.

— Ou você pode me dizer agora o que está acontecendo. Dominique disse que você recebeu uma visita hoje, por isso chamei o Harry, para o caso de precisarmos intervir. O que aconteceu? Ele fez algo?

— Eu preciso de ajuda. – Eric confessou e o sentimento que seguiu não foi tão ruim quanto ele imaginou.

Hermione absorveu a informação e deu um sorriso tranquilizador. Se fosse qualquer outra pessoa Eric sabia que se sentiria miserável, mas ali era Hermione e ela era uma amiga.


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