Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 93
Os Primeiros Dias


Notas iniciais do capítulo

YOOOOO MINNA!!! Hisasshiburi da! (E aí gente!! Há quanto tempo não nos vemos!) ┬┴┬┴┤•́ω•̀)尸
K.K. não sabe exatamente como começar esse comentário depois de tanto tempo, então eu me usarei da solução mais fácil, "the blunt truth"! ٩(・・;)۶
Honestamente eu tive muita vergonha de voltar a escrever Black Desert, no que esse Hiatus foi se prolongando para muito mais além da conta (8 meses além do que eu queria), drenando de mim toda a coragem que eu ainda tinha para encarar vocês, assim como para encarar a responsabilidade das postagens semanais. (╥﹏╥)
Desde aquele dia muitas coisas aconteceram, e eu precisei perder meu emprego para acreditar que agora daria para voltar a escrever regularmente mais uma vez. (×_×)⌒☆
Ao que mesmo ainda sem muita coragem, eu cegamente procurei incentivo nessa longa jornada de 2 anos que compartilhamos juntos para não ousar recuar! (メ ` ロ´)/

Agora, não pensem que K.K. literalmente passou quase 1 ano inteiro ignorando todos vocês!! Nuh-uh! (°ロ°)/ Eu estive na realidade desde Outubro do ano passado relendo e corrigindo todos os capítulos anteriores (mas só os muito ruins), e repostando-os que nem uma Ninja aqui no site, sem que vocês sequer soubessem! Muahah! ( ` ω ´ )/ (Mas se vocês conseguiram descobrir, então me desconsiderem (→_→)" ) Tudo isso, como exercício para poder retomar direito essa bela história que eu me RECUSO a deixar pela metade! ٩(๑`^´๑)۶

Sendo assim, K.K. pede desculpas muito sinceras por todo esse tempo que levei para voltar. (*_ _)人
Eu voltarei a ter um tempo 100% dedicado ao Black Desert? Honestamente não, porque K.K. agora mora sozinha, e ela precisa pagar suas contas, estudar para o mestrado-... ein? Alguém disse algo sobre mestrado? Shiiu, deixa quieto, longa história~! (⊙_⊙) Então eu não posso prometer uma dedicação regular, já que não sei o que me espera nos próximos meses. Porém, eu também não repetirei um Hiatus de 11 meses, vocês podem ter a minha palavra aí! Se eu desandar com as postagens semanais, quero que no máximo não passe de 1 ou 2 vezes por mês! (ಠ_ಠ)ゞ
Sendo assim por favor, sejam bem-vindos de volta à Black Desert! Caso faça muito tempo desde a última vez que o leram, recomendo então checarem os 6 capítulos anteriores (eu reescrevi todos eles). E assim sendo, com muita alegria eu volto a poder dizer: Tenham todos uma ótima leitura hoje! Estamos de volta!! ☆*:.。.o(≧▽≦)o.。.:*☆



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— "Ah!! Yura acordou!!"

Eu ouvi aquela voz ecoar pela sala assim que Sal destrancou a porta da clínica e a abriu para uma das meninas que acabara de retornar! Me encarando ela com um sorriso bem empolgado, ao que eu só tive tempo de ver suas pernas se impulsionando para frente, antes dela começar a correr com toda vontade na minha direção! Atirando-se sobre o meu corpo sem qualquer cuidado, ao que eu precisei usar os meus poderes rapidamente para impedir que o resto daquele chá não acabasse caindo acidentalmente sobre nós dois!

— "Ugh-!"
— "Zamia!! Cuidado! Você vai machucá-lo assim!"

Sal alertou, não conseguindo se afastar por dois segundos daquela porta antes de então novas batidas serem ouvidas, e outras duas meninas acabarem entrando logo em seguida! Vindo cada uma delas falar comigo primeiro sem prestar muito esclarecimento à Sal, ao que graças à Grivah, pelo menos nenhuma delas resolveu mais literalmente pular em cima de mim -antes que eu mesmo por garantia resolvesse me levantar daquela poltrona! E nisso que os minutos foram passando ainda mais rápido do que antes, mais e mais garotas foram surgindo por aquela porta uma atrás da outra!
Cada uma contendo expressões diferentes até me perceberem em pé no meio daquele cômodo, ao que inocentemente cada uma fez questão de vir falar comigo mesmo que não tivesse passado tanto tempo assim desde a última vez que eu vim aqui -se bem que eu não havia falado direito com elas também da última vez.
Me vendo cercado de atenção como se eu tivesse milhares de irmãs mais novas curiosas com minhas possíveis aventuras, assim como ansiosas para dividir comigo suas novas descobertas enquanto Sal por outro lado só observava tudo aquilo com um olhar misto de alegria e repreensão.

Mas não demorou muito para Sal por fim tomar com isso a decisão de afastar elas de cima de mim também, ao que cada uma precisava ainda reportar a conclusão de suas tarefas, antes dela poder prosseguir com qualquer outra atividade ali dentro! E sabendo disso foi que eu então me encostei em um canto aguardando cada menina ir conversar com ela pacientemente. Agradecendo pelo pouco de espaço que eu consegui ter de volta com aquilo, antes de então Sal terminar as conversas e mais uma vez retornar para o meu lado. Observando-as se dispersarem junto de mim, ao que mesmo com seu corpo já idoso, em nada parecia para ela ser cansativo ficar tanto tempo em pé ou ocupada com diversas atividades de uma só vez.
Resguardando com isso suas palavras em um sorriso que tomara um tempo para ser desfeito, já que Sal fez questão de ter apenas outra nova conversa comigo quando ficássemos os dois novamente sozinhos ali naquele canto do quarto.

— "Yura, elas já me deram um breve parecer da situação nas ruas..."
— "E então...?"
— "Como imaginado, nenhum Skrea foi avistado aqui nas redondezas, seja por elas, ou pelos moradores. Eu também tinha mandado um grupo para as Escadarias, e, tirando alguns Skreas que pareciam estar saindo da Cidade Baixa hoje bem cedo, nenhum deles foi igualmente visto fazendo patrulhas tão longe assim dos seus territórios."
— "Então isso significa que não estão se mobilizando."
— "Sim... Yura, eu não pretendo argumentar sobre isso mas, você tem certeza de que realmente há Skreas atrás de você?"

Sal então me olhou discretamente com certa dúvida, ao que eu reagi em agitação não sabendo como provar para ela aquela minha certeza, senão me usando apenas das palavras que eu já havia usado com ela! Isso, até que então algo passou pela minha mente e eu decidi me arriscar a abaixar o manto ao redor do meu pescoço! Revelando para ela o talho que ela percebera mais ainda não havia realmente visto com seus próprios olhos, ao que minha voz saiu de mim um tanto exasperada!

— "Foi essa Skrea que fez isso aqui em mim. E eu já vi ela fazer muito pior com outras pessoas. Eu posso não ter certeza de quantos Skreas estão rondando as ruas atrás de mim mas, eu sei que HÁ pelo menos uma Skrea me caçando."
— "Certo... Se é assim, eu vou então pedir para 2 meninas se manterem aqui pelos arredores até o fim do dia. E veremos até amanhã se alguma coisa vai mudar. Independente de qual seja a agenda dessa tal Skrea em relação a você, ela não irá nos pegar de surpresa."
— "Ok Sal."

Eu falei então abaixando um pouco a minha cabeça e cruzando os meus braços... Sabendo que Sal não estava desejando duvidar de mim, mesmo que por outro lado os fatos estivessem me descredibilizando um pouco agora. Isso porque ela não iria perder aquele seu zelo de sempre, independente de pensar que eu estava ou não com a razão. Assim como igualmente não iria perder o seu instinto maternal mais protetor, enquanto também não conseguisse duvidar da honestidade que havia em meu próprio medo. E até lá, até ela ser capaz de finalmente me desacreditar, eu acredito que algo acontecerá para convencê-la muito mais do que eu sozinho estou conseguindo convencer no momento!

Sendo assim eu acabei passando por todo aquele longo e interminável dia me agarrando à essa impotente ideia. Sem poder saber por quanto tempo o sol ou a lua continuara no céu, ao que minhas breves oportunidades de poder ver o lado de fora passaram a ser apenas quando aquela porta de madeira velha era aberta rapidamente para uma nova menina poder sair, ou entrar. Porém, toda vez que aquilo acontecia, o meu primeiro reflexo sequer era me aproximar daquela mesma porta! Já que eu temia por um fantasma que minha mente criara nos momentos de pior reflexão e silêncio ali dentro. Transformando para mim a Oráculo em nada mais do que uma terrível assombração onipresente que poderia sem aviso surgir na minha frente, à cada novo segundo que se passava através dos ponteiros daquele singelo relógio, esquecido sobre a parede do balcão! Um medo disforme e ilógico que precisei criar para a minha segurança, ao que com o tempo as desconfianças que pairavam sobre a cabeça de Sal tentaram igualmente começar a me impregnar, e minha única proteção contra isso passou a ser a certeza de que havia motivos reais para eu sentir tanto temor assim.

Admito que aquela foi uma forma atormentada de gastar um único dia ali dentro. E especialmente no que meus breves momentos de tranquilidade se davam quando então eu me pegava pensando mais uma vez em Damian, e no quanto estava se tornando impossível para mim obedecer ao meu senso de preservação e esquece-lo pelo tempo que precisasse ser.
"Eu achei que ia conseguir focar minha mente melhor sem ele por perto mas-... à essa altura eu já estou duvidando de isso ser sequer possível. O mero fato dele existir parece toda hora querer brigar por um espaço dentro de mim! Querendo eu ou não."
Suspirando inúmeras vezes pelos cantos daquela clínica sem muito me ater com o quê as outras iriam pensar, já que para todos eu poderia muito bem estar meramente preocupado com a minha situação atual de perigo e nada mais além disso. Foi dessa forma que eu deixei aquele dia passar bem diante de mim.
À cada retorno de uma nova menina, eu me via ansioso por informações que jamais chegavam. Ao que cada olhar duvidoso de Sal me fazia frear os meus passos e desviar o meu rosto, por saber que minha história estava perdendo lentamente toda a sua inicial criticidade.

E no que então a noite chegou em seu ápice, e cada uma das meninas fora já embora, Sal por fim chegou até mim e me ofereceu uma das macas dos fundos para eu poder dormir melhor. Me falando que ela passaria mais uma noite comigo, porém, que não iria repetir isso caso o dia de amanhã não fosse muito diferente do de hoje. Um ultimato com o qual consenti. Sabendo que eu também não iria poder forçá-la demais só porque minha insegurança em ficar sozinho não conseguira ser abafada mesmo após diversas tarefas que ela tentou me dar para me distrair, ou conversas animadas com as meninas que ela tentou instigar para me relaxar.
Se eu não desse aquela trégua para Sal também, eu iria em pouco tempo me tornar um estorvo ali dentro. E com isso então eu dormi... sufocado pela certeza de que ficar ali dentro por tempo demais iria em algum momento se tornar um problema para as outras, e me indagando sobre como eu poderia estar agora caso por outro lado eu tivesse insistido em procurar a BlackHole -mesmo sabendo que na prática isso não iria ter dado certo.
Diferente de Sal e das meninas, a BlackHole sabia pelo quê procurar, e eles estavam metidos até o pescoço com assuntos sobre os Skreas. Eles sabiam sobre a Oráculo, e o próprio Gale estava afrente dos perigos que lentamente começaram a se entranhar pelas ruas escuras daquela cidade sem que Sal por outro lado tivesse ainda descoberto o rastro de sangue que começou a se formar dentre os becos mais escondidos -afinal, Gale e a BlackHole ainda cobriam um território muito maior e mais próximo dos Skreas do que Sal.

Assim sendo, minha noite terminou com mais dúvidas do que certezas. E mais questionamentos do que decisões. Ao que largar as coisas nas mãos de Grivah e apenas aguardar parecia ser bem mais difícil de fazer do que eu imaginara a princípio.
Nisso, uma nova manhã chegou com não mais do que uma leveza em minha mente, e o som da voz das garotas se reunindo já cedo na entrada para suas várias tarefas. Ao que uma delas -Kuki, aquela que há dias atrás me recebera aqui de noite-, entrou sem qualquer discrição no quarto dos fundos e correu para a cama em que eu ainda repousava com um sorriso iluminando seu rosto a ponto de fazer talvez até mesmo o próprio sol ter inveja!

— "Bom dia Yura!!"
— "Kuki, bom dia..."
— "Você não parece bem, quer que eu te deixe dormir mais um pouco?"
— "Ah, não, não ligue para isso. Meu humor nem sempre é dos melhores quando eu acordo mas, já vou me levantar."
— "Entendi! Você é que nem minha mãe quando eu morava com ela, hehehe! Isso deve ser coisa de gente mais velha mesmo!"
— "!!-... Ei, você não é tão nova do que eu assim! Não me chame de velho com essa facilidade!"
— "Hahaha, foi uma brincadeira! Você parece até a Saret, fazendo uma cara brava dessas tão cedo!"
— "Ah-... Ok, pode voltar a dizer que eu pareço com um velho. Prefiro ouvir isso do que ouvir que pareço com a Saret."

Escutando aquilo, Kuki então não conteve a gargalhada e logo se atirou por sobre maca -que era um pouco mais alta do que ela-, na tentativa de pegar o travesseiro e o lençol que eu acabara de usar. Dobrando-os cuidadosamente com suas mãos pequenas, ao que eu ainda a observava sentado sobre a cama sem realmente considerar muito sair dali.

— "Vai lavar?"
— "Sim!! Quer que eu lave aliás o seu manto também?!"

Kuki falou aquilo já se debruçando sobre mim para tentar pegar o manto que se enrolava ao redor dos meus ombros sem sequer esperar pela minha resposta! Ao que eu precisei afastá-lo rápido, segurando-o para longe do alcance de suas ágeis mãos com um sorriso vagamente incomodado!

— "Não precisa! Dessa vez eu mesmo vou lavar as minhas roupas. Ou então vou acabar sendo expulso daqui por abusar demais de vocês!"
— "Heheh, não diga isso Yura! É tão empolgante ter você aqui, que não consigo imaginar alguém querendo realmente te expulsar!"
— "Heh, pode falar o que quiser, mas eu não vou cair nessa conversa. Me bajular não vai me convencer a te ajudar com a sua feitiçaria."
— "Awwn... Mas você é tão bom! Queria que me mostrasse algumas coisas legais para eu poder treinar!"

Ouvindo aquela ingênua resposta de Kuki -que mesmo conversando comigo, não se distraía por outro lado de seus vários afazeres domésticos-, eu então segurei a minha contrarresposta por um instante e procurei ao meu redor por um copo de água que eu havia notado ter sido deixado próximo da minha cama -provavelmente cortesia de alguém. Apontando então o copo para Kuki também o encarar, ao que seus olhos empolgados se vitrificaram nele com expectativas acerca do que iria acontecer logo em seguida! Me dando assim toda a deixa para com isso começar a mover meu dedo de uma forma ordenante, obrigando aquele líquido a sair de dentro do copo e flutuar por sobre ele, esticando-se em uma linha que eu mirei para a direção da porta e prendi no ar -de forma completamente estática!

— "Siga a direção da água."
— "Certo!"
— "Está vendo para onde aponta?"
— "Sim!!"
— "Sua professora está naquela direção, e não aqui dentro. Então não me peça para te ensinar nada, porque eu não vou."
— "O quê!? Awwn, Yura...!"

Toda a empolgação de Kuki então se desfez tão rápido quanto a água -que eu comandei em um breve gesto retornar ao copo-, ao que mesmo após eu ter lhe enganado, ela sequer conseguiu perder parte de sua postura sempre muito espirituosa! Me dando sua língua enquanto terminava de trocar a fronha do lençol, ao que eu por outro lado decidi parar de atrapalhá-la e finalmente me levantei dali. Andando até a porta com um sorriso desavergonhado, ao que mesmo que eu pudesse querer compensar Kuki pelo trabalho que eu já à estava dando tão cedo, por outro lado, tanto eu quanto ela sabíamos muito bem o quão perigosa podia ser a responsabilidade de uma pessoa despreparada como eu ensinar à outra Feiticeira qualquer coisa que fosse.

O que Sal fazia era de um risco imensurável para com ela e os outros caso feito errado, e justamente por eu ser inexperiente comigo e com todo o resto da minha vida ainda, era que então eu não iria me colocar nessa posição de auxiliar as meninas com seus poderes. Se bem que eu posso por outro lado lavar as roupas para elas.
Minha mente logo quebrou o peso daquele assunto com algo mais leve, ao que subitamente eu me toquei de uma coisa!
"Pensando bem agora, eu vou ter que lavar essas roupas aqui em alguma hora mas, não tenho como fazer isso sem uma outra muda limpa de roupas para usar enquanto essas lavam! Porcaria!"
Eu então pensei comigo pegando instintivamente uma ponta do meu manto e colocando de contra o meu nariz, para averiguar quão sujo ele já estava! Só que o primeiro cheiro que me surgira não fora o do resultado de um dia anterior muito agitado, mas sim-... o cheiro "dele"!? D-deve ter ficado nas minhas roupas quando-... quando nos abraçamos, talvez?

— "Haah..."

Minha voz quase se esganiçou de uma forma abatida, ao que meu humor então se reverteu totalmente por perceber que o alívio que eu tanto aguardei por estar longe de Damian jamais tivera chegado. Meu peito agora pesava mais, e meu corpo tremia com o desejo de senti-lo mais uma vez perto de mim. Mas o que meu desejo sozinho aclamava, minha cabeça por outro lado tentava racionalizar. Me obrigando a segurar as pontas por mais difícil que fosse, ao que suas últimas palavras tentaram me confortar por dentro com um errático receio.
"'A partir de agora eu sou o seu inimigo'. Sim, eu não posso deixar a vontade de vê-lo passar por cima da certeza de que não posso vê-lo. Eu preciso suportar isso, mesmo que não dê para tirá-lo da minha cabeça."
Minha mão abaixou por fim o meu manto, ao que eu pude dizer que uma tristeza me invadiu por completo... E eu deixei que invadisse. Já que diante de mim não havia nada mais do que uma porta fechada, e a completa falta de testemunhas para me questionarem ou julgarem.
Só que, logo quando eu me permiti pensar assim, a maçaneta da porta à minha frente começou então a girar, abrindo bem em seguida! No que eu no susto me corrigi e dei espaço para não ser acertado acidentalmente, olhando com isso a imagem de Sal surgir diante de mim em um misto de surpresa e bom humor!

— "Yura! Vejo que já acordou!"
— "S-Sal, bom dia."
— "Eu estava realmente vindo para falar com você... Kuki, poderia nos dar licença por um instante?"

Sal então falou olhando por sobre meu ombro, ao que Kuki rapidamente balançou sua cabeça sem muito disfarçar seu inabalável bom ânimo matinal, e saiu carregando consigo todos os lençóis sujos porta afora, enquanto Sal por outro lado entrou em um balançar de agradecimento com sua cabeça, fechando-nos lá dentro sozinhos logo em seguida. Dando assim ela alguns passos na minha direção, ao que eu precisei recuar o mesmo número de passos até notar que estávamos longe o suficiente das paredes -e da chance de sermos ouvidos pelo cômodo vizinho.

— "Yura, você ainda estava dormindo, mas eu decidi dar uma caminhada hoje cedo pelas ruas. E fui visitar alguns antigos pacientes de confiança que costumam fazer negócios nas Avenidas, procurando por qualquer informação estranha que eles pudessem ter para me oferecer."
— "E você descobriu algo?"
— "..."

Sal então deu uma pausa antes de me responder aquilo. Fechando um pouco sua expressão com muita seriedade, e retornando com rapidez aquele assunto -já que eu podia dizer que independente da gravidade que havia no que ela precisava me dizer, ela ainda sim precisava me dizer.

— "Yura... eu não descobri nada sobre o seu caso. Agora, não vou começar a dizer para você que deixei de acreditar nas coisas que você me disse, mas-...!"
— "Tsc. Você não está se convencendo de que as coisas estão exatamente do jeito que eu te disse estarem."
— "Não, isso também não. Eu disse que não iria pôr a sua vida contra qualquer necessidade de certeza! Eu acredito sim em você. Assim como em você ter sido atacado por uma Skrea que te acusou de ser um Vessel, só que-..."
— "'Só que'?"
— "Por outro lado, eu não estou conseguindo confiar tanto assim na pessoa que te mandou sumir das ruas. Você pode ter sido atacado antes, mas será que realmente todos os Skreas estão agora te procurando? Quem afinal foi essa pessoa que te disse essas coisas?"
— "!!"

Eu emudeci no mesmo instante e abri os meus olhos em surpresa! É claro que eu jamais poderia ter me convencido de que Sal não iria querer saber aquela informação mas, por outro lado, eu não pude evitar de sentir o meu corpo estremecer só porque o nome de Damian foi parar na ponta da minha língua! Não, eu não posso falar que um Skrea me alertou, ou isso iria não só fazer Sal desacreditar toda a minha história, como também me questionar sobre porque eu estive até agora andando com um Skrea! Isso não teria como acabar bem, e por isso, eu então me segurei ao máximo para não deixar aquela informação escapar de dentro de mim! Mesmo que por outro lado eu soubesse que Sal já captara os anseios dentro de meu corpo, e a desesperada aceleração da minha corrente sanguínea diante daquela sua pergunta! Ela sabia que eu tinha a resposta, e que eu não ia provavelmente dizê-la.

— "S-Sal, essa pessoa-... Essa pessoa. Eu confio nessa pessoa, mas não posso te dizer quem é!"
— "... Se você não me disser, então eu não terei como ter qualquer outra opinião sobre isso, Yura."
— "E você vai me mandar embora?"
— "Não! Eu já te disse que vou mantê-lo seguro aqui dentro pelo tempo que você precisar! Só não poderei ficar gastando tantos recursos assim diariamente por um problema menor do que na realidade ele possa ser. Yura, estou preocupada em mandar as meninas ficarem saindo demais de suas rotas por nenhum motivo, e acabar com isso colocando elas no meio do caminho da BlackHole. Eu me importo demais com você, mas não posso agir como se me importasse com você mais do que me importo igualmente com cada uma delas."
— "..."

Eu então me calei sem ter como contra-argumentar Sal... É verdade, como pude ter me esquecido disso? Elas estão se expondo muito para poder me ajudar, enquanto eu por outro lado não estou dando qualquer garantia para elas de que esse risco é necessário...
Quero dizer, eu não vou pensar que o Damian mentiu para mim. Ele é manipulador porém honesto, e não haveria qualquer razão para ele querer me convencer a desaparecer enquanto Gale continua solto por essa cidade -ele ainda precisa de mim! Se bem que, dessa vez-...
"Agora que ele admitiu gostar de mim, será que ele iria continuar agindo da mesma forma que sempre agiu?"
Aquilo me questionou bem profundamente, ao que eu sabia como Damian nunca fizera segredo sobre odiar os meus sentimentos, ou sobre o desconforto que era se sentir daquela forma por mim, então... E se ele apenas armou toda essa cena, e usou a Oráculo como desculpa só para poder me afastar do caminho dele? Para afastar os meus sentimentos do caminho dele?
Eu não tinha como mentir para mim, ou esconder que havia certo sentido naquelas cogitações. Mesmo que aquele sentido fosse praticamente ínfimo diante do tanto que eu ainda sim queria acreditar nele. Mesmo assim, aquela fagulha de dúvida acendeu dentro de mim da forma mais desagradável possível.
Não me permitindo reagir muito, mesmo quando então uma das mãos de Sal pousara por sobre o meu rosto em um gesto de carinho.

— "Meu querido. Eu não questionei isso por mal, mas realmente preciso ter alguma garantia do verdadeiro tamanho dessa situação. Ou das reais intenções do seu informante por trás do aviso que ele te deu."
— "... Sal. Eu acho que não tenho nenhuma garantia. Mas posso dizer que essa pessoa não tem ligações com você e esse lugar. Se ela mentiu para mim, pelo menos então não foi para atingir a clínica. Pode ficar tranquila sobre essa parte, eu te dou a minha palavra."
— "Certo..."

Sal me respondeu com certo desânimo, ao que minha falta de respostas deixou ela sem muito mais o que poder fazer senão se afastar de mim e desviar seu olhar para o lado. Para as macas vazias ao nosso redor, e para o silêncio incômodo que passou a se formar entre nós dois.

— "Eu mandei mais uma vez as meninas sondarem as ruas mais longes, nas Escadarias, mas-... Se elas voltarem novamente sem qualquer notícia eu então vou parar de deixar elas tão expostas assim. E vou reduzir o alcance de suas áreas para as rotas convencionais."
— "Tudo bem..."

Eu respondi Sal sem muito ânimo, ao que ela então por fim balançou a sua cabeça em uma concessiva afirmação. Abrindo com isso mais uma vez a porta daquele quarto, e saindo dali possivelmente inconformada, ao que nada mais poderia ser agora dito entre nós dois que iria ajudar de qualquer modo. Acho eu...
Não. Contar para Sal sobre Damian iria dar no mesmo. Ela não iria ter como tirar mais respostas do que dúvidas dessa informação, então eu apenas me fiz um favor guardando essa verdade apenas para mim. Afinal, eu sequer posso imaginar as coisas que ela iria me dizer caso soubesse que eu estive andando com um Skrea por todos esses dias!
"Definitivamente ela iria reagir muito pior do que se soubesse que eu andava com Gale há anos atrás. Definitivamente."
Minha cabeça então concordou sem muito ímpeto ao que não me sobrara nada mais para fazer ali dentro. Eu iria ter que esperar as meninas voltarem, e rezar para Grivah que elas iriam trazer alguma notícia melhor do que o silêncio e um balançar negativo de suas cabeças.

Nisso eu procurei me recostar contra a fria parede branca daquele quarto vazio. Deslizando por ela até sentar no chão com meus braços apoiados por sobre meus joelhos, e minha cabeça inclinada para baixo -para o mármore que estava tão pálido e ao mesmo tempo tão escurecido pela minha sombra. Não desejando muito encarar qualquer outra pessoa até que novas notícias pudessem surgir, já que a mera expectativa de ter minha confiança por Damian ser abalada pelos outros começou a me devorar em uma angústia sem palavras!
Eu mais uma vez estava diante daquela possibilidade de duvidar dele, e eu não queria cometer nenhum erro de julgamento à essa altura, já que a verdade por trás daquilo tudo poderia me afetar muito mais do que sequer já chegou a me afetar antes! Só que-... eu cresci no meio de pessoas que mentiam, que enganavam, que colocavam seus desejos afrente de todo o resto, então... lutar para continuar acreditando nele é algo bem mais extenuante do que eu realmente queria agora que fosse, e eu não sei por quantos dias mais conseguirei me manter nessa luta.

 


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