Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 123
Encurralados




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Suas palavras não precisaram ir muito além, porque assim que Sal nos avisou, o abrupto som de muitos passos vindo de fora parando, e de uma mão batendo na porta da frente, fez então cada um de nós nos afastarmos dela em um sobressalto! Cientes do significado por trás de seu alerta, e do surgimento de uma eminente tensão que começou a contaminar o ar ao nosso redor, nos sufocando, até que as batidas de meu próprio coração não conseguiram mais se conter e minhas pernas começarem a tremer me obrigando a apoiar no encosto do sofá sem saber o que mais eu poderia fazer além daquilo -além de sentir medo!
"Não pode ser... eles de novo não...!!"

— "Estamos aqui em nome da Citadela para apreender os dois Vessels que fugiram do incêndio desta tarde, e esperamos -desta vez- ter a cooperação de todos os presentes para que as coisas terminem da forma mais civilizada possível. Se obedecerem, prometo que nenhum outro Humano será machucado no processo."
— "..."

Nenhum de nós respondeu àquela voz perniciosa. Nenhum de nós quis falar nada, nenhum de nós conseguiu... porque bem lá no fundo não havia uma pessoa sequer ali dentro que estivesse ainda disposta a considerar que talvez aquela não fosse a Oráculo. E que talvez ela não tivesse novamente conseguido nos encontrar por acidente.
"Acidente..."
Aquela palavra então repetiu na minha cabeça como se isso porém não soasse correto e eu soubesse muito bem daquilo. Soubesse, mas mesmo assim não quisesse admitir para não chegar na conclusão que Sal porém chegou antes de todos nós... sussurrando ela na nossa direção -e especialmente na direção de Damian!

— "É ela não é? É aquela Oráculo, VOCÊ que a trouxe até aqui!"
— "!... E-eu, eu não fiz-! Tsc, não era para ela ter descoberto esse lugar!"
— "Que tenha sido por acidente então, mas com certeza ela o seguiu até aqui!"
— "Não, não-... não tem como, se ela tivesse me seguido eu teria percebido! E eu nunca teria cometido o erro de vir até aqui se soubesse que ela-...!"
— "Mas cometeu, e por sua culpa agora ela nos encontrou!"

Sal disse aquilo com uma nocividade em sua voz que fez todos nós voltarmos os nossos olhares contra Damian em reação! No que sua a atenção então, em resposta, passou por cada um de nós até ela se voltar para a direção daquela porta, confuso, desorientado, sem saber ele o que mais fazer senão apenas se engasgar com o próprio ar que escapava de sua boca completamente isento de palavras que ainda pudessem tentar contradizer Sal! Parecendo ele ter até mesmo a sua firmeza -sempre tão sólida- desnorteada por aquela possibilidade, no que Damian claramente não pareceu conseguir acreditar no que estava acontecendo... mais até do que todos nós já não estávamos conseguindo.
E nisso, enquanto todos nós o julgávamos com nossas expressões sem sequer termos a intenção, a voz da Oráculo com maior impaciência voltou a nos recordar daquela realidade que não iria nos esperar assimilá-la para enfim tentar nos devorar!

— "Não finjam que não estão aí dentro, especialmente você Damian. Você sabe que dessa distância eu consigo claramente sentir a sua presença e a dos dois Vessels. Então nem pense em tentar alguma gracinha, porque eu posso ter prometido não fazer as suas ações chegarem até os ouvidos de seu pai, mas dificilmente estes 10 guardas irão concordar em fazer o mesmo caso você resolva desobedecer minhas ordens na frente deles!"
— "!..."
— "Agora seja um bom Skrea e abra essa porta. Eu sei que você deve estar um pouco confuso com tudo isso porque não foi o que combinamos, mas entenda... considerando o seu histórico eu concluí que iria ser melhor se dessa vez eu estivesse por perto, você sabe, para me garantir de que você não fará nada que me obrigue a ter que tomar uma atitude extremamente desnecessária para ambos os nossos interesses."
— "..."
— "Ainda sem resposta? Não me diga, minha presença o surpreendeu tanto que você perdeu até a fala? Ou será o pavor vindo desses Humanos... que está conseguindo te afetar? Não importa, faremos o seguinte então, eu lhe darei mais 5 minutos para você se recompor antes dessa porta ser arrombada. Mas esteja avisado, quando eu entrar por ela eu não irei esperar por nada menos do que a sua completa cooperação."

Eu olhei preocupado para Damian durante todas aquelas palavras que a Oráculo o esteve dizendo, e podia notar que ele sequer piscava. Ele sequer parecia estar pensando na realidade, ou sentindo qualquer coisa senão a falta do próprio chão sob seus pés -e eu podia perceber isso pela forma lenta como seu coração batia e o sangue de seu corpo se movimentava dentro dele, quase que letargicamente. Damian não estava calmo porém, -ele estava era completamente afogado em tensão- porque ao mesmo tempo que ele se distanciava de tudo, as suas pupilas em resposta tremiam sempre que a Oráculo entre pequenas pausas voltava a lhe dirigir a palavra -e no que cada vez aquilo acontecia, cada vez mais eu acho que entendia que a sua razão para fugir da realidade pudesse ser porque ele não queria olhar para mim enquanto ouvia aquela voz. Ele não queria olhar na direção da pessoa que ele sabia que iria morrer assim que aquela porta fosse aberta, porque acho que no fundo até mesmo eu já havia entendido que ele não iria ter como intervir dessa vez para me salvar. Não com toda aquela tensão percorrendo o seu corpo junto a um discreto traço de medo ofuscando o brilho de seus olhos. Medo, e a certeza de que a sua própria vida iria também estar em risco caso ele ousasse querer me proteger.

— "Yura."

De repente uma mão então pousou no meu ombro por trás, me fazendo perceber que não só Damian havia ficado disperso da realidade como eu também! Me virando surpreso e dando de cara com Gale, que em um balançar de seu rosto pareceu me indicar prestar atenção em Sal e Ebraín independente do quão desconcentrável a voz da Oráculo ao fundo pudesse continuar sendo -contando ela de forma bem audível para todos nós ouvirmos os minutos que iam se passando ante nossa coletiva falta de reação!
E foi ali que eu finalmente percebi, entre aqueles minutos que passavam tão lentamente quanto uma pedra que o vento tentava empurrar pelo deserto, o quanto que Sal e Ebraín -diferente do resto de nós- de fato não estavam tão dispostos assim a permitir que as coisas terminassem da forma que a Oráculo tanto queria que terminassem!

— "Sal, há realmente apenas 10 Skreas lá fora?"
— "... 11 contando com ela, sim."
— "O que você acha?"
— "Leve os garotos com você, eu posso cuidar disso."

Aquela troca de palavras estava acontecendo mais rapidamente do que meu raciocínio conseguia acompanhar ou do que minhas reações podiam conseguir tentar intervir! Mal podendo eu ligar algum daqueles pontos, antes da voz da Oráculo então me atordoar proclamando em alto e bom som a passagem já do 3º minuto! De repente o tempo simplesmente pareceu voltar a se acelerar e tudo começou a ficar ainda mais rápido, mais imediato, e ainda mais difícil de meus olhos conseguirem seguir no que todos ao meu redor de repente passaram a se mexer sem perder mais um instante sequer!

Logo, Ebraín prontamente foi então até o sofá onde Saret estava esticando os seus braços para ela em uma tentativa de ajudá-la a se levantar! No que Sal calmamente passou pelo meu outro lado se posicionando no meio daquela sala e ficando prostrada bem entre nós e a porta -ainda selada. Sendo que enquanto sua figura me distraía, Gale por outro lado sem qualquer dificuldade me largou ali contornando o sofá por trás para ajudar Ebraín a terminar de levantar Saret! Seu braço ainda podia estar ruim, mas ele não pensou duas vezes em oferecer à ela seu outro ombro para conseguirem o mais rápido possível seguir pela direção que Ebraín os estava ordenando com sua mão!

— "Saret, sigam para o laboratório!"

Nisso eu o vi então se voltar para a minha direção esticando a sua mão como se tentasse me chamar para vir junto! Porém enquanto eu via Gale, Saret e Ebraín se dirigindo para os fundos... e enquanto eu sabia que o certo seria apenas seguí-los porque estaríamos nos afastando do perigo...  ao mesmo tempo, -movido por um lado meu que eu ainda não compreendia bem o suficiente para saber como controlar- me permiti virar  o meu rosto para Damian e Sal, preocupado. Notando como ambos continuavam imóveis, ignorantes à toda nossa comoção enquanto que igualmente firmes, decididos, certos de que aquela fuga não dizia respeito a eles mais do que talvez aguardar a Oráculo terminar sua contagem pudesse agora dizer.

— "Damian...?"

Minha voz acabou então escapando sem que eu pudesse compreender por qual razão ele estava desistindo tão fácil assim de até mesmo uma oportunidade para fugir. Será que a mera sensação da Oráculo encurralando-o era o suficiente para eu o perder? Será que a voz dela o mandando obedecer era mesmo muito mais importante do que a minha tentando chamá-lo de volta?! Eu não sei se era realmente aquilo mas, eu sei que não importava o quanto eu o olhasse, o quanto eu puxasse a manga de seu casaco, seu braço, ou seu corpo para vir junto comigo, ele-... ele apenas não reagia. Ignorando todos aqueles meus gestos com uma fatalidade em seu olhar que profundamente se prendia àquela porta, até que então, com um único empurrão de seu braço, eu finalmente entendi que ele queria que eu partisse sem ele. Que eu apenas desistisse dele -como se fosse algo tão fácil assim de se fazer.

Eu pude sentir o meu rosto se encher de raiva, de insatisfação, de temor!
"Não, não me peça para fazer isso!!"
Os meus pés se firmaram no chão em resposta, determinado a ignorar até mesmo os seus olhos que ainda evitavam me notar insistindo em continuar do seu lado! Eu não ia sair dali, eu não ia abandonar nem ele e nem Sal daquela maneira! Afinal se eu era capaz de invadir um prédio em chamas para ajudar Saret, então com certeza eu não iria fazer menos pelas pessoas que me importavam de verdade! E especialmente, não por aquele que eu amava-... e mesmo que isso possa não ser amor de verdade, eu não preciso saber! Eu não preciso me reafirmar nisso para decidir também ficar! Afinal eu perdi Sáshia justamente por ter lhe dado ouvidos e deixado-a sozinha enquanto fugia! E esse erro, eu não vou cometer também com Damian!

Nisso, com a teimosia tornando os meus pés mais pesados que rochas presas ao chão eu ouvi então a voz de Ebraín tentando desesperadamente me chamar daquele corredor por uma última vez, dando ele alguns passos para trás em reticência, como se tentando não sair do alcance da minha visão antes de conseguir me convencer a vir junto dele!

— "Yura, venha logo!"
— "Não... Se eles ficarem, eu também vou ficar!"

Eu afirmei aquilo não temendo as consequências da minha escolha. Meu desejo de sobreviver àquela altura não estava sendo maior do que o meu desejo de garantir que eles dois também sobrevivessem... e nisso, sabendo que comigo ali Sal e Damian ao menos poderiam ter melhores chances contra a Oráculo, eu apenas ignorei a súplica de Ebraín ao que por sua vez ele não pôde mais também tardar em sumir por aquele corredor quando finalmente a contagem do 4º minuto fora enfim pronunciada!
E foi aí que -com a inevitável desistência dele e com o tempo já curto demais para poder continuar suportando as minhas insistências- Sal finalmente me ordenou, mesmo que o foco de seus olhos continuassem a se manter na porta à sua frente!

— "Pare de ser teimoso! Vá logo e deixe essa situação comigo, Yura!"
— "Não! Eu não vou deixar você aqui sozinha contra tantos Skreas, Sal! Se eu fizer isso eles com certeza vão te-...!"
— "Fique quieto e me escute ao menos dessa vez. Eu sei o que estou fazendo, mas você não está em condições de saber o que irá fazer quando esses Skreas entrarem por essa porta!"
— "É claro que eu sei o que vou fazer! Eu vou proteger você e Damian a todo custo mesmo que isso custe a minha vida!"

Eu a respondi quase que levantando a minha voz! Incerto se a Oráculo poderia ter me ouvido do outro lado daquela grossa porta, e sequer me importando com isso a essa altura! Só que ao invés de ter sido Sal a pessoa que reagiu alarmada àquela minha resposta, Damian fora quem na verdade acabou voltando o seu rosto para minha direção um tanto surpreso! Talvez não porque aquela minha atitude fosse alguma novidade para ele, mas acho que porque enfim aquilo que eu disse o fez se lembrar de que ele não podia simplesmente se afastar da realidade me largando no controle das minhas próprias decisões! E com aquilo foi que eu enfim voltei a estremecer ante a gravidade com a qual seus olhos me fitaram em resposta -mesmo que, igualmente, ver a sua tenacidade voltando também pudesse me fazer sentir algum reconforto!

— "Eu te proíbo de fazer isso."

Sem me dizer muito mais seus braços então me agarraram e ele começou a me puxar à força pela sala até o corredor dos fundos, exatamente como havia feito naquele prédio em chamas quando ele começou a desabar! No que quase como se eu me sentisse dentro de um déjà vu, meu corpo então começou a se debater em resposta enquanto que meus olhos agora brigavam para conseguir olhar por sobre o seu ombro novamente, mas dessa vez, para conseguir ver a figura de Sal sendo deixada para trás por nós dois!
"Espera, não! Eu não quero ter que fazer isso de novo!"

Mas não importava, quanto mais eu tentasse resistir à força de Damian, mais ele e Sal pareciam determinados a fazer as coisas da forma deles. Pois enquanto Damian me carregava para longe, Sal por outro lado apenas ajeitara a sua postura em uma posição de ataque sem dar a menor atenção para nós dois -possivelmente porque ela estava mais do que determinada a enfrentar por todos nós aquela complicada batalha, sozinha! S-só que ela não tem como conseguir! Quase uma dúzia de Skreas!? Eu mal consigo lidar com 3 ao mesmo tempo! Isso é suicídio! E eu podia ver que ela também sabia disso, mas que mesmo assim sequer parecia ter uma sombra de dúvida sobre o que estava fazendo em seu olhar. E-ela... ela queria fazer aquilo. Ela sabia no que iria dar e mesmo assim... mesmo assim ela-... ela nos amava. Nos amava demais para não ter dúvidas sobre querer usar a sua própria vida para nos proteger.
"Sal... Me desculpe por ter sido tão difícil com você, mas é porque eu nunca tinha me dado conta. Me dado conta de que-... você se tornou para mim a mãe que eu não queria ter que perder novamente!"

— "SAL!!"

Meu braço como uma última súplica se esticou então em sua direção enquanto que a escuridão do corredor gradualmente ocultava do meu alcance a sua figura! Perdendo-a de vista em pouco tempo, no que meus passos desistentes eram novamente engolidos pelo ritmo determinado de Damian que não pretendia me deixar desistir de sobreviver, mesmo que para isso ele tivesse que fazer o mesmo! E assim ele seguiu por aquele corredor às pressas, percebendo com facilidade a última porta do corredor aberta e a sombra de Ebraín sendo projetada para fora dela como um indicador de que o laboratório estava bem adiante!

Foi assim que todos nós acabamos novamente nos reunindo a tempo dentro daquela pequena sala cheia de plantas, frascos, armários e soluções de milhões de cores distintas. Coisas essas que meus olhos já estavam acostumados a ver sempre, senão pelo inusitado tapete chutado próximo ao pé de Ebraín e um-... buraco no chão!? Ou melhor, um velho alçapão com sua porta de madeira completamente escancarada!
"Mas de onde isso veio!?"

Nisso foi que então eu pude notar descendo às pressas por uma precária escada de madeira que se apoiava contra o buraco, Gale, que igualmente se esforçava em manter seu equilíbrio enquanto Saret se segurava nele por trás com bastante dificuldade -possivelmente porque ele era o único além de Damian com força para aguentá-la, e porque com suas mãos feridas ela não iria sozinha conseguir fazer aquela descida! Sendo que mesmo que a expressão de dor em Gale fosse nítida pelo seu braço ainda ruim, igualmente sua determinação em fugir para sobreviver parecia fazê-lo apenas engolir suas dificuldades enquanto que descendo agilmente para dentro de uma escuridão desconhecida sem aguardar por ninguém! E desaparecendo eles dois buraco adentro, antes que Ebraín apressadamente pudesse me ordenar o mesmo!

— "Yura, não perca tempo, desça você também! Vamos!"
— "Espera, Ebraín-... De onde isso veio!? Para onde isso dá!?"
— "Não é hora para conversa, vamos logo!"

Falando aquilo Ebraín então deu espaço para Damian e eu descermos logo atrás de Gale. Só que no que eu fui me dirigindo até aquele buraco no chão, pude notar Ebraín de repente segurar Damian pelo seu braço em um gesto de desconfiança como se reticente em permiti-lo vir junto! Me fazendo automaticamente não ter outra reação, senão recuar mais uma vez de minha fuga, pronto para intervir-...! Só que com um abrupto som de madeira sendo quebrada ao longe minha mente acabou no susto se esquecendo de tudo senão apenas-...!
"Essa não, Sal!!"
Meus instintos me fizeram querer tentar voltar para o corredor como se incapaz de fingir que eu conseguia deixar ela sozinha para enfrentar o que estivesse por vir!! Eu não era forte o suficiente para me convencer a seguir adiante assim! Só que, antes mesmo que eu pudesse terminar de passar por Damian, ele imediatamente me restringiu fazendo Ebraín entender que não iria conseguir garantir a minha segurança se não permitisse que Damian também viesse junto!

— "Não percam tempo, vão, agora!"

Assustado pelo misto de coisas acontecendo, eu apenas ouvi aquela frase não tendo sequer o tempo de olhar direito para a escuridão abaixo de nós, pois assim que eu tentei e percebi com um frio no estômago a minha incapacidade de dizer até quão fundo aquela escada ia, Damian se abaixou me jogando por cima de seu ombro e sem cerimônia alguma se atirou comigo para dentro daquele buraco! Foi tudo muito rápido, a sensação de leveza que eu não queria sentir, um frio subindo a minha espinha, meus olhos se fechando em pânico, meus braços tentando se segurar nele em desespero, a incerteza do que estava abaixo de nós enquanto continuávamos caindo, e aí-...! Um baque. Um baque tão forte, que fez o corpo de Damian se estremecer junto ao meu quase me derrubando antes que seus pés pudessem enfim recobrar a sua firmeza, e ele me soltar com cuidado sobre aquele chão granuloso que soava como areia sob o arrastar de meus sapatos! Não conseguindo eu notar nada mais do que isso agora, senão também o fato de que o corpo de Damian sequer parecia ter se importado com o choque da queda. Ao contrário do meu, que precisou se apoiar contra o peito dele tentando se recuperar do susto, enquanto as minhas mãos ainda seguravam com força o seu casaco esperando o meu coração desacelerar e minhas pernas deixarem de ficar tão moles quanto uma geléia de fruta!

Logo após isso, porém, eu tive que soltá-lo forçadamente, no que, mesmo que o escuro fosse excessivo ali embaixo, meus sentidos não me impediram de perceber Gale e Saret quase terminando de descer as escadas pelo som do ranger da madeira. Assim como também pela sensação da circulação de seus corpos agitados, nervosos, se aproximando e ressoando com a minha percepção que estava ainda mais aguçada agora, talvez, para compensar a inutilidade do resto dos meus sentidos dentro do breu intenso desse-... túnel?
"Mas o quê, desde quando tem um túnel embaixo da casa do Ebraín!?"

Eu tentava olhar para os lados querendo entender o que era esse lugar, mas sem qualquer sorte! Minha visão mal conseguia enxergar algo além dos olhos vermelhos de Damian que brilhavam naquele breu igual aos de um gato do deserto durante a noite -ele devia de ser o único entre nós que estava enxergando algo! Ao que, com a sensação dos corpos de Saret e Gale finalmente pisando no chão do nosso lado, minha cabeça então se ergueu e eu pude notar o único traço de luz que ainda nos alcançava vindo do buraco do alçapão aberto, que a figura de Ebraín logo fechou, após ele também começar a descer por aquela mesma escada -e devo dizer que foi ali que eu enfim percebi que Damian nos atirara por uma queda de no mínimo 1, quase 2 andares de altura! Mas quem é que teria tempo para se irritar com ele quando assim que Ebraín terminou de descer, a sua mão tateou uma parede atrás de nós puxando consigo uma lamparina de metal e alguns fósforos que ele prontamente acendeu?

Dessa maneira eu finalmente consegui -graças àquela luz tão fraca da lamparina- confirmar que de fato estávamos dentro de um túnel subterrâneo feito de areia batida e relativamente espaçoso -com uma largura de pelo menos 3 pessoas, e uma altura um pouco maior do que meu braço poderia alcançar se tentasse. Sua extensão era impossível porém de se acompanhar com os olhos, me fazendo desistir de tentar adivinhá-la e apenas questionar logo Ebraín.

— "Ebraín... Mas que lugar é esse afinal?"
— "Um antigo túnel de suprimentos desativado. Dizem que os Skreas na época em que habitavam essa região construíram vários túneis à partir das fundações de cada construção para poder transportarem cargas perecíveis sem serem danificadas pelo sol forte ou pelas tempestades de areia. Isso parece ter acontecido antes da construção dos muros e dos prédios com vidro negro, que tornaram a cidade mais protegida contra ambos o clima e o calor. Grandes partes dos túneis porém já cederam pela falta de manutenção, então não são mais todas as casas da região que tem acesso a eles. Muitas até tiveram suas passagens seladas por segurança."
— "... E como que eu nunca soube disso antes? Que havia isso aqui embaixo da sua casa?"
— "Você sempre foi curioso demais para o seu próprio bem Yura, e eu não tinha certeza se esse túnel poderia ou não em algum momento vir a desabar, mesmo com as minhas pequenas manutenções. Então eu decidi não lhe dar a chance de testar a sua sorte e escondi esse lugar da melhor forma que pude. Eu até mesmo considerei demoli-lo uma vez por sua causa, mas Sal interveio dizendo que um alquimista precisava garantir algumas rotas de fuga extras dentro dessa cidade - e me parece que ela não estava errada."
— "Então...com isso você tratou de garantir que esses túneis se tornassem seguros?"
— "... Eu não sou especialista em túneis, Yura. Continuo não confiando na estabilidade desse teto, mas... temo que agora, passar por aqui seja a nossa única alternativa se quisermos sobreviver. Então teremos que avançar com cuidado."

Me respondendo aquilo Ebraín então pareceu vistoriar o teto acima de nós com certa desconfiança, no que eu igualmente o imitei assustado notando que aparentemente à cada som brusco vindo lá de cima, o espaço ao nosso redor vibrava fazendo pequenos fragmentos daquele mesmo teto se desfalecerem sobre as nossas cabeças! Tomando Ebraín então não muito tempo para decidir com isso começar a andar, já que provavelmente um desabamento não parecia intimidá-lo mais do que os Skreas porém descobrindo aquela porta de alçapão antes mesmo de nós conseguirmos sair debaixo dela!


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