Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 92
A voz da razão


Notas iniciais do capítulo

Não chamem a polícia, K.K. está viva!! Σ٩(°ロ°)۶
Olá minha gente, eu sei, eu sei... eu sumi desde o carnaval. (-_-;)・・・ Mas se vocês me perguntarem, eu vou ter que corrigir. Na verdade eu sumi desde o enorme temporal que atingiu o Rio de Janeiro aqui, na quarta-feira de cinzas. (・・;)ゞ
Eu até estava pronta para fazer as várias postagens desse e de outros capítulos assim que voltei de viagem, mas tudo virou de cabeça para baixo quando a água invadiu toda a minha casa e atingiu muitas das minhas coisas (coisas que nem posso substituir)... (-ω-、) E mesmo que já façam 2 semanas, ainda sim eu continuo tentando recuperar muitas das minhas coisas que estão cheias de lama ou molhadas (90% era feito de papel e memórias de infância). (+_+) E no que isso aconteceu, K.K. então ficou muito frustrada e decidiu que ia tomar uma decisão radical! Eu aluguei um outro lugar para morar, e deixar minhas coisas a salvo (NO ALTO, AONDE A ÁGUA NÃO CHEGARÁ MAIS!!). ლ(ಠ_ಠ ╬ლ)

Sendo assim, vamos ao que eu preciso falar com vocês. Eu ainda estou muito ocupada tentando resgatar as minhas coisas e agora também fazendo essa mudança inesperada. ☆(#××) Por isso eu vou pedir mil desculpas (nunca pretendi fazer isso desde que comecei a escrever), mas terei que colocar Black Desert em um pequeno hiatus temporário. (NÃO! Não é um daqueles "hiatus temporários" que duram para sempre!!) \(º □ º l|l)/
Me dói na verdade saber que não vou conseguir escrever, porque eu gosto muito de escrever para todos vocês, mas... a situação realmente vai se tornar muito inviável para que eu consiga escrever e revisar capítulos toda semana da forma que eu ando fazendo. (。•́╭╮•̀。)

Então vamos acertar tudo em um pequeno F.A.Q., porque soa mais prático __φ(..;):

Q. Por quanto tempo a história ficará em Hiatus?
A. Eu não pretendo que isso ultrapasse vários meses, mas preciso pelo menos de um tempo até conseguir me acomodar nessa nova casa como um ser-humano normal, então talvez pelo menos até o fim de março isso perdure.

Q. E os capítulos extras que você está devendo?
A. Não se preocupem, eu não me esquecerei dos 4 capítulos que devo, e quando eu levantar o Hiatus eles também serão postados da forma que originalmente iam ser!

Q. Como eu posso saber quando o Hiatus acabou?
A. Use o sistema de acompanhamento do site para ser avisado quando eu postar o próximo capítulo! Essa será a forma mais segura de eu garantir que vocês estarão a par do fim do Hiatus, já que não tenho como prever quando exatamente tudo vai voltar ao normal!

Q. E se você sumir para sempre?
A. Não vou, K.K. gosta muito de vocês e dessa história, então eu não pretendo abandonar ela até conclui-la. (Podem contar com a minha consciência, ela não vai me deixar esquecer de vocês!)

Q. Seu FAQ é muito pequeno! E se eu tiver alguma outra dúvida sobre o hiatus? Como posso ter ela respondida?
A. Podem me mandar mensagens, K.K. não vai postar mas eu posso pelo menos prometer que ficarei de olho no meu perfil. Então se houverem mensagens, eu com certeza lerei e responderei!

Então gente, desculpem-me de verdade por ter que me usar desse hiatus e não poder dar nenhuma informação mais precisa do que as que já dei. 人(_ _") O capítulo de hoje está um pouco maior para tentar compensar por algo, e espero de verdade que todos nos reencontremos dentro de um momento bem melhor -na próxima postagem! (o´▽`o) Boa leitura para todos, e que Grivah nos ajude para que eu possa retornar o quanto antes!
┬┴┬┴┤・д・)ノ



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Queria eu que quando minha consciência voltou a si, a primeira coisa que eu pudera ter percebido fora o forte brilho do sol da manhã e as vozes distantes das pessoas na rua começando mais um longo dia de trabalho... Desejando ter acordado no meu quarto, e descobrido que as lembranças do dia anterior nada mais foram senão resquícios de um longo e terrível pesadelo no qual eu me prendi por toda uma noite de sono.
Só que ao mover o meu corpo por sobre aquela superfície de couro desconfortável, e sentir minhas roupas ainda sobre mim, foi que eu então soltei um desagradável gemido e procurei abrir os meus olhos com muito cuidado... Temendo pela certeza de ainda estar naquele mesmo cômodo dentro da clínica, ao que a minha cabeça por outro lado parecia muito pesada para conseguir se recordar tão rápido assim de todos os detalhes que eu deveria.

— "Grr..."

Meus dentes então trincaram e um rosnado de mau humor escapou por entre eles. No que a luz gelada e artificial vinda do teto não me trouxera o mesmo conforto de acordar com a luz quente do sol sobre mim. Assim como a certeza de que eu não iria estar acordando para um dia mais fácil do que o anterior, já que meu corpo sequer me deu a chance de despertar antes de decidir se colocar mais uma vez em alerta!
Me forçando a sentar naquela poltrona um tanto zonzo, e completamente incapacitado de dormir um pouco mais. Ao que graças a isso pude então notar as minhas forças ainda muito drenadas, mesmo que várias horas tivessem já se passado entre o dia de ontem e o de hoje -ou melhor, como eu poderia realmente saber se não havia qualquer luz natural entrando nesse lugar!?
Mas definitivamente algo me dizia que a manhã já havia chegado. Fosse pela falta de Sal dormindo próximo a mim, ou o cheiro de comida fresca vindo do quarto dos fundos. Eu sabia lá no fundo que aquele era um novo dia.

Sendo assim eu me levantei por fim de onde eu estava, tentando passar por cima de cada músculo dolorido e recordação estranha da noite passada. Que me tentavam a procurar recordá-las melhor, já que eu continuava me sentindo tenso por dentro mesmo sem sequer pensar em nada importante.
"Na verdade, eu não quero muito pensar sobre ontem..."
Minha mente por fim me alertou em um desabafo que decidi guardar para mim mesmo. Sendo que quando eu então o fiz, inevitavelmente cada pequena coisa que Damian me fizera sentir no dia anterior simplesmente me veio à tona de uma só vez! O medo, a raiva, a confusão, a excitação! Tudo em um único estalar ao que, mesmo sem querer, eu acabei me debruçando por sobre o balcão para tomar um longo fôlego e apenas esperar a incômoda dor na minha cabeça -de uma noite mal dormida- passar.

— "Yura, já acordou? Como você está se sentindo meu querido?"
— "S-Sal? Eu... não tenho muita certeza. Minha cabeça não parece estar legal."

Eu então me levantei rapidamente com a voz de Sal que viera da porta do quarto dos fundos. Me olhando de forma complacente, ao que a honesta chateação no meu olhar me obrigou então a virar o rosto. Quase como se eu ainda fosse um adolescente que não soubesse lidar consigo mesmo.
Mas antes que eu então pudesse me esconder mais ainda de seu observante interesse, Sal estendeu sua mão na minha direção e a colocou sobre a minha testa. Checando a minha temperatura, ao que eu não tive qualquer outra reação senão voltar meus olhos para ela abatidamente.

— "Bom, sua saúde não parece estar fraca mas, posso ver pelo seu rosto que você ainda não está se sentindo muito bem."
— "É... Eu acho que 'bem' é a última coisa que eu estou conseguindo me sentir no momento. O meu corpo inteiro está muito pesado, e a minha cabeça está doendo-..."
— "Acredito. Eu havia preparado algumas ervas ontem para você tomar que iriam ter ajudado-o a se recuperar mas, quando voltei você já estava dormindo profundamente. Então preferi não te acordar. Acredito que você estava muito mais exausto ontem do que pensava."
— "Sim, acho que você está certa..."
— "Querendo ou não um dia difícil pode desgastar muito o nosso corpo, então eu acho que pode ser uma boa ideia se você tentar dormir um pouco mais até conseguir se sentir melhor. Eu vou preparar mais uma vez aquelas ervas para ver se o seu corpo combate essa fadiga, e, enquanto isso, porque você não volta a descansar? Afinal, não é como se estivéssemos com pressa agora também. As meninas ainda não retornaram dos seus primeiros serviços do dia, e-..."
— "Espera, como assim elas ainda 'não retornaram dos seus primeiros serviços'?"

Eu questionei aquilo ao que então os meus olhos se moveram às pressas na direção de um pequeno relógio que eu sabia haver em uma das 4 paredes friamente brancas daquela sala! Buscando reafirmação nas palavras de Sal, ao que eu por conta própria não poderia ter acreditado que já era bem mais tarde do que eu estava pensando ser -ou do que o meu corpo estava me deixando acreditar ser!
Mas realmente era! Já era quase meio-dia, e no que então aquela minha surpresa facilmente se traduziu em minha expressão, foi que eu ouvi Sal soltar um sutil sorriso e dar alguns tapas de leve no meu ombro. Empurrando o meu corpo atônito até mais uma vez àquela poltrona da qual eu havia levantado, antes de finalmente me explicar tudo que aconteceu durante o longo tempo em que eu fiquei dormindo -mas que não parecia ter!

— "Já faz 2 horas desde que elas chegaram na clínica. Mas como você estava dormindo tão profundamente, eu pedi para não o incomodarem e me adiantei repassando para elas os primeiros serviços do dia."
— "E porque você não me acordou?! Tínhamos combinado ontem de pedir para elas procurarem sinais sobre-...!"
— "Yura, se te deixando dormir o tempo que seu corpo precisou, você já acordou nesse estado... então imagine como você não iria estar caso eu tivesse tentado te acordar mais cedo ainda?"
— "Tsc, mas Sal! Eu não posso perder todo o meu tempo só dormindo! Os Skreas, eles-...!"
— "Vamos agora, pare de falar sem pensar. Afinal de que irá adiantar o nosso esforço por você, se durante uma emergência seu corpo não tiver forças o suficiente para poder se proteger?!"
— "Mas-..."
— "Eu não vou discutir isso com você Yura... Apenas descanse o tanto que precisar, e aí, só quando elas voltarem é que nós vamos nos preocupar com o resto das coisas, certo? Eu sei que você está ansioso para resolver isso, mas se precipitar não vai levá-lo a qualquer lugar agora."
— "Haah..."

Eu então fechei meus olhos e suspirei, tentando aceitar aquilo que Sal me dissera... Eu realmente não sabia lidar calmamente com as coisas como ela ou Ebraín mas, ela também não estava errada -afinal, eu estava muito atado. E sendo assim eu sentei e recostei minha cabeça mais uma vez naquela poltrona. Desistindo de contrariá-la ao que o sorriso que surgira em seu rosto logo deu lugar para uma expressão um pouco mais séria, e uma voz muito mais firme do que antes.

— "Ótimo. Agora vamos tentar fazer você recuperar as suas energias. Afinal, mesmo que eu e as meninas estejamos aqui para te proteger, isso não quer dizer que você também não deva estar pronto para cuidar de si mesmo caso precise. Nunca se esqueça que elas não possuem metade das experiências de vida, feitiçaria e combate que você já tem. Nenhuma delas foi treinada como uma guerreira, e poucas terão as mesmas chances que você vai ter caso um Skrea apareça aqui. Sendo assim, mais do que tudo, eu preciso que você esteja disposto e saudável para também protege-las caso esse momento chegue."
— "..."

Eu ouvi aquelas suas palavras com uma atenção desconcertante -afinal, Sal não estava realmente errada. O que me fez nisso perder então qualquer capacidade de automaticamente debater ainda mais aquele assunto com ela, mesmo que o meu desejo ainda sim fosse fazê-lo já que eu não queria ter que depender por uma segunda vez apenas de mim mesmo para me proteger da Oráculo e de outros Skreas!
"Eu mal consegui fazer isso da última vez... Não quero pensar que vou ter que passar de novo por isso! Ou pior, pensar que as meninas também dependerão da minha capacidade de fazer isso!"

Só que no que aquelas palavras dela começaram então a me fazer recuperar certa lógica sobre a realidade das coisas, foi que eu finalmente me dei conta de uma dúvida que se formara até que tarde demais dentro da minha cabeça -uma dúvida que eu não quis antes realmente ter, mas que a essa altura eu não tinha mais como impedi-la de surgir.
"Realmente eu sou o melhor entre as meninas para lidar com um Skrea, mas-... se nem eu mesmo consegui fazer isso direito, então será que elas realmente vão ser capazes de me ajudar de verdade? Ou será que eu só estou trazendo ainda mais problemas para elas e para mim, por estar aqui?"
Eu me indaguei ao que mesmo tendo tido cautela de não falar aquelas palavras tão desmotivadoras para Sal, meu estado de espírito por outro lado não se conteve em dividir com ela outro igual sentimento de insegurança.

— "Sal... Você acha que realmente elas vão saber me ajudar com os Skreas?"
— "... Eu não sei Yura. Honestamente essa está sendo uma experiência nova para mim também, então só saberemos de verdade quando voltarem com notícias. Mesmo que você estivesse dormindo, eu de todo modo me adiantei e as mandei observarem quaisquer movimentações estranhas vindas deles."
— "Mas será que mesmo assim elas vão saber identificar qualquer coisa de incomum neles caso os encontrem? Quero dizer, elas não tem experiência ou tanto contato assim com eles para saberem pelo quê procurar, e eles também não são sempre muito óbvios nas coisas que pretendem, então-..."
— "Bem, para ser honesta com você eu não estou tão preocupada assim em confirmar se eles estão realmente planejando algo ou não sobre você -afinal, eu não vou perder tempo com suspeitas quando a sua vida está em risco. Tudo o que eu realmente quero agora é que elas me confirmem se há qualquer movimentação deles pelos arredores da clínica. Assim, eu vou poder tomar uma decisão sobre manter você escondido aqui por mais uma noite, ou te levar para algum outro lugar mais afastado antes que anoiteça."
— "Entendi. Se bem que é estranho ver você tomando a iniciativa sem sequer querer confirmar essa história. Afinal, quando eu falei do veneno você por outro lado se recusou a tomar qualquer atitude, e-..."
— "Sim, eu sei o que fiz. Mas esse caso agora é completamente diferente. Esse em particular é-... bem, eu sei que não falo muito sobre isso com você, mas eu também vivenciei a época dos extermínios muito de perto. E se tem algo que isso me ensinou é que, quanto a esse assunto, é muito melhor eu me arriscar estar enganada do que arriscar a sua vida só para poder esperar pela certeza."
— "..."

Ouvindo aquilo eu então me calei e apenas me concordei vaziamente com a minha cabeça. Olhando para o lado em certo desconforto, ao que Sal viu naquela minha hesitação uma chance para finalmente me deixar em paz comigo próprio e retornar àquela pequena cozinha nos fundos da clínica. Voltando ao seu contente sorriso -e à certeza de que estávamos mais uma vez na mesma página-, enquanto que eu por outro lado me indagava sobre o mesmo.
Não era um hábito meu concordar daquela maneira sobre as coisas com Sal. Querendo ou não, nós dois tínhamos formas muito diferentes de resolver tudo, assim como opiniões bem divergentes sobre a maioria das coisas. Só que mesmo assim haviam momentos como esse em que eu não podia negar o óbvio! Ela tinha mais experiência de vida do que eu, e muitas vezes muito mais esperteza do que eu e meus 21 anos de vida poderíamos ter. Ela sabia lidar com as coisas da forma que eu ainda não sabia, e por isso, eu precisava aceitar de vez em quando a necessidade de colocar as suas ideias na frente das minhas.

Sendo assim eu então tentei me aconchegar melhor sobre aquela poltrona em uma atitude de desistência. Movendo meu corpo de um lado para o outro enquanto eu a aguardava trazer a infusão de ervas, ao que mesmo aparentemente tendo passado a responsabilidade de todos os meus problemas para Sal, meu corpo ainda sim insistiu em não se permitir relaxar.
Não, as coisas ainda não pareciam estarem totalmente resolvidas dentro de mim. Havia mais do que apenas aquele problema com a Oráculo me angustiando por dentro -eu podia sentir-, e esse fardo por outro lado, era um fardo que não tinha como ser dividido com ninguém. Esse fardo não tinha como ser dividido... ou ignorado por ainda mais tempo do que eu me esforcei em tentar.
"Damian..."

Meus olhos então se abriram ao estalar daquele nome na minha mente. Ao que meu peito pareceu se contrair dentro de mim, e um misto de sensações então se revoltaram dentro do meu estômago! É mesmo, como eu pude ignorar até agora tão facilmente dessa parte!? Tudo aquilo que aconteceu ontem entre nós dois!? Tudo que ele disse que "sentia", tudo o que ele fez comigo-...!
"Aquele imbecil, ele fez tudo que queria comigo, e eu simplesmente deixei!!"
Minha mente tentou falsamente rechaçar ao que eu não me empolguei muito em manter tamanha fachada mais... Não, não depois que eu mesmo confirmei ter o mesmo interesse por ele! E quanto mais eu pensava naquilo, mais ainda eu me sentia ser avassalado por aquele sentimento sem nome... Que me acolhia assim como o inocente amor que até então eu já conhecia, mas que ao mesmo tempo me queimava por dentro em constrangimento e prazer, diferente de tudo que eu até então já senti!
Eu sei o que pensei ontem mas, não sei bem se "amor" é mais o nome correto, ou sé é apenas o nome que eu quero dar para isso. Bem, seja da forma que for, eu não tenho como entender melhor esses sentimentos sem ele do meu lado... Eu não tenho sequer como elaborar ou sofrer com isso, se não estivermos próximos um do outro.

— "Haaah...!"

Eu tentei então exalar para fora de mim tudo que ainda podia povoar minha mente sobre ele, com vontade. Afinal, mesmo querendo muito explorar esses sentimentos, eu não ia ter como fazer isso sozinho. E minha cabeça iria precisar entender isso logo de uma vez! Damian agora estava longe de mim, e por muito tempo ele também iria continuar afastado do meu caminho -querendo eu ou não! Tornando assim cada um dos meus problemas com ele nada mais do que questões irrelevantes para agora, já que de tão superficiais diante do resto acabariam elas tomando uma forma quase que um tanto nostálgica -e até mesmo inconveniente-, só por ousarem existir no meio de tantos problemas muito mais difíceis de se lidarem agora!
"Não, se eu não conter essa minha curiosidade sobre tais sentimentos, posso acabar me torturando sem motivo."

Minha mente admitiu deixando então que outra indagação muito mais irrelevante tomasse conta de mim. Ao que mesmo não querendo transformar isso também em mais um problema, de tantos anos me cobrindo de péssimas lembranças, não tinha como agora eu não me sentir -nem que fosse um pouco- traindo a imagem que eu ainda tinha dos últimos momentos que passei com Sáshia. Ou então, me sentindo mal por não me questionar pelo mero fato de que até hoje eu rejeitei todos os sentimentos que Gale me impôs, e isso apenas porque eu não me via também interessado pela mera ideia de estar com outro Homem...
Sim, eu estava me repreendendo por sentir qualquer outra coisa por Damian senão ódio, já que muito provavelmente isso ia ser bem mais fácil para mim do que ficar pensando na atração ou no "amor" que eu já sabia estar sentindo por ele. E no que superar aqueles tolos dilemas e dúvidas poderia não vir a ser o processo mais rápido de todos, eu então decidi que essa ia ser a minha saída para poder suportar esse tempo longe dele.

Atrapalhar o prazer que eu queria poder sentir em admitir que finalmente estava conseguindo gostar de alguém, para também conseguir atrapalhar a frustração que havia por trás disso... Eu acabei dedicando tantos dos meus pensamentos àquilo, que por essa mesma razão foi que então eu acabei demorando a notar por quanto tempo Sal estivera ali no meio daquela sala, me encarando contemplativamente com uma bandeja de ferro em suas mãos, e xícaras cheias que apenas ousaram tintilar ao que então ela voltou a se mover na minha direção. Segurando com isso uma daquelas xícaras bem na frente dos meus olhos com imensa despretensão, e zombando de mim e minha completa desatenção.

— "Distraído com alguma coisa interessante?"
— "..."

Eu ignorei aquela sua pergunta -com um mau humor que apenas Damian era capaz de me fazer sentir- pegando então a bebida de sua mão sem nem tentar fingir qualquer simpatia em resposta. Ocupando assim minha boca com a ponta daquela xícara de louça, ao que mesmo parecendo estar quente, seu interior sequer produzira qualquer fumaça ou sensação de que eu iria me machucar quando tocasse a minha pele -a temperatura estava ideal, na verdade.
E com isso eu então comecei a tomar aquele líquido escuro -que muito se assemelhava a um chá feito de uma planta ressecada colhida perto dos oásis, e muito saboreada nos Desertos Profundos-, me deleitando lentamente em silêncio com aquele seu simples sabor familiar, e que de gole em gole conseguiu sozinho acabar me devolvendo para um humor muito mais acessível do que antes.
Até por fim minha postura então mudar, e eu tomar um longo fôlego por sobre o agradável aroma daquele chá devolvendo gentilmente a minha atenção mais uma vez à Sal e seu irreverente silêncio. Que adornava sua neutra expressão, enquanto ela agora tranquilamente parecia beber o outro chá sentada na poltrona que se encontrava de frente para mim.

Mas no que meus olhos a observaram cada vez mais, cada vez mais então eu também pude dizer que consegui perceber - ela estava friamente evitando me dizer qualquer outra coisa enquanto pacientemente aguardava que eu tomasse essa iniciativa de quebrar o silêncio entre nós dois. Afinal, eu a conhecia até que bem o suficiente para poder afirmar que aquele era o seu jeito próprio de revidar cada uma das minhas birras.
Só que quem é que disse que isso iria conseguir também ser uma boa ideia? Afinal, independente do meu humor ou da situação em que eu agora estava, o assunto errado ainda se mantinha sobre mim -pairando pela minha mente de forma incessante e igualmente perigosa!

— "Sal...?"
— "Sim? Quer conversar sobre alguma coisa?"
— "..."
— "Ok então."
— "... N-Não. Espera Sal, você-... Haah, não acredito que vou te perguntar isso mas, você por acaso já chegou a se apaixonar por alguém?"
— "O-O quê?"

Ela me respondeu aquilo em um espanto tão inesperado, que eu em um impulso corri para esticar o meu braço na tentativa de pegar a xícara que eu jurei que ela iria derrubar de suas mãos! Só que no último instante ela então se recompôs, segurando com firmeza aquela xícara e cobrindo sua boca discretamente com sua outra mão! Ao que seus olhos claramente abertos me observaram por um longo instante até que seus pensamentos conseguissem finalmente voltar para o seu devido lugar e sua voz suprimisse o susto que roubou por completo a sua fala!

— "B-Bem... essa é uma pergunta realmente interessante, eu acho. O que te fez pensar nela?"
— "N-Nada demais..."

Eu a respondi desviando então mais uma vez o meu olhar, no que a minha mente pareceu retomar com a agitada reação de Sal o seu próprio bom senso!
"O que eu estou pensando?! Que vou poder pedir para Sal dicas amorosas sobre Skreas agora?! Haah...! Corrija a sua cabeça, Yura!"
Minha mente se questionou, ao que então eu timidamente voltei a tomar novos goles daquele calmante chá... ocupando assim a minha boca, para que nenhuma nova besteira pudesse sair dela mais! Mas-... mas quem disse que isso ia bastar, depois de eu ter deixado Sal suficientemente curiosa sobre tal assunto?

— "... Yura?"
— "Sim?"
— "Você está gostando de alguém, meu querido?"
— "...!!"
— "Sim, já entendi que você está."
— "Haah... Na verdade eu ainda não sei ao certo. Eu sinto que estou, mas ao mesmo tempo eu não sei exatamente o que estou sentindo! A minha única certeza mesmo sobre tudo isso, é que as coisas não podiam ser assim-...!"
— "Tudo bem, eu entendi."

Sal então me cortou com uma frieza incomum de sua parte. Repousando aquela sua xícara sobre a bandeja e juntando então as suas duas mãos pensativamente, antes de retornar seu olhar até mim e prosseguir com algo que eu sentia que ela não estava especialmente feliz de relembrar -ou falar sobre.

— "Quanto à sua pergunta... Sim, eu já gostei de alguém, e também já estive em uma posição bem parecida com a sua."
— "'Posição parecida'?"
— "Sim, de achar por muito tempo que eu não tinha o direito de me sentir da forma que eu me sentia por aquela pessoa."
— "E... Como foi que você resolveu isso Sal?"
— "Bom, vamos dizer que eu não precisei fazer nada no fim das contas, porque as coisas acabaram se resolvendo da forma que tinham que se resolver."
— "... E como foi isso?"
— "Hehe, não se preocupe Yura, Grivah nunca repete uma mesma história duas vezes. Então mesmo que eu até te conte sobre, você ainda sim não vai conseguir ter na minha história a solução certa para poder resolver também a sua -sem falar que eu prefiro que essa sua história não tenha o mesmo destino que a minha teve, afinal, você ainda é jovem demais para passar por isso."

Eu ouvi Sal me dizer tudo aquilo sem muito desejar contestá-la ainda mais. Ela não queria entrar em detalhes -o que estava bem óbvio para mim-, mas eu também por outro lado não queria ter que fazer o mesmo -eu não queria criar ainda mais chances para abrir o jogo com ela sobre minhas desventuras com um Skrea. E no que então eu e Sal nos entendemos sobre isso, nossas cabeças apenas decidiram concordar uma com a outra fazendo nossas palavras então cessarem mais uma vez...
Cessarem, ao que um longo silêncio então perdurou entre nós dois. Sendo destruído apenas pelo som dos breves goles de chá que continuávamos a tomar, até que por fim uma batida na porta pudesse ser ouvida e as primeiras meninas então começassem a retornar para a clínica!


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