Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 133
Nahalt


Notas iniciais do capítulo

Hooo-hooo-hooo! Minna-san ni meri kurisumasu!! (Feliz natal para todos!)
(ノ◕ヮ◕)ノ*:・゚✧
Então gente, chegamos à última postagem do ano e K.K. falhou inteiramente em terminar a tempo a ilustração de aniversário.... he...hehe...he... (; ω ; )ヾ(´∀` ")
Tá, eu não tenho boas desculpas senão "a ilustração é difícil" e "comprei um Wii nesse meio tempo e perdi a noção"-... ops, isso não é desculpa, é a verdade! Σ(°△°|||)
Ahem! Mas bem, eu não quis deixá-los desamparados nessa época de festas! Então por favor, aceitem ao menos meu presente para todos vocês de fim de ano~ A ilustração de natal desse ano! ( o^ ^o)且 且(´ω`*) (Hehe, é, depois da 3º vez acho que isso já pode oficialmente ser considerado um hábito). (o´▽`o) E eu prometo que a de aniversário vai sair logo, em algum momento por janeiro (depois que eu possivelmente terminar de zerar o Path of Radiance, talvez.) (¯ . ¯;) Digo! Definitivamente vai sair!
ヽ( `д´ )ノ ぜったいに!。。。かもしれません。

Então, feito esse disclaimer, eu vou deixar vocês lerem o último capítulo desse ano deixando um gostinho na boca de vocês com o começo do penúltimo arco da história! (´,,•ω•,,)♡ (E a notícia de que este é o penúltimo arco~) *cof* *cof*
Espero que todos estejam gostando da direção que a história tem tomado, e que estejam ansiosos pela futura conclusão! (๑˃ᴗ˂)ﻭ Eu adoraria poder ouvir mais a opinião de vocês nos comentários desde que as teias de aranha dominaram o lugar, mas bem... continuo desejando que no geral todos ainda estejam se entretendo! (Sério, vocês ainda estão vivos por aí? K.K. está preocupada.) /╲/( ; ω ; )/╱
Um bom Natal para vocês, um ótimo Ano Novo, e uma inesquecível leitura!! (^ヮ^)/ Nos vemos todos em janeiro, eeeee fui~! ☆ミ(o*・ω・)ノ



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Eu nunca preveria ouvir Damian dizer aquilo! Sendo incapaz de esconder o meu choque enquanto a figura ao fundo do dono da carroça reaparecendo com seu assistente, e afirmando já estarem prontos para partir assim que checassem por uma última vez a carga de tapetes, foi a única coisa que pôde quebrar o silêncio de espanto entre todos nós! Sinalizando Ebraín, para os dois, que também estávamos terminando de nos aprontar antes dele nos voltar a sua atenção sussurrando perturbadamente!

— "Isso está fora de cogitação!"
— "E deixar esse infeliz fugir mais uma vez de mim também está. Mas se o seu problema com isso é apenas porque eu posso deixá-lo no alcance da Oráculo, então não vejo outra maneira de chegarmos a um acordo senão tomando essa decisão."
— "Eu não vou permitir que você vá com eles para uma cidade Humana, só para matar Gale por lá!"
— "Eu não disse que vou matá-lo lá, eu só disse que não vou deixá-lo fugir. Eu cresci em uma cidade só de Humanos, velho, e sei como terei que me comportar. Só vou vigiá-lo para que ele não consiga escapar do nosso acordo, até voltarmos juntos para essa cidade e eu poder ter o que me é de direito -sem a Oráculo por perto. Acredito que, baseado na sua justificativa, essa seria a forma ideal de resolvermos esse conflito, não?"
— "Humph, você certamente é também metade Skrea -tentando manejar as minhas palavras a seu favor. Mas não importa como você justifique essa solução, você só irá causará problemas para mim indo junto deles para uma cidade que jamais irá aceitar lhe receber! Então não, eu não irei permitir isso!"
— "..."

Eu pude ver nos olhos de Damian a frustração em não querer desistir ainda, por mais que ele não parecesse saber porém como continuar insistindo naquilo sem novamente esbarrar na impossibilidade de agradar Ebraín com a sua sugestão. Limitando-se ambos então a mudamente trocarem olhares aborrecidos pelo tempo que não tínhamos disponível, no que eu só pude suspirar de um modo exasperando por ver aquela improvável oportunidade -de ter Damian aceitando ir conosco- fugindo facilmente do meu alcance sem eu poder fazer nada a respeito! Mas... quem disse mesmo que eu não podia fazer nada? E foi aí que algumas palavras -que eu não muito pensei antes de falar, mais do que eu apenas senti que deveria de ao menos tentar dizer- escaparam impulsivamente da minha boca!

— "Deixe-o vir conosco, eu me responsabilizarei por ele Ebraín!"
— "Sequer brinque com isso Yura, você não tem ideia do que está sugerindo!"
— "Eu não estou sugerindo... eu estou afirmando. Se Damian está dizendo que não fará nada em Nahalt, então eu confio nele e estou disposto a me arriscar para garantir que ele manterá a sua promessa!"
— "!!... Haaah, agora o Skrea sabe para onde vocês estão indo. Ótimo..."

Me pegando de surpresa, Ebraín então falou aquilo da forma mais decepcionada possível cobrindo o seu rosto com uma das mãos. Mal sabendo eu como lidar com o fato de que acidentalmente acabei lhe encurralando com a única coisa que parecia impedi-lo de se ver conseguindo manter Damian longe de nós todos, o nome do nosso destino!

— "Não acredito que agora terei que acabar permitindo essa tolice para poder manter a informação longe daquela Oráculo."
— "Você está falando sério, velho!?"
— "Não me olhe assim Gale, a culpa é de Yura. O Skrea vai ter que ir, ou estaremos arriscando que aquela mulher consiga segui-los até Nahalt -mesmo que ele diga que não contará a ela, eu não irei arriscar a nossa sorte na palavra de alguém capaz de pensar como um Skrea e mentir como um Humano!"
— "Então deixe-o aqui e nos mande para qualquer outro lugar que não seja Nahalt!"
— "E que outro lugar você sugere que eu arrume nos próximos 3 minutos, Gale!? Eu sou idoso, grande parte dos meus contatos sequer estão mais vivos! A menos que você também conheça alguém além destes muros que estará disposto a arriscar tudo para proteger até mesmo um Vessel como você pelo tempo que precisar ser!?"
— "Tsc..."
— "Foi o que eu pensei. Então apenas me faça o favor e lide com isso, o Skrea terá que ir com vocês."
— "Não me diga para apenas 'lidar com isso', velho! Você sabe que ele vai tentar me matar assim que chegarmos lá!"
— "Sim, eu sei disso. Porém, eu também sei que grande parte das pessoas nessa cidade já quiseram ao menos uma vez tentar lhe matar Gale, e que mesmo assim você continua aqui, vivo diante de mim. O que significa que, ou você terá sorte suficiente para conseguir continuar lidando com esse Skrea em Nahalt, ou as pessoas certas do seu lado para impedir que o pior consiga acontecer -e eu sei que com Yura junto isso não irá lhe faltar. Então aceite os fatos e se acostume com eles, porque é assim que terá que ser."
— "Você só pode estar brincando..."
— "Bem Gale, esse é o melhor que posso fazer por enquanto. Porém, se você crê que as suas chances em Nahalt contra este Híbrido podem ser piores do que continuando aqui com a Oráculo, fique à vontade e dê meia-volta então, eu não irei lhe impedir de fazer o que julgar ser melhor -o meu interesse na sua sobrevivência é limitado demais para eu me sujeitar às suas vontades."
— "Humph!"

Aquelas duras palavras fizeram Gale se calar, franzindo as suas sobrancelhas, antes dele enfim nos dar então as suas costas e se dirigir finalmente para a carroça sem nos dizer mais nada de impertinente, ao que, já o conhecendo bem, eu não podia dizer que de fato a frieza de Ebraín tivera afetado-o muito mais do que a mera ideia dele continuar se vendo preso à Damian pelos próximos -sabe-se lá quantos- dias.
"Haah, pensando bem agora, será que está mesmo sendo uma boa ideia eu querer ter Damian perto de Gale durante essa viagem?"
Eu me indaguei desanimado, testemunhando com um leve amargor Gale subir revoltado na carroça sem sequer parecer se importar mais com o seu braço machucado àquele ponto. No que enquanto eu me distraía com a sua figura claramente irritada, Damian sem qualquer aviso me puxou então para o lado antes que alguém pudesse notar, sussurrando ele bem baixo.

— "Yura, eu só vou deixar uma coisa bem clara, você não vai se responsabilizar por mim lá fora. Eu tomei sozinho a decisão de ir e não quero você metido no meio disso."
— "Não quero saber, enquanto estivermos juntos eu vou fazer o que for preciso para continuarmos assim -e isso inclui me responsabilizar por você em Nahalt, se tiver que ser!"
— "Tch, você é mesmo um humano tão-...! Hahh, obrigado por isso -por você ser assim."
— "Heh, acho que eu só estou na verdade é desesperado para conseguir dormir uma noite ao menos tendo a certeza de que você estará bem. Só isso..."
— "Não posso dizer que eu também não esteja querendo o mesmo..."

Damian me sorriu brevemente sem me esclarecer se ele estava falando de mim ou dele mesmo, no que bem lá no fundo eu voltei a me recordar de que, independente de qual fosse a resposta para isso, eu já não estava mais acreditando que qualquer uma das duas poderia estar errada. Afinal, mesmo sonhos ainda sendo sonhos, eu entendia que fantasiar demais a Oráculo fazendo mal a ele não estava sendo uma mera ilusão sem sentido da minha cabeça, a forma como Damian ficou assustado naquele momento em que ela bateu na porta de Ebraín, o fato de que ele não voltou para casa na última noite por ter aparecido para nós na Cidade Baixa em um horário tão cedo, tudo isso-...! Eu não era burro. E eu sabia que mesmo se eu estivesse me precipitando com essas conclusões, à essa altura, me importar com ele da forma como eu não conseguia mais parar de me importar era agora o suficiente para eu aceitar de vez que precisava também tirá-lo dessa cidade. Mesmo que o preço por levar ele comigo para Nahalt viesse a se tornar igualmente alto, eu precisava de algum modo conseguir fazer isso -ainda mais porque a outra opção seria abandoná-lo à própria sorte, e isso estava muito além das minhas habilidades.

— "Pelo menos você parece entender quais consequências existem por trás da sua decisão, Skrea. Não que eu possa mais usá-las para forçá-lo a ficar aqui, graças ao Yura, mas acredito que não precisarei também explicar o preço que ambos pagaremos caso você não mantenha a sua palavra sobre Gale enquanto estiver por lá -além claro, da sua discrição, já que aqueles humanos não poderão sequer sonhar que você estará entre eles."
— "Não, você não precisa. Eu sei muito bem para onde estou escolhendo ir."
— "Ótimo, vejo que estamos entendidos então. Agora me ajude e suba com estes dois sacos na carroça enquanto eu tenho uma última conversa com Yura -a sós."

Ebraín então se meteu entre nós dois, entregando as duas sacolas para Damian como se tentasse mandá-lo para longe, no que ele apenas concordou obedientemente com a sua cabeça se afastando. Subindo ele sem problemas na carroça, mesmo que Saret lhe esticasse as mãos para ajudá-lo a organizar os suprimentos ao seu lado, sem darem os dois muita atenção para o condutor que à essa altura também parecia se preparar para subir no assento da frente enquanto esperando o seu jovem assistente terminar de verificar a firmeza das rédeas dos camelos -por uma última vez.

— "Yura, está quase na hora de deixá-lo ir."
— "Ebraín..."
— "Ahh Yura, você certamente é um dos maiores desafios que Grivah já me deu. Mas eu não te amaria menos só por isso, você continua sendo como um filho para mim desde que recebi a sua tutela. E eu sinceramente espero que, abrir mão disso lhe mandando agora para Nahalt com Saret, possa se provar a melhor forma de protegê-los -mesmo com esses dois também indo junto."

Ebraín colocou então uma de suas mãos em meu ombro segurando-o com vontade. Antes de me olhar de cima a baixo como se fosse sentir muitas saudades de mim -assim como eu também o fiz, percebendo que iria acabar sentindo o mesmo uma vez longe daqui.

— "Agora seja honesto comigo, Yura. Você entende MESMO os problemas que irá precisar enfrentar levando esse Skrea com você?"
— "Sim, é claro que eu entendo. Eu vim dos Desertos Profundos e sei exatamente o que o meu povo pensa dos Skreas fora dessas muralhas."
— "Certo, então eu irei direto ao ponto. Esse Skrea será provavelmente escorraçado para fora da cidade no primeiro instante em que as pessoas descobrirem sobre ele. E eu sequer tenho como te prometer que o meu contato não tentará o mesmo, assim que ela também o vir... a não ser talvez, que você cumpra com o que disse e tome para si a responsabilidade de interceder por ele. Penso que só assim você conseguirá evitar o pior, uma vez chegando lá."
— "... Por quê você está me dizendo isso, Ebraín?"
— "Porque Yura, eu temo que se ele for expulso da cidade você vai acabar fazendo a burrice de ir atrás dele -eu já entendi que o seu bom senso falha constantemente quando se tratando desse Híbrido. Então por mais que me seja difícil querer isso, eu vou tentar te ajudar a fazer de alguma maneira a ida dele dar certo -não sei como, mas eu vou tentar."
— "Ebraín..."
— "Só que em troca você terá que fazer a sua parte e cuidar para que ele realmente não tente nada contra Gale. Eu já vi que você sabe fazer isso, então mantenha-os sob esse controle para que não acabe também chegando até aqui nenhuma fofoca sobre um Skrea Superior e um Feiticeiro dos Venenos se matando em Nahalt, ou poderemos adentrar novamente em uma situação impossível de ser controlada."
— "Tudo bem, eu prometo que vigiarei eles dois. E que não deixarei Damian ser descoberto."
— "Haah, se ao menos eu pudesse acreditar nessa última parte. Que Grivah interceda pelo seu bem, e pelo de Saret, enquanto eu estiver longe. Se bem que, talvez dessa vez..."

Ebraín então tomou um longo fôlego como se reticente em prosseguir, não parecendo ele porém intencionado a encerrar o assunto por ali, no que assim que eu chamei pelo seu nome ele logo voltou a me falar.

— "Ebraín?"
— "... Acho que dessa vez será melhor eu te dizer uma coisa, Yura. Mesmo que não fosse aqui, ou assim, que eu queria estar lhe dizendo isso -e certamente não por culpa de um Skrea como esse."
— "Do que você está falando?"
— "Eu estou falando sobre... Yura, você sabe por quê eu não pude confiar em deixá-lo para trás com Sal naquela hora, quando a Oráculo nos cercou?"
— "Porque... ela não podia me pegar?"
— "Também, mas especialmente porque eu não acreditei que você iria conseguir enfrentá-la da mesma forma que Sal iria conseguir. E você sabe o por quê disso, Yura?"
— "Bem, Sal é bem mais capaz do que eu e Saret-..."
— "Não, não foi por capacidade, mas sim por insegurança. Yura, como Vessel a sua capacidade na feitiçaria pode transcender a de qualquer um! Você possui uma parte grande de Grivah aí dentro! Mas enquanto você mesmo não tiver a coragem para usar os seus poderes, você não conseguirá saber usá-los em um momento de necessidade -e da forma que for preciso. Em Sal eu acredito porque ela não teme a sua própria capacidade, mas não posso dizer isso de mais ninguém porque propositalmente instigamos o medo nos Feiticeiros para mantê-los sob controle. Essa foi a tática que a nossa raça usou após a queda dos Feiticeiros dos Venenos para se protegerem do controle de novos grupos, e das novas guerras que eles pudessem causar contra os Skreas, caso o ego lhes incentivassem. Foi o medo. Nós começamos a incentivar vocês a terem medo de si mesmos para mantermos a ordem dentro da nossa raça."
— "Medo..."
— "Mas desde ontem eu percebi que não posso mais fazer isso com você, não posso mais continuar incentivando-o a evitar a única coisa que talvez consiga salvá-lo um dia quando você estiver sem mais ninguém a quem recorrer. Não, agora que vejo entre quais riscos você começou a se meter por conta própria, sem nos contar, e como Saret acabou também ficando só por acidentalmente ter cruzado com o seu caminho e com o de Gale no momento errado."
— "..."
— "E eu não posso permitir que você acabe da mesma maneira que ela, só porque eu não te preparei para isso Yura... Então guarde em seu coração, por mais que você possa ter a mim agora, ou aos seus amigos, Yura, o tempo é cruel quando nos acomodamos demais e em algum momento você se verá forçado a ter que depender mais de si próprio do que de qualquer um de nós. E quando esse dia chegar, não ouse hesitar. Não se assuste com o que pode vir ou não a acontecer, e o com o que você tenha ou não que vir a fazer. Se você se vir obrigado a ter que sujar as suas mãos, faça, mas compreendendo que não é por ser um Feiticeiro que essa sina irá lhe tentar. E sim por você estar vivo nesse mundo junto com as pessoas que você ama."
— "Ebraín...!"
— "Me perdoe por não ter lhe dito estas coisas mais cedo, antes de você perder Sáshia, mas carregue isso sempre com você e prenda-se nessas palavras quando a sua coragem lhe faltar: Nem toda consequência deve ser temida enquanto a sua convicção e o seu coração continuarem no lugar certo -naquilo que você sente que deve proteger. Esteja disposto a fazer o que for preciso, e não se arrependa de o escolher fazer quando assim precisar ser... é o que Sal sempre dizia para si mesma e provavelmente também iria lhe dizer, se ela agora estivesse aqui."
— "E-eu... eu não vou me esquecer disso."
— "Assim espero. Eu irei manter contato por carta quando vocês chegarem em Nahalt, então até lá cuide-se... e cuide deles também Yura. Aprenda a cuidar deles mais do que eles estiveram cuidado de você. Só assim você conseguirá ter a vida que quer sendo a pessoa que você não teve a escolha de ser."

Novamente apoiando a sua mão em meu ombro, de um modo muito gentil, Ebraín então me balançou a sua cabeça finalmente me sinalizando para ir. No que eu o dei as minhas costas tentando seguir as suas instruções, mas sem saber exatamente como eu iria conseguir fazer isso.
"Me tornar forte como Sal, ser capaz de proteger o que eu amo, conseguir ter a vida que eu quiser..."
Pensar naquilo enquanto encarando aquela carroça travou os meus passos, não aceitando por quê Ebraín, depois de tanto tempo sem conseguir confiar em mim para fazer essas coisas estaria logo agora me dizendo para fazê-las mesmo assim. A menos que... essa fosse a sua despedida, afinal. Não quanto a um próximo reencontro, mas sim quanto a ele continuar tomando sempre das minhas mãos cada um dos meus problemas e resolvendo eles por mim. Então era isso, a partir daqui eu iria ter que aprender a depender mais de mim do que dele. É, eu acho que poderei fazer isso se afinal ele também estiver disposto a confiar mais em mim -e a me ensinar como igualmente fazer isso... agora, que eu voltei a ter algo que quero muito poder proteger com as minhas próprias mãos.

E foi tomado por aquela realização que eu terminei de contornar a carroça, não sabendo como, mas entendendo que eu não iria poder deixar de obedecer àquele seu último desejo mais até para o meu próprio bem do que para o dos outros. Me ajudando Damian então a subir rapidamente naquela carroça, segundos antes do estalar dos arreios nos camelos iludirem os meus sentidos mais uma vez com a iminência da nossa partida. No que eu me sentei entre ele e Saret, que se encontravam encostados cada um contra uma lateral da proteção, antes de notar a figura de Gale também recostado nela, mas no lado oposto ao nosso contra o assento do condutor, me encarando ele esse tempo todo com animosidade -ou seria para Damian aquele olhar? No que eu tentei não me importar com aquilo voltando então mais uma vez a minha inquieta atenção para a imagem de Ebraín, que parecia me olhar de longe com um certo pesar de despedida, mesmo que o frágil sorriso em sua feição me fizesse compreender o otimismo que ele agora também estava sentindo ao poder fazê-lo da maneira que ele estava podendo fazer -com a confiança de que não havia agora nada mais restando para ele precisar me ensinar.

Nisso, com um brusco balançar da carroça e o comando de seu condutor ela finalmente começou a andar! Gradualmente criando uma distância entre nós e a figura de Ebraín, que tentava nos acenar por uma última vez mesmo que pouco a pouco a sua imagem começasse a se misturar e se perder entre a das outras pessoas pelas quais íamos lentamente passando quanto mais perto dos portões chegávamos. Em um momento que nos engoliu com puro silêncio, ao que quanto mais nos afastávamos daquele movimento, dos guardas que não sabiam que não podiam estar nos ignorado, da imagem do assistente do condutor que ficou pelo caminho, daqueles grossos arcos escuros que contornavam nossa passagem, e da nossa capacidade de distinguir os seus prédios e as suas pessoas, mais então a Citadela pareceu deixar de ser a completa extensão do mundo que queríamos para nós mesmos e mais ela passou a se tornar apenas uma figura, uma mancha, uma ilusão distante naquelas dunas que agora pareciam enterrar tudo dentro de si cada vez mais que o horizonte se fundia ao próprio chão pelo qual passávamos a percorrer. Nos isolando de tudo senão apenas do árido amarelo da areia que era levantada pelos cascos daqueles camelos, e o azul infinito do mar dos desertos que nos pressionavam um contra o outro como se nada mais houvesse ao nosso redor senão aquele estranho sentimento de separação e o ranger das velhas rodas que nos carregavam cada vez mais para longe, e para longe. Até nada nada mais restar para preencher a nossa atenção senão a mera companhia que tínhamos uns dos outros... e o claro desgosto que cada um estava sentindo a respeito daquilo.

Não foi então de se admirar que, mesmo com a demorada passagem de tempo entre o subir e o descer das dunas, qualquer palavra sequer tivesse sido trocada entre nós 4 -ao que nem mesmo olhares nós parecíamos querer muito também dividir. Nos entediando solitariamente cada um em seu próprio canto, ao que com a passagem de tempo e o sol forte de um "selai na nibir" nós acabamos usando os próprios tapetes sobre os quais sentávamos para tentar nos protegermos do intenso e constante sol. Especialmente Saret e Gale, que não pareciam serem muito resistentes àquele forte clima diferente de mim ou Damian.
Se mantendo as coisas daquela maneira mesmo quando então a carroça enfim parou em um Oásis para o próprio mercador descansar brevemente junto aos seus camelos, no que cada um de nós -senão Gale- recusou o convite para também descer. Pulando apenas ele prontamente para fora dali já que talvez continuar na companhia de Damian fosse muito mais desafiador para ele, do que ter que fingir algum bom humor sob a sombra daquelas palmeiras e os assuntos casuais de uma pessoa que sequer conhecíamos direito.

Tendo sido porém no seguir da viagem que eu pude perceber Saret se revelar como a mais reclusa dentre todos nós, não expressando ela qualquer mudança em sua apática feição ou interesse senão quando a fome e a sede enfim passavam a incomodá-la e ela tinha que revirar aquelas bolsas de couro que criavam uma barreira entre ela e Gale, prontamente porcionando de forma organizada cada pequena coisa para oferecer para Damian -e indiretamente para mim. Ao que às vezes ela também jogava alguma coisa para Gale sem olhar porém de volta para confirmar se ele havia pego ou não, já que o maior contato que eu acho que ela pretendia ter com ele seria esse. Afinal, com o tempo de sobra que estávamos tendo para agora pensar em tudo que aconteceu, eu imaginava que Saret enfim conseguira chegar às suas próprias conclusões acerca da responsabilidade de Gale por trás do incêndio e do que acontecera com Minka. Ao que igualmente na mesma proporção em que a sua tolerância com ele pareceu se encurtar, a sua afinidade por Damian pareceu aumentar fazendo-o em resposta ter uma expressão muito mais relaxada do que ele antes também estava tendo, desde que escolheu nos acompanhar até um lugar que possivelmente iria endemonizar a sua presença. Ou pelo menos era isso que eu podia perceber quietamente durante o sacudir da carroça até enfim o sono me alcançar, e meu corpo perder de vez o resto de suas forças graças ao calor insuportável que fazia embaixo dos tapetes. Apagando sob eles, como se em um ato de misericórdia de minha mente no que eu não duvido que Saret e Gale também acabaram fazendo o mesmo em algum momento -afinal, qual de nós 3 havia de fato dormido desde ontem?

Quando então eu acordei já era de noite, e a escuridão mal me permitia ver muito senão o brilho de uma lamparina presa na armação da carroça ao lado do mercador, assim como o brilho dos brincos de Gale reluzindo em sua fraca luz. Não demorando com isso a acostumar os meus olhos ao breu, até que por fim eu pudesse perceber pela sua silhueta a sua cabeça ainda deitada, imóvel, sobre uma das bolsas de couro. Diferente de Saret porém que eu podia sentir também ter acordado graças a sensação de suas mãos recolhendo um dos cantis de couro e pressionando-o contra a sua boca para lentamente beber o que restara ali dentro. Enquanto que Damian, por sua vez, parecia ter se recostado sobre o meu ombro, me pegando totalmente desprevinido quando enfim eu notei a sua completa falta de resguardos ao se permitir ter pego no sono bem ali sobre mim!
"I-isso realmente não combina com ele, mas... até que não é ruim. E a sua respiração está tão calma que isso nem está parecendo ser real..."
Tomado então por uma estranha sensação reconfortante que a escuridão velava gentilmente, eu voltei a me aninhar sobre ele sem temer que alguém tivesse como nos ver, repousando uma de minhas mãos sobre a sua e entrelaçando os nossos dedos sem mais medo nenhum. Encantado, e enfeitiçado pela solidão que não mais eu tinha o direito de sentir mesmo que cruzar os desertos pudesse sempre me preencher com uma desagradável desesperança que desde tão cedo eu aprendi a ter que suportar. Não, dessa vez estava tudo bem. Porque dessa vez, eu estava exatamente na companhia de quem eu queria estar mesmo que todo o resto tivesse novamente ficado para trás.

E naquilo os segundos e os minutos foram tomando quietamente o seu tempo até que enfim luzes começaram a surgir mais afrente no horizonte! Uma, e então duas, e então mais... Inicialmente brilhando tão fragilmente quanto o fogo de tochas largadas em velhos acampamentos de camelos e cavalos, mas logo se tornando inconfundivelmente vívidas e brilhantes! Tanto quanto o amontoado de sons e de vida que gradualmente passaram a surgir mais afrente como um raio de esperança rompendo a completa escuridão! Ou talvez-... como um raio agradável de nostalgia?
"Que estranho... por quê essa visão me é tão familiar?"
Minha cabeça se inclinou para o lado -para fora da carroça- ao que finalmente eu me desencostei de Damian fazendo ele também despertar! Sentindo-o igualmente então se inclinar confuso sobre a proteção de madeira atrás de mim, para poder enxergar melhor aquilo que provavelmente viria a ser a nossa estadia dali em diante -Nahalt.




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