Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 90
Ainda iremos nos Rever




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Ouvindo aquelas minhas palavras que não se usaram de nenhum tipo de discrição, Rigur então na mesma hora deixou desmontar mais uma vez o seu descontraído sorriso! Perdendo junto com isso toda a tranquilidade que ainda podia haver em sua postura, antes dele então novamente voltar a me encarar com uma seriedade que não tardou para se transformar em outra nova tentativa de questionamento.

— "'Uma desaparecida'...? E isso tem por acaso algo a ver com esse Skrea aí que resolveu agora ficar te seguindo que nem um guarda-costas?"
— "Sim, mas ele não está metido diretamente no problema. Damian só apareceu para poder me avisar do que estava acontecendo, antes que eu pudesse ser pego de surpresa por essas pessoas que resolveram agora começar a me caçar pela Citadela."
— "Hum... E isso por algum acaso tem algo a ver com a BlackHole? Porque eu me lembro de você ter dito que o líder deles havia arrumado problema com você e esse aí-... Espera, não me diga que você finalmente conseguiu pisar no calo deles e a sua cabeça foi posta a prêmio pela pior gangue dessa cidade!?"
— "Não, é claro que não! Meus problemas com a BlackHole nunca iriam chegar até esse ponto... Quem está atrás de mim é um outro grupo."
— "Tsc, e você não vai me dizer quem são eles? Porque eu posso tentar te ajudar a-..."
— "Me desculpa Rigur, eu não vou entrar em mais detalhes. Poderá piorar a minha situação se isso acabar se espalhando, e você sabe como não dá para se falar nada aqui dentro esperando que isso vá se manter em segredo até o fim do dia."

Rigur então abriu sua boca para me responder na mesma hora, só que, antes porém de dizer qualquer coisa ele subitamente se calou e voltou a me olhar como se ponderasse alguma coisa dentro daquela sua altamente perspicaz mente.
Balançando finalmente sua cabeça para mim de forma concordante e apenas voltando com isso a falar o que quer que estivesse em sua mente. Não se valendo muito de qualquer cuidado com sua honesta curiosidade, mas respeitando porém o fato de que eu -por outro lado- estava precisando me valer desse exato mesmo cuidado!

— "Tudo bem, por mais que eu esteja curioso, eu não vou ficar insistindo em algo que vai te por em risco... Se bem que quando tudo acabar, eu vou querer saber melhor sobre essa história, entendeu?"
— "Tudo bem. Quando tudo acabar eu vou te explicar melhor aquilo que eu puder."
— "Bem... então isso quer dizer que você vai dar uma sumida não é? Eu posso tirar o seu nome do revezamento de turnos, e até cobrir a sua retaguarda com os clientes, mas-... Como eu vou fazer com os pedidos de entrega que chegarem aqui?"
— "Recuse eles. Diga que eu não estou podendo aceitá-los por um tempo. Mesmo que isso possa me fazer perder alguns clientes, eu não vou poder ficar me arriscando pelas ruas para tentar fazer essas entregas de qualquer maneira."
— "Entendi."

Ouvindo aquilo, Rigur então pegou uma caneta e começou a fazer anotações em um papel em branco que ele tirou debaixo de seu balcão. Não me dando muita atenção, ao que provavelmente ele estava acertando alguma coisa que necessitava de todo o seu foco -e que não podia também esperar.
Tirando assim logo em seguida um pequeno punhado de dinheiro do caixa e me dando-o em mãos sem pensar duas vezes! O que me pegou de surpresa! E me fez na mesma hora recusá-lo em desespero com minhas mãos, antes de então ele me explicar melhor o que havia afinal se passado por aquela sua engenhosa mente!

— "Pega. Você vai ficar um bom tempo sem poder trabalhar e receber dinheiro, não é? E eu não sei o quanto você já tinha de dinheiro economizado para tentar encontrar a sua família, mas será melhor que aquele dinheiro continuasse bem guardado... afinal, ele tem a sua importância."
— "! Espera, eu nunca te falei sobre isso! Como é que você-...!?"
— "Heh, você realmente acha que eu não iria deduzir que você estava fazendo uma coisa dessas Yura!? Desde o seu primeiro dia aqui você já apareceu perguntando por pessoas que saberiam encontrar gente desaparecida. E dali em diante eu não tive como não notar que você trabalhava demais para alguém com tão poucas contas para se pagar! Sendo que não é realmente segredo para ninguém o quanto que você sempre quis reencontrar as suas irmãs desde que chegou nessa cidade."
— "Haah, agora que você está falando, não tem mesmo como eu ficar surpreso por você saber disso, não é? É verdade, eu estive por um tempo juntando um dinheiro para isso, mas... mas isso já é passado também. Desde aquela confusão toda de 4 anos atrás com a SevenRoses, foi que eu tirei essa ideia da minha cabeça."
— "E por quê isso? A sua família sempre pareceu ser tudo para você, então eu não entendo como algo possa realmente conseguir te impedir de querer continuar tentando encontrá-los -mesmo que você adore guardar essas coisas para si, como se nem mesmo pensasse nisso!"

Ouvindo Rigur dizer aquilo, uma pontada de culpa então pareceu cruzar o meu peito. Ao que a falta de hábito de falar com qualquer um sobre isso me pegou desprevenido, ante a culpa que eu estava sentindo por desistir tão fácil assim de algo que provavelmente nenhuma outra pessoa iria ter desistido no meu lugar -ou pelo menos, que eu acreditava ter desistido tão fácil assim!
Sendo que no que eu mesmo estava despreparado para ter esse assunto abordado hoje, foi que então acabei não encontrando uma forma de impedir as minhas explicações mais íntimas de começarem a tentar sair de dentro de mim -especialmente pela falta de prática em tentar guardá-las quando questionado sobre, já que eu nunca fui realmente questionado sobre esse assunto antes.

— "... Realmente eu nunca pensei em muito senão no quanto eu queria reencontrá-las desde que cheguei aqui. Só que quando aquela guerra toda estourou, e eu vi as pessoas sofrendo demais por onde quer que eu passasse, foi que então acordei e comecei a sentir muito medo... Medo de encarar de frente as minhas irmãs e descobrir tudo de ruim pelo qual elas passaram, só porque eu nunca estive por perto para poder protegê-las. Quero dizer, com certeza minha irmã mais velha conseguiu se virar melhor até do que eu porque ela sempre foi esse tipo de pessoa mas, eu não sei nada sobre a minha irmã mais nova -senão apenas o nome dela... Eu não sei dizer se ela é forte ou frágil, se ela ainda é inocente ou não, se ela-... eu não quero sinceramente mais descobrir essas respostas, porque eu acho que percebi que não sou tão forte assim para conseguir encarar de frente qualquer que vá ser a verdade."
— "..."
— "Tsc, desde antes da Sáshia eu realmente pensava em muitas poucas coisas... mas hoje em dia eu sei que nem mesmo conseguir encontrar alguém vivo novamente pode ser mais uma opção. Pelo que muito sei, tantas foram as pessoas que morreram naquela guerra civil, que é até possível que tudo que tenha sobrado da minha família seja agora um túmulo abandonado nos desertos! Um túmulo com o qual eu nem mesmo vou ter como conversar para saber qual foi o tipo de vida que elas viveram desde o dia em que nos separamos! E é por isso então que eu-...!"
— "Por isso você está evitando seguir com isso."
— "Eu sei que esse mundo não é gentil com ninguém. Então às vezes eu prefiro apenas especular o que pode ter acontecido, ao invés de acabar me arrependendo por querer ainda descobrir um dia toda essa verdade."
— "Entendi..."
— "Então fique com esse dinheiro Rigur. Eu não fiz nada para merecê-lo, e não tenho também medo de gastar as reservas que acabei juntando até hoje."
— "Haha, não venha agora me dizer essas besteiras! É claro que você fez algo para merecê-lo Yura, você ficou me ajudando aqui hoje com as mesas! Então me deixe ao menos te pagar por esse serviço. Afinal, esse é o mínimo que eu sinto que vou conseguir fazer hoje por um amigo que está com -obviamente- grandes problemas... tudo bem?"
— "..."

Ouvindo aquelas suas palavras, eu então me contive por um instante antes de finalmente balançar uma única vez minha cabeça e pegar aquele dinheiro da mão de Rigur. Aquilo não era realmente muito dinheiro, mas comparado ao tanto que eu trabalhei ali naquela noite, era mais do que o suficiente para eu receber. Me facilitando em aceitar aquele seu gesto, já que eu podia ver naquilo que Rigur não estava realmente colocando nossa amizade acima dos seus próprios valores -e também acima dos valores que ele pessoalmente colocava em cada pequena nota de dinheiro que entrava dentro daquele lugar! Ele estava sendo justo comigo e consigo próprio.

E me dando conta daquilo, foi que eu então sorri para ele um sorriso mais do que ingênuo. Percebendo dentro de mim que eu apreciava aquele seu jeito estranho de dizer que se importava, sem nunca porém perder nenhum pedaço daquela sua natureza oportunista! Uma personalidade que até hoje eu só encontrei em Rigur, ao que então finalmente eu comecei a perceber com isso o quanto eu estava começando a me afogar em meu próprio sorriso... um sorriso que ao fundo escondia certa tristeza, já que eu não tinha como dizer por quanto tempo eu iria ser obrigado a ficar longe daqui e desse cara-... ou se eu sequer iria conseguir voltar a revê-lo, já que sem Damian por perto para me ajudar eu também estava começando a duvidar da minha própria capacidade de me manter a salvo, longe da presença da Oráculo que até então eu nunca consegui prever antes de ser tarde demais!
Só que no que as incertezas passaram a me encher mais e mais por dentro, foi que então eu senti uma mão pousar sobre o meu ombro e uma voz bem séria falar algo perto do meu ouvido...

— "Temos que ir agora, já perdemos tempo demais aqui dentro."

A voz de Damian então me despertou de qualquer que fosse o momento no qual eu entrei! Quase como se ele pudesse dizer que eu estava mal e estivesse com isso tentado me trazer de volta ao meu bom senso, enquanto que eu mesmo, por outro lado, também pude ser capaz de dizer que ele igualmente mergulhou na mesma tensão que eu mergulhei -isso, já que sua mão começou a me segurar logo ao fim de sua voz com uma força cada vez mais inquietante!

Sendo assim eu sacudi meu ombro para tirar sua mão de cima de mim e apenas balancei minha cabeça para ele, ao que de relance nossos olhos em concomitância se encontraram e Damian então sem resistir me soltou de seu preocupado alcance. Desviando em seguida sua atenção para Rigur, que pelo visto mais uma vez fechara a sua expressão por completo de para com ele.

Automaticamente eu então encarei ambos de relance, um pouco preocupado -Damian podia ser frio, mas ele não estava em um ambiente exatamente propício para manter sua calma- preocupando minha mente por não mais do que alguns segundos, já que assim que me dei conta ele então simplesmente voltou a tratar Rigur com aquele seu mesmo desinteresse de antes! Repetindo logo em seguida porém seu último alerta para mim, como se ele quisesse desafiar a paciência de Rigur agora com um pouco mais do que apenas a sua indiferença -falando aquilo em um tom audível para nós dois!

— "Você já se despediu, então vamos. Não dá para você ficar o resto todo da noite aqui dentro falando com ele!"

Ouvindo aquilo sem jeito, eu então encarei Damian com um misto de confiança no que ele estava dizendo, e ao mesmo tempo uma frustração que eu também não pude conter apenas dentro de mim! Podia ser tolo da minha parte não querer que aquela despedida entre amigos logo chegasse ao fim, só que, antes mesmo que eu pudesse responder qualquer coisa a ele -ou até mesmo tentar argumentar qualquer coisa para que ele esperasse um pouco mais... na realidade, acabou sendo a voz de Rigur que eu ouvi surgir de trás de mim. Com a mesma facilidade que a voz de Damian também saíra dele, ao que por um segundo eu senti que a única pessoa teimosa ou resistente ao seu próprio bom senso ali dentro estava sendo agora eu!

— "Ele está certo Yura, você tem que ir."
— "!?... Rigur?"
— "Eu não sei quem exatamente está atrás de você, mas... se ele está te apressando, então é porque não são pessoas que até mesmo um Skrea é capaz de subestimar... ou estou pensando errado? Sendo assim, vá logo de uma vez! Antes que aconteça algo com você e eu acabe me sentindo culpado por isso!"
— "... Tudo bem. Mas Rigur, assim que eu puder eu voltarei com notícias!"
— "Não se preocupe com isso. Volte a hora que quiser, mas volte vivo. É tudo que eu vou te pedir como seu amigo, e seu gerente, ok?"
— "Heh, entendido."
— "Especialmente porque também eu não vou ter como te substituir facilmente aqui dentro... sabe quantos Homens fazem o que você faz!? Nenhum outro que eu conheça!"
— "Haha, sabia que você ia dizer algo assim!"

Rindo daquilo como se rir fosse tudo que me restasse fazer agora, eu então olhei por uma última vez para Rigur e finalmente dei as minhas costas para ele. Seguindo com Damian ao meu lado, até mais uma vez para os fundos daquela Boate -aonde nossos rastros eram abafados pelo empurra empurra de todas aquelas pessoas que não pareciam colocar suas atenções acima de suas próprias necessidades físicas! E fazendo com isso que nós dois logo sumíssemos da vista de Rigur, ao que por fim apenas as meninas nos fundos poderiam agora servir de testemunha para dizer por onde nós dois passamos...

Nos fazendo cortar todo aquele caminho sem qualquer nova troca de palavras que nos fossem necessárias, até por fim passarmos por aquela solitária porta dos fundos -que nos cumprimentou duramente com um gélido vento frio vindo de fora-, em um presságio da realidade estava por vir, ao que então Damian simplesmente congelou aonde estava! Cortando seu passado e parando exatamente do meu lado sem sequer me olhar!
Seus olhos estavam vitrificados no corredor escuro de prédios à nossa frente, e instintivamente eu então corri com a minha atenção para aquele mesmo corredor, buscando por algo que não estivesse certo! Até que-...!

Até que então eu notei -com surpresa- suas sobrancelhas brevemente franzirem em tristeza, e seus olhos caírem pensativamente de tal forma que eu não tive como pensar outra coisa senão...
"Ele... também está tendo dificuldades de seguir adiante com isso?"
Meus olhos então se fecharam em um aperto, e eu tentei engolir os meus piores sentimentos sobre aquela história de seguirmos caminhos separados. Sabendo o quanto eu me esforcei para esconder de mim mesmo aquela apreensão, antes de então a atitude de Damian me fazer voltar a lembrar de tudo mais uma vez!
Honestamente me era estranho poder dividir problemas tão íntimos assim com qualquer outra pessoa, ao que o mero fato de que os meus sentimentos por ele me faltavam ao controle, foi que então eu não pude evitar de automaticamente o corresponder com exatamente o mesmo resguardo sobre seguirmos agora em caminhos separados!

Tentando suportar quieto aqueles sentimentos que eu estava falhando em conseguir domar, ao que então os meus olhos se abriram em surpresa! Diante da sensação da mão quente dele procurar pela minha por baixo do manto que caía sobre meu corpo, segurando-a assim com força e firmeza!

— "!!..."

Eu o encarei surpreso, ao que sem sequer olhar para mim ele então voltou a andar. Se forçando a seguir com seu próprio plano, enquanto se usava dessa mesma determinação para poder também me puxar junto. Bruscamente caminhando, porém aos poucos me segurando mais e mais tenramente ao que seus resguardos e suas defesas pareciam estar caindo diante dos meus olhos -especialmente agora, que não mais haviam pessoas ao nosso redor para povoar sua mente e julgar suas ações.
Só que -diferente do que combinamos- ele não estava em nada se separando de mim. Ele estava caminhando ao meu lado, e mesmo que eu estivesse gostando disso eu sabia que não era exatamente isso que combinamos fazer mais cedo!

— "Damian-...?"
— "Só por mais um pouco. Depois eu vou seguir por outro caminho."
— "..."

Sua voz me respondeu com uma leveza em seu tom, mas um peso muito grande em suas palavras. Me fazendo sentir nele a mesma coisa que eu estava sentindo em mim, mas que eu estivera até então tentando tirar da minha frente... O desejo de querer estar com ele, independente de precisarmos nos afastar.
E no que eu percebi aquilo também estar povoando a sua mente, foi que pouco a pouco eu então parei de me julgar tanto por pensar daquela forma... Não havia nada de errado em me sentir incomodado por ter que me separar dele, não é?
Fosse porque eu não me sentia ainda preparado para ignorar um sentimento que eu mal acabei de entender. Ou fosse porque na realidade eu não estava me sentindo muito corajoso com a ideia de encarar a Oráculo sem poder depender mais dele. Não importava o motivo, eu na verdade não queria muito soltar aquela mão também.

Sendo assim eu então fechei mais uma vez os meus olhos, permitindo que a brisa gelada me acalentasse um pouco, enquanto que o calor de sua mão me envolvia de um modo que nem mais a ideia de estar junto de um outro homem-... ou melhor, de um Skrea, estava me servindo de motivação para agir da forma que eu realmente deveria.
Tudo o que eu queria era que aquelas longas ruas desertas e escuras jamais acabassem, e que o amanhã aonde eu iria perder o contato com Damian jamais chegasse.
Tendo aquele sentimento sendo pressionado ainda mais forte contra meu peito no que o movimento do meu corpo fazia com que meu manto roçasse sobre meu pescoço, e eu pudesse voltar a sentir o corte que ainda se escondia por sob ele...

Eu estava com medo de encarar aquilo sozinho. Estava com medo de encarar aquela Skrea sem ter a força de alguém mais corajoso do que eu do meu lado... Porque tirando Damian, todas as outras pessoas em quem eu confiava eram Humanas, e diante dos meus olhos, nenhuma delas senão esse único Skrea foi quem conseguira ter a capacidade de quase encará-la de frente -até mesmo Gale preferiu evitá-la!
E sem poder ter ele novamente comigo, será que eu vou ser capaz de sobreviver a um novo encontro? Ou será que finalmente ela vai conseguir terminar o que começou?... Porque Damian está apenas sendo precavido, mas seu plano não vai exatamente me salvar de nada caso seu deus Skreevah decida colocá-la mais uma vez diante de mim...

E tomado por aquela angústia, eu então tentei morder meus lábios e apenas segui Damian sem muito poder fazer senão procurar esconder o tamanho de meu receio. Sabendo que de nada aquilo adiantaria agora, ao que o longo caminho de corredores e prédios à nossa frente parecia mal ter fim.
Isso, até que então Damian simplesmente cortou os seus passos e voltou a dirigir sua voz para mim, por uma segunda vez -precedendo aquele momento que eu tão pouco queria testemunhar chegar.

— "Yura... Além daqui você vai sozinho. Pela corrente de ar que vem dessas passagens, eu consigo dizer que todas as ruas desse cruzamento se intercalam. Então mesmo que você entre em alguma delas eu não vou ter como adivinhar só com isso para onde você realmente está indo, por isso-..."
— "..."

Eu ouvi as palavras de Damian com uma falsa calma, ao que não conseguindo olhar diretamente para os seus olhos, eu então apenas balancei a minha cabeça até ela parar na direção do chão. Descontente com o que iria acontecer agora, mas igualmente me forçando a aceitar, já que eu sabia muito bem quais consequências haviam por trás de não seguirmos com aquilo, caso eu por outro lado insistisse mais uma vez em agir com a mesma atitude de 4 anos atrás.
Não que essa separação também fosse garantir as nossas vidas, não, eu não vou ser inocente para pensar dessa forma, mas-...! Mas pelo menos, vai nos facilitar de não arriscarmos demais elas. Até talvez isso tudo se resolver.

Só que, antes que eu pudesse pensar ainda mais naqueles receios que estavam quietamente se empilhando dentro de mim, a mão de Damian -que ainda me segurava- de repente então me puxou para a sua direção sem qualquer aviso! Encontrando com a sua boca o caminho até a minha, e pressionando-a contra mim até eu não aguentar mais e apenas soltá-lo de uma vez! Rendido pelo tremor do meu corpo -que estava ainda desacostumado com essas coisas-, no que assim sua mão finalmente conseguiu se libertar da minha e me segurar por trás, em um acolhedor abraço que pareceu quase me esmagar por dentro, se na realidade não fosse a força dos meus sentimentos e do acelerar do meu peito contra o dele que estivessem realmente me esmagando!

Me roubando todo o fôlego, ao que sem qualquer resistência ao seu abraço eu então o ouvi sussurrar palavras das quais eu não esperava muito ouvir! Palavras que pareciam carregar a preocupação que até então Damian não demonstrara muito carregar, e que igualmente ele também não sabia muito bem como pôr para fora, já que delicadeza continuava sendo uma ideia pertinente à natureza da minha raça apenas - e não à da dele!

— "Pare de sentir tanto medo, ou eu não vou conseguir me afastar de você!"
— "D-Damian..."
— "Eu sou um Skrea e tenho todas as razões do mundo para odiar sentimentos mas-... eu acho que odeio os seus ainda mais do que os outros! Porque eles me incomodam. Me incomodam porque eu sei que você está sentindo eles. Me incomodam porque eu percebo que eu não consigo ignorar o que você sente. Me incomodam porque eu preciso fingir que não estou nem aí, ou sinto que vou perder o meu controle e fazer alguma besteira só para te fazer parar de sentir essas coisas!"
— "Da-..."

Eu tentei repetir por uma segunda vez o seu nome, ao que o atordoamento por suas palavras pareceu fazer evaporar todos os meus pensamentos de uma só vez!
Só que antes porém que eu pudesse chegar a terminar de falar qualquer coisa, Damian então mais uma vez me apertou com muita firmeza apoiando nisso a sua cabeça contra o meu ombro... em um gesto que eu não podia dizer muito bem ser outra coisa, senão praticamente aquilo tudo que eu estivera sentindo sendo despejado sobre mim, só que agora, através ele!
E no que eu mesmo não podia acreditar no quão aberto Damian estava se deixando transparecer como vítima de todos os meus próprios sentimentos até então, foi que ele finalmente me soltou e me afastou com suas duas mãos! Encerrando por ali de uma vez por todas algo que, se ele não o fizesse, jamais talvez nós dois iríamos então conseguir ver chegar ao fim...

— "Agora eu vou te deixar por conta própria. E preciso que você esqueça de uma vez por todas qualquer medo! Se você não for capaz de fazer isso, vai então acabar sendo o seu medo que vai te entregar nas mãos dela! E eu-... eu não vou ter como fazer nada sobre isso, porque não vou poder interferir de novo por você..."
— "..."
— "Você consegue fazer isso? Consegue me garantir que eu vou poder me afastar e ficar em paz sabendo que você não vai fazer nenhuma besteira?!"
— "S-sim..."

Minha voz o respondeu sem não muito mais do que um vago aceno de minha cabeça, ao que eu jamais poderia ter previsto que uma despedida poderia ser tão ruim assim, ou tão difícil para eu conseguir faze-la sem desejar postergá-la ainda mais.
Sendo que no que eu dei aquela sutil confirmação então para ele, Damian por fim deu dois passos para trás. Apertando suas mãos em punhos, e me fazendo perceber que ele próprio parecia estar com dificuldade de partir também -ou talvez, com raiva por estar tendo que fazer aquilo!
Me fazendo encará-lo então por uma última vez, antes que sua cabeça balançasse para mim em confirmação e ele secamente me desse as suas costas! Falando uma última coisa de relance antes de finalmente se deixar cobrir por aquela energia escura, e sumir pelos corredores à minha frente...

— "Quando tudo isso acabar, eu te prometo que iremos de algum modo ainda nos rever. Mas até lá-... me trate como se eu também fosse o seu inimigo. Porque é exatamente isso que eu vou ser à partir de agora."

Sendo assim Damian desapareceu na escuridão que o engolira como se à ela pertencesse. Deixando um rastro de energia escura que se dissolveu em menos do que alguns segundos, ao que sua brusca forma de se afastar de mim mais do que me fez aceitar a necessidade que existia por trás de eu também fazer o mesmo.
Ao que o vazio agora pela sua partida parecera me fazer voltar um pouco mais a mim, e à verdade de que não importasse meu apreço por aqueles sentimentos ou o meu medo pelo que me aguardaria, eu iria ter que me virar sozinho de agora em diante para sobreviver, e essa não era mais uma opção.


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