O Legado escrita por Luna


Capítulo 63
Capítulo 63




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“Eu escolho ter fé, porque sem isso, eu não tenho nada.”

Prison Break

 

Fazia algumas horas que Arwen olhava para a mesma pintura, ela tinha andado até lá vagando por escadas e corredores sem um destino definido. Sua mente cheia de imagens, tão nublada de sensações que era como se ela estivesse sonâmbula, não sabia o que fazer, para onde ir, com quem falar. Sabia o que Eveline diria, deixaria Scorpius assustado e Thomas era ignorante ao que acontecia com ela.

Seu senso de dever dizia que ela deveria procurar Harry Potter, mas sua consciência que irritantemente tomava a forma de Eveline dizia que ela não podia falar nada para ninguém. Que tudo só iria piorar, tentar evitar o futuro faria com que cada um deles o encontrasse mais rápido e o futuro era muito assustador.

— Arwen?

A lufana fechou os olhos, aquela é a última voz que ela queria ouvir. Sempre que Eveline aparecia ela só se sentia pior e pior. Seria esse seu destino? Quando tudo isso acabasse ela teria a chance de ter uma vida normal ou só fingiria e viveria miseravelmente como Eveline?

— Ei, nosso encontro estava marcado para uma hora atrás. Você esqueceu? – A professora perguntou.

— Não. – Arwen respondeu ainda sem tirar os olhos da pintura.

— Aconteceu alguma coisa? – Ela parecia genuinamente preocupada.

Talvez fosse por isso que a menina não conseguisse odiá-la, tudo que Eve fazia parecia ter um propósito. Ela não era sádica, não gostava de brincar e usar as pessoas como marionetes, ela sabia como mexer com o futuro era perigoso, como as coisas poderiam dar terrivelmente errado e tentava a duras penas ensinar isso a Arwen. E mais do que tudo Eve se preocupava com a lufana, com seu bem-estar, com sua dor e seu estado mental.

Eve nunca sorria, seus olhos pareciam presos em outra dimensão, sua voz na maioria das vezes soava distante como se só uma parte da atenção da mulher estivesse no presente. Ela era infeliz, não tinha família, seus amigos eram alguns professores de Hogwarts e nem assim poderiam ser chamados, eram pessoas com quem ela conversava, com quem se preocupava. Arwen temia terminar seus dias como Eveline, pior do que isso, temia não ser forte o suficiente e acabar como a mãe de sua mentora.

— Eu não entendo. – A voz de Arwen soou fraca. – Eu simplesmente poderia ir até Amélia e contar tudo que eu sei, poderia enviar uma carta ao Sr. Potter e alertá-lo, poderia obrigar Nicholas a fazer o que é necessário.

— Sim, você poderia. Mas então Eliza poderia se machucar em outro momento, até mesmo Amélia. Outra pessoa poderia morrer, algum outro auror ou até mesmo Harry Potter. Se Nicholas fizesse o que é necessário agora Lily poderia se machucar gravemente, no fim ele está sendo nobre, não acha?

— Para que servimos então? – Ela se virou para a professora. Seus olhos estavam vermelhos, mas não tinham lágrimas, apenas uma dor sufocante.

— Somos uma falha no destino, há quem acredite que esse dom é uma maldição. Outras pessoas creem que não conseguiríamos mudar o futuro, pois ele já está traçado e ao tentarmos fazer isso na verdade só estaríamos trilhando um caminho até ele.

— Mas Scorpius ia morrer e você mudou isso. – A voz dela saiu estrangulada.

— E Albus se feriu, Rose poderia ter morrido. Talvez tudo fosse um futuro não determinado... Eu não sei, Arwen. Mesmo depois de anos eu ainda não entendo. Eu só... Fui egoísta, não conseguiria continuar com isso sabendo que deixei uma criança morrer. Eu só piorei tudo, entende? Ao salvá-lo tudo ficou pior.

— Não, Scorpius é inocente. Ele não merecia morrer, você fez o que é certo. Nós devíamos avisá-los, devíamos fazer alguma coisa.

Eveline segurou os ombros dela.

— Quantas pessoas mais morrerão porque eu salvei a vida de Scorpius Malfoy? Quem morrerá se você salvá-la? O que você dirá? Que ela não pode ir para casa? Amélia será caçada, não importa para onde ela for, não importa o quão longe ou o quão bem protegida ela seja. Nada disso importa. Você já fez o que devia fazer, você a alertou. Ela pode ouvi-la ou ignora-la e isso é uma decisão dela.

— Mas ninguém devia ter que morrer.

— Alguém sempre tem que morrer.

— Não. – Arwen gritou e se afastou das mãos da mulher. – Você está enganada. É nosso dever, nós podemos impedir isso, tudo isso.

A explosão da menina não abalou Eveline, ela também já foi assim, tempestuosa, geniosa. Também já acreditou que podia alterar o curso das coisas sem machucar ninguém. Ela já foi ingênua.

— Na última vez que vi minha mãe ela estava... diferente. Perturbada, exausta, ela escrevia cartas e mais cartas que não faço a menor ideia do conteúdo ou do destinatário. No fim ela parecia confusa, agitada, não era mais a mulher que um dia eu conheci. Ver o que ela via, saber o que ela sabia a destruiu, porque ela era boa e gentil. – Lágrimas escorriam pelo rosto dela. – Então eu prometi a mim mesma que eu não seria como ela, que eu não deixaria o futuro destruir minha mente e minha sanidade.

— Por que está me dizendo essas coisas?

— Porque você é como ela, como eu já fui. Boa e gentil. Eu vejo como você me olha Arwen, com pena e medo. Mas ser como eu sou fez com que eu não enlouquecesse, com que eu não me perdesse. Você tem que deixar de ser quem é se quiser continuar com isso e lamento, mas você não tem escolha, assim como eu não tive.

— Podemos ajudar.

— E estamos ajudando, do nosso jeito, ao nosso modo. Com segurança, cuidado e precaução. Minha mãe sempre dizia que ter consciência de um fato e tentar evita-lo é o que faz com que algo aconteça.

— Eu ainda consigo ouvi-lo gritar quando ela é atingida.

— Eu sei, querida. – Eve a abraçou.

Por ora Arwen estava controlada, Eve só torcia para que a menina não fizesse nada impensado que pudesse causar a morte de todos eles.

Passar horas na biblioteca não era a melhor coisa que eles poderiam pensar, mas não é como se tivessem muita opção considerando todos os deveres que os professores estavam passando nas últimas semanas. Albus tinha conseguido se livrar da tarde enfadonha por causa do treino de quadribol, infelizmente para ele isso significava que teria que dormir bem mais tarde para não perder os prazos.

James estava cumprindo uma detenção. De novo. Amélia achava que ele deveria tomar mais cuidado ou acabaria recebendo mais um berrador de Gina, que no atual cenário seria capaz de vir pessoalmente na escola apenas para azarar o próprio filho. Mas James não parecia nem remotamente preocupado, ele tinha dito que nesses tempos difíceis era bom ter bons motivos para risadas. Os professores não pareciam concordar com esse pensamento.

Freya parecia evita-los por algum motivo, eles já tinham debatido sobre o assunto, Amélia não sabia o que poderia ter acontecido, além do óbvio, mas a sonserina sempre encontrava motivos para negar os convites feitos. Ia para a biblioteca e saia antes deles chegarem ou então ia para lá depois que eles saiam e por alguma razão estava demonstrando dificuldades em Astronomia, embora não aceitasse ajuda nos estudos.

Rose tinha uma suspeita do que estava acontecendo, mas jamais a levaria para Freya, a menina era muito boa na mira e Rose não queria acabar no meio de um duelo por Freya ter se sentido ofendida. Também não falaria para os meninos, Albus e Scorpius eram muito protecionistas e embora Scorp não visse problemas em Thomas, sabia que Albus o detestava. Amélia poderia acabar comentando algo com Anthony e eles não precisavam de irmãos ciumentos marcando território ou aterrorizando futuros pretendentes.

Felizmente a briga de Nicholas e Lily parecia ter dado uma pausa, mesmo que às vezes ainda desse para perceber a fúria contida nos olhos da ruiva. Eles sempre conversavam aos cochichos e paravam quando um deles se aproximava, Lily gesticulava muito e Nicholas apenas negava com a cabeça, parecia resoluto em algo, enquanto Lily tentava convencê-lo. Seria engraçado, mas a pequena Potter sempre acabava tendo um acesso de fúria e deixando o corvinal falando sozinho e triste.

Foi assim que Rose o encontrou, cabisbaixo na frente do Salão Principal, ainda dando para ver Lily andando pisando duro. A grifinória o convenceu a ir com ela para a biblioteca e ajuda-lo com os deveres, o menino bufou e disse que não precisava de ajuda, Rose sorriu porque sabia que era verdade, então disse que ele poderia fazer companhia enquanto os outros não terminavam o almoço.

Nicholas lia um livro de poções enquanto Rose dava prosseguimento a sua redação de DCAT.

— Você não está pensando em envenenar ninguém, certo? – Rose perguntou sorrindo.

— Claro que não, mas é sempre bom ter o conhecimento caso seja necessário. – Nicholas piscou e baixou o livro.

— Vai me contar o que está acontecendo entre você e a Lily? – Ela percebeu o movimento errado quando a postura descontraída de Nicholas mudou. – Não precisa dizer se não quiser. Só pensei que eu poderia ajudar.

Nicholas pareceu pensar, não é como se ele não confiasse em Rose. Ela era legal, tinha conquistado Timothy, o que falava sobre o espírito da garota, era inteligente e conseguia se manter sã mesmo tendo tantos amigos da Sonserina. Nicholas sabia como eles podiam ser irritantes até em dias bons, mas ainda não se sentia confiante em falar sobre isso com mais ninguém. Falou para Lily e a menina não conseguia falar sobre outra coisa, Arwen o olhava com expectativa, como se o tempo estivesse acabando. Emme o escrevia constantemente perguntando sobre avanços, o ajudando com dúvidas sobre a magia, mas nada parecia suficiente. Ele ainda temia o que poderia acontecer se fizesse testes em pessoas.

— Ela é cabeça dura, difícil convencê-la do contrário quando está com uma ideia fixa.

— Tente conviver com James e suas ideias mirabolantes. – Rose bufou. – Misturar o DNA dos Weasley e Potter foi uma péssima ideia.

Amélia chegou segundos depois e para surpresa vinha trazendo Freya. Elas ocuparam as cadeiras ao lado de Nicholas e Rose e tiraram os materiais de estudo.

— O que foi uma péssima ideia? – Amy perguntou.

— Tio Harry e tia Gina terem filhos. – Rose sorriu. – Eles produziram crianças muito difíceis.

— Entendo, tenho que sempre contar até dez para não azarar Albus. – Freya revirou os olhos.

As três começaram a sorrir, enquanto Nicholas balançava a cabeça, embora tivesse com a sombra de um sorriso no rosto. O que ele fosse falar se perdeu com a entrada de Timothy, o irmão não estava com uma boa expressão.

— Ei, pensei que não viria agora. – Rose comentou. – Está tudo bem?

Timothy puxou uma cadeira ao lado de Freya e se sentou, ele parecia atordoado. Passou a mão no rosto visivelmente perturbado.

— Eric saiu de casa. – Ele soltou de uma vez. Nicholas levantou a cabeça tão rápido que sentiu o músculo reclamar. – O que pode ter acontecido?

— Ele querer independência? Minhas primas também já saíram de casa. – Rose disse despreocupada.

— Não na nossa família. – Nicholas falou baixo. – Nós só saímos quando casamos, é uma espécie de tradição e mesmo assim vamos para alguma propriedade da família para manter as proteções de sangue. Não simplesmente pegamos uma mala e partimos.

— Para onde ele foi? – Freya perguntou já começando a entender o problema.

— Para um apartamento alugado no Beco Diagonal. – Tim respondeu o que fez a sonserina começar a rir e ninguém entender.

— Qual é, pessoal. Vocês conseguem imaginar o esnobe e prepotente Eric Nott morando em um apartamento minúsculo, sem elfos, comendo sabe-se lá o que?

— Exatamente. – Tim falou. – O que poderia tê-lo feito abandonar todo o conforto da Mansão para ir morar em um lugar assim?

— Ele escolheu um lado. – Nicholas disse depois de quase um minuto em silêncio. – Eric se desligou da família, ele saiu de casa, está livre da influência dos nossos pais e de Sebastian.

— Oh Merlin...

— O que? – Perguntou Amélia.

— Se Nick está certo e ele saiu de casa por isso significa que papai escolheu o outro lado?

Ninguém respondeu, nenhum deles sabia a resposta, porque uma das opções era terrível e levantá-la era assombrosamente ruim. Mas a ideia pairava, pesando na mente de todos ali e principalmente dos Nott. Por que se Theodore estivesse escolhido o lado de Sebastian eles não sabiam o que o futuro lhes reservava, eles ainda eram menores de idade, não podiam simplesmente sair de casa. Pior ainda, sua família estaria dividida e Eric provavelmente em perigo.


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