Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 128
Prioridades


Notas iniciais do capítulo

Hey hooo pessoal!! ☆*:.。.o(≧▽≦)o.。.:*☆
Vocês conseguem adivinhar que dia mágico é hoje!? Ein? Ein!? \(〇_o)/ Hoje é o aniversário de 4 anos de Black Desert!! Yaaaay! \(≧▽≦)/ (Mas kudos para quem também chutou dia das crianças, aliás, parabéns para todos aqui que são crianças de coração como eu. Porque idade não significa nada na hora de ganhar presentes, hu3hu3!) (ง ื▿ ื)ว
Então, hoje era pra ser aquele dia especial que eu apareceria com um super bolo para todos vocês! ( ’ω’)旦~ Mas a pandemia (e o fato de que não sei onde moram, ahem) não me permitiria fazer uma festa assim, né? ( ╯°□°)╯ ┻━━┻ ... Não que K.K. se importe muito também, mas "pandemia" está sendo a desculpa mais fácil do ano para tudo e eu vou gastá-la até não dar mais! (É que nem culpar a "internet" e o "aquecimento global", ninguém te retruca e ainda soa como uma referência aos Padrinhos Mágicos!)
( ˘ ɜ˘) ♬♪♫

Mas então gente, brincadeiras a parte eu realmente estava planejando fazer uma bela ilustração de comemoração hoje! ___〆(・∀・) Só que K.K. tem um péssimo senso temporal com feriados e nessa eu acabei achando que dava tempo de fazer uma outra ilustração divertida primeiro (sqn). (・・;)ゞ Então eu só quero avisar que ainda pretendo fazer algo maneirinho para comemorar o dia de hoje, mas acabará ficando para um capítulo futuro. ( ̄ω ̄;)
E para honrar por fim esse dia, ouso dizer que BD ganhou sua 30º favoritada hoje!! Yay! Talvez pareça pouca coisa, mas o coração de K.K. é flexível e eu não ligo, 30 pessoas é bastante alegria para mim contanto que vocês também continuem felizes com o conteúdo! ♡ ~('▽^人)
Então é isso... Encham alguns balões, tirem aquele pedaço de torta que está na geladeira há 15 dias para comer, e curtam o capítulo de hoje que K.K. fez com todo o amor e hype do mundo! (─‿‿─)♡ Uma boa leitura para vocês, gente que eu adoro, e nos vemos na próxima!! K.K. out! °˖✧◝(⁰▿⁰)◜✧˖°



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— "'Homem morto'... Humph, que nome mais convidativo."

Minha boca pareceu falar sozinha em deboche enquanto que meus olhos espiavam o precipício atrás de nós evitando porém me mover muito e correr o risco de ouvir o ranger das tábuas de madeiras sob os meus pés -por quê tudo ali embaixo era tão convidativo assim à ideia de que estávamos arriscando nossas vidas?
Ao que, ignorante porém ao meu sarcasmo, Ebraín apenas continuou a pacientemente nos explicar.

— "Essa taberna é uma das melhores tabernas no buraco (e a única em que podemos entrar) justamente por estar bem próxima ao topo e ao acesso da entrega de recursos. E claro, dentro da 'zona azul'."
— "Zona azul... Agora que você disse, aqueles guardas mencionaram isso..."
— "Sim, Yura. Talvez vocês tenham notado quando entramos que havia uma numeração azul na parede. Cada quantidade de andares abaixo é identificada por uma numeração e cor de zona diferente, igual a um endereço. E como visitantes nós não podemos passar dessa primeira zona. Após ela os moradores começariam a se mostrar menos tolerantes com a nossa presença e não responderiam por nenhum crime contra nós."
— "Humph, e eu achando pelo nome dessa taberna que já estávamos em um lugar perigoso -mas pelo visto pode ficar pior..."
— "Pelo contrário Yura, talvez este seja o local mais seguro para nós estarmos. A Taberna do Homem Morto possui este nome apenas porque, incapazes de recuperar os corpos dos que caem no fundo do buraco, assim como encontrar um melhor espaço para velá-los, muitos dos moradores passaram então a criar o hábito de vir aqui honrar a memória de seus falecidos através de celebrações noturnas. Hoje em dia esse ritual é até mesmo visto como um ato simbólico para guiar a alma dos falecidos na direção das estrelas e eles não ficarem eternamente perdidos na escuridão das profundezas... pelo que me foi contado."

Ouvindo Ebraín dizer aquilo com uma certa nostalgia em suas palavras os meus olhos então se dirigiram para o cenário que havia além daquela entrada à nossa frente, onde por mais que esse ambiente pudesse ser tratado como um lugar de celebração, poucas pessoas pareciam agora estar reclusamente bebendo quase como se a indiferença fosse mais comum a esse lugar do que as próprias comemorações. Me fazendo deixar então o ar escapar por um momento do meu peito, junto a um comentário pouco agradável.

— "... Pela 'animação' deles então parece que ninguém morreu hoje?"
— "Possivelmente. Só não fique apontando essas coisas em voz alta Yura, as pessoas daqui se ofendem facilmente com a própria realidade -e principalmente com o fato de que não fazemos parte dela."

Ebraín me alertou aquilo ao que, juntos, nós 4 então adentramos naquela velha e simples taberna sem mais querermos protestar ante o incômodo frio noturno que era ainda mais acentuado pelas paredes geladas ao nosso redor, seguindo dessa forma sua liderança e incontestável certeza de que podíamos entrar ali sem medo, mesmo que independente de nossos breves e quietos passos, os olhares de julgamento daqueles que ainda tinham alguma consciência restando entre os goles de álcool pareciam constantemente nos acompanhar de forma hostil. Quase como uma intimidadora recepção que apenas terminou quando enfim chegamos na outra ponta daquele modesto salão e a figura de um homem grande e barbudo vindo de uma porta dos fundos, vestindo um sujo avental, finalmente nos interrompeu com os seus braços se cruzando de uma forma defensiva enquanto nos analisando cautelosamente através de seus olhos espichados.

— "Posso ajudá-los?"
— "Geva, já faz um tempo. Como andam os negócios?"

Ebraín então se prostrou entre ele e o resto de nós, tomando a atenção do homem toda para si como se não o temesse.

— "Você... Acho que me recordo de você, você era aquele homem-... o alquimista, correto?"
— "Correto, eu vim com Sal para tratar dos doentes no último surto de febre que houve aqui."
— "Ah sim, eu me recordo de você. As pessoas não aceitaram muito naquele dia Sal trazendo acompanhantes mas, eu não vou negar, juntos vocês conseguiram fazer muito mais do que sequer poderíamos ter esperado."
— "Fico feliz por poder ter sido útil. Mesmo que nem todos tenham aceitado a nossa ajuda."
— "Bem, você sabe como funciona o orgulho dessas pessoas. Não importa o que digamos, eles não se consideram mais parte das coisas que acontecem lá em cima e acham que por isso vocês também não devem se sentir parte do que acontece aqui embaixo. Só que honestamente? Eu prefiro continuar tendo Sal à nossa disposição ao invés de incontáveis celebrações em um único dia na minha taberna -afinal, eles ainda são a minha gente."
— "Certamente eu também prefiro por isso."
— "Então me diga. O que o trás aqui hoje? Não me recordo de ter lhe chamado... e quem são estes atrás de você?"
— "Bem, estes são Saret e Yura, dois de meus protegidos e feiticeiros d'água -alunos de Sal. E o outro é um... protegido temporário, na falta de melhores palavras. Geva, estes dois rapazes estão precisando de um lugar seguro para passar a noite, e mantê-los na superfície não está sendo uma opção no momento."
— "Então você veio pedir por guarita."
— "Apenas estou pedindo o retorno de um favor. Afinal, Sal fez e ainda faz muito por todos vocês aqui."
— "E imagino que proteger eles por essa noite será visto como o retorno de um favor para ela?"
— "Sal arriscou a própria vida para que eles pudessem chegar até aqui vivos. Ajudá-los a continuarem assim será mais do que um favor."
— "Certo, então está tudo bem. Eu não vou perguntar do que vocês estão fugindo mas de fato o buraco deve muito à você e ela. E se eu puder pagar um pouco dessa dívida, fiquem à vontade. Eu tenho alguns quartos lá nos fundos que vocês poderão usar e posso prometer que ninguém irá fazer nada contra os meus convidados, contanto que eles respeitem nossas regras. Porém... isso será apenas por uma noite."
— "Está ótimo, tudo que preciso é a garantia de uma noite segura para conseguir arrumar a partida deles para outra cidade amanhã de manhã."
— "Obrigado por entender Ebraín. Por mim vocês até poderiam ficar por mais noites, mas eu não sou o único com o poder de decidir as coisas aqui embaixo."
— "É claro, eu entendo a sua posição Geva."

Ouvindo aquilo o grande homem de cabelos castanhos então balançou a sua cabeça fazendo com que automaticamente todos os olhares vindos dos outros clientes simplesmente se dissipassem na azulada escuridão da taberna, onde apenas fracas luzes vindas do fogo de fora e de uma outra pira mais ao fundo se refletiam pelas paredes geladas, perdendo estas todo o vívido calor de suas cores. E mal iluminando aquela fria claridade as mesas e cadeiras feitas de madeira escura apodrecida, que meu nariz facilmente podia perceber, mas não aparentemente os moradores que pareciam satisfeitos demais com o pouco que ainda conseguiam ter para sequer se importarem.
Possivelmente nenhuma madeira era capaz de resistir por muito tempo nesse lugar graças à umidade retida no ar pelas pedras que envolviam tanto o balcão nos fundos quanto as estantes e os barris que guardavam as bebidas organizadamente dispostas como um chamariz aos olhos. Parecendo todas aquelas rochas brilharem constantemente com a dança das chamas próximas, não talvez porque a luz do sol não chegasse até elas bem o suficiente para evaporar a umidade retida no salão, mas sim porque eu podia jurar haver um pequeno lençol freático por trás destas mesmas paredes nos cercando, e me sufocando os sentidos desde que entramos aqui.

O que não impediu Saret porém de se mover com completa indiferença junto à Ebraín até o balcão nos fundos, me forçando a segui-los junto de Gale, não importasse o quanto tamanha quantidade de água fosse capaz de mentalmente me estrangular no processo -eu não era acostumado a ambientes úmidos, definitivamente não era. Ao que Ebraín e Saret então se sentaram em dois bancos velhos e estofados como se incapazes de esconder o seu desejo de descansar um pouco, diferente porém de Gale e eu que, por motivos talvez diferentes, não conseguíamos relaxar mesmo que pudéssemos agora nos dar a esse luxo.

— "Está tudo acertado então com Geva, rapazes. Vocês dois vão para os quartos e fiquem lá enquanto eu levo Saret para a Clínica. Assim que voltar eu começarei a arrumar as coisas para a sua partida Yura, e... nesse meio tempo, espero que vocês apenas se mantenham quietos em seus quartos."
— "Na verdade eu não vou ficar. Se for para eu também sair da cidade com ele, preciso resolver algumas coisas antes."

A voz de Gale subitamente interrompeu Ebraín com uma sucintez que fez tanto ele quanto eu reagirmos surpresos!
"Espera, como assim!?"
Eu o olhei alarmado, mas à medida que Gale me ignorava e continuava encarando Ebraín e Saret com uma expressão decidida, mais então Ebraín percebeu que apenas ele poderia ganhar o direito de questioná-lo a respeito daquela sua arbitrária decisão.

— "Eu não me recordo de dizer que você iria junto de Yura."
— "Heh, mas você está considerando, não é, velho alquimista?"
— "Humph, a única coisa que eu estou 'considerando' no momento são as garantias à minha disposição para conseguir tirar Yura daqui em segurança."
— "E depois disso o quê, você vai me entregar para a Oráculo? Não precisa continuar escondendo o jogo, aquele Skrea não está mais aqui. Eu sei que você também vai tentar me tirar do radar deles por achar que eu sou um Vessel."
— "Tsc, certo... eu de fato também estive pensando a respeito de tirá-lo daqui com ele, havendo a oportunidade. Isso é, se nada der errado até lá."
— "Ótimo. Então até amanhecer eu vou usar o meu tempo como preferir. Imagino que não tenha mais ninguém aqui que irá tentar me impedir de fazer isso, certo?"
— "Não seja ridículo! Você acha mesmo que eu vou te permitir sair por aquela porta!? O que me garante que você irá retornar depois!"
— "Nada, realmente... mas se eu estivesse planejando fugir eu já o teria feito a esse ponto, com o tanto de chances que você facilmente me deu durante o dia -ou você acha que eu realmente ia continuar me comportando só porque Yura estava comigo? Só que eu ainda não consegui ter uma ideia melhor do que a sua sobre como continuar longe daqueles dois pelos próximos dias, então... eu dou a minha palavra de que pretendo continuar seguindo com o seu plano até onde ele também puder me ajudar."
— "Certo, então pretenda 'seguir com o meu plano' permanecendo aqui! Porque eu não vou ter como te proteger uma vez que você saia por essa porta!"
— "Heh, 'me proteger'? Certeza que foi isso que você quis dizer? Não importa, eu já sei que não posso morrer antes de você ter a chance amanhã de me sacrificar por ele, então eu vou ser cuidadoso até lá."
— "...!"

Ante o culposo silêncio com o qual Ebraín se engasgou, Gale então com um sorriso perverso finalmente se voltou para a minha direção parecendo admirar quão fácil a verdade conseguia parecer aos seus olhos. No que eu, por outro lado, não podia -e não iria- aceitar voltar a participar desse assunto! Cobrindo o meu rosto ainda mais com o meu manto e virando a minha cabeça para o outro lado em uma tentativa de me esconder do desagradável dilema a respeito das nossas duas presenças juntas. Não sendo Gale porém aquele que iria se calar diante disso, afagando com uma de suas mãos a minha cabeça e continuando a falar como se pouco estivesse lhe importando tratar de frente aquele assunto.

— "O quê, vocês realmente acham que eu estou ofendido pela ideia de ser usado para manter alguém que eu goste vivo? Não, por quê eu ficaria? Especialmente quando eu estive fazendo o mesmo com ele durante essas últimas horas..."
— "Ora, seu-...!"
— "Só que diferente de vocês eu preciso pensar um pouco mais sobre as consequências em participar desse plano. Afinal, seria muito egoísta da minha parte eu também ficar aqui esquecendo que continuo sendo o responsável por uma gangue inteira de pessoas que sempre reagem mal à falta de notícias minhas, não concorda?"
— "Ghh-...! Você... Você é mesmo impertinente!"
— "É o que eu escuto às vezes. Mas você não pode negar que a última coisa que você vai querer ter que fazer depois que partirmos será lidar com os meus homens causando problemas para quem permanecer por aqui."
— "Tsc, a sua gangue sequer deveria de existir nessa cidade se você realmente estivesse se importando com quem vive dentro dela!"
— "Hehe, certo, você me pegou. Eu vou ser então mais direto... se eu sumir dessa cidade sem aviso não faltarão pessoas para liderar a BlackHole no meu lugar, e eu posso te garantir que muitos desses são capazes de coisas que eu não sou. Então é você que sabe, ou você aceita arriscar a segurança dos seus dois Vessels confiando que eu estarei de volta assim que amanhecer, ou você aceita arriscar a segurança de muito mais pessoas em troca de me forçar a ficar aqui -eu vou deixar você decidir essa."
— "Humph."

Ebraín se calou, parecendo pouco tolerante à ousadia no tom de Gale ao desafiá-lo a continuar mantendo-o ali. Encarando um ao outro em silêncio com pouca amabilidade, no que eu e Saret em uma desajeitada e preocupada troca de olhares nos vimos responsáveis em cortar aquele impasse. Tentando ela falar algo primeiro, no que eu porém a cortei, expressando mais agilmente a única certeza que no momento eu tinha!

— "Eu não acho que Gale está blefando Ebraín."
— "Yura, não se meta-...!"
— "Ele nunca arriscaria a própria vida, especialmente atoa! Então se ele está insistindo que precisa sair é porque não tem outro jeito!"
— "Isso também se trata da sua segurança Yura!"
— "E a sua e a de Sal!? E Saret e as meninas, a cidade inteira!? Vocês vão continuar aqui, e-... os Skreas podem não te preocupar uma vez que estejamos longe, mas a BlackHole sempre irá ser uma preocupação! Ou você não se importa de termos um segundo incidente como o que aconteceu com a SevenRoses...!?"
— "!!..."
— "Ebraín, deixe que Gale faça as coisas do modo dele. Eu não confio nele para proteger as pessoas nessa cidade mas, eu sei que Gale é capaz de proteger a sua vida e os seus interesses com tudo que ele tem... e, se até hoje a BlackHole não incitou uma nova guerra civil, é porque impedi-la de fazer isso também é do interesse dele (mesmo eu tendo as minhas dúvidas)!"
— "Humph, você coloca fé demais nele... porém você compreende que se essa for apenas uma artimanha dele e ele não retornar, você se tornará o alvo principal do que quer que possa acontecer de errado amanhã, não?"

Ao ouvir aquilo eu então pausei por um instante com o meu interesse de retrucar Ebraín e abaixei a minha cabeça pensativo, sabendo que aquela minha afirmação não podia ser tomada com a leveza que eu desejava. Sentindo de repente a mão de Gale então pousar sobre o meu ombro e seus olhos se fixarem nos meus, com uma seriedade incontestável. Uma seriedade que não tinha qualquer conforto em sua própria existência mais do que o medo em si de ter que fazer algo que até mesmo ele estava considerando como arriscado -independente de ser necessário. E foi ali que eu tive a minha confirmação de que Gale ia sim voltar, afinal ele claramente estava tomando aquela decisão por um sentimento de obrigação -e não por vontade própria.
Diante daquilo eu balancei a minha cabeça para Gale em afirmação, fazendo ele igualmente me balançar a sua e me dando em troca um sorriso empático que me estimulou a responder Ebraín com ainda mais certeza!

— "Ninguém vai poder garantir a nossa segurança enquanto estivermos aqui dentro Ebraín, então sim. Eu estou disposto a correr esse risco e deixá-lo ir... porque eu SEI que ele vai estar de volta quando amanhecer -afinal nós ainda somos a melhor chance dele."
— "Humph..."

Ebraín então soltou um grunhido ranzinza em resposta e fechou os seus olhos de forma pensativa, como se muito reticente em ainda ceder às minhas palavras, ao que porém a sua cabeça, do nada, balançou uma única e breve vez finalmente acordando.

— "Tudo bem, que seja então... mas não se esqueça Gale, se você não estiver de volta nessa taberna assim que amanhecer eu não irei me responsabilizar mais pelo que vá acontecer com você. Conseguindo eu levar ou não Yura para fora dessa cidade, você voltará a ficar por conta própria."
— "Hehe, eu não vou me esquecer disso."
— "... Não façam eu me arrepender de estar dando ouvidos a vocês dois."

Ouvindo aquela confirmação como se o tempo não estivesse à sua disposição, Gale então sorriu de forma bem humorada para Ebraín e rapidamente caminhou para fora da taberna em direção à saída do buraco. Totalmente indiferente ao fato de que Saret e Ebraín fariam o mesmo logo após ele, me fazendo cogitar que, provavelmente, a nova localização da base da BlackHole estivesse bem mais distante dessa vez para ele poder se dar ao trabalho de esperá-los.
"Tenha cuidado Gale."
Eu pensei comigo mesmo, logo me despedindo dos outros com um simples acenar de cabeças ao que eles também sairam logo após, me fazendo, enfim, perceber que eu estava sem nada mais para fazer senão apenas seguir as instruções que recebi e ir até o meu quarto aguardá-los voltar. Sendo gentilmente acompanhado por Geva, que se deu ao trabalho de me levar até os fundos da taberna onde além da cozinha e do estoque havia um singelo corredor com algumas portas fechadas em fileira adentrando ainda mais na sólida rocha sedimentar através de simples quartos com duas camas cada e não muito mais do que um velho apoio de madeira para se colocar os pertences, além de claro uma discreta tocha na parede que Geva pessoalmente acendeu para mim, mais talvez porque o frio fosse constante ali dentro do que por ele acreditar que o breu seria incômodo aos meus olhos.

— "Use esse primeiro quarto, e se precisar de um banho a última porta dá para um banheiro. Aqui na zona azul nossas instalações estão ligadas aos canos da própria cidade, então não precisa se preocupar com a qualidade da água. Ela chega limpa."

Geva me comentou aquilo me dando a chave da porta enquanto que seus olhos não paravam de encarar o estado encardido das minhas roupas. O que eu, por outro lado, não conseguia fazer em troca com sua figura já que a baixa iluminação vinda de algumas tochas acesas pelo caminho mal conseguiam juntas servir para eu ver por onde estava andando -será que eu iria me acostumar àquela pouca iluminação? Sendo assim ele acenou para mim se despedindo e fechando a porta como se eu não fosse mais problema seu. Não pretendendo eu igualmente fazer muito mais do que ser esquecido ali dentro enquanto esperava, decidindo por fim tirar o manto sujo de areia de cima do meu corpo e me jogar de uma vez sobre aquela cama de estrado como se meu corpo não aguentasse mais ficar em pé!

Mesmo que eu tivesse conseguido relaxar um pouco de tarde, na casa de Ebraín, eu sequer cheguei a sentar de fato ou descansar o meu corpo dessa forma... a tensão de ter Damian e Gale em um mesmo cômodo que Sal e Ebraín havia sido grande o suficiente para que eu sequer me permitisse naquela hora descansar de verdade. E depois de ter tido que fugir por aquelas ruas de fundo o meu corpo certamente não estava mais se aguentando direito. Meus músculos pareciam duros, minhas pernas latejavam como se eu tivesse ficado em pé um dia inteiro, minha pele ainda sensível pelo fogo  raspava no tecido grosso que cobria o estrado com um desconforto que apenas o meu cansaço poderia ter sido capaz de ignorar. E meus olhos, acima de todas as outras sensações, pesavam mais do que a importância dos meus próprios pensamentos no momento.

Foi assim que eu acabei dormindo sem me dar conta, inconsciente à própria exaustão que até ali eu estive escondendo até mesmo de mim. Totalmente liberto enfim do medo, do suspense de estar fugindo pela cidade durante um dia inteiro enquanto só absorvendo a morte das pessoas ao meu redor que eu não pude parar para conseguir impedir... eu não pude parar.
"Mas será que eu sou culpado por não ter feito nada? Culpado por cada uma delas também?"
Aquela dúvida ecoou no vazio do meu próprio inconsciente enquanto eu me sentia flutuar na escuridão. Ausente de qualquer outro sentimento senão a certeza de que eu não estava ainda morto. Não ainda. Mesmo com tantos gritos ao longe... gritos que se aproximavam. E o som do fogo, as labaredas pareciam próximas mas eu não queria abrir meus olhos. Eu não ousaria, mesmo sabendo que estava entre elas porque eu não me sentia queimar. E como eu poderia, se os gritos de vozes em meio ao fogo não vinham de mim? Eu estava bem. Eu estava seguro. Mesmo que ninguém mais ao meu redor parecesse estar.

— "*snif* Saret-...!!"

Meus olhos então se abriram com aquela voz que pareceu estrangular o meu peito subitamente! Minka!? Eu podia ouvi-la! Eu conseguia ouvir seus gritos enquanto o fogo a devorava! De novo!?
"Não, de novo não...!"
Eu segurei a minha cabeça espantado diante da cena de seu pequeno corpo desaparecendo na incandescência ao meu redor! Era tão difícil enxergar, mas eu não conseguia fechar novamente os meus olhos!! Tudo que eu conseguia fazer era gritar para que parasse! Para que todas aquelas pessoas ao meu redor caminhando na direção do fogo parassem!!

— "Não!! Não façam isso!! Vocês vão morrer!!"

Eu tentava gritar mas ninguém me ouvia, nenhum deles me ouvia! E apenas continuavam caminhando na direção daquele fogo como se ele não estivesse ali! Atraídos por suas cores e ignorantes aos gritos de dor das outras pessoas que continuavam entrando dentro dele, uma por uma... Saret, Ebraín, Sal, Gale, Sáshia, m-mãe...!?

— "Mãe? Mãe... De novo não!!"

Minhas mãos então tentaram se esticar e de repente eu pude sentir o meu corpo livre-... Meu corpo! Eu tentei correr para segurar a mão dela enquanto ela se virava na minha direção, sorrindo. Sorrindo da mesma forma que eu lembrava que ela fazia, e que ela fez quando mandou a minha irmã nos levar para longe... para bem longe, enquanto o fogo se alastrava pela nossa tenda e ela continuava tentando apagá-lo...

— "Não mãe, não!! Não faça isso, você vai morrer!! E-eu... eu não quero te perder de novo! Eles querem nos separar para me pegar! Não faça isso de novo-...!"

Eu tentei gritar por ela segurando-a com força, mas quanto mais eu tentava puxá-la para trás, mais eu percebia que eu era quem estava sendo puxado para frente... E ali foi que então eu comecei a sentir a fumaça, o calor se aproximando cada vez mais. Assim como o grito de cada uma daquelas pessoas que entravam tão pacificamente dentro das chamas, e sumindo em sua incandescência!
"Não, eu não quero morrer... eu não quero morrer assim também!!"
De repente dois braços então me seguraram por trás me puxando com força para fora do alcance de minha mãe! Daquele fogo! Mãos que me envolveram de tal maneira que eu não tinha como me soltar delas, ao que então pude sentir um rosto se apoiar sobre meu ombro e me dizer em um tom mais firme do que o barulho das chamas bravejando diante de mim-...!

— "Você não vai morrer."

Damian... Era a voz dele. As mãos dele. O corpo dele que me abraçava por trás e me levava para longe daquele fogo, daquele desespero, do perigo...
"Damian, mesmo sem mais ninguém ao meu lado, mesmo se eu não tiver mais nada, se pelo menos você estiver comigo, eu acho que consigo-...!"
De repente pude sentir então suas mãos me soltando, e enfim o meu corpo conseguindo voltar a se mexer antes que minhas lágrimas fossem capazes de escapar sem o meu controle. Tremendo com uma alegria imprópria de poder me virar, e vê-lo-...!

— "V-você!??"

Eu então gritei horrorizado, ao que, ao invés de sua reconfortante figura, a única pessoa que estava ali comigo era a Oráculo. Coberta de sangue e sorrindo cruelmente para mim enquanto empunhando sua adaga totalmente vermelha.
"O-onde... Onde ele está-...? Onde!? V-você fez algo com ele... você o machucou...!? Você-...!"

— "O QUÊ VOCÊ FEZ COM ELE-...!!? Ah?"

Eu levantei subitamente da cama, assustado, sentindo o suor escorrendo da minha testa e sem entender exatamente o que estava acontecendo até que finalmente as memórias conseguiram me voltar um pouco.
"Haah... um pesadelo?"
Minha mente ainda parecia confusa, mas não mais o suficiente para eu ter a certeza de que nada daquilo fora real. Quero dizer... pelo menos não a maior parte eu acho.

— "Haah... Eu não acredito nisso. Mas que tipo de sonho afinal foi esse?"

Meu coração batia ainda acelerado enquanto eu tentava resumir os meus próprios pensamentos. A imagem de cada um morrendo, minha mãe, Damian-...
"Damian. Será que afinal de contas ele está bem?"
Eu pude sentir o meu peito agonizar com o mero fato de não ter aquela certeza, mesmo que até então eu não tivesse parado muito para pensar a respeito disso. Afinal ele era um Skrea superior, ele já havia me dito que não se encrencaria contra Skreas de patentes menores mas-... mas e se ele se encrencar por ter nos ajudado a fugir? Será que ele poderia ser acusado disso? Será que ele chegou a ser capturado? Será que ele seria punido por isso? E será que a Oráculo poderia usar qualquer uma dessas coisas contra ele? Eu não sabia. E não saber estava começando a me inquietar justamente porque eu não me sentia capaz de ter como também descobrir nenhuma daquelas respostas agora, e especialmente, depois de sair dessa cidade e me isolar de qualquer contato com as pessoas daqui de dentro! 'Se pelo menos você estiver comigo'... mas você não vai mais estar.

Sendo assim eu não me vi mais capaz de voltar a dormir após aquela certeza me impregnar. Mesmo que meu corpo implorasse para que eu voltasse a deitar naquela cama dura, nem a minha mente e nem o meu peito pareciam aceitar que eu agisse com tamanha falsa despreocupação. Afinal eu não tinha controle sobre o que sentia por Damian, eu apenas sentia. E quanto mais eu tentava passar por cima disso como se não tivesse mais o direito de importar, mais essas coisas pareciam começar a se acumular dentro de mim, tomando uma forma impossível de realmente ser controlada! Isso, até eu enfim me ver desistindo da ideia de voltar a dormir e apenas tomar meu rumo para o banheiro na esperança de que um banho pudesse conseguir esfriar a minha cabeça de alguma maneira.
Me vendo porém sem a capacidade de fazer melhor do que apenas fingir que aquele pensamento não estava começando a me torturar quando, então, pouco tempo depois de retornar ao quarto, Ebraín e Saret me apareceram na porta demonstrando ambos uma grande expressão de desânimo.

 


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