Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 73
No escuro com o Inimigo




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Ao que o sol de uma nova manhã começou a bater forte naquele chão seco de areia batida, meus pés então pararam um pouco de prosseguir pela -já- movimentada rua de lojas da Cidade Baixa. Eu havia acabado de comer algo para manter as minhas forças, mas mesmo assim precisei sair de dentro daquele fluxo de pessoas e encostar por um instante em uma das paredes ao meu lado. Usando a sombra de um toldo de pano que contornava a fachada de uma loja, só para poder escapar do sol forte -antes de então volar à minha interminável caçada cidade adentro.

Desde que a manhã tocara o horizonte do deserto, eu já estava ocupado, retomando a busca pelos meus conhecidos de profissão, ao que eu não era uma pessoa que iria desfocar desse objetivo só porque "certas" coisas desagradáveis aconteceram comigo ontem.
Tendo assim insistido desde hoje cedo em ainda rondar a região das Escadarias, até que por fim eu acabasse realmente conseguindo encontrar pelo menos dois Fornecedores com os quais eu já havia conversado outras vezes! O primeiro infelizmente era um Fornecedor que apenas rondava as vilas próximas comprando nelas certos artigos de artesanato a pedido de clientes -o que no caso foi inútil para mim. Mas a segunda Fornecedora por outro lado era uma mulher que -assim como eu- também lidava com plantas, medicina e alquimia.

Ela havia dito não saber de nada sobre Gale ou sobre até mesmo a existência daquela Flor. O que eu até já esperava, já que de acordo com o que eu me lembrava essa mulher não se envolvia com nada de ilícito realmente. Porém ainda sim nada a impediu de qualquer forma me dar algumas sugestões de Fornecedores que poderiam estar envolvidos, me confidenciando também que a maioria deles estivera nesses últimos dias rondando os Distritos, por conta de um pequeno surto de gripe que estava afetando as crianças daquela região -coiscidentemente me explicando assim também o porque de eu não ter sido capaz de encontrar ninguém pelas ruas até então.
Sendo assim eu eliminei logo dois suspeitos da minha lista e decidi continuar com as minhas buscas. Seguindo dessa vez -com mais confiança- para a direção dos Distritos, até que o calor do sol de meio-dia se tornasse forte demais para poder continuar a ser ignorado pelo meu corpo.

"É... Mais um dia nos desertos..."
Eu recitei debochadamente aquelas palavras para mim mesmo, ao que meus olhos então resolveram encarar aquele céu extremamente claro que brilhava sobre a minha cabeça.
Hoje o dia realmente não estava sendo gentil com ninguém. Não havia nuvem alguma acima de nós, e o ar estava um pouco mais seco do que normalmente ele já era... fazendo assim com que o calor só piorasse no instante em que o sol decidiu se prostrar exatamente sobre a cidade... E me forçando assim a ter então que dar uma pausa para pelo menos tirar um pouco o manto de cima da minha cabeça -na tentativa de me refrescar de alguma maneira que fosse.
Em uma situação convencional, eu já teria procurado abrigo ou ido para alguma região bem mais fresca. Só que eu não podia abrir mão logo agora de deixar de ir para os Distritos só por causa do clima. O que me forçou então a me contentar apenas apenas em ficar debaixo daquela sombra por mais um pouco, antes de continuar minha jornada cidade adentro.

— "Selai'na Nibir Iu..."

Eu sussurrei então bem baixinho -no dialeto de meu povo-, sem razão alguma aquelas palavras que surgiram de dentro de mim. Ouvindo-as desaparecer, em meio aos vários passos das sandálias de couro que pisavam na areia seca à minha frente. Uma mistura de sons que lentamente então me envolveram, até eu ser tomado pela solitária porém gentil lembrança da curta e feliz infância que tive dentro da minha tribo.
"O 'mar' dos Desertos Profundos."
Aquele era um termo que meu povo e mais alguns outros nativos usavam especialmente para contemplar dias como esse. Já que o céu ficava tão limpo e azul que viajantes diziam fazer-lhes lembrar das águas dos oceanos que banhavam o famoso "Porto" -localizado nas regiões costeiras ao extremo oeste. Nos fazendo assim imaginar daqui como na realidade era esse "mar" do qual eles tanto falavam lhes fazer falta, e que eles pareciam amar tanto.

Uma dúvida irrelevante, mas que mesmo assim sempre me fazia deixar escapar um inocente sorriso do meu rosto. Distraidamente afrouxando com isso um pouco mais o manto que estava enrolado ao redor do meu pescoço e afundando então os meus dedos por entre os vários frascos dependurados na minha cintura. O que fez os vidros tintilarem uns contra os outros até que por fim minha mão conseguisse puxar de dentre eles um pequeno cantil de água feito de couro de cabra. Levando-o então assim até a minha boca seca, e tomando um gole refrescante de água enquanto continuava à pensar sobre afinal a questão daquele clima.

"Com esse sol forte... Aposto que todos estão hoje usando as passagens obscuras dos Distritos. Não seria uma má ideia eu mudar um pouco a minha rota e seguir também por elas dessa vez."
Minha cabeça então balançou uma única vez em concordância, me fazendo assim amarrar mais uma fez o frasco na minha cintura e puxar o meu manto de volta sobre a minha cabeça. Retomando dessa forma o longo e imperdoavelmente quente caminho até aquelas ruas que eram conhecidas pelos moradores como a "área mais obscura dos Distritos".

Quando jovem, um pouco antes de eu me aventurar sozinho na Citadela, Ebraín me ensinara tudo que pôde sobre as várias regiões que haviam aqui dentro -para que eu não me metesse facilmente em encrencas. E uma coisa que ele sempre tentou me explicar era sobre como os Distritos sempre funcionaram como uma região puramente direcionada para a habitação -tanto para os Skreas quando o construíram há muitas décadas atrás, como hoje em dia também para nós Humanos.
Sendo assim, nenhum comércio ou loja existira ali dentro. Todos os prédios sempre foram residenciais, e propositalmente alinhados para que qualquer pessoa pudesse chegar até sua casa com igual facilidade. O que para os Skreas era o suficiente, mas não necessariamente para nós Humanos -que somos mais sensíveis por outro lado ao clima e não suportamos tão facilmente o ar seco e pesado que se concentra facilmente por entre os (extremamente grudados) prédios durante dias como o de hoje.

Sendo assim quando os Humanos tomaram posse dos Distritos, muitos passaram a estender vários tipos de panos por entre os telhados das construções que contornavam alguns dos caminhos mais apertados e movimentados dali. Tudo na tentativa de tapar a luz direta do sol e amenizar boa parte do desconforto que era andar por aquelas ruas sempre muito secas, mas escurecendo também com isso acidentalmente várias das passagens e atalhos que eram normalmente utilizadas por todos dali -deixando-a bem similar àquela região em que eu também estive ontem, só que não exatamente tão decadente quanto.
E essa foi uma medida que no fim ajudou realmente os moradores dali-... que os ajudou, mas que não os ajudou tanto quanto acabou ajudando também os diversos membros de gangues que possuíam esconderijos naquela região -como é o caso da própria BlackHole.

Sendo assim foi quase inevitável que as excessivas sombras que se criaram nas ruas daquele lugar acabassem acumulando automaticamente a presença de pessoas desagradáveis -da mesma forma que os becos da Cidade Baixa também acumulavam durante a noite. Tornando com isso andar por ali uma dor de cabeça até mesmo para mim. Afinal, mesmo que eu possa perceber a presença de qualquer pessoa ali por dentro com meus poderes, nada ainda sim impede elas de continuarem tentando me abordar e me incomodar, já que no escuro, eles não tem como adivinhar que eu sou na realidade um homem!

Mas, independente de todos esses contras, ainda sim as Ruas Obscuras tinham seus momentos seguros de grande movimentação e uso. O que normalmente sempre acontecia em dias quentes como esse -afinal aquelas ruas nunca perderam o seu próprio propósito-, assim como ironicamente também durante as noites... quando os postes de luz se acendiam automaticamente, e finalmente então todas as ruas se iluminavam de uma forma que jamais eram iluminadas durante a própria manhã!
E ao que todas as passagens, caminhos e vielas ganhavam vida durante estes momentos específicos, os membros das gangues então em resposta acabavam se afastando e deixando que as pessoas passassem por ali em paz. Ao que nem mesmo eles seriam idiotas de forçar demais a sorte, arriscando uma animosidade justamente contra a região que melhor os abrigava -assim como muito provavelmente também, aos seus queridos familiares.

Foi por isso que então eu não me intimidei pela ideia de andar por ali hoje. Soltando meu bastão das minhas costas e empunhando-o como um cajado, ao que ele acompanhara a batida de cada um dos meus firmes passos sobre o chão de areia prensada. Levantando um pouco de poeira cada vez que minha sandália se encontrava com o piso seco, e me prendendo assim em um ritmo firme porém bem tranquilo de caminhada.
Eu sabia que o tempo não estava exatamente do meu lado, mas era sempre inevitável para mim ser engolido pela vibração rotineira daquela cidade. Me deixando facilmente agir com certa despreocupação, quase como se até mesmo as emergências todas estivessem apenas dentro da minha cabeça dessa vez.

Com isso eu então cortei sem pressa a Cidade Baixa. Chegando nas ruas do Distrito ao que o fraco movimento do meio-dia ali dentro me facilitara continuar em meu caminho até finalmente ver os primeiros panos se estendendo sobre a minha cabeça. Cruzando os céus até que nada mais dele restasse, além de breves visões de um azul infinito que podiam ser presenciadas sempre que o distante vento decidisse soprar inalcançavelmente lá do alto -balançando assim junto dele os leves panos que não necessariamente impediam toda a luz de passar, mas que sim reduziam a violência com a qual ela alcançava o solo.

Sendo assim eu subi por algumas pequenas passagens, tendo apenas o som distante dos panos sobre mim tremulando ao vento enquanto me afastava das ruas maiores -das ruas maiores, e dos passos e vozes das pessoas que decidiam parar pelo caminho para ficar conversando casualmente com seus vizinhos.
Me isolando ainda mais rua adentro até finalmente alcançar um ponto cheio de passagens que se cruzavam sob as sombras dos panos.
A partir daquele -pouco movimentado- ponto, um suntuoso silêncio então se formou ao meu redor e possibilitou finalmente que meus sentidos ficassem ainda mais aguçados. Me permitindo assim por fim conseguir prestar muito mais atenção em cada mínimo movimento ou ruído que pudesse surgir ao meu redor, ao que eu queria poder contar com mais do que apenas minha visão para melhor entender os meus arredores -o que na teoria parecia ser algo esperto de se fazer, mas que na prática acabou não dando tão certo assim.

— "Haaah..."

Minha voz então sem qualquer aviso acompanhou um incomodado suspiro que inevitavelmente acabei deixando escapar. Levantando assim minha cabeça mais uma vez para o alto e encarando perturbado aqueles panos que dançavam ao ritmo do vento que parecia soprar apenas acima da Cidade...
Até agora eu estava fingindo ignorá-los enquanto andava cada vez mais rua adentro, só que depois de um tempo o silêncio claramente tornou impossível para mim esconder que eu estava bem incomodado por eles e pela forma que constantemente seus movimentos roubavam a minha atenção.
Me fazendo com isso recordar das razões pelas quais eu discuti ontem com Damian, e consequentemente também me fazendo assim recordar de que ele existia na minha vida.

Por um lado nada até agora me tivera provado que ele havia voltado a me vigiar do alto dos prédios. O que devia de conseguir fazer com que eu relaxasse um pouco, mas que ainda sim não conseguiu, já que eu ainda continuava a me deixar mergulhar no receio de que podia simplesmente estar errado sobre isso. Ficando assim de qualquer forma bem inquieto, já que até então eu nunca fui mesmo capaz de perceber Damian até ele finalmente querer se deixar ser percebido por mim...
O que fez então com que -por conta do movimento daqueles panos- os meus olhos assim de tempos em tempos pulassem para o topo dos prédios ao meu redor. Tudo só para ter a certeza de que um Skrea não estava escondido por entre eles, vigiando os meus passos novamente!

"Se bem que... nem é mais por ele poder estar na minha cola que eu estou incomodado."
Eu então admiti aquilo com um resquício de hesitação. Abaixando um pouco minha cabeça em realização e debruçando o meu corpo sobre o comprimento do meu bastão... ao que dizer que eu ainda temia ter ele na minha cola só por ele ser um Skrea estava começando a se tornar uma desculpa já bem ultrapassada.
Não... eu realmente queria evitá-lo, mas dessa vez muito mais por um sentimento de mágoa do que por qualquer outra coisa -ao que ainda mais, aquela mágoa era no momento o único sentimento inteligível que eu estava conseguindo sentir por ele.

Sendo assim minha cabeça então balançou um pouco em uma tentativa de esquecer Damian antes que mais uma vez meus sentimentos começassem a se embolar dentro de mim. Disputando minhas opiniões por entre a desilusão que senti quando descobri que ele me usou, e o desejo que eu ainda parecia sentir de querer revê-lo -mesmo que isso não fizesse o menor sentido na minha cabeça no momento.
"Não entendo porque deveria me sentir tão incomodado com a ausência dele... Afinal ele pode conseguir, mas eu sei que por outro lado EU não vou conseguir me manter calmo se reencontrá-lo novamente tão cedo! E isso devia de ser o suficiente para que eu nunca mais quisesse vê-lo na minha frente-!!"

— "Só que... ainda sim, eu-..."

Minha trêmula voz então fez com que minhas mãos segurassem o meu bastão com ainda mais força, ao que eu me sentia não estar ainda pronto para lidar com Damian e seu jeito extremamente estoico de ser -assim como também lidar com todas as outras questões entre nós dois que eu não ia ser capaz de resolver nesse estado-, independente do que eu podia estar ou não sentindo no momento sobre ele.
Uma verdade que então eu tentei cravar com firmeza dentro de mim, fazendo assim com que a minha cabeça se levantasse de uma forma resoluta e se decidisse finalmente por mergulhar na frágil esperança de que eu não tinha qualquer razão para ficar parado pensando nele! Mergulhando nisso, e não por outro lado na minha insegurança (fora de hora) quanto a possibilidade de ter que encará-lo sem ainda sequer estar pronto para isso.
"Eu só não posso reencontrá-lo. Se eu não o reencontrar, tudo vai continuar bem."
Minha mente então tentou me incentivar, ao que eu por um último instante concordei e retomei meus passos. Voltando à minha própria missão, antes que uma nova razão pudesse me impedir de-...

— "...?!"

De repente meus pés então pararam em seu lugar e minha cabeça rapidamente se voltou para um dos corredores escuros que haviam ao meu redor. Fazendo meus olhos atentamente encararem o que eu jurava ter sido um súbito vulto captado pelo canto dos meus olhos!
Eu sei que andar atrás de coisas suspeitas não era exatamente o meu objetivo naquele instante, só que eu estava atrás de pessoas, e eu tinha quase a certeza de que vi uma "pessoa" passando por ali de forma breve! Sendo assim eu discretamente decidi corrigir minha direção e entrei nesse mesmo beco, usando meus poderes para confirmar uma presença estranha andando sozinha por ali, ao que eu sentia que algo bem suspeito estava propositalmente tentando roubar a minha atenção!

Nisso meus pés então fizeram a curva em mais dois becos, sempre captando com isso um lapso de movimento ou o som de passos ágeis bem mais afrente, ao que finalmente quando cheguei na entrada de um beco longo e apertado meus olhos então finalmente confirmaram o que eu já estava suspeitando desde o princípio!
Exatamente ao longe eu pude finalmente "ver" (afinal, estava escuro) aquela figura grande parada de costas para mim, encarando distraidamente o que parecia ser a beirada de um patamar elevado -e seu qualquer proteção-, enquanto deliberadamente ignorava a minha presença (quase como se ela estivesse apenas aguardando com que eu me aproximasse um pouco mais)...

— "Gale-...?"

Minha voz firme e inquisitiva então questionou aquelas costas -que constantemente estavam sempre cobertas pelo mesmo desgastado e icônico casaco verde. Me aproximando mais dois passos dele ao que de repente Gale então se virou de relance para mim e esticou a sua mão até meu rosto! Tapando minha boca ao que sua outra mão me fez um gesto para ficar quieto e não dizer mais nada!
Sendo assim seu olhar mais uma vez emergiu no precipício de 2 andares de altura diante dele. Me fazendo seguir curiosamente a mesma direção com meus olhos, até eu ser capaz de notar em meio ao imenso labirinto de prédios que se cortavam diante de nós, bem ao fundo, algumas figuras estranhas se movendo naquela distante e quase oculta escuridão.

— "... Eu estou observando eles há um tempo..."

Gale me sussurrou aquele breve comentário sem sequer tirar seus olhos da frente, enquanto ainda procurava manter sua mão sobre minha boca por cautela. Me fazendo assim olhar para ele por um instante, e então mais uma vez para as pessoas bem ao longe até que meus olhos se acostumassem com a escuridão e finalmente me revelassem quem é que estávamos na realidade vigiando!

— "...-!!"

Quase me engasgando com pouco ar que passava por entre seus dedos, meu corpo então se inclinou para trás e meu rosto se contorceu pelo arrepio gelado que cruzou todo o meu tronco até chegar na ponta dos meus pés! Fazendo assim com que até mesmo Gale me espiasse de relance, antes de voltar seu atento olhar para aquele grupo de 5 Skreas grandes e armados, rodeando a mesma Skrea estranha e baixinha que eu encontrara ontem... assim como também um homem (humano) desconhecido e aparentemente velho, que parecia estar se debruçando em pânico sobre uma parede enquanto juntava suas mãos em súplicas para cada um deles!

— "Parece que os Skreas a chamam de 'Oráculo'. Mas isso foi tudo que eu fui capaz de descobrir até agora. Ela chegou à duas noites atrás na cidade com uma escolta bem armada. E desde então têm rondado as ruas da cidade como se estivesse procurando por alguma coisa bem importante."
— "..."
— "Eu queria poder descobrir do que afinal ela está atrás, mas tudo que eu os vi fazer até então foi aumentar o número e soldados que a estão acompanhando, assim como também eliminar qualquer pessoa que pudesse dar o azar de descuidadamente passar pelo caminho deles... tsc."

A voz de Gale se enrispideceu até terminar então em um -quase emudecido- estalar de desaprovação. Me deixando notar o quanto ele estava se remoendo por dentro, enquanto só podia ver aqueles Skreas passearem pelo seu território e matarem inocentes que ele -por um lado ou por outro- tanto jurava para si mesmo querer proteger!
Sendo assim sua mão finalmente foi deixando o meu rosto ao que eu cuidadosamente me aproximei ainda mais daquela beirada, dividindo o apertado espaço com ele ao que nós dois testemunhávamos enojados a cena seguinte.

Sem sequer se deixar abalar pelas lágrimas e pelo desespero do pobre homem, a mulher chamada de "Oráculo" então sacou o que meus olhos vagamente consideraram parecer ser uma estranha faca larga -de dentro de seu manto. Observando pacientemente dois dos grandes Skreas armados levantarem a pessoa na sua frente, antes dela então poder finalmente enfiar com vontade a curta lâmina em sua mão contra o peito dele!... Tudo, sem qualquer tipo de remorso ou compaixão pelos últimos engasgos que o Homem pronunciou em meio aquele súbito e frio homicídio.
E ao que a Oráculo se manteve sobre seu corpo empalado por mais um curto instante, eu então pude perceber daquela distância uma silenciosa e fina linha de sangue escorrer discretamente por baixo do corpo já sem vida. Tocando o chão antes mesmo que os Skreas se afastassem e deixassem finalmente que aquele pobre cadáver pudesse colapsar por sobre os seus pés.

Sendo assim, ao fraco e distante som abafado do corpo caindo contra a areia ressecada -quase como se o homem agora não fosse mais do que um saco grande e pesado de terra. Gale e eu então apertamos nossos olhos em receio pela vida que vimos ser perdida. Desviando nossos olhares daquela cena por um instante em respeito, e novamente por outro instante em fúria -quanto à nossa própria impotência dali de cima.
O que nos fez voltar a encarar com ainda mais raiva ainda aquilo tudo, antes que Gale pudesse então finalmente decidir recuar seu corpo daquela beirada -me puxando com ele também para trás... Nos tirando assim do campo de visão daqueles Skreas, ao que agora eles estavam se dispersando muito para que pudéssemos continuar passando facilmente desapercebido lá de cima daquela beirada.


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