Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 109
Vessel primário


Notas iniciais do capítulo

Yooo, gente! ┬┴┬┴┤・д・)ノ
K.K. não sabe muito onde enfiar sua cara dessa vez... eu sei, eu sei, eu consegui ser mais lerda para postar esse capítulo do que uma tartaruga patinando em pasta de amendoim! __φ(..;)
Só que K.K. não teve outra saída, este capítulo foi EXTREMAMENTE difícil e complexo de se fazer! Sempre que K.K. achava ter finalizado ele, no dia seguinte eu já reeditava tudo ao ponto de não saber mais se havia qualquer coesão com o capítulo anterior ou os seguintes! 。・゚゚*(>д<)*゚゚・。
K.K. até estava seguindo um guia para não perder a conexão entre os capítulos mas, eu me perdi do próprio guia... e aí perdi o guia. (눈_눈)"
Então se vocês sentirem algo estranho no capítulo, não se assustem. Foi só a consequência de eu ter reescrito tudo por mais de 6 vezes. E depois ignorado todos os meus outros compromisso só para ficar desde ontem focada na finalização desta parte! (b ´ ∀ `)b

Sendo assim minha gente eu espero que o capítulo tenha ficado bom, de verdade (bem do fundo mais remoto e desolado do meu coração). („• ֊ •„) E que esteja tudo igualmente bem fluido como eu pretendia! (×_×) K.K. vai tentar compensar acelerando o próximo capítulo (que sem dúvidas será bem mais simples do que esse), e deseja a todos por hoje uma confortável leitura em meio a este agradável friozinho de inverno! (o´▽`o) ♡
Fui! ᕕ( ᐛ )ᕗ



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"Do que-... do que Ebraín está falando!?"
Eu o olhei sem entender. Sem querer me fazer entender aonde ele estava pretendendo chegar com aquela pergunta, eu-... não, eu jamais seria. Eu não teria como ser! E-ele não pode alegar isso, só porque eu posso ser um Vessel que por coincidência nasceu durante os extermínios!

— "E-Ebraín isso é-... isso é absurdo! Eu não fui a razão para aquilo ter acontec-...!"
— "E porque não poderia ter sido?"
— "Porque-! E-e porque você acha que eu fui!?"
— "Bem... eu não tenho exatamente certeza quanto a isso. Só que você em fato é um Vessel muito especial Yura. E por essa e muitas razões eu não tenho como não considerar que você possa sim ter sido a criança que aqueles Skreas estiveram procurando há 20 anos atrás."
— "Tsc, então você está me dizendo que acredita que possa ter sido eu o culpado pelo extermínio que acabou com a minha geração inteira!?"
— "Não se exalte, eu jamais disse que você foi culpado de algo."
— "E O QUE MAIS EU PODERIA SER NESSE CASO!?"
— "Haah, me escute com muita atenção. Vessel ou não, você não tem qualquer responsabilidade pelas atitudes que as pessoas daquela época decidiram tomar. Você ainda continua sendo só uma vítima nisso tudo, Yura."
— "Grr, mas isso não mudaria o fato de que todas aquelas mortes então teriam acontecido só porque eu nasci-!!"
— "E se você não tivesse nascido então?! Realmente acredita que isso iria ter feito qualquer diferença? Yura, se não tivesse sido você, iria ter sido qualquer outra criança no seu lugar e nada iria ter mudado. O que causou o incidente dos extermínios não foi o fato de você existir, mas sim o fato de que um sentimento o usou para voltar a existir -e sem que você pudesse ter qualquer escolha!"
— "Tsc!"

Meus olhos foram caindo gradualmente para a direção do chão enquanto eu ouvia àquelas palavras agridoces. Em uma sensação de inevitável derrota que eu não me vi conseguindo suportar... Mesmo que eu pudesse agora ouvir ele me dizer de várias maneiras que eu não tive culpa alguma, logo após aventar a possibilidade da minha ligação com os extermínios da pior forma possível!
Fechando então os meus olhos para tentar me isolar daquela pressão -daquele envolvimento- que parecia me atormentar, desde na realidade o dia em que Damian havia me acusado de ser um Vessel...

Sim, desde aquele dia eu já havia me deparado com essa idéia. Essa sensação de ligação com os extermínios muito maior do que eu gostaria, caso em fato eu fosse o Vessel que Damian me acusava de ser.
Sendo que se eu consegui chegar àquela conclusão tão rapido, quem diria as outras pessoas então!? Pessoas que sem dúvida não iriam porém me tratar com a mesma compaixão de Ebraín. E que eu não precisava de muito para duvidar disso, já que eu entendia -eu também compartilhava- o ódio delas pelo que os Skreas fizeram. Eu sabia, eu o sentia, ao ponto de não conseguir me convencer de que elas iriam conseguir me tratar com muita compreensão -independente de eu ser inocente ou não nessa história toda. E isso era o que mais me assustava caso essa possibilidade se tornasse uma certeza.
"Mas do que adianta eu pensar nisso tudo, se Ebraín acabou sozinho trazendo tudo à tona na frente de Gale e Damian? Eu não tenho-... não tenho mais para onde correr."

E assim, aquela verdade da qual eu não pude mais fugir enfim me preencheu o peito. Fazendo com que o amargor daquela -muito provável- possibilidade deslizasse por dentro de todo o meu corpo e contaminasse aquilo que restara da minha confiança. Do meu desejo de argumentar. Da minha convencida teimosia.
Desmoronando sobre minhas próprias resistências que perderam o seu significado, no que meu corpo se dobrou por sobre o sustento de meus braços e eu tentei apenas não cair por completo ali na frente deles três.

Eu não queria demonstrar ainda mais fraqueza para eles, mesmo que o meu corpo já estivesse exausto e dolorido. Ou mesmo que o meu espírito estivesse sendo lentamente esmagado, até o ponto onde eu deixei de perceber o chão sob meus pés...
Imóvel diante de uma certeza da qual ninguém precisou me convencer, e de uma resposabilidade da qual ninguém precisou me acusar para eu já tomar como garantida. No que o som do tintilar das xícaras de porcelana sendo movidas sobre a dura bandeja de metal por Ebraín restaram como o único som que agora velava o meu apreensivo silêncio.

— "Aqui Yura, beba mais um pouco de chá. A nossa conversa ainda não está próxima de terminar."

Eu então voltei a olhar para cima e percebi Ebraín me oferecendo uma nova xícara de chá. O que fez a minha cabeça se virar para o lado em recusa, e ele recuar sem muito pretender me forçar também.

— "Tudo bem, você é quem sabe."

Nisso ele tomou aquela xícara em suas próprias mãos e começou a beber dela. Pensativo, enquanto seus olhos me fitavam em uma cautela que tão bem combinava com o seu jeito sistemático de agir.

— "Yura... não pense que está sendo do meu agrado lhe expor a grande parte disso, mas-... sinto que se eu não o fizer, acabarei então lhe condenando a algo muito pior do que apenas uma difícil conversa."
— "...Que diferença faz me dizer isso agora? E... eu não acho que você também esteja errado..."
— "Sinto muito. Eu sempre soube que você iria precisar um dia passar por isso, e ainda sim nunca tentei encontrar alguma forma mais fácil para o fazer. Para o poupar desse choque. Para o poupar de ter que faze-lo entender o quão dispostas as pessoas estarão em lhe machucar, só por você ser um Vessel primário."
— "'Vessel primário'..."

Eu enfim desfiz um pouco a minha abalada postura e me ergui diante da confusa repetição que Ebraín estava fazendo daquela palavra tão carente de significados para mim. Piscando algumas vezes em confusão, antes dele em resposta igualmente me imitar sem ter esperado que eu fosse demonstrar qualquer tipo de surpresa.

— "Você não conhece este termo?"
— "E-eu deveria?"
— "... Não. Não, de fato eu já devia de ter esperado que você não conhecesse este termo realmente."
— "...?"
— "Mas isso não pode ficar assim. Bom, vejamos de que forma eu posso tentar-... Ah sim, sim! Esta explicação deve ser suficiente! Yura, você se recorda das primeiras lições que eu o ensinei sobre a Alquimia? Quando eu o expliquei sobre os elementos básicos da natureza, e como as suas misturas resultavam em novos elementos?"
— "S-sim, eu me lembro. Misturar a água com fogo resultava em vapor, a terra e o ar criavam a areia..."
— "Exatamente. Então agora eu quero que você tente visualizar as emoções humanas dessa mesma forma."
— "Dessa  mesma forma?"
— "Sim, onde cada pequeno sentimento é que nem estes elementos -o produto de uma união."
— "Que nem o produto... de uma união."
— "Sim, como o contentamento sendo uma mistura da alegria e do medo por exemplo. Ou a frustração sendo uma mistura da rejeição e da raiva. Eu quero faça isso, e comece a perceber como cada emoção nossa é possível ser derivada de outra. Assim como algumas delas também não conseguem ser, pois são uma base assim como os elementos primários na alquimia."
— "Emoções que não derivam..."
— "Sim, emoções como a alegria, a tristeza, a raiva, o medo, o amor... Sentimentos únicos, primários."
— "!! Espera, você estaria tentando me dizer então que esses 'Vessels primários' são as pessoas que possuem dentro delas estes tais 'sentimentos primários'?"
— "Sim, exatamente isso. Assim como definido pelas pesquisas Skreanas que tentaram decifrar a hierarquia das emoções, os Vessels acabaram sendo divididos por conta disso entre Vessels primários e Vessels (secunários)."

Eu enfim olhei pensativamente para o lado... Tentando assimilar aquela ideia complicada mas, estranhamente lógica. Jamais eu havia parado para pensar nos meus sentimentos daquela maneira, mas agora que Ebraín o disse, eu até que conseguia realmente visualizar isso. Essa existência de um espectro de emoções que partiam de um ou mais estados de espíritos em particular.
Voltando então com os meus olhos para a sua figura, mas com ainda uma certa -e nova- confusão. Afinal, mesmo que eu pudesse agora entender o que afinal era um Vessel primário, nada me explicava ainda sim a sua real importância ao ponto de Ebraín parecer se preocupar tanto com isso!

— "Eu... Eu só não entendo ainda. Que diferença isso pode fazer, eu ser um Vessel primário ou não? Afinal, não são todos sentimentos para os Skreas? Por que isso poderia me fazer ser para eles mais importante do que qualquer outro Vessel que já não exista?"

Ebraín me olhou pacientemente ouvindo aquele meu questionamento até o fim. Sem nenhuma pressa de me replicar, no que eu pude notar ao fim de minha indagação os seus olhos se fecharem e a sua cabeça balançar em concordância, como se ele já esperasse que eu fosse questioná-lo sobre aquilo.
Me gesticulando para que eu então o aguardasse um instante, e rumando até uma velha estante de livros que havia perto da passagem para o corredor dos fundos.

Com muita paciência, Ebraín ficou observando aqueles livros de capas grossas até que enfim sua mão se estendeu até a prateleira mais alta puxando consigo uma folha solta que discretamente se escondia entre dois outros livros muito antigos.
Era uma folha amarelada e rasgada, que ele tratou logo de trazer de volta para mim e dispô-la diante dos meus olhos. Me revelando com isso o estranho desenho de um esboço de várias árvores dispostas em um círculo, com seus galhos entrelaçados uns nos outros em meio a vários escritos e anotações diferentes.

— "Você talvez já tenha visto esta figura antes em um dos livros sem saber do que se tratava."
— "Eu não tenho certeza..."
— "Este desenho é um diagrama conhecido como a 'Árvore de Tamrar'. Uma ilustração feita à décadas atrás pelos Humanos que estudavam a intrínseca hierarquia dos nossos sentimentos através dos livros Skreanos. Como uma forma de esquematizá-los visualmente."
— "..."
— "Veja bem. Cada um destes troncos de árvore individuais representa um dos sentimentos primários identificados. Sendo estas cores que fluem pelos seus galhos, os espectros destes troncos que se misturam entre si e gerando outros novos sentimentos ainda mais complexos."
— "... Acho que entendi."
— "Agora eu o pergunto Yura. Quando um Vessel é morto, um destes galhos é aparado temporariamente de nosso espectro de emoções. Porém, o que você imagina que acontecerá caso ao invés de um galho, seja aparado um dos troncos que os sustentam?"
— "!!"
— "Vejo que você enfim está compreendendo."
— "Espera, se um Vessel primário então morre, isso quer dizer que-... Que todos os sentimentos ligados a ele também irão-...!?"
— "Não, eles não irão desaparecer por completo pois seus Vessels ainda existem, mas... Nós como humanos nos tornamos menos capazes de entrar em contato com estes sentimentos em questão. E assim a sua existência, a sua presença no nosso mundo, acaba sendo enfraquecida."
— "Enfraquecida... Então isso quer dizer que é por isso que a Oráculo-...!!"
— "Sim Yura, sinto dizer que esse é o seu real significado para muitos dos Humanos e Skreas. E eu preciso fazê-lo entender tudo isso muito bem, porque... se eu falhar em impedi-lo de subestimar a sua própria importância, então você acabará como vítima daqueles que por outro lado não irão querer lhe subestimar."
— "..."

Naquilo que Ebraín terminou de falar, eu então abaixei os meus olhos pensativamente. Sobrecarregado pela ideia da dimensão daquilo que eu poderia estar carregando dentro de mim sem nunca ter imaginado! Dando uma brecha para ele então voltar a beber seu chá, enquanto eu novamente me debruçava sobre minhas pernas e encarava o chão sem muito saber o que dizer, ou o que fazer...
"Então é por isso que aquela Oráculo-!!... É por isso que ela passou a cismar comigo... E é por isso também que Damian passou a ficar tão preocupado."

Meus olhos discretamente desviaram então para Damian sem deixar os outros notarem. Observando-o com maior compreensão, enquanto notava em seu olhar uma expressão igualmente pesada. Abatida graças ao peso que eu finalmente entendia o estar obrigando a carregar, por eu ser quem eu era e ele ser quem ele era.
Mas o que eu poderia fazer nessa hora também? Afastá-lo para tornar as coisas mais fáceis para ele? Continuar a fingir que nada do que eu ouvi era crível, só para que pudéssemos continuar juntos como se não houvessem maiores problemas?
Não, eu não era capaz de fazer nada daquilo. E como a falta de respostas me contagiou muito rápido, os meus olhos então enfim se desprenderam da sua figura e eu voltei a encarar o chão abaixo de mim. Aguardando quietamente Ebraín terminar de beber um pouco mais do seu chá, antes dele decidir retornar àquele assunto que tanto estava me deixando sem reação.

— "Agora você entende porque eu acredito que tenha sido você aquele que os Skreas procuravam durante os extermínios, não?"

Eu balancei a minha cabeça em afirmação para Ebraín, sem muito ímpeto. Ao que ele em resposta também balançou a sua e voltou a tentar falar.

— "Mesmo que eu esteja enganado, o fato de você ser um Vessel primário seria razão suficiente para os Skreas terem agido da forma incomum que agiram naquela época."
— "?... Incomum?"
— "Ah, sim. Isso foi-..."

Subitamente Ebraín então interrompeu as suas próprias palavras, voltando sua atenção para Damian que não parecia muito estar lhe dando atenção, mas atentamente escutava cada uma de suas palavras com uma seriedade típica. Pigarreando ele então algumas vezes para limpar a sua garganta, e tentando reorganizar suas palavras como se em uma tentativa de esconder alguma coisa em particular dos ouvidos daquele Skrea no canto da sala.

— "Isso foi apenas um assunto que percorreu durante aquela época, mas ao que tudo indica, no último extermínio os Skreas não agiram como esperávamos."
— "Como assim? O que eles fizeram de diferente?"
— "Eles não esperaram."
— "??"
— "Originalmente os Skreas não caçavam os Vessels assim que descobriam a sua existência. Eles tomavam o seu tempo para os Oráculos construírem o perfil de seu alvo, reduzindo a imprecisão de suas buscas. Porém naquela última vez... Naquela última vez eles sequer sabiam muito mais do que o local e o sexo da criança que deveriam de encontrar. Eles não aguardaram, quase como se estivessem desesperados demais para permitir que aquela criança vivesse sequer um dia inteiro."
— "!!"
— "Mas é claro que essa é apenas a minha interpretação do que realmente possa ter acontecido. E acredito que um Skrea seria muito mais apto a nos explicar sobre o que de fato aconteceu, do que eu conseguirei ser."

Ebraín levantou sua voz no final de sua frase, se voltando então para Damian que no mesmo instante reagiu em uma desagradada surpresa! Deixando que um som de desgosto escapasse de sua boca, e virando o seu rosto para o outro lado em uma óbvia tentativa de evadir toda aquela atenção que ele sem aviso acabou recebendo de nós.
Só que o silêncio de expectativa que surgiu naquela sala não conseguira ser intimidado pela sua reação. E no que ele mesmo se deu conta de que não iríamos ignorá-lo mesmo após a sua postura de indiferença, um suspiro enfim escapou de dentro dele e sua voz se pronunciou em uma resposta bem incomodada.

— "Eu não posso afirmar com propriedade nada sobre aquela época. Eu era só uma criança quando tudo isso aconteceu, e sequer estava morando nessa região."
— "Mas você ainda sim deve ter a sua própria opinião sobre o ocorrido, não?"
— "Minha única opinião é que a decisão errada foi tomada, e as consequências foram arcadas. Mas eu não tenho o direito de opinar mais do que isso sobre algo do qual não fiz parte."
— "Humph, vejo que você é em fato um Skrea. Então ao menos me diga, você discorda de algo que acabei de dizer?"
— "..."
— "Vejo que não."

Ebraín afirmou confiantemente, extraindo da breve troca de palavras superficiais de Damian toda a confirmação que ele desejara ter para manter firme aquela sua certeza -transvestida de suspeita- ao meu respeito. Voltando com isso sua atenção para mim, já que o Skrea dentro daquela sala -o único que poderia superar os seus próprios conhecimentos- não teve sequer a capacidade de o contrapor.

— "Então Yura, justamente porque eles tiveram uma incomum pressa para encontrar o Vessel, foi que tantas crianças acabaram sendo mortas sem qualquer critério. Eles não tinham muito para identificar o seu alvo, e não estavam dispostos a arriscarem deixá-lo viver. Esse, foi o mais longe que eles decidiram chegar apenas porque -muito provavelmente- tratava-se de um Vessel primário."
— "..."
— "Agora você entende a minha preoupação. Tanto pelo quanto que você significa para mim como um filho, como pelo tanto que você significa para a nossa raça como um Vessel, e-... igualmente pelo risco que você também significa para grande parte dos Skreas."

Ebraín novamente deixou seu olhar escapar para a direção de Damian, antes de enfim voltar a me encarar aguardando até que eu distraidamente balançasse a minha cabeça em um gesto de entendimento.
Permitindo-o enfim me dar as costas por um instante, e ajeitar a xícara vazia em sua mão mais uma vez na bandeja sobre a mesa de centro bem atrás dele.

Com isso, meus olhos um tanto perdidos enfim se permitiram ir até Gale -percebendo que ele estivera me observando até então com uma expressão muito atenta. Mas perdendo toda aquela sua firmeza, no que ante a primeira oportunidade que eu o dei para dizer algo ele apenas evadiu o seu olhar para o lado em uma completa falta de determinação em rejeitar tudo aquilo que ouvimos. Me estimulando com isso a então buscar também a atenção de Damian, que igualmente me recebeu com a mesma falta de contradição em sua expressão. Ignorando o meu estado avassalado, ao que ele próprio parecia se incomodar com sua incapacidade de contradizer ou opinar sobre o assunto.

E assim eu me vi tendo que engolir sozinho toda aquela verdade como se fossem vários alfinetes. Descendo dolorosamente a seco pela minha garganta e ferindo qualquer nova intenção minha de procurar questionar Ebraín, apenas para tentar tornar aquela verdade um pouco mais fácil de ser aturada.
Fechando com isso os meus olhos em um inevitável pesar, e me permitindo cair em uma amargurosa derrota que diluiu qualquer resto de teimosia que eu ainda podia ter para me proteger dentro de uma ignorância bem mais simples de se suportar.
Mais simples, mas muito mais arriscada... porque em algum lugar eu não conseguia mais me permitir esquecer que-... que me fechar para a realidade, não iria ser diferente de continuar abrindo mão da antecipação que até agora eu não tive como ter contra a Oráculo. Sendo que poder antecipar as coisas para mim era-... era...!!

"Isso é justamente tudo que eu estive tentando fazer desde a morte de Sáshia, desde que eu paguei um preço muito alto pela minha falta de noção! E se eu voltar a fazer isso logo agora... Se eu novamente me deixar agir com ingenuidade então, eu poderei mais uma vez acabar perdendo algo que eu-...!!"
Nisso os meus olhos se voltaram para Damian como se o ápice daquela realização enfim me alertasse das consequências que aquilo iria me trazer! Não porque dentre todos naquela sala, era por Damian que meu peito batia com mais força mas, sim porque ele era a pessoa que estava mais envolvida entre mim e a Oráculo. Aquele que esteve tentando me proteger até agora, se arriscando no meu lugar mesmo que eu não quisesse me fazer permitir entender!

"Damian..."
Eu segurei com frustração a aba do meu manto que estava enrolado ainda pelo meu pescoço de forma folgada, e levei os meus olhos ao chão de forma pensativa... Encarando ainda aquela folha com o desenho de Tamrar, no que aos poucos eu vim a entender bem lá no fundo. Entender que se eu perdesse meu tempo me cobrando por um passado sobre o qual eu jamais tive a responsabilidade de evitar, então eu não iria ter qualquer tempo restante para igualmente me preparar contra o futuro. Contra um futuro onde eu ainda poderia ter a chance de proteger aqueles que continuavam ao meu redor!
Sim, eu não posso mais fingir que não faço parte disso. Desse desenho, dessa realidade.

Porém no que o meu dedo então começou a deslizar por sobre o esquema de Tamrar, eu acabei me dando conta da minha ignorância quanto à minha própria identidade! Eu podia ser uma parte daquele complicado esquema mas, até então eu não sabia exatamente onde eu estava ali dentro. Dentro daquele cenário imenso construído por Grivah. E o que eu realmente significava para cada uma das pessoas de verdade.
Ao que eu então me esforcei para remontar de caco em caco a minha estilhaçada coragem, graças àquela falta de informação que se transformou em curiosidade, em um desejo de uma pergunta. E enfim, no som da minha própria voz voltando a chamar por Ebraín que no mesmo instante me retornou sua atenção com certa surpresa pela minha compostura!

— "Ebraín?"
— "Sim Yura?"
— "Eu-... Eu quero-... Não! Eu preciso saber. Se eu não tenho qualquer outra escolha, eu preciso então entender exatamente o que eu sou! O que tem dentro de mim! Você não me disse até agora mas eu quero saber, se eu sou um Vessel, um Vessel primário, então qual é exatamente o sentimento que eu estou carregando?"
— "Ah, sim... me perdoe por ter esquecido de dizer. Às vezes esqueço que você não tem como descobrir isso tão facilmente quanto nós."
— "'Quanto... nós?'"
— "Yura, você está carregando consigo o sentimento do amor."
— "!!"

 


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