O Legado escrita por Luna


Capítulo 65
Capítulo 65




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Na minha vida até agora, descobri que na verdade só há dois tipos de pessoas: aqueles que estão com você, e aqueles que estão contra você. Aprenda a reconhecê-los, pois eles são frequentemente e facilmente confundidos um com o outro.

Lemmy Kilmister – Motörhead

 

O cheiro das poções preenchia o ar, assim como a fumaça. Sabia que muitas pessoas se incomodariam com aquilo, mas para Eliza era quase calmante. Ela mexia a colher dando voltas no liquido que fumegava em fogo baixo colocando os últimos ingredientes. Após terminar aquela poção passou para a próxima, colocou as raízes picadas aos poucos, revezando com o sangue de salamandra para que ela ficasse mais forte e seu efeito durasse mais tempo.

Com a varinha levou o que estava sujo até a pia e fez com que começasse a limpeza. No começo se sentia estranha usando magia novamente, mas agora era como se nunca tivesse parado. Os feitiços viam a sua mente como se não tivesse passado quase 10 anos sem pronunciá-los e sua varinha a reconhecia como uma velha amiga saudosa.

Sentiu a proteção da casa borbulhar e se acalmou quando reconheceu a magia de Blaise. Recusou-se a arrumar o cabelo e desamassar a roupa, não podia se arrumar para ele, aquilo não era correto, por isso apenas subiu as escadas para encontra-lo na sala em pé olhando para a nova decoração.

Ele não tinha vindo a casa desde o dia que viera deixar as crianças e Freya tinha modificado cada compartimento. A casa toda estava muito bonita, não parecia que elas moravam lá há tão pouco tempo. Percebeu que ele olhava para uma fotografia em específico e não sabia como reagir diante disso.

— Como você conseguiu essa foto? – Ele perguntou sem se virar.

— Anthony trouxe, ele disse encontrou perdida em caixas.

— Não era dele para que ele trouxesse. – Ele tentou controlar sua voz, mas ela conseguiu perceber a raiva lá contida.

— Eu sei. Disse que ele deveria devolvê-la, mas ele foi irredutível, Freya ouviu parte da conversa e disse que era uma bela imagem, então a colocou aí.

Eliza queria se desculpar. Ela sempre se sentia como se devesse pedir desculpas a Blaise, sabia o verdadeiro motivo do sentimento e achava que aquilo nunca iria melhorar. Não importa o quanto ele tentasse sempre a olhava com rancor, mágoa e traído. Ela arrancou dele o que lhe era mais importante e não importava suas razões, ele nunca seria capaz de perdoá-la.

Ele se afastou, então ela pode ver a imagem e conteve o sorriso que quis aparecer. Anthony ainda era só uma criancinha e segurava um urso em sua mão, Eliza estava atrás dele sorrindo, o menino se virava e a beijava no rosto. Ela conseguia se lembrar daquela tarde, eles estavam felizes, faziam planos e ela já começava a amar Anthony. Suspirou quando percebeu que começava a se perder em memórias, aquilo só a fazia sofrer.

— Veio por algum motivo? – Ela perguntou sem olha-lo.

— Apenas checando se está tudo bem. – Blaise parou do outro lado da sala observando outra imagem, Amélia sorria entre Freya e Anthony. Ele não entendia como não tinha reparado na menina até então, ela era tão parecia com Eliza, mas tinha o mesmo sorriso que Anthony, algo que lembrava Sophia, o que lhe desagradava fortemente. – Você não deve estimular Freya, ela é mimada e se você permitir ela vai fazer modificações na casa a cada vez que vier aqui.

Eliza sorriu.

— Eu não me importo realmente. – Ela disse e ele a olhou pela primeira vez no dia. – Ela é uma boa menina, você a criou bem. É um tanto voluntariosa, sim, mas tem o coração no lugar certo. Anthony também, ele é muito especial. Você e Mary fizeram um ótimo trabalho.

Blaise sentiu o quanto era difícil para ela dizer aquilo e se impediu de falar que era ela que deveria ter criado Anthony. Por todos aqueles anos sempre vinha a sua mente como sua vida teria sido diferente se Eliza não tivesse ido embora, ela teria sido uma ótima mãe para Anthony, com ela por perto o rapaz não seria tão silencioso e reservado. Sabia que a mulher iria transformá-lo, como tinha transformado a si, mas se culpava sempre que pensava assim, pois se Eliza tivesse ficado Freya jamais teria nascido e ele a amava muito para imaginar uma vida sem ela.

— Também vim pedir um favor. – Ele tirou os olhos dela novamente. – Na verdade, Hermione pediu para eu ser o intermediário. Precisamos que você acolha uma pessoa por alguns meses, ele fará um curso aqui na França e seria bom se tivesse um adulto responsável para observá-lo e cuidar para que ele não faça nada estúpido.

Eliza não esperava por aquilo, mas sentiu-se animada.

— Eu não me incomodo, será bom ter companhia. Mas não é perigoso para ele? Ainda não sabemos se eu estou amaldiçoada.

— Estamos começando a cogitar que não há nada de errado com você. Ela seria bem capaz de fazer esse terror psicológico apenas para nos amedrontar.

— Mas isso ainda não é certo. – Ela soou pesarosa.

— Não, mas você ainda é nossa melhor opção. Há os Delacour, mas não queremos fazer qualquer alarde, aqui ele estará seguro.

Ela apenas assentiu. Blaise não se demorou depois disso e foi embora antes de dizer quem era a pessoa.

Eliza só iria descobrir dois dias depois quando sentiu as proteções da casa receberem alguém cuja magia ela ainda não conseguia reconhecer. Toda vez que alguém chegava ela ficava assustada, pensando que talvez Sophia tenha descoberto e vindo atrás dela, mas jogava essas sensações para o fundo da mente, as proteções permitiram a entrada, logo não era um inimigo.

Parados a sua porta estavam Hermione e um jovem que ela não reconheceu, permitiu que eles entrassem e logo recebeu um abraço da mulher.

— Liza, obrigada por nos receber. – Hermione sorria agradecida.

— Claro, não é qualquer problema. – Ela então se virou para seu novo hóspede. – Sou Eliza Hall, é um prazer.

— Eric Nott. – O rapaz apertou a mão que ela estendia. – Obrigada.

Eric olhou ao redor e sentiu a magia opressora sobre si. Começou a sentir assim que cruzou a barreira, mas quanto mais perto chegava da casa pior ficava, agora que estava dentro parecia que uma pedra de concreto queria esmaga-lo, a magia bruta da casa era opressora.

— Você vai se acostumar. – Hermione disse apertando seu ombro. – A magia apenas tem que te conhecer, ver que você não é um inimigo.

Eliza deu espaço para que os dois pudessem se despedir, ela foi até o escritório pegar algumas cartas que queria mandar por Hermione e conseguiu escutar a conversa dos dois na sala.

— Eu sei que você não gosta disso, eu também não. – Hermione falava. – Mas você teria que vir para cá em algum momento, Vic também passou um tempo estudando aqui. Será bom para você e vendo como andam as coisas será mais seguro também.

— Ou eu posso estar colocando a moça em perigo. Você pensou nisso? – Nott perguntou.

— Claro que sim, mas há proteções na casa, como você sentiu. Ninguém hostil entrará aqui, a casa está protegida.

— Muito bem protegida, eu percebi. – Ele passou a mão no braço ainda sentindo a estática da magia passando pelo seu corpo, não era mais tão ruim, apenas bastante desagradável. – Quem vocês estão escondendo aqui?

Hermione riu.

— Eu sinto muito, Eric. Sei que você e Dominique estavam começando algo...

— Não importa. – Ele a interrompeu, mas não conseguiu olhá-la nos olhos. – Não é como se eu fosse arriscar a segurança dela. Ele poderia machuca-la apenas por diversão.

— Eric...

— Você sabe que sim. – Ele falou resoluto. – Você deve voltar, alguém pode suspeitar de seu sumiço.

Ela o abraçou sem pedir permissão, sabia que se o fizesse ele negaria e a deixaria sozinha. Ele retribuiu depois de perceber que ela não o soltaria enquanto não fizesse isso. O abraço o fez se lembrar de Robin e sentiu saudade da mãe, fechou os olhos imaginando seu rosto e seus braços finos ao redor de seu corpo e como ela sempre lhe beijava a têmpora. Queria ter se despedido dela, ter lhe garantido que ficaria bem. E afastou a tristeza que queria lhe invadir.

— Quando as férias chegarem vai ter um local seguro para você e poderá ver seus irmãos.

Hermione falava com a mesma convicção de sempre, mas dessa vez tinha um toque diferente. Era quase como se aquilo fosse uma promessa, uma promessa de que ele poderia voltar para a Inglaterra, que ele veria os irmãos novamente. Eles já tinham conversado sobre isso, ele lhe disse seus medos e Hermione o amparou como uma mãe, lhe deu conforto, mesmo ele sendo estúpido e grosseiro. Hermione lhe deu esperança.

Eric não tinha trancado a porta e Eliza parou observando o menino tirar as roupas da mala, não pensou uma segunda vez em ir até ele e começar a ajuda-lo. Ele parou e ficou vendo ela colocando as peças dentro do armário e não sabia como enxotá-la dali sem ser indelicado. A cada vez que seu mau gênio queria aflorar uma voz muito parecia com Hermione o fazia repensar e ele se permitia ficar em silêncio ou tentar ser o menos desagradável.

— A senhora não precisa me ajudar. Posso fazer isso com um floreio de varinha.

Eliza se virou para ele e sorriu, ela tinha os mesmos olhos de Amélia e isso dava um ar juvenil ao seu rosto.

— Eu sei, mas passei tanto tempo sem usar magia que ainda faço algumas coisas de forma trouxa. Também não tenho mais nada para fazer, todas as poções estão encaminhadas, só preciso voltar até lá na próxima hora para dar os últimos toques. – Ela continuou o que estava fazendo. – Você prefere que suas roupas sejam colocadas em alguma ordem específica? Amy as separa por estações e cor, é bem problemático, mas a organização dela é quase patológica. Nunca diga que eu disse isso.

A mulher sorriu e Eric não sabia o que fazer.

— Não, de qualquer forma está bom. – Ele continuou tirando seus pertences enquanto Eliza os colocava nos lugares.

— Quem é Dominique?

Eric se virou para encará-la e dessa vez não conseguiu esconder seu descontentamento.

— Desculpa, eu escutei a conversa. – Eliza continuou. – É sua namorada? Você falou sobre coloca-la em perigo, tem algo a ver com sua família? É por isso que está aqui?

— Srta. Hall, eu fui informado de que deveria manter algumas informações longe de seu alcance por motivo de que talvez sua mente não seja um local confiável. Me desculpe se não me sinto confortável em me abrir e contar todos os meus segredos.

— Eu conheci seu pai, há muito tempo. – Ela não pareceu incomodada com o que ele falou e continuou a fazer o que estava fazendo. – Ele era amigo de Blaise e o encontrei algumas vezes, vocês se parecem muito fisicamente. Ele não gostava muito de mim, eu sou nascida trouxa.

Ela falou como se aquilo fosse o suficiente.

— Ela é uma Weasley. – Ele falou baixo. – Em outro momento não seria algo tão sério, ela é puro-sangue de qualquer forma, não seria tão ofensivo, mesmo a família sendo reconhecidamente traidora do sangue.

— Mas você fez algo, não é? Algo que o colocou em perigo, assim como a colocaria também.

— Eu afrontei meu avô. Não é algo que ele esquecerá ou perdoará. Ele me deu um prazo que acabará em alguns dias, não era mais seguro.

— Seus pais? – Ela sondou e viu como ele ficou mais tenso depois disso.

Eric não respondeu, por que não sabia o que poderia responder. Não sabia se Theodore faria qualquer coisa para protegê-lo ou se deixaria tudo nas mãos de Sebastian e mais uma vez se pegou pensando nos irmãos, às vezes quando dormia em seus pesadelos via novamente seu bicho-papão, ora era Timothy, ora era Nicholas, ambos gritando no chão o acusando de não os proteger, dizendo que estavam sofrendo e a culpa era sua.

— Está tudo bem, Eric. Nada poderá atingi-lo aqui e tenho certeza que Hermione e os outros estão pensando em um jeito de proteger seus irmãos também.

Eric a encarou e percebeu que ela realmente acreditava nisso, tentou ser confiante assim, mas não foi criado para ser um sonhador. A realidade era muito mais problemática e ele não acharia conforto em sonhos, não quando seu peito doía daquela forma.


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