A Lenda de Yuan escrita por Seok


Capítulo 8
Inimigo Revelado


Notas iniciais do capítulo

Espero que estejam gostando. Não estou recebendo tantas reviews quanto esperava, o que me faz acreditar que não estou no nível que eu desejava. Ainda assim, espero não decepcioná-los.



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Logo pela manhã, o chefe Tao Beifong — atual líder da polícia de Cidade República —, compareceu ao Templo do Ar. Ele se desculpou formalmente por não ter garantido minha segurança enquanto no centro da cidade, porém, alegou que seus policiais precisaram partir para resolver algo de extrema urgência. Ikki e Rohan o acolheram como um amigo e aceitaram suas desculpas — uma característica típica dos dobradores do ar. Meu irmão, entretanto, estava furioso por conta da marca que agora jazia em sua pele. Era um símbolo da Nação do Fogo, daqueles usados na época da Guerra dos Cem Anos.

Uma agitação crescente começara na cidade. Vinhas espirituais estavam começando a desaparecer, algumas retiradas das proximidades do Portal Espiritual e outras das selvas feitas dos cipós. O presidente declarou um estado de alerta em Cidade República após Ikki contá-lo sobre os acontecimentos. Além disso, o sumiço das vinhas espirituais possivelmente indicariam uma nova arma que pode ser usada para o mal.

Meus mestres chegaram em um consenso e decidiram começar o meu treino de dobra de ar. Meu professor designado foi Jinora, que estava vindo diretamente de outro Templo do Ar para ser minha mentora; não apenas na dobra, como também como minha guia espiritual. Ela chegou logo pela manhã, mas passou o dia fora.

Eu estava sozinho do lado de fora do pátio enquanto Ikki e Tao Beifong conversavam sobre algo. Não pude ouvir, já que Tao alegou que era um assunto permitido apenas para o alto escalão da Cidade República. Contestei, claro, mas não funcionou. Ele era bem carrancudo e não pareceu gostar muito de mim. Seus braços, na maioria das vezes cruzados, não permitiam minha aproximação.
Alguns minutos se passaram, até que a porta do antigo escritório de Tenzin finalmente abriu.

— Criança — falou o chefe de polícia. — Tenho uma oferta para você.

Eu lancei um olhar curioso para Ikki, por cima dos ombros de Tao, e ela assentiu positivamente com a cabeça. Então, transferi meu olhar para Beifong e prossegui:

— Em que posso ajudar, senhor?

— Tenho um convite a lhe fazer, Yuan. Ikki e eu conversamos e decidimos que a melhor forma de te manter à salvo é se você estiver sob os olhos da polícia.

Fiz um gesto positivo com a cabeça, atento a todos os dizeres do chefe. Ele, então, deu continuidade:

— Sendo assim, lhe convido pessoalmente para fazer parte da polícia da Cidade República. Você receberá treinos especiais em dobra de terra e de metal, além de ganhar equipamentos de combate.

O convite me pegou totalmente desprevenido. Demorei um pouco para digerir o que realmente havia acontecido, e um silêncio monótono se formou. Ser um dobrador… não, ser o Avatar nunca foi meu desejo. Mais treinos. Minha vida estava completamente aleatória ao que eu realmente esperava para mim. Lembrei-me, entretanto, dos dizeres de Korra. Talvez fosse a hora de sacrificar minha própria vontade para o bem dos meus pais, do meu irmão e dos meus amigos. É o certo a se fazer, pensei.

Meu punho fechado tocou a palma da minha outra mão aberta, junto com uma breve inclinação do meu corpo.

— Será uma honra, chefe Beifong.

Tao pousou a mão em meu ombro.

— Você fez o certo, garoto.

— Espero que você esteja certo. Mas, afinal, por que está me protegendo? Não deveria ser ao contrário?

— Você ainda é muito novo pra entender. Mas, se algo te acontecer e os igualitários decidirem realmente seguir com seu plano, temo que dobradores normais não terão chances. Só o Avatar é poderoso o bastante para proteger o mundo. Ou você se esqueceu do que houve quando o Avatar desapareceu?

— A Nação do Fogo quase extinguiu os outros dobradores…

— Exato. Agora, só mais uma coisa…

— O quê?

— A cidade, não, melhor ainda, os igualitários e os dobradores de fogo precisam saber que agora você está sob minha proteção. O presidente já foi comunicado e todos estarão lá: o conselho, o próprio presidente e, claro, muitos jornalista. Eu odeio os últimos, se quer saber.

Eu o olhei por alguns instantes.

— Tem certeza de que isso é uma boa ideia, senhor? E se eles considerarem uma afronta e decidirem atacar?

— Estou com meu batalhão preparado para qualquer coisa. Nada nos pegará de surpresa, criança. Sou neto de Toph Beifong e filho de Lin Beifong. Posso lidar com alguns baderneiros.

Eu sabia que prolongar uma discussão seria uma tentativa inútil. Tao certamente estava convicto do que queria, então, simplesmente, aceitei. Eu não sabia, mas as coisas estavam prestes a mudar.

         

                                                   …

 

A cerimônia convocada por Beifong realmente estava cheia. Inúmeras pessoas estavam do lado de fora do departamento de polícia, e na primeira fileira haviam vários jornalistas, todos tirando fotografias ou com bloco de notas em mãos. O presidente chegou ladeado por dois seguranças, e ele era um homem de cabelos grisalhos e olhos verdes, pele pouco bronzeada e muito carrancudo. Não parecia o tipo de pessoa que você queira ter como amigo. Ainda bem que ele não seria presidente por muito tempo, já que as próximas eleições seriam dentro de um mês.

Vários flashs de câmeras pipocavam de um lado para o outro, e a aglomeração parecia tensa com o anúncio que estava por vir. Para eles, eu era apenas um garoto reunido atrás do chefe Beifong, junto de Ikki, do presidente e de alguns policiais de maior escalão. Ah, e claro, de Shun, que estava vestido como um policial, bem como eu.
Beifong aproximou-se mais ainda do microfone, deu dois toques em sua ponta e proclamou:

— Pessoas da Cidade República — disse, com a voz firme e convicta. — Nossa cidade está diante de uma ameaça que há muito tempo pensamos estar livres. Os igualitários estão de volta, e não sabemos nada sobre seus planos, ainda, exceto que eles querem o Avatar por algum motivo. E é por esta razão que eu, chefe Tao Beifong, o convidei para fazer parte da polícia de Cidade República.

A multidão pareceu estupefata. Alguns nem piscavam os olhos, e os jornalistas escreviam avidamente, enquanto outros tiravam fotografias. Muitos murmuravam entre si, curiosos, enquanto outros permaneciam em silêncio absoluto para não perder sequer um detalhe da cena.

— Avatar Yuan, um passo à frente!

E assim fiz. Os flashs das câmeras pareceram voltar-se unicamente para mim, e se eu pudesse enfiar meu rosto debaixo da terra, com certeza faria isso. Minha vestimenta nova era de metal puro, como uma armadura que revestia todo meu corpo. Havia um cinto um pouco mais escuro, quase preto, amarrado em minha cintura e dois braceletes igualmente metálicos em cada mão. Beifong colocou um distintivo em meu peito, e a multidão bateu palmas.

— Contudo, como prova de sua coragem, o irmão de Yuan, Shun, um mestre na dobra de terra, também entrará na Força Policial.

E Shun também deu um passo adiante, sua roupa idêntica à minha.

Eu devia ter ficado feliz, mas minha felicidade pareceu sumir aos poucos quando vi, na primeira fileira, Fang e Seoyin de mãos dadas. Eu não soube o que fazer na hora, eu só… senti um aperto no peito. Algo que eu nunca tinha sentido antes. Comecei a perceber, aos poucos, que talvez eu gostasse muito de Fang. Bastante mesmo. Eu acho que, sei lá, talvez eu quisesse estar segurando a mão dele no lugar de Seoyin. Por algum motivo, Fang me olhava com uma certa tensão no olhar, o que eu não entendi muito bem o porquê.

O chefe Beifong terminou seu discurso:

— Agora, passarei a palavra para o Avatar Yuan. Veremos o que ele tem a dizer.

Fiquei um pouco nervoso ao ver toda a multidão. Era como se todos olhassem para mim, mas, diferente de uma sensação, realmente todos estavam olhando para mim. Eu fiquei diante do microfone e respirei fundo:

— Boa tarde — comecei. — Obrigado a todos por terem comparecido a esse evento. Eu não sei muito bem o que eu deveria dizer, além de que é uma honra estar aqui. Eu, como o Avatar, estarei aqui para todos que precisarem de mim. A Cidade República está diante de um sério perigo, mas eu lhes peço que nunca percam a esperança. Eu prometo que darei o meu melhor para ser um bom Avatar. Eu farei de tudo para garantir segurança de vocês, de suas famílias, amigos, de todos que vocês amam. Manterei o mundo em equilíbrio, custe o que custar.

E uma chuva de aplausos começou. Fotos para todos os lados. Eu olhei por cima do meu ombro, para Shun, e por um momento desejei não ter feito isso. Ele estava com uma expressão estranha no rosto, como se segurando-se para não me dar um soco. Eu não o culpava, ou, pelo menos, tentava não culpar. Ele sempre gostou de receber atenção, e provavelmente ele não gostava do meu título de Avatar. Então, finalmente, saí da frente do microfone e encerrei meu discurso (super improvisado, por sinal).

 

                                         [Terceira Pessoa]

 

— O Avatar assumiu um cargo na polícia, senhor.

Em um lugar muito perto e, ao mesmo tempo, muito longe de Cidade República, os igualitários e dobradores de fogo estavam reunidos em um epicentro. Uma sala circular, com muros de rocha sólida e de aparência tenebrosa para qualquer um que ousasse se aventurar era seu ponto de encontro fixo. Um deles, braço-direito do chefe, aproximou-se e concedeu a informação. Por trás das sombras, um homem de olhos dourados — e, ao mesmo tempo, tão frios quanto o mais profundo abismo — saiu. O cabelo era preso atrás, com um adorno do símbolo da Nação do Fogo; um artefato real, que só é utilizado pelo príncipe coroado. Ele se auto-intitulava como ‘’Scar’’, e era esse nome que estava por trás das ameaças deferidas contra Cidade República. Não era, de fato, um nome verdadeiro.

— O que faremos, senhor? — indagou um dos homens.

— Amon foi patético. — respondeu e levou uma das mãos fechadas de encontro ao peito. — Se eu quiser pegar a minha presa, preciso ser ágil. Rápido. — ele deu um sorriso de canto, mas não um sorriso sincero; era de puro desdém, os olhos dourados cintilando assombrosamente na tênue penumbra que se formava na sala.

— Nosso informante não nos avisou que o Avatar iria com o irmão ao templo de Korra. Poderíamos tê-lo raptado e concluído nosso objetivo.

— Meu trisavô foi tão paciente quanto inteligente. E é isso que faremos.

E, ao abrir a mão diante do corpo, uma labareda de chamas dançou sobre seu palmo. Ela, entretanto, emitia uma coloração muito diferente, e irradiava um calor fora do mum — as chamas eram azuis, ardendo intensamente.

— O Avatar será nosso. Primeiro, o Avatar. Depois, Cidade República. E, por fim, a Nação do Fogo estará em minhas mãos. Trarei de volta a honra dessa grande nação.

— Senhor — interviu um dos igualitários — Espero que não tenha esquecido da nossa parte no plano. Os igualitários estão servindo de grande ajuda.

Scar lançou um único olhar para o igualitário que ousou o interromper. Os olhos dourados transmitiam um medo súbito para qualquer um que ousasse encará-los por muito tempo. O ginasta imediatamente calou-se, contudo, Scar assentiu:

— Mas é claro que eu não esqueci. Vocês estão sendo muito úteis. — e as labaredas azuis sumiram da palma da mão do dobrador de fogo. — Eu cumpro minha palavra.  Nosso informante já mandou mais informações sobre o que virá a seguir?

— Sim, senhor. O Avatar participará de uma missão em breve. Eles acreditam que não estamos preparados.

— Assim é melhor. É sempre bom deixar sua presa confusa antes de abatê-la.

O Avatar sequer imaginava o que estava por vir.


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