Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 116
Feiticeiros dos Venenos


Notas iniciais do capítulo

Yooo! K.K. desu yo! \( ̄▽ ̄)/
Então gente, alguém infartou quando viu o tamanho desse capítulo, hehe? ┬┴┬┴┤・ω・) Não? Graças a Grivah! ( ̄▽ ̄ ")

Eu ia comentar no capítulo anterior sobre, mas acabei ficando com um pouquinho de preguiça (K.K. cede muito fácil à preguiça). Só que o capítulo anterior e o de hoje era para terem sido 1 só! (・・;)ゞ Porém, eles ficaram imensos (como vocês podem ter deduzido)... E nessa, claro, eu tive que fazer um corte cirúrgico para dividi-los (como sempre acaba acontecendo). ┐( ̄∀ ̄)┌

K.K. novamente jura que ambos os capítulos estavam cortados decentemente! Mas aí ela foi revisar esse aqui... e ele aumentou em 1.7k palavras... ლ(ಠ_ಠ ლ) Se eu fosse porém cortar este novamente, não iria dar certo, então K.K. pede para aguentarem firme o tamanho que ele ficou! ヽ(~_~(・_・ )ゝ Eu juro que este capítulo valerá à pena (estou contando com isso!), então brace yourselves with me! Porque Gale finalmente está no foco, e muito será enfim revelado!! °˖✧◝(⁰▿⁰)◜✧˖°
Com isso tenham todos uma boa leitura, e até meu próximo descuido! Fui! ᕕ( ᐛ )ᕗ



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/711599/chapter/116


— "Yura, Saret, os Feiticeiros dos Venenos foram um antigo secto muito poderoso de Feiticeiros nascidos exclusivamente nas regiões remotas e hostis dos Pântanos -que se encontram à noroeste daqui. Só que já fazem muitas gerações desde que esse mesmo secto entrou em decadência, e a noção de sua feitiçaria fora esquecida pela nossa história -junto dos registros acerca da Flor da Meia-Noite. Isso tudo, porque este grupo de Feiticeiros manchou grande parte do convívio que tivemos no passado com os Skreas e, por uma escolha da nossa própria raça, a sua existência então acabou sendo gradualmente excluída de todos os livros, relatos e registros possíveis. Isso, até que eles e seus atos se tornassem de vez desconhecidos pelas futuras gerações."
— "... Espera, você está nos dizendo que um secto inteiro de Feiticeiros foi... apagado? Mas, o que de tão ruim eles realmente fizeram para merecer uma punição dessas?! Quero dizer, desde quando a nossa raça pune tão severamente aqueles que desafiam os Skreas?"
— "Eu chegarei lá Yura, tenha paciência. Mas antes que eu possa prosseguir, me confirmem primeiro... Eu acredito que vocês dois possuem a clara noção do desconforto e desconfiança que muitos Humanos sentem na presença dos Feiticeiros, não é? Assim como que para vocês Feiticeiros, a mera ideia também de usar a feitiçaria para machucar o próximo é um pensamento perigoso. Quase que proibido, não?"
— "S-sim."

Eu respondi Ebraín em uma curiosa afirmação, no que Saret igualmente balançou a sua cabeça para ele com a mesma impulsiva concordância que eu tive! Só que, no que gradualmente então a noção daquela pergunta foi se assentando entre nós dois, eu pude notar os seus olhos começarem a perder o brilho e a sua atenção divagar para o chão como se solitariamente seus pensamentos a estivessem atormentando profundamente. Em uma fisgada que também me atingiu de jeito, fazendo com que então eu forçasse a minha atenção para o mais distante possível dela e de seu discreto pesar.

Mesmo que eu pudesse entender o que estava se passando na cabeça de Saret (e até compreender a sua dor de alguma maneira), não significava que eu igualmente iria me intrometer. Sequer eu sentia honestamente o desejo de consolá-la como se fosse uma amiga, assim como que da mesma forma eu não sabia se ela iria aceitar qualquer apoio vindo de mim. Sendo que à medida que ela mesma parecia querer esconder de todos o que a estava atormentando, eu então -por puro gesto de respeito depois do inferno ao qual sobrevivemos juntos- decidi que iria ficar igualmente quieto sobre isso.
Assim eu voltei a focar apenas nas palavras de Ebraín como se nada de importante estivesse acontecendo do outro lado daquela mesa de centro, continuando a ouvi-lo atentamente.

— "Ótimo, mas imagino que vocês dois não saibam de fato por qual razão as pessoas (ou os feiticeiros) passaram a carregar consigo estes sentimentos de insegurança de um para com o outro, não é?"

Eu pisquei os meus olhos algumas vezes sem entender a pergunta de Ebraín.
"Havia uma razão para isso? Eu sempre acreditei que era apenas uma reação natural esse-... esse medo."
Meus pensamentos indagaram, não conseguindo então a minha voz se conter por muito mais tempo antes de se pronunciar -independente se Saret tivesse ou não a intenção de fazer o mesmo.

— "Esses sentimentos? Ué, isso não foi sempre assim? Esse medo da Feitiçaria, por ela não ser algo que a nossa raça deveria de possuir?"
— "Não, curiosamente isso não foi sempre assim, Yura. Houve de fato um período -há muitas gerações atrás- onde os Feiticeiros eram muito admirados por toda a nossa raça, e a utilização dos seus poderes -por consequência- não conhecia limites. Tudo isso, pouco tempo depois da morte de Grivah. Naquele período, a nossa raça -aparentemente desconsolada- passou a procurar nos Feiticeiros a imagem da Deusa que havíamos acabado de perder. E com isso muitos grupos de Feiticeiros passaram então a acreditar que eles de fato mereciam ser tratados como superiores a todos os outros -Skreas e Humanos. Sendo um clã em particular, o dos Feiticeiros dos Venenos, aquele que mais se destacou em pregar tal filosofia."
— "... Eu não fazia ideia disso."
— "Sim. E foi à partir deles então que o inevitável começou a acontecer. De início, nessa época os Humanos já estavam aderindo aos confrontos contra os Skreas como retaliação ao que eles fizeram com Grivah. Só que nós não tínhamos força ou tecnologia suficiente para superá-los de fato, e quaisquer ataques se tornavam mais um ato inútil de frustração do que um ato útil de vingança... Foi nesse período então que os Feiticeiros dos Venenos começaram a sair dos Pântanos para participar dos confrontos. Seguindo eles até as regiões montanhosas para auxiliarem os vilarejos Humanos próximos, e conhecendo assim por consequência uma peculiar flor que desabrochava apenas no ápice da lua nos céus noturnos das montanhas."
— "A flor da Meia-noite..."
— "Exatamente. Esta flor era dita por lendas locais espantar os Skreas, e por isso, acabou sendo muito cultivada ao redor das igrejas de Grivah e das vilas de Humanos que se encontravam mais afastadas do alcance Skreano. Tendo sido assim, tudo uma mera questão de tempo para os Feiticeiros dos Venenos finalmente se interessarem por aquela flor e começarem a estudá-la. Isso, até que após vários experimentos eles enfim descobriram que nela havia uma toxina letal ativável apenas pelo alto metabolismo encontrado no corpo dos Skreas-..."
— "Espera, então é por isso que ela não afeta também os Humanos?!"
— "Sim. Porém, os métodos utilizados pela alquimia tradicional jamais foram capazes de extrair de fato o real poder desta toxina. Ela perde a sua intensidade quando processada. E para se refinar e concentrar ela sem fazê-la perder a maioria de suas propriedades, seria preciso controlar quimicamente sua interação com os ativos durante a ebulição da solução. Um processo complexo que Humano algum em um laboratório é capaz de reproduzir, se não for ele igualmente um Feiticeiro dos Venenos -pessoas com a capacidade de dominar o comportamento, as alterações e as reações químicas de qualquer elemento próximo a eles apenas com o poder de sua vontade."

Após ouvir aquilo, eu discretamente então olhei para Gale sem conseguir mais duvidar da certeza de Ebraín. Se o que ele disse sobre os Feiticeiros dos Venenos era verdade -e duvido muito que não fosse-, então Gale com certeza era o que Ebraín o acusava de ser. Não havia outra forma, afinal ele é quem estava sempre com aquele veneno em mãos!
"Mas então isso quer dizer que desde sempre, desde sempre ele foi um-...?"
Eu repeti aquilo para mim ainda surpreso, mas ao mesmo tempo gradualmente perdendo o meu espanto no que eu comecei a conseguir ligar os pontos através de vários breves momentos pelos quais nós dois já passamos juntos.
Momentos onde eu podia sentir coisas incomuns acontecendo com os seus compostos sempre que ele os tirava de sua bolsa, mas nunca ao ponto de me fazer estranhar já que tudo poderia ser também apenas uma reação confusa dos meus poderes aos seus venenos líquidos -quero dizer, naqueles vários momentos, que outra explicação eu poderia tentar buscar senão essa?!

E com aquela última realização eu acabei perdendo todo o resto de recusa que ainda tentava restar em mim. Olhando Gale enfim imensamente desacreditado pela ingenuidade que eu tive até ali com ele, no que ele -para a minha surpresa- pareceu deixar escapar um breve e descontente olhar de arrependimento em resposta. Voltando com isso a focar inteiramente sua atenção naquela situação desagradável contra qual Ebraín ainda o estava mantendo, sem parecer querer abandonar muito a sua defensiva atenção daquelas palavras que ele -muito compelidamente- continuava a se fazer ouvir -independente de haver ou não alguém que ainda pudesse impedi-lo de apenas dar as suas costas para tudo isso e simplesmente ir embora.

— "E foi dessa maneira que nós Humanos então viramos os confrontos ao nosso favor, usando o veneno da flor da Meia-noite para poder contra-atacar a opressão dos Skreas. Iniciando dessa forma uma grande guerra sem precedentes entre ambas as raças, assim como a morte de muitos, muitos inocentes que tentaram se opor à continuação daqueles confrontos todos."
— "Os próprios Humanos então se opuseram à guerra e foram mortos por isso? Tsc, seja há 4 anos, ou 400... parece que nunca os Skreas irão se importar com o sangue que eles derramam."
— "Os Skreas? Não Yura, você entendeu errado. Não eram eles mais que estavam orquestrando a guerra. Ambos os lados queriam um fim, ambos os lados haviam perdido muito... Porém, os Feiticeiros não aceitaram parar por ali. Eles estavam dominando todos os conflitos sob a liderança dos Feiticeiros dos Venenos, que passaram a usar então a sua presença nas montanhas para controlar as vilas Humanas e forçá-los a cultivar em massa as suas flores. Levando assim para terras ainda mais distantes também a sua nova arma, em uma tentativa de forçar os outros grupos de Feiticeiros e suas vilas a ficarem do lado deles caso quisessem sobreviver aos confrontos contra os Skreas -isso, independente claro do real desejo deles em querer participar ou não daquela guerra."
— "!?"
— "Eu só posso imaginar o sofrimento pelo qual todos passaram durante aquele período... Enfim, em uma questão de dias então o poder atingido pelos Feiticeiros dos Venenos se tornou tão grande, tão incontestável, que eles passaram a se posicionar como os líderes por direito de ambas as raças. Em um ato de tirania tão grande que nem mesmo os Skreas recuperaram a confiança em nossa raça após aquilo. E se até hoje eles alegam que não somos capazes de liderar este mundo -como vocês dois bem sabem-, é justamente porque eles não se permitiram esquecer o que aconteceu quando tivemos a oportunidade de o fazer."
— "... Então tudo que acontece hoje... Essa forma que eles nos tratam, tudo isso é-...! É culpa... dos Feiticeiros?! E-eu... eu não sei o que posso dizer, eu-..."
— "Está tudo bem Yura. Este não é um fardo para você, Saret, ou qualquer outro Feiticeiro se sentir obrigado a carregar. E eu não desejo igualmente fazer com que qualquer um nessa sala se sinta também culpado pelo passado -assim como espero que nenhum de vocês culpe um ao outro por isso. Afinal, Feiticeiros ou não, somos todos aqui igualmente Humanos. E se tem algo que esta história ensina, é que quanto menos divididos nos tornamos, mais somos capazes de mitigar nossos próprios erros. Esse é o dom da nossa raça."
— "O dom da nossa raça..."
— "Sim, aquilo que enfim um dia terminou a guerra. Inocentes, Feiticeiros que não concordavam com o secto dos Venenos... todos eles em algum momento decidiram enfim se unir, esquecendo as suas diferenças com os Skreas e, juntos, cooperando para exterminar as plantações de flores a fim de enfraquecer a força do secto dos Venenos. O que propositalmente acabou devolvendo o controle das batalhas para as mãos mais prudentes dos Skreas -mesmo que eu não possa confirmar se de fato as casualidades foram menores nas mãos deles. O que eu posso confirmar porém é que, gradualmente por não termos tido como revidar mais os seus avanços, elas foram enfim diminuindo até chegar tudo a um fim."
— "Então... após isso tudo, nós mesmos paramos a guerra?"
— "De certa forma, sim. E com isso os Feiticeiros dos Venenos em uma mera questão de tempo foram afugentados de volta aos pântanos pelos Skreas, tendo sido sua presença e ideal completamente subjugados por ambos os lados. Após isso então, nossas raças concordaram mutuamente em deixar que os Skreas tomassem posse e destruíssem todos os registros acerca da flor da Meia-noite e de seu veneno. Como uma forma de prevenir que algo como aquilo tudo voltasse um dia a acontecer."
— "E os Feiticeiros dos Venenos, o que aconteceu com eles após a guerra? Os Skreas fizeram algo a respeito deles também?"
— "Não. Eles sequer precisaram, porque a nossa própria raça tomou a responsabilidade de -como punição- os caçar e gradualmente erradicar até não restar mais nenhum vivo. Assim como os seus registros que também foram apagados de nossos livros, além das citações de suas participações na guerra -o esquecimento foi o preço pago por eles. Aliás é dito que neste mesmo período todos os Feiticeiros, por um medo coletivo, acabaram também sendo rechaçados por aqueles que um dia os veneraram -até mesmo os que auxiliaram na destruição das flores. E que por conta disso, a feitiçaria gradualmente foi se tornando um tabu entre nós, até que sua omissão pasasse a ser vista como algo completamente natural em nossa raça."
— "Tsc..."

Eu engoli a seco tudo aquilo. Aquela história estava longe de ser fácil de absorver mas, o que afinal eu ouvi hoje de Ebraín que não tivera sido!? E depois de tantas coisas que ele já me disse em menos de uma única tarde, eu honestamente estava até já me sentindo um pouco anestesiado e capaz de aceitar as suas verdades sem muita resistência.
Só que... ser um Feiticeiro em algum momento foi algo tão importante assim? Tão... consagrado? Eu não conseguia imaginar aquilo enquanto olhando para as minhas mãos, perplexo. Para mim, através dos meus olhos, os meus poderes apenas eram um fardo, uma mancha que jamais eu iria conseguir limpar do meu corpo. E qualquer coisa diferente disso, estava longe de parecer uma possibilidade.

Mas foi aí que então eu percebi -quase que por acidente- a cabeça de Gale se abaixar um pouco de modo pensativo. E seus olhos fecharem como se ele fosse incapaz de também não se deixar abater pela carga do que acabamos de ouvir.
"Para mim isso tudo é difícil, mas... E para ele? Se ele realmente for um desses Feiticeiros, não está sendo ainda pior para ele saber de tudo isso?"
Eu abaixei então as minhas mãos fazendo um impulso para frente como se querendo ir até ele conversar, só que antes que eu pudesse de fato me levantar daquela poltrona, minha noção voltou a mim e eu recuei discretamente -até parece que eu conseguiria ter um diálogo a sós com ele agora.

Olhando-o então de longe sem muito poder fazer para aliviar o peso daquela história para ambos, no que enfim uma falta de detalhes acerca das coisas que Ebraín disse começou a não conseguir mais me descer como uma incontestável certeza! Ao que minha voz então não se conteve em forçá-lo a se explicar melhor, só para ao menos tentar dissolver parte da tensão que o seu silêncio havia trazido consigo.

— "Ebraín... Então você afirma que o clã dos Feiticeiros dos Venenos foram erradicados... Mas como isso? Como se é possível erradicar um secto inteiro de feitiçaria, do mundo?"
— "... Nem mesmo eu sei essa resposta, Yura. Tudo que sei é que um dia eles simplesmente sumiram, como se nunca tivessem existido. Nenhum texto, nenhum boato, nenhuma pessoa parecia mais saber dizer algo sobre o paradeiro de qualquer membro desse secto. E assim, foi-se concluído que eles foram exterminados."
— "Mas isso seria mesmo possível de se fazer?"
— "Talvez... A região dos pântanos não é necessariamente grande, por isso acredito que eliminar todo um secto que existia apenas ali não seria em si uma tarefa tão complicada, só que-... eu temo descobrir como que de fato isso se fez possível. Afinal, mesmo que os Humanos naquela região tivessem matado todos os Feiticeiros que ali existiam na época, por qual maneira eles conseguiram também impedir que novos Feiticeiros nascessem logo após é algo que ninguém sabe -ou quer realmente saber. Talvez eles até mesmo tenham apenas deixado de nascer como uma reação, uma adaptação da energia de Grivah ao curto destino aguardado pelos seus recipientes. Isso, ou então aquele povo passou a controlar o surgimento dos Feiticeiros cometendo-... Ahem, seja qual for a versão correta, eu prefiro acreditar na primeira opção."
— "..."

Eu então me fechei em um silêncio tenebroso... Ebraín não precisou dizer o que estava pensando para eu também entender. Infanticídio, não é? Ele ia mencionar que aquilo que os Skreas fizeram nos extermínios do Deserto Profundo, o povo dos Pântanos provavelmente também fez contra os Feiticeiros dos Venenos até não restar mais nenhum vivo.
Sendo assim um amargor pareceu surgir na minha boca, me fazendo precisar tapá-la com a mão em desgosto enquanto que um suspiro pesado entre os meus dedos me incentivou a pensar um pouco mais sobre aquilo tudo com o mínimo de impessoalidade possível -especialmente para evitar que eu entrasse em uma confusão emocional ainda pior sobre minha própria história.
Porém, no instante então que eu tentei trocar o meu foco acerca de toda aquela difícil história, um estalo cruzou pela minha mente como uma dúvida de lógica que eu não poderia deixar passar tão facilmente!

— "Espera aí, mas se os Feiticeiros dos Venenos não existem mais... Como que então Gale seria um?"
— "Hmph, essa é uma questão que infelizmente eu não sei responder, Yura. Assim como nunca soube responder o que de fato aconteceu com eles, ou se realmente eles foram mesmo exterminados -jamais encontrei um transcrito oficial mencionando o ocorrido, apenas boatos. A única coisa que eu posso de fato afirmar com alguma certeza, é que Gale porém só teria como ter recriado aquele veneno sendo ele próprio um destes Feiticeiros. E essa é uma certeza irrefutável baseada em meus próprios anos de alquimia e pesquisas."
— "Tsc... Mas e como é possível que ele tenha conseguido descobrir como refazer aquele exato veneno, ou até mesmo adquirido essa flor se -como você disse- foi tudo destruído pelos Skreas? Aliás, como você e Sal sabem também de tudo isso, se você mesmo disse que as duas raças destruíram todos os registros sobre esse conflito!?"

Diante das minhas consecutivas perguntas, Ebraín então desviou seu olhar para Gale em um consciente silêncio. Não parecendo desejar questioná-lo diretamente sobre aquela minha pergunta, mas sim apenas confirmar com seus pensamentos que ele iria saber deduzir tal resposta por conta própria. Voltando assim a me olhar com alguma certeza em seus firmes -porém cansados- olhos, mesmo que ele só pudesse especular o que de fato Gale fez para conseguir deter o mesmo tipo de conhecimento que ele.

— "Bem, os registros foram de fato apagados, oficialmente... Mas isso não quer dizer que fragmentos daqueles antigos escritos não sobreviveram de alguma maneira ao tempo também. Afinal, você sabe muito bem como nem todos da nossa raça conseguem cooperar sob as mesmas intenções. Muitos registraram e guardaram cópias ilegalmente daquilo que não podiam guardar, e várias destas cópias conseguiram ser protegidas -nas mãos das pessoas certas- até as décadas mais recentes onde, eu, durante minhas viagens como informante, tive a sorte de gradualmente ir esbarrando nestes mesmos fragmentos de documentos. Isso não foi em nada um trabalho fácil mas, ao longo das minhas jornadas acabei conseguindo unir toda a história dos registros antigos em minha cabeça. E após isso, fui passando tudo para Sal -assim como estou fazendo agora com vocês."
— "Então estes documentos existem ainda..."
— "Sim, eles são chamados de 'registros antigos', mas são proibidos pelos Skreas e tratados com punição de morte caso você seja pego portando algum. Essa aliás foi a razão principal para eu ter esperado o seu outro amigo ir embora antes de considerar abordar o assunto entre nós quatro."
— "..."
— "Já a respeito de Gale, eu não posso admitir como ele teve acesso aos registros antigos -e duvido que ele vá querer nos agraciar com tal conhecimento. Mas posso dizer que ele deve ter no mínimo precisado contar muito com a proteção de Grivah, e com as habilidades do contrabandista certo para adquirir tudo o que conseguiu adquirir até aqui."

Falando aquilo Ebraín então olhou para cima, fitando Gale por um instante de forma acusatória. Talvez ele até tivesse mais coisas para especular sobre aquilo, só que suas palavras desistiram de prosseguir antes mesmo de seu desejo o incentivar. Pigarreando ele mais algumas vezes como se sua garganta estivesse seca, e me dando com isso a oportunidade de desviar minha atenção para o lado... Primeiro passando por Sal, que igualmente fitava Gale com um claro julgamento em sua expressão, e depois para os móveis além dela. De uma forma pensativa.
"Tudo isso está tão-... Tão além do que eu poderia ter cogitado sozinho nos últimos dias, enquanto buscava por qualquer informação que me ajudasse a ficar afrente de Gale..."

Só que antes que eu pudesse amargurar ainda mais naquela difícil noção, um riso seco atraiu a minha atenção de volta para o outro lado dos sofás onde Gale continuava de pé. Sua risada começara forçada, contida, mas ao pouco como se rasgasse propositalmente aquele silêncio no qual todos entramos, ele subitamente passou a rir com vontade se debruçando teatralmente sobre o sofá!
Seu humor claramente não era sincero, mas nem que todos soubéssemos disso ele ainda assim se impediu de usá-lo como desculpa para começar a falar aquilo que sua mente esteve processando esse tempo todo em silêncio!

— "Hahaha! Essa foi mesmo uma ótima história, velho Alquimista. Valeu a pena eu esperar você contá-la até o fim, realmente gostei muito de toda essa sua teoria, mas-...! Ainda não acho que ela seja tão perfeita quanto você acredita ser. Afinal, se Yura é a sua única prova de que eu fui o responsável pela criação daquele veneno, então você está sem sorte. Assim como você ele apenas esteve deduzindo que fui eu o responsável. Mas a verdade é que nem ele, e nem ninguém aqui nesta sala -além de mim- sabe realmente quem é que produziu o veneno, e não espere que eu vá revelar também. Agora, sobre a pessoa responsável ser realmente um Feiticeiro? Bem, depois de toda essa sua convicção acho que não posso mais fingir que não fui convencido junto. Não é mesmo?"

Ouvindo cada impertinente palavra de Gale sem objeção, Ebraín manteve a sua mesma postura incólume e séria de sempre. Balançando por fim a sua cabeça em concordância, no que uma de suas mãos alisou por um momento o seu branco bigode pensativamente. Por um instante eu até pensei que Gale havia finalmente jogado Ebraín contra uma questão que ele mesmo não tinha a capacidade de rebater mas, antes que eu pudesse ter aquela certeza, seu olhar voltou-se mais uma vez para Gale com uma clara suspeita que pouco estava conseguido ser desfeita apenas por aquela sua lábia.

— "Yura não ter de fato tal informação pode até ser uma verdade. Mas isso não diminui minhas razões para continuar suspeitando de você. Afinal, um Feiticeiro perigoso em seu grupo jamais iria conseguir passar tempo demais desapercebido -ou afastado das fofocas das ruas- se ao menos ele não estivesse se utilizando da alquimia, por exemplo, para esconder o uso dos seus poderes. E eu fiz questão de verificar com todos os fornecedores que consegui contatar neste meio tempo. Não existe oficialmente nenhum outro alquimista profissional em sua gangue além de você, Gale."

Ouvindo aquilo sem muito mais parecer se deixar ser imposto pelas afirmações de Ebraín -quase como se o impacto daquelas acusações todas tivessem enfim abrandado em sua mente- Gale apenas deu de ombros para ele. Desfazendo a sua defensiva postura como se finalmente ele tivesse perdido o interesse em continuar naquele interminável debate, e respondendo-o com um sorriso bem mais despreocupado -assim como um convencimento muito mais sutil.

— "Então em outras palavras você só tem uma suspeita, e não uma certeza -como acabou de admitir- sobre eu ser esse tal Feiticeiro. Velho Alquimista, admiro a sua audácia por ter tentado tirar alguma coisa de mim através de um blefe tão insistente como esse. Por um instante você quase me convenceu a te levar a sério, só que... não por tempo suficiente."
— "Diga o que quiser, mas eu continuarei acreditando que você é o Feiticeiro responsável por aquele veneno."
— "Heh, será que realmente sou? Ou será que eu não sou? Quem de fato conseguirá dizer qual de nós dois está certo?..."

Falando aquilo, Gale balançou então a sua cabeça em dúvida e apenas se virou de costas para todos nós. Me fazendo imaginar que ele finalmente havia sondado tudo que queria sobre a suspeita de Ebraín, e chegado com isso ao fim de sua paciência acerca de ficar ali dentro daquela casa por muito mais tempo -estava claro para mim que ele iria embora depois de tudo isso.
Só que contradizendo muito fortemente as minhas expectativas, no último instante o corpo dele então se direcionou até a porta da cozinha e a sua mão nos acenou, falando ele para todos em um tom tranquilo -mas sem voltar a nos olhar.

— "Imagino que encerramos então por aqui, eu vou arrumar algo melhor para fazer se não se importam -como lavar aqueles frascos sujos que você largou na sua pia, velho. Me agradeça depois."

Com isso Gale simplesmente desapareceu por aquela porta com completa indiferença a se aquela conversa iria ou não continuar sem ele. O que me fez enfim olhar para Saret com uma expressão confusa, notando ela igualmente fazer o mesmo para mim.
Será que ela também percebeu o mesmo que eu nesse jeito com o qual ele saiu daqui? Sal e Ebraín não o conhecem como eu conhecia, mas será que Saret também era capaz de distinguir que ele claramente parecia incomodado com algo? E que se ele estava se sentindo assim, muito provavelmente significava então que de fato alguma coisa que Ebraín disse era mesmo verdade?

Um Feiticeiro dos Venenos... Se Gale realmente é um Feiticeiro como nós dois, ou pior, um Feiticeiro que carrega um peso muito maior do que nós dois. Então porque ele nunca tentou me falar nada? Por qual razão ele achou que não poderia confiar em mim, ou por quanto tempo guardar esse segredo de todos se tornou um hábito inquestionável para ele?
Eu me perguntei ininterruptamente com o desejo de lhe perguntar tudo aquilo mas, incapacitado de o fazer já que eu não sabia se ele iria sequer me responder honestamente -eu não precisava nem tentar, para já imaginar que ele iria agir assim.
"E por qual razão-... O que afinal ainda está mantendo Gale aqui dentro também, depois de tudo isso?! Ele nunca foi de aturar por tempo demais ser pressionado, Gale é muito evasivo para aceitar isso!"

Aquelas perguntas continuaram se empilhando sobre mim à medida que eu me afundava naquele sofá sem saber o que fazer com elas. Ao que gradualmente, a única certeza que eu vi restar em minhas mãos acabou sendo a certeza de que, enquanto Damian de fato não retornasse, eu não iria conseguir chegar nem perto daquelas respostas dependendo apenas da boa vontade de Gale.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Black Desert" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.