Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 48
Tempestade de Areia




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Eu estava me sentindo novamente acuado por Damian, só que dessa vez bem mais mentalmente do que fisicamente (e eu não acreditava que isso fosse algo possível), voltando com o meu desejo de fugir dali mais uma vez ao que nem mesmo o fato dele ser um Skrea estava mais me convencendo a ficar imóvel.
Foi nisso que em um abrupto impulso eu então sem pensar muito disparei para o lado! Ouvindo o som das suas correntes bem atrás de mim se movendo rapidamente e me fazendo querer tentar correr ainda mais rápido mesmo que eu soubesse que no fundo aquilo seria em vão!
Antes mesmo que eu tivesse tempo de dar um quarto passo, foi então que eu senti aquele baque por trás, derrubando o meu corpo sem aviso ao que algo pesado havia sido jogado contra mim! Naquele segundo eu apenas consegui cair para frente usando os meus braços para me proteger da queda ao que eu percebia que algo conseguira me imobilizar completamente contra o chão -era Damian que havia se atirado contra mim e me prendido sobre o seu próprio corpo!
Suas mãos rapidamente então -sem perder nenhum segundo- foram na direção dos meus pulsos, segurando minhas mãos acima da minha cabeça para não me deixar tocar nele e me virando em sua direção para que nossos olhos pudessem se encontrar!

Ele parecia muito irritado, muito possesso com o que eu estava fazendo, mas ainda sim ele apenas parou e respirou profundamente como se procurasse se acalmar. Permitindo que a razão mais uma vez então falasse através dele (e não a raiva), se levantando do chão -com certa confiança de que eu não tentaria fazer aquilo novamente- e me puxando também junto com ele.
Foi nisso então eu pude ouvir a sua voz mais uma vez tentando argumentar comigo, com uma firme paciência que variava por entre suas reações enfurecidas e que me provava mais ainda o quanto ele precisava focar para conseguir ter aquelas reações humanas demais.

— "Me escuta aqui Odalisca-...!"

Ao que Damian então tentou finalmente retornar ao assunto que ele tanto queria ter comigo (e que eu tanto não queria ter), seu momento então foi brevemente interrompido por um estranho som que sem aviso começou a soar ao nosso redor.
O barulho de um inesperado alarme começou a ecoar entre as paredes dos altos prédios à nossa volta como se transitasse pela Citadela inteira, avisando os seus habitantes de algo não muito bom que estava se aproximando.
O som em si era bem baixo para não ser muito incômodo, mas por outro lado também extremamente perceptível. E com a percepção que ele trazia, foi só então que nós dois finalmente paramos para nos dar conta do vento ao nosso redor que começara a ficar mais e mais forte (sem que sequer pudéssemos ter antes realmente percebido)!

Nesse instante eu então notei Damian se deixar distrair pelo barulho das pessoas que por trás dele -ao longe- começaram a apressar seus passos, correndo para os abrigos, lojas, prédios e coberturas mais próximas possíveis.
Aquilo não era um bom sinal, mas era uma chance de virar o jogo! Por isso em troca eu então rapidamente olhei para trás -confirmando se estava tudo limpo caso eu precisasse começar à correr mais uma vez nesse exato segundo- e observando que realmente daria para correr dele pelo tempo necessário, se eu realmente tentasse! Ir contra o vento agora seria uma péssima escolha, mas entre ficar por aqui tentando achar um abrigo com ele na minha cola, e me arriscar para fugir do alcance de Damian... eu preferia sinceramente fugir!
Antes mesmo que ele pudesse se virar de volta na minha direção eu então corri em disparada para longe dele -com uma vantagem dessa vez graças à sua distração! Ouvindo ao fundo sua voz surpresa que se misturava ao som das correntes dependuradas em seu cinto (denunciando mais uma vez que ele havia também começado a correr atrás de mim independente da situação em que estávamos)!

— "E-Ei!!"

Eu tentava correr o mais rápido que podia como se de alguma forma minha vida (e não apenas meu psicológico) estivesse dependendo disso, esperando exatamente por aquilo que eu sabia que estava vindo de encontro à minha direção!
Ao que eu tentei virar alguns corredores -procurando me manter nas ruas que cortavam horizontalmente a cidade- eu então pude começar à sentir o vento ao meu redor se tornando mais e mais forte! O som dele soprando por entre os prédios com força já estava começando à me atrapalhar, ao que eu continuava tentando ouvir as correntes de Damian para saber o quão afastado dele eu estava -não sabendo mais se ele realmente estava ficando para trás ou se o barulho ao nosso redor já mal estava me deixando perceber sua proximidade!
Assim sendo eu então comecei desesperadamente à pegar o meu manto e enrolar o meu rosto nele enquanto corria -ao que podia notar a areia toda ao meu redor sendo puxava violentamente por aquele vento que também tentava arrancar de seus lugares várias outras coisas por onde passava, incluindo o meu manto.

Não demorou então para os meus olhos finalmente o verem. Aquela nuvem monstruosa de areia vindo na minha direção enquanto engolia tudo por onde passava, cobrindo totalmente os prédios em seu caminho como um monstro que não podia ser detido por nada e nem ninguém!
Intimidado com o seu tamanho, eu acabei acidentalmente reduzindo um pouco a velocidade dos meus passos sem nem me dar mais conta de que eu estava fugindo de um Skrea. Porém assim que eu pude sentir uma das mãos de Damian finalmente conseguindo me agarrar por trás -me puxando para perto dele-, foi que eu então finalmente travei, me virando para a sua direção -na direção do vento- e me agachando no chão para aguentar o impacto iminente daquela gigantesca tempestade de areia vindo para cima de nós!
Damian vendo aquilo e sabendo que não teria mais chances também de escapar dali à tempo comigo sob seus braços, apenas então puxou um pano -parecendo um cachecol meio destruído- que aparentemente estava escondido sobre seu casaco e também cobriu seu rosto com ele, se vendo obrigado à me soltar e se abaixando do meu lado esperando que a tempestade nos cobrisse por inteiro sem termos mais como escapar daquele impacto direto!

A primeira pancada quase arremessou nós dois um contra o outro, mas graças a eu estar acostumado já com as tempestades eu consegui me segurar bem ao chão e resistir à ser carregado por ela! A força dela e dos vários grãos sendo jogados contra mim pareciam com a sensação de diversas agulhas sendo atiradas contra o meu corpo -e contra essa adversidade, aposto que nem Skreas estavam imunes também. Congelando nós dois no mesmo lugar em que paramos ao que nossa única opção era aguentarmos quietos o vento ao menos enfraquecer!
Qualquer um sabe que o melhor em uma tempestade de areia era sempre se abrigar e esperar ela passar, só que eu não podia me dar à esse luxo dessa vez por culpa de Damian!
E então, assim que eu senti os ventos finalmente estabilizando um pouco sua força ao meu redor, -sem conseguir ver nada direito à minha volta- com muito cuidado em um único gesto eu então soltei o meu bastão, me levantando rapidamente e correndo em uma disparada desajeitada até um dos becos que quebravam aquele corredor de vento aonde estávamos!
A areia e o vento junto conseguiam aos poucos me empurrar, me obrigando à desviar meus passos ao que eu não tinha tanta força para me impedir de ser arrastado. Mas ainda sim eu insisti em resistir à aquele vendaval até o segundo que eu pudesse alcançar o beco, sabendo que os prédios iriam me proteger das correntes de vento mais fortes me dando maior chance de acelerar e deixar Damian para trás.

Alcançando aquele corredor com dificuldade eu então -sem sequer me dar a chance para tomar um fôlego direito- continuei correndo em disparada por dentro dele, passando diversas vezes por outros corredores de vento que o cortavam e usando cada mínimo obstáculo possível para me afastar mais e mais de onde Damian sequer poderia estar!
Talvez ele fosse mais resistente e mais forte do que eu, conseguindo durar muito mais em uma corrida por dentro de uma tempestade dessas. Mas ainda sim ele não ia ter como me ver ou me perceber dentro daquela espessa nuvem de areia se eu continuasse à me distanciar mais e mais dele - e sabendo disso eu então continuei a correr, procurando tornar impossível para ele a chance de me rastrear em meio a todos aqueles prédios. Eu não podia correr mais do que um Skrea, mas quero ver se ele iria conseguir me acompanhar no meio de uma tempestade de areia!! Especialmente eu, que sou de uma das tribos do deserto!!
À cada embalo do vento eu conseguia saber exatamente para onde jogar o peso do meu corpo para não ser arrastado pelo vento, tentando me sacudir em cada brecha possível para tirar o excesso de areia sobre mim -ao que eu sabia que o peso de tanta areia poderia me atrasar, cada vez mais que ela se acumulava demais por entre minhas roupas!

E assim eu continuei à correr indeterminadamente. Cada vez que minhas pernas pareciam começar à querer ceder contra aquele vento forte -difícil de se enfrentar- mais então minha mente me forçava à correr por entre outras quadras, não sabendo por quanto tempo um Skrea seria capaz de caçar alguém no meio de uma tempestade de areia, mas ao mesmo tempo não querendo pagar para descobrir essa resposta.
Só que após usar tanto esforço para não diminuir o meu ritmo, em alguns becos depois eu então já não tinha mais forças para continuar com aquilo... Tentando respirar forte através do meu manto -ao que aquela nuvem de areia poluía demais o ar e atrapalhava a respiração- eu então finalmente desacelerei os meus passos até quase cair no chão.
Meu peito batia acelerado demais graças ao esforço que eu havia usado, e eu já estava conseguindo sentir o efeito negativo de toda aquela adrenalina circulando dentro de mim. Foi nisso que eu finalmente então procurei tentar enxergar pela mínima fresta do meu manto algum lugar por ali mesmo aonde eu poderia apenas sentar e esperar à salvo a tempestade passar.

Eu me aproximei com dificuldade da parede de um dos prédios ao meu redor e comecei à andar calmamente (já que à cada segundo que se passava, menos o meu corpo se tornava capaz de prosseguir), tateando aquelas paredes para ter certeza de que elas continuavam -ao que eu evitava de depender muito da minha visão- até finalmente encontrar uma pequena entrada por entre dois enormes prédios à minha esquerda.
A entrada dava para um pequeno beco fechado, contendo algumas caixas vazias e outras coisas não tão facilmente identificáveis que também estavam empilhadas por ali. Aquilo era tudo que eu precisava para usar de barreira contra o vento, sentando bem ali no meio daquelas tralhas e me encolhendo contra a parede até ficar confortável e protegido o suficiente -da tempestade, e de Damian.
"Duvido que mesmo com os sentidos que têm, ele ainda sim vá conseguir me rastrear até aqui... Mas por via das dúvidas é bom que eu fique escondido."

Eu pensei aquilo comigo -ao que ajeitava o meu manto sobre minha cabeça- me lembrando sobre como não eram incomuns essas tempestades de areia, mas que ainda sim já havia algum tempo desde a última que aconteceu. Talvez fosse por essa razão que essa tempestade estava um pouco mais forte do que o normal (e eu agradeço por isso, porque ela veio na melhor hora).
Para alguém que não é nativo daqui, cada tempestade pode ser uma surpresa que te pega no susto e te deixa totalmente impotente por algumas horas. Especialmente quando se passa muito tempo desde a última e você começa à se esquecer de que elas existem. Porém -por outro lado- para alguém como eu que vivi tempo demais em áreas bem menos habitadas e protegidas, enfrentar uma tempestade (não importa o seu tamanho) em um lugar tão coberto como a Citadela conseguia ser realmente nada mais do que um detalhe cotidiano. E por isso que talvez que eu tivesse apostado fazer essa fuga por dentro dela... só que agora, até mesmo para mim seria melhor me esconder. Afinal não importa a resistência que você possa ter, enfrentar uma tempestade de areia é como lutar constantemente para não ser enterrado vivo -em algum momento você não conseguirá mais resisistir.

Um tempo depois quando eu finalmente senti o vento se acalmar e a tempestade passar um pouco, foi que eu então receosamente saí do lugar em que eu estava. Tentando olhar para todos os lados -ao que não dava ainda para ver quase nada direito- imaginando se Damian poderia estar por perto. Porém não havia nenhuma alma viva no pequeno espaço de alguns poucos metros que minha visão conseguia alcançar, e foi nisso que eu então desisti de continuar com a minha guarda levantada demais.
Sem o sol ou um bom campo de visão dos meus arredores eu só podia contar com o meu bom senso para voltar até a rua principal da Cidade Baixa, usando isso para encontrar o meu caminho até a Boate enquanto andava às cegas pelas ruas.
Porém não muito longe da rua principal eu já pude começar à notar os vultos das outras pessoas (mesmo sendo eles muitos poucos) arriscando também sair de seus abrigos e caminhar por aí -ao que mesmo depois de uma tempestade, você ainda tem que lidar com a enorme nuvem de areia que fica pairando sobre a região inteira, e ninguém gosta disso-, e aquilo me fazia lentamente admitir para mim mesmo que mesmo tendo dificuldade em conseguir adivinhar os lugares por onde eu estava passando, provavelmente eu não estava mais tão perdido assim.
Foi com isso que usando as fachadas das lojas e estabelecimentos que eu conseguia avistar, eu então pude com o tempo certo finalmente encontrar o beco que dava para a Boate. Andando até lá enquanto ainda tapava desesperadamente o meu rosto com o meu manto -ao que eu tentava enxergar e respirar com dificuldade naquele ar pesado e alaranjado pela areia-, agradecendo Grivah por ter conseguido realmente encontrar o meu caminho de volta.


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