O Legado escrita por Luna


Capítulo 58
Capítulo 58




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Você pode por um momento

Me prometer isso

Que você ficará ao meu lado para sempre?

Long live – Taylor S.

O burburinho de vozes a incomodava, ela observava a todos buscando expressões que poderia identificar que eles não concordavam com o que estava sendo exposto ali, mas era difícil ver algo assim. Todos eles conseguiam esconder bem suas pretensões, se estavam descontentes com algo ela nunca saberiam.

Sophia estava sentada na ponta da mesa, a sua direita estava Vitorin e a esquerda Sebastian Nott. Adria estava na outra ponta da mesa, olhava diretamente para a outra mulher, engolia em seco quando ouvia as partes mais cruéis, mas seu rosto não demonstrava nada. Sophia parecia brilhar sendo alvo de atenção, usava um vestido longo, as mangas eram justas nos braços e abriam quando chegavam próximo às mãos, a gola alta dava um ar de poder que não era necessário.

Sophia era encantadora, sua voz parecia trazer a atenção de todos ao seu redor, era apenas impossível não prestar atenção quando seus lábios cheios se moviam. Seus sorrisos eram dados seletivamente e nas horas apropriadas. Ela ouvia a todos, fingia que suas opiniões eram importantes, mas Adria sabia que ela escutava bem poucos ali. Como a mulher já havia dito, em seu jogo era preciso peões, bruxos medíocres cuja perda não faria falta. Claro que tal constatação não se aplicava aos Nott, Malfoy, Selwyn, Mulciber, Avery, Sophia os considerava importantes.

Adria conhecia a todos, seu pai, Andrew Rowle, fez questão de coloca-la sobre os olhos das famílias puras, assim como a seu irmão Thorfinn. Mas ao contrário do homem ela não era cruel. Ela ouvia os discursos de Finn quando ele voltava para casa depois de mais uma reunião, falava sobre os ideais do Lorde das Trevas e como se sentia orgulhoso da marca que carregava no braço esquerdo. Mas também viu como o irmão fora machucado depois de deixar o jovem Harry fugir. O Lorde não perdoava faltas e deixava isso claro ao castigar um membro puro-sangue sem qualquer piedade.

Sophia tratava todos com educação e cortesia, mas quando um deles a contestava era bastante clara em demonstrar quem estava no comando. Até mesmo Vitorin se curvava perante as vontades da bruxa, ela era como uma aranha prendendo todos em sua teia, Adria era apenas mais um inseto, como todos os outros.

— Com feitiços de desilusão, é óbvio. – Adria respondeu a pergunta de um bruxo atraindo a atenção para si. – Se eles souberem os autores do ataque podem ligar a outros nomes que estão nessa mesa.

Adria olhou para Sophia e a mulher soube do quanto à outra estava descontente com essa ação. Matar crianças, mesmo trouxas, era um ato terrível para Adria. Para ela Sophia estava cometendo os mesmos erros de outros bruxos que visavam a pureza do mundo bruxo, mas não iria contra ela naquele momento, para todos eles as duas eram a face da mesma moeda, amigas inseparáveis, bruxas poderosas e sábias, pilares do novo mundo que eles construiriam.

— O ataque ocorrerá meia hora após o de Londres começar, não muito cedo para os Aurores ainda estarem na vila e nem muito tarde para os alunos voltarem para a escola. – Sebastian falou.

— Desculpe perguntar, minha senhora. – Emett, um bruxo irlandês de aparência anêmica perguntou sem coragem de levantar a cabeça. – Mas como podemos ter certeza que eles estarão na vila?

— São crianças. – Flint respondeu sorrindo com zombaria. – Eles aproveitam qualquer oportunidade para sair daquele castelo.

— Podemos ter certeza que os Aurores responsáveis pela segurança dos Potter estão afastados? – Adria voltou a perguntar.

— Em um ataque de grandes proporções como o que acontecerá em Londres eles chamam todo o batalhão. – Sophia aumentou a voz para ser ouvida. – Não se preocupe, Adria. Se fizerem tudo como o planejado o mundo bruxo amanhecerá em luto.

Já deveria fazer duas horas que Albus lia o livro de Poções para fazer sua redação sobre Poção Restauradora. Rose estava ao seu lado, com Amélia na cadeira da frente, ambas faziam um ensaio para Transfiguração. Albus se lamentava quando lembrava que ainda faltava esse exercício e mais o questionário que teria que responder de História da Magia, pensou em pedir para copiar o de Rose, mas a ruiva sempre se mostrava contra, ainda mais com as provas estando tão próximas. Os treinos de quadribol estavam acabando com sua vontade de viver.

Ele poderia pedir para Scorpius, mas não sabia como os dois estavam. Entristecia-se ao lembrar-se dos últimos dias, como eles estavam distantes, como o loiro parecia cada vez mais fechado. Aquele dia eles mal haviam se falado, embora ele parecesse melhor do que os dias anteriores lhe deu um beijo depois da aula de Runas Antigas e desapareceu.

— As flores de Molly são colocadas na água ou é o contrário?

— As flores tem que estar em um recipiente, depois que a água estiver quente você a joga no recipiente onde as flores estão e o fecha, por dez minutos. – Amélia respondeu sem tirar os olhos do livro, ela não deu atenção quando Albus agradeceu.

Ele continuou a escrever até ser interrompido por um aluno do primeiro ano visivelmente nervoso.

— Desculpe, sr. Potter, mas me pediram que lhe entregasse isso. – O garoto falou estendendo o envelope.

— Obrigada, Ethan.

Os olhos do menino se arregalaram e ele começou a balbuciar, provavelmente surpreso por Albus saber seu nome. Ele vez um tipo estranho de reverência e depois mais envergonhado ainda saiu correndo.

— De quem é? – Rose perguntou e até Amélia parou para ouvir a resposta.

Albus rompeu o lacre e sentiu a fragrância de lavanda assim que pegou o papel. A letra não lhe deixava dúvidas, era curvada e muito bonita. Scorpius.

— Eu tenho que ir. – Ele disse apressado jogando os livros e pergaminhos na mochila, as meninas nem tiveram tempo de falar qualquer coisa.

Ele subia as escadas torcendo para elas estarem de bom humor e não resolverem o direcionar ao caminho contrário, conseguiu se desviar das pessoas as ignorando completamente, mesmo tendo escutado a voz de Lily ao longe. A curiosidade aflorava na sua pele, o bilhete de Scorpius não dava margens para adivinhação, só dizia onde ele poderia encontra-lo. Quando o moreno chegou ao sétimo andar estava com a respiração ofegante, ele se perguntava se ganharia uma detenção se da próxima vez resolvesse seguir o caminho montado na sua vassoura.

Ele subiu as últimas escadas, as que davam diretamente a torre de astronomia. Pela primeira vez em dias o sol apareceu, abril estava logo ali e ainda que fizesse frio o sol aparecia mais lhes dando seu calor. Não havia nevado o dia inteiro, e embora o céu já começasse a escurecer a temperatura não estava tão baixa, Albus até tinha deixado o cachecol no dormitório e vestia apenas um suéter.

Scorpius estava encostado na grade e olhava para o horizonte sem se dar conta que não estava mais sozinho. Não poderia culpa-lo, a vista era muito linda, o sol se pondo fazia as nuvens ficarem alaranjadas e dar um brilho bonito no lago. Aquela visão era especialmente bonita para Albus, o vento bagunçava os cabelos loiros do menino a sua frente, a sua palidez acentuada contrastava com a camisa preta. Ele era lindo.

— Ei. – Albus o chamou.

Scorpius se assustou e virou rapidamente na direção do som, seu sorriso se iluminou quando viu o moreno parado na porta.

— Al, venha, entre.

Albus deu passos pequenos e cautelosos, a última vez que ele o vira sorrir assim foi na noite do Natal, a última noite tranquila que eles tiveram. O loiro pegou na mão dele o puxando para mais perto, lhe deu um abraço apertado escondendo o rosto na curva do pescoço com os cabelos escuros lhe espetando o rosto, mas não se importava e depois lhe deu um beijo curto nos lábios.

— Eu não posso demorar, tenho muitos deveres para terminar. – Disse Albus inseguro.

Ele não queria sair daquela bolha, com o Scorpius feliz e carinhoso, porém não queria ficar na bolha e depois ser forçado a sair e encarar o menino carrancudo, fechado, que não ligava para os seus sentimentos.

— Não se preocupe com isso, eu já cuidei de tudo. – Scorpius apontou para uma pasta que estava em um banco. – Poções, Transfiguração, História da Magia, Runas Antigas e o de Herbologia.

— Tinha trabalho de Herbologia? – Albus perguntou assustado, mas o outro apenas riu o beijando novamente. – Espera, você fez todos? Como? Onde? Que horas?

— Sim, todos. Com minha mão e uma pena. No Salão Comunal da Sonserina. De madrugada. Mais alguma pergunta?

— Por quê?

Albus viu o semblante dele mudar, uma dúvida por trás dos olhos azuis, o sorriso dele vacilou, mas logo estava iluminado.

— Queria ter um momento com você, com tantos trabalhos você não teria tempo e os treinamentos do time estão te sugando. Não conseguia dormir ontem e então bolei tudo isso.

Scorpius estendeu os braços e só então Albus prestou atenção no que tinha ao seu redor. Havia uma mesa repleta de comida e no chão próximo um amontoado de panos.

— Pensei em jantarmos vendo as estrelas de verdade. – Scorpius voltou a sorrir.

— O que é tudo isso? – Ele tomou coragem e perguntou.

Malfoy soltou a mão que segurava e se afastou um pouco voltando a encostar-se à grade. Ele molhou os lábios e puxou o ar. Em outro momento Albus estaria em seus braços, provavelmente fazendo chacota sobre nunca imaginá-lo sendo romântico e preparando um jantar sob as estrelas, mas agora ele tinha apenas um Albus com uma expressão de suspeita e tenso.

— É meu pedido de desculpas. Eu sei como ficar ao meu lado todo esse tempo se tornou insuportável e desgastante, mas mesmo assim você ficou, tentava me fazer sentir melhor, ainda que eu o tratasse mal, ferisse seus sentimentos. Eu não sei por que você fez isso...

— Porque somos amigos. – Albus o interrompeu. – Estarei sempre ao seu lado.

— Não quero ser seu amigo, Al. Eu o empurrei para longe, eu sei. Nunca estivemos tão distantes, mas isso não é certo. – Ele se aproximou do moreno e tomou-lhe o rosto nas mãos. – Eu amo você, Al. Merlin, Albus eu amo tanto você.

Albus não resistiu quando os lábios de Scorpius tocaram os seus, foi fácil se deixar levar e não reprimiu suas mãos de tocarem o outro corpo. Scorpius era esguio, com uma cintura fina e ombros largos. Ele amava tudo no loiro, o beijo, o toque, o calor que emanava do seu corpo, toda a amizade que eles construíram e o amor que nasceu. Ele sentiu seu corpo relaxando, os lábios se abrindo para deixar o loiro aprofundar o beijo, sentiu quando a língua invadiu sua boca, explorando, brincando e não conseguiu reprimir o gemido quando Scorpius se afastou puxando seu lábio inferior.

— Me perdoe, quero prometer que nunca mais o magoarei desse jeito, mas não sei se posso cumprir isso. Às vezes não consigo controlar meu mau gênio e nós serpentes atacamos quando nos sentimos acuadas, você sabe. Mas eu não quero mais ficar sozinho, Al. Não quero ver você andando para longe porque fui muito estúpido. – Scorpius parou para tomar fôlego. – Eu nunca deveria ter tocado em você daquele jeito. Eu não queria...

— Não queria? – Albus ergueu uma sobrancelha deixando o outro visivelmente constrangido.

— Sim, eu queria. Eu quero. – Ele ponderou as palavras. – Mas você fez certo em me afastar, não devia ser daquele jeito. Eu nunca mais o tocarei sem ter certeza que é isso que você quer também, Al.

O moreno sorriu, a sinceridade de Scorpius o tocava, assim como seu arrependimento. Ele tentou jogar para longe toda a tristeza e mágoa, aquele era um momento precioso, a calmaria entre tempestades. Sabia que o ressentimento pelas últimas ações do garoto não seriam tão facilmente esquecidas, mas naquele momento ele poderia muito bem ignora-las, ainda mais se Scorpius continuasse a beijá-lo daquela forma.

— Podemos jantar agora? Poderia comer um javali inteiro.

Desde o dia na torre que Scorpius se esforçava para ficar bem e tranquilo, a cada ofensa, murmurinho, olhares acusatórios apertava a mão de Albus. O moreno tomou como tarefa pessoal distrai-lo de tudo aquilo, quando nenhum professor estava por perto distribuía beijos no pescoço alvo do namorando enviando arrepios para partes muito específicas do corpo dele.

E ele nunca mais ficou sozinho, sempre estava perto de algum dos amigos. Albus tinha até mesmo pedido para Nicholas fazer companhia para o loiro um dia que teve que ir para o campo treinar, mesmo que a companhia de Nicholas não fosse a mais agradável Scorpius parecia saber lidar com o humor duvidoso do corvinal e desviar de suas farpas.

Agora eles tomavam café da manhã lentamente, aproveitando a preguiça do sábado. O plano de ir mais cedo para o povoado foi cancelado quando viram toda a neve que tinha sido acumulada durante a noite, as carruagens sairiam dali a alguns minutos e todos estavam amontoados na mesa da grifinória. Havia tantas conversas paralelas que era difícil saber quem estava conversando com quem sobre o que.

— Vocês querem mesmo enfrentar toda essa neve e frio apenas para tomar cerveja amanteigada? – Albus perguntou preguiçoso encostado em Scorpius.

— E reabastecer meus suprimentos de doces. Meus bolos de caldeirão já estão acabando e Amélia comeu todas as minhas varinhas de alcaçuz. – Freya acusou.

— Ei! – A corvinal protestou. – Apenas porque você pegou meu último sapo de chocolate. Anthony escreveu dizendo que estaria no povoado, poderemos vê-lo, não é maravilhoso?

A falsa animação de Albus e Rose não convenceu a ninguém. Os dois votaram sobre permanecerem aquecidos no Castelo, mas ninguém lhes deu atenção.

Eles começaram a detalhar tudo que fariam, para onde iriam primeiro, quem faria o que com quem. Albus estranhou o silêncio de Scorpius quando sugeriram que fossem a Gemialidades, ele não era o maior fã do lugar, sempre estava lotado e as pessoas se acotovelavam para poder pegar os melhores produtos. Não entendia porque passar por isso se havia como receber os produtos na tranquilidade do castelo.

Viu que o loiro olhava para a mesa da Lufa-Lufa na direção de Arwen que parecia querer se esconder atrás de um livro.

— Está tudo bem? – Perguntou ele ao namorado.

— Arwen está estranha. Ela parecia confusa essa manhã, pareceu que ela tinha visto algo.

— Sobre você? Pensei que ela só poderia ver coisas boas sobre você.

Os olhos azuis não se desviavam da menina, podia-se ver a confusão mental que o loiro estava passando, mas ele sorriu e disse que estava tudo bem, depois procuraria Arwen e se convenceria que a menina estava bem.

Ao chegarem ao povoado foram se esconder no Três Vassouras pegando uma mesa no fundo, a mais escondida que acharam. Anthony chegou logo após, com os cabelos sujos pela neve e o casaco molhado, o que foi resolvido com um floreio da varinha. Ele abraçou as irmãs e cumprimentou os outros, ficaram quase uma hora no pub até resolverem que não poderiam esperar a neve parar de cair.

— Ano passado a essa altura a primavera já teria chegado e teríamos sol. – Anthony reclamou enrolando o cachecol para se proteger.

— Lembre-se que ainda temos que andar até as estufas e ir para as aulas de Trato das Criaturas Mágicas. – Freya respondeu.

— Na última aula de Astronomia pensei que perderia meus dedos. – Rose se lamentou.

Eles pararam em frente a livraria, Amélia tinha dito que precisava de mais pergaminhos e penas, Freya se ofereceu para fazer companhia a irmã e Anthony falou que ficaria com elas. Timothy disse que não andaria na neve e que esperaria Rose voltar com os outros.

— Nós vamos andar, ir até a Casa dos Gritos, talvez? – Rose falou olhando para os outros dois.

Eles concordaram e se despediram.

— Amélia está meio amuada hoje, perceberam? Não pode ser só porque James está em detenção. – Albus falou.

— Ela está com saudade de casa. Todos nós estamos, é claro, mas depois do que aconteceu com a srta. Hall é normal ela querer voltar logo.

Rose desfez a dúvida de Albus e passou a andar agarrada ao primo para amenizar o frio.

— Nós realmente deveríamos ter ficado no Castelo, está bastante frio. – Ela reclamou.

— Podemos ir tomar chá. – Albus propôs.

— Nós não vamos entrar naquele lugar, o cheiro de frésias me irrita e os casais são tão romanticamente estúpidos.

Albus sorriu do ataque de Scorpius, apenas falou sobre para ver o loiro ter alguma reação. Ele estava estranhamente calado. Eles finalmente chegaram a Casa dos Gritos, que com toda a neve dava um ar mais sinistro ao local. Não havia muito o que ver, eles apenas não queriam ficar parados no pub ou entrar na livraria empoeirada ou na loja barulhenta.

Albus se virou urgente para Scorpius quando ouviu o menino arfar. O loiro olhava para os pés com os olhos arregalados e a boca aberta, começava a ficar pálido e sabia que aquilo nada tinha a ver com a temperatura congelante.

— Scorp? – Rose se aproximou.

Mas o menino não deu atenção, os outros dois ficaram alarmados quando o viram sacar a varinha e olhar para os lados buscando algo que ninguém mais via.

— Scorp. – Albus o chamou. – O que está acontecendo?

Eles não sabiam o que o levou a ficar tão agitado, mas ambos já estavam com suas varinhas erguidas.

— Não deveríamos ter vindo. Deveríamos ter ficado no Castelo. – Ele falava com urgência.

— O que?

— Onde estão os Aurores? Não havia Aurores em todo o caminho que percorremos, há neve suficiente para afundar nossos pés. – As palavras de Arwen pareciam gritar em sua mente, ele olhou para o céu, mas estava nublado, como a maioria dos dias. – Está muito frio.

— Vamos voltar. – Rose pegou na mão de Albus o puxando. – Vamos voltar agora.

Mas não deu tempo deles fazerem nada. Várias coisas aconteceram simultaneamente, o colar em seus pescoços esquentou, eles ouviam gritos ao longe e um raio vermelho brilhava no céu. Albus ficou parado encarando o ponto luminoso onde o raio tinha acabado de desaparecer, se moveu quando Scorpius gritou o mandando correr e o empurrou para lhe dar impulso.

Assim que eles se moveram um raio vermelho atingiu a árvore as suas costas, Albus se desequilibrou e caiu, o caminho que eles tinham tomado era íngreme, por isso o menino saiu rolando até bater em uma pedra. Os outros dois tomaram o mesmo caminho escorregando na neve e pararam junto ao corpo de Albus.

— Estupefaça. – Rose brandiu a varinha enquanto Scorpius tentava reanimar o namorado.

— Enervate. – As mãos de Scorpius tremiam. Ele escutava Rose lançando os feitiços, atrasando quem quer que seja que estivesse atrás deles. Suspirou aliviado quando o moreno se moveu. – Vamos, Al, temos que sair daqui.

Eles corriam sem trégua, quando paravam era apenas para lançar feitiços que sabiam que atingiam ninguém, mas que poderia muito bem atrasá-los. As bochechas de Rose estavam coradas pelo esforço e Scorpius segurava sua mão com medo que caso ele a soltasse ela se perderia entre as árvores. Albus estava a frente, ele apertava o lado esquerdo do tronco e respirava com dificuldade.

— Al! Albus – Scorpius o chamou, um pouco mais alto que um sussurro e quando viu que o moreno se virou continuou. – Nós temos que parar, não aguentamos mais.

Albus olhou por cima do ombro de Scorpius e tentou ouvir alguma coisa, mas só tinha o silêncio.

— Eles podem estar desiludidos, com feitiços silenciadores. – Albus disse.

— Al, eu não aguento mais. – Rose falou.

O moreno não sabia o que fazer. Ele estava preocupado com Amélia e Freya. Sabia que Anthony poderia protegê-las, mas temia que algo acontecesse com os três. Ele se arrependeu de ter saído do castelo, nada disso estaria acontecendo se ele tivesse ficado jogando xadrez com Emílio. Como foram tolos, como puderam não perceber o perigo que corriam.

— Você está machucado. Temos que ver o que aconteceu. – Scorpius falou.

Albus encostou-se a uma árvore e foi descendo ao chão. Ele estava certo que tinha, pelo menos, uma costela quebrada e a dificuldade para respirar só aumentava. Scorpius e Rose tinham cortes nos braços, pescoço e rosto. A verdade é que ele só queria fechar os olhos e dormir, torcendo para tudo aquilo ser apenas um pesadelo. Torcendo para que quando acordasse estar nas masmorras e não em uma floresta correndo de bruxos das trevas.

Eles tinham corrido por uns bons minutos, chegaram até uma parte da floresta que as árvores os fechavam, aproveitaram um feitiço bem colocado de Scorpius que levantou a neve junto com a terra e atrasou os bruxos que os seguiam. Agora só restava o silêncio, não sabiam se tinham desistido, se ainda estavam por ali, passou cerca de dez minutos até eles escutarem os sons de feitiços novamente.

Seja quem fosse estavam duelando ferozmente, o som chegavam até eles como trovões. Scorpius segurava Rose a protegendo com o corpo, a menina tremia descontroladamente e lágrimas escorriam por seu rosto. Os Sonserinos estavam atentos, Albus não achava que conseguiria correr mais, agora que a adrenalina tinha baixado um pouco sentia a dor na lateral do seu corpo mais forte, até respirar estava difícil.

Viu Rose limpar as lágrimas e sussurrar para Scorpius que fez um aceno para Albus segui-los. Eles andaram com pessoas leves, a neve os denunciava, mas talvez eles não se atentassem para esse detalhe. Foram surpreendidos por um bruxo que aparatou a alguns metros de distância, o homem não teve tempo de falar nada e sua varinha já estava a uma boa distância perdida na neve.

— Calma, sou um auror. – Ele falou rápido levantando as mãos.

Ele trajava as vestes vermelhas, tinha um corte no rosto e o sangue descia por seu pescoço.

— Sou Trevor, Trevor Spencer. Sou um Auror. – Ele repetiu, mas nenhum dos três baixou a varinha. – Olha, nós temos que sair daqui.

O homem tentou avançar até a varinha, mas um feitiço de Albus foi um aviso forte o suficiente de que não era bom ele fazer movimentos bruscos.

— Vai nos desculpar se não acreditarmos em você, visto que a pouco estávamos sendo perseguidos. – Albus falou.

— Nós já neutralizamos aqueles bruxos, há vários aurores percorrendo a floresta em busca dos três. Sr. Potter, não sabemos se há mais deles, se irão voltar. Nós temos que sair daqui.

Rose olhava para Albus que não desviava o olhar do homem. Queria confiar, acreditar no que ele dizia, mas tudo poderia ser uma enorme enganação, um truque para eles baixarem a varinha.

— Não podemos confiar em você. Se ao menos pudesse nos dizer algo que confirmasse o que diz. – Scorpius disse.

Algo pareceu acender no rosto do homem.

— Eu sou um dos guardiões do lírio. Eu sou um dos guardiões do lírio.

Os dois se surpreenderam quando viram Albus baixar a varinha e suspirar aliviado.

— Não estávamos sozinhos, os Zabine estavam no povoado, eles...

— Desculpe, Sr. Potter. Minha prioridade é tirá-los daqui antes que outros bruxos apareçam. Há aurores no povoado, se seus amigos ainda estão lá já devem ter sido levados à sede.

Ele falou rápido, sem tomar fôlego ou pausar entre as frases. Ele estendeu o braço em um claro sinal de um convite de aparatação, o que foi atendido prontamente por Albus e mais timidamente por Scorpius e Rose.

Eles chegaram a Godric’s Hollow, a lua estava alta e não havia quase ninguém na rua.

— O que aconteceu? – Scorpius se adiantou.

— Um ataque em Londres, todo o efetivo foi chamado para conter os danos. Eles aproveitaram e fizeram outro ataque à Hogsmead. Por sorte havia alguns do nosso lado na vila ou os danos seriam bem maior.

— Não vimos aurores lá. – Rose lamentou.

— Não, não aurores. Pessoas da Ordem da Fênix, Angelina Weasley foi de muita ajuda, nunca vi ninguém usar um Bombarda tão forte.

Eles chegaram à porta da casa. O auror bateu a varinha na porta e sussurrou algo lhes dando passagem. Eles nunca ficaram tão felizes em ver seus pais como naquele momento. Eles estavam seguros, até quando não sabiam.


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