Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 140
Atravessando o Abismo


Notas iniciais do capítulo

Ya-hoo~ K.K. surgindo aqui aleatoriamente só para desabafar! (¯▿¯)/
Ahhhh!! Que capítulo difícil!! ( ╯°□°)╯ ┻━━┻ Não é atoa que ele terminou na contagem de palavras que terminou (às vezes a contagem é proposital mas, dessa vez meio que não foi)! (O_O;)
Quem está acompanhando fielmente deve ter notado como K.K. demorou dessa vez com a postagem, mas acreditem, eu estava trabalhando nesse texto desde que o mês começou e foi-se aí praticamente uma semana inteira só de ajustes, reajustes e muito confete para conter o stress!! (╬°ㅂ°) (Feliz Páscoa para todos aliás, atrasado)
(´• ω •`) ♡
E como eu comecei a revisar esse capítulo às 13h e só terminei agora, às 23h, meu cérebro já está se recusando a julgar se o resultado final ficou tão bom quanto eu queria... ( ̄﹃ ̄) então gente, se vocês encontrarem qualquer discrepância (na história inteira na verdade) me alertem por favor para eu checar se foi por deslize e poder corrigir! A percepção de vocês é muito importante para mim. ( _ _)人

Tirando isso eu espero que vocês gostem do resultado final que agora lhes entrego, e vamos torcer para o próximo capítulo ser mais fácil!! ٩(◕‿◕。)۶ (se bem que aposto que não vai ser, quando vocês chegarem no final desse irão entender...) (-‸ლ)
Então é isso, uma boa leitura para todos vocês neste dia especial de (insira a data aqui) e até o próximo capítulo, fui!! ᕕ( ᐛ )ᕗ



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Não sei por quanto tempo nós dois ficamos entregues àquele solitário e melindroso silêncio que às vezes era quebrado pelo despertar de algum dos camelos junto ao estalar dos gravetos secos sendo destruídos pelo fogo alto. Teimosos por nossas próprias razões em evitar qualquer interação, mesmo que por outro lado a ideia de nos afastarmos não parecesse igualmente uma possibilidade que eu estava disposto a considerar. E talvez por Damian sentir os meus sentimentos é que houvesse algum entendimento mútuo entre nós dois acerca daquilo, ou uma expectativa mútua sobre tanto os riscos que pudéssemos correr através de uma palavra mal dita quanto também através da completa falta delas.

De repente, distraído pelo contínuo estalar da madeira seca os meus ouvidos então se ativeram a um estranho som de metal, como o de um fecho sendo aberto, vindo da direção de Damian. No que discretamente eu olhei por sobre o meu ombro e percebi o seu medalhão sendo aberto pelos dedos de uma de suas mãos sem qualquer dificuldade. Ele parecia estar tentando admirar a foto de sua mãe com uma gentil expressão quase como se as lembranças dela lhe acolhessem muito melhor do que a incerteza sobre o que fazer agora comigo -e eu não o culpava por isso. Perdendo então o meu interesse em suas ações, ao que eu temia que aquilo fosse me instigar a dizer qualquer coisa que não era para ser dita. Só que... antes que eu sequer terminasse de me voltar para a direção do fogo ele resolveu me impedir.

— "Eu nunca te disse o que realmente aconteceu com ela..."

Sua voz pareceu desabafar com dificuldade, quase como se o assunto lhe desagradasse tanto que até o seu lado Humano pudesse fazê-lo reconsiderar abordá-lo. Não parando Damian porém ali quando eu em resposta lhe olhei de volta e balancei negativamente a minha cabeça. Me forçando a não interagir demais com ele mas, incapaz também de não esconder que eu estava curioso em saber onde ele queria chegar com aquelas palavras inesperadas.

— "... Ela também foi transformada em vidro negro, provavelmente. Mesmo tendo falecido longe daqui. Eu me recordo do meu pai mandando os soldados trazerem o seu corpo conosco."
— "..."
— "Eu tento evitar pensar muito nisso quando estou andando por aquela cidade. Que ela, e também os meus irmãos, que isso foi o que acabou acontecendo com eles... mas por mais que você tente não ficar pensando nessas coisas a verdade vai continuar sendo a mesma. Todos que morrem nessa região, em território Skrea, são transformados em vidro negro."
— "... E isso não te incomoda nem um pouco?"
— "... Luto, tristeza, essas coisas são Humanas... E mesmo que eu tivesse a capacidade, eu ainda não teria o direito de me incomodar -como você."
— "..."
— "Pelo menos, não em voz alta..."

Suas palavras flutuaram para fora de sua boca como frágeis bolhas que desapareceram em segundos de dentro de seu próprio olhar. Quase como se Damian tivesse que se esforçar muito para conseguir pensar sobre aquilo depois de tanto tempo se esforçando em ignorar, ao que logo em seguida ele pareceu resolveu mudar um pouco o rumo do assunto para o seu próprio bem.

— "Mas se eu pudesse ter impedido, eu gostaria que o destino dela tivesse sido diferente... Eu e minha mãe vivemos juntos até os meus 8 anos, em uma vila Humana nas proximidades da Fortaleza. Não tínhamos muito, as pessoas nos renegavam por diversos motivos, mas ainda tínhamos um ao outro. E para ela isso sempre pareceu ser o suficiente mesmo que o fato de eu existir tornasse tudo ainda mais complicado."
— "..."
— "Eu ainda me recordo do jeito que as pessoas me encaravam pela rua durante raras vezes em que eu a acompanhava. Mas mesmo assim ela continuava repetindo que o problema deles era ela e não eu. Acho que até quando partiu, ela partiu tentando me fazer entender que eu não tinha culpa por existir. Ela... ela foi até hoje uma das poucas pessoas que já tentaram me convencer disso."
— "Ela te amava..."
— "Sim, ela sempre me dizia isso. E até mesmo na noite em que meu pai apareceu com os soldados na nossa porta, naquela noite ela me arrastou até os fundos para tentar fugir mas a neve do dia anterior havia congelado o trinco da janela. Então ela se ajoelhou na minha frente, segurou as minhas mãos, e mesmo com medo ela conseguiu sorrir e me dizer por uma última vez que me amava... e que precisava que dali em diante eu fosse obediente e não o decepcionasse."
— "..."
— "De início eu não entendi o que ela quis dizer com aquilo mas, quando ela me soltou e eu vi o seu precioso medalhão entre as minhas mãos eu compreendi... que aquilo se tratava de uma despedida. Foi quando ele finalmente apareceu por trás de mim, e-..."

Sussurrando aquelas últimas palavras mais discretamente do que o som de uma leve brisa contra as folhas das palmeiras, Damian então se aquietou enquanto ainda manuseando o seu medalhão de uma forma nostálgica. Parecendo contornar a borda de ferro com a ponta de uma de suas garras quase como se ele não estivesse mais interessado em continuar a falar, ao que eu voltei a encarar o fogo já entendendo também como que aquela história havia terminado sem depender igualmente da sua explicação.

— "Seu pai matou a sua mãe."
— "Sim..."
— "..."
— "Mas ela sequer implorou pela própria vida porque já sabia que não ia fazer nenhuma diferença. Ele não estava ali para perdoá-la por ter escondido a minha existência por 8 anos, ele estava ali para me pegar de volta. Só que ele parou tão calmamente do meu lado e me encarou, antes de caminhar até ela, que eu só fui perceber as suas intenções depois que ele a matou na minha frente e largou o seu corpo ao meu lado, sem se importar."
— "E você não fez nada?"
— "O que eu iria fazer? Antes dele aparecer eu estava ajoelhado no chão, congelado pelo medo da minha própria mãe. E depois que aconteceu, todos aqueles e quaisquer outros os sentimentos simplesmente desapareceram do meu alcance... eu fiquei vazio, e cercado por Skreas que não estavam também dando a mínima para aquilo. Não havia mais nenhum sentimento. Raiva, tristeza, lamentação... eu sequer consegui chorar quando vi o corpo dela caído na minha frente. Mesmo sentindo que eu devia de ter chorado, eu não consegui. Sozinho, eu nunca consegui sofrer por ter perdido ela mesmo sabendo que precisava ter lhe dado ao menos isso em troca..."
— "..."
— "Eu te invejo, por ser capaz de lamentar a perda das pessoas que te amaram. Eu sei que como Skrea eu nem mesmo deveria de me importar com algo assim mas, eu queria poder ao menos sentir isso uma vez. Sentir que eu também a amava... ao invés de apenas ter saído do seu lado como se não me importasse. Sem medo, sem dificuldade, pegando na mão de quem a matou e o seguindo para longe porque naquela hora, obedecê-lo, era a única coisa que ainda conseguia fazer algum sentido na minha cabeça -mesmo que não parecesse ser muito certo."
— "Porque fazer aquilo era tudo que havia te restado..."

Aquelas palavras me escaparam como uma abrupta nostalgia da qual eu não queria me recordar, mas era incapaz de também não o fazer. Afinal eu entendia Damian de certo modo, eu compreendia que a sua falta de atitude após perder parte de sua família não fora só porque ele era um Skrea, ou porque ele era muito pequeno para entender o que aconteceu... mas sim porque ele não tinha outra opção senão o fazer, e aturar o que estivesse por vir logo após aquilo.
"Assim como eu tive que aceitar que fui separado da minha família e não podia reclamar, ele teve que aceitar os Skreas porque eles foram a sua única opção. Mesmo que o seu coração pudesse pedir por um destino diferente... aquela foi a sua -e a minha- única opção."
De repente a sua voz me tomou de volta para o presente com uma incisividade que eu não estava esperando muito naquele momento, mesmo não sendo do estilo dele também medir as palavras após tomar suas próprias decisões!

— "Yura, por isso eu preciso que agora você me escute. Por piores que sejam as atitudes deles, eu não posso me rebelar contra a minha raça pelas coisas que eles fazem -como você viu eu já tive muitas razões mas nunca fui capaz."
— "..."
— "Só que, eu também não vou ser insensível com você só por causa deles. Então se você mesmo depois do que eu disse ainda quiser me culpar pelas ações deles, sentir raiva de mim, não me querer mais por perto, e até mesmo-... haah, até mesmo preferir ficar com aquele maldito porque ele te entenderia melhor, tudo bem. Eu não vou te impedir de se sentir assim. Eu... não me sinto no direito de tentar te impedir."

As palavras de Damian me chocaram à altura de sua própria franqueza! Ao que independente do constrangimento que voltou a me atravessar pela situação com Gale ter sido enfim trazida à tona por ele, meus pensamentos se desesperaram tanto com a maioria daquelas ideias que eu sequer considerei muito qualquer outra coisa senão o meu impulso em lhe fazer abandonar todos aqueles pensamentos o mais rápido possível!

— "N-NÃO! De onde você tirou tudo isso, Damian!? E-eu... eu nunca!! Isso não é o que eu quero -e eu não estou te culpando por nada disso!!"
— "Então o que é que você realmente quer comigo?"
— "EU QUERO É ESTAR COM VOCÊ! ISSO NÃO É ÓBVIO!??"
— "!?..."

Quando eu lhe gritei aquilo, Damian simplesmente abriu os seus olhos de uma forma surpresa quase como se ele não tivesse conseguido ser convencido mais do que tivesse se confundido com a minha reação! Me questionando ele com um tom ainda calmo porém, ao contrário da forma agitada com a qual eu tentava agora controlar as minhas impulsivas palavras para não me exceder ainda mais do que já havia!

— "Como isso pode ser óbvio se ultimamente você tem sempre parecido estar se forçando ou se sentindo inseguro quando eu me aproximo de você?"
— "!?"
— "... Desde que todas aquelas pessoas me viram, você tem agido diferente... com medo. No começo eu pensei que era só alguma questão entre você e esses outros Humanos e que eu não deveria de me meter. Mas aí, eu escutei uma história..."
— "Uma história?"
— "Aquele velho, ele me contou sobre você ter mais razões para preferir se vingar da minha raça do que querer estar com um Skrea como eu, desde que perdeu uma pessoa que era muito próxima a você. Ele me disse que não entendia como você poderia suportar estar ao meu lado depois do que aconteceu, a menos que-..."
— "'A menos que'?"
— "A menos que fosse por um motivo muito mais lógico do que apenas gostar de mim. E que eu... jamais iria ter como saber a verdade já que a sua presença de Vessel é forte o suficiente para me distrair das suas outras emoções."
— "..."

Meu estômago se revirou ao ouvir aquilo. Então era disso que tudo se tratou?" De uma intriga de Ebraín tão bem planejada que agora sequer eu teria argumentos convincentes o suficiente para fazer Damian voltar a acreditar em mim -afinal ele entendia de vingança muito melhor do que nós dois sequer entendíamos de amor!? Eu fechei as minhas mãos em punhos e tentei engolir a seco tudo aquilo, como... como ele ousou? Como todos eles ousaram desde que descobriram que eu estava andando com Damian? Me deixando com tantas dúvidas, com tanto medo de estar tomando a decisão errada que até mesmo Damian acabou se convencendo disso através de mim!! Eu estava furioso, mas nem mesmo assim Damian porém se permitiu perder a calma em sua voz ao continuar.

— "Yura... Eu nunca quis voltar a me aproximar de um Humano depois do que aconteceu com a minha mãe, eu achei que isso jamais iria voltar a fazer parte da minha vida, e quando nos conhecemos eu também não me esforcei para te tratar bem. Eu não me esforcei em nada para nos darmos bem, eu só quis me aproveitar da sua utilidade e voltar a me afastar de tudo isso mais uma vez. Só que... mesmo assim, mesmo com você me irritando e nós sempre brigando, eu comecei a me sentir bem ao seu lado, e voltei sem querer a me lembrar de coisas que por 20 anos eu até mesmo esqueci que podia sentir falta de sentir."
— "..."
— "Quando me dei conta disso eu já estava determinado a não abrir mão novamente desse sentimento -ou de você, a única pessoa que eu agora conhecia e que se permitia sentir algo de bom por mim. Eu quis me apegar a isso mesmo sabendo o quanto iria ser desafiador tentar ficar junto de você, se sequer possível, eu estava determinado a tentar. E até mesmo a retaliação desses Humanos, eu já esperava por tudo isso e não tive problemas em escolher ignorar. Só que eu não posso tratar a sua opinião do mesmo jeito. E desde um tempo para cá eu já não sei se consigo mais sequer entender direito o que você quer porque as suas emoções passaram a ficar muito tumultuadas quando deixamos de ser só nós dois."
— "...!"
— "E eu continuo sendo só um Skrea que não entende facilmente sentimentos complicados. Por isso, quando finalmente essas pessoas começaram a dizer que isso que havia entre nós dois não era amor eu-... eu não tive como contradizê-los. Eu não tinha como ter argumentos, porque eu só tinha a minha fé e você para afirmarem isso por mim, e sequer você estava parecendo mais muito confiante a meu respeito."
— "!!"
— "Foi por isso que eu me senti obrigado a considerar as palavras daquele velho mesmo estando disposto a não o fazer. Porque eu não estava mais dando conta de entender sozinho o que você realmente poderia querer, e ele me ofereceu uma explicação muito mais lógica do que a minha própria tentativa de compreensão. A explicação de que a real pessoa que você amou já se foi e que o único sentimento que poderia restar para um Skrea como eu dentro de você seria a falsa ilusão da sua presença e a capacidade de você querer se vingar por aquilo que te foi tomado."
— "N-Não! Isso... isso não é verdade!!"

Eu gaguejei em desespero ouvindo Damian me confessar aquelas coisas! Engolindo porém as minhas próximas palavras no que ele mesmo pareceu franzir a sua expressão tristemente como se qualquer súplica que eu fizesse àquela altura não fosse lhe convencer muito melhor do que as palavras que lentamente lhe envenenaram, e meus próprios sentimentos -minha infelicidade- que lhe atingiu por eu ter ouvido-o considerar com tanta facilidade aquelas coisas.
"Mas eu sequer podia querer culpá-lo também. Afinal eu mesmo nunca admiti muito os meus sentimentos para ele mais do que deixei ele me admitir os dele achando que aquilo já servia para nós dois..."

Minha cabeça então se inclinou para baixo no que timidamente eu preferi deixar de tentar lhe encarar, abraçando o meu corpo junto ao manto sem saber bem como agora corrigir aquela situação. Digo, mesmo que fizesse ou não sentido, mesmo que meus sentimentos fossem turbulentos, mesmo que eu pudesse ter muitos momentos de confusão, mesmo assim eu ainda-...!!
"Eu ainda sei que quero amá-lo, de verdade! Talvez o que eu sinta por ele agora não seja realmente amor, mas... mas verdade ou não eu sei o que quero sentir! E se mesmo assim isso não significa que eu já o amo, então pelo menos um dia eu sei que significará!"
Só que, como convencê-lo disso melhor do que Ebraín conseguiu convencê-lo se tudo o que eu tenho comigo é a minha convicção e a certeza de que ela é tão ilógica quando eu mesmo na maioria das vezes sou?

Eu respirei fundo, fundo o suficiente para tentar me acalmar abaixando ainda mais a minha cabeça até que o meu manto pudesse terminar de me esconder por completo. Afinal, por mais que eu quisesse consertar tudo aquilo eu não sabia como -ou se eu sequer tinha ainda alguma chance para querer tentar. Eu não sabia quão grande pudesse ser a convicção de Damian àquela altura a respeito de suas dúvidas, ou sequer quão pouco eu iria conseguir convencê-lo a confiar em mim por conta da insegurança que eu também não parava de sentir em meu peito.
Foi aí que, pela primeira vez, eu então me permiti divagar sobre o quanto esse abismo que havia entre nós dois jamais teve uma ponte de fácil travessia -éramos diferentes demais para saber o que esperar um do outro. Éramos diferentes demais para eu esperar que Damian pudesse para sempre ter continuado a atravessá-lo por mim... sem jamais recuar. Sem jamais dependender de mim para um dia o fazer em seu lugar, mesmo que para isso eu tivesse que engolir os meus medos e arriscar tropeçar... isso é, se eu ainda estivesse dispoto a alcançá-lo do outro lado desse abismo -por mais ilógico que minhas razões para querer isso pudessem continuar a ser. Eu tinha que provar que estava disposto a também o fazer, eu tinha que ao menos tentar!

— "D-Damian, eu-... eu te amo. Não existe outra verdade além dessa."
— "..."
— "E eu sei que não faz muito sentido, que não tem nexo eu sentir isso por você, mas os meus sentimentos por você não são mais complicados do que isso. Ou pelo menos é o que eu penso, quero dizer-...! Eu também não sou bom em entender o amor..."
— "..."
— "Por muito tempo eu tentei não entender na verdade, eu o evitei, eu evitei as pessoas, evitei qualquer oportunidade de me machucar por culpa disso... Só que por alguma razão depois que eu te conheci eu, eu... eu comecei a mudar. Eu passei a fazer coisas que não entendia, passei a ter atitudes que no passado eu jamais teria, e aí passei a ter medo também disso... medo de aceitar a razão para estar mudando. Aceitar que novamente alguém pudesse estar quebrando as minhas defesas."
— "..."
— "Só que eu já estava gostando de você quando passei a perceber isso, e quanto mais eu tentava resistir menos eu conseguia lutar, menos eu queria, porque... eu gosto de estar com você. Eu gosto de conversar com você, de depender de você, de confiar... tudo isso é tão mais simples com você do que com as outras pessoas! Por isso foi que eu... desisti então de ficar negando que te amava. Eu desisti de lutar contra isso, em troca de poder apenas estar ao seu lado!"
— "Yura-..."
— "Então não importa o que os outros dizem ou o que você sinta. Você quer ouvir as minhas verdadeiras intenções? Eu admito, as minhas intenções são cegamente acreditar que estou amando um Skrea mesmo que isso possa me condenar no futuro! Porque... os meus sentimentos já deixaram de se entender com o meu bom senso faz muito tempo!"

Eu não sei como ou por quê, mas ao que as palavras foram simplesmente saindo de dentro de mim sem qualquer controle a minha força pareceu igualmente ir me deixando, assim como a minha capacidade de manter a calma no que os meus argumentos foram acabando sem que fosse possível eu dizer que estava me sentindo satisfeito com eles! Talvez... talvez eu apenas estivesse com muito medo na verdade de perdê-lo pela falta de palavras suficientes, ou pela incapacidade natural de nos entendermos que sempre estivemos fadados a ter. Eu não sabia dizer, mas certamente a forma como ele ainda continuava a me encarar de um modo sério e incólume me fez sentir que eu havia falhado em ultrapassar qualquer uma dessas coisas. Me fazendo perder sequer a coragem de àquela altura continuar a olhar em sua direção, ao que enfim as lágrimas começaram a escapar do meu controle junto da frustração, da raiva, e do arrependimento por sentir a impotência que seu silêncio forçado me obrigou a aceitar!

E nem mesmo quando eu comecei a ouvir o som das suas roupas se mexendo contra seu corpo eu tive a coragem de ainda tentar lhe encarar, eu estava inseguro, eu estava envergonhado, eu estava com medo! Eu estava-... assustado, quando de repente pude sentir então as suas mãos me alcançarem e segurarem o meu rosto pelos dois lados, me forçando a voltar a olhá-lo de frente! A encarar aquela sua expressão que não dizia nada, mas que de repente passou a me dizer muito quando um de seus dedos começou a amparar as minhas lágrimas de forma gentil.

— "Está tudo bem. Eu acredito em você."
— "E-eu só não quero te perder Damian!"
— "Você não vai..."

Sem perder a seriedade em sua voz ou em sua expressão, Damian então me soltou se inclinando ainda mais na minha direção e me puxando para os seus braços que me envolveram calorosamente por longos segundos sem se deixarem intimidar pelo tímido som do choro que voltou na mesma hora a me arrebatar. Afagando ele a minha cabeça por algum tempo, antes de suspirar contra o meu ouvido e me sussurrar algo quase que por um descuido.

— "Haah... Se isso é o que você quer, você não vai..."
— "..."
— "Mas, não sei se posso também me prometer o mesmo. Eu não sei se dessa vez vou conseguir fazer as coisas serem diferentes-...!"

De repente Damian pareceu cortar as suas palavras de uma forma surpresa, como se do nada ele tivesse perdido a capacidade de lhes dar atenção me fazendo preocupadamente tentar nos afastar para ver o que aconteceu! Só que assim que eu tentei fazer algo, os seus braços em resposta simplesmente se fecharem ao meu redor e me impediram de me mover 1 centímetro a mais que fosse para fora do seu alcance!

— "D-Damian?"
— "Está-... está tudo bem. Só... não se mexa. Fique assim um pouco, por favor."

Ele então voltou a me puxar na sua direção no que seus ombros se arquearam sobre mim e a sua cabeça recostou em meu ombro, deitando ele contra o pano do meu manto sem me dar a chance de sequer recusar o seu pedido. Sequer recusar, ante a estranha forma como a sua respiração então começou a ficar mais e mais ofegante, seus braços cada vez mais estremecidos ao meu redor, e por fim, eu perceber algo molhado escorrer pelo seu rosto até pingar no tecido do meu manto. Tão imperceptível, que dentre todos os meus sentidos apenas os meus poderes me serviram para conseguir reafirmar.
"Damian está... chorando??"
Minhas lágrimas secaram na mesma hora com o espanto no que eu então o segurei de volta mais firmemente! Sem saber o que fazer senão continuar ali, imóvel, apenas sentindo o controle das suas reações se esvair gradualmente até ele não ser mais capaz de impedir que as lágrimas cada vez mais se acumulassem silenciosamente e pesassem no meu manto, atravessando o seu tecido e enfim caindo na minha pele. De forma tão quente, e tão angustiante...

Sem saber o que fazer ou como consolá-lo (ou se ele até mesmo queria ser consolado) eu resolvi então apoiar a minha mão sobre sua cabeça assim como ele fizera comigo. Lentamente passando meus dedos pelas mechas do seu cabelo pensativamente e por acidente bagunçando as tranças que haviam pelo caminho.
"Por que será que ele está assim? Será que é pela mãe dele? Pelos irmãos? P-por mim...?"
Eu estava angustiado em querer saber, e preso ao terrível ciclo de me sentir cada vez pior ao vê-lo infeliz, e fazendo ele em troca também se sentir cada vez pior através de mim. Mas independente disso, e independente de saber que eu só estava piorando o seu estado, eu não soltei Damian. Eu não ousei soltá-lo... porque eu sabia que ele queria aquilo mais do que qualquer outra pessoa naquela noite gelada jamais poderia querer. E que eu era o único que poderia lhe fazer sentir aquilo, porque eu era o único que ele naquele momento estava permitindo fazê-lo sentir-se assim.

E daquela forma os minutos foram passando, horas talvez, eu não tinha ideia. Era difícil dizer senão pelo fogo que já estava tão baixo que apenas o calor agora de seu corpo continuava a me aquecer em meio ao frio. Não me fazendo porém largá-lo independente das suas lágrimas que já haviam secado e da sua respiração que já havia se acalmado, ao que àquela altura nenhum de nós dois parecíamos mais refém de nossas próprias tristezas do que da viciante presença um do outro. Levando até mesmo Damian algum tempo para querer romper o aconchego no qual entramos, quando do nada a sua cabeça decidiu se aninhar melhor sobre o meu ombro enfim retomando ele as suas forças para me sussurrar algo -só que bem mais tranquilizado.

— "Me desculpe."
— "Você está se sentindo melhor?"
— "Sim, eu estava precisando disso."
— "..."
— "Foi a primeira vez que... eu consegui chorar, desde que a perdi."
— "Sempre que você precisar disso, eu estarei por perto."
— "..."
— "..."
— "Normalmente as pessoas ao meu redor só sentem raiva, ódio. Por isso, às vezes, eu sinto a sua falta quando nos separamos. A verdade é que... eu não gosto de me afastar de você."
— "Damian..."
— "Mas eu também tenho receio em me aproximar demais e esquecer que posso te perder. Ou que posso não ser capaz de te proteger... que nem ela."

Um silêncio então se instalou por um instante entre nós dois, um gélido silêncio ao que uma brisa seca e fria nos atravessou fazendo com que eu me preocupasse com a força de suas palavras. Palavras que pareciam tão incertas mas igualmente tão convictas daquela possibilidade. Só que eu não estava também acostumado a me preocupar em deixar os outros mais do que perdê-los, e talvez por isso foi que eu sequer soube o que fazer com aquela sua confissão senão apenas esperar que suas próximas palavras se tornassem mais fáceis de serem respondidas do que aquelas.

— "Yura, se ficar comigo é o que você realmente quer eu não vou te impedir. Eu não acho que tenho forças para continuar te impedindo. Mas eu vou precisar que você em troca também entenda o que isso poderá te custar."
— "Damian, se isso é sobre os perigos de eu ser um Vessel e você um Skrea-..."

Enfim percebendo o seu braço se afrouxar ao meu redor, eu apoiei as minhas duas mãos em seus ombros e nos afastei o suficiente para conseguir olhá-lo nos olhos. Pouco intimidado pela seriedade com a qual ele continuava a me encarar fixadamente, ou pela forma como seus olhos ainda avermelhados pelas lágrimas pareciam ignorar a minha reação premeditada.
Foi assim que Damian então por um instante olhou para para baixo com certa cautela, na direção de sua cimitarra, e segurou as minhas duas mãos afastando-as de seu corpo -antes de prosseguir não muito a vontade...

— "Você precisa saber de uma coisa."
— "O quê?"
— "... Só me prometa que isso ficará entre nós dois."

Eu pisquei os meus olhos algumas vezes já entendendo que seu alerta não havia sido acerca de algo tão óbvio assim, não entendendo porém o que mais seria capaz de fazer Damian me encarar tão cautelosamente até eu enfim balançar a minha cabeça com receio lhe prometendo que não iria repetir na frente de ninguém mais aquelas suas próximas -e inesperadas- palavras...

— "Eu sou um Repetidor, Yura."
— "O quê?"
— "Assim como você, a minha mãe também era um Vessel."
— "!!?"


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